Alterada às 16h25min de 02.06.2023. Nada como um dia após o outro para desnudar, sucessivamente, um governo fictício e de sucesso nas redes sociais, mas de muitas dúvidas, erros, vingança e falta de resultados para a cidade, cidadãos e cidadãs . E muito do que vou escrever é repetição de vários artigos feitos nos últimos dez anos e lidos pelos meus leitores e leitoras. Ou seja, é coisa “velha” e que os políticos irresponsáveis com o futuro de Gaspar tentam requentar como se não fossem parte deste atraso. Desculpem-me.
Com a repetição do sucesso no final de semana para além de Santa Catarina do Rodeio Crioulo, organizado pelo CTG Coração do Vale (na foto aérea noturna de Guilherme Spengler), bateu a dor de barriga nos nossos políticos no poder de plantão. Eles, estão se esquentando para disputar espaços de trocas na cabala de votos entre os poderosos que vivem nas sombras da cidade. E o GTG é um deles. Tanto que quando se fechou a cancha Engelbert Schramm, na Rua Rodolfo Vieira Pamplona, o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, não teve dúvidas: caneteou e desapropriou, por indecente merreca, proposital insegurança jurídica e num ato claro de vingança: vestido de proletário, tentou “impor” uma pena compensatória ideológica a um empresário e que tinha falido uma de suas empresas na região e desempregado milhares de trabalhadores a quem ficou em dívida.
O município de Gaspar, por decreto – que não foi o único neste senso de vingança deste tipo nas cidade feita por Zuchi e sua turma, incluindo o PP que lhe dava apoio velado na Câmara – tomou uma área conhecida de Fazenda Juçara, na Margem Esquerda, quase no Centro da cidade, com acesso estratégico a BR-470 e que pertenceu ao conglomerado da antiga Sulfabril, de Blumenau.
Desde então, fui e sou massacrado. A imprensa sempre calada neste assunto. Finge não entender a importância da área ser pública para a cidade.
Fui massacrado pelos políticos e gestores públicos, não exatamente pela desapropriação em si, mas pela forma torta como foi feita e que sempre combati. E o resultado está aí. Sempre defendi e está em vários artigos que escrevi, de que, esta área fosse transformada num parque público, uma lucrativa e referência área de eventos, exposições e negócios regionais.
Fui massacrado porque sempre fui contra o processo meia boca de Zuchi e do PT. Os anos se passaram e tudo pode virar poeira. Uma pena!
A arena – que já recebeu um monte de melhorias públicas feitas à revelia e até mesmo com consentimento do proprietário e delas não caberá indenizações – até tem nome, a do ex-prefeito Francisco Hostins, PDC. E tudo o que hoje se faz lá, é por favor do dono, em expresso acordo com a prefeitura, numa boa vontade dele com a cidade. Nem mais, nem menos. E isto está com os dias contados. Todos os poderosos e donos da cidade sabem também. E escamoteiam do debate transparente.
Resumindo: a prefeitura de Gaspar está bem próxima a ser corrida de lá. O proprietário e seus filhos sucessores não estão mais dispostos a esperar que algum político com cabeça no lugar, faça o que tinha que ser feito há muitos anos. Há até projetos privados em andamento para a ocupação comercial, industrial e residencial.
Agora, que a água chegou no nariz de alguns, que no passado ajudaram o PT a fazer o que fez, estão pedindo penico. Um deles é o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. É que ele, entre muitos políticos, teve o ouvido “estourado” por queixas do óbvio feitas pelo pessoal do CTG, exatamente, vejam só, na hora em que se abre a armação de mais uma campanha eleitoral municipal. Sintomático.
E por quê? Tudo porque o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, com o Luiz Carlos Spengler, PP e agora com Marcelo de Souza Brick, PSD, na vice-prefeitura, não foi capaz e de ir atrás de uma solução, bem como montar parcerias de viabilidade financeira e política em Brasília e Florianópolis. Não quis, não priorizou e não orientou o seu jurídico à buscar uma solução negociada com o dono do terreno, exatamente porque Kleber, também, tortamente, acha e ainda pensa assim, que com isso estaria dando palanque ao PT, a Zuchi e não exatamente o devido protagonismo à cidade, como vem dando, os eventos realizados lá, e do qual, mesmo assim tira casquinha – com os organizadores privados e nas redes sociais – quando passa por lá.
Kleber até disse que faria uma área de lazer para a cidade no bairro Sete de Setembro. Nada saiu do papel. E nem sairá. Kleber e Marcelo preferiram o varejinho como o mirante, o parque náutico para os riquinhos num rio poluído por falta de saneamento básico na cidade, e 32 áreas de lazer nos bairros que estão saindo a conta-gotas. Mais do que isso, gastou, sob intensa polêmica, inclusive no valor, R$14 milhões para comprar um terreno para ser a futura desde administrativa do governo e nada saiu do papel, bem como a compra do que foi a agência do BESC por quase R$2 milhões e que está abandonada há anos e se pagando alugueis caros para outras ocupações. Agora, diz que está sem caixa.
Em nenhum lugar desses mencionados anteriormente será possível fazer eventos da magnitude do CTG. Provavelmente, ele será na Ilhota. Oferta até há.
E para terminar naquilo que é repetição. Ontem, quinta-feira, quatro dias depois do evento, a prefeitura não tinha feito o serviço dela: o de recolher a montanha de lixo que se acumulava na Arena Multiuso.
E abaixo, o momento em que o vereador Melato, na sessão de terça-feira falava da tardia necessidade de se buscar as quase impossíveis soluções, para atender interesses políticos e que estão chegando com a campanha eleitoral, mas, foi contestado dentro da Bancada do Amém pelo líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB. É que Anhaia tem a difícil e ingrata missão de tapar o sol com a peneira e esconder os erros do governo. E Melato estava quebrando o encanto de mais uma narrativa do governo – no qual está – e Anhaia está obrigado a defender unilateralmente, tendo ou não razão. Mais tarde, Anhaia pediu desculpas.
Esta aparente fissura na Bancada do Amém, deu oportunidade ao vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, tirar, ao mesmo tempo, um “sarro” de ambos, mesmo sendo ele parte do pecado contra a cidade. Divertido, se não fosse triste. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
O re-acerto de forças que está sendo negociado no governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, passará pela volta do ex-secretário de Planejamento Territorial, Jean Alexandre dos Santos, MDB. Estes são os sintomas, ou resultados, de dois sumiços: o de uma semana e há duas semanas do próprio Kleber e por semanas, dos áudios com conversas cabulosas do ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, ex-presidente da Comissão de Intervenção do Hospital, e ainda presidente do PSDB local, Jorge Luiz Prucino Pereira.
Os áudios colocaram o governo gasparense no centro de uma confusão sem tamanho. Eles até, geraram uma CPI na Câmara. Providencialmente, ela foi feita só de governistas que usariam os dois únicos vereadores da oposição para humilhação. Não deu certo. E ninguém mais fala mais nada na cidade e dela pouco se sabe. Esta CPI montada às pressas e pela própria base de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e de |Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, mas talvez PP, na Câmara, desde o início, tinha como objetivo a de dar o carimbo de limpo ao governo. A pizza está no forno e não se sabe onde ele está funcionando a encomenda e qual é o sabor desta pizza. O presidente da CPI é o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Tudo para que nada fuja do controle
Este rearranjo, a contragosto do próprio prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e de familiares que o influenciam, ressuscita o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, mas em vias de assinar com o PP, se tudo isto der certo nestas amarrações de bastidores. Também tira do limbo o ex-presidente do MDB de Gaspar, Carlos Roberto Pereira, via o aparentado Alexandre e que é o patrono da candidatura de Marcelo a prefeito. O degaste é tão grande que, o MDB de Gaspar está sem nomes competitivos para blefar até com o PP ou qualquer outro partido.
Jean Alexandre dos Santos está, inicialmente, mapeado para a presidência do Samae. O que atrapalha? O aval do novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD, de Blumenau. Só este fato, em si, ou seja, a reviravolta, mostra o quanto erraram os “çábios”, gulosos, marqueteiros e os políticos que aboletaram no governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL sei lá, ou quem sabe, PP.
O que se esconde verdadeiramente das contas do Hospital de Gaspar sob marota intervenção municipal e guloso nas verbas públicas – sem a devida contrapartida de serviços em quantidade e qualidade para a sociedade? Convidado a dar explicações na Câmara, o controlador municipal, Ernesto Hostin, mandou três pareceres – e que o autor do pedido, vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, não os vês suficientemente claros. Ao mesmo tempo, Ernesto pediu para não comparecer, pessoalmente, e assim tirar as dúvidas. Ou seja, fugiu.
Se não é provocação, se não é desprezo pela transparência em algo essencialmente público, se não é falta de controle e falta de respostas convincentes, a cada dia, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, PSD, bem como a Bancada do Amém, estão sendo engolidos pela narrativa de que criam cortinas de fumaça para esconder a realidade de erros e dúvidas neste e outros assuntos. É essa gente que se afunda no próprio buraco que está cavando. Qualquer pesquisa mostra que a cidade já comprou a ideia de graves problemas no Hospital e na saúde pública de Gaspar.
E isto não está apenas nos números que são sonegados pelas autoridades, as quais deveriam tê-los na ponta do lápis e da língua, nas sucessivas fugas de prestação de contas, mas principalmente no atendimento à população. O discurso da vereadora Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, conhecida, como Mara da Saúde, ou seja, por atuar nesta área, feito na terça-feira desta semana na Câmara, mesmo pertencente à Bancada do Amém, revela esta angústia generalizada. Ela esteve no Hospital e se desesperou.
Todavia, a técnica na área de enfermagem Mara erra quando dá vez a política Mara e diz que o Hospital precisa de mais recursos para atender melhor. Cumuéqueé? O Hospital precisa antes prestar contas, permanentemente e de forma transparente do que faz. Quando fizer isso e atender melhor os doentes e desvalidos, terá crédito para pedir mais. Simples assim! E político não entende. Usa o caos para criar desespero. Ele pensa, ou finge, que isto será revolvido com mais dinheiro e não com respeito, gestão eficaz eficaz e profissionalismo.
Outro retrato da gestão de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza, Patriota, ou PL, sei lá, mas com um pé no PP. Terminou o “Maio Amarelo”, em Gaspar – um mês feito para a conscientização contra a violência no trânsito. Em Gaspar, ele foi um evento político, curtido e comemorado pelos políticos no poder de plantão. No mês do “Maio Amarelo” as lombadas eletrônicas em Gaspar foram desativadas. A Ditran continuou com seis agentes de rua para cobrir uma cidade de 73 mil habitantes. O superintendente foi homenageado com uma “Moção de Aplausos” na Câmara dada pelos amigos do comissionado indicado para a gestão do órgão. E se pagou R$17 mil por uma palestra de uma hora e meia sobre o assunto, que nem registro no site da prefeitura mereceu.
O ex-prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinubing, União Brasil, assumiu a diretoria financeira do BRDE, após longa espera pela aprovação do seu nome pelo Banco Central. Será um a menos a incomodar os planos políticos de Jorginho Mello, PL, na campanha eleitoral do ano que vem em Blumenau. Este é o jogo de xadrez que se monta por lá. Quem espirrou do BRDE, foi o ex-governador Eduardo Pinho Moreira, MDB.
Os políticos nunca conseguem enxergar o amanhã. O governador Jorginho Mello, PL, por exemplo, está reclamando que a arrecadação de Santa Catarina diminuiu. E tem razão. Mas, foi ele quem contribuiu para isso. Quando senador e já, pasmem, vestido de candidato ao governo do Estado contribuiu para a diminuição da arrecadação. Ou seja, sabia dos reflexos, se fosse eleito, como foi. No plano eleitoreiro de Jair Messias Bolsonaro, PL, Jorginho ajudou a aprovar os cortes e mudanças nas alíquotas e cálculos do ICMS sobre combustíveis, comunicação… Então, a conta veio contra ele e à sociedade. Agora, reclama?
Perguntar não ofende: o que é feito da Expo-feira de Gaspar deste ano? Acorda, Gaspar!
8 comentários em “QUASE SETE ANOS DEPOIS, O GOVERNO KLEBER E SUA BANCADA DO AMÉM “DESCOBREM” QUE A ARENA MULTIUSO EM ÁREA NOBRE, AMPLA E LOGISTICAMENTE BEM SITUADA É OURO DE TOLO E SÓ É PRECIOSA PARA O VERDADEIRO DONO”
LULA USA O VAREJO PARA CASOS NO ATACADO, por Elio Gaspari nos jornais Folha de S. Paulo e o Globo
Churrascos, verbas ou mesmo troca de ministros não resolverão as dificuldades do governo com o Congresso. Lula foi eleito com a escassa vantagem de 1,8 ponto percentual e tem uma base parlamentar instável, mas acredita que pode resolver problemas do atacado com soluções do varejo. O Congresso tem uma maioria conservadora pressionada por uma minoria radical, até troglodita. O presidente, contudo, vocaliza uma agenda que o afasta de um equilíbrio.
Um exemplo: durante a campanha eleitoral ele disse que “o agronegócio, sabe, que é fascista e direitista. (….) porque os empresários que têm um comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China, não querem desmatar.” Coisas da campanha.
Em maio, quando o ministro da Agricultura foi desconvidado para a abertura do Agrishow de Ribeirão Preto, voltou a crer na ação de “fascistas”. Isso, levando o líder do MST na sua comitiva para a China.
Há grandes empresários do agro que o apoiaram. Essa retórica pode agradar ilustrados das cidades, mas para os empresários do campo, tornam-se um fator de isolamento. Quando um parlamentar ligado aos agricultores, reivindica uma verba, ele pode até vir a votar com o governo na terça-feira, mas na quinta atende de novo sua base.
As arcas da Viúva não têm dinheiro suficiente para garantir uma base parlamentar alimentada pelo varejo. Num tempo bem mais confortável, o governo de Lula tentou isso com o mensalão e deu no que deu. Também não se vai a lugar algum dizendo que o problema é de coordenação. Trocando-se o ministro Alexandre Padilha pelo ilusionista Issao Imamura, o problema continuará do mesmo tamanho. Coordenar o quê?
O VENENO DE ZELENSKY
Quando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse à repórter Patrícia Campos Mello que “Lula quer ser original e nós devemos dar essa oportunidade a ele”, havia veneno na ponta da ironia.
Noves fora suas posições em relação à Ucrânia e ao governo da Venezuela, em apenas cinco meses, Lula já propôs ao mundo as seguintes mudanças:
A criação de uma governança mundial para a questão ambiental. A criação de uma moeda comum para a América do Sul. Insistiu numa reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, criando assentos permanentes para a África, mais a América do Sul e o Caribe.
ENROLANDO
Ao assumir a presidência, Lula disse que acabaria com a “vergonhosa fila do INSS”. Nela há mais de um milhão de pessoas esperando perícias médicas para receber benefícios. Desde o dia em que ele anunciou esse desejo a fila cresceu 13% com cerca de 500 mil pessoas.
Em fevereiro o ministro Carlos Lupi, da Previdência, anunciou um mutirão capaz de fazer com que, ao final do ano, todos os pedidos seriam analisado em até 45 dias.
A primeira metade do ano está terminando e Lupi informa que a promessa só poderá ser cumprida se lhe derem mais recursos.
Em janeiro o governo reiterou a promessa de campanha de Lula, para permitir a renegociação das dívidas de milhões de pessoas penduradas no Serasa por dívidas de até R$ 2.600. O programa ganhou até um nome bonito: Desenrola.
Em março, Lula disse que “outra coisa importante que está para ser anunciada é o Desenrola. Está pronto, acho que na semana que vem nós vamos poder anunciar.”
Em abril, sem ter anunciado coisa alguma, Lula retomou o tema, em tom de cobrança:
“Eu lembro que dizia na campanha que, se a gente não fizer, dá a impressão de que a gente está enrolando o povo. Como o programa chama Desenrola, Haddad, eu queria que você, a sua equipe, fizesse uma conversa na Casa Civil, preparasse esse programa para gente lançar. Por mais dificuldade que a gente possa ter, tem que ter um começo. E nós precisamos lançar esse programa para ver se a gente termina com a dívida que envolve quase 60 milhões de pessoas que estão se endividando no cartão de crédito para comprar o que comer. Não tem sentido. vamos desenrolar, pelo amor de Deus. Vamos desenrolar aí”.
O Desenrola continua patinando.
SALA EXCLUSIVA
Celebrado por sua discrição, o executivo Miguel Gutierrez, comandou a rede varejista Americanas. Ele evitava entrevistas, fotografias e não gostava de e-mails. Havia mais. No prédio da empresa, no Rio, ele tinha um gabinete no terceiro andar e uma sala pessoal no segundo. Ela media 15 metros quadrados, tinha apenas uma mesa e cadeiras. Suas janelas eram as únicas protegidas por vidros duplos. Ao contrário de outras salas, envidraçadas, as persianas dessa sala ficavam sempre fechadas.
CAMPOS DEU UM SINAL
Há duas semanas um grupo de empresários reuniu-se na casa do senador Rodrigo Pacheco, em Brasília, com o ministro Fernando Haddad e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Quem ouviu a conversa saiu com a impressão de que a taxa de juros cairá, mesmo que caia pouco.
MADAME NATASHA
Natasha vota em Lula sempre que ele se candidata e emudece a televisão sempre que ele começa a falar. Lendo os jornais, viu que ele incorporou a palavra “narrativa” à sua retórica. Usou-a para mimosear o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Para Lula, as malfeitorias do regime chavista compõem uma narrativa de adversários. A senhora viu que Lula tomou um contravapor vindo do presidentes do Uruguai, de um lado, e do Chile, de outro, mas seu cuidado restringe-se ao uso do idioma.
Tudo que é contado é narrado. Se um sujeito diz que viu um disco voador na esquina, está fazendo uma narrativa. Na narrativa de Jair Bolsonaro, o vírus da Covid podia ser chinês e a vacina poderia ser prejudicial à saúde. Ainda assim, Bolsonaro teve 58 milhões de votos, contra 60 milhões dados a Lula.
Pela narrativa alemã, no dia 30 de agosto de 1939, tropas polonesas tomaram uma rádio alemã da fronteira. A Polônia havia invadido a Alemanha. Essa narrativa foi contada por Hitler e repetida em Moscou pelo jornal Pravda. Em Roma, o Papa Pio XII evitou abençoar a Polônia
Nos dias seguintes, começou a Segunda Guerra. O Duque de Westminster, um dos homens mais ricos da Inglaterra, culpava os judeus. Tudo narrativa.
ZANIN NO SUPREMO
É muito provável que Cristiano Zanin seja aprovado pelo Senado e assuma cadeira no STF. Desde que sua escolha se tornou pública ele está debaixo de chumbo.
Pode-se estranhar que Lula tenha escolhido o advogado que, com êxito, defendeu-o no processo da Lava-Jato, mas ele não foi seu advogado em outros litígios.
O advogado particular do presidente mandado para a Suprema Corte foi Abe Fortas, indicado em 1965 por Lyndon Johnson.
Em 1969 ele foi obrigado a renunciar porque remunerou-se por palestras numa universidade que havia recebido dinheiro de uma empresa que tinha processos no tribunal. Se esse rigor vigorasse no Brasil, surgiriam vagas em todos os tribunais, de todas as instâncias.
Como se estampa a mentira, a hipocrisia, as narrativas e as incoerências de Lula, PT e a Esquerda do atraso para ser poder e nele instrumentalizá-lo contra a democracia, as liberdades, a ética e a moralidade. Pior, e como, sem qualquer pudor, tratando todos como imbecis, analfabetos, ignorantes e desinformados, se iguala ao que combatia no Bolsonarismo.
UM AMIGO NO SUPREMO, por Bernardo de Mello Franco, no jornal O Globo
Não é “prudente” nem “democrático” que um presidente queira ter amigos no Supremo Tribunal Federal. A afirmação foi feita por Lula, em debate no segundo turno da eleição presidencial.
“Tentar mexer na Suprema Corte para botar amigo, companheiro ou partidário é um atraso. É um retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem”, disse o então candidato do PT. “Eu sou contra”, reforçou.
Sete meses depois, o presidente indicou seu advogado particular a uma cadeira no STF. Em março, ele havia deixado claro que a relação com Cristiano Zanin ia muito além do campo profissional. “É meu amigo, é meu companheiro”, informou, em entrevista à BandNews.
A contradição com o discurso de campanha não é o único problema da escolha. Ao indicar Zanin, Lula sinaliza que pretende ter um escudeiro no Supremo. Nos últimos anos, o ungido o defendeu nas esferas criminal, cível e eleitoral.
Na visão do presidente, o advogado foi o responsável por anular suas condenações e livrá-lo da cadeia — embora isso tenha decorrido menos da oratória do causídico e mais da desmoralização da Lava-Jato
No Senado, a indicação de Zanin dará palanque fácil aos bolsonaristas para atacar o governo. A começar pelo ex-juiz Sergio Moro, que poderá falar à vontade na sabatina da Comissão de Constituição e Justiça. A nomeação deve passar com folga, mas o presidente terá que enfrentar mais um foco de desgaste.
A escolha não foi unânime nem na base lulista. Aliados do presidente questionam a opção por um jurisconsulto sem credenciais progressistas. Na advocacia, Zanin se especializou em prestar serviços à elite política e empresarial. Não se sabe o que ele pensa sobre a situação dos trabalhadores, dos sem-terra, dos povos indígenas.
A indicação ainda frustrou os grupos que cobram mais diversidade de gênero e raça nas instâncias de poder. Lula nomeou um número recorde de mulheres para o ministério, mas perdeu a chance de aumentar a representação feminina na cúpula do Judiciário. Não há negros na Corte desde 2014, quando Joaquim Barbosa antecipou a aposentadoria. Depois disso, o Supremo recebeu mais quatro homens brancos. Zanin será o quinto seguido.
Nenhum presidente indicaria um inimigo ao STF. Fernando Collor chegou a nomear um primo, e Jair Bolsonaro escolheu um jurista “terrivelmente evangélico” com quem dizia tomar tubaína. A questão é que Lula não foi eleito para imitar os antecessores que tanto criticou.
O argumento de que o presidente se sentiu traído em indicações passadas também não é defensável. Um ministro do Supremo deve julgar de acordo com a Constituição, e não com os interesses de quem o nomeou.
As consequências da escolha de Lula irão muito além do mandato presidencial. Aprovado pelo Senado, Zanin ficará na Corte até o fim de 2050. Se a saúde ajudar, o petista terá 95 anos de idade.
DEZ ANOS DEPOIS, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Em junho de 2013, o Brasil assistia ao desgaste de um partido havia mais de década no poder, com lideranças condenadas por corrupção poucos meses antes. Exauria-se um forte ciclo de crescimento econômico, cujo prolongamento artificioso tornara-se a obsessão de um governo inábil.
O contexto internacional não era menos desafiador. Uma crise financeira global havia sido domada à custa de ciclópicas intervenções de tesouros e bancos centrais. Massificava-se a utilização das redes sociais, que haviam dado mostras de seu poder de mobilização na rodada de revoltas da Primavera Árabe.
A tarifa de transporte em metrópoles brasileiras —cuja alta costumeira do início do ano fora adiada por pressão da presidente Dilma Rousseff (PT)— serviu como estopim dos protestos iniciais de rua. Grupos juvenis inexpressivos bateram-se contra a tentativa de reajuste e de repente se viram inundados por uma torrente de apoiadores com variadas reivindicações.
A violência passou a acompanhar as passeatas, algo até então incomum na política da Nova República, sob a forma de depredações, confrontos e repressão abusiva das polícias. Prédios federais em Brasília foram fustigados por multidões como só ocorreria novamente em 8 de janeiro de 2023.
A coloração esquerdista da primeira fase da revolta deu lugar à de seus antípodas na etapa seguinte. As camisetas amarelas predominavam ao final, com uma mixórdia que incluía repúdio ao intervencionismo econômico, clamores anticorrupção e conservadorismo nos costumes. Grupelhos autoritários perderam o pudor de exibir seu ódio à democracia.
Essa direita renovada e popular, fenômeno também inédito no Brasil democrático, firmou-se no cenário político nacional. Propiciou as disputas presidenciais apertadíssimas de 2014 e 2022, o aval multitudinário ao impeachment em 2016 e a eleição de um demagogo autoritário, Jair Bolsonaro, em 2018.
Já a esquerda permaneceu na órbita do PT, que disputou o segundo turno nas três eleições presidenciais seguintes e venceu duas delas.
Nenhum dos dois lados da anteposição que se sustenta desde então no país logrou converter-se em maioria sólida seja na sociedade, seja na representação política.
Ficou evidente que vilipendiar a institucionalidade, mensagem implícita em alguns discursos desde as Jornadas de Junho, é atalho para o despotismo, não para a resolução dos graves problemas nacionais.
A melhor síntese de 2013 —um país em busca de justiça e amparo social, democracia, progresso material, liberdade econômica e compostura no exercício do poder— ainda não encontrou uma liderança que a personifique.
Chamo a atenção para a leitura deste artigo. Ele é de fácil leitura e compreensão. Sintético. Importante.
UM NOVO MUNDO ANTIAMERICANO, por Fareed Zakaria, no jornal Washington Post, traduzido e republicado no jornal O Estado de S. Paulo
Acompanhando a eleição turca, fiquei impressionado ao escutar uma das mais graduadas autoridades do país, o ministro do Interior, Suleyman Soylu, discursando para a multidão de uma varanda. Exultante, ele prometeu que o presidente Recep Tayyip Erdogan “varrerá qualquer um que causar problemas” para a Turquia, “incluindo o Exército americano”.
Anteriormente, Soylu disse que indivíduos “perseguindo uma abordagem pró-EUA serão considerados traidores”. Tenha em mente que a Turquia é membro da Otan, com bases americanas, há 70 anos.
O próprio Erdogan usa com frequência e estridência a retórica anti-Ocidente. Uma semana antes do primeiro turno, ele tuitou que seu rival “não revelará o que prometeu para os terroristas matadores de bebês ou para os países ocidentais”.
Erdogan pode ser um dos representantes mais extremos dessa atitude, mas não está só. Conforme muitos comentaristas têm notado, a maior parte da população mundial não está alinhada com o Ocidente em sua luta contra a invasão da Ucrânia ordenada por Vladimir Putin. E a guerra em si apenas ressaltou um fenômeno mais amplo: os mais poderosos países em desenvolvimento estão cada vez mais anti-Ocidente e anti-EUA.
LULA. Quando o Brasil elegeu Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, muitos suspiraram aliviados ao ver o populista Jair Bolsonaro ser substituído por uma figura conhecida e tradicional da esquerda. Em poucos meses no cargo, contudo, Lula escolheu criticar o Ocidente, vociferar contra a hegemonia do dólar e afirmar que Rússia e Ucrânia são igualmente culpadas pela guerra.
Esta semana, Lula recebeu o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujo reinado brutal expulsou milhões de habitantes de seu país. Lula rasgou elogios ao ditador e criticou Washington por negar a legitimidade de Maduro e impor sanções contra seu regime.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, tinha reputação de ser moderado, pragmático e amigável aos negócios, com laços com o Ocidente. Mas, sob seu governo, a África do Sul pendeu mais para a órbita de Rússia e China. Seu governo não condenou a invasão russa, participa com as Marinhas de Rússia e China de exercícios navais e é acusado pelos EUA de fornecer armas para os russos – os sul-africanos negam.
E há a Índia, que deixou claro desde o início da guerra que não tem intenção de se opor à Rússia, que segue sua principal fornecedora de armamentos avançados. As declarações de Nova Délhi sobre seu desejo de manter um equilíbrio entre Ocidente e Rússia têm sido tão numerosas que Ashley Tellis, estudioso das relações EUA-Índia, escreveu um ensaio alertando Washington a não acreditar que a Índia ficaria do lado americano em qualquer crise com Pequim.
O que está acontecendo? Por que os EUA enfrentam tantos problemas com os países em desenvolvimento? Essas atitudes têm raiz em um fenômeno que eu descrevi em 2008 como “a ascensão do resto”.
Nas últimas duas décadas, houve uma enorme mudança no sistema internacional. Países populosos, mas pobres, saltaram das margens para a arena central. Antes representando uma fatia ínfima da economia global, os “mercados emergentes” agora constituem metade de seu total. Seria justo afirmar que eles emergiram.
Conforme se tornaram fortes economicamente, estáveis politicamente e orgulhosos de suas culturas, também se tornaram mais nacionalistas, e seu nacionalismo é definido em oposição a países que dominam o sistema internacional – leia-se o Ocidente. Muitas dessas nações foram colonizadas por países ocidentais e têm uma aversão instintiva a esforços ocidentais em vinculá-los a alguma aliança ou grupo.
Refletindo sobre esse fenômeno, a especialista em Rússia Fiona Hill nota que o outro fator nessa desconfiança é que esses países não acreditam em Washington quando ouvem os americanos defendendo um sistema internacional com base em regras.
Esses países consideram os EUA, segundo Hill, “arrogantes” e “hipócritas”. Washington aplica as regras sobre os outros, mas as quebra com intervenções militares e sanções unilaterais. Os americanos insistem que os outros se abram ao comércio, mas violam esses princípios quando bem entendem.
MUDANÇA. Este é o novo mundo. Não caracterizado pelo declínio dos EUA, “mas pela ascensão dos demais”. Vastas regiões do planeta que figuravam antes apenas como peões no tabuleiro de xadrez passaram a ser jogadores importantes e pretendem escolher seus próprios movimentos, com frequência em função de seu interesse. Eles não serão facilmente intimidados ou seduzidos. Terão de ser persuadidos. Navegar nessa arena é o grande desafio da diplomacia americana. Washington está à altura da tarefa?
A INCONSTITUCIONAL E VERGONHOSA ANISTIA, por Miguel Reale Júnior, jurista, no Jornal O Estado de S. Paulo
A partir de 2009, alterações legislativas visaram a implementar maior participação das mulheres nos partidos políticos e no processo eleitoral. Essas ações afirmativas receberam apoio significativo do Judiciário, em decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Estabeleceu-se no artigo 44, V, da Lei dos Partidos (Lei n.º 9.096/95) que os recursos partidários serão aplicados, no mínimo, no porcentual de 5% na criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. Por sua vez, conforme a Lei n.º 13.165 de 2015, determinou-se a reserva de no mínimo 5% e de no máximo 30% do montante do Fundo Partidário Eleitoral para aplicação nas campanhas de suas candidatas.
Todavia, o Congresso Nacional editou em 2019 a Lei n.º 13.831, por via da qual se introduzia na Lei dos Partidos Políticos o artigo 55-C, segundo o qual “a não observância do disposto no inciso V do caput do art. 44 desta lei, até o exercício de 2018, não ensejará a desaprovação das contas”. Retirou-se força cogente da obrigação de destinar 5% para a promoção da participação feminina nos partidos.
Em 2020 o TSE, respondendo à consulta da deputada Benedita da Silva, fixou o entendimento de caber a divisão da “fatia feminina” do Fundo Eleitoral e do tempo de rádio e TV entre candidatas negras e brancas na exata proporção das candidaturas apresentadas por cada partido. O mesmo critério deveria ser adotado para homens negros e brancos.
O Congresso, que em 2019 abonara o descumprimento das ações afirmativas para igualdade de gênero na vida política e eleitoral, no entanto, reconheceu o seu relevo ao dar dignidade constitucional àquelas ações, promulgando, em abril de 2022, a Emenda Constitucional (EC) n.º 117. Por essa emenda, introduziram-se no artigo 17 da Constituição os parágrafos 7.º e 8.º. Essas regras consagram a destinação de 5% do fundo dos partidos para a promoção da participação política da mulher, bem como a aplicação de até 30% do Fundo Eleitoral na campanha das candidatas.
Mas – tem sempre um mas –, nesta mesma emenda constitucional, que dava alçada constitucional às ações afirmativas, contraditoriamente, anistiavase o descumprimento dessas ações nas eleições anteriores. Atribuía-se, portanto, caráter constitucional ao disposto no artigo 55-C da lei de 2019, acima reproduzido. No artigo 3.º desta EC, estipulou-se não serem aplicadas “sanções de qualquer natureza, inclusive de devolução de valores, multa ou suspensão do fundo partidário, aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou que não destinaram os valores mínimos em razão de sexo e raça em eleições ocorridas antes da promulgação desta Emenda Constitucional”.
A incongruência é total: por um lado, perdoava-se o descumprimento da lei; por outro, se dava relevo às ações afirmativas. Em 2021, por exemplo, pela Emenda Constitucional n.º 111, decidiu-se que, para fins de distribuição entre os partidos políticos dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, os votos dados a candidatas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados devem ser contados em dobro.
Tendo-se estabelecido em nível constitucional a adoção de medidas favorecedoras da participação feminina na vida partidária e nas eleições, a todos de boa-fé poderia parecer que, agora, essas obrigações eram para valer. Se na eleição de 2022 as normas de promoção da igualdade de gênero e de cor não foram observadas, multas e demais sanções devem ser impostas aos partidos, pois só a eficácia delas tem capacidade de constranger ao futuro respeito de sua disciplina e garantir sua observância. Dessa forma, dar-se-ia concretude aos princípios reitores da Constituição, inscritos em seu preâmbulo e consistentes na solidariedade, na redução das desigualdades e no combate à discriminação por preconceito de sexo ou cor.
Contudo, reiterando comportamento contraditório, o Congresso examina agora a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º 9/2023, segundo a qual não serão aplicadas quaisquer sanções, multa ou suspensão dos Fundos Partidário ou Eleitoral aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou não destinaram os valores mínimos em razão de sexo ou de cor.
Esta vergonhosa proposta perpetua a desigualdade de gênero e de cor e destrói o espírito das ações afirmativas endossadas constitucionalmente. As minorias são falsamente atendidas em ano eleitoral, para serem depois abandonadas pelos partidos políticos, cujos deputados e senadores têm o desplante de usarem indevidamente o poder de legislar recebido do povo para garantir impunidade às suas entidades: flagrante, portanto, o desrespeito ao princípio da moralidade ao legislar em causa própria.
Revela-se que lei e normas constitucionais em prol da igualdade surgem para inglês ver, um faz de conta, pois logo lhes são retirados os efeitos, em afronta aos princípios cardiais de nosso arcabouço constitucional. A PEC n.º 9/2023 atinge a Constituição e toca matéria muito sensível, que só acentuará a desconfiança sobre o Parlamento.
ATROPELADO PELA REALIDADE, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo
Depois de dar confortável vitória ao governo na votação do arcabouço fiscal, Arthur Lira e seu centrão mostraram quem de fato manda no país. Impuseram à administração Lula uma série de derrotas, algumas delas particularmente humilhantes. A pauta ambiental, que a esquerda queria transformar em cartão de visita da gestão, foi a maior vítima.
Daí não decorre que o mandato de Lula esteja irremediavelmente perdido. O centrão está fazendo o que sempre fez, que é criar dificuldades para delas extrair benefícios. Funciona. Só na quarta-feira (31) foi liberado R$ 1,7 bilhão em emendas individuais. E Lira e aliados já cobram mudanças em ministérios. O governo se divide entre tentar transformar o STF numa terceira casa do Legislativo, o que seria fonte de desgaste institucional, e aquiescer às demandas do centrão. O mais provável é que ceda.
Uma parte desse movimento é estrutural. Lula venceu porque uma boa fatia dos eleitores centristas preferiu seu nome ao de Bolsonaro. Mas, no Parlamento, foi a direita, não a esquerda, que avançou. E temos hoje um Legislativo muito mais forte do que era 20 anos atrás. Mesmo assim, penso que o governo está sofrendo mais que o necessário, e parte grande da responsabilidade cabe a Lula.
Ele não demonstra a perspicácia política que já teve no passado. Meio que enamorado de si mesmo, Lula investe no sonho de intermediar a paz na Ucrânia (e com isso ganhar um Nobel) e não se envolve no dia a dia da política congressual, onde sua atuação poderia fazer diferença. Mais, ele não se livra de ideias velhas, que já não funcionam no mundo atual. Passar o pano para a ditadura de Maduro foi não apenas desnecessário como nocivo para a imagem do petista, mesmo para um público internacional de esquerda.
Meu receio é que Lula tenha atingido aquele estado em que se crê um Nelson Mandela, embora esteja mais para Itamar Franco, do que dá prova a volta do carro popular.
AGRO FORTE TEM EFEITO ECONÔMICO E POLÍTICO, por Celso Ming, no jornal O Estado de S. Paulo
O avanço do PIB no primeiro trimestre, de 1,9% sobre o trimestre anterior, foi surpresa geral. Mais surpreendente, ainda, foi o robusto desempenho da agropecuária, de nada menos de 21,6% no período – melhor resultado desde o quarto trimestre de 1996. Este foi alavancado não só pelo forte crescimento da produção física de grãos, como, também, pelo aumento dos preços das commodities agrícolas ao longo do primeiro trimestre.
A indústria teve novo desempenho negativo, de -0,1%, e maior ainda seria esse tombo se o agro não tivesse acionado o segmento da agroindústria. Parte do desempenho positivo dos serviços (especialmente transportes e armazenagem), de 0,6% no período, se deveu também ao fator agro.
Por aí já podemos ter em mente duas consequências importantes. A primeira delas é o aumento da força econômica relativa do interior. Os analistas mantêm seus traseiros afundados em sofás nas grandes cidades e demoram para entender o impacto do agronegócio a partir do interior do País. A outra consequência é política. Quanto melhor e maior for o desempenho do agronegócio, maior tenderá ser sua influência política, tanto nas suas áreas de origem quanto em Brasília. E é por isso que o presidente Lula precisa mudar sua relação com o setor.
A melhora da atividade econômica já vinha sendo em parte notada pelo desemprego mais baixo. Os últimos números do IBGE indicam que apenas 8,5% da força de trabalho do País não vinha encontrando trabalho no trimestre terminado em abril.
Esses novos números das Contas Nacionais dão certa razão ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já vinha projetando um crescimento do PIB para este ano da ordem de 2%. E é para esse nível de grandeza que as novas estimativas dos analistas e consultores deverão apontar. Os últimos levantamentos do Boletim Focus, do Banco Central, mostram projeções de 1,26% para o PIB deste ano.
Fica demonstrado também o quanto vêm sendo exageradas as críticas do governo de que a política restritiva de juros do Banco Central vem travando o crescimento econômico a partir do encarecimento do crédito.
Mas ninguém espere a mesma exuberância mostrada neste primeiro trimestre, por duas razões. Primeira, a economia mundial tomou a direção de uma recessão, que ninguém sabe até onde vai, porque os grandes bancos centrais parecem inseguros sobre como calibrar sua política de juros. E, segunda razão, os preços das commodities já estão deslizando no mercado internacional há um mês e esse movimento deve prejudicar o faturamento (e a renda) dos principais produtos de exportação, especialmente, petróleo e grãos.
FIASCO REGIONAL, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a política externa foi alçada ao patamar de prioridade governamental. O mandatário parece disposto a reviver os tempos em que foi louvado pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
A princípio, nada há de errado com tal objetivo. Trata-se, inclusive, de estabelecer um contraste com o antecessor, Jair Bolsonaro (PL), que comandou um vexatório isolamento internacional do país.
Temas como a defesa de princípios democráticos, a segurança alimentar e a mudança climática se apresentavam como oportunidades naturais para que o líder petista recebesse aplausos no cenário internacional. As chances, porém, não foram bem aproveitadas.
Lula passou a acumular declarações e atos desastrados, que espelham a megalomania vista nos dois primeiros mandatos.
A inicialmente boa ideia de propor mediação no tema da Guerra da Ucrânia tornou-se um vaivém de afirmações desencontradas, ora querendo agradar à Rússia, ora buscando remediar a má repercussão. O desejável bom relacionamento com a China se fez acompanhar de surtos de diatribes antiamericanas pueris.
O mais recente episódio se deu na reunião com 11 países sul-americanos em Brasília, nesta semana. Lula fez da correta abertura à Venezuela uma sessão de apologia à ditadura chavista. Acabou admoestado, entre outros, pelo presidente chileno Gabriel Boric, um esquerdista que não tem compactuado com regimes autoritários.
Não satisfeito, o brasileiro dobrou a aposta ao tentar a reativação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), um fórum criado em 2008 por Lula e aliados ideológicos então no poder.
A entidade subsiste de forma fantasmagórica: 6 dos 12 fundadores a abandonaram. O Brasil chegou a sair sob Bolsonaro, num ato depois revertido por Lula.
A integração econômica não teve incremento sob a Unasul. Desde sua fundação, a China se tornou a maior parceira de quase todos os países da região. Hoje, seguem tendo os EUA como sócios majoritários apenas Colômbia e Equador —e este último acaba de assinar acordo de livre comércio com Pequim.
A ideia de Lula, temperada com exotismos como moeda única, foi rechaçada por atores como Chile, Paraguai e Uruguai. Nem a citação à Unasul chegou ao documento final do encontro, selando um novo fiasco para o petista.