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SUCESSIVOS SINAIS MOSTRAM DE QUE AS ELEIÇÕES DE SEIS OUTUBRO EM NADA VAI MUDAR O RETROCESSO EM QUE GASPAR ESTÁ METIDA. NO FUNDO, A CIDADE TEM DONO E OS GATOS SÃO PARDOS AOS NOSSOS OLHOS

Meu comentário de hoje é curto. Todos leitores e leitoras contumazes deste espaço sabem o quanto estou há semanas reclamando da minha dificuldade pessoal de prover três prometidos artigos por semana – curtos ou longos, como é a maioria. Então vamos lá.

Primeiro devo explicar o que são os tais gatos pardos. Este dito popular diz que “à noite todos os gatos são pardos” diferente do que os nossos olhos conseguem diferenciar facilmente à luz do dia. É uma expressão popular da língua portuguesa que remete à ideia de que todas as coisas são semelhantes ou iguais no escuro. Segundo: isto é, na política. Os políticos dizem uma coisa. Mas, no fundo, quando empoderados, fazem ou praticam outra. Por isso, espaços como este, para os políticos – e os donos da política e que se beneficiam dessa relação, pois retratam o que eles fazem no escuro -, não são bem vindos.

Neste final de semana sem festas populares nas comunidades católicas dos bairros de Gaspar para os pré-candidatos se fartarem, tivemos um festão particular: o aniversário do que lida há anos com a lucrativa indústria dos mortos. Estavam lá o prefeito, vice, ex-prefeitos, candidatos a prefeitos de diversos partidos e gente poderosa. Carrões. Helicópteros. Tudo misturadinho. É mais fácil registrar quem não estava, até porque não foi convidada como os pré-candidatos Oberdan Barni, do Republicanos e Ednei de Souza, do Novo.

A festa é particular. Não tenho que me meter nela. E o anfitrião convida quem ele quer, mas principalmente, com que tem afinidade, até porque é um dos poderosos da cidade. Esta é a regra. E nada contra ela. Mas, que é reveladora, ah, isto é.

Qual o ponto de inflexão pública, se o festão era particular?

Este convescote reuniu gente que poderia por exemplo, resolver um problema que deixa indignado todos os gasparenses que possuem um amigo ou parente morto e que por exemplo, são obrigados, por falta de outra opção melhor, velá-lo na capela do Cemitério Santa Terezinha, um ambiente administrado pela prefeitura que tem uma estrutura cara para cuidar disso. 

É a foto que abre este comentário. É a foto que está aí ao lado. Parece uma catatumba. Um espaço de terror, ainda mais a noite. Mau cheiro, tudo caindo, portas sem trinco. O retrato de uma administração municipal que está aí mostrando feitos e pedindo votos. Tantas taxas para manter o cemitério, tanta gente empregada lá, tanta burocracia, mas resultado para a comunidade que né bom, nada.

Retomo.

Estavam no concorrido convescote entre outros, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, o vice-prefeito e candidato a suceder a Kleber, Marcelo de Souza Brick, PP, o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT e vestido de candidato ao quarto mandato, além do delegado Paulo Norberto Koerich, candidato pelo PL de Bolsonaro. Ninguém, com este perfil de administrador, usuário do espaço mortuário, nem candidato a prefeito, ousou tocar na lástima em que está aquele local de velório – como mostram as fotos – e que custaria uma merreca para dar uma garibada nele em respeito nem aos mortos e nem aos vivos, mas a decência de uma administração pública.

Todos misturados e os problemas comuns da cidade, os simples e óbvios como este, longe das conversas e acertos políticos ou empresariais de quem tem o ganha pão com ele. Ganhe um, ou ganhe outro a prefeito, como já escrevi e venho alertando há tempos, todos estarão na mesma balaia. Os empresários que hoje dizem estar por detrás da candidatura do delegado Paulo, reclamando e desgostosos com o rumo que tomou a cidade, apenas choram de barriga cheia, e ao mesmo tempo, enxergam uma sucessão difícil dentro do governo de plantão. Vale repetir: são os mesmos que já estiveram com Zuchi, Kleber e Marcelo no poder de plantão. Então o que realmente vai mudar a partir de seis de outubro se tudo ficar entre os compadres de sempre? O nome de um deles.

Kleber melhorou para os negócios e piorou para o povão neste ambiente, e por conta disso, sofre desgastes há dois anos. E por quê? Além de por oito anos deixar os dois únicos cemitérios municipais ficarem lotados para facilitar a implantação da indústria da cremação – que é o futuro -, para apressar essa mudança, inventou – da noite para o dia, com ajuda da Câmara – taxas exorbitantes nos cemitérios para espantar a clientela e ferrar os parentes dos que estão enterrados nesses campos santos, obrigados à renovação compulsória e cara. E por que ao menos não arruma a capela mortuária? Esperando o átrio da cremação. Quando isso virá? Ninguém sabe. Mas, o terreno já foi adquirido no morro da Rua Nova Trento, o mesmo que se despedaçou na catastrofe ambiental de 2008, intermediado por imobiliária de fama.

Um candidato que se comprometa em criar um novo cemitério municipal ganharia votos e simpatia, pois desafiaria os poderosos e estaria mais próximo dos mais pobres. Eles, ainda, não podem ter na cremação uma solução barata para o último adeus ao ente querido e para o qual não se prepararam com planos que suavizam as despesas do velório, enterro ou cremação. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

As visitas da semana passada, respectivamente na quarta e quinta-feira que a subsecretária da Educação, Patrícia Luerdes, PL, e Helena Maria Zimmermann, da Assistência Social, PL, fizeram a Gaspar, a tiracolo e paparicos públicos ao prefeito Kleber Wan Dall, MDB, e ao vice fez a Gaspar, Marcelo de Souza, PP, este pré-candidato e contra o candidato do PL, ungido pelo governador Jorginho Melo, mostram, claramente quatro coisas. E isto remoeu o pessoal do PL que viu tudo aqui neste espaço sendo exposto e desmascarado.

Primeiro: falta sintonia e articulação política e de campanha no PL de Gaspar com o PL estadual. Segundo: falta de sintonia política e comunicação com suas bases municipais dentro do próprio governo do PL estadual. Terceiro: provou-se com os dois atos – e que não foram os únicos – a irrelevância, até aqui, da candidatura do PL gasparense para o PL catarinense e o governador Jorginho Melo, padrinho da candidatura abençoada no Casa D’Agronômica. Quarto: a esperteza do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, para se aproveitar, tripudiar e desmoralizar a candidatura do PL em Gaspar. O que isso mostra, claramente? A desunião, desorganização e falta de ocupação de espaços do PL na cidade. Simples assim.

Se o PL de Florianópolis produzem sucessivas falhas, como apontei acima, ou se é armação de fogo amigo como se argumenta por aqui, apontando o dedo para o deputado Ivan Naatz, PL, que está contrariado com as escolhas do governador e tenta se vingar contra um ex-amigo dele, isto não invalida que o diretório do PL e a tropa de choque bolsonarista de Gaspar tenham canais confiáveis de antecipação e reação estridentes, para ao menos para mandar avisos definitivos e preventivos a Florianópolis, cercando o seu cercado dessas investidas, espertezas e vinganças de fogo amigo.

Agora, os do PL de Gaspar, tardiamente, estão choramingando pelos cantos e tentando tapar com areia fina o telhado furado. Estão usando o meu artigo de sexta-feira KLEBER EM CAMPANHA E SEM OBRAS FÍSICAS RELEVANTES, ESTÁ “MOSTRANDO” O QUE NINGUÉM PODE VER. É ELE PRÓPRIO QUEM DIZ ISSO EM VÍDEO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS para dizer o quanto foram enganados, expostos e enfraquecidos, naquilo que já não ia bem. Estão reagindo, pois foi o que restou. Deveria estar agindo muito antes destes avisos desconcertantes. Faltam liderança, união e principalmente, experiência. Também simples assim. Chorem.

A campanha nem começou e já há amostras grau da sujeira do vale tudo. Circula nas redes sociais, um vídeo pesado, envolvendo e desqualificando politicamente o pré-candidato do PL de Gaspar, Paulo Norberto Koerich. É de se perguntar se o delegado, como fama de investigador, já foi atrás da origem dele para cortar o mal pela raiz, ou vai ser engolido pelos profissionais da sacanagem e do poder a qualquer custo?

Manchete. Navegantes terá escola em tempo integral no bairro São Paulo; já em Gaspar… 

Crise na Fesporte, com a falta de árbitros e decepção de centenas de participantes que não puderam competir oficialmente no Parajasc, em Blumenau. Prevaleceu as acusações do presidente da entidade, o coronel reformado do Exército Freibergue Rubem do Nascimento, apadrinhado da deputada bolsonarista Daniela Cristina Reinert, PL, de que houve uma tentativa de boicote contra a sua gestão.

No rolo entraram os deputados Fernando Kreling, MDB, Joinville e ligado no passado a Fesporte, bem como Napoleão Bernardes, PASD, e Ivan Naatz, PL, da cidade sede do evento, Blumenau. No fundo, petistas e bolsonaristas se igualam a incapacidade de produzir resultados além das guerrinhas nas redes sociais. O Brasil está se cansando de ambos. Não é à toa, que o governador paulista Tarcísio Gomes Freitas, Republicanos, vai se sobressaindo.

A separação matrimonial do casal está complicando a vida de um político local dentro do seu reduto religioso em Gaspar. O primeiro elo da jura, a família ele perdeu da pregação de araque. Agora, está perdendo as bençãos oficiais da igreja. E há uma disputa surda pelo apoio das lideranças neopetencostal.

A vida dos políticos como ela é. O MDB de Lages, lançou o ex deputado estadual e ex-prefeito Elizeu Mattos como pré-candidato. Em 2022 o STJ determinou a anulação da condenação de Elizeu, devolvendo os direitos políticos, em processo iniciado em 2014. Em 2016 ele renunciou.

Alô. A Polícia Federal está mapeando os candidatos a vereador, prefeito e vice que estão tendo apoio ou representando as dezenas de facções criminosas. Normal. O que é assustador? A prévia diz que são centenas os já mapeados, segundo revelou Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo.

Registro I. Se depender da secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda de Gaspar, todos estão fritos. As iniciativas no ambiente do turismo sustentável são todas elas privadas para salvar negócios e rotas temáticas. A melhor desenvolvida, depois das cascatas, a qual sobrevive de temporada, é a Villa D’Itália. Ela dura o ano inteiro e inspira outras, como a do Santo Anjo, de Massaranduba.

Registro II. O líder do governo na Câmara, Francisco Solano Anhaia, MDB, diante da Bancada do Amém, onde estão dez (MDB, PP e PSD) dos 13 vereadores, a cada sessão, esforça-se para listar as obras dos governos de Kleber Edson Wan Dall, MDB com Luiz Carlos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, ambos do PP. Primeiro: Anhaia não é o melhor veículo e todos sabem disso. Segundo: ele fala para uma plateia de convertidos e obrigados ao silêncio. Terceiro: nada é comparado com os Planos de Governo que registrou na Justiça eleitoral em 2016 e 2020. Porque se comparar…

Registro III. O ex-prefeito de três mandatos, Pedro Celso Zuchi, PT, fez um filmete para mostrar as suas realizações. Muitas delas, também não param de pé. E vou pinçar uma: a recuperação da velha Ponte Hercílio Deecke. Isto ocorreu, a contragosto dele e do PT, depois que o Ministério Público o denunciou e a juiza que atuou por aqui por onze anos, Ana Paula Amaro da Silveira, sentenciou. Zuchi recorreu e perdeu e fez a obra a passo de tartaruga. Por causa da sentença, o PT e Zuchi perseguiram a juíza como poucos. É história.

É de se estranhar. Tem vereador que está pedindo votos para continuar o mandato na Câmara de vereador de Gaspar. Mas, quando chega o dia da sessão, que é uma vez por semana, e que dura hora em média, vive, reiteradamente, pedindo para sair cedo. Tem outros compromissos e agendas, alega. Não seria o caso de dar a vez a outros se não consegue mais aguentar as sessões?

Carlos Eduardo Bornhausen, Novo, que é filho do combativo ex-vereador Amauri Bornhausen, PDT, ex-servidor da secretaria de Obras e Serviços Urbanos, falecido no atual mandato, já decidiu que vai as urnas com o nome de Edu do Amauri. É para que não fique nenhuma dúvida que ele não tem nada a ver no estilo e proposta de Carlos Bornhausen, MDB, funcionário de carreira da secretaria de Planejamento Territorial. Edu diz quer continuar o legado do pai. Muda, Gaspar!

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21 comentários em “SUCESSIVOS SINAIS MOSTRAM DE QUE AS ELEIÇÕES DE SEIS OUTUBRO EM NADA VAI MUDAR O RETROCESSO EM QUE GASPAR ESTÁ METIDA. NO FUNDO, A CIDADE TEM DONO E OS GATOS SÃO PARDOS AOS NOSSOS OLHOS”

  1. HADDAD E LULA SÃO LIBERAIS? por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Era só o que faltava: o ministro Fernando Haddad tornar-se um liberal e carregar Lula nessa virada. Pode parecer provocação, mas não é. Quer dizer, é um pouco. Mas faz sentido.

    Tem a ver com os tais gastos tributários — dinheiro que o governo deixa de arrecadar ao isentar ou reduzir impostos devidos por empresas e cidadãos. Neste ano, chegam a R$ 524 bilhões, ou 4,5% do PIB — valor que surpreendeu o presidente, como ele mesmo confessou. Obviamente, Lula não se inteirou nem dos pontos principais do Orçamento que ele mesmo assinou. Pois os bilhões estão lá relacionados e comentados pela Receita Federal, que vive procurando maneiras de conter esses gastos.

    Tais gastos vêm sendo criados desde o governo Lula 1. Isso mesmo, desde 2003 e seguindo pelas gestões petistas. Para simplificar: no primeiro ano do primeiro governo petista, os incentivos tributários — incentivo para quem recebe, gasto para o governo — custavam em torno de R$ 27 bilhões, menos de 2% do PIB do período. No final do primeiro mandato de Dilma, 2014, os gastos tributários alcançavam R$ 277 bilhões, já perto de 5% do PIB daquele ano.

    É de estranhar que Lula não saiba disso. Não é de estranhar que os incentivos tenham crescido tanto — mais de 3 pontos percentuais do PIB —nos três primeiros governos petistas. O nacional-desenvolvimentismo do PT recomenda conceder vantagens a empresas selecionadas —isenções tributárias, proteção contra importações, créditos subsidiados, tudo com dinheiro público. Espera-se que essas companhias cresçam e gerem empregos. Lembram a política dos campeões nacionais?

    Os liberais, clássicos e ortodoxos — neoliberais também, se quiserem —, entendem que, como regra, não se devem conceder tais benefícios. Acham que distorcem os mercados, dão vantagens indevidas a empresas amigas do governo (fonte de corrupção), acabam com a livre concorrência e, no final, beneficiam apenas as empresas e seus donos (os ricos), sem gerar desenvolvimento para toda a população.

    Não foi isso mesmo que Lula andou dizendo nesta semana?

    — A gente discutindo corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões aqui e, de repente, você descobre que tem R$ 524 bilhões de benefício fiscal para os ricos neste país, como é possível?

    Sabem quem queria cortar incentivos? O liberal Paulo Guedes.

    Não se pode dizer que os governos petistas sejam responsáveis por esse caminhão de gastos tributários. O fisiologismo de direita e de esquerda adora usar dinheiro público para beneficiar negócios amigos. Forma-se, assim, uma aliança. A ideologia nacional-desenvolvimentista dá a base teórica, o fisiologismo se esbalda. Isso explica por que o petismo, o Centrão e certa direita se acomodam alegremente no governo Lula. Por razões diversas, querem as mesmas coisas — usar dinheiro público em benefício de seus projetos políticos e pessoais.

    Vai daí a dificuldade de cortar os gastos tributários. Quem passará a tesoura nos R$ 130 bilhões de isenções do Simples Nacional, regime especial para pequenas e médias empresas? É o maior pedaço do gasto tributário. Tem também a Zona Franca de Manaus, cujas empresas receberão neste ano R$ 32 bilhões em isenções. Há décadas nenhum governo consegue mexer nisso.

    E a indústria automobilística, incentivada com dinheiro público desde os anos 1960, que continua reclamando mais proteção? Aliás, acaba de levar mais um programa de incentivo, o Mover, articulado pelo vice-presidente Alckmin. As empresas que investirem em veículos verdes ou híbridos levarão incentivos fiscais de R$ 19,3 bilhões, deste ano até 2029.

    Boa parte da política ambiental se baseia na concessão de vantagens especiais. Nesta semana, o Senado aprovou um Projeto de Lei que cria incentivos tributários para os produtores de hidrogênio verde. A renúncia fiscal do governo federal alcançará R$ 18,3 bilhões entre 2028 e 2032.

    Tudo considerado, esse piscar de Haddad e Lula para uma tese liberal é apenas um modo de fugir do problema real: não conseguem cortar os gastos gerais.

  2. À DERIVA, por Eduardo Affonso, no jornal O Globo

    ‘Eu desafiei os nossos cientistas’:

    — Vamos criar vergonha. Vai ter uma conferência nacional em julho, e vocês tratem de me apresentar um produto de inteligência artificial em língua portuguesa, criado pelos brasileiros. Porque a gente não vai permitir que nos roubem a criação da inteligência artificial, assim como foi roubada a criação do avião. (11/6/24)

    — Se o Zelensky diz que não tem conversa com o Putin, e o Putin diz que não tem conversa com o Zelensky, ou seja, é porque eles estão gostando da guerra, porque senão já tinham sentado para conversar e tentar encontrar uma solução pacífica. (13/6/24)

    — A concentração de renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais. Certamente tentando encontrar um planeta melhor que a Terra, para não ficar no meio dos trabalhadores que são responsáveis pela riqueza deles. (13/6/24)

    — Não vou permitir que este país volte a ser governado por um fascista. (18/6/24)

    — Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está. (…) A quem esse rapaz é submetido? (18/6/24)

    — Não tem contradição. Temos Guiana, Suriname explorando petróleo, próximo de nós. (…) O que não dá é pra gente dizer, a priori, que vai abrir mão de explorar uma riqueza que, se for verdade (sic) as previsões, é uma riqueza muito grande para o Brasil. É contraditório? É, porque estamos apostando na transição energética. Olha, mas enquanto a transição energética não resolve nosso problema, o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo. (18/6/24)

    — Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina? (18/6/24)

    — Teve um terremoto nesse país, ou teve uma praga de gafanhoto, que veio para tentar destruir aquilo que era a realização de um sonho do povo brasileiro. Tudo isso veio abaixo, mais uma vez, com a agourância (sic) da elite. Com o falso argumento de combater a corrupção, a Operação Lava-Jato mirava, na verdade, o desmonte e a privatização da Petrobras. (…) O que estava por trás da Lava-Jato era entregar patrimônio a petrolíferas estrangeiras. (19/6/24)

    — Quando eu vejo o que vocês fazem aqui na Petrobras, a inteligência humana, fico me imaginando um país como o Brasil talvez não precise de inteligência artificial porque a nossa humana é muito competente, e ela pode dar conta do recado. (19/6/24)

    — Vocês estão lembrados, quando nós começamos a fazer a Copa do Mundo, a quantidade de denúncias de corrupção nos estádios na Copa do Mundo? E muita gente inventou aí, da direita mesmo, sabe? Tudo tem que ser “padrão Fifa”. Porque o Brasil tem que dar saúde “padrão Fifa”, o Brasil tem que dar não sei o que lá “padrão Fifa”, na tentativa de desmoralizar a Copa do Mundo. E Deus é justo, nós tomamos de 7 a 1 naquela Copa do Mundo, da Alemanha, sabe? Já que é pra castigar, vamos castigar. (19/6/24)

    — Eu sou da turma em que artista, cinema e novela não é para ensinar putaria. É para ensinar cultura, contar história, contar narrativas, e não para dizer que nós queremos ensinar às crianças coisas erradas. Nós só queremos fazer aquilo que se chama arte. Quem não quiser entender o que é arte, dane-se. (19/6/24)

    “Não devias ter ficado velho antes de ficar sábio.” (William Shakespeare. Rei Lear, ato 1, cena 5.)

  3. ÂNIMNO CENSÓRIO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Na terça-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, atendendo a um pedido dos advogados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ordenou a remoção de reportagens da Folha de S.Paulo, Mídia Ninja, Terra e Brasil de Fato em que sua ex-mulher, Jullyene Lins, o acusava de ameaças e agressão. No dia seguinte, Moraes recuou. Menos mal. Mas o ânimo censório da Corte e a naturalidade com que ela está normalizando o recurso à censura são alarmantes.

    O caso ecoa a censura imposta por Moraes em 2019 a uma reportagem da revista Crusoé que revelava o codinome do ministro Dias Toffoli nos arquivos da Odebrecht. A ordem foi expedida no âmbito de inquéritos abertos pela Corte para apurar fake news e a atuação de milícias digitais. Na ocasião, Moraes também recuou, mas esses inquéritos intermináveis, elásticos e secretos já correm há cinco anos e a sociedade ainda não sabe quem supostamente ameaça as instituições, como são articuladas essas ameaças nem os seus propósitos. Mas eles têm servido de pretexto para toda sorte de intimidação e arbitrariedade.

    Foi no âmbito desses inquéritos que Moraes determinou a censura de redes sociais que criticaram o projeto de lei das fake news, bloqueou perfis de influenciadores ou indiciou o dono do X, Elon Musk, por se queixar de suas decisões. As fundamentações, quando vêm à público, são sempre genéricas e opacas.

    No caso das reportagens com Jullyene Lins, não foi diferente. Lins acusou o ex-marido de agressão em 2006 e depois, no processo, recuou das acusações. Lira foi absolvido em 2015. Em entrevista à Folha em 2021, ela alega ter sido coagida a recuar por meio de novas ameaças e agressões. Os textos censurados reportavam esses depoimentos, os fatos relevantes e as declarações do acusado.

    Se há calúnia por parte de Jullyene Lins, que seja apurada e ela, julgada e punida. Mas o pedido da defesa alegou que as reportagens fariam parte de um “movimento orgânico, encadeado, de divulgação de notícia mentirosa”, com o “claríssimo propósito de desestabilizar não apenas a figura política” de Lira, como “atingir o exercício da elevada função da Presidência da Câmara dos Deputados”.

    Foi a senha para ativar os apetites salvacionistas de Moraes: “Torna-se necessária, adequada e urgente a interrupção da propagação dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática mediante bloqueio de contas em redes sociais”, disse no despacho. Por alguma curiosa hermenêutica, os entreveros conjugais de Lira tornaram-se um risco ao Estado Democrático de Direito. Só faltou acusar Jullyene Lins e as mídias de “extremistas” ou “golpistas”.

    Na raiz de mais essa arbitrariedade está a confusão espúria entre as autoridades e as instituições que representam. Pessoas que supostamente ofendem juízes ou políticos são agora investigadas por “ataques às instituições” ou até por crimes que nem sequer existem como “desinformação” ou “discursos de ódio”.

    Para piorar, a censura não só era descabida, como o STF não tinha competência para determiná-la. Deputados têm foro privilegiado se forem autores de crimes, não vítimas. Não bastasse isso, a demanda apresentada nem sequer era criminal, e sim cível. Mas com essas táticas Lira já logrou a censura de 15 conteúdos jornalísticos sobre este tema.

    Neste último caso, Moraes recuou, mas as marcas da arbitrariedade ficaram. Mulheres devem pensar mais de uma vez antes de denunciar agressões de autoridades e poderosos, assim como a imprensa antes de reportá-las.

    Mesmo a censura de conteúdos caluniosos é excepcionalíssima e exige certeza além de qualquer dúvida razoável. Ao receber um pedido desse gênero, o ímpeto inicial deveria ser preservar a liberdade de expressão, mas os ânimos no STF vão na direção oposta. Como diz o bordão, para quem tem um martelo, tudo é prego. Para quem se autoatribui uma jurisdição universal de defesa da democracia e da verdade, qualquer coisa pode virar “subversão da ordem” ou “quebra da normalidade institucional”, até briga de marido e mulher.

  4. ONDE ESTÁ O IMPOSTO QUE LULA QUER TTYIRAR DOS RICOS PARA DAR A POBRES, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Ministros disseram que Luiz Inácio Lula da Silva ficou “mal impressionado” ao saber na segunda-feira do tanto de imposto que se deixa de pagar no país, os de repente famosos “gastos tributários”, isenções de tributos para cidadãos, empresas e outras instituições.

    Na previsão da Receita Federal, o valor do gasto tributário neste ano deve ser de R$ 524 bilhões. É o equivalente a mais de um quinto da arrecadação bruta do governo federal e a 4,59% do PIB.

    É brutal. Durante a campanha e na elaboração do programa de governo, em 2022, ninguém havia relembrado a Lula o tamanho do problema? Até aqui, quando discutia imposto com ministros, não se tratava do assunto?

    Nesta semana, o presidente disse que há “muita isenção, muita desoneração, muito benefício fiscal”. Contou que discute corte de R$ 15 bilhões com ministros “e daí descobre” que tem R$ 640 bilhões em benefícios para os ricos” (esse valor inclui outros subsídios além dos tributários).

    Reclamou mais: “…desoneração de folha de pagamento, isenção fiscal, ou seja, são os ricos que se apoderam de uma parte do Orçamento do país. E eles se queixam daquilo que você está gastando com o povo pobre”.

    Lula tem razão. Mas onde estava quando governo e Congresso, com a colaboração intersticial da Justiça, aumentaram o gasto tributário de 1,7% do PIB em 2003, início de Lula 1, para 2,3% do PIB em 2007 (início de Lula 2), para 3,4% do PIB em 2010 (fim de Lula 2)? Para 4,8% em 2014, final de Dilma 1, afilhada de Lula?

    Vale relembrar a composição dessa renúncia de impostos.

    Do total, 24% são isenções do Simples (R$ 125 bilhões), sistema criado para facilitar a vida de pequenas e médias empresas. Atualmente, serve também para aliviar o imposto de profissionais liberais ricos e de muito pejotizado. O gasto tributário cresceu 2,3 pontos do PIB de 2007 a 2024. Desse aumento, 0,6 ponto foi para o Simples.

    O segundo maior gasto vai para “Agricultura e Agroindústria”, 11,3% do total. São R$ 59 bilhões, dos quais R$ 39 bilhões vão para a desoneração da cesta básica (que em parte acaba no bolso de ricos) e R$ 6,3 bilhões vão para defensivos agrícolas.

    Juntando os gastos tributários devidos a isenções e deduções do IR da Pessoa Física, temos mais de R$ 84 bilhões, 16% do total. Disso, mais de R$ 33 bilhões subsidiam os gastos com escola e saúde privadas. Quase R$ 39 bilhões vão para aposentados com mais de 65 anos, com doença grave etc.

    O mais vai para indenização por demissão de trabalhador, seguro por morte ou invalidez. Nem tudo é para “rico”, embora os mais pobres não entrem aí.

    Lula vai mexer nisso? Não vai mexer com estados e empresas da Zona Franca de Manaus, com R$ 39 bilhões de isenção e uma máquina de produzir ineficiência econômica, e com os R$ 42 bilhões para filantrópicas.

    A alta do valor das isenções de Simples, IR, agricultura e agroindústria e desenvolvimento regional equivale a dois terços do aumento total do gasto tributário de 2007 a 2024.

    O grande aumento ocorreu DURANTE os anos petistas, mas não necessariamente POR CAUSA de Lula e Dilma, embora a ex-presidente fosse entusiasta desse tipo de ideia e Lula a estimule até hoje (na indústria, por exemplo).

    Como se disse mais acima, isso resulta de um acordão geral dos Poderes e lobbies. Além disso, o aumento do peso relativo de um setor beneficiado pode engordar essa conta.

    Desde que ficou evidente que as contas do governo federal tinham ido à breca, em 2015, fala-se de mexer em gasto tributário.

    É óbvio que tem muita carne para cortar, ainda que a conta da Receita possa estar exagerada. Mas é difícil fazer tal coisa sem plano e acordo maiores, expondo injustiças e ineficiências revoltantes. Lula 3 não tinha um plano.

  5. A FÁBULA DE LULA SOBRE PETROBRÁS E COMPON, po Vera Magalhães, no jornal O Globo

    m dos maiores malefícios da polarização ao debate público, sobretudo em economia, é promover a infantilização dos argumentos.

    Lula sempre curtiu uma metáfora. Quanto mais literal e de fácil compreensão, melhor, casamento e futebol à frente como temas preferidos. No terceiro mandato, no entanto, mudou a retórica para a construção de fábulas sobre o papel dos agentes públicos e econômicos e, pior, das instituições numa luta entre o bem (justiça social) e o mal (cobrança por responsabilidade fiscal).

    Nada mais deletério para a compreensão dos problemas, bem mais complexos que essa simplificação eterna, e para que ele próprio consiga expandir seu círculo de apoios e atrair os tão propugnados investimentos para o Brasil.

    Nesta semana, o Copom e a Petrobras são as organizações transformadas em castelos de contos de fadas no discurso do presidente.

    O primeiro seria habitado por um vilão insensível, tão ardiloso que é capaz de hipnotizar até os aliados do herói para fazer o mal e castigar os mais pobres. A segunda seria uma espécie de fortaleza resgatada dos visigodos, que tentaram estigmatizá-la como antro de corrupção, e devolvida à população, que agora terá acesso ao bem-estar proporcionado por investimentos opulentos.

    Na vida real em que juros são definidos por critérios técnicos, e a era do “petróleo é nosso” já ficou para trás, as coisas são completamente diferentes, e esse blá-blá-blá ideológico não melhora em nada a crença dos investidores na capacidade do Brasil de ser um destino confiável, atraente e com potencial de longo prazo para o dinheiro disponível. O que, aí sim, poderia reverter em empregos, renda e crescimento sustentável.

    De gestores de grandes escritórios de advocacia à frente de negócios de grande monta a economistas-chefes de grandes bancos, não são poucos os agentes econômicos que apontam o esgotamento do modelo de gastar como se não houvesse amanhã para gerar crescimento, emprego e renda. E que dizem que o Brasil vai saindo do radar do mundo. Travestir esses tomadores de decisão em bruxas e assombrações também não é razoável.

    Até porque, sem projeto, qualquer quantidade de recurso público que se despeje na praça só gerará oportunidades para os que vivem de desviá-lo — uma vez que não é só porque Lula mareja os olhos que o petrolão deixará de ter existido. Passe de mágica, só nas histórias da carochinha.

    Mecanismos como autonomia do Banco Central e a Lei das Estatais são salvaguardas para as instituições, que as blindam de ingerências políticas do dirigente político de turno.

    Quem saudou o BC por não promover a queda de juros nas eleições de 2022 e, assim, beneficiar Jair Bolsonaro — que promovia uma farra de medidas econômicas irresponsáveis para tentar se reeleger — agora vocifera contra a independência.

    Muitos dos que denunciaram a sanha de Bolsonaro por aparelhar a Petrobras e segurar artificialmente os preços dos combustíveis agora saúdam a interferência indisfarçada que Lula, Rui Costa e Alexandre Silveira promovem na empresa, simbolizada pela solenidade de posse em que Magda Chambriard foi mera coadjuvante.

    Sim, Lula foi eleito com um programa que já deixava clara a defesa de um Estado mais presente na economia. Fim das privatizações, aumento de benefícios sociais e uma estrutura em que Petrobras e BNDES seriam auxiliares no investimento público estavam dados.

    Mas o presidente também se comprometeu com uma gestão fiscal responsável ao nomear Fernando Haddad para a Fazenda, e o ministro entregou um arcabouço com déficits regressivos até que se obtivesse um superávit — horizonte agora tornado mais longo.

    Cobrar o cumprimento dessa segunda parte é premissa para que a primeira não descambe para o que foi o governo Dilma Rousseff. Lula sabe disso, porque seguiu essa receita nos mandatos anteriores. Encontrar personagens e entidades para demonizar quando não se faz o próprio trabalho é tratar o público como criança.

  6. BC AUTÔNOMO PROTEGE LULA DE SI MESMO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    A decisão tomada pelo Banco Central de interromper o ciclo de corte da taxa básica de juros não é, obviamente, motivo de celebração.

    A Selic fica mantida no patamar muito elevado de 10,5% ao ano, o que dificultará o crédito para consumo e investimento, ao fim e ao cabo limitando as possibilidades imediatas de expansão da atividade econômica e da renda.

    O mais importante na medida do BC, porém, foi o cuidado de preservar a credibilidade da política de controle da inflação —mais uma vez alvo de ataques levianos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que semeia turbulências nefastas em seu próprio governo.

    Como faz desde o início de seu terceiro mandato, Lula usa o presidente do órgão autônomo, Roberto Campos Neto, como bode expiatório para os erros gerenciais e as imposições da realidade que impedem a consumação das promessas róseas de campanha eleitoral.

    A estratégia se torna mais arriscada e sem sentido à medida que se aproxima o fim da gestão Campos Neto, dono de apenas 1 dos 9 votos do Comitê de Política Monetária. A partir do próximo ano, indicados pela administração petista serão maioria no colegiado.

    A necessidade de interromper a queda de juros era indicada pelo BC havia semanas. Em parte, porque as taxas permanecerão mais altas nos EUA, principal centro financeiro do mundo; em parte, porque Lula decidiu afrouxar as metas para o reequilíbrio do Orçamento fixadas menos de um ano antes.

    Foi fundamental, nesse contexto, a decisão unânime do Copom na quarta-feira (20) —sem repetir a constrangedora divisão da reunião de maio, quando os quatro diretores indicados por Lula votaram por uma redução maior da Selic.

    Todos os dirigentes, desta vez, endossaram um diagnóstico fundado em técnica e experiência, não em bravatas e voluntarismo. Importa levar a inflação, em tempo hábil, ao nível civilizado de 3% ao ano.

    Atitude diferente seria interpretada como capitulação às pressões da cúpula petista, ainda adepta da tese de que a leniência com a inflação pode favorecer o crescimento econômico —fantasia que, levada a cabo sob a correligionária Dilma Rousseff, terminou em recessão brutal e escalada de preços.

    Por ora ao menos, o BC autônomo protege Lula de si mesmo, e o país do mandonismo do presidente da República. A depender dele, a política monetária estaria tão desacreditada quanto a fiscal. Em vez de objetivos críveis e critérios transparentes, haveria um vaivém de promessas e recuos ao sabor das conveniências de ocasião.

    Os riscos estão longe de dissipados, e a troca de comando no BC continuará motivo de apreensão. Um governo que nem chegou à metade se arrisca inutilmente a perder as rédeas da economia.

  7. AOS LEITORES E LEITORAS. NÃO TEMOS FESTA, MAS TEMOS RAINHA E PRINCESAS. UM RETRATO DE UM GOVERNO ONDE O REI ESTÁ NÚ

    Estou com dificuldades para produzir artigos e o TRAPICHE por no mínimo três vezes por semana, como lhes acostumei

    Regularização? Só a partir de oito de julho

    Ainda esta semana vou produzir mais um textão com alguns textículos.

    Vou tentar não escrever a Gaspar como ela é. Ontem por exemplo escolheram uma rainha de uma festa que não existe por exclusiva falta de capacidade do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, presumindo outro prefeito eleito neste ano em outubro, a fará e que ela existirá no ano que vem

    A Sucupira do Vale, que é melhor na ficção que a Dias Gomes, acaba de escolher, com pompas e a imprensa amiga e obrigada, aplaudindo e divulgado, a a rainha e princesas da Expo Gaspar 2025.

    Só para lembrar: a Expo Gaspar não foi realizada em 2023, não está sendo realizada em 2024. “Muda, Gaspar”

  8. OS JUROS SOU EU, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    No discurso na posse da nova presidente da Petrobras e na entrevista que deu para emparedar o Banco Central o presidente Lula se apresentou como uma espécie de Luís XIV (aquele rei francês de “o Estado sou eu”) da economia brasileira. Depois da decisão unânime do BC em manter inalterada a taxa Selic, Lula ficou sendo “os juros sou eu”.

    O monarca francês de fato mandava, mas Lula ainda não encontrou a rota para superar dois conhecidos problemas que o tornam impotente. Um deles é a alteração da relação de forças entre Legislativo e Executivo. O outro é o peso da questão das contas públicas.

    Ambos estão intimamente ligados. O chefe do Executivo no Brasil perdeu parte relevante da capacidade de alocar recursos via Orçamento. Tornado ainda mais engessado por medidas que o atual governo adotou para lidar com a questão das contas públicas.

    É bastante óbvio que o Congresso e o presidente têm visões distintas sobre como equilibrar as contas. Não importa se os motivos são republicanos, ou apenas visam à manutenção de interesses bem organizados, o Congresso está longe de assumir o combate às distorções tributárias que sucessivos governos (e os parlamentares) instituíram de mãos dadas.

    Nem está disposto a apoiar o governo no esforço de promover uma política fiscal apoiada sobretudo no aumento da receita. A contrário, impôs ao Executivo uma acachapante derrota na questão de compensação de desonerações.

    A percepção de milhares de agentes econômicos, que se reflete no preço de ativos (como o dólar), é a de que os problemas de fundo não estão sendo atacados pelo sistema político em geral, e pelo presidente da República em particular. Ele demonstra um voluntarismo no trato de temas cruciais (como as contas públicas) típico de um Rei Sol, mas sem força para resolvêlos e, como demonstram Congresso e Banco Central, a necessária autoridade política.

    Mas o que acontecerá quando ele tiver nomeado o próximo presidente do BC e a maioria dos diretores que tomam decisões sobre taxa de juros? Sem que a questão fiscal surja como “resolvida” (sobretudo em termos de projeção da dívida pública) o que sobra é a manifestada intenção de interferir por decreto na taxa de juros. Da última vez em que se tentou isso as consequências foram desastrosas.

    Política fiscal expansionista, como Lula gosta, distorções tributárias e orçamentárias, com as quais não consegue lidar, e ser minoria que se comporta como se fosse maioria no Congresso resultam num contexto no qual milhares de agentes econômicos antecipam riscos e incertezas. Os juros altos refletem em boa parte essas expectativas, que os discursos de Lula não estão revertendo.

  9. O GOVERNO CAIU NA REAL, por Elio Gaspari, no jornal O Globo e Folha de S. Paulo

    A alta do dólar, a queda da Bolsa e a confirmação de que o aumento da arrecadação era um sonho levaram o governo a admitir a relevância do controle de gastos e a consequente valorização de uma administração comprometida com o feijão com arroz.

    Em dois anos de governo, o ministro Fernando Haddad teve vitórias e derrotas. Brilhou com o projeto de reforma tributária, mas seu déficit zero era lorota. Ele conseguiu restabelecer as boas relações de um governo petista com a banca.

    Na segunda-feira, Haddad e Simone Tebet, sua colega do Planejamento, mostraram a Lula o dreno provocado pela distribuição de incentivos. A iniciativa tem mérito, mas não tem valor. O Sol congelará antes que um Congresso resolva podar os benefícios dados à Zona Franca de Manaus. Cada incentivo é um jabuti velho, escolado e bem relacionado.

    A discussão da política de incentivos, como a taxação das grandes fortunas, é tema que lustra a biografia de quem a propõe, mas não vai a lugar algum.

    Infelizmente, o déficit zero era um espécie de pau do circo de Haddad: arrecadando mais, o governo poderia induzir o crescimento. Daí viriam as picanhas prometidas durante a campanha. Sem esse salto arrecadador, Lula 3.0 arrisca tornar-se um governo durante o qual a economia andou de lado.

    É melhor andar de lado do que ir galhardamente na direção errada, como sucedeu com a Nova Matriz Econômica do governo de Dilma Rousseff.

    Vendo que não pode gastar, Lula terá a oportunidade de se voltar para a boa administração do dia a dia. Apesar do estilo triunfalista do presidente, seu governo vai bem no feijão com arroz. Vai bem mesmo quando é comparado a outros governos, sem levar em conta o caos de Bolsonaro.

    Derrapou feio na compra de arroz importado, pretendendo comercializá-lo a preços tabelados. Esse desastre só aconteceu porque no lance estava a mão peluda do interesse político.

    Talvez algum petista tenha se lembrado de que, em 1962, o governador gaúcho Leonel Brizola teve mais de 200 mil votos para deputado federal na Guanabara porque vendeu arroz barato em caminhões.

    Terminar obras que estão paradas é uma das boas maneiras de administrar o trivial variado. Infelizmente, ela vem sendo instrumentalizada em marquetagens.

    Getúlio Vargas foi um presidente de grandes ideias, mas, lendo seu diário, percebe-se a atenção quase obsessiva com a rotina da administração.

    Lula, ou qualquer político brasileiro, dispõe de um boqueirão, resgatando o agronegócio e colocando-o na galeria do orgulho nacional, como Juscelino Kubitschek colocou a indústria, no fim dos anos 1950.

    Por diversos motivos, Lula jogou fora essa oportunidade, e hoje ela está em cima de um montinho de cal, dentro da pequena área, esperando que alguém bata esse pênalti.

  10. A TOMADA DA PETROBRÁS, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    A cerimônia de posse de Magda Chambriard na presidência da Petrobras, ontem, foi um show de simbolismo. Do local escolhido, o suntuoso centro de pesquisas da empresa, à presença de sete ministros na plateia e aos discursos ufanistas, tudo foi programado para passar a mensagem de que o governo finalmente tomou conta da petroleira.

    Pelos discursos de Lula e Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, parecia até que não existiu a gestão Jean Paul Prates, o CEO que saiu humilhado depois de um ano e meio no cargo e de uma disputa de poder feroz com Silveira e seu colega da Casa Civil, Rui Costa.

    Não chega a ser surpreendente. Lula e os ministros viviam se queixando de que Prates não fazia o que queriam. Só não dá para garantir que temos motivos para celebrar.

    A história da ascensão de Magda ajuda a entender por quê. Funcionária de carreira da Petrobras e presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff, ela já havia sido indicada a Lula para comandar a petroleira logo no início do mandato por petistas ilustres, entre os quais João Vaccari Neto.

    Para quem não se lembra, Vaccari é ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ex-tesoureiro de campanha de Dilma e ex-réu da Operação Lava-Jato.

    Preso em 2015 e condenado a 24 anos de cadeia por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pela participação no petrolão, ele passou ao regime semiaberto em 2019 e, em dezembro do ano passado, sua pena foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no bojo das decisões que consideraram Sergio Moro suspeito para julgar os casos contra Lula.

    O fato de Vaccari ter aguentado a prisão em silêncio lhe rendeu gratidão e influência com a reabilitação de Lula. Ainda assim, apesar da pressão dos companheiros, o primeiro movimento do presidente foi vetar a indicação de Magda.

    Na época, buscando um acordo que não o deixasse mal com os petistas, Prates ainda sugeriu que ela fosse para o conselho de administração, mas nem assim Lula topou. Mesmo quando Prates caiu em desgraça no Planalto, ela não foi a primeira opção para substituí-lo.

    Contudo, ao contrário de Prates, que acumulou divergências com petistas de diversos calibres, Magda foi reunindo apoio com promessas que agradaram de Vaccari a Gleisi Hoffmann, de Silveira a Rui Costa, passando por sindicatos e partidos da base no Congresso.

    Aos poucos, essa frente ampla convenceu Lula de que ela seria a pessoa ideal para destravar a agenda com que ele sonha desde a campanha.

    O próprio Lula descortinou essa agenda em seu discurso. Caprichando nos ataques à Lava-Jato — que chamou de “praga de gafanhoto” destinada não a combater a corrupção, mas a destruir a Petrobras — e à privatização, ele defendeu a reativação das fábricas de fertilizantes vendidas ou desativadas em gestões anteriores por darem prejuízo.

    Mencionou a retomada das obras de refinarias que foram alvo de desvios bilionários no passado e o incentivo a estaleiros que também já deram bastante dor de cabeça à Petrobras após a falência bilionária da Sete Brasil.

    Falou em retomar a produção de gás natural e em destravar a exploração de petróleo em alto-mar na região Amazônica, hoje pendurada na resistência do Ibama. E garantiu: a Petrobras dos velhos tempos vai voltar.

    A gestão de Magda mal começou, portanto é preciso esperar para conferir quais promessas cumprirá e quais colocará na conta de fatores externos ou do “excesso de governança” da companhia, que depois do petrolão passou a exigir avaliações de retorno financeiro de diferentes comitês. Deu para ver que ela está empenhada em agradar à frente ampla.

    Depois de semanas em costuras de bastidores, pôs na área financeira um ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil tido como feudo político de Vaccari; na diretoria jurídica, um aliado de Costa vindo diretamente do Palácio do Planalto; nas áreas de engenharia e de exploração, duas executivas de carreira identificadas com o sindicalismo.

    E, para não deixar dúvida sobre quem são seus credores políticos, chamou para discursar, no mesmo patamar de importância dos ministros, o presidente da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacelar.

    No palco, usando o uniforme laranja dos petroleiros, ele criticou a distribuição de dividendos, pediu a reestatização de ativos, atacou a Lava-Jato e entoou slogans de “luta e resistência” em defesa da Petrobras.

    Lula assistiu a tudo orgulhoso e, ao final de seu discurso, resumiu por que investiu tanto capital político no simbolismo da posse de Magda. “Se a Petrobras der certo, o país vai dar certo. Se der errado, o Brasil também vai dar.” Aí é que mora o perigo.

  11. Sempre ele. E sempre na defesa da democracia. Mas, que no fundo, é a eliminação da liberdade de expressão, dialética e a pluralismo pilares inerentes ao exercício e consolidação da democracia. Espete é o espalho da Justiça embrulhada na sua própria hermenêutica´

    MORAES VIU O CHIFRE DE UM CAVALO, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

    Alexandre de Moraes atirou no chifre da cabeça de um cavalo. Ao derrubar reportagens sobre acusações de agressão feitas pela ex-mulher de Arthur Lira, o ministro do STF afirmou que era preciso interromper a propagação de “discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.

    O material censurado incluía vídeos e textos em que Jullyene Lins dizia ter sido agredida e ameaçada. Descontada a irritação que as declarações devem causar ao presidente da Câmara, é preciso ter fé em unicórnios para afirmar que ali há discurso de ódio, subversão da ordem e quebra da normalidade democrática.

    Moraes misturou a reafirmação do próprio poder com uma dose de benevolência com a defesa de Lira. Os advogados diziam que ele era alvo de uma campanha coordenada para difundir um fato do qual ele já foi absolvido. Acrescentaram que o objetivo era desestabilizar o deputado e “atingir o exercício da elevada função” de presidente da Câmara.

    Quando criou o inquérito das fake news, na chefia do STF, em 2019, Dias Toffoli caminhou por esse terreno pantanoso. O ministro endossou a censura a uma reportagem da revista Crusoé que noticiava uma menção a ele em emails internos da Odebrecht. “Ao atacar o presidente, estão atacando a instituição”, declarou.

    O episódio abriu uma crise interna que forçou o Supremo a modular e fundamentar suas decisões mais do que controversas sobre remoção de conteúdo. A corte só ficou unida em torno desse processo porque identificou nos ataques às urnas e nas convocações para um golpe militar uma ação orquestrada para derrubar um governo eleito. Agora, no caso de Lira, Moraes recuou para conter os danos de um novo tiro no pé.

    As reportagens com acusações a Lira ressurgiram numa campanha contra a votação do PL Antiaborto por Estupro. Constrangido, o presidente da Câmara pode processar quem o acusa, mas dificilmente poderia dizer que alguém está tentando impedir seu trabalho.

  12. LULA DEMONSTRA DESOSRIENTAÇÃO NA ECONOMIA, editorial de O Globo

    Em entrevista à rádio CBN na véspera de mais uma decisão sobre juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Não é papel do presidente da República interferir nas deliberações da autoridade monetária. Lula teria feito melhor se explicasse como pretende ajustar as contas públicas para resgatar a credibilidade de seu governo diante do mercado, em plena deterioração.

    Em desafio aos fatos, ele afirmou que o comportamento do BC é a única “coisa desajustada” na economia brasileira. Campos Neto, disse Lula, não tem autonomia, “tem lado político” e “trabalha mais para prejudicar o país do que ajudar”. Comparou-o ao ex-juiz Sergio Moro e criticou o jantar que lhe ofereceu o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP): “Como ele vai para uma festa quase que assumindo cargo no governo de São Paulo?”.

    Lula tem razão num ponto: enquanto é presidente da autoridade monetária, Campos Neto não deveria comparecer a homenagens com evidente fundo político. Pior ainda foi ter dito, segundo relatos, que aceitaria o cargo de ministro da Fazenda num eventual governo Tarcísio. Autonomia e independência devem ser exercidas em decisões, mas também demonstradas publicamente. Se Campos Neto tivesse esse cuidado, não teria aberto o flanco que permitiu a Lula atacá-lo.

    No que diz respeito a seu papel como presidente do BC, contudo, a acusação de “bolsonarista” não tem cabimento. Quando Jair Bolsonaro tentava a reeleição, os juros subiram para 13,75%. Desde que Lula assumiu, não houve aumento. Na presidência do BC, Campos Neto mostrou independência e foco no combate à inflação. No Conselho de Política Monetária (Copom), seu voto vale tanto quanto os demais.

    De forma pertinente, o Copom tem alertado o governo sobre os riscos do descontrole fiscal. Antes mesmo de assumir, Lula fez opção por aumentar despesas, com a PEC da Transição. No primeiro ano, aprovou novas regras fiscais que dependem essencialmente do aumento de arrecadação para compensar os gastos, mas a estratégia chegou ao limite. A Bolsa em queda e a desvalorização do real traduzem a incredulidade dos agentes econômicos. Para tentar salvar a credibilidade do arcabouço fiscal, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, discutiram com Lula nesta semana alternativas para controlar gastos. Era com isso que o presidente deveria se preocupar.

    Os termos do ajuste ainda não estão claros, mas as prioridades deveriam ser duas: 1) desvincular das receitas os pisos de gastos em Saúde e Educação; 2) desvincular do salário mínimo os benefícios previdenciários. Ao contrário do que dizem os críticos, não se trata de corte ou congelamento, apenas de calibrar o ritmo de crescimento das despesas para que, paulatinamente, caibam no Orçamento. Outras ideias oportunas são a redução das emendas parlamentares e uma reforma administrativa que melhore a gestão e diminua o peso das despesas com pessoal.

    As reações de partidários do governo são preocupantes. O PT divulgou comunicado em tom conspiratório, afirmando, contra todas as evidências e contra atos da própria equipe econômica, que inexiste crise fiscal. Nada mais distante da realidade. Lula tem o dever de transmitir sinais firmes de compromisso com o controle de gastos, do contrário a crise só se agravará.

  13. LULA, CAMPOS NETO E OS JUROS, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Luiz Inácio Lula da Silva bate em Roberto Campos Neto sem trégua. Combinou com seus líderes no Congresso e com o PT um ataque coordenado contra o presidente do Banco Central, como adiantou Mônica Bergamo nesta Folha. A presidente do PT, Gleisi Hoffman, diz que o partido vai à Justiça contra Campos Neto.

    Lula tem razão de bater na militância política descarada de Campos Neto. Erra ao bater na política de juros do Banco Central, o que faz desde quando presidente eleito. Tenha ou não razão quanto à Selic, quase tanto faz. É contraproducente.

    Para piorar, Lula vai assim acorrentar Gabriel Galípolo entre a cruz e a caldeirinha. Não vale a pena o custo de fazer de Campos Neto um bode expiatório, seja para juros altos, seja para o efeito de eventuais cortes impopulares de gastos.

    Galípolo é diretor do BC e, por ora, quase certo substituto de Campos Neto, em janeiro. Foi vice-ministro da Fazenda de Fernando Haddad de janeiro a junho de 2023. Tem grande simpatia de Lula, com quem fala regularmente.

    Juros sobem a cada metralha luliana. Sobem desde abril também por causa dos discursos do presidente. O custo médio de financiar a dívida do governo federal AUMENTOU desde agosto de 2023, quando o BC passou a cortar a Selic. Foi para perto dos piores níveis em pelo menos 17 anos.

    Quando se tenta baixar a Selic na marra ou no grito, as demais taxas sobem (e o dólar também). O preço do dinheiro para governo e empresas sobe. Etc.

    Nesta quarta-feira (19), caso Galípolo vote por deixar a Selic onde está, em 10,5% ao ano, deve irritar Lula, governo e PT. Mas, assim, talvez comece a desfazer o preconceito dos donos do dinheiro grosso, credores maiores do governo.

    Na praça do mercado, com razão ou não, acredita-se que uma diretoria majoritariamente nomeada por Lula toleraria inflação, baixando a Selic na marra (crença influenciada pelos discursos de Lula).

    Assim, sendo “duro”, Galípolo começaria a pagar o pedágio da “credibilidade” cobrado pelo povo do dinheiro, um extra além da taxa tida como necessária para conter a inflação. Tudo mais constante, juros de longo prazo tenderiam a cair, assim como o dólar e expectativas de inflação.

    Há quem especule que um Galípolo linha dura não iria para o comando do BC. Parece improvável, até porque Lula deve definir tal nomeação até setembro.

    Se Galípolo e diretores “lulianos” optarem por um corte de juros, mesmo que vitoriosos em uma votação dividida no BC, o caldo das condições financeiras deve continuar azedo. Assim, deve ficar muito difícil ou fora do controle a tarefa de governar o BC: expectativas de inflação, juros, dólar etc. Galípolo assumiria no tumulto. Ficaria entre ser ainda mais duro ou perder o controle.

    É difícil definir com precisão onde Campos Neto habita no espectro bolsonarista, mas lá está. Em jantares políticos recentes, enfiou de vez o pé na jaca política. Pisou fundo, pois preside um BC autônomo faz pouquíssimo tempo. Politizou de vez a conversa, avacalhou a transição do modelo.

    Mas dizer que Campos Neto “…trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar”, como Lula, é tiro no pé e erro de avaliação. Campos não decide juros por decreto e, até para influenciar votos, tem de ter razões.

    De resto, a Selic vinha em queda regular de meio ponto até maio. Supostos “campistas” e “galipistas” então concordaram que o BC deveria mudar de direção, mais ou menos cedo, porque a situação fora para o vinagre, nos EUA e quanto ao controle de déficit e dívida sob Lula 3. Ainda assim, voto dividido de maio custou caríssimo, como previsto.

    Taxa de curtíssimo prazo, a Selic determina diretamente (indexa) o custo de cerca de 45% da dívida mobiliária federal. Influencia taxas de outros prazos, mas não as determina.

    Se cortada na marra e/ou situações de descrédito, as taxas dos demais prazos voam (assim como o dólar, talvez a inflação). O custo do crédito para empresas sobe. O investimento produtivo é desestimulado.

    O governo pode até evitar as taxas altas de longo prazo, rolando sua dívida no curtíssimo prazo. É risco maior, outro motivo para o dólar e inflação esperada subirem. É uma espiral de problemas.

    É possível intervir em taxas longas (mudando a lei) e no câmbio. Em situações muito excepcionais. No mais, começaríamos a transitar para as vizinhanças do planeta Argentina.

  14. POR QUE SOU LÍDER DE LEITURA E CREDIBILIDADE. PORQUE DEIXAM O CAMPO VAZIO PARA EU JOGAR SOZINHO

    Ontem houve importantes movimentações nas hostes do MDB, com a escolha da velha guarda (a ex-vereadora por dois mandatos, ex-secretária de Saúde sob polêmica, ex-candidata derrotada a prefeito, uma partidária raiz e tendência mais à esquerda, que havia se retirada do front por questões de saúde, já superadas, Ivete Mafra Hammes, para ser a vice de Marcelo de Souza Brick, MDB

    Na imprensa de Gaspar, somente a notícia. Nada sobre a razão pela qual se deu isso, e as implicações. Choveu nos meus aplicativos de mensagens, questionamentos (e até explicações) de meus leitores e leitoras.

    Ah, então qual a razão para você também se igualar a mudez da imprensa local que por medo, para não incomodar os amigos, para não perder as migalhas de hoje (e até de amanhã) e porque o tempo já fez a boca torta pelo cachimbo, também não tratar do assunto?

    Como venho repetindo, estou sem tempo para sentar, ligar para fontes, refletir, ligar pontas desatadas e escrever. Estou com problemas pessoais sendo resolvidos e que exigem deslocamentos. Mas, voltarei ao tema. O assunto vai envelhecer, mas como o vinho, ficará ainda melhor. Muda, Gaspar!

  15. FONTE FAKE NEWS PARA LUSTRAR JORNALISMO DE INTERESSE TEMÁTICO

    O jornal Folha de S. Paulo, no interesse da pauta de esquerda, mas principalmente, do governo, faz a seguinte manchete promovendo a coluna de Mônica Bérgamo, notória porta-voz de Lula e do Planalto: BISPO CATÓLICO CRITICA PL ANTIABORTO E DIZ QUE É PRECISO DAR EDUCAÇÃO SEXUAL EM VEZ DE PRENDER MULHERES

    O Bispo é Dom Angélico Sândalo Bernardino, que não é mais bispo em Blumenau e em lugar nenhum, está aposentado, não tinha identificação com Blumenau, não mora em Blumenau, e é tratado como emérito. Ele, com forte atuação anterior no ABC paulista, foi o primeiro bispo da recém instalado então criada diocese de Blumenau e defensor da Teologia da Libertação, num ambiente conservador.

    Quem reavivou a conexão com a comunidade católica e virou atração litúrgica da Diocese foi o padre João Backmann, hoje em Indaial, um conservador com suas misas e pregações no ambiente do movimento carismático.

  16. Nem em todo lugar, bolsonarismo e milícia é sinônimo de voto caixão e dominação. No berço do bolsonarismo e da milícia, outras forças mostram mais musculaturas há quatro meses das eleições. Um bom aviso para Gaspar que estão achando que apenas o aval de Bolsonaro elegerá postes ou gente que não quer se indispor contra a bagunça instalada na gestão de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP

    PAES TEM 40 PONTOS DE VANTAGEM EM RELAÇÃO A RAMAGEM, APONTA PESQUISA QUAEST, por Camila Zarur, no jornal Valor Econômicoa

    O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), tem 51% das intenções de voto para se reeleger neste ano, segundo aponta pesquisa Quaest divulgada nesta terça-feira (18). Na primeira sondagem feita pelo instituto sobre a corrida municipal carioca, o atual chefe do Palácio da Cidade aparece na liderança da disputa, com 40 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado: o deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL), com 11%.

    A pesquisa foi encomendada pela Rádio Tupi, do Rio, e feita entre os dias 13 e 16 deste mês, com eleitores de 16 anos ou mais. Foram realizadas 1.145 entrevistas presenciais. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para cima ou para baixo, e o índice de confiança é de 95%.

    Em terceiro lugar, segundo a sondagem, está o deputado federal Tarcísio Motta (Psol), com 8%. Em seguida, aparecem o deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil), com 4%, e o federal Marcelo Queiroz (PP), com 2%.

    O percentual de eleitores que afirmaram que vão votar nulo, branco ou não irão votar é de 20%. Os indecisos, por sua vez, são 4%.

    A Quaest também mediu as intenções de voto de forma espontânea, quando não são ditos os nomes dos candidatos. Nesse caso, a maioria é de indecisos, que somam 81%. Paes é citado por 12% dos entrevistados, enquanto Ramagem tem 3%. Os demais candidatos, juntos, aparecem com 2% — mesmo percentual daqueles que afirmaram que não irão votar ou vão votar nulo ou branco.

    Apesar de Paes aparecer em franca liderança na corrida, a diferença entre ele e Ramagem diminuiu quando o deputado federal passa a ser associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesse cenário, ao ter seu nome vinculado ao do ex-mandatário, o bolsonarista passa a ter 29% das intenções de voto.

    A pesquisa também mediu quantos entrevistados votariam em Paes com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tendo o líder petista em seu palanque, o prefeito carioca caiu para 47% das intenções de votos.

    A Quaest também perguntou a hipótese de voto em um candidato desconhecido apoiado por Lula ou por Bolsonaro. Em ambos os casos, há rejeição por parte dos entrevistados: 70% afirmaram que não votariam em um desconhecido apoiado pelo petista, ante 75% que não votariam no indicado pelo bolsonarista.

    Já em um eventual segundo turno entre Paes e Ramagem, o prefeito do Rio mantém uma vantagem ampla, de 30 pontos percentuais, conforme aponta a pesquisa. Se a segunda rodada do pleito fosse hoje, o atual ocupante do cargo teria 57% das intenções de voto, enquanto seu desafiante, 27%.

    O instituto de pesquisa também mediu a avaliação de Paes frente à prefeitura do Rio. Os entrevistados que avaliam de forma positiva a gestão do prefeito somam 35%. Os que avaliam negativamente são 24%, e os que veem o governo municipal como regular são 38%. Não souberam ou não responderam são 3%.

    Os entrevistados pela Quaest afirmam que as áreas onde viram mais melhorias foram asfaltamento (58%), cultura, esporte e lazer (55%), transporte público (49%) e limpeza (49%).

    A avaliação da prefeitura é pior na área de segurança, em que 73% acham que está pior do que era antes e 20% acham que melhorou. Em seguida, as demais áreas em que os entrevistados acham que houve piora estão trânsito (66%), saúde (59%), educação (52%), habitação (44%) e tratamento de esgoto (45%).

  17. POLÍTICA ECONÔMICA TEM EXAUSTÃO PRECOCE, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Juros de longo prazo em alta, saltos da cotação do dólar e Bolsa de Valores em queda dão hoje um recado eloquente —a baixa credibilidade da política econômica brasileira não é uma conjectura, mas um fato objetivo que implica riscos crescentes para o país.

    Do início deste 2024 até a última sexta-feira (14), a moeda brasileira perdeu quase 10% de seu valor ante a divisa americana, o segundo pior resultado numa amostra de países ricos e emergentes, como noticiou a Folha.

    Em sintonia, o índice Bovespa acumulou queda de 10,5% no mesmo período, em direção oposta à dos principais mercados globais, que mostram alta relevante no ano.

    O principal termômetro, porém, é o custo do dinheiro no país, que subiu mesmo com os cortes na taxa básica, hoje em 10,5% ao ano.

    As referências de mais longo prazo, que não são controladas pelo Banco Central, subiram entre 1,5 e 2 pontos percentuais —as taxas de contratos para dez anos já superam 12%, ante 10,36% no início do ano, dinâmica nefasta que, se persistir, comprometerá os investimentos e a geração de emprego.

    O quadro internacional decerto tem algum peso na piora. Diante da força da economia americana, os juros no maior centro financeiro do mundo permanecem altos, o que valoriza o dólar em relação a todas as demais moedas.

    Desde abril, contudo, são domésticas as principais fontes de incerteza, a começar, obviamente, pela política fiscal. A decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de afrouxar suas metas para o saldo do Tesouro firmou a percepção de que não se pretendem fazer mais ajustes.

    Ademais, a devolução pelo Congresso de uma medida provisória que buscava reduzir perdas com a desoneração da folha de pagamentos, na semana passada, explicitou a inviabilidade da tentativa petista de equilibrar as contas do Tesouro apenas com alta da arrecadação.

    A gestão monetária tem sido contaminada por temores de interferência política no Banco Central a partir de 2025, quando o órgão terá seu comando trocado.

    Se há algo de positivo no esgotamento precoce da política econômica é que se tornou inevitável uma discussão franca a respeito de controle de gastos, pauta já colocada pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento —que prometem levar opções a Lula.

    Discursos ufanistas não convencem ninguém. Em vários setores se observa que o país está cada vez mais à margem dos fluxos de investimentos globais.

    Se Lula insistir em negacionismo econômico e sectarismo ideológico, colherá degradação continuada da atividade e de seu governo.

  18. Carlos Eduardo Bornhausen

    Sobre as referidas obras que precisam ser anunciadas e alardeadas aos quatro cantos pelos que hoje são situação, faço referência a frase de Margaret Thatcher “Ser poderoso é como ser uma dama, se você precisa dizer que é, na verdade você não é”. Isso se traduz muito ao âmbito político quando nossos representantes travestidos de “candidatos” (ou “pré-candidatos” como manda a legislação), precisam agora anunciar tudo aquilo que fizeram, já que a cidade por si só não consegue ver. Trágica repetição de erros que a cada 4 anos volta a nos assombrar, esse pessoal ainda acredita que somos cidade pequena e de memória curta e que em tempos de redes sociais tudo iria ficar no esquecimento. Agora:
    a) O político que votou favorável pra criar novas taxas e aumentar arrecadação, jura que é contra o aumento de impostos.
    b) O político que votou favorável pra aumentar o número de assessores, cargos comissionados, veículos alugados, entre outros penduricalhos agora jura
    que é contra o inchaço da máquina pública e que vai lutar por “eficiência”.
    c) O político que aprovou a tomada de empréstimos milionários e disse amém pra tudo quanto é gasto, agora jura que vai fiscalizar o uso do dinheiro
    público.
    d) O político que encenou uma CPI pra não dar respostas a sociedade, agora jura que é favor da transparência.
    e) O político que disse que é normal alguém morrer esperando um exame ou uma cirurgia e que na verdade é o povo que falta no dia do exame das
    consultas, agora jura que vai mudar a situação caótica da saúde pública.
    O tempo é senhor da razão e as eleições de outubro irão mostrar que o povo Gasparense não tem memória curta e que os tempos políticos mudaram.

    1. Só para esclarecer. Este é o Edu do Amauri, Novo, filho do ex-servidor público e ex-vereador, Amauri Bornhausen, PDT, já falecido e em pleno mandato. Nada a ver com outros com outros homônimos bornhausens que entraram na política para tirar uma casquinha do curto exemplar mandato de Amauri.

  19. QUANDO PETISTAS BRIGAM, É O BRASIL QUE APANHA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Parece infinita a disposição do PT para sabotar os próprios governos que conquista e lidera – e o calvário enfrentado há meses pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é prova inconteste dessa vocação. Não é de hoje o confronto aberto entre morubixabas petistas e quem defende uma política econômica séria e fiscalmente responsável. Chama a atenção, no entanto, que não apenas se dediquem a tentar arruinar o arcabouço fiscal e o que resta da frágil credibilidade do governo, como também trabalhem para desmontar em praça pública uma liderança do partido. Haddad é considerado o principal herdeiro político do presidente Lula da Silva e o candidato de maior potencial para quando chegar o momento da aposentadoria do chefe. Abalos definitivos na sua atuação na Fazenda comprometem o governo, o presidente e o próprio partido, mas os algozes petistas de Haddad não parecem se importar com isso, muito menos com a estabilidade do governo e do Brasil. Ao contrário: talvez esteja nesse peso político do ministro, e não apenas nas divergências econômicas, a natureza dos ataques dirigidos a ele.

    O PT foi forjado numa imensa variedade de tendências e correntes internas. Do grupo majoritário, a CNB (Construindo um novo Brasil), de Lula e José Dirceu, a muitas outras, como Resistência Socialista, Democracia Socialista, Articulação de Esquerda e algumas dúzias mais, há um cipoal de interesses, visões e disputas que costumam orgulhar as lideranças do partido – uma democracia interna louvável, embora grande parte acabe adotando silêncio obsequioso quando convém a Lula e ao comissariado. A história é diferente quando se trata da economia. Sob inspiração da própria ambiguidade presidencial, não só os desejáveis debates públicos se tornam mais intensos, como algumas das principais vozes do partido não hesitam em trabalhar contra. Contra o ministro de ocasião, contra o governo, contra o Brasil.

    Nunca será demais lembrar os ataques sofridos por Joaquim Levy – que aceitara o desafio de ser ministro da Fazenda de Dilma Rousseff – e seus efeitos para a instabilidade política posterior. Pouco depois de eleita numa campanha polarizada ideologicamente, em que acusou os adversários Marina Silva e Aécio Neves de planejarem um ajuste duro, Dilma escalou Levy – reconhecido fiscalista, a ponto de receber o apelido “mãos de tesoura” quando dirigiu o Tesouro Nacional, durante o primeiro mandato de Lula – para, ela sim, implementar medidas de austeridade fiscal. A guinada entre a campanha e o segundo mandato foi oficializada, mas o PT trabalhou dia e noite no Congresso e na opinião pública para implodir os planos do ministro e deu no que deu: a deterioração fiscal foi crescente até provocar desequilíbrio macroeconômico e perda contínua de apoios, culminando com a crise política e o impeachment de 2016. A lição pareceu insuficiente, porque o PT fez o que costuma fazer: pôs o fracasso na conta de forças externas.

    Se Joaquim Levy era um forasteiro, um corpo estranho nas entranhas do poder petista, Haddad é um quadro potencial num partido cujas lideranças envelheceram – no tempo e nas ideias. Atribui-se à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e ao ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, a liderança das investidas contra Haddad. Uma resolução da sigla chegou a classificar de “austericídio fiscal” a meta de déficit zero. Uma grita de tal monta que o ex-ministro José Dirceu definiu como “quase covardia” integrantes do PT não apoiarem as propostas de Haddad. De Gleisi se desconhece formação em matéria econômica. De Rui nota-se a dificuldade de construir e articular um plano crível de governo. De ambos sabe-se que não fariam o que fazem sem a anuência do presidente, pródigo na arte de estimular a emissão de sinais variados, de modo a garantir a ele o papel de árbitro. No passado, era Lula também que deixava lideranças petistas atacarem duramente outro ministro da Fazenda, o também petista Antônio Palocci – assim como Haddad, também citado à época como possível sucessor do presidente.

    As cizânias petistas seriam irrelevantes, divertidas até, caso se restringissem ao partido. O problema é quando suas altercações atingem o nervo central do País: a economia. E o Brasil paga a conta

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