Depois de quase oito anos de governo, o prefeito de Gaspar, o jovem, vejam só, o que não era político profissional, Kleber Edson Wan Dall, MDB, com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, o vice do primeiro mandato, e Marcelo de Souza Brick, PP, o vice do seu segundo mandato, resolveram, tardiamente, mas muito tardiamente, “dar luz” à opaca transparência que foi a marca registrada do mandato de todos eles e contra a cidade, o cidadão e cidadã gasparense. E resolveram usar isso – que renegaram esse tempo todo – como um ganho, marketing e propaganda política inesperada e de última hora.
E só fizeram este tipo de “esconde” porque tinham a maioria política protetora na Câmara, uma sociedade calada e órgãos de fiscalização omissos. Mas, a realidade das ruas se impôs. E correram atrás. Agora, é preciso ver se isto não é mais um faz-de-conta. Mas, quem fará isso em nome da sociedade? Eu? Para ser mais perseguido do que sou?
Kleber chegou neste último mandato (2021/24) com onze dos 13 vereadores na tal Bancada do Amém. Este “esconde” é porque na cidade não há instituições capazes de levá-los a mudar de atitude e comportamento no esclarecimento, bem como, porque o Ministério Público, não sendo acionado e não enxergando por ele próprio esta anomalia, não colocou o dedo na grave ferida deste ambiente de mínimo respeito de prestação de contas administrativa toda ela constituída e resultante de dinheiro dos pesados impostos de todos.
E esta magia de fazer aparecer o que se escondia por quase oito anos, possui, indisfarçavelmente, duplo sentido. E só aconteceu porque apareceu como um grave problema nas pesquisas. Nem mais, nem menos. Não veio da consciência e do jeito aberto de governar para a cidade.
O primeiro é o de fazer algo necessário com muitos anos de atraso e o segundo, é, no fundo, uma forma de propaganda política disfarçada e extemporânea em tempo de campanha eleitoral acirrada. Se os julgamentos na Justiça Eleitoral do ex-procurador e deputado Federal Deltan Dallagnol, e de agora do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Fernando Moro, têm esse condão do efeito pretérito, ou seja, de que o passado e o presente eram armações deliberadas para obter resultados no futuro, este tal de “Projeta Gaspar” possui a mesma índole para os que estão no poder de plantão, os quais concorrem ou alimentam seus pares para continuar no poder.
O que fez Kleber, seus “çábios” na semana, em meio às mudanças de secretariado devido à força obrigacional da legislação eleitoral, festas e inaugurações de última hora para abafar e até tentar reverter o que está mal avaliado nas pesquisas antes de viajar para Brasília para um rolê apela Fecam – Federação Catarinense de Municípios?
Anunciou um aplicativo (ferramenta eletrônica) que ilustra a abertura deste comentário. Este “aplicativo” é para “acompanhar” as obras que a administração de Kleber, Luiz Carlos e Marcelo fez, que está fazendo, ou supostamente, vai entregá-las à sociedade até as eleições de seis de outubro deste ano. Entenderam ou precisa desenhar?
Um “aplicativo”, como está nos discursos dos políticos, este produto não é. Até o encerramento deste artigo o “aplicativo” não estava disponível nas lojas virtuais, as que transferem (baixá-los) estes “aplicativos” para os smartphones. Havia no press release da prefeitura de Gaspar apenas um link: https://projeta.gaspar.sc.gov.br/. Nem na página da Transparência do site oficial da prefeitura ele estava como um link para acessá-lo. Amadorismo até na integração de seus próprios produtos que deveriam estar interconectados nas mídias digitais oficiais. Na imprensa comemoração. No entorno do prefeito e aos pré-candidatos da ainda colocação do governo, um esforço incomum para divulgar e ter vantagens com a ferramenta.
Entretanto, o que é mais revelador? Todas estas informações já estavam disponíveis o tempo todo, mas escondidas. E só agora, na hora do desespero, da marquetagem e do vale tudo, da pré-campanha, com dinheiro público, elas foram reunidas, sistematizadas e disponibilizadas aos cidadãos e cidadãs. E poderá ser tarde e lança desconfianças contra o próprio governo. Marketing capenga e de risco. Acorda, Gaspar!
Por outro lado, e ao mesmo tempo em que se anuncia esta “novidade marqueteira” chamada de Projeta Gaspar, o tradicional “Portal Transparência” do site oficial da prefeitura, se já era uma coisa anacrônica, velha, não amigável, confusa e anterior à chegada de Kleber ao poder em 2017, registre-se, sofreu uma repaginação – reprodução ao lado – e foi piorada sob a desculpa de “melhorias”. É pracabá.
Até isso até parece ter sido proposital e feito pelos “çábios”, pela ‘esperta’ equipe de marquetagem e que agora está sendo comida na própria esperteza que produziu e desafiou mandando bananas a cidade, cidadãos e cidadãs a cidade por anos afio, tudo sob o aval dos políticos no poder de plantão.
Se o cidadão, a cidadão ou um bisbilhoteiro – como eu – desejar uma informação oficial da prefeitura de Gaspar e não for um entendido em navegação virtual, ou em pegadinhas dela feitas pelos programadores – este hábeis e sabedores de que tudo isso hoje em dia precisa ser o mais simples e direto possível, mas quando querem complicam tudo propositadamente – em símbolos para quem já é alfabetizado no mundo digital, não perceberá que os “três risquinhos” que estão acima no lado esquerdo da página e que antecedem a palavra “TRANSPARÊNCIA”, escondem, repito, escondem os caminhos de acessos as diversas informações básicas e essenciais de todo o site e que antes estavam explícitos. Inacreditável!
É isto que os políticos de Gaspar classificam de transparência e facilidades para a interação de curiosos, ou de seus cidadãos e cidadãs ávidos em esclarecimentos. Se não é gente amadora que fez isso, é por outro lado, gente muito esperta e que intencionalmente sabia o que estava fazendo quando fez as mudanças com a “desculpa” para ” melhorar” este site. Os dois lados possuem – o amador e o esperto – o mesmo tipo de condenação.
Não devemos esquecer de que houve um tempo que hackear os sistemas da prefeitura de Gaspar era uma diversão. Virou escândalo. E o esquemão do poder de plantão tudo abafou. Os responsáveis “sumiram”. Hoje, depois desse providencial silêncio, o hackeador está sendo premiado. E se está nesta condição é porque o que ele fez teve perdão, ainda possui utilidade e fazia tudo o que fazia intencionalmente sob proteção.
Vamos adiante
E para piorar, alguns caminhos desta busca de dados na área de “Transparência” do site oficial da prefeitura de Gaspar está bloqueado, ou estão contaminados. Você pode adquirir um virus e até ter seus dados invadidos. Por falta de aviso prévio não será.
Era o próprio site da prefeitura de Gaspar que adverte e informava no domingo, na segunda e na terça-feira – como se vê na reprodução ao lado – aos bisbilhoteiros ou gente que tentava acessar alguns tipos de informações que o governo nos discursos jura estar disponível sobre o perigo. É para assustar e correr com os que vão checar os dados? Hum!
Nada além da Lei, nada excepcional, navegação complicada, mas reconheça-se é um avanço. Se o governo Kleber, Luiz Carlos e Marcelo se tonou transparente da noite para o dia depois de quase oito anos, qual a razão para esconder por meses informações aos vereadores, inclusive até da sua própria base. Vereadores precisaram se socorrer ao judiciário em mandado de segurança. E mesmo com o mandado na mão, sofreram canseira e foram também desafiados no tempo e naquilo que deveria ter sido respondido. Vergonheira.
O próprio ex-prefeito, Adilson Luiz Schmitt, PL (2005/08), foi à Ouvidoria buscar respostas para simples e rotineiras atividades da secretaria de Agricultura e Aquicultura. Faz mais de dois meses. Até hoje nada. A Ouvidoria diz que não é com ela. Não seria o caso de fechá-la? Não tem função resolutiva. É cabideiro de emprego político. Já a secretaria de Agricultura finge não ser com ela para salvaguardar os interesses poderosos de privilegiados. E olha que estava lá e fez este papel para Kleber, o irmão de templo, Cleverson Ferreira do Santos, PP, que ontem fez espetáculo midiático na volta à Câmara.
Por tudo isso que foi exposto, todos os anos deveriam haver eleições municipais. Só assim, os políticos iriam, no mínimo se coçarem naquilo que prometem, ou naquilo que estão obrigados com respeito devido aos cidadãos e cidadãs, seus eleitores e eleitoras, e que os sustentam nos seus cargos e funções com os pesados impostos: o de prestarem contas.
E na imprensa? Um louva Deus. E na prefeitura? Uma cerimônia como se fosse algo do outro mundo esse tal “Projeta Gaspar” com quase oito anos de atraso. Incrível!
Por outro lado, impressionantemente, todos os pré-candidatos e que se dizem opositores ao que está aí, que juram que vão fazer diferente ao que se fez até aqui, estão quietinhos.
Eles, não conseguem enxergar os defeitos da cidade, ou estão dizendo que vão estar no poder de plantão futuramente com os mesmos defeitos e nenhuma solução, como é a rotina de hoje. Até propaganda, longa e institucional da prefeitura, já está correndo as redes sociais dos apoiadores e aplicativos de mensagens, numa suposta prestação de contas, tudo feito com dinheiro público. É de se perguntar: será que as eleições de seis de outubro vão realmente, de verdade, mudar alguma coisa, ou apenas trocar de nome do prefeito de plantão em seis de outubro?
Exagero outra vez?
Em alguns portais governamentais e que só se aprimoraram por exigência e vigilância da sociedade organizada (que aqui ela está desorganizada) e entes de fiscalização como os Tribunais de Contas e o Ministério Público dão banho ao que foi apresentado: em disponibilidade de informações, acessibilidade, navegabilidade, clareza, ferramentas e gráficos de comparação. Em Gaspar foram oito anos de espera naquilo que se atualizado teria ajudado o atual governo. Impressionante!
Na comparação com o que Gaspar apresentou agora, é melhor até a começar pelo próprio paquidérmico governo Federal. Ou pelo avanço que o ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, deu neste sentido na transparência estadual quando precisou melhorar a sua imagem, e até mesmo, pelo que se pode navegar, no sempre acuado Mário Hildebrandt, PL, em Blumenau, isto para não citar Curitiba, Florianópolis…. Aqui o corpo é fechado até na hora de mostrar o que se realizou pela cidade. Incrível. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Você viu ou ouviu algum pré-candidato a prefeito em Gaspar ser contra, ou ter mínimas restrições às enxurradas de Projeto de Lei que passaram na Câmara do mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, nas últimas duas semanas – incluindo uma sessão extraordinária relâmpago antes dos impedimentos pré-eleitorais – diminuindo carga horária de servidores, mas sem reduzir o respectivo salário, proporcionalmente?
Você viu ou ouviu algum pré-candidato a prefeito em Gaspar ser contra ou denunciar, ou pedir justificativa para o reenquadramento que aumentou o salário real de algumas categorias de servidores, ou a abertura de vagas para a contratação de efetivos no apagar das luzes do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP? Este silêncio tem nome: votos, composição e falta de oposição séria. Do jeito que está, com os mesmos padrinhos de Kleber apoiando o candidato deles, fingindo-se ser de opositor, vai mudar.
Começou a campanha eleitoral torta em Gaspar, sem fiscalização da Justiça Eleitoral e com amparo de partidos no vale tudo para fazer legendas, obter mais cadeiras na câmara, apoio a candidato a prefeito, mesmo tendo nela, gente capaz de investigar direito este assunto. Este ao lado, é um cartaz eletrônico que inundou os aplicativos de mensagens. É para “cadastrar” e atrair eleitores e eleitoras vindas do Norte e Nordeste, que moram em Gaspar. Quem está a frente disso e se finge não ver? Um mapeado pré-candidato a vereador.
Qual a jogada? Uma “associação”, sem endereço, sem sede, só com número de celular, estaria cadastrando gente, supostamente sem moradia própria, ou afim de uma, para fazer uma “carta de intenção”, vejam só, vou repetir a quem não entendeu a gravidade, uma “carta de intenção”, para “solicitar” 300 apartamentos para famílias do Norte e Nordeste que hoje são eleitores e eleitoras em Gaspar.
Primeiramente: os supostos 300 apartamentos deveriam ser para todos e não apenas para quem nasceu aqui ou os que vem outra parte do país como deixa bem claro a propaganda. Ainda estamos no Brasil. O acesso a habitação digna é universal entre nós. Segundo lugar, cadastrando para fazer uma “carta de intenção”? E nas barbas dos chefões políticos? É brincadeira! Este é um típico caso de polícia e não de política. Ou a polícia está protegendo este tipo de assunto e espertalhão para não atrapalhar o resultado votos?
Terceiro, revela o quão foi e é, a errática à política de habitação do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP. Falta habitação popular em Gaspar. E não é de hoje. E não há uma política para suprir isto.
Ao estabelecer que este tipo de moradia popular será apenas para os do Norte e Nordeste será preciso só para eles, no mínimo, conforme o cartaz acima, 300 apartamentos. Só isto dá à dimensão da gravidade de um problema que não se resolveu por quase oito anos no atual governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, o qual possui, vejam só, uma tal diretoria de Habitação. Ou seja, mais outro cabideiro político. Eita.
Isto mostra também, o quanto ineficaz foi a existência de secretarias como a da Assistência Social, tocada por um suplente e que agora está na praça como candidato a vereador. Se ele tivesse agido, este tipo de demanda do cartaz estaria atendido. Mostra ainda o quanto a secretaria de Planejamento Territorial, ocupada por negociantes como revelam os áudios vazados com conversas cabulosas dos políticos que estão ou estavam no governo de plantão, foi uma peça de agravamentos de problemas contra Gaspar. É pracabá.
E aí, um esperto, vindo de fora, enxergou uma oportunidade deixadas pelos gestores. Virou político e numa terra onde a lei é do mais esperto na política está se criando vendendo terreno na lua. Afinal, onde estão os terrenos públicos para a construção desses 300 apartamentos? Onde estão os projetos? Onde estão as fontes de financiamentos? E assim, ele criou um discurso na barba das deficiências do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler, Filho, Marcelo de Souza Brick e da Bancada do Amém. Iventou uma bandeira para pedir votos e num nicho todo próprio e que o governo deixou a Deus dará.. E qual o resultado de tudo isso?
Os incautos e desinformados, gente pobre, necessitada, esperançosa, fazendo fila para entrar na lábia dele, o qual jura que vai resolver tudo com uma cartinha que será “enviada” para Brasília, como se isso fosse a solução mágica de tal grave problema social que nenhum dos pré-candidatos a prefeito ainda tocou nele. Estão preocupados com os loteamentos de ricos dos patrocinadores que estão embargados e com problemas ambientais E quem deveria ir atrás deste assunto, para enquadrar o incauto no código penal, está atrás do toco. Será que é que é para não perder votos? Ai, ai, ai.
A nova creche inaugurada no final de semana – e definida pelo próprio prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, como a melhor de Santa Catarina – já está com problemas como a falta de educadores, exatamente para ser grande e a melhor como prometeram nos discursos todos os gestores públicos, políticos e candidatos que passaram por lá naquela concorrida cerimônia. Já está em segunda chamada vagas para arte-educadores, professores para educação especial, auxiliares para educação especial além de outros. Os interessados devem ir lá para a entrevista. Entrevista? Hum!
A chamada é interna. Mas, tem gente que fez o processo seletivo e ainda não foi chamado. Então…
Mais uma utilidade do “Alô Saúde” em Gaspar e cujos números mostram que ele ainda não pegou, apesar da Dengue, Influenza e Covid-19 estarem entupindo tudo quanto é postinho, policlínica e Pronto Atendimento do Hospital: dar atestado médico por telefone sem a pessoa estar realmente doente. Há uma reclamação geral entre os empregadores. É culpa do sistema? Penso que não como tem político espalhando nas mídias sociais. Pensando bem: cada empregador conhece bem o seu empregado e ao ver este tipo de atestado médico é melhor prestar a atenção. O atestado está dizendo algumas coisas do seu empregado para você. Então…
O Diário Oficial dos Municípios desta terça-feira ainda não trouxe os novos titulares das secretarias nos quais os secretários deixaram-nas, para a priori, ficarem disponíveis para se candidatarem em seis de outubro. Os bastidores continuam congestionados de negociações, boicotes e pressões. No site da prefeitura, algumas secretarias esta mudança não foi feita. Os nomes dos ex-titulares continuam lá enfeitando as páginas. Tudo é operacionalmente lento neste setor na prefeitura, apesar da cara estrutura disponível. Na Câmara, por outro lado, os vereadores que trocaram de legenda, já estão com as novas siglas. E quase no mesmo dia da mudança. Acorda, Gaspar!
8 comentários em “QUASE OITO ANOS ATRASO, ACUADO E DESACREDITADO, GOVERNO DE KLEBER E MARCELO INVENTA UM “APLICATIVO” PARA ACOMPANHAR AS OBRAS FEITAS E EM ANDAMENTO. EMBARALHA E ESCONDE OUTROS DADOS ESSENCIAIS NO SITE OFICIAL”
Pingback: AS ESCOLHAS DOS SECRETÁRIOS PARA TERMINAR O SEGUNDO MANDATO DE KLEBER MOSTRARAM SER UM ESCRITÓRIO ELEITORAL FRATURADO E DONATÁRIO NO SALVEM-SE QUEM PUDER - Olhando a Maré
O PLACAR DE BRAZÃO, por Malu Gaspar, no jornal O Globo
‘Não é sobre Marielle Franco’, foi o que mais se ouviu nos últimos dias da turma do Movimento Brazão Livre, que trabalhou firme para fazer a Câmara tirar da prisão o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora carioca.
“Também não é sobre Brazão”, seguia o argumento. “É uma resposta ao Supremo”, martelavam ad nauseam lideranças e deputados de vários partidos, incluindo petistas que não repetiriam isso em público de jeito nenhum.
Tudo bem, ninguém duvida de que uma ala significativa do Parlamento estava sedenta para se vingar do ministro Alexandre de Moraes e do STF. Nesse caso, porém, há mais coisas entre o céu e a terra da capital federal do que a repulsa a Xandão.
A operação contra Brazão não foi a primeira medida de força imposta pelo STF e Moraes ao Congresso. Ficaram marcados nos caderninhos dos congressistas, em especial nos da direita, a prisão do bolsonarista Daniel Silveira por agressões a ministros do Supremo, em 2021, e as ações de busca e apreensão nos gabinetes de Carla Zambelli (PL-SP) e Carlos Jordy (PL-RJ).
Em nenhum desses casos, porém, houve tanta mobilização a favor de um parlamentar, e não dá para dizer que antes não havia revolta em Brasília. Apesar de ter perdido no plenário, Brazão foi mantido na prisão por um placar apertado — 277 votos, só 20 acima do mínimo necessário.
No caso de Silveira, a prisão foi mantida por 364 votos. O placar dos que votaram pela soltura foi praticamente o mesmo para os dois: 130 e 129 votos.
A mudança é que, agora, 105 deputados ou faltaram ou se abstiveram, porque não queriam ver seus nomes no placar pró-libertação, mas tampouco tinham a ganhar constando na coluna pró-prisão. Quem lá atrás não se incomodou em deixar Silveira mofando na cadeia para não se indispor com Xandão desta vez achou melhor não se aventurar contrariando Brazão.
Considerando que falamos de um integrante do baixo clero que nunca fez nenhuma diferença para além do seu quintal, fica difícil explicar o que ocorreu na Câmara dos Deputados nos últimos dias sem olhar com atenção para este Triângulo das Bermudas político chamado Rio de Janeiro.
Tanto Silveira como Brazão foram eleitos pelo Rio. Mas, diferentemente do primeiro, o clã de Chiquinho não apenas povoa a política local há décadas, como também espalhou ramificações por amplos setores do estado e da prefeitura.
Do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro) à Habitação ou à Polícia Civil de Cláudio Castro, passando pela Assembleia Legislativa, pela Câmara Municipal e pela prefeitura de Eduardo Paes, para onde quer que se olhe se poderá ver um aliado dos irmãos Brazão ocupando um cargo-chave.
O próprio Chiquinho Brazão foi secretário de Ação Comunitária de Paes até fevereiro passado. Só deixou o cargo quando começou a circular nos bastidores a informação de que o matador de Marielle, Ronnie Lessa, apontara o dedo para ele e para o irmão, Domingos.
Sua presença no secretariado era parte de um acordo em troca do apoio à reeleição do prefeito em outubro, num bonde de que fazem parte Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo cuja mulher chegou a integrar o ministério de Lula, e o ex-deputado Eduardo Cunha, aliado e uma espécie de guru político que por décadas fez dobradinhas eleitorais com o clã.
Em 2022 Chiquinho ainda subiu no palanque da campanha de Jair Bolsonaro. Além disso, o eleitorado dos irmãos Brazão sempre foi concentrado em áreas dominadas por milícias, com as quais, segundo a Polícia Federal, eles têm “intrínsecas relações”.
É esse contexto de promiscuidade explícita da política com o crime e com a impunidade que ajuda a explicar por que Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro atuaram em favor de Brazão — Eduardo, o filho Zero Três, chegou a gravar um vídeo pela soltura —, enquanto Paes procurou de todas as formas ficar longe do assunto publicamente, para não afetar suas alianças na campanha de logo mais à reeleição.
Nada disso quer dizer que a tensão entre o Congresso e o Supremo não tenha interferido no resultado de ontem. Mas não dá para entender tanto esforço sem considerar que, quando se trata da política fluminense, periga a força do clã Brazão ser bem maior que a ojeriza a Xandão
PL DAS FAKE NEWS MORRE POR PRETENSÃO CENSÓRIA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
A despeito do apoio e das pressões de governo, chefes do Legislativo e ministros do Supremo Tribunal Federal, o projeto de lei que pretende endurecer a regulação da internet —conhecido como PL das Fake News— estava empacado na Câmara dos Deputados e não reunia chances de avançar.
Os defensores do texto tentaram uma última cartada com o entrevero entre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o empresário Elon Musk, do X —estaria demonstrada aí, argumentaram, a necessidade de mudar a legislação.
Entretanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), preferiu aproveitar o episódio para enterrar a proposta e anunciar um grupo de trabalho para rediscutir o tema. A decisão suscitou resmungos previsíveis, mas o fato é que não havia muito mais a ser feito. Por bons motivos, inexistia consenso em torno da regulação.
O principal deles se revela no nome pelo qual ficou conhecido o projeto. Seus apoiadores declaram o intento de coibir a proliferação de informações falsas —e também as manifestações que supostamente ameaçam a democracia— na internet. Tal propósito, embalado em discursos hiperbólicos, mal se distingue de um ímpeto censório.
Alexandre de Moraes é o mais vocal dos apologistas da regulação das redes sociais. Há poucos dias, disse que elas não podem ser usadas para uma “lavagem cerebral do mal”. Como magistrado, tem cometido não poucos abusos ao retirar contas de usuários do ar.
Aperfeiçoamentos da legislação de fato são necessários, e em prazo não muito extenso. É preciso que se determine melhor quais são as responsabilidades das chamadas big techs. Cumpre ainda lidar com seu excessivo poder de mercado.
Não se pode fazê-lo, no entanto, com restrições à liberdade de expressão, um pilar da democracia. Seria absurdo, por exemplo, incumbir algum órgão ligado ao Executivo de determinar quais são os discursos válidos e quais não são.
Se alguém usa a palavra para cometer crimes, isso só pode ser estabelecido a posteriori pelo Judiciário, no âmbito do devido processo legal, com direito a contraditório e possibilidade de recurso.
Em tempos de polarização, esse é um território que se presta a mitificações. O Supremo tomou nos últimos anos decisões marcadas pela heterodoxia —e já passa da hora de voltar à normalidade. Isso não apaga seus méritos no enfrentamento das investidas golpistas sob Jair Bolsonaro (PL).
De modo análogo, é descabido afirmar que a internet se tornou uma terra sem lei. Tudo o que é ilegal no mundo físico também o é no virtual. À Justiça cabe examinar tais casos, o que precisa ser feito com serenidade e autocontenção.
Depois do caso da ex mulher do vereador pulando o cercado parece que dessa vez teve secretário municipal fazendo o mesmo… Se as paredes da prefeitura falassem nos renderiam boas histórias. Acorda Gaspar!
Meros panfletos jogados ao léu, mas que engordam as contas bancárias dos amigos do rei & “quinzinhos” da vida!
ELON MUSK É UM GOLPISTA TARDIO, EXIBICIONISTA PRIMITIVO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Elon Musk é um visionário bem-sucedido. Do nada, virou um dos homens mais ricos do mundo, acreditando no carro elétrico e em variantes da revolução tecnológica. Não inovou, como Thomas Edison, Henry Ford ou Steve Jobs. Prosperou com invenções alheias, como Cornelius Vanderbilt e Bill Gates. Não é pouca coisa. À diferença de outros magnatas americanos, decidiu pôr um pé na História com a arrogância chinfrim do flibusteiro William Walker, que invadiu a Nicarágua com uma tropa de mercenários e acabou fuzilado em 1860.
Musk decidiu desafiar o Supremo Tribunal Federal, descumprindo em sua plataforma X as decisões da Justiça brasileira. O ministro Alexandre de Moraes revidou incluindo-o no inquérito que investiga as milícias digitais.
Há alguma fanfarronice nas bandeiras políticas hasteadas por Musk. É um homem de direita e flertou com Jair Bolsonaro. Durante a pandemia, namorou a cloroquina. Tropeçou com falas antissemitas, mas Henry Ford também caiu nessa. Musk é uma versão tardia do flibusteiro Walker porque, em julho de 2020, reconheceu publicamente que apoiou o golpe contra o presidente boliviano Evo Morales:
— Nós vamos dar golpe em quem quisermos. Lidem com isso.
Num caso raro de sinceridade, Musk admitiu que ajudou o golpe porque tinha interesse em explorar o lítio boliviano, matéria-prima para as baterias de seus automóveis. Faz tempo empresários americanos apoiavam golpes para proteger seus bananais. Musk quer golpes para garantir o fornecimento de lítio.
Musk não defende a liberdade de expressão. Se essa bandeira fosse do seu agrado, teria desafiado a China de Xi Jinping. Ele gosta de holofotes e, por algum motivo, resolveu encrencar com a Justiça brasileira. Deu um mau passo, pois associou a defesa das plataformas de redes sociais ao golpismo explícito: “Lidem com isso”.
Lidando com isso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pediu ao seu colega Arthur Lira que saia de cima do projeto que regula as plataformas digitais. Votado no Senado, ele dorme há três anos na Câmara.
As big techs lutam contra essa regulamentação associando leviandade à arrogância. Musk pode ter ajudado a destravar o debate. Com ele virão inevitavelmente propostas disfarçadas de censura. Uma agência do governo já se ofereceu para o papel de fiscal das redes. É meio caminho para a censura, mas deve-se reconhecer que, em janeiro de 2023, as redes sociais eram usadas para convocar golpistas para a “Festa da Selma”, explicitamente para incentivar a invasão do Palácio do Planalto. Centenas de pessoas foram presas, mas nenhum diretor de big tech viu-se responsabilizado.
Se a “Festa da Selma” tivesse prevalecido, Musk poderia ter dito:
— Nós vamos dar golpe em quem quisermos.
O doutor levou água para o monjolo de quem quer regulamentar as redes no interesse do governo. Pena, porque, no limite, entre um fanfarrão como Musk e um comissário de olho nas limitações da liberdade de expressão, fortaleceu-se o comissário.
Nem todo defensor da liberdade das redes é um golpista como Musk, e nem todo golpista está de olho apenas nos próprios negócios. O doutor, como os americanos que azucrinaram a vida dos latino-americanos no fim do século XIX e no início do XX, é um golpista tardio, exibicionista primitivo.
BONDADE DE LULA COM A CONTA DE LUZ É POPULISMO, editorial do jornal Folha de S.Paulo
Por meio de uma medida provisória assinada nesta terça (9), o governo aplicou não mais que um remendo populista nos portentosos problemas do setor elétrico brasileiro.
De prático, a MP deve permitir em breve uma redução do preço da energia para residências e empresas menores, evitar um grande aumento de tarifa no Amapá e conceder mais três anos de subsídios para produtores de energia com fontes renováveis.
A prorrogação dos subsídios cairá na conta dos consumidores. O texto também não lida com os problemas fundamentais do custo da energia na Amazônia. O sistema continuará a funcionar de modo caótico, ineficiente, opaco e caro.
A medida tem como objetivos principais criar uma boa notícia para um governo preocupado com a popularidade, atender a aliados no Congresso e ao lobby de empresas.
O abatimento das tarifas de energia para consumidores será possível com a antecipação de pagamentos devidos pela Eletrobras ao Tesouro, determinados pela lei da privatização da empresa, em 2021.
O governo venderá no mercado o direito de receber tais recursos. Com o dinheiro, pagará dívidas das distribuidoras, que levantaram empréstimos a fim de cobrir rombos causados pelas crises da pandemia (2020) e da escassez de água (2021). A conta desses empréstimos era paga pelo consumidor final de eletricidade.
A depender das negociações, a tarifa pode ser reduzida em torno de 4%. Na prática, com custo que se promete ser baixo, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antecipa uma contenção de tarifas.
Especialistas já alertam, contudo, que a redução de agora pode resultar em mais pressões sobre as contas de luz no futuro. Tudo voltará ao que era quando acabar o dinheiro para financiar o novo subsídio.
Permanecem intocadas distorções do sistema. Entre elas, subsídios para empresas e consumidores que custaram cerca de R$ 40 bilhões em 2023, segundo a Aneel, com impacto de mais de 13% sobre o valor médio da tarifa residencial.
Alguns deles bancam programas meritórios, como os de eletrificação rural. Mas, na prática, são impostos disfarçados que não constam do Orçamento nem são discutidos de acordo com critérios de eficiência ou de justiça social. O Congresso concede mais e mais favores a empresas, piorando a desordem.
Há outros aspectos problemáticos a debater, como diferenças questionáveis entre os mercados de preços regulados e livres, além de risco de desequilíbrios financeiros.
Entretanto não há sinal de reforma ampla do setor elétrico. O governo Lula optou por um saída voluntarista e de curto prazo.
Quem é meu leitor já viu eu repisar há anos sobre este assunto. Leia, e saiba a razão pela qual a marquetagem do governo de Gaspar é um exemplo de atraso e trabalha contra ele próprio.
A SECOM E O SÉCULO, por Wilson Gomes, no jornal Folha de S. Paulo
Na última visita que fiz a Portugal, ao ouvir a minha declaração de que estava chegando a convite da Universidade da Beira Interior para fazer umas palestras sobre comunicação e política, o funcionário do serviço de imigração do aeroporto de Lisboa brincou: “Ah, professor, bem que o senhor poderia me ajudar aqui. Tenho tantos problemas de comunicação neste posto! E política, então, nem se fala”. Quem não os tem?
A crer-se no que vem sendo noticiado nas últimas semanas, o governo Lula também reconheceu que tem problemas nessa área. A convocação de Sidônio Pereira, o coordenador de comunicação da campanha eleitoral de Lula, para discutir as estratégias da Secom e do Ministério da Saúde é só o ato mais recente do diagnóstico de falha na comunicação governamental.
A questão, no entanto, não é apenas ter problemas de comunicação, mas sim o entendimento do que isso significa. É bastante sintomático que, ao pensar em comunicação governamental, a primeira ideia que vem à mente de Lula seja “chamar o marqueteiro”. O diagnóstico de Lula, Rui Costa e vários outros petistas é que o governo está se saindo bem e a situação do país melhorou, mas, como o apoio a Lula e a aprovação ao governo diminuíram, eles presumem que isso se deve à dificuldade em comunicar o que está sendo feito. Portanto, profissionais de marketing, publicidade ou assessores de imprensa são a primeira solução que vem à mente quando se trata de “mostrar ao público” o que o governo anda fazendo de bom.
Se esse modelo já fazia água na era da televisão, em plena era digital é que não faz sentido mesmo. O cidadão médio não está mais sentado no sofá da sala, onde mensagens publicitárias transmitidas nos intervalos comerciais da programação de TV eram absorvidas inadvertidamente. Vinte e cinco anos de intensa transformação digital na forma como consumimos informação e interagimos socialmente em ambientes digitais mudaram quase tudo.
Quando a propaganda governamental chega ao cidadão, se é que chega, ele já leu, ouviu ou viu centenas de outras mensagens políticas que usará como filtro, inclusive para ignorar o que o governo, sobre o qual já tem uma opinião formada, quer lhe dizer. A ideia de “mostrar ao público” o que governo fez por meio de vídeos de propaganda é tão antiquada quanto ingênua. Especialmente em meio à polarização infernal em que nos encontramos, em que todo mundo já tomou posição e não parece disposto a sair dela.
Especialistas tendem a ter uma ideia de comunicação governamental bem diferente dessa. Trata-se de uma atividade estratégica que produz e entrega mensagens consistentes, sim, mas conforme metas bem planejadas, para públicos bem caracterizados, supondo um ambiente politicamente competitivo, plural e hostil.
Uma análise de públicos precede tudo. Fazer um vídeo com a mesma mensagem para todos os públicos e achar que a coisa está resolvida é tão tolo quanto imaginar que lulistas, evangélicos conservadores, o agro, antipetistas, pessoas que taparam o nariz, mas votaram em Lula, moradores de territórios dominados por milícias e habitantes do interior de Santa Catarina podem ser convencidos pelos mesmos argumentos. É preciso dizer coisas distintas para públicos diferentes, mas naturalmente depois de entender o que eles são, a que mensagens seriam sensíveis e por quais meios poderiam ser alcançados.
Além disso, a comunicação governamental é parte da comunicação política horizontal que se espalha em ambientes sociais baseados em plataformas e aplicativos. Precisa ser, portanto, também uma ação estratégica articulada e consistente para disputar na esfera pública a interpretação dos fatos do dia, a agenda pública, a imagem do governo, as narrativas predominantes.
Mas isso supõe uma infraestrutura de redes de comunicação interpessoal em mídias digitais que leva tempo para ser construída. Assim como supõe permanente análise de redes e análise de sentimentos para identificar os temas da conversa pública, os detratores e apoiadores, as controvérsias principais, as inquietações de cada público.
A comunicação governamental hoje supostamente deveria ser baseada em dados (big data) e evidências, ágil para identificar os movimentos da opinião pública e reagir a eles, com um planejamento coerente, entrega segmentada e foco preciso. Mas isso realmente está no radar da comunicação governamental? Duvido muito.
Na mente do governo, a Secom deveria ser essencialmente uma assessoria de imprensa combinada com um setor de marketing e propaganda. Como nos bons tempos dos faraós