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VADE RETRO 2023. E LOGO. CINCO RETRATOS DA CONFUSÃO ONDE ESTÃO METIDOS OS NOSSOS POLÍTICOS, “ÇÁBIOS”, MARQUETEIROS, GESTORES E OS “DONOS” DE GASPAR

Atualizado e inserido uma foto, a do pontilhão do Gaspar Mirim com o Gasparinho, às 8h15min. Este blog não está de férias. Nem os nossos políticos. Este artigo, mostra isto. Este encontrei no saco do “Papai Noel”. Vou desembrulha-lo para você. Não se espante.

Na quarta-feira, dia 20 de dezembro – e que lembra os 42 anos do enterro do meu pai nascido em São Pedro de Alcântara, marceneiro de mão cheia, músico, religioso de fé, criativo, eletrotécnico, e até iniciado em astronomia e em fazer cervejas – escrevi aqui PESQUISA FEITA EM GASPAR DIZ QUE TUDO QUE ESTÁ NO GOVERNO KLEBER E NA BANCADA DO AMÉM É TÓXICO. OS ELEITORES PREFEREM O VELHO OU APOSTAM NUM AZARÃO LIVRE DE VÍCIOS POLÍTICOS 

O que aconteceu? Algo estranho. Estranhíssimo. Pareceu que este espaço que não é lido pelo nos poder de plantão e os que querem se aboletar dele em Gaspar – como eles próprios garantem – tinha sido descoberto repentinamente. Os acessos se multiplicaram, estupidamente, num assunto tão árido e por um textão daqueles que muitos mal chegam à terceira linha.

Replicou-se ele, ou trechos pinçados e descontextualizados – uma praga permitida pelos truques da internet – e em endereços certos de Blumenau, Florianópolis, Brasília e alhures. Qual o resultado disso? Uns poucos aplaudindo. Uma maioria choramingando e outra parte, praguejando-me. Normal!

No fundo, a turma do escurinho – e isto está claro, sem qualquer trocadilho – e da manobra é contra a existência deste espaço. Simples assim, também!

Por isso, por dever de ofício, vou desembrulhar para vocês alguns presentinhos e que deve deixar esta gente mais puta do que ela está entre eles e comigo, é óbvio.

O PRIMEIRO RETRATO

Na mesma quarta-feira (às 17h30min), ou seja, bem e depois do artigo ter sido espalhado, o ainda presidente – e o será até o dia 31 -, oficialmente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, campeão absoluto de diárias em 2023 e marqueteiro do vazio, -pois usa esta preciosa e vital ferramenta dos nossos tempos contra ele próprio – apareceu ao lado do secretário de Saúde, Santiago Martin Návia, MDB, preenchendo um checão promocional. Ciro acima, na foto da discórdia, está à esquerda, o secretário de Saúde e suplente de vereador do MDB no meio e primeiro secretário da Mesa Diretora da Câmara, Giovano Borges, PSD, à direita. Todos em campanha para a reeleição, no mínimo.

Ciro – e não exatamente a Câmara – estava “doando” parte dos restos da Câmara de Gaspar para o Hospital de Gaspar: R$1,3 milhão. Campanha. Só Ciro – e os seus çábios – fingiu não entender esta jogada manjada e repetida seria mais uma contra ele próprio. Daria retorno contra ele mesmo, mais uma vez. Como dizia o ex-primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves, “quando a esperteza é demais, ela come o dono“.

Pronto. Mais uma de Ciro sendo ele próprio: Ciro. Entretanto, desta vez, ele foi longe demais na cartada de colocar a melancia no pescoço para aparecer como o salvador da pátria de alguma coisa em Gaspar. Mexeu com a vaidade dos seus próprios pares políticos às vésperas de mais uma campanha eleitoral e diante de vários escândalos que enfraquecem automaticamente os que estão no poder de plantão. E este tipo de jogada para levar vantagem é um pecado, mais que mortal. Antigamente, quando política era dominada por masculinos, dizia-se que isto era “ciúmes entre homens”.

Mais, uma o descredencia na corrida para ser prefeito como quer e cada vez mais se vê longe desse objetivo, ou de vice, em qualquer acerto, mas que também está distante, por enquanto.

Na foto que abre este artigo, a foto oficial arrumada, traz o vereador Giovano como testemunha do ato. Ele se prestou ao papel de salvar mais uma narrativa. E por ser uma narrativa marqueteira que não deu certo, o assunto, logo se escondeu da cidade. Mais do que isso, revelou-se ser um problema de ocupação de espaços de Ciro. E como estão todos com os nervos, e vaidade e inconformismos à flor da pele, um problema dentro da própria Bancada do Amém – que reúne onze dos 13 vereadores – e da própria instituição Câmara.

Quem perde com esses joguinhos particulares? Gaspar!

Daí a sensação de mudança ir ganhando cada vez mais espaços entre os eleitores e eleitoras da cidade, enquanto se isolam em suas apostas os que querem mandar perpetuamente nela, infligindo vinganças, constrangimentos, barganhas e escolhas dos bobos da corte para administrarem a cidade para esses mandões. Esse pessoal, sem votos e que quer fazer barba, cabelo e bigode escolhendo os seus políticos para serem suas marionetes é intolerante à líderes, ou competentes e comunitários se perde, fica sem credibilidade, exatamente quando cobra e não presta contas do resultado de seus escolhidos para Gaspar. Pilatos.

Retomo.

E o checão simbólico? Não há nenhuma assinatura nele. Não há nenhum banco suportando a transação. E nem poderia haver. É tudo um teatro em algo muito sério. É que esta devolução de recursos não usados pela Câmara não foi combinada nem mesmo entre os próprios vereadores da atual legislatura, ou mesmo da irmandade da Bancada do Amém. Eles viraram passageiros da manobra política e marqueteira de Ciro, quiçá de Giovano.

Também não foi combinada nem com o Executivo. Ele está “recebendo” as devoluções destas sobras no Orçamento da Câmara em 2023, como recebeu dos anos anteriores, sem “checões” e até porque não pode ficar nada no caixa da Câmara de um ano para o outro. E dessas “sobras” a prefeitura fará delas, em 2024, o que bem lhe aprouver, inclusive fechando o rombo de caixa, enviando para outras prioridades, ou até mesmo usando na Saúde, pois o Executivo é que é o dono deste Orçamento do Município. A Câmara, recebe o duodécimo do Orçamento Municipal. Simples assim!

Ciro foi mal orientado. Ou, outra vez, não quis, ou renegou as orientações dos seus assessores e dos técnicos da Câmara. Qual foi a consequência de mais matada no peito do Ciro? Bingo: treta. Veja no vídeo abaixo parte dessa treta. É tudo que NÃO se quer que a cidade saiba, e exatamente para dizer que eu NÃO tenho crédito quando as divulgo sem documentação como esta. E por que os outros veículos não deram nada? Porque não podem. E agora, possuem a desculpa de estarem de férias. Aliás, parece que faz tempo.

A vereadora Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, que gosta de ser chamada de Mara da Saúde, puxou o fio da meada depois de perder o palanque dela com a puxada de tapete de Ciro.Não fui convidada… Será que foi só eu? Era só a Mesa?“. E o mais longevo dos vereadores, ainda vice-presidente da Casa – portanto membro da Mesa Diretora – e já eleito presidente para o ano que vem, do mesmo PP de Mara, emendou, reforçando o tom inconformismo aos desalinhos – sem saber que o pior ainda estava por vir – que revelou na reunião que teve no final do dia anterior com os comissionados, estagiários, efetivos e outros tipos:

É lamentável que a imprensa da Câmara faz uma matéria e deixa de fora dois membros da mesa diretora fora da Agenda (Melato e Alex)”. A tal matéria sumiu do site oficial da Câmara. E antes de prosseguir, repito: sinto-me de alma lavada mais uma vez. Sempre afirmei que este tipo de assessoria, pelo que faz, por tanto que ela tem de estrutura, salários e produz, é bem dispensável. Só não enxerga quem não quer.

Lenha na fogueira ou no parquinho. O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, o único de oposição dos 13 vereadores de Gaspar, questionou: “será a imprensa, Melato? Acorda, Gaspar!”, usando o meu bordão de décadas. No que emendou Melato: “além disso todos os vereadores deveriam estar presentes“.

Seguiu-se um bate-boca virtual escrito no aplicativo de mensagens no grupo dos próprios vereadores. E revelador. Está no vídeo acima. Então, economizo palavras e textão. Deixo a pecha de inventor de causos para os próprios que me desmentem todos os dias. Triste, se não fosse divertida realidade onde estamos metidos e que todos querem ver escondida da cidade, dos cidadãos e cidadãs. Mas, os políticos, trabalham contra Gaspar.

O assessor de Ciro jurou que mandou e convidou todos. Na outra ponta, quase todos dizendo que não receberam o tal convite. E se receberam, não deram bola, não leram, não participam do seu grupo, e seus assessores, são peças decorativa.

Eis que, então, apareceu o herói Giovano defendendo Ciro e pulando no pescoço dos demais colegas, e principalmente os da Bancada do Amém. E estranhamente, mais fortemente, contra Francisco Hostins Júnior, MDB, o que está desgarrando da Bancada do Amém e do tóxico governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e o eterno protegido de Giovano, Marcelo de Souza Brick, agora, no PP.

É para este trecho que chamo a atenção. Hostins Júnior, o que já foi líder de Kleber, o que atuou em CPI para enterrar problemas graves em favor do governo de Kleber, como a drenagem da Rua Frei Solano, que foi secretário de Saúde de Kleber, que foi enganado e rifado por Kleber dentro do MDB, escreveu elogios a Melato e sem citar Ciro, ou Giovano, o defensor de Ciro e de uma situação insustentável, deixou claro de que o ego dos políticos, e este caso foi mais um exemplo, fala mais alto do que os interesses comunitários. Foi, por isso, chamado de “almofada” por Giovano. Prá que?

Essa gente que vive de panos quentes, vira pólvora em explosão, dinamitando os seus, tão logo se expõem fatos. É com isso que convivo há anos.

Com o clima quente, Júnior Hostins, na tentativa de encerrar, mandou um meme com o ex-faz tudo do governo de Kleber e Marcelo, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, e que acabou de se livrar de uma CPI secreta sob o aval de Ciro e Melato, com gorro de “Papai Noel” – confira acima e ao lado – sugerindo, com isso, múltiplas interpretações, afinal, um era secretário da Saúde, o outro secretário do dinheiro – Fazenda e Gestão Administrativa – além de presidente da Comissão Interventora do Hospital.

E ambos – Júnior Hostins e Jorge Pereira -, sabem das entranhas que estão obrigados a esconder, ou podem deixá-las expostas complicando todos no governo de Kleber, Marcelo e até em parte daquele que teve como vice, Luiz Carlos Spengler Filho, hoje chefe de gabinete e presidente do PP. Recados. Explícitos. E todos lavando a minha alma. Ou seja, nada como um dia após o outro.

Pronto.

Giovano elevou o tom e escreveu como troco que “cada um manda no qual se identifica” [as dúvidas de Jorge Pereira, o papai noel do governo Kleber e Marcelo]. Júnior Hostins retrucou com um “kkk” e irônico “sou eu mesmo“, acompanhado de uma gravação da Câmara, onde o convocado para explicações de áudios com conversas cabulosas foi o ex-secretário de Planejamento Territorial e hoje presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, MDB ou PSD. No depoimento, o interlocutor do áudio questionado pelos vereadores, sob a convocação de Alexsandro Burnier, PL, e que afrouxou, é Jorge Pereira.

O fato resultou ainda numa CPI secreta, armada pelo governo Kleber e Marcelo na Câmara, feita por Melato e a Bancada do Amém para exatamente nada concluir e livrar Kleber e Marcelo de qualquer culpa naquilo que não se consegue livrá-los. Naquela acareação, daquela sessão de julho emprestada ao grupo por Júnior Hostins, Giovano tentou levantar a bola de Jean, dizendo que poderia se tratar, vejam só, de “uma discussão entre ambos (Jorge e Alexandre) de uma suposta briga interna por melhores fatias do Orçamento. É de se perguntar: Giovano era parte dessa discussão, então?

O certo é Júnior Hostins está jogando para se livrar da toxidade que ele próprio por anos foi parte porque esperava ser compensado e não ser tão levianamente descartado. Já escrevi sobre o timming desta intenção. Talvez seja tarde. Só não será tarde, se Júnior Hostins tiver mais coragem e ensacar todos deste esquemão que envolve políticos e poderosos da cidade, e para o bem dela.

Mas, nada como a luz do sol – a tal transparência e sanitização – para se livrar dessas cracas. Afinal, o princípio do pecado e da confissão poderá ter algum valor. E para os cristãos, é sagrado. Ninguém fica livre do pecado, mas confesso, é perdoado pela compaixão, pela penitência e pela pena imposta pelo confessor ao pecador.

Encerrando este primeiro retrato.

E foi aí que a turma do “deixa disso” entrou em ação. E as farpas – a realidade – no grupo, infelizmente, pararam. O que mostrou este princípio de bate-boca no grupo tão seleto e que está obrigado às aparências? A divisão, os degastes e como Kleber conseguiu trair e quebrar as pernas a quem jurou fidelidade e dos que lhe deram apoio incondicional. Por outro lado, isto mostra o quanto quase é real na política de Gaspar a irrealidade deste tipo de checão sem assinatura, mas que todos queriam tê-lo como peças de propaganda para si na enrolação da cidade e seus eleitores. Acorda, Gaspar!

O SEGUNDO RETRATO

Era 2016 quando esta foto ao lado foi feita e republicada recentemente, como regozijo, pelo vereador Giovano Borges, PSD, na sua rede social era tempo de desviar a comunidade para a solução de seus problemas iminentes. A fato é tirada do baú para a comemoração do presente. Contudo, ela traz um vício embutido também. Quando ela foi feita era tempo de campanha política. Tempo de promessas vãs. Prometia-se retomar as linhas urbanas do transporte coletivo de Blumenau dentro do bairro Bela Vista e que saíram de lá por uma imposição legal e com a falência do sistema de transporte coletivo de Blumenau, o Consórcio Siga, e que a Verde Vale, de Gaspar, fazia parte. Lembram disso?

Sete anos depois, repito, sete anos depois, para a glória de uns, anunciou-se na semana passada, finalmente, um “acordo” liderado pelo prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, ainda no Podemos e comunicado ao prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, de Gaspar. A partir do ano que vem, não se tem a data certa ainda, os estudantes do Instituto Federal de Educação e que moram em Blumenau, vão se beneficiar do sistema Blumob integrado do transporte coletivo de Blumenau, numa linha que seria intermunicipal, e cuja concessão original e ainda em vigor, é da Verde Vale. Aliás, este era o ponto de resistência para um “acordo” por estes anos todos.

O que não está claro ainda? Como se deu este “acordo” se havia tanta resistência a ele por tantos anos e com sérias acusações à Verde Vale? Há uma compensação para a Viação Verde Vale, detentora da permissão, para que os ônibus do sistema municipal entrem em Gaspar e no Bela Vista? Se há, quanto e quem vai pagar o que é de direito da Verde Vale e o que ela supostamente estaria perdendo de clientes e receitas? Outra. Ainda não está claro é se toda a população do Bela Vista – hoje é o segundo bairro mais populoso da cidade – que vai se beneficiar desta exceção e “acordo prometido” há mais de sete anos – o primeiro é o Santa Terezinha – ou só os estudantes blumenauenses do IFSC?

Estamos em mais uma temporada de campanha política, promessas e dúvidas que, a transparência translúcida dos políticos de Gaspar, trabalha, mais uma vez, contra a cidade, os cidadãos e cidadãs. Sete anos de enrolação. E em um só governo. Impressionante.

Se Gaspar não tem por hábito explicar o que é do ambiente público, é bom Blumenau se coçar e fazer isso. É que a incorporação deste itinerário, se há uma compensação para fazê-lo, ela pode estar alterando a planilha de custos das passagens por lá. Das duas uma: ou vai parar no bolso de todos os passageiros, ou no bolso de todos os blumenauenses, via subsídio. Lá as instituições costumam funcionar exigindo explicações do Executivo. E o prefeito Mário sabe muito bem disso. Seu lombo já está experimentado. Já em Gaspar…

O TERCEIRO RETRATO

É a nossa bandeira municipal na praça do Marco Zero, denominada de prefeito Evaristo Francisco Spengler (1966/70), morto aos 91 anos em fevereiro de 2021 fica bem defronte a prefeitura de Gaspar. Ela retrata, a meio pau no imponente mastro da praça, o desleixo com o mínimo do mínimo da administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, a favor da mínima manutenção da cidade.

Se está a meio pau, é sinal de luto. Ou seja, a própria natureza se encarregou de expressar o luto dos gasparenses diante da incúria…

Retomando.

Os políticos e gestores públicos em férias desde a semana passada, postando extravagâncias, não encontraram tempo, meio e não enxergaram o que a cidade inteira que passou pelo Centro, incluindo minguados turistas, enxergou e se indignou: a bandeira de Gaspar sem a parte amarela e o brasão levados pelo tempo. Quando se fez aquele mirante, para a tal Capital Nacional da Moda Infantil – inventada pelos políticos e que ninguém sabe expressar em números e não sabe onde encontrá-la por aqui – o primeiro ensinamento veio da engenharia: ele quase veio abaixo. Meses, para recalcular e refazer com mais custos para os pesados impostos dos cidadãos e cidadãs e por culpa dos agentes públicos. Ninguém foi culpado. Ninguém ressarciu. Ninguém foi punido.

Quando colocaram a bandeira Gaspar lá, sabiam que ela teria tempo de vida útil. Não calcularam, nem organizaram uma reposição, uma substituição programada ou estabeleceram responsabilidade por isso e se fizeram isso, provou-se que não funciona e que ninguém, emergencialmente foi capaz de tapar o sol com a peneira. E o desleixo de uma administração ficou exposto mais uma vez para todos avaliarem e se sentirem, envergonhados. Avança, Capim!

O QUARTO RETRATO

Em outubro, a dupla tubulação que dava há 17 anos vazão ao ribeirão Gasparinho, nos limites dos bairros Gaspar Mirim e Gasparinho, bem como no encontro das ruas Fausto Dagnoni e Rodolfo Vieira Pamplona, foi solapada por sucessivas cheias e chuvas fortes daqueles dias. Notícia velha. E podia ser coisa na força da natureza. Não foi.

Contribuiu a retirada de areia, para comércio, bem como de tapumes para as plantações de arroz irrigado naquela região. Ambos, permitiram o aumento a velocidade do ribeirão que foi comendo as margens e desestabilizando os tubos daquela passagem. Tudo, na cidade onde os pecados se escondem, foi, outra vez, devidamente camuflado. Inconformada, com à falta de reação do poder público, mais uma vez, a população fez um improviso com um tronco de árvore de oito metros (era preciso, no mínimo 12 metros de comprimento) devido o estrago da correnteza. Outra notícia velha e cheia de armadilhas.

E aí, a prefeitura, a secretaria de Obras e Serviços Urbanos, a de Planejamento Territorial, bem como a Defesa Civil anunciaram que levariam muito tempo para recompor a ligação entre as duas ruas, obrigando todos ao sacrifício de contornos bem mais distantes. E qual a alegação? De que o caixa da prefeitura estava vazio e que nele, não havia espaços para as emergências. Havia de ser esperar recursos e a boa vontade dos políticos de Florianópolis, ou Brasília.

Pronto. Um novo bafafá. E escrevi que aquele improviso comunitário diante da inércia das “autoridades, políticos e gestores públicos continuava sendo uma armadilha. E era. Não precisava ser profeta, adivinho ou bruxo. Estava na cara. OS SUCESSIVOS ERROS, VAIDADES, VINGANÇAS E INCOMPETÊNCIAS SOMADAS À FALTA DE PLANEJAMENTO E PRIORIDADE DOS POLÍTICOS NO PODER DE PLANTÃO, ESTÃO DESPEDAÇANDO GASPAR Bingo.

Tanto que apareceu outra notícia velha e anunciada: ao tentar atravessar naquela improvisada e perigosíssima passagem um pai, com um filho, caiu. Salvaram-se por um triz. O vídeo se espalhou na velocidade de um raio. E o poder público, assustado, acordou. E resolveu retirar da sua agenda a costumeira aposta contra a cidade, cidadãos e cidadãs. Tomou tento com medo da repercussão negativa na sua abalada imagem.

A prefeitura de Gaspar, então, passou a trabalhar emergencialmente num enrocamento para proteger as margens daquela passagem e fazer um pequeno pontilhão em substituição aos tubos. Mas, exagerou. É só olhar a foto acima e ao lado. Virou um funil. Ele vai represar a água a montante do pontilhão, proporcionar alagamentos, comprometer o próprio pontilhão e à jusante, pela dinâmica desse funil, vai estragar ainda mais as margens que não foram protegidas pelo enrocamento.

É isto que me falam moradores e passantes da região, bem como engenheiros. A prefeitura criou uma solução, na marra, diante de pressões e evidente exposição de riscos à população. Agora, só os tempos de catástrofes, quando mais se precisará dela, mostrarÕ o tamanho do acerto ou do erro.

O QUINTO RETRATO

Não vou escrever sobre ele. Eu sempre exagero. Então, o registro está aqui embaixo o vídeo. É do ex-procurador geral do município, o advogado Aurélio Marcos de Souza. Ele foi ao cemitério municipal do Bairro Santa Terezinha em Gaspar nesta semana. Muitos gasparenses foram lá e no do Barracão. Sobram taxas e desleixos repetidos e desmedidos. Avança, capim!

TRAPICHE

Tem muito político mentindo e ludibriando, descaradamente, em Gaspar. E para isso, não tem jeito, senão, alguém que possa esclarecer, ou ao menos, dar outra versão a fatos e mentiras. Isto me lembra, por outro lado, uma frase clássica atribuída ao irlandês George Bernard Shaw, 1856/1950, escritor, dramaturgo e jornalista.

A punição de um mentiroso não é mais de afinal ninguém acreditar nele, mas dele mesmo não poder acreditar em mais ninguém”

Depois do artigo de quarta-feira da semana passada publicado aqui, está claro, que o problema dos que mandam em Gaspar se chama Oberdan Barni, Republicanos. A confirmação de ele continua resiliente em sucessivas pesquisas e a forma como ele não está disposto a se dobrar aos donos da cidade, a ordem é isolá-lo. Depois que isso for atingido, virão os outros.

Para alguns é para rir. Para quem pede mudanças, é para chorar. Um grupo de sem votos, mas que acham que devem abençoar candidatos, está esperando um entendido, vir da Europa para abençoar alguém. É o mesmo que lançou o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, a deputado e ele mandou bananas para todos. Gente ruim de palpite.

Não chame para o mesmo canto o vereador Ciro André Quintino, MDB, e o empresário Oberdan Barni, Republicanos. Ciro o encontrou num evento e quase saiu faísca. “Você não tem votos e vou pedir para meus eleitores descarregarem em qualquer um, até no [Pedro Celso] Zuchi [PT], mas não em você”, profetizou Ciro.

E olha que os dois eram amigos inseparáveis. Oberdan foi cabo eleitoral e financiador de ações de várias campanhas de Ciro.

Cedo demais. Não passou despercebido aos observadores da cena política como o recém-filiado, com pompa e glória, Marcelo de Souza Brick, está sumidinho na foto do anúncio oficial do partido de Natal e Ano Novo. Ao menos nesta não ganhou o assento da janela.

Os mais céticos, dizem que o PP quer sempre novos filiados, não para serem eles estrelas, mas para não brilharem em outros céus. Detestam concorrência.

Em Gaspar, político se veste de “Papai Noel”, mas não usa barba. Qual a razão disso? É mais um truque do político para ser reconhecido e ganhar pontos. Em Gaspar, o político filantropo, anuncia que vai dar presentes para os pobres e faz isso uma arma de propaganda. O que uma mão dá, a outra desconhece diz o ditado daquele que verdadeiramente doa.

Mas, em Gaspar até isso é diferente. O que se doa, nem é seu. Esconde-se o verdadeiro filantropo e que alimenta mais ainda os políticos cara-de-pau. Acorda, Gaspar!

Algumas do Natal em família dos políticos e seus entrelaçados de interesses são reveladoras. Não vê quem não quer.

Cavalo de pau. O governador Jorginho Melo, PL, deu uma entrevista a NSC TV na semana passada. Nadou naquilo que não perguntaram. Salvaram a pele dele. E Jorginho e não aprendeu a se expressar. Parece que desconhece o que está falando. Ouviu o galo cantar, e não sabe direito onde.

Mas, naquilo que falou, O articulador Jorginho Melo deixou claro: o PL faz qualquer composição para ser cabeça ou vice, ou para estar em alianças vencedoras nos municípios no ano que vem. O único que, que para ele, não tem conversa é com o PT.

Pois é. Se ele não o governador Jorginho Melo não se cuidar, Gaspar poderá ainda ser a exceção. Primeiro o partido está claramente dividido. Segundo, não cuidou deste assunto durante três anos. Terceiro, as vezes está à procura de nomes mesmo tendo um. Quarto, finge querer alianças, mas para sufocar seus concorrentes no campo da direita. Simples assim! Acorda, Gaspar!

Depois passar. Não quis provocar. Mas, alguém viu alguma decoração de Natal em Gaspar? Até Ilhota – para não falar de Blumenau, Brusque e Itajaí – deu o ar da graça. Este é o retrato de algo que nos degrada a cada dia. Ou não? Lembranças de que estamos no Natal cristão, do regozijo e consumismo, só nas redes sociais e mensagens elaborada nos aplicativos dos nossos políticos.

Este blog, ao contrário dos políticos e das repartições públicas, não tirou e nem está de férias.

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12 comentários em “VADE RETRO 2023. E LOGO. CINCO RETRATOS DA CONFUSÃO ONDE ESTÃO METIDOS OS NOSSOS POLÍTICOS, “ÇÁBIOS”, MARQUETEIROS, GESTORES E OS “DONOS” DE GASPAR”

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  3. COLEIRA ANTILATIDO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Não há muitas chances de o Brasil escapar no ano que vem da armadilha que se fechou em 2023, a da calcificação da polarização política. Até aqui ela funciona como uma espécie de coleira de choque antilatido – que o digam o governador Tarcísio de Freitas ou o ministro Fernando Haddad.

    As duas bolhas cobram dos políticos que delas fazem parte (ou são vistos como fazendo parte) uma espécie de disciplina de comportamento centrada na pessoa dos respectivos chefes, Lula e Bolsonaro. Faz sentido: a coleira antichoque tem como objetivo impor uma lealdade do tipo canina.

    Esse é o aspecto menos relevante no fenômeno da calcificação. Nem mesmo o razoavelmente bem organizado PT é capaz de impor condutas monolíticas. Bolsonaro, como é notório, nunca foi capaz de criar uma estrutura hierarquizada que transformasse comandos em ações.

    Significa, no caso do grande evento político de 2024, o das eleições municipais, que as peculiaridades locais terão peso importante, não importa a “nacionalização” do pleito. Por mais relevante que seja do ponto de vista do eleitor o grande embate nacional, Lula e Bolsonaro terão severas dificuldades em transferir votos automaticamente para seus ungidos nas grandes capitais.

    Preocupante no fenômeno da calcificação das bolhas são seus aspectos políticos e sociais mais amplos, em termos de abrangência, profundidade e regionalização. O fenômeno tomou conta do País inteiro e já tem características de divisão geográfica bem mais complexas do que a surrada divisão antiga “cidade campo” ou “de classes”.

    Numa simplificação grosseira, essa divisão geográfica abrange um grande arco mal descrito como “Centro-Oeste” (pois vai do Sul até o interior do Piauí e Bahia) e que corresponde em parte a áreas dinâmicas ligadas à agroindústria. Sua expressão própria, porém, não é a da celebração de resultados econômicos da balança comercial mas, sim, uma “cultura” e “valores” próprios.

    Quanto ao grau de penetração na sociedade, a calcificação oferece aspectos graves abrangendo raça, religião, hábitos de consumo, esporte, educação, relações familiares e pessoais, descritas em detalhes preocupantes no recém-lançado Biografia do Abismo, de Felipe Nunes e Thomas Traumann. Os dados sugerem um País que está aprofundando a armadilha.

    É muito difícil prever a duração de um fenômeno tão amplo como a polarização calcificada, que tem na selvageria e virulência das redes sociais o principal componente dessa coleira anti latido. Depende da capacidade de jovens lideranças em todos os espectros políticos de aprender a livrar o próprio pescoço.

  4. É UM ERRO EXCLUIR OS DELATORES DO INDULTO DE NATAL, editorial do jornal O Globo

    Definido de forma vaga na Constituição, o indulto natalino se transformou nos últimos anos numa forma de o presidente da República manifestar suas inclinações pessoais e, ao mesmo tempo, aliviar a carga que pesa sobre um sistema carcerário superlotado. Em 2017, ficou célebre o perdão abrangente do então presidente Michel Temer a todos os presos por crimes não violentos (contestado na Justiça, depois validado pelo Supremo). No indulto final de seu governo, Jair Bolsonaro fez questão de incluir policiais e militares. Agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva excluiu do indulto concedido na semana passada os condenados que tenham feito colaboração premiada com a Justiça.

    Além dos delatores, Lula deixou de fora — corretamente nesse caso — os autores de crimes hediondos, violência contra a mulher, delitos ambientais e os que atentam contra o Estado Democrático de Direito, como os réus e condenados pelos ataques do 8 de Janeiro. É prerrogativa do presidente manter presos réus ou condenados por crimes que considera graves. Mas não faz sentido Lula excluir do perdão quem assinou acordo de delação. Com isso, ele desincentiva um instrumento poderoso de investigação criminal.

    É frágil o argumento, usado por petistas, de que delatores já foram beneficiados com redução da pena. Uma coisa nada tem a ver com a outra. A exclusão, inédita, apenas expõe a má vontade do governo petista com a colaboração premiada. Lula acredita que o modelo foi desvirtuado e que as acusações acabam anuladas na Justiça por falta de provas.

    A delação premiada foi regulamentada pela Lei de Organizações Criminosas no governo da petista Dilma Rousseff. Trata-se de acordo entre Estado e réu para obter informações que ajudem a resolver crimes ou desbaratar quadrilhas. Quando as delações da Operação Lava-Jato levaram à prisão figuras históricas do PT, como o próprio Lula, passaram a ser amaldiçoadas.

    É certo que as informações obtidas por meio de delações não bastam como provas. São pontos de partida para investigações mais detalhadas. Em geral, fornecem à polícia e ao Ministério Público pistas para destrinchar crimes que permaneceriam insolúveis de outro modo. Cabe aos investigadores cruzar dados, aprofundar a apuração e verificar o relato dos delatores. Na dúvida, a acusação é descartada.

    Com os reveses da Lava-Jato, tornou-se frequente a anulação de acordos de leniência e delação, ainda que os réus tenham confessado seus crimes diante das câmeras. A defesa costuma alegar que a confissão ocorreu sob pressão, ou até tortura. São conhecidos os erros da Lava-Jato, mas não dá para querer reescrever a História do maior esquema de corrupção desbaratado no Brasil.

    E acordos de delação premiada não existem apenas no âmbito da Lava-Jato. A colaboração premiada do ex-PM Élcio de Queiroz mudou o rumo das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. A delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid tem ajudado a desvendar as tramas golpistas no Planalto durante o governo Bolsonaro.

    A concessão do indulto de Natal é obviamente prerrogativa do presidente, mas não tem cabimento pôr no mesmo patamar quem fez delação premiada e réus ou condenados por crimes hediondos. Desestimular colaborações só tornará ainda mais difícil esclarecer crimes, num país em que quase dois terços deles permanecem sem solução.

  5. Bom dia.
    Quando fizermos uma faxina no paço Municipal, Gaspar e a sua gente terá os governantes que merece.
    Aos gulosos e poderosos de plantão restará colher o que plantaram, e Deus é muito justo com os seus.
    Eles, que vivem com a bíblia embaixo do braço, deveriam saber disso melhor que eu.

  6. DE JOAQUIM BREVES@AGRO PARA LULA, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    Estimado presidente,

    Saindo da ópera, encontrei D. Pedro II, e ele contou-me que o senhor está nas minhas terras da Restinga da Marambaia e lá pretende passar a noite do fim de ano. O monarca lhe quer bem, mas insiste em provar que os republicanos são uns doidos. “Só malucos passariam a festa num dos seus viveiros de negros novos, e este não é o primeiro”, disse-me o Imperador.

    Releve a má vontade de D. Pedro com a República, mas ele tem alguma razão, e escrevo-lhe para minorar o desconforto. (Ele não perdia a leitura dos jornais durante a pandemia, mostrando a todos a conduta do seu antecessor.)

    Sou um patriota, no dia 7 de setembro de 1822 eu estava na guarda de D. Pedro I na cena do Grito do Ipiranga. Comprei toda a Restinga da Marambaia em 1847. Eu e meu irmão tínhamos fazendas de café e milhares de escravos. Usávamos o trapiche da Marambaia para receber os africanos novos.

    De 1837 a 1852, desembarquei mais de 4 mil negros na Marambaia, e continuamos a fazê-lo depois de 1850, quando um governo poltrão cedeu aos ingleses e proibiu a importação de africanos. Como a fiscalização atrapalhava meu negócio, em fevereiro de 1852, adverti:

    — Se isto continua, a vida e fortuna de numerosos cidadãos, assim como a paz e a tranquilidade do Império, correm iminente perigo.

    Anos depois, meu irmão José também avisou:

    — A continuar a pôr em muito risco nossa segurança, abalará nossas fortunas e pode acarretar para o país funestas consequências.

    Éramos parte de uma elite próspera e nobre. Das minhas terras, saía 1,5% das nossas exportações de café. O sábio suíço Louis Agassiz maravilhou-se numa de nossas fazendas. Minha neta casou-se com o filho de Montholon, o general que acompanhou o Imperador Napoleão para o inferno da Ilha de Santa Helena. Quando não nos casávamos na nobreza, casávamos com parentes. Eu era tio da minha mulher, irmão da minha sogra e cunhado do meu sogro.

    Nossas profecias realizaram-se. Os filantropos do abolicionismo prevaleceram, a família imperial foi desterrada e a fortuna dos Breves sangrou. No século XX, o Vítor, um de nossos descendentes, era chefe político em Mangaratiba, mas vivia de um bananal e uma usina térmica. Produzia uma ótima bananada, a Tita. Tivemos parentes ilustres, mas viramos pó.

    Usufrua a beleza da Marambaia e esqueça os Breves, mas lembre que não passa pela cabeça de um presidente norte-americano hospedar-se numa propriedade que foi viveiro de africanos escravizados. Assim somos nós. Como lembrou o doutor Pedro Malan (um remoto Breves), “no Brasil até o passado é incerto”.

    Peço-lhe a graça de lembrar-se desse tempo, conversando com alguns quilombolas que vivem na região. Peço-lhe isso porque, daqui de onde estou, incomoda-me que se faça de conta que a Marambaia é um paraíso, fingindo que meu viveiro de negros escravizados é parte da História de um outro mundo. Perto do viveiro, em Angra dos Reis, está o quilombo do Bracuí, que leva o nome de uma fazenda para onde meu irmão levava negros desembarcados. Ouça sua gente.

    Do seu criado,

    Joaquim José de Souza Breves

  7. O SILÊNCIO ELOQUENTE DA CONSTITUIÇÃO, por Almir Pazzianotto Pinto, advogado, ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do Superior Tribunal do Trabalho, no jornal O Estado de S. Paulo

    É necessário desconstruir com sentido crítico a mitologia que existe sobre o descanso obrigatório aos domingos. Abandone a comodidade do gabinete. Observe a realidade. Por exigência da sociedade, da economia e dos próprios trabalhadores, são numerosas as profissões que trabalham aos domingos, dias santos e feriados.

    É o que sucede, por exemplo, com o padeiro, o aeronauta, o aeroviário, corretores, motoristas de taxi, de caminhões e ônibus, mecânicos, borracheiros, frentistas de postos de combustíveis, empregados de bares, restaurantes, churrascarias, hotéis, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fotógrafos, jornalistas, músicos, bombeiros, porteiros, vigilantes, policiais, artistas, profissionais de telecomunicações, rurícolas.

    A relação trata do óbvio, que ao observador despreocupado passa despercebido. Pouco importa o tamanho da cidade. Nas capitais, sedes de grandes e pequenos municípios, distritos, vilas ou na zona rural, sempre haverá alguém trabalhando à noite, aos domingos, feriados e dias santificados.

    A garantia do “repouso hebdomadário, de preferência aos domingos” foi uma das novidades benéficas aos assalariados instituídas pela Constituição de 1934 (art. 121, e), para ser mantida pelas Constituições de 1937, 1946, 1967 (Emenda n.º 1/1969) e, finalmente, na Constituição de 1988, conforme art. 7.º, XV.

    A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1943, tratou do assunto de forma genérica. Coube à Lei n.º 605, de 5/1/1949, regulamentar o dispositivo da Constituição de 1946. A lei deixa claro, no artigo 1.º, que o descanso semanal será remunerado e gozado “preferentemente aos domingos e nos limites das exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local”. Preferentemente. Nunca exclusivamente aos domingos.

    O art. 6.º da Lei n.º 10.101, de 18/12/2000, autoriza “o trabalho aos domingos no comércio varejista em geral, observado o art. 30, inciso I, da Constituição”. Esse dispositivo reconhece aos municípios a competência para legislar sobre assuntos de interesse local, como é o caso do comércio. No interesse dos munícipes, da economia local, do comércio e dos comerciários, na maioria dos municípios a atividade varejista aos domingos é autorizada.

    Quando determina, mediante portaria interna, que o trabalho do comércio aos domingos depende de acordo ou convenção coletiva, o ministro Luiz Marinho viola os limites da competência ministerial, delimitada pelo art. 87 da Constituição, e avança além do que lhe é autorizado.

    Trabalhar aos domingos não resulta da vontade do lojista. Abre as portas do seu comércio com a esperança de surgirem clientes dispostos a comprar. Sobretudo nos grandes centros, resulta também da necessidade dos consumidores, cujas atividades de segunda a sexta-feira ou sábado só lhes permitem ir ao supermercado ou ao shopping center em domingos e feriados.

    O art. 7.º da Constituição traz o rol de direitos fundamentais dos trabalhadores rurais e urbanos. Consultando-o, veremos que algumas das garantias dependem de regulamento legal. É o que sucede com a proteção do trabalhador contra despedidas arbitrárias ou sem justa causa, a participação nos lucros, a licença-paternidade, a proteção em face da automação (incisos I, XI, XIX, XXVII). Outras admitem soluções negociadas coletivamente, como no caso da irredutibilidade dos salários, da compensação de horários e redução da jornada, da jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento (incisos VI, XIII, XIV).

    Quando a Constituição silencia, desobriga de lei regulamentadora, convenção ou acordo coletivo, e o ajuste poderá ser concretizado entre empregador e empregado. É o que ocorre com o descanso semanal. Em boa língua portuguesa, preferentemente ou preferencialmente são expressões com significado conhecido. Às partes é possível escolher outro dia da semana, desde que seja observada a periodicidade da lei.

    A Constituição de 1988 disciplina o tratamento jurídico do assunto. Dispensa autorização legal ou mediante convenção ou acordo coletivo, em relação ao dia de descanso semanal. Nada impede que empregado e empregador determinem quando a loja funcionará no domingo ou feriado, conforme o interesse das partes.

    O ministro Luiz Marinho se intrometeu em esfera alheia à competência do Ministério do Trabalho e Emprego. Não há fundamento constitucional ou legal para exigir que o sindicato seja parte obrigatória de negociação que pode ser individual e direta. Criou entre empregador e empregado oneroso obstáculo não previsto pela Lei Fundamental.

    Em nosso país, é excessiva a ingerência do Estado nas relações de trabalho. Tudo se encontra minuciosamente regulamentado. A autonomia de vontade é mínima. Não, porém, ao ponto de impedir que comerciantes e comerciários ajustem, em determinadas datas ou épocas especiais, o dia do descanso obrigatório, desde que se observe o marco semanal.

    Respeite-se o silêncio eloquente da Constituição.

  8. INFLUENCIADORES DA DESINFORMAÇÃO, por Mariliz Pereira Jorge, no jornal Folha de S. Paulo

    Uma página com mais de 20 milhões de seguidores publica uma notícia falsa sobre um caso que envolve o humorista Whindersson Nunes. A mulher apontada como affair tira a própria vida depois da exposição. Não se sabe o que aconteceu e como os envolvidos podem ser implicados nessa tragédia. O que é possível afirmar é que, com exceção da garota, não tem santo nessa história.

    Tudo faz parte de uma rede de desinformação que movimenta bilhões e faz vítimas diariamente. Gente que perde dinheiro, relações familiares, saúde física e mental ao seguir influenciadores irresponsáveis e se informar por meio de perfis que misturam fofoca, entretenimento e “jornalismo”.

    Páginas como Choquei faturam alto com publicidade, chupando conteúdo de veículos tradicionais e independentes. Os mesmos que perdem assinantes, anunciantes, mas que mantêm grandes estruturas, equipes com profissionais remunerados, que têm obrigação de obedecer boas regras de conduta. Pra quê? Para um Zé qualquer pegar tudo de graça e oferecer “de graça” ao trouxa que acha que não precisa pagar por informação porque tem de “graça”.

    Se você segue e consome conteúdo de perfis e influenciadores que não se pautam por nenhum tipo de código de ética, seja do jornalismo ou da publicidade, tem culpa. Se acompanha o “noticiário” por meio de um Zé que brinca de analista político, não reclame de fake news e de polarização, assuma sua culpa nessa engrenagem.

    Se é uma agência que contrata influenciadores que não têm conhecimento sobre o que falam e responsabilidade sobre o que publicam, tem culpa. Se é uma marca que relaciona a imagem a produtores de conteúdo que sequestram pautas sociais apenas para ganhar dinheiro, tem culpa. Se você é influenciador que fecha parcerias com empresas criminosas, manipula os sonhos, a miséria de seu público, tem culpa, sim.

  9. LULA DETESTA A REALIDADE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Mesmo com a aprovação da reforma tributária e com o novo arcabouço fiscal, dois triunfos alcançados em 2023 à custa de muito esforço em direção a um equilíbrio mínimo das contas públicas, a trajetória da dívida pública brasileira exibe viés de alta e pode levar a uma situação “claramente insustentável”. Eis o importante alerta emitido recentemente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no seu relatório bianual sobre a economia do País.

    Apresentado no Ministério da Fazenda, o relatório foi classificado como “muito bom” pelo secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, porque, em sua opinião, captou o esforço do governo para recompor a base fiscal e, assim, estabilizar a trajetória da dívida. Já o presidente Lula da Silva, na sua parolagem semanal na internet, se disse “muito irritado” com o relatório e criticou o que chamou de “palpite” da entidade, reconhecida pela seriedade de seus estudos. Logo se vê que Lula e seu Ministério da Fazenda não estão falando a mesma língua.

    Lula não gostou do relatório porque a OCDE mostrou que a dívida pública não só segue elevada na comparação com outras economias emergentes, como vai beirar os 90% do PIB em pouco mais de 20 anos – e será ainda pior em caso de menor consolidação fiscal. O descumprimento das metas fiscais – desprezadas explicitamente por Lula – pode levar o País a uma trajetória insustentável da dívida, alcançando 100% já em 2037. Não custa repetir: 100% do PIB.

    Uma dívida de tal tamanho tem pouco paralelo entre países emergentes. O setor público gasta algo em torno de 40% do PIB, um dos maiores patamares do planeta. Há um desconhecimento na Esplanada dos Ministérios sobre os grandes desequilíbrios que em algum momento precisarão ser encarados. E, como lembrou recentemente o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, as metas são apertadas para cumprir e, ao mesmo tempo, não deixam margem de segurança. Se com a reforma tributária houve avanços na coluna da arrecadação, o governo ainda deve muito no controle de gastos. Para não falar do mais perturbador: os sucessivos ataques lulopetistas à racionalidade do controle das contas públicas e a pregação ilusória e irresponsável de que gasto é vida.

    Lula parece não ter percebido que, apesar dos recentes esforços da equipe econômica, está construindo uma herança difícil para seu sucessor – que pode ser ele mesmo, diga-se. Não é exagero pensar que o próximo mandato enfrentará a necessidade, por sobrevivência da economia, de uma agenda fiscal pesadíssima por quatro anos. Foi o que aconteceu no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. A diferença é que, em 2003, FHC entregou a Lula um superávit primário estrutural em torno de 3% do PIB. Hoje temos um déficit estrutural na casa de 1%.

    Adotar políticas responsáveis e, mais do que isso, pensar em reformas estruturais são dois dos principais lenitivos para conter o descontrole da dívida. Mas, para tanto, o governo precisa conter o descontrole da sua mentalidade expansionista.

  10. FALTA ÍMPETO AO GOVERNO, por Marcello Averbug, no jornal O Globo

    No momento em que Luiz Inácio Lula da Silva completa o primeiro ano de mandato, torna-se oportuno destacar a escassez de políticas públicas entusiasmantes anunciadas ao longo desse período. Embora seja inegável o nível satisfatório de inflação e compreensível o modesto crescimento da economia, falta ímpeto empreendedor ao governo.

    Até agora, o único objetivo explicitado claramente por um ministro foi o déficit zero, mesmo assim sob contestação dentro do próprio PT. Apesar de ser cedo para avaliar o resultado desse objetivo, Fernando Haddad tem o mérito de haver proposto algo concreto.

    No âmbito dos demais ministros, paira um marasmo enfadonho. Duas alternativas podem explicar esse fato: a) o governo vem trabalhando sem divulgar suas atividades; ou b) o governo encontra-se emaranhado numa rotina infrutífera. Se a primeira alternativa é verdadeira, então as autoridades federais vêm se omitindo em manter a população informada sobre o que realizam.

    É espantoso que o combate à pobreza e à iniquidade social, tão enfatizado durante a campanha eleitoral, ainda não tenha sido alvo de políticas públicas de caráter estrutural. O repertório do presidente sobre esses temas esgotou-se em seu primeiro mandato.

    Na realidade, não obstante ser classificado como de esquerda, Lula comportou-se como um conservador em seus nove anos de poder, promovendo insuficiente avanço favorável às classes de menor renda. Bolsa Família e elevação do salário mínimo não bastam como instrumentos para perseverante melhora da equidade social.

    Nada de relevante foi anunciado em áreas essenciais como educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia, energia, transporte coletivo e Previdência Social. O BNDES prossegue em sua longa abstenção como inspirador de caminhos desenvolvimentistas. Ademais, a existência de 38 ministérios constitui um atentado aos princípios de boa gestão.

    Em termos de política externa, a péssima imagem internacional decorrente da presença de Bolsonaro no Palácio da Alvorada foi substituída pela expectativa positiva resultante da eleição de Lula. No entanto, embora perdure o prestígio mundial do presidente, constatam-se sinais de desapontamento ante posições por ele adotadas. O Brasil ainda não encontrou o tom adequado para dialogar com o mundo.

    Outro fator que vem danificando o desempenho do presidente é a abundância de declarações inconvenientes, equivocadas e prejudiciais a seu próprio governo.

    Essa prolixidade lembra o fato ocorrido na Cúpula Ibero-Americana de 2007, de que participaram o rei Juan Carlos I da Espanha e presidentes de países da América Espanhola. Em vista das inoportunas interrupções do venezuelano Hugo Chávez aos discursos dos demais presidentes, Juan Carlos I perdeu a paciência e exclamou: ¿Por qué no te callas?

    Há ocasiões em que o mesmo deveria ser dito ao presidente Lula.

  11. POR 2024 SEM ILUSÕES, por Joel Pinheiro da Fonseca, no jornal Folha de S. Paulo

    À distância, no oceano, banhistas veem um navio cargueiro. Uma menina comenta que o navio parece estar vindo em direção à praia, mas o pai prontamente rejeita essa opinião; deve ser só impressão. Algumas horas depois, o navio já está bem mais próximo, mas o pai ainda segue dando garantias à família: alguém deve estar tomando conta disso, ninguém iria permitir esse desastre. Até que o navio, gigantesco, está a poucos metros da praia, vindo a toda a velocidade, e só resta à família correr em pânico numa fuga desesperada.

    Essa cena, parte do segmento de abertura do filme “O Mundo Depois de Nós” da Netflix —um filme-catástrofe com subtexto político—, retrata bem o momento em que vivemos. O navio que se aproxima é 2024. O mundo assiste incrédulo às preparações para as eleições americanas. Poucos se permitem reconhecer o que é cada vez mais provável: Trump vai vencer e sua volta ao poder terá um impacto profundo tanto na democracia americana quanto na ordem mundial.

    Coincidem dois momentos: a deterioração da hegemonia americana no mundo e uma revolução tecnológica —que inclui internet, redes sociais, smartphones e inteligência artificial— que dá mais poder aos indivíduos e, portanto, dificulta a vida de qualquer instituição cujo trabalho inclui controlá-los. As energias sociais que estavam adormecidas e foram liberadas nos ameaçam com o caos.

    Contra todas as evidências, há quem viva com a esperança de que, de algum jeito, os bons e velhos tempos voltem a reinar; alguém, de algum jeito, fará tudo voltar ao normal. Se toda essa loucura, essa divisão, esse populismo forem embora, tudo voltará ao normal, seremos de novo como nos anos 90.

    Os anos 90 —cuja nostalgia está em voga, inclusive no filme citado— foram uma década de consenso moral, de certeza no progresso, de crença na bondade do homem e na democracia. Em que um sistema bem administrado —no governo, na mídia, nas universidades, na ONU etc. —por especialistas credenciados garantia o bom funcionamento da sociedade. Todos viam os mesmos programas de TV, estudavam o mesmo currículo e votavam nos mesmos partidos.

    O escapismo só nos atrapalha. Primeiro porque a tecnologia não retrocederá. O controle top-down da opinião e da informação não é mais possível. Segundo, porque a casta dos especialistas não era lá tão boa assim. E, terceiro, excluía a maioria das pessoas do poder, apesar do discurso de democracia e liberdade, gerando o ressentimento que hoje explodiu. Para mim, que cresci naqueles anos, o sentimento era de sufocamento: o único caminho na vida era se formar e trabalhar duro para ocupar um lugarzinho especializado na tecnocracia, sobrando apenas a discussão de detalhes técnicos.

    Do ponto de vista histórico, esse velho “normal” é anormal. Um curto período entre o fim da Segunda Guerra e o começo do século 21, quando técnicos e “instituições” pareciam dar conta de todo problema social. O que voltou a existir é a política, ou seja, o conflito irremediável entre diferentes grupos humanos e diferentes visões de mundo, que jamais serão resolvidos pela pura discussão técnica. A própria noção de verdade entrou em xeque.

    Mais importante do que acabar com as fake news —o que é impossível— é entender porque tanta gente está tão ávida por acreditar nelas e aprender a conquistar a confiança do público. A “loucura” está aí, não irá embora e não dá para proibi-la. É preciso mergulhar de vez nas novas águas e aprender a jogar o jogo do debate público, alargando nossa concepção do que é aceitável. É isso que desejo a todos os que trabalham por um mundo melhor em 2024.

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