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SE SC PENSAR EM DESENVOLVIMENTO, O GARGALO ESTÁ NA LOGÍSTICA, NA MOBILIDADE E NOS RISCOS DOS EVENTOS CLIMÁTICOS SEVEROS. SE PENSAR EM QUALIDADE DE VIDA E TURISMO, A DEFICIÊNCIA ESTÁ NO SANEAMENTO, BALNEABILIDADE, SEGURANÇA, REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL, HABITAÇÃO…

Hoje fujo da aldeia, entretanto, continuo, contextualizando Gaspar neste ambiente de prioridades desconexadas.

Jorginho Melo, PL, é um forte candidato, até agora, a ser um dos piores governadores de Santa Catarina. Por que? O negócio dele é politicagem. Um outro quase imbatível neste aspecto foi o servidor público estadual, o piauiense Paulo Afonso Evangelista Vieira, MDB (1994/98). Também fazia politicagens e negócios que endividaram o estado. Operações para fazer caixa e que quase quebraram o estado. E o melhor? Celso Ramos, PDS (1961/65), filho de Vidal e irmão de Nereu, pecuarista depois de interromper o curso de Engenharia de Minas. Ele concebeu e estruturou o modelo de desenvolvimento – com diversificação – que forjou o estado barriga-verde.

Esta foto que abri o artigo de hoje é da semana passada. Ela registra um ato que pode passar longe de Gaspar – mas, não. Ela mostra o governador Jorginho, aparente e finalmente longe das articulações políticas para as disputas municipais de seis de outubro. Jorginho “deixou” a gestão do governo e quis – com seus filhos e posteriormente com a intervenção de mão de ferro e vingança no Republicanos – ser o centro das decisões político-eleitorais deste ano no ambiente conservador. E por quê. O campo conservador está minado. E o PSD pode aglutinar este campo pragmático e ser o Calcanhar de Aquiles contra Jorginho no próximo embate eleitoral. 

ESCOLHAS CONTRA O TEMPO DE COLHER

Os acertos e estragos dessas escolhas do político Jorginho Melo, PL, todavia, só saberemos no que tange ao campo eleitoral depois das 17 horas do dia seis de outubro. Deixemos de lado por enquanto.

No ambiente administrativo Jorginho, porém, até agora, não plantou uma marca para colher nem neste outubro e muito provavelmente, em outubro de 2026.

O erro tático está escancarado e o tempo curto – à medida que se aproxima este outubro e da sua reeleição, num Brasil que será bem diferente do de hoje – trabalha contra as escolhas e decisões que o político Jorginho tomou até aqui. E se o modelo personalíssimo de Jorginho em ocupar espaços não for amplamente vitorioso neste outubro, faltarão cabos eleitorais para o outubro de 2026. E mais uma vez, ao invés de focar em gestão e resultados, terá que priorizar e perder tempo em politicagens, desgastes e recomposições. Se o Brasil de 2026 for diferente, ganhará quem tiver nas mãos não cabos eleitorais, mas melhor imagem de gestor e não exatamente de político.

O que ajuda muito um político administrador ser reconhecido pelo eleitorado é o de construir uma marca com resultados percebidos por essa parcela significativa do eleitorado. E Jorginho Melo está devendo, até porque, é muito cedo para cobranças. Mas, como tudo amadurece num determinado tempo, e no ambiente público, isso é muito mais demorado e até imprevisível, o governador, pela toada do que vem priorizando, vai ter pouco para mostrar em meados primeiro semestre e parte do segundo de 2026, resultados como alavancadores de confiança e continuidade do seu governo de hoje.

DESENVOLVIMENTO TRAZ DIVIDENDOS ELEITORAIS

A foto da abertura do artigo mostra Jorginho vistoriando uma obra de duplicação de pouco mais de 2,5 quilômetros da rodovia estadual 441, que une Criciúma e Içara até a BR-101. Ela está estimada em quase R$44 milhões. Começou no governo do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos. E deve estar pronta no final do ano que vem para o palanque de 2026. Este é o jogo onde quem ganha são todos da região beneficiada, quem começa, quem termina

Como descortinei no título, se Santa Catarina pensar em perpetuar o desenvolvimento (diferente de crescimento) competitivo – nacional e internacionalmente – ela possui dois grandes gargalos: o logístico e a mobilidade.Se pensar em desenvolvimento sustentável, Santa Catarina tem dois riscos: o ainda desconhecido impacto da reforma tributária sobre o setor produtivo, comercial e de serviços, bem como as urgentes mitigações para os eventos climáticos.

Exemplos? Vamos aos daqui de perto e que conhecemos bem.

Santa Catarina está inviabilizando, entre as suas marcas de conquistas, os seus maiores dois portos do Vale do Itajaí (Navegantes, o terceiro do Brasil em movimentação de contêiners, exatamente por ser privado e que se expande) e Itajaí, estatal, que por conta disso, está parado há mais de um ano provocando prejuízos na geração de mão-de-obra,​ na ausência de tributos para todas as esferas e ao mesmo tempo inibindo a alavancagens de negócios.

É culpa só deste governo estadual – o indutor de soluções compartilhadas – ou federal. Não, absolutamente. Mas, serão – especialmente o estadual. Por que estes portos são se tornando inviáveis? A BR-101 está estrangulada na foz do Rio Itajaí. E os burocratas movidos por seus políticos de estimação estão debruçados sobre estudos, por prazos longos, que serão ainda mais alongados. Não exatamente por soluções urgentes. Impressionante.

ESTUDOS SÃO FUNDAMENTAIS, MAS NÃO PODEM SUPERAR NO TEMPO A URGÊNCIA DA SOLUÇÃO DE CURTO PRAZO

Quando se estuda a duplicação da BR-101, ou algo alternativo – pois vamos com isso criar novas referências de mobilidade e sair do aumento da saturação num mesmo ponto – , qual a razão para no mesmo traçado, não se implantar uma ferrovia ligando os portos da região de São Francisco do Sul e Itapoá com os de Navegantes e Itajaí, interligando este novo curto traçado à malha nacional?

A linha férrea tiraria parte significativa de hoje, e principalmente do futuro, de movimentação de cargas pesadas da BR-101. 

Este novo trecho na duplicada Antônio Heill, que vai de Brusque a BR-101, também já cria mais fluidez e segurança. E a Antônio Heill duplicada, com uma Ivo Silveira que virou caminho da roça, porque os políticos (e até empresários) de Gaspar não a querem duplicada- e agora o governo do estado diz não ter dinheiro para isso – se tornou de pouca valia à alternativa de desafogo da própria BR-101 aos do médio Vale do Itajaí obrigados a quase urbana – e esgotada – Jorge Lacerda entre Blumenau e Itajaí. Incrível!

Há candidatos a prefeitos de Gaspar – incluindo quem está contra a duplicação da Ivo Silveira – pedindo a terceira ponte em Gaspar sobre o Rio Itajaí Açú. Excelente. Mas, é de se perguntar para essa gente para quê, exatamente? Resolver as agruras paroquiais, ou para ajudar a fomentar o desenvolvimento local e regional – entre Brusque, Gaspar e Blumenau -, ganhando competitividade na superação do gargalo em que está metida a BR-101 na região de Itajaí e Navegantes e a própria Jorge Lacerda, impedindo que a duplicação da BR-470 se torne uma via auxiliar de mobilidade urbana de Gaspar, Ilhota e Blumenau? 

O POLÍTICO NÃO CONSEGUE EXERGAR O TODO E O QUE ESTÁ LHE DESAFIANDO

Uma coisa se interliga com outra, inclusive com o governo Federal, o que nos deixa à míngua desaforadamente no retorno dos impostos que geramos para Brasília. Queremos desenvolvimento com competitividade, mais geração de tributos, riquezas, empregos e qualidade de vida? Antes é preciso estudar, fundamentar, planejar, priorizar e investir.

É impressionante como o governador Jorginho não consegue olhar o todo do mapa catarinense, brasileiro e dos problemas gerados pelas próprias oportunidades e com isso, inserir-se nelas como um líder ousado e diferenciado. Saiu de uma campanha eleitoral, está em outra e se preparando para a próxima. E o estado metido em dilemas. E o governador ausente deles.

É de se perguntar como uma região abaixo de Ibirama vai se desenvolver – ou alguém vai querer aportar investimentos – se a barragem Norte – onde estão a própria Ibirama, Indaial, Timbó, Apiúna, Blumenau e Gaspar – está inoperante? Jorginho Melo parece que abraçou a síndrome do “Céu Azul”.

Exagero? Na mesma semana passada da foto acima, o Ministério Público teve que enquadrar o governo do estado para ele resolver os simples problemas de manutenção da Barragem Sul, em Ituporanga. E mesmo assim, Jorginho achou que foi “traído” por quem deveria ter ficado quieto e esperar ser engolido pelas próximas enchentes decorrentes da inanição governamental e incapacidade de operação de uma barragem que consumiu milhões para a proteção e segurança, mas que simplesmente não consegue ser mantida pelo poder público.

Vamos mais adiante.

Como atrair turistas para as nossas praias, para à diversificação geográfica natural, eventos se não se chega ou sai ao Aeroporto de Navegantes – que precisa do prolongamento e até duplicação da sua pista -, não se supera poucos quilômetros nas rodovias, para se chegar a outros caminhos alternativos já comprometidos – como a rodovia Ivo Silveira – , se a balneabilidade das nossas praias – e não só as do litoral Norte – está deteriorada por insistência em manter uma empresa – como a Casan – incapacitada economicamente para produzir resultados aos termos do que exige o novo marco legal?

Jorginho, o político, quer fazer o máximo de prefeitos neste seis de outubro só para torná-los uma máquina fiel e fácil de votos de sua reeleição em 2026, sem antes apresentar resultados para os cidadãos, cidadãos, investidores, empresários competitivos catarinenses. E se esta maquinação rasteira e pequena contra um estado de vocação ao pioneirismo e resultados empreendedores falhar, como falhou em várias articulações? Jorginho estará apenas à mercê de seus discursos e apoiadores. E o estado não terá avançado de verdade, mais uma vez, mesmo naquilo que se apresenta como emergencial. Só estudos, discursos, promessas…

Jorginho dá mostras claras de estar alheio ao ambiente catarinense que tornou o estado diferenciado, atrativo e principalmente, resolutivo. E foi por isso que Santa Catarina “andou” mais até aqui que os nossos próprios políticos daqui e os que nos representam em Brasília. Eles vêm falhando em dotar o estado de infraestrutura para manter esta máquina funcionando e se superando.

Os nossos políticos, e a gente vê isso muito na disputa em Gaspar, não são capazes de produzir resultados na medida da necessidade e diagnóstico. Só discursos para a sociedade, eleitores e eleitoras, vendendo-se como promotores do desenvolvimento e qualidade de vida. Nem “plano de governo”, como se viu naquilo que registraram na Justiça Eleitoral, são capazes de escrever compatíveis com as necessidades e a realidade, quanto mais executá-los.

O que importa para essa gente é o poder pelo poder. E quando nele, são capazes de descontruir o legado que receberam. Por isso, não se estabelecem como referências para o novo salto. Ignoram a história de sucesso e insucesso dos seus antecessores para balizarem este avanço esperado por todos. Jorginho hoje está muito mais próximo de Paulo Afonso do que Celso Ramos.

TRAPICHE

Até esta segunda-feira, segundo o site da Justiça Eleitoral, todos os cinco candidatos a prefeito de Gaspar nestas eleições de seis de outubro ainda não tinham seus pedidos de candidaturas diferidos. Apenas as coligações do PT e a do PP tinham sido aprovadas pela Justiça aqui de Gaspar.

Além da maioria dos 120 candidatos a vereador pelas cinco forças políticas que ser formaram para disputar uma das 13 vagas na Câmara de Gaspar estar nas fotos com os braços cruzados, numa revelação do que pode ser o futuro deles em relação a colocar as mãos na massa pela cidade, cidadãos e cidadãs, alguns santinhos começam a ter a mesma cara “criativa”, graficamente. E no meio deles, gente que promete que vai “inovar”. Será?

O patrimônio declarado dos candidatos a prefeito de Gaspar. O serventuário da Justiça, Ednei de Souza, Novo, encabeça a lista com R$2.085.000,00, seguido pelo delegado Paulo Norberto Koerich, PL, R$1.367.000,00, bem como pelo aposentado e ex-prefeito por três mandatos, Pedro Celso Zuchi, PT, com R$1.054.116,00.

Na rabeira desta lista de patrimônio pessoal que os candidatos declararam à Justiça Eleitoral estão o atual vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, PP, com R$379.085,19 e o empresário Oberdan Barni, Republicanos, com R$185.000,00.

Esta foto feita na quinta-feira passada no restaurante Questão de Gosto, durante o evento da apresentação da “Cartilha” de pedidos e prioridades das entidades de empresariais de Gaspar (Acig, Ampe e CDL, num movimento da Facisc) aos candidatos a prefeito de Gaspar, é no mínimo curiosa, mas ao mesmo tempo reveladora como foi em si, o convescote de pouco prestígio, pois praticamente se restringiu a pequenos grupos de acompanhantes desses candidatos.

Do lado esquerdo das entidades se juntaram os candidatos Paulo Norberto Koerich, PL, e Marcelo de Souza Brick, PP, com os seus respectivos vices. O que reflete esta cena, quase natural? Afinidade, disfarçada de concorrência, mas que, no fundo, sugere continuidade. Nesse bololô estão de fato o PL com o PP, MDB, União Brasil, PRD e PSD, inflados com parte do PDT e PSDB, além da classe empresarial que elegeu Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo, mas que agora, prefere o delegado Paulo.

Do lado direito, ficaram o que está escrito em Gaspar que se intitula de oposição ao que está aí instalado e quer a perpetuidade. O ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT que já teve apoio da classe empresarial quando o PT era a tábua de salvação da moda como é o PL hoje, bem como os intrusos entrantes neste jogo de cartas marcadas, Oberdan Barni, Republicanos, e Ednei Souza, Novo.

O documento das entidades que todos os candidatos disseram, nos dois minutos de fala deles no convescote, de que vão cumpri-lo, ou já estão contemplando nos seus “planos de governo” é, no fundo, tudo aquilo que venho escrevendo sobre o assunto, e que fez parte de vários comentários ao longo dos anos sobre as administrações de Kleber Edson Wan Dall, MDB, com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, no primeiro mandato, e com Marcelo de Souza Brick, PP, no segundo.

A “cartilha” com algumas aberrações, relembra mais sobre as soluções prometidas no passado pelos candidatos e não realizadas pelos eleitos até agora. Não trata de avanços, prioridades, gestão, compartilhamento e regionalização. Fala, praticamente, de “consertação”. Desperdício em algo tão crucial e com anos de atraso.

Como podem ainda as entidades pedir mais dinheiro para o Hospital, sob intervenção municipal, sugadouro de imensa quantia de dinheiro que está comprometendo o Orçamento Municipal, sem antes, exigir a transparência do que se faz com o dinheiro colocado lá? Nenhuma empresa associada as entidades fariam esse suicídio econômico-financeiro em seus negócios, sem antes fazer um pente fino naquilo que atrapalha e não dá retorno para a empresa e sócios. Sem um Hospital crível, com uma gestão transparente perde a sociedade, os profissionais, a saúde pública em si e os doentes.

O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, estava presente no convescote das entidades empresariais. E não ficou vermelho, em momento algum. Estava leve e solto. O seu vice, Marcelo de Souza Brick, PP, nos seus dois minutos de fala quase provou que Gaspar é uma das sete maravilhas do mundo. Nem ler com atenção à cartilha que recebeu, parece que conseguiu. Muito menos os “Planos de Governos” que os candidatos apresentaram na Justiça, e que três deles eu já os pincelei aqui. Eles dizem que vão fazer o que prometeram há décadas para a cidade e não se cumpriram até agora.

E por falar em “Planos de Governo”, o candidato a vice-prefeito, engenheiro, professor e doutor Rodrigo Boeing Althoff, PL, vice, do delegado Paulo Norberto Koerich, PL, anunciou nas redes sociais que está passando um pente fino nos detalhes do “Plano de Governo” que a coligação deles colocou no site da Justiça Eleitoral. Faz bem. Mas, o problema não está exatamente nos detalhes, mas nos fios condutores macros. E o engenheiro, o especialista em cidade e doutor acadêmico neste assunto, sabe disso. Ele, mais que todos é conhecedor desta matéria.

As entidades pediram também mais atenção das autoridades a um tal de DEL – Desenvolvimento Econômico Local. Sinceramente: o que o tal de DEL produziu, além de uma boa série de levantamentos e diagnósticos da nossa realidade econômica, social e produtiva? Dados e números não valem nada se não usados para a transformação em favor do setor produtivo, do desenvolvimento e da qualidade de vida à comunidade. Ou vão dizer, mais uma vez, que esta tal fantasia de políticos da Capital Nacional da Moda Infantil é fruto do DEL?

Aliás, depois de anos deste atestado dado pelo Congresso Nacional para Gaspar, finalmente, vamos ter ao menos um ponto de referência para varejistas e atacadistas. Será o Atacadão da Moda Infantil, ali da Hercílio Fides Zimmermann, entre a entrada da BR-470 e a velha ponte Hercílio Deecke, numa estrutura de contêiners.

O ex-prefeito de três mandatos, Pedro Celso Zuchi, PT, fez um filmete de campanha. “Ando pelas ruas da cidade e dou um sorriso a cada passo“. O vídeo não mostra isso. Alô diretor de cena! Zuchi afirma que reabriu o Hospital. Não é bem assim. Sou testemunha. Recebeu restaurado dos empresários. E fez intervenção marota que deu no desastre incontrolável de hoje. O candidato devia, por obrigação, estar falando de como vai reverter esse bicho de sete cabeças que criou contra o povo pobre. Mas, o pior nem está aí. Diz que enfrentou junto a catástrofe de novembro 2008.

Pedro Celso Zuchi, PT, joga com a memória curta dos eleitores mais jovens. Em 2008 ele não era prefeito. Era Adilson Luiz Schmitt, o único a vencê-lo até agora, mas que naquele novembro, estava curtindo a derrota na tentativa de reeleição, exatamente para Zuchi. Nem por isso, Adilson deixou de ir atrás de soluções emergenciais, as quais, posteriormente, o PT até levou aos órgãos de fiscalização por supostas dúvidas e do qual Adilson se livrou de todas, graças ao seu ex-procurador geral, Aurélio Marcos de Souza. “[Zuchi] Não fez nada. Só apareceu na manhã do dia 22 de novembro quando explodiu a tubulação da SC perto do La Terra”, rebateu o ex-prefeito Adilson.

Jair Messias Bolsonaro é uma entidade apartada. Estas eleições municipais vêm mostrando isso. O PL é o partido onde está Bolsonaro, mas não é o partido dele que até tentou e desistiu. Começam a pipocar demonstrações de interesses políticos da família Bolsonaro em detrimento da direita e do PL. É ele – e os filhos – quem escolhem os apoios e apadrinhamentos locais.

Bem como as confusões e jogos dúbios, como fez com atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, MDB, e o entendido em redes sociais, Pablo Marçal, PRTB, na corrida da capital paulista. Pablo se tornou um problema para a esquerda e para Jair Messias Bolsonaro. No Rio de Janeiro, o apoio de Bolsonaro ainda é poeira ao delegado geral da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, PL. Em outros importantes municípios do Sul, reduto bolsonarista, igualmente.

Elio Gaspari, explicou bem este fenômeno ontem nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo – e eu reproduzi na área de comentários – esta suposta falta de força de Bolsonaro em ambientes, que a priori, deveria ser decisivo. O artigo “Bolsonaro e o voto conservador” esclarece alguns pontos neste aspecto. Vale a pena ler, e refletir.

Este jogo duplo, ou dúbio de ambas as partes, custou a queda das intenções de voto à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, MDB, e a subida, de um outsider, extremamente cheios de dúvidas, Pablo Marçal, PRTB, que já foi o quase o homem forte na comunicação na tentativa de reeleição de Jair Messias Bolsonaro, PL, em 2022. Só não se concretizou, segundo ele próprio esclareceu agora nas redes sociais, porque o ciúme do vereador do Rio de Janeiro, e filho de Jair, Carlos Bolsonaro, PL, nesta área, desalojou a estratégia agressiva e esperta de comunicação preparada por Marçal para Jair nas redes sociais.

Começa na sexta-feira a propaganda de rádio, televisão. Em tempos de mídia social, o quanto este tipo de propaganda gratuita para os candidatos e bilionariamente cara para os nossos bolsos, via os pesados impostos, poderá ser decisiva? Quem para e ouve rádio, ou vê tevê, se tudo do nosso dia-a-dia está na palma das nossas mãos e somos nós que ditamos as nossas disponibilidades, curiosidades e seletividade quando nos estabelecemos em bolhas? Aqui em Gaspar, até debate eleitoral é um palavrão, principalmente para quem diz que está na frente nas pesquisas. Se debater, sabe que a casca trinca.

O senador Jorge Seif Júnior, PL, entrou novamente na boca do lobo com a suposta proximidade do julgamento dele por suposto abuso de poder econômico na campanha que o elegeu em 2022, e que o ex-governador Raimundo Colombo, PSD, quer vê-lo fora do Senado.

Jorge Seif Júnior, PL, já esteve com o mandato virtualmente cassado quando o ministro Alexandre de Morais, ex-presidente do Superior Tribunal Eleitoral, era o xerifão da área. Os adiamentos deram a sensação de reversão daquelas expectativas. Agora, está tudo pior: Seif foi para um perigoso limbo. Que entre outras, poderá livrá-lo da cassação.

Pronto. Bastou esta ponte de bastidores dele para se salvar da degola que já tem bolsonarista – inclusive em Gaspar – chamando-o de traíra. Nos bastidores, Seif Junior salta como pipoca em frigideira, incluindo à intermediação do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, Republicanos, com ministro Alexandre de Moraes. Os bolsonaristas, viram e mexem, parecem gostar de suicídios. Não podem ver um dos seus se salvar. Não bastou ser o melhor cabo eleitoral e eleger Luiz Inácio Lula da Silva, PT? Ainda voltarei a este assunto no caso específico de Gaspar.

A deputada Caroline De Toni, PL SC, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal está com a corda toda. Com o sinal verde recebido do presidente da Casa, Arthur Lira, PP-AL, começou a analisar Projetos de Emenda à Constituição que enquadram os ministros ou o Supremo Tribunal Federal.

Não vou entrar no mérito de nenhum deles, até porque alguma coisa precisa ser feita para a Suprema Corte voltar à sua origem de examinadora máxima, com autoridade e autonomia, das matérias arguidas ou vindas do Legislativo e que supostamente, ferem ou até desconstituem à nossa Constituição Federal.

A catarinense Caroline De Toni, PL, todavia, exagera e cria holofotes para si. Quem abriu a porteira para ela e a CCJ assim agirem como chantagistas e não como agentes de controle, foi o presidente da Câmara, Arthur Lira, PP-AL, numa briga muito particular dele com o STF. É um cabo de guerra da Câmara com o STF para continuar, sem regras de transparência e auditorias, tomando as bilionárias emendas parlamentares do Orçamento do Executivo.

O STF determinou o fim da farra. O acordo na semana passada com o Palácio do Planalto num ajuste tripartite STF, Congresso e Executivo foi muito favorável ao parlamento. Entretanto, ainda não agradou a Arthur Lira, PL-AL. Quando eles (STF, Executivo e Congresso) se acertarem, Lira vai tirar o fôlego e o leite da CCJ. Carolina De Toni, PL-SC, ficará sem voz. Simples assim. E o Brasil volta ao normal dos políticos que abrem a porteira a passam a boiada na nossa frente, com os nossos votos e pesados impostos. Nem mais, nem menos.

Candidato solo. O vereador Ciro André Quintino, MDB que tenta continuar vereador, no material de campanha que está distribuindo não está se associando ao candidato Marcelo de Souza Brick, PP, e Ivete Mafra Hammes, MDB. Estranho? Não! Avisados todos estavam. E Ciro foi advertido por muitos de que estava sendo engolido pela própria pirotecnia populista que produzia para buscar a candidatura a prefeito, ou até de vice.

Ciro André Quintino, MDB, dono de uma kombi, nunca conseguiu, de verdade, entrar no ônibus do MDB gasparense. Queria e fez de tudo numa campanha antecipada para ser indicado pelo partido a prefeito. Como sempre antecipei, foi engolido não só pelas circunstâncias, mas também pelo próprio descomprometimento de Kleber Edson Wan Dall, MDB, com o projeto Ciro. Kleber dominou o enfraquecido e dividido diretório ao nominar a sua ex-secretária de Educação e hoje vereadora, Zilma Mônica Sansão Benevenutti.

Coisa de marqueteiro estrangeiro. O candidato é nascido em Gaspar. Viveu Gaspar. Conhece a cidade geograficamente como poucos. E na campanha, eles fazem troça numa peça publicitária que rodou os aplicativos de mensagens. Nela, com algum embaraço, o candidato, gasparense nato, tenta provar que conhece Gaspar citando os bairros da cidade, como se um alienígena fosse. Meu Deus!

O PL de Gaspar desceu do pedestal. Tirou o escritório de campanha do aparente luxuoso Edifício Atitude e foi para o chão da rua na Doralício Garcia, onde antes era o domínio do empresário, líder comunitário e ex-prefeito, Bernardo Leonardo Spengler, MDB (1997 a 2000 quando seu mandato foi interrompido e não mais voltou).

Antes, precisou de muito convencimento de que o antigo escritório era símbolo bem claro de isolamento do partido e candidatos, de que aquilo se associava com a elite que domina a política de Gaspar por décadas afio e não do povo que diz ser e onde precisa pisar para a cabala dos votos se quiser vencer uma eleição por aqui.

Candidato a vereador se considera reeleito. Ao invés de postar vídeos e fotos dos tempos de campanha na busca de votos para si e seu candidato a prefeito, exibe viagens. Muda, Gaspar!

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9 comentários em “SE SC PENSAR EM DESENVOLVIMENTO, O GARGALO ESTÁ NA LOGÍSTICA, NA MOBILIDADE E NOS RISCOS DOS EVENTOS CLIMÁTICOS SEVEROS. SE PENSAR EM QUALIDADE DE VIDA E TURISMO, A DEFICIÊNCIA ESTÁ NO SANEAMENTO, BALNEABILIDADE, SEGURANÇA, REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL, HABITAÇÃO…”

  1. FAZER O “M” DE MARCOLA, por Marcelo Godoy, no jornal O Estado de S. Paulo

    As ligações da criminalidade organizada com a política nunca foram tão extensas como nas eleições deste ano. A Itália, terra da máfia, registra um sentido particular para o verbo “sdoganare”, fazer passar pela alfândega. É aquele que se refere à concessão de legitimidade e respeito a quem antes era um pária ou contra quem o sistema político opunha seus vetos, como os impostos a extremistas e mafiosos.

    O acúmulo de casos de candidatos e – pasmem – dirigentes partidários investigados ou condenados por delitos ligados à criminalidade organizada em São Paulo mostra que à miséria da política – povoada por casos de corrupção e pela defesa de privilégios de castas insensíveis às angústias da população –, o eleitor pode acrescentar a desgraça do narcoestado, sdoganando mafiosos por meio do voto.

    Conservadores que repudiam o governo da Venezuela deviam se lembrar das acusações que ligam seu ditador ao tráfico de drogas antes de votar em candidatos suspeitos, como se dissessem me ne frego, pouco me importa, a exemplo dos italianos. Da mesma forma os progressistas que lembram o papel do deputado comunista Pio la Torre no combate à máfia na Itália não podem tolerar políticos ligados às cooperativas de ônibus notoriamente dominadas pelo PCC.

    Há limite para o antipetismo bem como para o antibolsonarismo. E esse limite é simples: não há saída fora da política; só o discurso radical e cego de quem pretende atear fogo à própria casa pode achar que político desonesto é a mesma coisa do que um criminoso de uma facção qualquer. Experimente convidar um latrocida ou um estuprador para jantar em seu lar para saber rapidamente a diferença entre uns e outros.

    Quando um partido político não toma os devidos cuidados ao convidar uma “liderança” e conceder a ela um espaço na lista de candidatos, ele expõe os eleitores a um perigo mortal para a República. Ainda que a política não seja propriamente um reino de vestais, ela só faz sentido como forma de alcançar o bem comum e não o de poucos, que buscam tiranizar os demais.

    No momento em que Arthur Lira pretende estabelecer um regime de cárcere duro, como na Itália, para o cumprimento de pena de integrantes de organizações mafiosas, é necessário que a política erga barreiras intransponíveis para afastar das urnas de forma perene e rápida os integrantes de facções e milícias, bem como seja punida a omissão criminosa de quem permite à bandidagem se apossar de diretórios e outras estruturas de poder. A condescendência com a criminalidade organizada – em busca de dinheiro e de votos – é um dos mais perigosos delitos que um político pode cometer: é fazer o ‘M’ de Marcola. Ou de Motisi, o capo da Cosa Nostra.

  2. PABLO MARÇAL E SEU TELEFÉRICO, por Elio Gaspari no jornal O Globo e Folha de S. Paulo

    Pablo Marçal, segundo as pesquisas, é uma novidade na política de São Paulo. Na noite de segunda-feira, o candidato a prefeito foi entrevistado na GloboNews. A primeira pergunta tratava de sua proposta para o sistema de transportes numa cidade onde os ônibus se movem a 16 quilômetros por hora.

    Ele respondeu, criticando as promessas do prefeito Ricardo Nunes, prometendo empregos. De transporte mesmo, falou rapidamente de teleféricos. Mais adiante, cobrado, revelou que transportariam os passageiros a 22 quilômetros por hora, em linha reta. Lembrado de que São Paulo é uma cidade plana, não elaborou o tema. Topograficamente, um teleférico paulistano poderia levar os banqueiros da Avenida Paulista às suas casas nos Jardins.

    Foi o melhor momento propositivo da entrevista. Fosse qual fosse o tema, Marçal repetia que suas ideias serão testadas com novas tecnologias. Um exemplo: Londres tem bons números de segurança porque usa programas de inteligência artificial. A velha cidade tem segurança há mais de um século, graças à inteligência craniana.

    Quando o tema passou para as ligações documentadas de seu partido com o crime organizado, defendeu-se dizendo que não é dono da sigla e reconheceu que o fato “é constrangedor”. Marçal mencionou três vezes as acusações e os processos movidos contra Lula e expôs uma visão universalista:

    — Se for para moralizar, tem que moralizar direito.

    E se não for?

    — Tem que limpar o país inteiro.

    Concluindo:

    — Meu partido é o Brasil. (Não, é o PRTB.)

    De maneira geral, propõe testar ideias antigas, progressivamente. O novo de Marçal é velho como a Sé de Braga. Promete criar 2 milhões de empregos, enxugar a máquina, melhorar a arrecadação.

    A qualidade do ar é ruim? Plantaremos árvores. Ensinou por três vezes que os problemas têm causas e efeitos. Assim, a Cracolândia resulta de migrações internas, com os efeitos conhecidos. Entre um e outro, nada. Tangencialmente, disse que é preciso desenvolver o esporte nas escolas.

    Marçal propõe a criação de um “Paço Municipal” e promete estimular centros gastronômicos. Mais adiante, bingo! Revisará todos os contratos de transporte da Prefeitura. (O doutor é novo na política. Até hoje, essa proposta só serviu para azeitar a revi$ão.)

    Marçal é um caso raro de coitadinho profissional agressivo. Em geral, essa espécie é mansa, até a hora do bote.

    — Está todo mundo contra mim.

    E esclareceu:

    — Agradeço a perseguição.

    De onde saiu esse asteroide? Em parte, do eleitorado que não confia em políticos. Em outra parte, do voto de quem não gosta da administração de Ricardo Nunes, nem da biografia de Guilherme Boulos. Numa terceira parte estão os eleitores desencantados. Gente que viu o carro da Lava-Jato atropelar larápios do andar de cima e acabou obrigada a assistir à concessão de indulgências plenárias a gatos e lebres.

    Comparar o vigor de sua campanha ao voto para vereador dado ao rinoceronte Cacareco em 1959 é impróprio. Ninguém pretendia botar o animal na Prefeitura onde estava Adhemar (“Rouba mas Faz”) de Barros. Em 1961, ao escolher o novo prefeito, São Paulo recolocou na cadeira o engenheiro Prestes Maia, um dos melhores da galeria.

  3. Nada é mera coincidência. Os candidatos de São Paulo apenas estão mais vigiados nas suas companhias pela imprensa livre…

    AS COMPANHIAS DE MARÇAL, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

    Pablo Marçal deve sua candidatura a um sujeito que se vangloria de suas conexões com o crime organizado. Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, é um nome desconhecido, mas carrega uma bagagem pesada. Embarcou num avião com suspeitos de integrar o PCC e foi gravado dizendo que ajudou a libertar um chefe da quadrilha.

    Avalanche não é uma peça qualquer nessa empreitada eleitoral. Ele tomou o controle do PRTB no início do ano e pavimentou o caminho para Marçal. O próprio ex-coach reconheceu que, sem o acordo com a sigla, não estaria na disputa. “Eu não escolhi o partido. Foi o único que teve para entrar”, disse, na GloboNews.

    O presidente da legenda ofereceu um produto valioso. Sufocou dissidências, trocou o comando da sigla e facilitou a aprovação da candidatura. Uma ex-dirigente disse ter sido ameaçada de morte para entregar o cargo que ocupava. O registro de Marçal na disputa foi chancelado por gente que, até a chegada de Avalanche, nem era filiada ao partido.

    Marçal fez carreira com a venda de terrenos na Lua. Agora, ele quer convencer o eleitor de que, desta vez, foi feito de otário por outros malandros. O ex-coach afirmou desconhecer ligações de Avalanche com criminosos, disse nunca ter ouvido falar de outros nomes da sigla vinculados ao PCC e sugeriu que o presidente do partido se afastasse.

    Mesmo que Avalanche topasse o conselho, o controle do partido permaneceria em suas mãos. O dirigente fez um investimento em São Paulo, com Marçal como principal ativo, e vai em busca de retorno. Seria ilusão acreditar que o presidente da sigla abriria mão de cargos e influência na prefeitura em caso de vitória.

    Marçal descreveu as conexões de Avalanche e outros dirigentes como um constrangimento. Foi uma péssima declaração de inocência. O PCC tem um projeto de poder que depende do acesso às máquinas governamentais. Uma porta aberta na maior cidade do país seria muito mais grave do que um embaraço capaz de ferir a vaidade de um candidato.

  4. TRANSIÇÃO ENERGÉTICA DE LULA É BALELA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Quando se trata de transição energética, em qualquer lugar do mundo, o desafio é encontrar meios de substituir a queima de combustíveis fósseis, que agrava a mudança climática, por fontes limpas de energia. Não no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), porém.

    O pacote recém-lançado pelo Planalto, apesar da alcunha “verde”, enganosa, tem os olhos no passado. Quase tudo nele se volta a fomentar o consumo de gás natural, outro fóssil a jorrar dos campos do pré-sal, numa reprise do delírio estatizante que tantas brechas abriu, não faz muito, para a corrupção.

    “O gás é nosso” poderia ser o lema dessa recaída no estilo varguista de propelir o desenvolvimentismo nacionalista com hidrocarbonetos enterrados há milhões de anos. Trata-se de um recurso finito e condenado à obsolescência pela luta contra o aquecimento global.

    Até incentivos para a moribunda indústria naval o programa traz, à revelia dos fracassos no setor e na contramão da política da Fazenda de rever benefícios tributários.

    Nem mesmo se empregou a tese de acelerar os fósseis para financiar a transição no sentido de energias descarbonizadas, como a eletricidade eólica e solar fotovoltaica.

    A espinha dorsal da política é ampliar a geração em usinas termelétricas a gás, em detrimento de recursos renováveis como vento e luz solar. Eis um rumo certo para sujar a matriz energética nacional, uma das mais limpas da Terra.

    Para tanto, o governo pretende reduzir a reinjeção de gás nos poços petrolíferos, recurso empregado para otimizar a retirada de óleo. Verdade que a parcela de reinjeção no país é alta, 56%, contra a média internacional de 25%; também é fato que a queima do gás para produzir eletricidade emite menos carbono que a de óleo ou carvão.

    Hoje, a decisão sobre quanto gás será reinjetado cabe à empresa detentora do campo, de olho na rentabilidade. Agora o governo quer autorizar a Agência Nacional do Petróleo a interferir no processo e estipular a proporção de gás reintroduzido no poço, com vistas a aumentar a oferta do combustível.

    Mais gás no mercado contribuirá para baixar seu preço, favorecendo indústrias que já optaram por essa energia, mas tende a encarecer o sistema como um todo, pela necessidade de infraestrutura de distribuição. Foi assim com as emendas que impuseram termelétricas a gás em estados do Nordeste onde não havia gasodutos.

    Há quem aponte ainda que o pacote estaria em conflito com a Lei do Gás de 2021, por criar obrigações e restringir direitos de produtores. A mudança não poderia em princípio ser feita por meio de decreto intervencionista, como agora.

    O desenho apresentado pelo Planalto passa longe, longe demais, de um plano efetivo de transição energética. Não está à altura do que o Brasil almeja e a atmosfera do planeta necessita.

  5. RELAÇÕES EM CHAMAS, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente da Câmara, Arthur Lira, já nem disfarça mais sua guerra contra não apenas o Judiciário, que deflagrou o debate sobre mudanças nas emendas parlamentares, mas também contra o Executivo, o principal interessado nessas mudanças – aliás, com boas razões. Além de pôr em pauta propostas contra a autonomia do Supremo, ele agora é suspeito de tentar sabotar a agenda econômica do governo.

    Num golpe duplo nesta segunda-feira, Lira suspendeu as sessões presenciais na Câmara, em plena semana de esforço concentrado, e o deputado bolsonarista Luiz Philippe de Orleans e Bragança apresentava na CCJ seu parecer favorável à proposta que confere autopoderes ao Congresso para derrubar decisões do Supremo.

    Os líderes começaram a chegar a Brasília no domingo, já que se trata (ou se tratava) da segunda das três semanas de esforço concentrado do Congresso até as eleições de outubro. Mas o tempo corre e as regulamentações da reforma tributária não andam, só os projetos de vingança contra o Judiciário e o Executivo.

    O pretexto oficial da presidência da Câmara para sessões virtuais é o de que alguns aeroportos foram afetados pela fumaça das queimadas – vale dizer, criminosas. Mas isso não convenceu quem está no meio da guerra entre Poderes nem quem conhece a personalidade do presidente da Câmara.

    Convenceu menos ainda quando, ato contínuo, veio o parecer do deputado príncipe, parecer favorável à PEC que delega ao Congresso a palavra final sobre julgamentos do Supremo. A dinâmica é evidente. O ministro Flávio Dino cobrou várias mudanças nas emendas Pix, o procurador-geral, Paulo Gonet, questionou a constitucionalidade das emendas, Dino avançou sobre as emendas impositivas e, num piscar de olhos, os outros dez ministros do Supremo respaldaram por unanimidade sua decisão. Lira ficou uma fera.

    Primeiro, despachou as propostas contra o Supremo para a CCJ bolsonarista, depois caprichou na escolha dos relatores, todos do PL, e, agora, os pareceres vão confirmando as expectativas de que serão contra o Judiciário. Enquanto isso, Lira suspende as sessões presenciais, deixando o governo a ver navios, ou a cuidar das queimadas.

    Lula convocou reunião de líderes para a mesma segundafeira, no fim da tarde, para discutir uma série de questões, inclusive a pauta do governo no Congresso. Com o plenário da Câmara vazio e os deputados cuidando das campanhas? Detalhe: Lira não foi convidado para essa reunião. Assim, a guerra atrapalha os trabalhos do Congresso e a pauta do governo não anda… O que o Brasil lucra com isso? Você responde.

  6. O tamanho do erro de oito anos de governo de Pedro Celso Zuchi, PT, e de oito anos de de Kleber Edson Wan Dall, MDB, contra as crianças e o futuro delas, bem como os trabalhadores e pais pobres que dependem exclusivamente das escolas públicas municipais nos primeiros anos de escolaridade em Gaspar

    ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL É O CAMINHO PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO NO BRASIL, editorial do jornal O Globo

    As escolas de tempo integral têm impacto positivo no desempenho de alunos do ensino médio de redes estaduais, em especial para os mais pobres. Foi essa a conclusão de um estudo dos institutos Sonho Grande e Natura, com base nos últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que leva em conta avaliações de português e matemática e índices de aprovação no quinto e no nono ano do ensino fundamental e no terceiro ano do médio.

    Estudantes do ensino médio integral — modelo com mais de 420 minutos de aulas diárias, sem contar atividades complementares — obtiveram desempenho melhor que os de escolas regulares. Em matemática, a diferença foi de 6 pontos. É como se os alunos das escolas integrais tivessem cursado um ano a mais de aprendizado. “Se considerarmos que o ensino médio é composto por três anos de estudo, um ano a mais de aprendizagem é relevante”, diz Ana Paula Pereira, diretora executiva do Instituto Sonho Grande. Em língua portuguesa, a diferença foi de 4 pontos, o equivalente a mais de meio ano de aprendizado.

    Outra constatação relevante: entre as cem escolas que atendem o público de menor nível socioeconômico e obtiveram melhores resultados no Ideb, 78 ofereciam ensino integral. Isso significa que as escolas integrais podem ser um meio eficaz de estender a qualidade do ensino aos mais pobres.

    A expansão, porém, exige cuidados. Não se trata de apenas estender a carga horária. “É preciso renovação do modelo pedagógico, é preciso um modelo centrado na vida do estudante, para que o aluno seja protagonista, se envolva nas decisões do ensino e possa entender suas fortalezas e como a escola se conecta aos caminhos que pode seguir. Não são coisas simples de executar, e é preciso também fazer com que os professores enxerguem a escola de forma diferente”, diz Ana Paula, do Sonho Grande.

    Em 2023, apenas 33% das escolas escolas estaduais ofereciam ensino médio em tempo integral, e elas atendiam apenas 18% dos alunos matriculados (quatro anos antes, eram 10%). Num país tão populoso e diverso, a heterogeneidade é enorme. No Piauí, 85% das escolas estaduais já oferecem ensino médio integral. Em Ceará e Pernambuco, 70%. Em Santa Catarina, menos de 1%. No Rio Grande do Sul, 10%, mesma parcela que o Acre.

    Para acelerar a mudança da realidade, é preciso identificar as experiências bem-sucedidas ao expandir o ensino integral, analisá-las e reproduzi-las, dando prioridade às escolas frequentadas pelos mais pobres. Assim será possível melhorar a qualidade da educação brasileira.

  7. O STF NÃO É A DEMOCRACIA, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo

    “A liberdade é um tema ao qual me tenho preso”. Seguindo o aforismo de Millôr, vamos falar sobre o STF, de novo. Afinal, a corte é guardiã das liberdades expressas na Constituição e tem agido de forma duvidosa sob pretexto de defendê-las —desde 2019, pelo menos, quando foi aberto o inquérito das fake news.

    Alexandre de Moraes abriu investigação para apurar a revelação de mensagens que mostram ações fora do rito por parte de seu gabinete. Chama atenção o tom conspiratório e falacioso do documento.

    Segundo o ministro, o vazamento das conversas e sua publicação pela Folha são “indícios da atuação estruturada de uma possível organização criminosa (…) que atenta contra a democracia e o Estado de Direito”.

    Ora, o STF não é a democracia. É um órgão que faz parte do desenho institucional desse regime e, como tal, está sujeito a falhas e ao escrutínio popular e da imprensa.

    A figura do whistleblower —quem expõe atos ilegais ou antiéticos de uma instituição pública ou empresa— faz parte da história do jornalismo, já que é uma ferramenta de fiscalização do poder público.

    Quando vazamentos se referem ao Executivo e ao Legislativo, como os que levaram ao impeachment de Fernando Collor e ao escândalo do mensalão, não são ataques à democracia. Por que devem ser assim tratados em relação ao Judiciário?

    Com o marxismo e o identitarismo dá-se o mesmo. Quem os critica é burguês ou alienado, racista ou homofóbico. As ações e os dados levantados pela crítica são esquecidos, em prol de uma resposta que não se propõe a resolver problemas e só sinaliza virtude —no caso, a defesa do Estado democrático de Direito.

    Mas quando o dissenso vira falha moral ou até crime, o resultado é o embotamento do debate público.

    Se o STF quer proteger a democracia, precisa atuar com transparência, respeitando ritos processuais e liberdades individuais, e se dispor a avaliar e eliminar suas distorções. Falácia retórica não é argumento, não num regime de fato democrático.

  8. SIMPLES ASSIM, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Com impressionante tranquilidade, os petistas avisam que não terão a menor consideração pelo equilíbrio das contas públicas se isso constranger suas políticas demagógicas

    Diante de informações segundo as quais a equipe econômica do governo, a título de cumprir as regras do arcabouço fiscal, estaria estudando propostas para desvincular do salário mínimo o reajuste das aposentadorias, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, declarou ao Estadão: “Entre mexer na vinculação do salário mínimo e mudar o arcabouço, tem de mudar o arcabouço. Simples assim”.

    É comovente a simplicidade da visão de mundo da sra. Hoffmann – que para todos os efeitos seria absolutamente irrelevante, não fosse o fato de que ela é a líder do partido do presidente Lula da Silva e, conforme é de conhecimento geral, nem sequer abre os olhos sem permissão do demiurgo.

    Nessa condição, portanto, pode-se considerar que Lula também considera “simples assim” a possibilidade de “mudar” o arcabouço fiscal se as contas não fecharem em razão da demagogia lulopetista. “Mudar”, aqui, quer dizer atropelar.

    O que espanta, se é que alguém ainda se espante com o lulopetismo, é a ligeireza com que suas lideranças admitem que não ligam a mínima para limites fiscais, tudo em nome da transformação do Estado num suposto motor do crescimento e do desenvolvimento do País. Suposto porque, na prática, os grandiosos planos dos governos petistas geraram voos de galinha e invariavelmente resultaram em desastres, cujos efeitos se farão sentir ainda por décadas.

    Com esse espírito, os petistas acham que a redistribuição de renda se dará por meio do aumento real tanto do salário mínimo quanto das aposentadorias. Ou seja, basta distribuir dinheiro. “Simples assim”, diria a porta-voz de Lula.

    É claro que, ao contrário do pensamento mágico lulopetista, não é “simples assim”. Dar reajuste real às aposentadorias significa anular os ganhos duramente conquistados com a reforma da Previdência. Ademais, ignora totalmente o arcabouço fiscal elaborado pelo próprio governo.

    O arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad foi uma tentativa de trazer racionalidade econômica e proporcionar estabilidade política ao governo. Após a ampliação de R$ 168 bilhões em gastos por meio da emenda constitucional da transição, o Executivo precisava sinalizar algum grau de autocontenção.

    O arcabouço é bem mais frouxo que o antigo teto de gastos, mas estabelece limites, ainda que tímidos, à gastança lulopetista. Se essas balizas fossem ultrapassadas, o acionamento de gatilhos impediria a criação de despesas obrigatórias, contratação de funcionários, realização de concursos públicos e concessão de aumentos salariais, entre outras medidas.

    O dispositivo já não havia passado incólume em seu primeiro teste, em abril, quando o governo manobrou para ampliar gastos de R$ 15,7 bilhões usando como pretexto o aumento da arrecadação e alterou as metas fiscais de 2025 e 2026. Às vésperas de enviar ao Congresso sua proposta de Orçamento do ano que vem, o primeiro a ser elaborado sob a égide do arcabouço fiscal, o governo não parece disposto a cumprir à risca os termos do dispositivo que ele mesmo apresentou.

    Pela regra populista de que os petistas não abrem mão, 2/3 das aposentadorias e pensões pagas pelo INSS serão reajustados pela inflação do ano anterior, mais a variação do PIB de dois anos antes. Nada disso é compatível com o arcabouço fiscal, que limita o aumento das despesas a 70% da alta das receitas e a um crescimento real de 2,5%. E, caso o País volte a crescer de maneira mais consistente, a política de valorização permanente do salário mínimo fará com que os gastos previdenciários superem o limite de despesas fixado pelo arcabouço de modo ainda mais acelerado.

    A implosão das contas públicas prejudica o Brasil não só no presente, mas, sobretudo, no futuro. Com as contas deficitárias em desordem, o País precisa buscar formas de financiar o rombo, a um custo cada vez mais alto, representado por juros que inibem o crescimento, desestimulam o investimento em produção e favorecem o rentismo – justamente o que os petistas dizem combater.

    Com crescimento medíocre, degradam-se o mercado de trabalho e as condições de vida dos mais pobres, que se tornam cada vez mais dependentes de ajuda do Estado. Resultado: o País, que se tornará envelhecido sem ter se tornado rico, será pobre e subdesenvolvido. Simples assim.

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