O título de Capital Nacional da Moda Infantil arrumado no ambiente político dominou as duas principais ações oficiais nos dos poderes da cidade para comemorar os 89 anos de emancipação de Gaspar de Blumenau: a sessão solene na Câmara e o desfile alusivo, este na Rua Aristiliano Ramos, o que assinou a alforria político-administrativa. Este tom e preocupação – orquestrado na imprensa intencional e igualmente na imprensa daqui e regional – é ao mesmo tempo muito bom. Entretanto, por outro lado, mostrou, pelas demonstrações, que é preciso sair do papel, da marquetagem que não se sustenta nela mesma e ir para a prática. E a distância e o desafio são extremamente longos, pesados e permanentes.
Nos discursos os políticos tentaram dourar a pílula; admitiram que a ideia saiu de gabinetes e tecnocratas à procura de projeção marqueteira para a cidade e os seus. Contudo, o representante dos empresários, Cuniberto Kuhen, no discurso que fez na Câmara, foi bem mais cauteloso. Para ele, o título recebido há nove meses, por si só não leva a lugar nenhum, tema que sempre destaquei e repisei aqui e na maioria das vezes mal-entendido e até combatido por consultores geradores de ilusões. Para Cuniberto, acertadamente, até porque isto ele conhece, está na cara, e os diagnósticos técnicos reiteradamente apontam isto, é imprescindível esforços estreitamente comuns nas esferas privadas e públicas.
Ninguém, nem Cuniberto, nem o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, nem mesmo o presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, o qual “se colocou como um interlocutor privilegiado da comunidade”, como ser vereador e presidente da Câmara já não lhe dessem essa condição legítima de representante da sociedade, conseguiram apontar onde, até hoje, este título criou valor agregado ao produto gasparense, como ele destacou marcas das empresas daqui para o consumo, bem como lhe deu segurança produtiva e preferencial no mercado nacional e até internacional.
Passados nove meses da titulação dada no Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, este movimento pela busca do título, na verdade, já tem quatro anos. E mesmo assim, aqui os próprios gasparenses não sabem quais são as marcas – ou pelo menos as principais – da nossa moda infantil. Também não há um espaço para acessar e comparar na criatividade, coleção, inovação e utilidade. Aliás, perdeu-se uma grande oportunidade, de nesta semana, já que o tema era a reafirmação da Capital Nacional da Moda Infantil, de se ter, de forma organizada, ao menos, uma exposição de rótulos e peças para os daqui e os passantes um encontro com a realidade e não apenas com um título que beira a ficção exatamente por não se ter algo plural e comparável visualmente.
Voltando e para encerrar. Onde realmente está a vulnerabilidade da Capital Nacional da Moda Infantil? A mão-de-obra especializada, mas de baixa remuneração e de alta rotatividade. Eu particularmente, acrescentaria a troca de geração e a migração na troca de cultura para o trabalho. O que a salva ainda? A característica familiar e até mesmo à informalidade. Numa cidade, onde o próprio prefeito deixou escapar uma unidade do Senai só porque achava demais para ele, ou a cidade, na verdade, pagar o aluguel da entidade, não é certo nos discursos dizer por aí, que está comprometido com a causa da Capital Nacional da Moda Infantil.
Hoje temos em Gaspar segundo os dados do discurso de Cuniberto, 870 confecções, 480 facções – e que é o pulo do gato -,85 tinturarias, estamparias, fiações e tecelagens, ressalte-se empresas nem todas dedicadas à moda infantil, e também, não apenas de produtos finais com origem em Gaspar. Este número, por si só, obrigaria uma sessão da Câmara num recinto bem maior e muito mais do que nove empresas homenageadas. Trata-se da metade da força de trabalho da cidade.
O problema é bem maior e precisa de cuidados especiais. Foi o que demonstrou um diagnóstico situacional da Capital Nacional da Moda Infantil. E um comitê de entes públicos e privados se instalou para encontrar saídas, um fato por si só, que me deixa de alma lavada e até esperançoso. É que quando se inicia um debate com preocupações fundadas, sabe-se que há gente acordada e não apenas sonhadores criadores de títulos envolvidos em soluções reais.
O Cagede (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) deste janeiro deste ano mostrou o tamanho do problema em Gaspar; a empregabilidade, a rotatividade e consquente vulnerabilidade na qualificação da mão de obra para este setor da nossa economia titulada nacionalmente. De 25.860 empregos formais, 1.222 foram demitidos ou saíram de seus empregos, e outros 1.374 foram admitidos, num saldo positivo de 152 novos empregos. Por outro lado, em um ano por aqui, houve 16.685 admissões e 16.497 foram admitidos, ou seja, em um ano 188 postos de trabalhos formais foram fechados em Gaspar.
No fundo, como aqui há uma concentração de pequenas indústrias têxteis, que devido à sua estrutura fragilizada e que trabalha para grandes corporações. Elas as esfolam na concorrência, a produtividade por exigência. Daí para informalidade e até a sonegação de tributos podem ser componentes de custos na sobrevivência. E tudo se agrava, quando não se tem o suporte público para debelar estas ameaças, incluindo à qualificação de mão de obra, acesso a crédito para gestão eficiente, inovação, controles e tecnologias. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
O governador Jorginho Mello, PL, que já foi morador de Gaspar, quando ex-gerente do BESC, não apareceu por aqui no sábado para o desfile comemorativo. Mas, no mesmo sábado foi a Blumenau, no aniversário de um empresário vestido de candidato a prefeito por lá no ano que vem. Lá não estava o deputado Ivan Naatz, PL, candidato natural do partido por lá. Sintomático.
O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, Podemos, foi o único da região que apareceu por aqui. Érico de Oliveira, MDB, estava pela Amfri, nos Estados Unidos. Mário estava lá no mesmo aniversário que Jorginho estava. Estava aqui e lá em Blumenau, estava também o senador Jorge Seif Junior, PL. Sintomático.
Quem não estava aqui? O deputado Ivan Naatz, PL. Estava em Portugal. Arrumou encrenca e se mandou. Não quis testar a temperatura do PL daqui. O seu pupilo, o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, que ele diz ter filiado no PL daqui, sem o aval da Comissão Provisória de Gaspar estava no palanque oficial do desfile, mas amuado e isolado. O deputado Federal Daniel de Freitas, outro padrinho de Marcelo, também não estava por aqui no sábado. Sintomático.
Não é a primeira vez que o deputado Ivan arma e sai. Quando eleito governador, Jorginho meio que delegou ao deputado à composição de sustentabilidade na Assembleia. Ivan meio que fechou à manca parceria com o PP. E em plena conversação, resolveu se mandar em férias prolongadas para a Ásia. Deu no que deu. A amarração foi feita pelo próprio Jorginho que já foi deputado e presidente da Alesc. A cada enxadada neste, Ivan está ficando mais fora do círculo de decisão do governo e Jorginho. Sintomático.
Há uma decisão e esta batizada pelo governador Jorginho Mello, PL, sobre a comissão provisória do partido em Gaspar. Ele a fez do tipo do julgamento do Rei Salomão. Ou seja, segundo a Bíblia, para descobrir quem verdadeiramente era a mãe da criança, quando as duas diziam sê-las, ameaçou cortar o rebento ao meio. Pois agora, nem o atual presidente Rodrigo Boeing Althoff, nem o que o deputado Ivan queria para substituir Rodrigo, o Márcio César. A escolha é por Bernardo Leonardo Spengler Filho (na foto ao lado), amigo do filho Bruno. Sintomático.
Ausências na sessão especial da Câmara de Gaspar pelos 89 anos de emancipação política: o primeiro secretário da mesa diretora, Giovano Borges, PSD, e sombra de Marcelo de Souza Brick, possivelmente no PL, e de Franciele Daiane Back, ainda no PSDB, do Distrito do Belchior, ex-presidente da Casa. Sintomático.
Quem esteve ausente das comemorações dos 89 anos de emancipação política de Gaspar, foi o sempre espaçoso secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, ainda no PSDB. Um áudio – e tem outros tão cabeludos quanto – que circulou na semana passada o obrigou ao recolhimento e até a saída da secretaria de Planejamento Territorial, onde estava cumulativamente. Sintomático.
Sabe-se também, agora, que a ida para a titularidade da secretaria do vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, não foi exatamente ao gosto dele, tanto que andou sumido das festanças do final de semana. Ele preferia ter ficado na chefia de Gabinete. Está inconformado. Ameaça até voltar para a Câmara. A suplente Rafaele Vancini não gostou da possibilidade. Sintomático.
A imprensa local, depois de anos anestesiada e se sabe bem o porquê, dá os primeiros sinais de questionamentos aos erros tão grassos e à vista de todos os seus clientes – leitores e ouvintes – da gestão de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Isto é bom. Sejam bem-vindos ao mundo real. Ganha a cidade. Ganho concorrentes. Tira do conforto políticos, embrulhões e curiosos. Esta mudança, todavia, tem um preço alto. E ele pode até afetar as migalhas públicas. Sintomática.
Todo circo tem um palhaço para distrair a plateia enquanto no picadeiro são trocados os cenários dos diversos esquetes. Um deles quer agora domar um cavalo – de boa pelagem, diga-se – que espalha as merdas dos políticos da cidade. E é do fedor que todos do circo querem se livrar sem limpar a merda. Sintomático.
E agora Jorge? O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, protocolou um requerimento para que o todo poderoso secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, e também presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar venha no dia 13 de abril, as 16 horas, um áudio maroto que se tornou líder de audiência e dúvidas nos aplicativos de mensagens desde duas semanas atrás. Nenhum outro vereador, mesmo convidado, subscreveu o requerimento, inclusive Alexsandro Burnier, PL. E a turma da Bancada do Amém (onze dos 13 vereadores), já se organizou para reprová-lo nesta terça-feira. Sintomático.
O áudio, editado, claramente, traz supostas ações de corrupções entre agentes públicos, políticos e investidores. É isso que o vereador diz querer esclarecer
Por exemplo, Dionísio quer saber “quem são as pessoas participantes da conversa”; o que significa o trecho do áudio ‘sempre teve bem alimentado’; 3.o que significa o trecho do áudio ‘ele pediu R$ 150 mil para a campanha’; que campanha foi essa? Quem recebeu esses recursos? E de que forma foi recebido, existe documento comprobatório; que significa o trecho do áudio ‘ele não deu de graça, foi rodado tu sabes da forma que foi’, o que quer dizer rodado? E finalmente, esclarecer se o Sr. Prefeito Kleber Wan Dall e o Vice-prefeito Marcelo Brick e/ou mais outros agentes públicos sabiam dessa conversa?” Ou seja, nada sintomático.
Se o requerimento for rejeitado, a cidade não saberá e o secretário perderá a oportunidade de colocar uma pedra de cal neste assunto que vai ser reaberto no ano que vem. Por outro lado, a cidade continuará achando que neste angu tem caroço. A emenda será pior do que o soneto. Sintomático!
Sintomas da nossa inércia e da armadilha em que estamos metidos. Manchetes de sexta-feira da semana passada: “operação resgata 212 ‘escravizados da cana’ em Goiás e Minas Gerais”. Recentemente foi em parreirais no Rio Grande do Sul e até mesmo em culturas de intenso uso de mão-de-obra sazonal, como o da cebola no Alto Vale do Itajaí.
A origem de quase todos? Homens, pobres não alcançados pelos programas sociais do governo, desesperados, desinformados, deseducados, desempregados e desesperançados do Nordeste brasileiro.
E por detrás de tudo isso está sempre um intermediário, e nestes casos mancheteados, bandido, aceito pelos contratantes, como se eles – os contratantes – não fossem parte da culpa e do problema. Aliás problema que nasce aqui no Sul e no Sudeste, passa pelo Congresso Nacional onde está a maioria dos políticos que valida esta política da “indústria da miséria perene” no Nordeste.
Os pesados impostos daqui – que não retornam para cá na mesma proporção da arrecadação que damos ao Planalto – subsidiam fortemente programas sociais contra a fome, seca e supostamente, criam empregos, entre outros sustentam educação, saúde, obras de infraestrutura….
O que se vê com estas manchetes do deprimente o qual beira à tortura? Aquilo que todos sabem: estes subsídios dos nossos pesados impostos não chegam de verdade ao povo sofrido do Nordeste, mas aos coronéis permanentes da política de lá. Eles os usam para se perpetuar no poder e no voto de cabresto de gente analfabeta, ignorante, desinformada, manipulada e até escravizada.
Por outro lado, como em países desenvolvidos pós segunda Guerra Mundial, estamos reféns de mão-de-obra barata e sem qualificação, para tarefas básicas, devido esta diferença regional no Brasil. Basta olhar para quem nos atende por aqui. Não estamos apenas importando mão de obra barata, estamos alimentando uma indústria do mau uso dos nossos impostos. Cada vez mais acentuado e grave com os criativos orçamentos secretos. É um desafio a ser superado e pouca gente está trabalhando efetivamente sobre ele ou contra este tipo de roubo. Wake up, Brazil!
7 comentários em “SEM UM LEGADO E MARCA DE FUTURO, O GOVERNO DE SEIS ANOS DE KLEBER CAPTUROU EMPRESÁRIOS E IMPRENSA NOS 89 ANOS DA CIDADE PARA SE ORGULHAR DO TÍTULO DE “CAPITAL NACIONAL DA MODA INFANTIL””
LIÇÕES NÃO APRENDIDAS, por Merval Pereira, no jornal O Globo
É do conhecimento de todos que lidam com a questão que o tabelamento de preço determinado pelo Código de Hamurabi, na Mesopotâmia, congelou o preço do óleo e do sal, gerando uma estranha situação. A punição para os infratores era a morte em óleo quente. O congelamento do preço, porém, provocou a escassez do óleo, houve desabastecimento, e a terrível pena deixou de ser executada. Várias outras tentativas de controle de preços aconteceram na Antiguidade, resultando sempre em desabastecimento e crise.
Se o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, conhecesse História, mesmo que não a Antiga, mas a recente, não teria provocado o desaparecimento do empréstimo consignado. Depois que, na base da canetada, teve a “genialidade” de reduzir o teto dos juros para pensionistas do INSS, a maioria dos bancos privados suspendeu a oferta da linha de crédito, sendo seguida pelos estatais Banco do Brasil e Caixa, mesmo o PT querendo demitir seus diretores pela suposta “traição” às políticas sociais do governo.
Os bancos suspenderam o consignado por força de uma regra do próprio Banco Central, pois, quando um empréstimo tem margem negativa, não pode ser oferecido ao público. A margem dos bancos era de 1,7%. Ficou negativa em 1,1% com o novo teto. O empréstimo consignado nasceu em 2005, numa política de choque de crédito popular no país do primeiro governo Lula. O crédito ao consumidor registrou aumento real de 14%, especialmente devido ao desconto em folha de pagamento, que permitiu taxas mais baratas.
Houve consequências contraditórias, porém: aumento do consumo interno, provocando um crescimento do PIB de 5,2%, mas uma inflação crescente, obrigando a altas taxas de juros. Mesmo dilema que o governo Lula 3 vive hoje, sem que a experiência tenha sido proveitosa.
O caso mais representativo de tentativa de conter os juros na canetada foi a restauração do “crime de usura” pela fixação, na Constituição, do limite de 12% para a taxa de juros reais no crédito bancário, muito abaixo da cobrada na ocasião. O economista José Roberto Afonso relembra num estudo que, “desde os trabalhos iniciais, proliferaram propostas tidas como populistas — desde a nacionalização e estatização do sistema bancário, que não chegaram a ser aprovadas, até a fixação da taxa de juros, e consequente crime de usura, ou a anistia para dívidas dos produtores rurais junto aos bancos oficiais”.
A maneira de conter os danos foi exigir, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que o artigo 192 da Constituição fosse regulamentado, e o bom senso impediu isso de acontecer. Dez anos, sete meses e sete dias depois, o Congresso deu o primeiro passo para suprimir um dos mais polêmicos dispositivos da Constituição. Por 67 votos a dois, com uma abstenção, o Senado aprovou, em primeiro turno, uma proposta de emenda constitucional que acabava com o polêmico tabelamento dos juros em 12% ao ano, uma das principais bandeiras dos partidos de esquerda na Constituinte, renegada pela mesma esquerda diante da realidade.
O tabelamento dos juros foi proposto na Assembleia Nacional Constituinte pelo ex-deputado Fernando Gasparian, mas a esquerda constatou dez anos depois que era ineficaz. Não custa reproduzir a redação original dada pela Constituição promulgada em outubro de 1988 ao parágrafo VIII, inciso 3º do artigo 192: “As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar”.
Assim como o óleo quente que faltou na antiga Mesopotâmia, também o crime de usura não foi ressuscitado pela impossibilidade de definir um limite para os juros que não respeite as regras do mercado financeiro. Passagem de avião a R$ 200 também não cai do céu sem subsídio, direto ou indireto. Nem preço de picanha cai à toa.
DECISÃO SOBRE JUROS DE 13,75% É MARCADA POR TEIMOSIA DO BC E INANIÇÃO DE LULA, por Josias de Souza, no UOL
A diretoria do Banco Central inicia nesta terça-feira sua reunião periódica para decidir o que fazer com os juros. Será uma enorme surpresa se o resultado do encontro, a ser anunciado na quarta, for a redução da taxa de 13,75%. Há um quê de teimosia na propensão do BC de adiar para setembro o início do declínio dos juros, pois a situação da economia mudou desde que a Selic atingiu esse patamar, em agosto de 2022.
Lula se equipa para reagir contra a eventual renitência de Roberto Campos Neto e sua diretoria. Entretanto, podendo agir para eliminar o pretexto que ainda mantém os juros na Lua, Lula preferiu retardar a apresentação do projeto sobre a nova regra de controle dos gastos públicos. Contrariou seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que desejava expor a proposta no início de março.
Quando o BC elevou os juros em 13,75%, há sete meses, a inflação rodava na casa de 10% e Bolsonaro pedalava o orçamento para tentar se reeleger, aquecendo a economia artificialmente. Hoje, a inflação é de 5,6%, o governo é outro, o Brasil flerta com a recessão e o mundo assiste com desassossego a um par de tremores bancários. Cedo ou tarde os juros domésticos terão que cair. Melhor que fosse cedo.
No início de fevereiro, Lula criticou a autonomia do Banco Central, defendeu a redução da meta de inflação e cobrou a queda dos juros de 13,75%. Decorridos quase dois meses, o presidente não propôs ao Congresso o fim da autonomia, não exerceu a prerrogativa de atenuar as metas inflacionárias e retardou a apresentação da nova regra fiscal.
Ecoando economistas de estimação, Lula se queixa daqueles que tratam investimentos como gastos. Simpatiza com os economistas que acham que: 1) Não existe risco fiscal; 2) 2022 foi superavitário; e 3) A dívida pública está sob controle. Por coerência, Lula deveria aplaudir Paulo Guedes e seu liberalismo criativo. Deve-se a hipotética conjuntura rósea a truques como o ciclismo orçamentário, o calote nos precatórios, a antecipação de dividendos de estatais, o cortes de despesas inadiáveis e a redução artificial dos combustíveis.
A “DILMA DE CALÇAS” COM POLÍTICA NA VEIA, por Andréa Jubé, no jornal Valor Econômico
Circulam nos gabinetes do Palácio do Planalto rumores de que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, não gostou de não ter sido apresentado previamente à nova regra fiscal desenvolvida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que substituirá o teto de gastos. Costa tomou conhecimento da proposta em uma reunião no dia 17, junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Três dias antes, na terça-feira, durante reunião de ministros, Lula criticou auxiliares que tornavam públicas “genialidades” sem o aval prévio da Casa Civil, e determinou que todas as propostas sejam submetidas previamente a Rui Costa. Outros auxiliares souberam antes de Costa, todavia, de detalhes do novo marco fiscal.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reuniu-se com Haddad para tratar do tema no dia 9 de março. Na saída do encontro, afirmou que o novo modelo agradaria a todos, inclusive ao mercado financeiro: “[É um arcabouço] preocupado com a responsabilidade fiscal, com o déficit primário, com a estabilização da dívida/PIB”, mas com espaço para investimentos.
Já o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, conheceu o projeto no dia 14 de março, quando se reuniu com Haddad, o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron.
Haddad havia dado declarações de que apresentaria o modelo da nova âncora fiscal primeiro aos ministros da área econômica, ou seja, Tebet, Alckmin e Esther Dweck, para alinhar o texto com os colegas antes de apresentá-lo a Lula.
Segundo fontes do palácio, esse protocolo estabelecido por Haddad teria contrariado Rui Costa, que é economista de formação, justamente em uma fase de consolidação de seu poder, após sucessivos elogios públicos de Lula nos últimos dias.
Um experiente observador da cena política lembrou, em conversa com a coluna, que, historicamente, a Casa Civil é o ministério mais poderoso do governo. Nos últimos anos, revezaram-se na cadeira nomes influentes como José Dirceu, Antonio Palocci, Dilma Rousseff, Clóvis Carvalho, Pedro Parente, Eliseu Padilha, e Golbery do Couto e Silva, este na ditadura militar.
Salvo exceções, o titular da Casa Civil naturalmente exala poder. Mas este poder é redobrado se o presidente da República vai a público exaltá-lo, como o que se deu com Rui Costa.
No dia 10 de março, durante o anúncio do reajuste da merenda escolar, Lula afirmou que Costa é a sua “Dilma de calças”, em alusão à antiga titular do cargo, que foi eleita e reeleita presidente da República, porém, alvo de impeachment em 2016. Lula acrescentou que Costa “não deixa que ninguém o engane”, além de ser “competente”, “trabalhador” e “cobrador”.
Quatro dias depois, na reunião do dia 14, Lula cobrou que ministros discutam antes suas propostas com Rui Costa, antes de divulgá-las. “Todo e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil”, exigiu.
Vários episódios que ocorreram à revelia da Casa Civil e da Presidência irritaram Lula desde o começo do governo. Um dos mais recentes envolveu o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, que anunciou, precipitadamente, um programa de venda de passagens aéreas a R$ 200 para aposentados, servidores públicos e estudantes.
Dois contratempos envolveram o ministro da Previdência, Carlos Lupi. Na semana passada, o Conselho de Previdência Social reduziu os juros do empréstimo consignado para aposentados e pensionistas do INSS de 2,14% para 1,70% ao mês, sem consulta prévia aos ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Casa Civil. Em reação, até mesmo os bancos públicos suspenderam novos empréstimos.
Lupi é um reincidente em mal estar com Rui Costa. Na primeira semana do ano, o líder do PDT declarou que não existia déficit da previdência. Em entrevista ao Valor, Costa revelou que telefonou para Lupi dizendo que levaria uns extintores para que ele jogasse a gasolina fora. “Claro que tem déficit previdenciário, vamos ter um negacionista dentro do nosso governo?”, cobrou Costa.
Um dos auxiliares mais próximos de Lula disse à coluna que é indevida a comparação de Rui Costa com Dilma Rousseff, porque a ex-ministra e ex-presidente é reconhecida pela falta de traquejo político. Costa, na visão deste auxiliar, seria um técnico com habilidade política.
Enquanto Dilma sempre foi criticada pela classe política por nunca ter concorrido a um cargo eletivo, Rui Costa é coniderado pelos aliados um quadro completo, pelo perfil técnico e político.
Ele começou a carreira como vereador em Salvador, e depois se tornou secretário de governo nas duas gestões de Jaques Wagner na Bahia: foi articulador político do petista, e chefe da Casa Civil estadual. Em seguida, foi eleito e reeleito governador do Estado.
“Lula o quer como gestor, mas ele é um político”, destacou um aliado de Costa. De fato, Lula salientou a ginga política do ministro na solenidade do dia 10. Relatou que se Costa percebe que o interlocutor está dizendo o que não deve dizer, não entrega o jogo, e diz “espera aí, vamos voltar a conversar”.
Para alguns aliados de Lula ouvidos pela coluna, um erro do presidente foi declarar, durante a campanha, que não tem a pretensão de disputar a reeleição em 2026, porque terá completado 81 anos. A afirmação, além de não descartar um recuo, serviu para precipitar a corrida sucessória interna, contribuindo para elevar a tensão entre os auxiliares com ambições eleitorais.
Uma lista informal que circula entre integrantes do Centrão contabiliza, pelo menos, sete ministros e aliados de Lula que seriam pré-candidatos à Presidência em 2026. A relação é encabeçada por Haddad e Rui Costa, e inclui, ainda: Wellington Dias, Camilo Santana, ambos do PT, Simone Tebet (MDB), Flávio Dino (PSB), além da presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
QUE FEMENISMO QUEREMOS? por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo
O filme “Tár” não ganhou o Oscar, mas trouxe à tona o problema do chamado cancelamento. Na história, a brilhante regente Lydia Tár sofre uma escalada de acusações de assédio contra suas pupilas e colegas de trabalho. O tribunal das redes sociais rapidamente a condena. Tár é demitida, não consegue mais emprego de prestígio e acaba num país pobre do sudeste asiático.
Sem julgamento, contraditório ou defesa, a pena veio. A opacidade da narrativa cinematográfica —nunca sabemos ao certo se a regente de fato fez o que alegam que ela fez— mostra a postura que deveríamos ter sobre acusações online: a da incerteza. Caso contrário, corre-se o risco de destruir vidas de inocentes.
Não apenas isso, estamos fragilizando as mulheres. Tal sanha punitivista gera graves consequências psicológicas, já que afeta a sexualidade. Querer expurgar as relações de poder do sexo expõe ignorância flagrante sobre o funcionamento do erotismo. Não existe ação erótica igualitária, e jogos de poder não implicam necessariamente em violência. Mas as novas gerações estão aprendendo a encarar o desejo sexual só pelo prisma do medo. E o medo é a pior forma de autoconhecimento. Por isso acarreta dominação.
Segundo Espinosa, é uma “paixão triste”, o afeto mais manipulado pelo soberano para garantir a manutenção do poder. Não à toa, governos totalitários, de direita e de esquerda, são baseados no terror. É até o nome de um período da Revolução Francesa, durante o qual muitas cabeças rolaram —inclusive a de Robespierre, líder da revolução.
Vamos destruir a nós mesmas? Apoiamos um movimento autofágico?
Precisamos escolher afinal que feminismo queremos. O que estimula o medo em jovens mulheres e as deixa vulneráveis, aos homens e ao Estado, ou um que as incentive em direção ao conhecimento da sua sexualidade —o que as torna mais livres e confiantes para lidar com as relações de poder (posto que eróticas) entre os corpos, sejam elas ruins ou deliciosas.
NOMEANDO A GUERRA, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo
Nomear é definir, singularizar: assumir o controle intelectual sobre um evento. Como nomear a guerra na Ucrânia?
Guerra imperial. Putin qualificou o colapso da União Soviética como “a maior tragédia geopolítica do século XX”. O chefe do Kremlin almeja reconstituir a Grande Rússia — ou, nas suas palavras, a “nação trina” Rússia-Ucrânia-Bielorrússia.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a Europa moveu-se do paradigma imperial para a integração. A mudança decorreu de duas derrotas: da Alemanha nazista no conflito geral e, mais tarde, da França, nas guerras coloniais na Indochina e na Argélia. A União Soviética, porém, não sofreu hecatombes militares — e permaneceu presa ao sonho imperial. A eventual derrota na Ucrânia salvaria a Rússia da obsessão pela Grande Rússia.
Putin nomeia a guerra imperial como guerra patriótica contra o “nazismo”, procurando defini-la como continuação do conflito com as forças da Alemanha de Hitler. É uma fraude com dupla finalidade: cercar-se de uma aura de inocência, dissolvendo a oposição interna à guerra de agressão, e enredar a Alemanha democrática na armadilha da culpa, evitando seu engajamento na ajuda militar e financeira à Ucrânia.
A culpa não é fator desprezível na vida política alemã, ainda marcada pela memória histórica de blindados alemães avançando em terras soviéticas. Não por acaso, Olaf Scholz só autorizou a transferência de tanques Leopard à Ucrânia depois de intensas pressões de seus aliados. É, porém, uma culpa deslocada: na guerra mundial, a Ucrânia sofreu perdas humanas devastadoras, ainda maiores que as experimentadas pela Rússia. Hoje, a Alemanha tem a oportunidade de fazer o certo, ajudando a proteger a nação ucraniana da invasão criminosa de uma Rússia comandada por um regime com nítidos traços fascistas.
Guerra nacional de independência — eis o nome com que os ucranianos batizam a resistência à guerra imperial russa. A Ucrânia tornou-se formalmente independente em 1991, na hora da implosão da URSS. A Rússia reconheceu suas fronteiras em troca da transferência a ela do arsenal nuclear ucraniano. Por duas vezes, em 2014 e 2022, invadiu a nação vizinha, que Putin nega ter direito à soberania.
Povos que conduzem uma guerra nacional de independência são invencíveis, algo que os Estados Unidos aprenderam no Vietnã. Nenhuma extensão de bombardeios, destruições de cidades e crimes de guerra é capaz de apagar a chama da luta pela soberania. Sem a ajuda militar ocidental, o conflito se prolongaria indefinidamente, mas a Ucrânia não pararia de combater. A única forma de abreviar a guerra é fornecer às forças ucranianas os meios militares para impor reveses fragorosos ao invasor, obrigando o Kremlin a ceder na mesa de negociação. Será que Lula entenderá isso antes de discutir na China o “plano de paz” formulado por Xi Jinping com a finalidade de dobrar a Ucrânia às anexações russas?
A resistência ucraniana não interessa apenas à Ucrânia. A guerra deles é nossa — de todos os que enxergam na democracia representativa um sistema que vale a pena defender. Se a Ucrânia tivesse capitulado em semanas, como tantos profetizaram, viveríamos num mundo diferente. Como explica o historiador Timothy Snyder, “agora estaríamos nos perguntando por que ditaduras funcionam melhor que democracias e como russos e chineses ditarão os rumos da ordem mundial”. Mais: uma vitória de Putin abalaria a coesão da União Europeia e pavimentaria a estrada para um retorno triunfal de Trump à Casa Branca.
Putin ordenou a invasão falando sobre Otan, nazismo e o berço ancestral da Grande Rússia. De fato, porém, teme o espectro de uma Ucrânia democrática integrada à Europa: um exemplo daquilo que a Rússia poderia ser. Russkiy mir, “mundo russo”, é o nome que o ultranacionalismo putinista emprega para designar uma autocracia retrógrada em armas. A guerra imperial foi deflagrada para cimentar a tirania de Putin, logo após revoltas populares na Bielorrúsia e no Cazaquistão.
A vitória da Ucrânia significaria, também, a libertação do povo russo. A Rússia precisa da derrota, como a Alemanha e a França precisaram.
Para ler e refletir: o que o governo de Gaspar – não só o prefeito, mas a conivente Bancada do Amém na Câmara, e que nela há duas educadoras – sonega as crianças é o futuro. Não se trata de discurso. Mas, de fatos comprovados por censos.
DISPARIDADES NO ENSINO INTEGRAL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
A educação tem o desafio de garantir igualdade de oportunidades para todos os estudantes. Mas a chance de um aluno da rede pública frequentar uma escola em tempo integral varia enormemente no País, a depender do Estado onde esteja matriculado. Tamanha disparidade ficou evidente nos resultados do Censo Escolar 2022: no ensino médio, por exemplo, 62,5% dos alunos da rede pública em Pernambuco estudavam em tempo integral no ano passado, ante apenas 4,4% no Paraná. No ensino fundamental, o índice no Ceará era de 41%, enquanto o Amapá registrava meros 2,1%. Não é preciso ser especialista para perceber que há algo estranho. Afinal, por que alguns Estados conseguem desempenho tão melhor do que outros na hora de ampliar a jornada escolar?
Bem, a despeito da distância que separa os Estados brasileiros em termos de arrecadação e pujança econômica, todos enfrentam restrições fiscais. Além disso, as unidades da Federação que mais se destacam na oferta de educação em tempo integral estão longe de ser as principais potências econômicas do País. Ao contrário, os dados do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam uma prevalência de Estados do Nordeste e do Norte nas primeiras posições. Motivo a mais para que se preste atenção às taxas de matrícula em tempo integral em cada unidade da Federação.
No ensino fundamental, Ceará, Piauí e Maranhão apresentavam os maiores índices. São Paulo, o Estado mais rico do País, aparecia em quinto lugar, com 19,1% de cobertura, atrás do Tocantins. No ensino médio, por sua vez, a proporção de estudantes em escolas de tempo integral era maior em Pernambuco, Paraíba,
Ceará, Sergipe e Amapá − com São Paulo na sexta posição (24,9%), empatado com Minas Gerais. Vale notar que a média nacional ficou em 14,4%, no ensino fundamental, e em 20,4%, no ensino médio. Ou seja, frequentar escolas públicas de tempo integral, exceto em um ou outro Estado, continua um direito restrito a pequena parcela da população.
Os benefícios educacionais da ampliação da jornada escolar são indiscutíveis para a melhoria da aprendizagem, com reflexos positivos até mesmo na segurança pública. Sim, há evidências de que investir no ensino em tempo integral é uma iniciativa transformadora, algo que diversos governantes já perceberam − e a forma como priorizaram essa política educacional deveria servir de exemplo para o resto do País. A propósito, é isso que governos de países desenvolvidos já fazem há mais tempo.
O Brasil demorou a acordar para a urgência da oferta de ensino em tempo integral. O atual Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu a meta de que pelo menos 25% dos alunos da educação básica sejam contemplados até 2024. Ora, é preciso esforço não só para atingir, mas para ir além dessa meta. Em janeiro, o ministro da Educação, Camilo Santana, prometeu priorizar o tema. Fará bem o governo federal se, em colaboração com os governos estaduais e municipais, acelerar o ritmo. A experiência de alguns Estados, inclusive a do Ceará, que Camilo Santana governou, é uma boa referência.
LULA EXPERIMENTA COM HADDAD UMA NOVIDADE CULINÁRIA: FRITURA POR PROCURAÇÃO, por Josias de Souza no Uol
Após declarar que dinheiro bom é aquele que é investido em obras, Lula pediu pressa dos seus ministros na apresentação de resultados. De Fernando Haddad, cobrou “criatividade” para arrumar as verbas. Esforçando-se para ganhar a confiança do chefe sem aguçar a desconfiança do mercado, o ministro da Fazenda apresentou ao Planalto sua proposta de nova regra de controle dos gastos públicos. Foi torpedeado pela banda “desenvolvimentista do PT”, representada na sede do governo por Rui Costa, o chefe da Casa Civil.
Haddad tinha até 31 de agosto para levar à vitrine a regra que substituirá o teto de gastos. Adiantou o relógio porque queria fornecer material para o Banco Central baixar a taxa de juros em reunião marcada para a próxima quarta-feira. Foi submetido por Lula a um chá de cadeira de duas semanas. Com as carabinas do petismo a roçar-lhe as têmporas, o ministro encontrou solidariedade no centrão de Arthur Lira. Quando finalmente obteve espaço na agenda do chefe, na última sexta-feira, Haddad foi surpreendido pela contradita da Casa Civil.
A receita de Lula ficou confusa. Usou a “frente ampla” para se eleger. Compôs um ministério em que auxiliares precários como o manga-larga Juscelino Filho passam a sujo a Esplanada onde cintilam Marina Silva e Simone Tebet. Manteve o centrão dentro do cofre. Envernizou o prestígio de Arthur Lira. Alegou que precisa de Lira e do centrão para que as reformas passem no Congresso. Quando Haddad apresenta a primeira reforma relevante, Lula submete seu principal ministro a uma novidade culinária: a fritura por procuração. É como se cogitasse aproximar Haddad da frigideira sem tocá-lo.
A pasta da Fazenda lida com um déficit público duro de roer. Coisa de R$ 230 bilhões. Ou 2,3% do PIB. Haddad diz que conseguirá zerar o passivo até 2024. Para atingir meta tão ambiciosa sem travar os planos de Lula, teria que evoluir da criatividade para a magia. Não basta tirar coelhos da cartola. Terá que tirar cartolas de dentro dos coelhos. Prestigiado pelo chefe, seria difícil. Torpedeado pelo próprio partido, fica mais complicado. Trabalhando com um olho nas contas e outro no companheiro Rui Costa, Haddad tomará lentamente o rumo do óleo quente.