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REPETIR UM TÍTULO SERIA FALTA DE CRIATIVIDADE OU SIMPLESMENTE A CONSTAÇÃO DA REPETIÇÃO DO QUE SÃO OS POLÍTICOS E GESTORES PÚBLICOS?

Ontem, ao final da tarde, postei ” FALTA DE LIDERANÇA, CONHECIMENTO OU EQUIPE TÉCNICA? A PREFEITURA DE GASPAR ENTULHADA DE COMISSIONADOS PARA ATENDER INTERESSES POLÍTICOS ERRA NAQUILO QUE É BÁSICO”. Bingo! Ontem à tarde, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, prevendo o que está por vir naquilo que prometeu e não cumpriu até agora, saiu gravando um vídeo para postar nas suas redes sociais. 

Disse ele, com todo desconhecimento técnico que possui neste assunto – e eu também – o que supostamente vai fazer de drenagens contra os alagamentos sem precedentes para aqueles que moram no bairro Sete de Setembro e não tinham este problema na gravidade como se apresenta agora. Kleber sabe o que agravou. Os moradores do bairro também.

Na verdade, o prefeito Kleber estava respondendo e tentando amenizar uma revolta dos moradores daquela região que não aguentam mais os sucessivos alagamentos, bem como o medo que os acompanham naquilo que está por vir neste verão, feito de enxurradas, e cada vez mais volumosas diante das tempestades severas e volumosas. Tudo conspira contra a qualidade de vida, patrimônio, o direito de ir e vir, bem como à proteção de seus bens.

Kleber, no vídeo, mostrou soluções. Ora, se possaui soluções – com embasamentos técnicos, supõe-se – por que vai fazer uma reunião com os moradores do bairro só no dia três de novembro, quinta-feira da semana que vem, para assinar papelinho de um convênio que vai estudar qual a solução que terá que ser dada ao problema? E pelo tempo que se terá que gastar para tal estudo – se for sério -, a constituição de um projeto, a busca de dinheiro e a execução da obra – que não se sabe ainda a complexidade dela e que dependerá do estudo e do projeto – com muita sorte, ficará para o próximo final do ano que vem, ou então às vésperas das eleições de 2024. Entenderam? 

Até lá, água e misturada com merda estarão invadindo as casas dos moradores do bairro Sete. Sim porque a prefeitura misturou à drenagem pluvial, o esgoto sanitário. Um crime contra a saúde das pessoas e o meio ambiente. E por quê? Primeiro porque não revisando o Plano Diretor por anos seguidos como manda o Estatuto das Cidades, vem permitindo aterros em áreas de baixios para caros empreendimentos imobiliários de riquinhos influentes. Isto está transformando o bairro Sete uma nova lagoa. Conspiram o solo de turfa e a baixa declividade para a drenagem da área.

E por outro lado, o que é tão grave quanto, e bem demonstra a cara de descompromisso do governo de Kleber e Marcelo de Souza Brick, Patriota,  é a não implantação, apesar do Termo de Ajustamento de Conduta assinado há muitos anos com o Ministério Público Estadual e ainda ao tempo do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, do esgotamento sanitário da cidade. Nada foi feito, exatamente para preservar a galinha dos ovos de ouro chamada de Samae, nem naquilo que já há projeto, exatamente para o Santa Terezinha. Sete de Setembro, Coloninha e Centro. 

Tudo para o Rio Itajaí Açú e ribeirões, antes, porém, tubulado – e em alguns caso contra a lei – para esconder a incúria do gestor público.

Depois da surra que levou nas urnas no dia dois de outubro, muitos pesavam que Kleber – e Marcelo, por extensão, e que está como o bobo da corte – iria mudar a postura diante de exigências cruciais para a cidade. Esperava-se uma nova fase. Torcia-se para largar mão de se fazer vídeos que o deixam ainda mais enfraquecido e vulnerável como gestor público diante da cidade, seus padrinhos, eleitores e eleitoras. Mas, não. O velho vício e as velhas companhias de marquetagem de araque não o largaram. 

Kleber – o que aveitou a prefeitura ser apelidada depreciativamente de prefa ao valor que ela deveria se impor – está repetindo uma fórmula que deu errado no passado e só levou dinheiro para um tipo de publicidade que é reconhecida como fake. Não transmite credibilidade. E como Kleber é o astro principal dessa propaganda, o falso que transmite gruda nele próprio, o político.

Ora, se Kleber possui uma solução para o problema grave não suportado pela comunidade que governa, como garante no vídeo que circula, por que já não fez isso em favor da sua cidade e do povo que está apavorado, perdendo sono e bens materiais? Se perdeu tempo e sabe o que resolve, por que não coloca a mão na massa e manda executar o que tem que ser feito e que diz ter certeza que será a solução? O que Kleber esconde e a cidade sabe – e ele e seus “çábios” acham que não – , é que Kleber e sua equipe são partes deste problema. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Ontem quem assistiu o debate entre Jorginho Mello, PL, e Décio Neri de Lima, PT, na NSC na corrida ao governo do estado – e não tinha nada a ver com as campanhas e interesses – se submeteu a uma inútil tortura. Primeiro, não se trata de debate, mas de uma modelo enfadonho. Segundo nenhum dos dois candidatos foi capaz de passar confiança naquilo que diz. Pobre Santa Catarina.

Num lugar sério, fala-se sobre futuro. É claro que passado diz muito da capacidade resolutiva de quem quer lidar com o futuro que é onde estaremos com um dos eleitos. São políticos velhos, cansados e viciados. Prometem e não dizem exatamente como e em que prazo farão o que prometem. Experientes e orientados por gente especializada nisso, falam o que os ouvidos mal formado querem ouvir. Então.

Nos últimos dias, criou-se várias tretas contra o governador Carlos Moisés da Silva, Republicano, derrotado na sua intenção de renovar o mandato. E fiquei imaginando, qual a razão de tal insistência dos que conduzem a candidatura de Jorginho Mello, PL, quando ele e eles deveriam estar focados na campanha de segundo turno, apesar dela já estar aparentemente ganha.

É que a revelação de Carlos Moisés da Silva, Republicano num debate de primeiro turno, e na própria NSC, de que Jorginho o tinha procurado para não renegociar um contrato pois a negociação complicaria um aliado de Jorginho, poderá dar samba se prosperar. E Jorginho estaria em maus lençóis. Então, a ordem é acuar Moisés. E Moisés, solto, estaria provocando…

E a eleição nacional? Não está resolvida. E se Jair Messias Bolsonaro, PL, perder, não haverá outro culpado do que ele próprio e os próprios bolsonaristas. Ele não enxergou esta ameaça e esta possibilidade. E se a viram, não agiram. Uma parte da queda do petismo deveu-se à radicalização e discriminação dos seus militantes contra quem não era simpatizante da causa deles e principalmente seus exageros. E nisso incluo o sindicalismo pelego, político e ameaçador.

O bolsonarismo, usando as seitas neopentecostal, as armas – que pelo jeito usaram para dar tiros no próprio pé -, as forças armadas e policiais, bem como as causas de gênero e comportamento, também exageraram.  No fundo, o Brasil ainda é feito de uma maioria conservadora – que vai da direita até o centro, e com ideias liberais para a economia. E nas pesquisas, até ontem, estava perdendo.

Mais, do que isso: o bolsonarismo ganhou cara de rico. E vai ter que mudar se quiser continuar competitivo no cenário político. É um rótulo. Perigosíssimo. Como a maioria é pobre, ignorante, desinformada e até analfabeta, está preferindo alguém que um dia falsamente os acolheu, exatamente para se fartar na corrupção sem escrúpulos – que preferiu fortalecer governos ideologicamente identificados com a esquerda do atraso – e que nos deixou, por isso, e outros, à beira do abismo. Bom voto. E que saibamos respeitar a escolha de qualquer maioria que for as urnas. Os omissos que não reclamem mais tarde. 

Quem mais está saindo arranhado desta disputa? O Judiciário como um todo. Reabilitou um condenado sem lhe absolver. Ficou explícito que a lei e o devido processo legal são para pretos, putas e pobres. E o que se expõe em Brasília, é o que se esconde às centenas nas comarcas, onde a influência dos poderosos – e não me refiro só aos políticos – o medo e até desconhecimento hermenêutico, produzem erros absurdos contra a Lei, mas contra as pessoas. Wake up, Brazil!

Quem sai mais fraco desta eleição, também, são os conteúdos das redes sociais. Nunca se sabe o que é verdade ou mentira. E também se conheceu melhor os jornalistas militantes radicais, ou cegos ao mínimo razoável. De um e de outro viés.

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6 comentários em “REPETIR UM TÍTULO SERIA FALTA DE CRIATIVIDADE OU SIMPLESMENTE A CONSTAÇÃO DA REPETIÇÃO DO QUE SÃO OS POLÍTICOS E GESTORES PÚBLICOS?”

  1. ENTRE PELEGOS E NÃO PELEGOS, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Foi positivo que tenha havido um segundo turno. Mesmo sem grandes novas alianças partidárias, Lula e Bolsonaro tiveram de ampliar repertório, elencos de apoio e foram mais expostos.

    Se o objetivo de um e outro era sair da respectiva bolha, Lula saiu-se melhor. Obteve apoios importantes, que vieram sem cobrança e com uma posição que ajuda na busca de eleitores indecisos. Ajuda a escapar da polarização.

    Sim, porque, se o embate se dá entre o bem e o mal absolutos, isso mantém no jogo apenas os fiéis de cada lado. Mas o Brasil seria isso? Metade lulista e metade bolsonarista?

    Simone Tebet, cujo crescimento como figura nacional até se reforçou após o primeiro turno, respondeu. Não é lulista, não apoia o programa histórico do PT, mas vota no ex-presidente por entender que esse voto preserva a democracia. Não é apenas um voto anti-Bolsonaro, mas a favor de algo mais.

    A polarização, numa psicanálise de leigos, é primitiva. Divide o mundo entre o bem e o mal, as situações pessoais entre “gosto” e “odeio”. Estamos vendo muito desse primitivismo. A civilização é mais complexa que isso. O diabo, às vezes, pode não ser tão diabólico.

    Pensando nisso, me veio uma memória de 1982, na campanha de Franco Montoro para governador de São Paulo. Lá pelas tantas, ficou claro que Montoro ganharia de lavada. Consequência: começaram a chover apoios. Um belo dia, Montoro recebeu a adesão entusiasmada de líderes sindicais que haviam passado muitos anos convivendo com o regime militar. Terminada a cerimônia, um grupo de jovens do MDB foi se queixar com o chefe da campanha, Chopin Tavares de Lima. Aqueles caras eram pelegos. Resposta de Montoro: se a gente dividir o mundo entre pelegos e não pelegos, eles certamente caem no grupo dos pelegos. Mas o mundo não se divide assim.

    Fica a dica.

    Lula recebeu apoios de não petistas e mesmo de não petistas históricos, a começar por Alckmin. É verdade que este tem interesse pessoal no caso, mas enfim… E FH pediu votos para Lula —e pronto.

    Certamente por isso, Lula não entregou o que muitos esperavam: uma declaração firme por uma política econômica responsável, algum mea-culpa pela corrupção e a promessa inequívoca de um governo além da dominância petista. Na carta divulgada nesta semana, cabe muita coisa, inclusive a volta à política econômica chamada de nova matriz — que conduziu o país à combinação de recessão profunda com inflação elevada. Promessas de campanha apontam nessa direção, de gasto público irresponsável.

    Ao mesmo tempo, Henrique Meirelles tornou-se uma espécie de porta-voz econômico, garantindo que haverá uma gestão comprometida com o equilíbrio das contas públicas. Cita como referência os oito anos em que trabalhou com Lula como presidente do Banco Central. Não conta, entretanto, que, no segundo mandato de Lula, o então ministro Mantega tentou e quase conseguiu derrubar Meirelles para colocar no seu lugar um neodesenvolvimentista.

    Essa tensão, entre petistas e não petistas, já aparece claramente nas movimentações em torno da campanha de Lula e nas “listas” de ministros, isso mesmo, que já aparecem aqui e ali. Considerando que a situação econômica é bem difícil — déficit primário elevado, BC mantendo juros reais altos —, os dilemas de Lula, se eleito, tornam-se ainda mais complexos. Vai governar tendo recebido o “não” de quase metade do país. Precisa ir muito além de sua turma.

    Do outro lado, Bolsonaro acumulou desastres. A denúncia da última semana — segundo a qual emissoras de rádio do Nordeste estariam transmitindo mais propaganda de Lula do que de Bolsonaro — revelou-se ridícula. Uma auditoria da própria campanha bolsonarista colocava nessa pretensa manobra oito — oito! — emissoras, num universo de mais de 5 mil rádios em atividade. Se é o mesmo pessoal que está armando o golpe… então é a turma das Organizações Tabajara. Lembram-se? “Casseta & Planeta”.

    Mas toda cautela vale. Se não é propriamente um ás do planejamento, o presidente é impulsivo e sem limites.

  2. Não vou escrever um artigo sobre o debate presidencial de ontem nas organizações Globo. Primeiro, acho que não houve debate, mas uma briga de rua. Espertezas de ambos e dos marqueteiros. A culpa é do modelo e não dos candidatos. Segundo, porque não houve claramente um vencedor, mas ilusionistas bem treinados. Terceiro, porque na minha avaliação ninguém conquistou ou perdeu nada. Só consagrou ambas as bolhas. Elas é que estão nas redes sociais garganteando vitórias e derrotas. Impressionante o nível de cegueira onde nos metemos.

    CANDIDATOS BUSCAM AFASTAR INDECISOS DO RIVAL EM DEBATE DE REJEIÇÃO E CONFUSÃO, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

    Na última oportunidade de assegurar o voto dos eleitores que ainda não decidiram o voto no segundo turno, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) levaram ao debate da TV Globo uma rajada de ataques que tinham o objetivo de ampliar a rejeição do adversário.

    O petista fez um investimento para dar à reta final da disputa a cara de um plebiscito sobre a continuidade do governo. Em praticamente todos os blocos, Lula perguntou repetidamente a Bolsonaro sobre as realizações de sua gestão –aproveitando a hesitação do rival para acusá-lo de fazer poucas entregas e não apresentar propostas.

    Foi uma tentativa de levar a discussão para um terreno que o PT acreditava ser mais fértil antes do segundo turno. O comitê de Lula achava que o eleitor julgaria o governo Bolsonaro e encerraria rapidamente sua gestão, mas a dinâmica da corrida elevou o antipetismo a fator de definição de voto de uma parcela razoável do eleitorado.

    Lula já havia testado esse caminho no primeiro debate do segundo turno, quando conseguiu um bom desempenho ao relembrar as decisões de Bolsonaro durante a pandemia. Ele voltou ao tema nesta sexta-feira (28), acrescentando tópicos como política externa e meio ambiente – duas áreas em que Bolsonaro é internacionalmente rejeitado.

    Numa fala teatral, o ex-presidente chegou a pedir desculpas à TV Globo pelo comportamento do oponente. Depois, afirmou que faltava a Bolsonaro uma postura de presidente.

    Bolsonaro só acordou para a tática no quarto bloco, em mais um momento em que Lula viu seu tempo esgotado e entregou o palco para o adversário. Bolsonaro tentou apagar a imagem de um governo ineficiente citando a criação do Pix, a anistia de dívidas do Fies e a transposição do rio São Francisco.

    Essa trilha seria importante para capturar o voto de indecisos que estão em cima do muro em relação ao desempenho do governo. Segundo o Datafolha, 23% dos brasileiros consideram a gestão Bolsonaro regular, e está nesse grupo uma boa fatia de eleitores que não firmaram escolha para domingo (30).

    A aposta na rejeição ao campo rival pode ajudar a evitar que o adversário consiga o apoio desses eleitores, mas é difícil saber se o discurso é suficiente para conquistar o apoio deles.

    O principal golpe desferido por Bolsonaro foi uma tentativa de descolar de Lula o eleitor que pode votar no ex-presidente para derrotá-lo, mas nutre alguma antipatia pelo PT. Fazer com que um contingente razoável desses brasileiros deixe de votar ou migre para o voto nulo pode fazer a diferença na busca pela reeleição.

    Bolsonaro tratou de vincular o petista à coloração vermelha. Além de dizer que o ex-presidente apoiava ações de invasão de terras, chamou o adversário de “abortista” ao menos quatro vezes. Lula afirmou que não endossava a ocupação de áreas produtivas e fez uma declaração contrária ao aborto.

    Em todos esses embates, Lula e Bolsonaro buscaram levar o encontro para terrenos confortáveis – e afastar temas considerados mais espinhosos. A consequência foi uma enxurrada de assuntos diferentes sobre a cabeça do eleitor e uma série de perguntas deixadas sem resposta.

    Só no bloco de abertura, com 30 minutos, os dois candidatos passaram por tópicos como salário-mínimo, 13º salário, os processos contra Lula, as acusações de “rachadinha” contra a família Bolsonaro, o ex-ministro Antônio Palocci, o ex-deputado Roberto Jefferson, a política externa brasileira, programas de financiamento do BNDES, o metrô de Caracas, a suspeita de propina transportada em pneus para o ex-ministro da Educação e reuniões bilaterais no exterior, para ficar numa lista resumida.

  3. POR QUE OS POLÍTICOS MENTEM? por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

    Às vezes, o logro está no cerne de sua estratégia. É o caso de líderes da extrema direita, mas não só dela, cujo sucesso depende de criar uma realidade paralela e nela manter a base mais fiel de seguidores. Só que essa não é a única situação em que políticos mentem. Eles o fazem também em circunstâncias em que só podem sair perdendo.

    É o que ocorre quando exageram suas realizações e desfilam dados absurdos, que são incontinenti contestados pelas agências de checagem. Se sabem que serão desmentidos, por que insistem no logro? Parte da resposta é a cara de pau mesmo. Você sempre pode dizer que é o checador que está errado. Uma parte dos seus eleitores acredita mais em você do que nas agências e outra não liga para as mentiras. Os que ficam irritados são aqueles que já não votariam mesmo em você.

    Algumas mentiras, porém, são tão escancaradas que assustam até aliados. Bolsonaro se meteu com uma dessas esta semana. No afã de distanciar-se de Roberto Jefferson, disse que não existiam fotos dos dois juntos. Em minutos, sites jornalísticos estavam abarrotados de imagens da dupla. E essa é uma mentira difícil de desconversar.

    Minha conclusão é que mesmo um indivíduo que respira falsidades como Bolsonaro às vezes crê em suas fabulações. Sua mente estava tão ansiosa para afastar-se de Jefferson que criou uma lorota que outros módulos cerebrais aceitaram acriticamente. Imagino que o próprio Bolsonaro se surpreendeu ao ver as fotos.

    Meu ponto é que não podemos levar as mentiras, especialmente as de políticos, levianamente. Alguns cientistas, como o primatologista Frans de Waal, defendem que a mentira e o logro com vistas a obter melhores posições sociais foram uma força a moldar a evolução humana mais importante do que as ferramentas e o cozimento. Essa tese é conhecida como hipótese da inteligência maquiavélica. No caso de Bolsonaro, mais maquiavélica do que inteligente.

  4. NAZISMO CATARINENSE

    Na sabatina que concedeu esta manhã ao UOL, questionado por Leonardo Sakamoto, sobre supostas células nazistas em Santa Catarina, o candidato Décio Neri de Lima, PT, lá pelas tantas, citou que o empoderamento destas supostas células, deu-se também com a conivência dos meios de comunicação. Ai, ai, ai.

    Resumindo a sabatina conduzida além de Sakamoto, por Paula Cidral e Cauê Fonseca: Santa Catarina é um perigoso enclave nazi fascista. Resumindo: Décio vai perder porque não entendeu ainda ao estado onde nasceu, reside e quer governar. Quer mudar ao seu jeito ideológico, o atraso, à submissão e à pobreza

    Há uma cultura que nos diferencia e que não é apenas alemã. Há italianos, poloneses, açorianos e tantos outros que cultuam as suas origens, inclusive os que migram internamente em busca de trabalho e qualidade de vida que não encontram em seus estados. Há problemas? Há! E onde não eles não existem?

    E preservar valores da cultura alemã, de alguns antepassados, que exatamente fugiram de regimes ditatoriais, da guerra, da falta de perspectivas criados por seus líderes e políticos da época, não significa ser nazista. Isto é reducionismo intencional. Algo que beira a crime também.

    A Alemanha não é sinônimo de nazismo, apesar dela ter sido um dia, o berço de algo nefasto para a sociedade e a humanidade. E na Alemanha dos dias de hoje, e como em outras partes do mundo, há sim, células nazistas, como há o câncer numa humanidade de bilhões de saudáveis. Extirpar as células cancerosas é tarefa da ciência. Extirpar o nazismo é uma missão dos livres e que assim querem essa liberdade para os seus no presente e futuro.

    Mas, não devemos confundir gente doente com uma maioria saudável. Décio, Décio, Décio… Agora quer rotular o seu estado como um problema social ideológico? Aponte os nazistas (ou células) e faça a sua parte neste processo e não generalize para se pendurar em discursos fáceis que não contribuem em nada para a pacificação como parece falsamente estar pregando nesta eleição. Meu Deus!

  5. HOLLYWOOD É AQUI, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    Num certo país imaginário, um líder político inteligente, experiente e praticamente dono de um partido chocou todo mundo ao atacar de forma vil uma ministra da Suprema Corte, mesmo sabendo que, em estando em prisão domiciliar, seria levado de volta à cadeia. Como foi.

    Antes, porém, nesse país imaginário, esse político preso, armado e amalucado recebe agentes da Polícia Federal com 50 tiros e três granadas. E o que faz o presidente da República? Destaca o ministro da Justiça para negociar, a favor do aliado criminoso, com quem ele disse que nunca tirara uma foto. A internet foi inundada de fotos dos dois.

    Ato contínuo, um ministro desse país imaginário, que não deveria ter nada com a campanha de reeleição, convoca uma entrevista, à porta do palácio presidencial, e denuncia fraude na divulgação das peças eleitorais nos rádios. Suspense! Tensão! Mas não era nada. Muitos consideraram uma farsa e o presidente da Corte Eleitoral tachou de “tentativa de tumultuar” as eleições, dias depois.

    Como “prova”, o presidente não apresentou nenhuma “auditoria” real, só uma lista de oito rádios, num universo de 6 mil, nas quais teria havido problema. Todas, porém, comprovam que as inserções foram transmitidas, sim, a não ser quando… o partido do presidente entregou o material atrasado.

    O feitiço virou contra o feiticeiro, que ficou muito bravo com a decisão da Corte Eleitoral de mandar investigar sua campanha por má-fé, e convocou reunião com ministros, generais e comandantes militares. O que aconteceu? Novamente nada.

    No meio disso, um sujeito esquisitão apresenta denúncia na mesma linha, de “fraude” nas rádios”, é demitido do tribunal eleitoral e abre uma crise dentro da crise. Mas dura pouco. O tempo para se saber de posts dele contra o candidato da oposição e dos posts da rádio citada a favor do presidente.

    Apesar de tudo, a eleição corre em impressionante estabilidade, com o candidato da oposição na frente, o da reeleição produzindo factoides, batendo cabeça com sua assessoria e… alimentando o pavor geral de um golpe nesse país imaginário. Como se fosse fácil dar golpes nesse país com economia forte, sociedade atenta, instituições sólidas e uma Corte Suprema e uma Corte Eleitoral capazes de responder a todas as ameaças.

    Golpe não haverá, mas a guerra continua, com milhares de eleitores com revólveres, fuzis, talvez até granadas. Se o candidato à reeleição perder, como preveem pesquisas e o comportamento dele próprio indica, tudo é possível. Inclusive nada. Porque, como dizem Constituição e Forças Armadas, é simples: quem ganhar leva. Até mesmo em países onde a realidade supera a ficção.

  6. MUSK E TWITTER E LULA E BOLSONARO, por Pedro Dória, no jornal O Globo

    Na quarta-feira de manhã, Elon Musk entrou na sede do Twitter carregando uma pia de louça nas mãos.

    Let that sink in – escreveu.

    Literalmente, “deixe esta pia entrar” – embora, em inglês, a frase também possa ser lida como “deixa essa ficha cair”. Enquanto publicava o vídeo na própria plataforma, modificou sua autodescrição: Chief Twit. Mais ou menos ao mesmo tempo, os funcionários da empresa receberam um e-mail geral.

    — Elon Musk está circulando pelo prédio, aproveitem para dizer “oi”.

    Pela cabeça de muita gente certamente passava outro recado – que, se Musk fosse comprar mesmo a companhia, cortaria 75% da mão de obra. (Ele nega.)

    Pois é: domingo temos a eleição mais importante da História brasileira desde que Tancredo Neves foi escolhido pelo Colégio Eleitoral, lá se vão quase 40 anos. E cá o colunista está falando de Elon Musk comprando o Twitter. Ocorre que o foco habitual deste espaço é o encontro de tecnologia, sociedade e política. Ocorre que a maneira como a informação que circula entre nós foi corrompida pelas redes sociais é diretamente responsável pela eleição de tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro. O assunto é inevitável e está no centro do drama que continuaremos a enfrentar, mesmo que o único candidato democrata confirme sua vitória no domingo.

    Musk já age como dono do Twitter. Ainda assim, ao menos até o fechamento desta coluna, a aquisição não estava confirmada. A toda hora o Vale do Silício anuncia que alguma startup abriu seu capital, fez um IPO na Bolsa, levantou alguns bilhões. O caminho inverso é bem mais raro. Musk está pegando uma empresa pública e fechando o capital. Comprando as ações vendidas na Bolsa e tornando-a um negócio privado. No início da semana, manteve uma série de reuniões com bancos para completar o valor. Tem prazo estabelecido por juiz: fechar o negócio até esta sexta-feira. Se não pagar o preço com que havia se comprometido em abril, será levado à Corte, obrigado a falar sob juramento coisas que não deseja dizer em público e, ao fim, será forçado a cumprir o compromisso. A hipótese de que a compra não seja fechada, portanto, é remota.

    A vantagem de um negócio privado é que a regulamentação é bem mais leve. O CEO não tem de prestar contas a cada quatro meses a respeito dos lucros, guinadas estratégicas violentas se tornam possíveis. E este negócio, das redes sociais, precisa de uma guinada radical. Ele tem de ser reinventado. Musk, numa carta dirigida aos anunciantes do Twitter na quinta, afirmou que imagina a plataforma como uma praça pública global onde o diálogo seja possível, onde os extremistas não tenham voz.

    As redes já são uma praça pública global. O problema é que, nesse espaço comum, não é o diálogo que os algoritmos incentivam. É a desinformação e são os cancelamentos. Os atores políticos que não têm pudor de usar esses recursos crescem. Os outros perdem a voz. Não é surpresa que o Brasil tenha elegido neste ano um Congresso onde o pior da direita venceu, e o centro desapareceu. E esta não é só uma história brasileira.

    Musk também vem recebendo pressão de gente bem próxima para trazer de volta à plataforma vozes banidas por radicalismo ou desinformação. O problema, porém, não é o que é dito no Twitter. É o que o Twitter – ou o Face, ou o Insta, ou o YouTube, ou o TikTok – escolhe ampliar. Um antissemita como Kanye West falando para si mesmo e mais cinco não causa dano. Vira problema quando um app decide que sua voz deve chegar a milhões todos os dias.

    Domingo temos eleições. Não é a única decisão que definirá o futuro de nossa democracia.

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