Hoje é domingo. Mas saio do ócio e antecipo o comentário desta segunda-feira. Quantos votos do colégio eleitoral daqui ficarão para os três candidatos a deputado estadual por Gaspar? Já escrevi pelo menos três artigos sobre isto, todos com números da Justiça Eleitoral e daquilo que aconteceu no passado. Ou seja, é um comportamento. Não é invenção. Não é torcida. O que se torce, entre os políticos e os “novos” donos do poder por aqui, é para que mais uma vez, nada disso seja esclarecido ou ao menos venha ao debate. Daqui há duas semanas, nesta mesma segunda-feira, todos já terão as respostas, na sua maioria feita de obviedades. Antes, apenas exercícios. Vamos a eles, outra vez.
Das 49.386 almas aptas a votarem em Gaspar, se pegarmos os 16,56% de abstenção em 2018 vão sobrar 41.208 votos bons, mas nem todos vão para os candidatos; eles serão lançados nas legendas. E não são poucos. Entretanto, nem isto não vamos considerar ainda. Se 6,89% foram de brancos e outros 6,56% foram de nulos, vão sobrar, nas melhores das hipóteses, 35.800 votos, numa conta bem arredondada e para cima.
Aliás, os que manobram, servem e vivem de interesses para os seus candidatos, nos bastidores conhecem bem esta conta, decorada e salteada. Na frente dos eleitores e eleitoras, todavia, contam outras histórias sem pé e nem cabeça no convencimento de que a possibilidade de se eleger o seu preferido daqui é real.
Os votos daqui não elegem, em muitos casos, nem a metade de um deputado, quanto mais três. E por quê?
O coeficiente eleitoral que ainda não se sabe, pois dependerá de um cálculo que só a apuração nos dará no dia dois de outubro: será o número de votos válidos, dividido pelas 40 vagas disponíveis no Palácio Barriga-Verde. Na eleição de 2018, esse número foi de 91.582. Ou seja, a cada 91.582 votos dados aos candidatos ou legendas de cada partido, ou da coligação, fazia um deputado. É algo meio complicado e até incompreensível à maioria dos eleitores, mas é a regra e é ao mesmo tempo lógico no sistema de representatividade proporcional.
Neste ano, com mais eleitores em Santa Catarina, será preciso mais votos para cada vaga. Simples assim! Também num exercício raso, será preciso dois colégios eleitorais de Gaspar para eleger um deputado. Nós temos três deputados. Por isso, que, todos eles, são dependentes de votos de fora. Mas, um partido ou federação (que substituiu a coligação como é o caso onde está o PT) terá números diferentes para quem se elege?
Sim! Depende do tamanho do partido e de qual é a “fome” dele em ter ou não mais cadeiras na Assembleia Legislativa. E por que desta fome? Representação. Dependendo da situação, um deputado em um partido nanico não terá voz, vez e espaço diante de bancadas mais organizada em torno de si mesma e com outras. É do jogo. Em qualquer parte em que se busca espaço e poder. Não só na política.
Se quiser eleger só um deputado, com alguma sorte, o partido pequeno terá que receber em todo o estado em torno de 100 mil votos dos seus candidatos e quem tiver mais votos entre os candidatos desse partido, ganha a vaga. E foi esta a jogada, por exemplo, que fez o atual vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick. Ele pulou do PSD para o Patriota na última hora meio que escondido.
Diante dessa exigência do coeficiente eleitoral, naturalmente, o ex-prefeito por três mandatos e suplente de deputado Pedro Celso Zuchi, PT terá que fazer mais votos, para alçar uma das possíveis três vagas que a Federação dele quer, ou as quatro que se sonha. Já a vereadora Mara Lúcia Xaver da Costa dos Santos, PP, terá que se sair ainda melhor, para estar entre as quatro eleitas que o partido projeta, mas que quer chegar a seis deputados estaduais eleitos para a legislatura 2023/26.
Na verdade, todos os candidatos por Gaspar, neste momento, estão cumprindo um papel de buscar votos para a legenda do partido – que no caso de Marcelo não possui valor algum -, mas principalmente marcar espaços para a eleição municipal de 2024. Nem vou tocar no assunto de se cumprir cotas.
Depois de Francisco Mastella, PDC, que se elegeu deputado por aqui e com os votos de fora e foi o mais votado naquela eleição, e de Pedro Inácio Bornhausen, PP, que quase chegou lá, o que mais recebeu votos aqui desde então para deputado estadual, regionalizado e estadualizado pela máquina da Celesc, um dado é referência para os cintadores de estórias aos incautos eleitores e eleitoras.
Com toda a fama que tinha, mas já com o PT no pelourinho da política pela onda conservadora em 2018 fez exatamente 9.972 votos. Seis anos, anos, em 2012, quando conseguiu o seu terceiro mandato obteve 16.188 votos, ou seja, 48,06% dos votos válidos em um colégio quase de 15% menor do que o 2018, ou 30% menor deste ano.
Resumo da história e daquilo que é histórico entre nós: 70% dos votos bons dos gasparenses foram para candidatos a deputado estadual de fora, mesmo tendo candidatos daqui, supostamente comprometidos com a cidade, simpatizantes na elite dirigente da cidade, ou com “máquinas” de produzirem convencimentos e votos entre nós.
E os votos não vão apenas para candidatos que se polarizam na região do Vale do Itajaí, que seria aceitável até num sistema distrital puro, mas para regiões bem longe daqui onde o candidato só aparece, quando aparece, para pedir votos nestes tempos de campanha. E você, leitor ou leitora, acha que isso mudou com e para os três candidatos que dizem que vão representar Gaspar? Na terça-feira conto, mais, forçado diante do obsequioso silêncio da mídia tradicional. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Já escrevi que, cada candidato a deputado estadual pode receber e gastar na sua conta até R$.270.629,01. Um exagero. Uns estão se vangloriando que não estão usando o incompreensível bilionário Fundo Eleitoral e Fundo Partidário – criado por Senadores e Deputados Federais em busca de reeleição -, enquanto se corta do Orçamento da União por iniciativa presidencial, até remédios essenciais da Farmácia Popular para doentes e pobres. Outros estão se indignando dentro dos seus próprios partidos pelo privilégio de uns em detrimento de outros.
Isto mostra apenas uma briga de cachorros gordos, por rações já abundantes, abundância que é essencialmente feita da miséria e sacrifícios de seus representados, os eleitores e eleitoras a quem estão pedindo votos para continuar ou até “mudar”. Uma vergonha.
Enquanto isso, olhando só a prestação de contas dos candidatos de Gaspar, todos usando o Fundo Eleitoral, a deputado estadual, tem-se que Marcelo de Souza Brick, recebeu do nanico Patriota R$60 mil até agora. Outros R$15,9 mil vieram de doações. Uma de R$5 mil do próprio candidato e o restante de duas doações maiores, mas de filiados ao PSD, seu “antigo” partido.
Nas despesas, já estão consignadas ao candidato quase R$20 mil de material impresso e outros 12 mil para produção e impulsionamento de material nas redes sociais.
Já Pedro Celso Zuchi, PT tem a menor conta por enquanto: R$34.004,00, sendo que R$12.180,00 veio do partido e o restante de doações de simpatizantes, entre elas, R$5 mil dele próprio.
Entre as despesas estão o nítido carregamento das mídias digitais. R$8 mil foram para o Facebook e R$7 mil para a produção da demanda digital.
Mas a candidatura que mais recebeu recursos partidários até agora foi a de Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos: R$120 mil do PP e que somam a outros R$6 mil de dois doadores pessoas físicas.
As despesas já declaradas também são as maiores entre os três candidatos daqui. Elas somam R$94.155,70. Uau! Só para a Claquete Cinema e Televisão foram R$26 mil. Em materiais e produção gráfica somam-se mais de R$30 mil e para as mídias digitais em torno de R$25 mil. É uma campanha de fôlego.
2 comentários em “QUANTOS VOTOS FICARÃO PARA OS CANDIDATOS DE GASPAR A DEPUTADO ESTADUAL? O BOLÃO DE APOSTAS ROLA SOLTO. O MEDO TAMBÉM I”
Na foto, temos a vanguarda do retrocesso! Faltou apenas a “queridinha” de certos Gasparenses, a paulistana ideli salvatti. Já esqueceram dela? Então “se-lembrem-se” da ferrovia do frango, dos passeios com o helicóPTero da PRF. . .
A REJEIÇÃO DE BOLSONARO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Bolsonaro precisa mudar para reduzir a sua elevada taxa de rejeição. Vá lá. Como? Para quê?
Em 2018, o capitão foi eleito numa onda antipetista propondo um governo conservador nos costumes, liberal na economia e independente na política.
Para explicar como armaria sua independência política, prometia basear-se no que chamava de “bancadas temáticas”. Eleito, ele ainda não tinha tomado posse, e o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ensinava:
“Quem disser que sabe qual é o resultado que esse novo modelo produzirá, de duas uma: ou é adivinho ou está mentindo”.
Não havia adivinhos no pedaço, e o modelo foi o de sempre: o governo aninhou-se no colo do Centrão.
O governo liberal na economia fechou o Posto Ipiranga e passou a vender picolés de carestia. Restavam dois temas: o conservadorismo nos costumes e o antipetismo. Conservador não é miliciano, não ofende mulheres e repele atitudes vulgares. Sobrava o antipetismo.
Ele existe, mas foi abalado por dois fatos. Uma foi a transformação da Lava-Jato em poeira pela desmistificação de seus cavaleiros. O juiz Sergio Moro começou prometendo liquidar o arranjo corrupto dos partidos políticos, tornou-se o todo-poderoso ministro da Justiça e Segurança de Bolsonaro e acabou comprando bermudas com dinheiro do Podemos.
A segunda circunstância foi produzida por Bolsonaro. Se ele é a alternativa ao PT, o resultado está no Datafolha: 45% para Lula e 33% para ele.
Bolsonaro sabe que precisa mudar. Seu último Sete de Setembro não teve a essência golpista do anterior. Dias depois, reconheceu que aloprou ao dizer tolices durante a pandemia. Insistiu na defesa da cloroquina e aí mostrou um aspecto da sua essência política. Quando ele começou a defender o fármaco, muita gente boa estava receitando-o e tomando-o. Sua excepcionalidade está no fato de que acredita em fórmulas mágicas, como o nióbio, o grafeno e a transmissão de energia elétrica sem fios. Muita gente que tomou cloroquina entendeu que a droga não funcionava. Bolsonaro continua acreditando na mágica.
Pode vir a existir um Bolsonaro calado, até mesmo um Bolsonaro eventualmente gentil, mas um Bolsonaro mudado não existe. Assim como nunca existiram as bancadas temáticas, o Posto Ipiranga e os efeitos da cloroquina. Continua existindo o antipetismo, mas o eleitor se vê sem alternativa.
Assim como a soberba petista diante das malfeitorias de suas administrações ajudou a produzir a maré de 2018 e Jair Bolsonaro, passados quatro anos, o capitão poderá produzir Lula.
O FATOR VERA
Se Bolsonaro pudesse mudar, ele não se meteria numa pergunta da repórter Vera Magalhães a Ciro Gomes para insultá-la.
Conservador com boas maneiras, Ronald Reagan foi a uma entrevista na Casa Branca, e a veterana Helen Thomas fez-lhe uma pergunta diabólica.
Reagan, um mestre, respondeu:
“Helen, eu sou um bom sujeito, porque você me faz uma pergunta dessas?”
A RAINHA MORREU, VIVA A RAINHA
Elizabeth de Windsor se foi. Para quem gosta de rainhas, viva Margrethe II da Dinamarca. A senhora tem 82 anos, reina desde 1972.
Graças ao Youtube a monarca está ao alcance de todos. Suas marcas são um sorriso contagiante e roupas luminosas que, às vezes, ela mesma desenha.
Como a casa de Windsor, ela também descende da nobreza alemã. A semelhança termina aí. A aristocracia da Dinamarca não tem a pompa carnavalesca da inglesa e fica longe do burburinho das celebridades. Frederick, o filho da Margrethe II, herdou-lhe o sorriso e não tem a propensão aos pitis de Charles III. Ela entra em lojas e, em maio passado, meteu-se numa montanha-russa.
Viúva, Margrethe II foi casada com um diplomata francês de sangue azulado. Ele não se conformava com o papel secundário que o protocolo lhe impunha e passava temporadas no seu vinhedo. Antes de morrer, pediu para que sua sepultura não ficasse ao lado da dela.
Enquanto a graça da Casa de Windsor está em não ter graça, Margrethe II marcou seus 50 anos de reinado dando a impressão de que se diverte muito no papel. (Numa concessão aos costumes, não fuma em público.)
Margrethe II esteve no Brasil duas vezes. Na segunda, em 1999, como rainha, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, outro monarca que se divertia reinando. Lula visitou-a em 2007. Durante sua passagem por Copenhague disse que ficava feliz ao passar por “um país em que dirigentes sindicais podem comer caviar”.
A MARCA DE ROSA
Na cerimônia de sua posse, Rosa Weber deu um sinal do que será sua gestão no Supremo Tribunal Federal.
Habitualmente, depois da solenidade há um pequeno coquetel.
Desta vez não houve nem água, e Brasília estava num de seus dias de secura infernal.
MADAME NATASHA
Madame Natasha é uma bolsonarista chique. Ela prefere subir escadas a entrar no elevador de serviço. A senhora esperava que Paulo Guedes ilustrasse o capitão e desencantou-se ao ser procurada por um miliciano para pedir mesada ao síndico do condomínio.
Logo Guedes, um PhD de Chicago que corta o cabelo no salão Care de Ipanema, disse que “liberais e conservadores estão juntos porque, do outro lado, está o capeta.”
Natasha sabe que os liberais desbolsonarizaram-se e horrorizou-se ao ver o doutor usar um termo do capitão para desqualificar seu adversário.
Zelando pelo idioma e pela reputação de Guedes, ela lhe sugere que dê um toque de elegância aos seus insultos, indo buscar em Guimarães Rosa sinônimos para a malcriação.
Em “Grande Sertão: Veredas”, Rosa oferece cerca de 50 possibilidades.
Três delas: Tisnado, Coisa Ruim e Pai da Mentira.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e soube que a Gol pagou US$ 41 milhões ao governo americano para encerrar uma investigação que corria atrás das propinas que ela pagou no Brasil.
O cretino entende que os americanos correram atrás porque a Gol opera por lá. Ele quer saber se o governo brasileiro e a Agência Nacional de Aviação Civil têm interesse em saber quem embolsava o ervanário.
DEBATE DA GLOBO
Pelo andar da carruagem, o resultado do primeiro turno da eleição presidencial será decidido no debate da TV Globo, marcado para o dia 29.
OS TEMPOS MUDAM
Em 1976, o presidente Ernesto Geisel foi a Londres para uma visita de Estado.
A ditadura tisnava a imagem do país e, na Grã-Bretanha, o embaixador era Roberto Campos, pessoa com fino senso de humor.
Protestando contra a visita, houve apenas uma esquisita manifestação em defesa dos homossexuais. Hoje, uma manifestação dessas nada teria de engraçado. (Um cidadão atirou-lhe um tomate, mas errou o alvo.)
Dos dias em Londres, Geisel guardou uma lembrança: apesar de ter mandado à cidade as medidas de sua cabeça, a cartola que lhe deram estava apertada.
PISO DA ENFERMAGEM
Não se discute a decisão do STF de derrubar o piso salarial de R$ 4.750 de enfermeiras e enfermeiros.
O que se pode discutir é se os doutores se sentirão seguros indo para um hospital onde serão atendidos por uma enfermagem que ganha menos do que isso.