Passada as eleições de dois e 30 de outubro, não totalmente encerradas, diga-se, porque parte dos perdedores que foi ao jogo conhecendo amplamente as regras dele, mas não aceita a derrota e todo dia, inventa uma encrenca nova, aqui em Gaspar, aproveitando-se da distração deste factoide, da própria Copa Mundial de Futebol e no vácuo de lideranças políticas referências, já há político vestido de pré-candidato. É cedo. Entretanto, isto há razões de ser assim.
A primeira é a de recuperar o terreno e votos que o pré-candidato vem perdendo ao longo dos anos. O segundo é o de se posicionar, para ao menos botar preço na sua saída da disputa e ao menos segurar a sua reeleição à vereador que já deu sinais perigosos – pelo desgaste e a concorrência natural da renovação. E a terceira, é a desfazer a imagem de um político fanfarão e gastão com dinheiro dos outros. Ora, para quem quer agora, e só agora vende como um possível administrador, quando nunca administrou nada, não fica bem a pecha que carrega neste assunto onde apenas entende de apresentar as contas para os cofres públicos pagarem.
O fato novo é que todo o dia, nas suas redes sociais, como não é levado a sério na cidade, nos formadores de opinião e na imprensa em si, a qual sempre balança onde está o poder e ele ainda não é o assinador do cheque, o pré-candidato cria notícias onde tenta explicar o que não pode ser explicado. Antes é preciso mudar o comportamento, depois agir provando que realmente mudou e melhor do que isso, que possui ideias, prioridades e soluções para a cidade e os cidadãos eleitores e eleitoras.
Isto, aliás, passa longe da marquetagem arrumada pelo candidato, com gente próxima e que já foi candidata, rejeitada nas urnas com essa mesma lengalenga aqui e longe daqui.
O pré-candidato a procura de apoiadores, inclusive no ambiente empresarial e financeiro, era até no conceito e autenticidade da comunicação, pois se não é mal orientado, e está se livrando antecipadamente das futuras cobranças.
Como representante político do povo que é, ele devia estar nas ruas no enfrentamento à penúria administrativa de resultados para a cidade e o povo do atual governo. Não faz, por conveniência até porque possui boquinhas e lealdade ao que está aí e não pode criticar, melhorar ou até mudar. Pior: o pré-candidato na marquetagem para analfabetos, ignorantes e desinformados, possui duas caras: um com o poder de plantão, e outra para os que reclamam do poder de plantão pedindo ajuda ou providências para os problemas mais banais.
Está mais do que na hora do pré-candidato tirar do pescoço a melancia – nada a ver com as cores externa e interna da fruta, mas o tamanho dela – que colocou para aparecer a qualquer preço e sem sentido prático, mas partir para a mudança de postura que o caso exige se quiser ao menos ser levado a sério para negociar uma saída com espaços aos seus neste ônibus que não lhe deixam entrar e faz anos. Se não se cuidar, vai repetir o que está acontecendo com o vice Marcelo de Souza Brick, Patriota, que está perdendo para a própria esperteza. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Bora trabalhar? Este deveria ser o slogan do presidente ausente Jair Messias Bolsonaro quando perdeu a reeleição com a máquina na mão, dos conservadores, liberais, direita xucra e bolsonaristas. Só há um culpado para essa derrota e não foram as urnas: mas, o próprio Bolsonaro. Primeiro criou o adversário Lula. Depois era uma encrenca inventada todos os dias. Virou um petista às avessas. Intimidou e meteu medo. Criou dúvidas e insegurança no eleitorado. Se tivesse ficado quieto no segundo turno, tinha levado, mas…
O ruim dessa história toda é que perdeu para quem é símbolo de corrupção e já esteve até preso por isso – e nunca foi inocentado; por um partido que representa verdadeiramente o atraso na economia e afundou o Brasil e por conta disso, Dilma Vana Rousseff sofreu o impeachment, mais e bem pior: o PT não se renovou. A máquina de transição – sim porque aquilo que pode ser feito por dezenas já está em centenas – é o espelho de todo esse passado já rejeitado e que usa os pobres, artistas e intelectuais para dar verniz ao errado e privilégios de poucos.
A direita, o conservadorismo e até o bolsonarismo vieram para ficar. Saíram do armário, mas também assustaram naquilo que não cumpriram, naquilo que não se organizaram e naquilo que ficaram refém das doideiras do próprio Bolsonaro, um militar expulso da própria corporação por indisciplina e conspiração. A direita só não voltará ao poder se não fiscalizar de verdade o PT e seus amigos no poder, se ficar aí protestando atazanando a vida dos brasileiros e se insistir em Bolsonaro, filhos, jogadas, notícias falsas e métodos que se desmancham na democracia, como esta do caso das urnas detonado ontem pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Numa eleição há dois ganhadores: os que ganham e os que perdem que recebem a missão mais importante da população, fiscalizar os eleitos. E isto foi dada a direita xucra, aos conservadores, liberais e bolsonaristas. E eles têm se negado a este papel. Então, bora trabalhar, de verdade e não atrapalhar ainda mais o Brasil que caminha para trás. Aliás, traidor, de verdade, é quem perdeu e adere ao vencedor. Ou até quem cruza os braços.
Baseado na tese de Bolsonaro e encampada pelo também ex-presidiário – ou os bolsonaristas seletivamente também esqueceram deste fato? -, Valdemar da Costa Neto, o dono do PL, a Alemanha resolveu pedir a anulação do segundo tempo em que perdeu para o Japão de virada ontem na Copa do Mundo de Futebol. No pedido, ela quer preservado intacto o primeiro tempo quando vencia. E quer que o novo segundo tempo só termine quando ela Alemanha, estiver vencendo o jogo. Interessante!
O que Valdemar, PL, Bolsonaro e seus “çábios” esqueceram, foi de ler o artigo 224 do Código Eleitoral: “Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.”
Voltando a tema ameno e que tem a ver com a estreia do Brasil na Copa do Mundo de Futebol. Duas lembranças: uma da infância e da juventude. A primeira Copa que acompanhei com atenção foi com meu pai dividindo o trabalho com ele na marcenaria. Era a realizada no Chile em 1962. Foi na voz de Jorge Curi, da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, em 25 metros, ondas curtas, com chiados danados. Brasil bi-campeão.
O segundo momento, foi quando de férias Blumenau do emprego em São Paulo, naquele inverno de 1970, assisti na primeira transmissão ao vivo pela televisão, com o pessoal do tênis de mesa. Foi ali no Porta Aberta, atrás da então Igreja Matriz de São Paulo Apóstolo. Depois, olhar as comemorações prolongadas na Rua XV de Novembro ainda de mão dupla. Depois disso, só rotina dura. Por causa dela, em muitos casos, não pude assistir – ou ouvir – até partidas decisivas ou tidas como memoráveis do “escrete canarinho”.
2 comentários em “TEM GENTE PENDURANDO MELANCIA NO PECOÇO PARA SE VESTIR E SER VISTO DE PRÉ-CANDIDADO A PREFEITO DE GASPAR”
A BONITEZA DO SAPO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
O grande teste para o presidente eleito Lula é conseguir pular a própria sombra. Não se trata apenas da sombra deixada pelos escândalos de corrupção do período petista no poder, um dos fatores essenciais para se entender a oposição ao novo/velho governante.
A grande sombra que Lula precisa pular é a da própria geração. É a que, na saída do regime militar, acreditou que a redemocratização e tudo o que se escreveu na Constituição automaticamente levariam à solução de desigualdade, miséria, ignorância, violência e doença.
Essa geração adotou um “contrato social” que fez subir constantemente os gastos sociais nas últimas décadas, não importando qual governo. Ocorre que o País quebrou tentando financiar esse estado de bem-estar social. É este o grande pano de fundo do debate em torno da PEC da Transição.
Ao se tentar entender como uma parcela relevante dessa geração – a atual velha-guarda do PT – orientou sua ação política é fundamental considerar o peso das ideias. Uma das mais centrais na formação dos dirigentes petistas é a que atribui ao Estado o principal papel nas transformações, sobretudo para transferência de renda como instrumento de combate à desigualdade.
A julgar pelo que se ouve da equipe de transição, o cerne desses postulados não se alterou.
Sucessivos pronunciamentos de Lula indicam que essa “visão de mundo” (aumento dos gastos sociais via impostos e endividamento) continua orientando a velha-guarda que o cerca.
Mas ela enfrenta uma questão crucial de difícil solução. Para ficar em apenas um aspecto, o do poder político, ele se alterou substancialmente, dificultando a ação do PT tanto em função do desequilíbrio entre os Poderes (Judiciário e Legislativo avançaram sobre o Executivo) quanto pela deterioração dos partidos políticos e a predominância do patrimonialismo no Legislativo.
A margem de manobra política diminuiu ainda mais por causa da amplitude da oposição extra parlamentar, talvez mais significativa que a parlamentar. Nos dois âmbitos tornou-se imperioso o salto rumo a um amplo
LULA 3 DEU PASSO MAIOR QUE A PERNA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
O “governo de transição” de Luiz Inácio Lula da Silva deu um passo maior que a perna ao propor, sem planejamento, um gasto extra de quase R$ 200 bilhões em 2023. É o que fica evidente a cada dia de negociação ou de confusão da “PEC da Transição”.
Antes de jogar essa PEC no lago de tubarões do Congresso, teria sido prudente contar, ao menos, com um conselho econômico, um par de assessores especializados que fizesse as projeções básicas de quanto dá para gastar sem causar tumulto social e economicamente contraproducente.
Isto é, um conselho para encaixar a PEC nas linhas gerais de um programa fiscal, adequando tanto seu tamanho como indicando qual a diretriz geral para conter o endividamento. Nem precisava ser um ministro da Fazenda (embora ajudasse bastante) e, menos ainda, ter uma nova regra fiscal pronta, inviável agora.
Não aconteceu nada disso, mesmo estando claro que seria preciso “governar” imediatamente após a eleição. Sim, esse imperativo que é uma aberração, de fato, mas é o que temos: risco de mais ruína se não se agir rápido.
Lula não convenceria muita gente no Congresso com esses números e planos. Mas poderia conquistar aliados, em vez de perder rápido tanta gente que se juntou a sua candidatura. Essa era a ideia da frente, da coalizão socioeconômica e, depois, partidária para dar força ao programa de reconstrução do país. Essa frente já perdeu vários dentes.
Além do “conselho econômico” (um grupo executivo de economistas), seria preciso ter articulação política mais arrumada. Vimos agora que isso também não havia.
A PEC causou sururu econômico. As taxas de juros na praça financeira deram um salto feio desde o “Lula Day”, 10 de novembro, e continuaram a subir. Agora, o caldo entornou também da panela política. Houve remanejamentos no conselho e na equipe de negociadores políticos. Estão mudando meio de campo no meio da Copa.
Líderes parlamentares já disseram a Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e a Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, que querem aprovar o mínimo: uma PEC com despesa menor e “licença para gastar” apenas em 2023, como já se escreveu nestas colunas.
Claro que muito ainda é negociável, mas Lula 3 vai ter de entregar mais poder no Congresso e cargos do Executivo a fim de garantir algo perto do que sonhava com a PEC – e sem garantias até de um Bolsa Família fora do teto por quatro anos. Esta, vamos lembrar sempre, é uma discussão que pode se tornar irrelevante, a depender da nova regra de controle de despesa, déficit e dívida.
Quando a gente diz e escreve essas coisas, leva pauladas à maneira de sempre. “Deixa o homem [Lula, agora] trabalhar”. “O governo nem começou”. “Tudo vai ser diferente, sem mercado [ou liberais, ou especuladores etc.] mandando”.
Sim, o governo ainda pode fazer muito. Nós, que aqui estamos, assim esperamos. Pode também dar um tiro no pé ainda antes de começar e ficar mancando até 2026.
A situação muito feia na praça financeira (juros altos, dólar caro etc.) pode melhorar (ou piorar) rápido. Mal deixará cicatriz se houver ao menos diretriz de que a coisa vai funcionar. Isto é, que a dívida não vai subir sem limite.
A dívida subirá sem limite se houver déficits contínuos. Quer dizer: se é preciso pedir cada vez mais emprestado a fim de financiar o gasto, “social” ou outro, e a rolagem dos juros que não são pagos. Sobe ainda mais se os juros pedidos pelos credores ficam mais salgados, o que eleva ainda mais o tamanho relativo da dívida porque a economia não cresce.
Há quem diga que se pode ignorar os credores (ou tabelar juros ou nem pagar a dívida). É dar um tiro de bazuca no meio da testa.