Este comentário vai mais curto. Juro. Os vencedores das eleições de seis de outubro, os conscientes e até mesmo os traíras de sempre, entopem-me com provas e indignação daquilo que podemos rotular de, “salvem-se quem e como” puder no que restou do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, o que queria ser seu sucessor nesta nhaca. É tarde. O tempo foi senhor da razão. E o tempo esteve, mais uma vez, a meu favor, apesar de todas as pressões e sacanagens orquestradas, inclusive em ambientes institucionais. Vergonha. Nada como um dia após o outro.
Por que vai ser curto o meu texto? Olhem a foto da reunião ressaca-semanal que Kleber, agora vestido de viajante da Fecam, sempre a chamou de “alinhamento”, ou então de “planejamento”. Antes tivessem essas reuniões sido de simples cobranças das pendências e das promessas a seus auxiliares. Voltando. Todos bem “alegres”. Ou seja, todos eles sabem que erraram bem para lá do limite aceitável. E estão fazendo a pior de todas as atitudes, desistindo de, ao menos, entregar uma cidade governável ao sucessor, com menor do dano possível.
Ao que parece, foi-se até a dignidade.
E por que estão amuados na foto? Porque a teta do emprego fácil e que não exige contrapartida de resultados e qualificação secou – e unicamente por culpa deles próprios e de mais ninguém, ressalte-se. Entretanto, por enquanto, não para todos e explico mais adiante.
Para piorar, todos – e sem exceção – estão receosos dos próximos dias, meses e passos. É que alguns temem serem pegos, ou expostos depois de primeiro de janeiro do ano que vem, quando assumir o novo governo. E se ele for tão vingativo quanto o atual foi com a suposta oposição, ou com quem não se ajoelhou e não desistiu de esclarecer a cidade, cidadãos e cidadãs, os poderosos de hoje sabem o que virá por aí. E eu estarei aqui de plantão, se a imprensa falhar como falhou com Kleber, Luiz Carlos e Marcelo.
Os mais sortudos de sempre e de melhor lábia, já estão atrás das boquinhas de sempre, como o vice Marcelo. Ele quer “assessorar” daqui, algum deputado no serviço de Florianópolis ou Brasília? Kleber está percorrendo o estado – onde poucos ainda lhe conhecem – como se aqui não tivesse impresso a marca do atraso.
Voltando para não encompridar, como prometi.
Nestes últimos dias, uma penca de comissionados – todos bagrinhos – e em cargos em confiança, foram deletados pelo Diário Oficial dos Municípios, editado pela, Fecam – Federação Catarinense dos Municípios – onde o prefeito Kleber passou dar expediente, como exemplo de prefeito bem-sucedido em Santa Catarina – talvez no alto salário mensal de R$35.042,22 – com o seu braço direito para todas as obras e conversas cabulosas por aqui, enfiado na Fecam e lá dando as tintas, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. No fundo, convenhamos, é uma desmoralização para este tipo de instituição.
Por outro lado, este mesmo Diário Oficial dos Municípios trouxe outra penca de revelações dessas incoerências kleberiana. Pinço e pinto em três retratos.
Retrato 1 – O ex-vice-prefeito, ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos, ex-Chefe de Gabinete, ainda presidente do PP e um dos coordenadores da campanha de Marcelo, Luiz Carlos Spengler Filho, como informei no artigo anterior, teve sua licença prêmio “interrompida” na Ditran, como agente de trânsito efetivo que é. E por uma boa causa como se descobre agora. Luiz Carlos foi nomeado supervisor em função gratificada na secretaria de Assistência Social. Salário maior do que agente, é claro. É um prêmio ao péssimo resultado que conseguiu nas urnas como líder político. E assim, a “licença prêmio” fica para quando o novo governo chegar e precisar dele na Ditran. E com Luiz Carlos, vai João Leopoldino Spengler Sobrinho para outra função gratificada, mas na secretaria da Fazenda e Gestão Administrativa. Qual a máxima? Quem quem padrinho não morre pagão.
Retrato 2 – O suplente de vereador Norberto dos Santos, MDB, depois de ter visto a Polícia na sua casa sobre as dúvidas da roçagem – por ter assinado medições de roçadas que ele próprio diz não ter conferido por confiar nos que lhe “deram” o cargo comissionado na prefeitura para ele – e mesmo assim ter recebido uma miséria de votos em seis de outubro, voltou para casa para refazer a sua imagem, a vida e se estabelecer em explicações que terá que dar no inquérito que rola na delegacia ou nas instituições de inquirições.
Retrato 3 – Mas nada se compara – ou, é o retrato fiel – ao movimento que Kleber fez durante oito anos desafiando uma lei natural e assim ser desacreditado como um gestor público competente e eficiente na entrega de resultados à sua comunidade e isso se traduzir em votos e na sucessão de e daquilo que liderava.
O sumido titular, o dentista José Carlos de Carvalho Júnior, MDB, saiu da secretaria da Saúde – onde já esteve pela segunda vez neste governo-, voltou para a Câmara e para a sua função de servidor de nível médio na Vigilância Sanitária Municipal. O que mais esta troca-troca secretaria da Saúde é relevante. Ela, com isso, chegou a empossar a 13ª indicada entre titulares e interinos da pasta para menos de oito anos de governo entre curiosos, a maior parte deles, e entendidos desse riscado. Este é o retrato do improviso, do erro, do descaso e que finalmente, ainda bem, custou caro e a cabeça – e vai dar ainda muitas metástases – do governo de Kleber, um jovem que prometeu por conta de ser jovem, acabar com a prática dos velhos políticos. Ficou velho rapidamente.
Para encerrar esta quinta-feira, três observações necessárias e que movimentaram muitos dos meus comentários por estes quase oito anos da administração de Kleber com Luiz Carlos e agora, com Marcelo.
A primeira. Em nenhuma empresa, negócio ou família, nada se cria, se desenvolve ou produz resultados minimamente esperados ao redor do razoável, se na liderança dele, em menos de oito anos se trocar a titularidade dele mais de uma dezena vezes como Kleber trocou na vital secretaria da Saúde e com um Hospital doente, saco sem fundo de recursos públicos, sob intervenção municipal e sem resultados para a comunidade, a doente, a precisada, a que não pode recorrer a outros meios. Impressionante o tamanho do erro tático desses políticos jovens. E ainda há gente, que se diz entendida, que reclama do resultado das urnas e dos eleitores ou eleitoras. Credo!
A segunda. Só uma máquina de empregos e pressão foi capaz de evitar que a humilhação fosse ainda pior do que se estabeleceu nos boletins do Tribunal Superior Eleitoral. E quem está sendo expurgado? Os bagrinhos, descaradamente os cabos eleitorais que não funcionaram e não funcionaram porque era maus cabos eleitorais dentro da máquina do governo. Não funcionaram porque a máquina estatal e a gestão dela para resultados para a cidade, os cidadãos e cidadãs falharam. Ora, se eram tão necessários como comissionados ou gratificados, por que agora não eles os são para a prefeitura funcionar minimamente? Nem disfarçar essa gente consegue mais.
A terceira. Os eleitos estão advertidos pelo exemplo dado até aqui por Kleber. O entorno dos eleitos continua o mesmo. E os erros iguais por oito anos contra uma Gaspar desacordada, parecem que vão continuar. Pelo menos é o que dão conta os primeiros passos, o jogo de forças que há nos bastidores para pouca coisa mudar e até se abafar quase tudo, em nome de uma suposta governabilidade dos eleitos que discursavam até ontem com o mote da mudança. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Se um desavisado entra por engano na única e rápida sessão semanal ordinárias da Câmara de Gaspar pós eleições, vai ter certeza que o vereador Ciro André Quintino, MDB, é um ferrenho adversário do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP. Ciro, na verdade, está em campanha para ser presidente da Câmara, mais uma vez. E é aí que mora o perigo. E nas contas dele, a sua presumível aproximação com o presidente do PL de Gaspar, Bernardo Leonardo Spengler Filho – egresso histórico do MDB – , é para ele, uma carta certa e decisiva neste baralho.
Eleito pendurado e perdendo votos para mais um mandato, Ciro André Quintino, MDB, já arrumou um pé para sair do ostracismo onde está. Teve oito anos para ajudar, com suas críticas procedentes, ressalte-se, mas demasiadamente tardia, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e não as fez. Ensaia agora, como se tivesse autoridade para isso. Reafirmo o que sempre escrevi: foi falta de oposição, imprensa atente e livre das migalhas públicas, que levaram Kleber ao desastre administrativo e quem sabe, ao político. Este sempre mais difícil, depois de se ver a volta de Luiz Inácio Lula da Silva, PT.
Ciro André Quintino, MDB, campeão em diárias (R$11.610,00 até agora, o vice, é Alexsandro Burnier, PL, com R$6.200,00) sempre vendeu a imagem de “amigão” de todos (e não é), gastão e espaçoso, exatamente tudo o que o eleitorado conservador mais rejeita em um político. Arriscou e foi avisado pelas urnas numa nova chance dada em seis de outubro. Todavia, ao que parece, ainda não entendeu o recado e voltou ao velho malho para ser o cabeça dos processos de poder no “escurinho do cinema”.
Ciro André Quintino, três vezes presidente da Câmara carrega histórias neste ambiente que fizeram a Casa interromper, definitivamente, o voto secreto para a escolha do presidente dela. E para não dizer que estou exagerando, como sempre sou acusado, inclusive pelo Ciro, convoco como minhas testemunhas os vereadores Silvio Cleffi, ex-PSC, mas hoje encolhido no PP, Franciele Daiane Back, então no PSDB e hoje no MDB, bem como Roberto Procópio de Souza, ex-PDT e migrante no MDB onde tentou se salvar e não conseguiu.
O governo eleito de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, não possui, no papel, a maioria na Câmara. E mesmo errando muito, não deixará de tê-la numa composição informal fácil de ser obtida. Agora não será com Ciro André Quintino, MDB, vestido á última hora de oposição ao governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, desde criancinha.
O novo governo promete anunciar oficialmente os primeiros nomes do novo governo até o final desta semana. Está tarde, paras quem prometeu mudar o jeito de lidar e se comunicar por gestos com a cidade. Mas, esta observação é para outro comentário. A partir de então, as melancias começarão, finalmente, a se acomodarem neste caminhão carregado de coisas que precisam cair dele. E aí ficará mais fácil e clara, também, à composição da maioria do governo na Câmara.
O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, PL, está cotado para a secretaria de Defesa Civil e Proteção do governo Jorginho Melo, PL. É bom. De enchente, ao menos, ele entende. De articulação, também. Mas, será uma prova de fogo trabalhar com a instabilidade político-administrativa do governador se ele não tiver acesso aos filhos Felipe e Bruno. Orçamento há. Liberação dos recursos, como prova o portal transparência, não. É um problemão, como foi a estorinha do “estado mais seguro do Brasil” e que mesmo sendo assim no discurso, foi surpreendido na prática pela bandidagem.
Ganha o Vale do Itajaí como um todo, pois a origem de Mario Hildebrandt é do Alto Vale. Ao mesmo tempo, se Mário for bem e aí todos os mais de um milhão de habitantes da região ganham em ambiente tão vulnerável, mas, ao mesmo tempo, tira o discurso do vereador, empresário, candidato a vice de Odair Tramontin, Novo, Carlos Cezar Wagner, PSD , o Alemão da Alumetal, um defensor do desassistido sistema de proteção às cheias do Vale do Itajaí. Já se provou que Jorginho Melo, PL, apenas faz discurso neste ambiente que pode comprometê-lo eleitoralmente.
A comunicação será difícil. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, anunciou esta semana a dança das cadeiras para o enterro do governo dele, com os que vão carregar este caixão no dia primeiro de janeiro e encarregado de manter a sepultura bem cuidada. Nas redes sociais a reação foi imediata. O que mais assustou? Foi constatar de que teve gente confundindo esta dança como se fosse a nomeação do novo governo eleito de Paulo Norberto Koerich, PL.
Há dois problemas bem claros diante do que se constatou: a primeira é a desinformação em si e o que se espalha. A segunda, é a linha tênue – que sempre comentei aqui, mas que os vencedores insistem ser um continuado exagero meu, como eu não entendesse desse assunto – entre os dois governos. Qual a razão disso? Exatamente por serem os entornos de ambos muito parecidos. Há, porém, chances que se diferenciem, principalmente nos métodos e resultados.
Programa eleitoreiro. Estava na cara de que isso era propaganda e não uma iniciativa educacional e inserção social perene, como deveria ser em ambiente administrativo sério. Passada as eleições, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, que na campanha usou como propaganda, acaba de desativar dois programas para jovens e de ampla repercussão social: Iniciação Esportiva e o Bolsa Atleta.
Os fogos de artifício não incomodam apenas os animais e os autistas, mas alguns cabos eleitorais dependentes do poder de plantão. Muda, Gaspar!
11 comentários em “RETRATO DE UM GOVERNO QUE NÃO SE ACHOU POR QUASE OITO ANOS. KLEBER NÃO ESTÁ ENFIANDO OS PÉS PELAS MÃOS. É QUE O GOVERNO DELE NÃO TINHA LIDERANÇA, PÉS, MAS PRINCIPALMENTE BRAÇOS E CABEÇAS VOLTADOS PARA O SENSO MÍNIMO COMUM DO PRESENTE E DO FUTURO DA CIDADE”
A ENEL É UM LEGÍTIMO BODE, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
O ministro Rui Costa, da Casa Civil, anunciou que o governo prepara um projeto para alterar as normas de funcionamento das 11 agências reguladoras de serviços públicos. A ideia é boa e acontece num momento em que São Paulo rivaliza com os apagões cubanos. No Rio, o laboratório Saleme tem um dono e servidores presos por conta de laudos falsos para transplantes de órgãos. Numa outra ponta da questão, os servidores do IBGE estão mobilizados contra a criação de uma fundação anexa à entidade.
Esses três fatos nada têm a ver entre si, mas compartilham a mesma origem: o enfraquecimento do Estado brasileiro. Desde o século passado, quando começou o processo de privatização de serviços públicos, armou-se um debate sobre o tamanho do Estado. Sem dúvida, ele deve ser pequeno, porém parrudo. O tempo passou e ele não encolheu, mas perdeu musculatura.
A Enel tornou-se um legítimo bode expiatório de privatizações mal desenhadas, mal negociadas e mal conduzidas. O laboratório Saleme fazia parte de um feudo e seus contratos vinham da Fundação Saúde, onde estava a irmã do operador político. Exposto o escândalo, a diretoria da Fundação foi afastada.
Os funcionários do IBGE lidam com dados e veio deles a descoberta de que o estatuto da Fundação IBGE + tem dezenas de trechos copiados e colados a partir do estatuto da Fundação Saúde. Até aí, nada de mais, porém o copia-e-cola resultou num artigo que exige maioria de dois terços do Conselho Curador para a aprovação de determinadas matérias. Na Fundação Saúde esse Conselho tem nove membros e os dois terços resultam em seis votos. Na IBGE+ o Conselho teria cinco integrantes e o quorum exigiria o voto de 3,333 conselheiros.
O processo de emasculação do Estado brasileiro criou fundações, organizações sociais e outros penduricalhos com objetivos claros: contratar pessoas livremente, firmar convênios e contratar serviços sem fiscalização.
Numa reunião com Rui Costa, os empresários da saúde artilharam-se contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Queixaram-se dos prazos que ela demanda para liberar remédios. Podem até ter razão, mas durante a pandemia, a Anvisa teve uma atuação exemplar, muito melhor que a do setor privado. Os planos de saúde tentaram eximir-se da cobertura para a aplicação de vacinas.
As agências reguladoras foram criadas no governo de Fernando Henrique Cardoso. Numa conversa privada, ele se arrependeu do formato que sua ideia tomou. As agências foram capturadas pela política e pelos interesses de algumas empresas. Estão aí as farras de renovações de contratos com concessionários que não cumpriram as metas acordadas. Há organizações sociais que capturaram serviços públicos contaminadas por parentelas e, em alguns casos, com cheiro de milícias.
Mesmo que a promessa de Rui Costa vá em frente com suas melhores intenções, resultará num esparadrapo para tratar uma doença grave. Os descalabros da Enel, como os do laboratório Saleme, mostram que o Estado brasileiro continua grande e, no processo de privatizações, foi emasculado.
A resistência dos servidores do IBGE contra o parto da Fundação IBGE + é maior que uma briga setorial. Trata-se de um grito contra um processo de metástase do Estado brasileiro.
UM EXEMPLO AMERICANO
Ethel Kennedy, a viúva de Robert, irmão do presidente John Kennedy, morreu no dia 10 de outubro, com o desejo de ser sepultada ao lado do marido.
Problema: Robert Kennedy está no cemitério Nacional de Arlington, ao lado do irmão. Lá são sepultados veteranos de todas as guerras, militares que morreram em serviço e personalidades ilustres. Disso resulta uma fila de defuntos à espera da cerimônia de sepultamento.
Não passou pela cabeça dos Kennedy furar a fila. O caixão com o corpo de Ethel está num salão de Arlington, onde uma guarda de honra vela a fila, e será sepultado no dia 25 de novembro.
O CELULAR DO DOUTOR ZAMPIERI
Em dezembro de 2023 o advogado Roberto Zampieri foi assassinado a tiros na porta do seu escritório, em Cuiabá. Durante os trabalhos da perícia, uma mão caridosa colocou ao lado do corpo o seu celular. Nele, podia-se ler uma mensagem esquisita tratando de mutretas na Justiça do estado. Graças a esse gesto, uma série de coincidências e malfeitos desembocaram no afastamento de desembargadores e na implosão de um esquema de traficâncias de assessores de ministros do Superior Tribunal de Justiça.
A turma da mutreta conseguiu uma decisão que bloqueava o acesso aos dados de celular de Zampieri e colocou toda a investigação sob sigilo. O Judiciário funcionou, os dados do celular foram anexados ao processo e o caso expandiu-se. Apareceu até um mercador que seguiu a mulher até Portugal e achou-a com um amigo. Para sua infelicidade, ele era um lutador de MMA.
A Polícia Federal trabalhou em silêncio e rastreou todas as malfeitorias guardadas no celular. Puxando as linhas de Zampieri, desabou o esquema de comércio de sentenças e formou-se um processo cinematográfico.
A documentação, que a princípio deveria ter sido bloqueada, irá para o gabinete do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal.
O policial que pôs ao lado do corpo de Zampieri o celular com a mensagem esquisita sabia o que estava fazendo.
NOTÍCIA FALSA, PORÉM VERDADEIRA
A Secretaria de Comunicação do Planalto divulgou uma nota informando que eram falsas as notícias segundo as quais a ekipekonômika queria garfar uma parte do seguro-desemprego.
Parabéns. O conteúdo da nota cria uma nova modalidade de notícia falsa: a verdadeira. Todas as reportagens que tratavam do assunto saíram da ekipekonômika.
Talvez fossem um simples balão de ensaio, mas tinham um componente tóxico: demonizavam o seguro-desemprego.
Na sua nota, a Secom lembrou que o seguro e a multa de 40% sobre o valor do FGTS do trabalhador demitido sem justa causa “são direitos que os trabalhadores possuem nos casos de demissões sem justa causa e são instrumentos de proteção social com previsão legal e constitucional”.
Talvez os çábios não soubessem disso.
BOLSONARO DINÁSTICO
O senador Flávio Bolsonaro já admitiu que, se o seu pai continuar inelegível em 2026, ele disputará a Presidência.
AS PRAGAS DO EGITO NO RIO
As pragas do Egito foram dez e o Rio parece ainda estar na quarta. A cidade já passou por Sérgio Cabral, Pezão, Wilson Witzel e agora aguenta Cláudio Castro. Todos eleitos e dois deles, Cabral e Castro, reeleitos.
Cláudio Castro supera todos no quesito do ridículo. Depois do colapso policial de quinta- feira, ele reuniu sua equipe, com dois titulares vestindo tenebrosas fardas negras, e tentou trazer o governo federal para a frigideira:
—É preciso que o presidente Lula ouça os governadores.
Perdeu uma oportunidade de ficar calado. Sua entrevista, dada horas depois do vexame, foi mais uma prova de que ouvi-lo é perda de tempo.
A BATALHA DO SÉCULO, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo
Nunca menospreze o poder mobilizador das guerras culturais. Em 1925, os EUA pararam para acompanhar o julgamento de John T. Scopes, o professor de biologia da cidadezinha de Dayton, acusado de violar uma lei do estado do Tennessee que proibia o ensino do darwinismo.
Todos os ingredientes de uma boa guerra estavam ali: religião contra ciência, autonomia dos estados contra a Constituição Federal, o povo do sul contra os ianques. Não é à toa que o episódio tenha sido apelidado de “julgamento do século” e, na fórmula mais ácida de H.L. Mencken, “julgamento do macaco”.
“Keeping the Faith” (mantendo a fé), de Brenda Wineapple, mergulha fundo nessa história. A autora dá especial atenção aos dois advogados principais do julgamento, William Jennings Bryan, que atuou pela acusação, e Clarence Darrow, pela defesa.
Bryan está em todos os livros de história. Foi três vezes candidato à Presidência pelo Partido Democrata. Era um populista de mão cheia. Tinha posições relativamente progressistas em relação à organização do trabalho (sindicatos), mas era um fundamentalista religioso com fortes tendências racistas. Foi um dos principais defensores da Lei Seca.
Darrow também teve alguma militância no Partido Democrata e em favor dos sindicatos, mas as semelhanças acabam aqui. Darrow era socialista, declaradamente agnóstico e sempre se prontificava a atuar como advogado de defesa de autores de crimes que haviam chocado o país.
Ao retratar o julgamento do século e seus protagonistas, Wineapple traça o perfil de uma época. As semelhanças entre os anos 20 do século passado e do atual são notáveis: forte polarização, censura a livros, ameaça do populismo, conflitos entre poder central e local.
Scopes em tese perdeu. Foi condenado a pagar uma multa de US$ 100, mas Darrow chamou Bryan a depor na condição de especialista em religião e o humilhou, enredando-o nas infinitas inconsistências e contradições do texto bíblico. A vitória moral foi de Darwin.
Não deixa de ser desconcertante constatar que pouca coisa mudou em cem anos.
PARA QUE SERVEM AS PREVISÕES? POR Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
O Fundo Monetário Internacional trouxe notícias sobre o Brasil nesta semana. A boa: pela nova projeção, que aparece no Panorama Econômico Mundial, a economia brasileira deverá crescer 3% neste ano. A ruim: a dívida pública continuará subindo neste e nos próximos dois anos, de acordo com o relatório Monitor Fiscal.
O governo, claro, gostou da primeira e rejeitou a segunda. Mas uma ampla opinião entre economistas brasileiros concorda com as duas informações. Na verdade, é o contrário. O FMI é que chegou agora às projeções já feitas por aqui. É normal.
O fundo produz duas versões por ano do extenso documento que dá uma geral na economia mundial. A instituição tem seus próprios especialistas, mas está claro que se baseia em dados produzidos localmente. E esses dados são gerados toda semana.
O Boletim Focus, publicado toda segunda-feira pelo Banco Central (BC), traz o que se chama de “consenso de mercado”. Não é, pois, a opinião do BC, mas de mais de uma centena de instituições financeiras e consultorias que, toda sexta-feira, enviam seus cenários para o banco. Os técnicos tabulam tudo no fim de semana e chegam às medianas, publicadas no Focus.
Muita gente reclama dos erros nas previsões. O presidente Lula e o ministro Haddad não perdem oportunidade de lembrar que, no início deste ano, o Focus previa um crescimento bem menor do que de fato vem ocorrendo. Mas é normal, em qualquer país, que previsões sejam refeitas. Elas refletem os dados disponíveis no momento, um quadro que pode mudar.
É possível antecipar com alguma antecedência o tamanho da safra agrícola, incluindo aí previsões do tempo. Não se prevê, entretanto, um desastre climático, uma mudança brusca que derruba plantações. Do mesmo modo, observando dados sobre a economia mundial, pode-se fazer uma previsão bem aproximada do consumo de energia e, pois, dos preços do petróleo. Até que estoura uma guerra, e lá se vão os prognósticos.
E o dólar? Pelo Boletim Focus, a moeda americana será negociada a R$ 5,42 em 31 de dezembro deste ano. Qual a chance de acertar? Zero. E, se acertar, terá sido por acaso. São muitas variáveis em jogo. Se Trump ganhar, espera-se um dólar mais forte no mundo todo e, pois, a desvalorização das moedas locais, incluindo o real. Se Kamala ganhar, o cenário será diferente. Uma declaração desastrada de Lula — daquelas que rejeitam cortes de gastos — faz subir o dólar e os juros.
Tudo considerado, poderá perguntar o leitor: se é assim, por que fazer previsões? Porque elas indicam as tendências, mostram o que seria o normal, descontados os eventuais desvios. Por isso são constantemente refeitas, agregando novos dados. No fim das contas, dá certo.
Neste momento, governo, economistas e FMI concordam que o Brasil crescerá em torno de 3% neste ano. O governo é sempre um pouco mais otimista, mas também ele esperava menos quando 2024 se iniciou. Quanto às contas públicas, FMI e boa parte dos economistas brasileiros concordam que haverá déficits expressivos em todos os anos do governo Lula. Gastará mais do que arrecada. O ministro Haddad continua falando em déficit zero, ou perto disso, mas há muita desconfiança na praça.
Não por causa dele, ministro, mas por causa de Lula, de parte do governo e do Congresso. Neste lado do cenário, ou o pessoal quer gastar ou quer oferecer reduções de impostos e subsidiar certos setores da economia. Combinação explosiva: mais gasto menos receita.
O mercado aprecia quando Haddad declara que as metas do arcabouço fiscal — déficit zero, com ganhos de receita e cortes de gasto — serão cumpridas. Declarações nesse sentido derrubam dólar e juros, empurram a Bolsa para cima. O pessoal desconfia é da capacidade e da força política do ministro de impor essa agenda dentro do governo e no Congresso.
Enquanto permanece a desconfiança, a perspectiva é de crescimento menor em 2025, por causa dos juros altos, consequência dos déficits, da dívida pública em alta.
Viram como é difícil acertar as previsões?
PARECE, MAS AINDA NÃO É, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo
Foi cedo em agosto —quando se anunciou um pacto— para se comemorar um acerto disciplinar no uso de emendas parlamentares. Agora ainda é cedo para se acreditar que o problema esteja resolvido com a promessa de votação de um projeto de lei com novas regras de transparência.
Há mais de dois meses se reuniram representantes dos três Poderes no Supremo Tribunal Federal e ali se estabeleceu que em dez dias o Congresso Nacional apresentaria suas credenciais no tema; daria as informações necessárias e diria como iria atender as exigências do Judiciário ao qual se aliava o Executivo.
Algo já se viu que não combinava com a versão otimista do resultado da reunião quando se soube que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL), pontuou aos presentes seu descontentamento com uma negociação em ambiente de “dois contra um”. Se detectara e denunciara claramente a aliança do STF com o Planalto, era de concluir que saíra de lá na posição de antagonista.
Bastava ler a cena. E não deu outra: vencido o prazo, solicitou-se um adiamento de mais dez dias ao fim dos quais pediu-se a suspensão dos trabalhos por tempo indeterminado. E já com um aviso: as informações pedidas eram impossíveis de ser fornecidas por inexistentes.
Traduzindo, o Legislativo não tinha os registros completos sobre os autores e a destinação dos recursos provenientes das emendas transacionadas na obscuridade. O ministro Flávio Dino concordou, mas não conversou: mandou suspender os pagamentos até o esclarecimento dos dados.
Agora que o fim do período eleitoral destravou a liberação de dinheiro, o Congresso corre para acenar com a concordância sobre transparência e rastreabilidade, mas daqui para a frente. O passado ficaria naquele lugar onde fica o que acontece em Vegas.
Dino não desiste de pôr as mãos no passivo, dando com isso uma ajuda ao Executivo para recuperar parte do poder sobre o Orçamento e ainda reduzir o volume de recursos das emendas, hoje em R$ 50 bilhões com previsão para R$ 52 bilhões em 2025. Continua o impasse que parece acordo, mas ainda não é.
Se o estado paralelo é algo quase oficial no rio muito se deve, antes dos políticos, ao jornalismo engajado na tal utopia da esquerda do atraso, a esquerda do atraso em si, a intelectualidade boçal do estado distrito da Guanabara, a malandragem made in Brazil, aos usuários recreativos de drogas, a academia e por último ao judiciário em si, principalmente o do STF onde bandido não pode ser afrontado e combatido. Não se trata de ideologia, mas de sacanagens mesmo sob todos os seus mais impossíveis ângulos. Agora, ouvir o atual governador dando explicações no combate a esbórnia na segurança pública – onde ele próprio admite que as suas forças de segurança não só foram surpreendidas, mas superadas , em qualquer fala oficial é saber que tudo está embrulhado, mas aparente.
O FIM E O FIM DO DO GOVERNO CLÁUDIO CASTRO, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo
O governo Claudio Castro, do Rio de Janeiro, acabou. Acabou sem ter começado, mantido enganando enquanto havia dinheiros da concessão da Cedae e, sobretudo, por influente (e cara) campanha de, digamos, comunicação.
A casa cai de vez quando se descobre que o Estado entregou a um laboratório safado – empresa de parente do ex-secretário de Saúde, padrinho da atual secretária – o contrato para testar a saúde de órgãos a serem transplantados. Transplantados, afinal, órgãos infectados com HIV.
O governador tendo sido informado sobre essa barbárie – segundo ele mesmo – no mesmo dia que a imprensa, quase mês depois de a secretária que sustenta intocável haver tomado conhecimento da tragédia. Exemplo de autoridade.
Especula-se sobre o que se fez nesse quase mês até que governador fraco e sociedade traída soubessem do que se passara. E, depois, sobre o que se terá feito, por dentro, nos dez dias até que a diretoria da Fundação Saúde entregasse os cargos.
Há limites para até onde o esforço de comunicação-propaganda consegue ocultar a – o cronista está generoso hoje – incompetência. Ninguém governa com Dr. Luizinho, Washington Reis e Flávio Bolsonaro sem consequências. Ninguém lhes entrega em vão Saúde, Transportes e Segurança de um Estado problemático que cumpre indigentemente suas obrigações. O ruim piora.
Piora assim. Na forma de organização criminosa, Povo de Israel, que nasce, cresce e atua dentro dos presídios. Protegida pelo Estado. Comunicando-se livremente – com sinais de telefonia e internet liberados – com o exterior.
Antes este governo sem identidade operasse enxugando gelo somente. Opera sem planejamento, sem inteligência, sem calcular reações, para que afinal cidadão inocente morresse – com balaço na cabeça – a caminho do trabalho.
Saldo da irresponsabilidade de quinta: um preso e duas granadas apreendidas. Saldo eterno: três trabalhadores mortos. Intervenção policial desaparelhada, tecnicamente indefensável, às margens da Avenida Brasil, em horário máximo de circulação de pessoas, para então o Estado recuar, fugir, expostos ao improviso também os policiais – o Estado derrotado.
Reeleito em 2022, vendendo saúde fiscal maquiada, o governador teve um outubro de 24 para que não restassem dúvidas: acabou. Faltando-lhe ainda dois anos e dois meses, acabou. Agora é feira.
Agora é xepa. Intensificação da xepa. Aprofundamento-aceleração da partilha dos restos. Multiplicadas e distribuídas secretarias àqueles que poderão dar a Castro condições mínimas de sobreviver.
Sobrevivência lato sensu, para além da política. Sobrevida entendida nos termos do que tem sido o destino frequente de governantes no Rio de Janeiro.
Como o governo e os senadores jogam. Primeiro eles, depois o Brasil e os brasileiros que os sustentam com os pesados impostos
OTTO, O CAMISA DEZ DE ACM NO TIME DE LULA, por Andrea Jubé, no jornal Valor Econômico
Fã de Raul Seixas, também baiano, e com a autoridade de quem conviveu de perto com Irmã Dulce (1914-1992), a Santa Dulce dos Pobres, o líder interino do governo, senador Otto Alencar (PSD-BA), disse à coluna que o governo não precisa de milagres no Congresso.
“O governo sempre aprovou tudo o que quis na Câmara e no Senado, com dificuldades, mas aprovou”. Mas, parafraseando Raul, ele “não tem pressa, tem muita paciência” para votar a regulamentação da reforma tributária, e reforçou que muita gente no governo pensa como ele.
“Qual a urgência? O país está com aumento de arrecadação. É pressa para ter a grife da reforma tributária?”, desafiou, atribuindo, exclusivamente, ao mercado financeiro o interesse em ver o texto chancelado nas duas Casas até o fim do ano. O governo retirou o regime de urgência, carimbo com o qual a matéria havia chegado ao Senado.
Com o peso da nova missão, que lhe foi confiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira (17) passada, ele chegou entre 7h e 8h no gabinete todos os dias desta semana, com um dos versos de Raul Seixas retumbando em sua cabeça: “Pare o mundo que eu quero descer”.
Alencar afirmou que sua percepção de que a regulamentação da reforma não pode ser votada com açodamento é compartilhada por muitos senadores, porque o relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM), terá de mexer muito no texto, a começar pelo setor de serviços.
O líder interino do governo salientou que a redação aprovada pelos deputados implica uma elevação substancial da carga tributária do setor de serviços. Afirmou que o percentual atual em vigor, que varia de 11% a 17%, atingirá 28%, deixando alarmados micro e pequenos empresários. “Tem que equalizar a questão do serviço, esse setor representa 49,6% do PIB da Bahia”, argumentou. Para ele, não sobrevive a alegação do governo de que a população pobre não sentirá os efeitos das mudanças. “A população mais pobre contrata serviços, as baianas vão aumentar o preço do acarajé e do abará”, alertou.
O líder argumenta que, antes, a prioridade deve recair sobre a votação do projeto de lei complementar (PLP) com as novas regras das emendas parlamentares, porque, sem isso, nenhuma outra matéria avançará no Congresso. Na sequência, ele se dedicará às votações da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da lei orçamentária de 2025.
Ele ressalva, todavia, que deseja que a reforma seja aprovada até o fim do ano, mas desde que as mudanças encaminhadas pelos senadores sejam feitas em tratativas diretas com os deputados para que se tente buscar um consenso.
Ele também defende que seja retomada na Casa a discussão do pagamento de imposto de renda sobre lucros e dividendos das empresas. “Não é aceitável que a pessoa coloque dinheiro na empresa, receba o dividendo e não pague um real sobre isso”. A matéria aguarda relatório do senador Angelo Coronel (PSD-BA) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado há cerca de três anos.
Otto, como é chamado entre seus pares, substituirá Jaques Wagner (PT-BA) no cargo, enquanto o petista se recupera de uma cirurgia. Em tom de chiste, Lula explicou que a substituição era necessária porque Wagner faria uma cirurgia no pé, porque “quer voltar a jogar futebol no [time do] Bahia”.
Na verdade, é Alencar quem chuta a bola como o “camisa 10 do carlismo”, mas no time de Lula. Mais do que um aliado, Otto tem notória relação de amizade com Lula e Wagner. O vínculo sedimentou-se a partir de 2010, quando ele se elegeu vice-governador da Bahia na chapa encabeçada por Wagner.
Alencar ganhou de Wagner o apelido que o associa ao adversário histórico do PT na Bahia, em alusão à aliança que manteve no passado com Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Alencar declara-se amigo de Lula, bem como de Antonio Carlos. Em 2002, então no cargo de governador, convenceu ACM a apoiar Lula no segundo turno contra José Serra (PSDB), levando os adversários históricos para o mesmo palanque na Bahia. “ACM pediu votos para Lula”, relembrou.
O senador enumerou os projetos sensíveis que o governo aprovou nos últimos meses no Congresso, como a matéria relatada por ele, que restabeleceu o voto de desempate em favor do governo nas deliberações do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a taxação das compras de até US$ 50, os impostos sobre fundos exclusivos e offshores. Por isso, rebateu a provocação da coluna de que o Executivo precisaria de um “milagreiro” no parlamento. “Nenhum governo entra aqui com maioria feita pelos seus partidos, todos têm que chegar para conversar, esse é o presidencialismo de coalizão”, argumentou.
Mas emocionou-se quando indagado sobre as melhores lembranças com Santa Dulce, primeira santa genuinamente brasileira, porque Santa Paulina nasceu na Itália. A relação de ambos começou nos anos 70, quando ele fazia cirurgias “pro bono” no Hospital Santo Antônio, mantido por ela, onde ele operou crianças com tuberculose óssea em virtude da subnutrição. Nos anos 90, como secretário de Saúde da gestão ACM, estabeleceu convênio estadual com a instituição. No leito de morte, foi uma das pessoas de quem ela se despediu, poucos dias antes de falecer. “Ela pegou minha mão e me agradeceu.”
APAGÕES EM SP TRAZ MOTIVOS PARA FORTALECER ANEEL, NÃO PARA ESVAZIÁ-LA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Três apagões na Região Metropolitana de São Paulo em menos de um ano puseram a concessão da italiana Enel sob risco, como determinam os contratos das concessionárias privadas de serviços públicos. Os blecautes — em novembro de 2023, março passado e agora em outubro — se estenderam por quase uma semana. No último, no sexto dia depois dos temporais que derrubaram a energia ainda havia 70 mil imóveis sem luz. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) encaminhou à empresa uma intimação relacionada à “reincidência quanto ao atendimento insatisfatório dos consumidores em situação de emergência”. O final do processo pode ser a recomendação ao governo federal para que casse a concessão da Enel. Mas é essencial seguir os trâmites. O pior que pode acontecer é o episódio servir de pretexto para o governo enfraquecer a regulação do setor.
Desta vez, é notável que, em vez da tradicional gritaria contra as privatizações, a gestão petista tenha decidido fazer pressão para trocar a diretoria da Aneel. Os atuais diretores foram nomeados no governo passado, e a agência não se tornará mais ágil nem mais eficiente se forem trocados por apadrinhados do PT. Também não faz sentido querer alterar o mandato deles para que passe a coincidir com a permanência do presidente de turno no Palácio do Planalto. Os mandatos não devem coincidir justamente para preservar a independência das agências reguladoras, de modo que possam tomar decisões técnicas, sem preocupações ou interferências políticas.
A longa tradição brasileira na produção e distribuição de energia criou gerações de especialistas e gestores competentes, capazes de recuperar a Aneel para ela cumprir com eficiência o trabalho de acompanhar o cumprimento dos contratos de concessão. Mas a agência tem sido esvaziada nos últimos anos, em razão de interesses políticos. Hoje tem apenas quatro diretores, com uma vaga aberta. Também enfrenta dificuldades financeiras devido ao corte de pessoal e ao contingenciamento dos recursos que recebe da Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica. De acordo com o diretor-geral Sandoval Feitosa, do R$ 1,4 bilhão arrecadado, apenas R$ 400 milhões ficam com a agência. “Nós só temos nove servidores dedicados a fiscalizar o serviço de distribuição de energia no Brasil. Somente nove”, disse ele.
É evidente que a escassez de recursos está relacionada às dificuldades de fiscalização, resultando no ambiente de leniência que incentiva os abusos da Enel. O necessário, portanto, não é enfraquecer ainda mais as agências, como pretende o governo, mas fortalecê-las, sem recair nos clichês ideológicos que culpam o modelo de privatização e de concessões. Nem o contribuinte paulista nem o Tesouro Nacional têm condições de arcar com os investimentos necessários à prestação de um serviço eficiente. O apagão não pode servir de revanche contra as privatizações no setor elétrico, necessárias para que o crescimento do país não esbarre amanhã na falta de energia.
EM CÚPULA INTERNACIONAL, PGR PÕE DEDO NA FERIDA SOBRE CRIME ORGANIZADO, por Wálter Maierowitch, no portal Uol (Folha de S. Paulo)
Alison Jamieson é uma socióloga italiana especializada em crime organizado transnacional. Trabalhou no escritório das Nações Unidas de prevenção àquela espécie de fenômeno criminal que não observa limitações de fronteiras, como é o caso, por exemplo, do ramificado PCC (Primeiro Comando da Capital), da mundial ‘Ndrangheta calabresa, etc.
Certa vez, e há anos, Jamieson escreveu ter a criminalidade organizada transnacional trocado a metralhadora pelo mouse do computador.
Na verdade, quis dizer ingresso do crime transnacional no mundo da tecnologia de ponta.
Como essa criminalidade está sempre na frente das atividades de contraste exercida pelos estados nacionais, a IA (inteligência artificial) já deve estar nos seus experimentos.
As máfias usam, faz anos, tecnologia moderna para lavar —mais rápido— o dinheiro sujo obtido, de modo a poder reciclar o capital lavado em atividades formalmente lícitas.
O crime organizado transnacional infiltra-se sempre no poder. Apoia candidatos às eleições e influencia o voto
Neste momento, deve estar a acompanhar, de alguma forma, o encontro que está ocorrendo no Rio de Janeiro, com participação de 19 países e da União Europeia. Trata-se de encontro da Cúpula dos Procuradores-chefes do Ministério Público dos Estados nacionais. Uma feliz iniciativa do nosso procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Na abertura do encontro, Gonet lembrou que “embora tenhamos um canal burocrático para vencer no combate à criminalidade, os criminosos não têm isso. Para que a gente vença essa guerra nós precisamos ser mais ágeis”
Gonet, no particular, foi comedido, pois deveríamos ser infinitamente mais ágeis. A lembrar, ainda, que as organizações criminosas transnacionais são mais criativas.
Atenção: elas corrompem. E não se inibem com as leis, as penas altas e o regime prisional fechado.
O PROCURADOR DINAMITADO
O procurador dinamitado
Certa vez — no final dos anos 80 e antes de ser dinamitado pela máfia siciliana em 23 maio de 1992 —, Giovanni Falcone, à época magistrado do Ministério Público italiano, alertou: “Se o crime é transnacional — não tem fronteiras limitativas —, só com a cooperação internacional poderá ser vencido”
Falcone usou do ovo de Colombo. De fato, sem cooperação não há como prevenir, reprimir e vencer o fenômeno da criminalidade com atuação sem limitações de fronteiras.
O procurador Gonet usou de veemência necessária ao apelar para maior agilidade e eficiência na cooperação internacional entre os que atuam, mundo afora, no Ministério Público.
Gonet, com pleno acerto, apontou a burocracia como inimiga. Deixou, no entanto, de destacar um ponto fundamental e visível para quem tem olhos de ver e vontade de perceber: o crime organizado transnacional anda de braços dados com as ditaduras e joga de mão com os autocratas
Hipocrisia de lado, a máfia russa e as tríade chinesas crescem e se sofisticam cada vez mais. A máfia russa convive com o autocrata Putin, e as tríades com a ditadura chinesa de Xi Jinping.
BUROCRACIA
Gonet falou da burocracia e disse que o crime organizado não é burocratizado.
No particular, sua análise só se aplica às organizações transnacionais de formação horizontalizada, como, por exemplo, a Camorra napolitana.
s mais potentes têm formação piramidal, com rígidos órgãos de cúpula, ou seja, de governo: a máfia siciliana, por influência daquela sículo-americana poderosíssima, chamava a sua cúpula de “commissione”.
Em outras palavras, o crime organizado transnacional tem burocracia. A diferença é que a burocracia mafiosa possui a velocidade da luz e a outra, a dos órgãos oficiais de repressão, tem a velocidade de lesma reumática.
Num pano rápido, o procurador Gonet, embora sem citar a autoria, descobriu a fundamental lição do seu saudoso colega Giovanni Falcone, ou seja, o crime é transnacional só se combate com operação internacional, sem cooperação não se vai a lugar algum.
E mais disse Falcone: “É fundamental atacar a economia movimentada pelo crime organizado”
Só para lembrar, parte do dinheiro movimentado por Pablo Escobar, chefão do então cartel colombiano de Medellín, estave bem guardada no Panamá, sob a proteção do então ditador Manuel Noriega. E Noriega estava na gaveta de corrupção da CIA, a agência norte-americana de inteligência.
UMA TUNGA PARA OS DESEMPREGADOS, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
O escurinho de Brasília produz ideias malucas para arrecadar, condição necessária para gastar mais. Primeiro, soltaram a jogatina eletrônica, para que as empresas avaliassem o potencial do mercado. Esperavam arrecadar R$ 3,4 bilhões vendendo outorgas. Deu no que deu. Agora, a novidade é um projeto de tunga no seguro-desemprego.
A ideia é ardilosa. Trata-se de pagar menos a pessoas demitidas sem justa causa que, por isso, recebem do empregador um adicional de 40% sobre o valor do Fundo de Garantia.
Em tese, pegaria só trabalhadores que ganhavam mais de quatro salários mínimos (R$ 5.648). Num exemplo hipotético, esse bilionário, demitido sem justa causa, receberia R$ 6.900 em razão da multa sobre seu FGTS e teria direito a cinco parcelas de R$ 2.300 de seguro-desemprego. Com a mudança, ficaria só com duas parcelas do seguro-desemprego. Tomaria uma tunga equivalente à multa, que saiu do bolso do empregador. Com a mágica, o governo economizaria R$ 5,6 bilhões.
Avançar no dinheiro dos desempregados é uma covardia social. Misturar FGTS e multa — um pecúlio do trabalhador — com o seguro-desemprego — uma política social — beira a noção de confisco.
Esse tipo de fúria fiscal levou a uma descoberta: o seguro-desemprego de quem ganha acima de R$ 2.824 custa R$ 15 bilhões. Isso deveria ser motivo de orgulho. É esse dinheiro que socorre o orçamento de milhões de pessoas quando perdem seus empregos. Nesse bloco de bilionários (para a ekipekonômica) estão 23% dos beneficiários do seguro-desemprego. Só 0,66% deles ganha acima de dez salários mínimos.
É um exagero supor que a classe média comece com rendimento acima dos R$ 2.824, mas vá lá. Arma-se uma tunga sobre os desempregados que ganhavam salários baixos e, em seguida, morde-se toda a classe média desocupada.
O governo quer equilibrar suas contas. Há duas maneiras: arrecadando mais ou gastando menos. Descobriram que se gasta muito com os desempregados.
A gracinha foi posta em circulação, casada com a ideia de conter os supersalários de servidores públicos. Contem outra, doutores.
Uma boa ideia seria transformar em serviço gratuito a presença de hierarcas em conselhos de empresas estatais. Em março, 17 dos 38 ministros complementavam seus salários de R$ 41 mil caindo de paraquedas nesses conselhos, muitas vezes sem grande qualificação. Quatro deles têm cadeiras na Companhia de Gás do Rio. A cereja desse bolo está na Itaipu Binacional. Lá, cinco ministros recebiam R$ 26 mil por mês por seis reuniões anuais. Em matéria de exemplo de austeridade, essa gambiarra é um primor.
A mágica da tunga em cima dos desempregados vem sendo cozinhada na periferia da ekipekonômica e depende da aprovação de Lula. É difícil que prospere, mas a seu favor sopra um vento de Brasília: toda vez que o governo pensa em morder o andar de cima, fracassa, mas, quando pretende morder o andar de baixo, consegue.
No governo de Jair Bolsonaro, pensou-se em tungar os desempregados cobrando-lhes a contribuição previdenciária. Era tunga e, como a liberação de cassinos, não prosperou.
Quanto mais mexe, mais FEDE.
Depurar esse CÂNCRO é que são ELAS…e só o povo, hoje acuado e dividido, é quem PODE exigir a faxina que o Brasil precisa.
Dez anos se passaram do gigante manisfesto popular, que OBRIGOU o Congresso Nacional a criação de mecanismos para FREAR a CORRUPÇÃO nas instituições PÚBLICAS do país.
Desse movimento nasceu a lei da FICHA LIMPA, o PORTAL DA TRANSPARÊNCIA,
entre outras normativas para MORALIZAR O USO DO DINHEIRO PÚBLICO.
A demonstração da força que emanou da população brasileira, na época, não deve, nem pode jamais ser esquecida no presente e futuro da Nação.
Excelente observação. O que mostra ela? O quanto nos tornamos bananas perante os nossos próprios representantes e que escolhemos pelo voto direto, sigiloso e democrático. “Vigiados”, teriam mais comedimentos ao menos, mesmo perdendo o respeito por nós que os sustentamos.