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QUANDO VAMOS FALAR DO NOSSO FUTURO? IBGE DESMENTE POLÍTICOS, FATOS E PRENUNCIA MÁS PERSPECTIVAS SE DEPENDER DOS ATUAIS GESTORES. OS NOSSOS PRÉ-CANDIDATOS ESTÃO QUIETINHOS

Bom. Finalmente neste final de junho de 2023, oficialmente, somos 72.570 almas morando em Gaspar. Quem atesta isto? O censo oficial do IBGE. Superou-se mais um estigma bobo criado pelo bolsonarimo. Ele não queria a contagem. Um Brasil sem dados e que só servira, se assim continuasse e o Supremo Tribunal Federal não obrigasse o governo à contagem, para a manipulação de qualquer origem ideológica. 

Com a falta de números minimamente atualizados, permitir-se-ia à criação de narrativas, discursos, falsas verdade e blefes. Para não nos descobrir na quantidade, diferenças e carências, os políticos no poder de plantão foram da falta de dinheiro no Orçamento da União, passou pela suposta prioridade da pandemia da Covid-19 e se chegou ao tolo boicote de não se responder aos agentes do IBGE e se saber quantos, quem somos e onde estamos neste imenso país. Pirraça. Precisamos virar esta página da bipolaridade idiota e que nos leva ao atraso, à barbárie e às vezes, ao Mito da Caverna, descrita por Platão.

Ou seja, este número de 72.570 habitantes contados em Gaspar, é bem diferente, por exemplo, da justificativa inventada da atual mesa diretora da Câmara, presidida por Ciro André Quintino, MDB, e dada ao Projeto de Lei – está lá escrito para servir de prova – ao justificar à necessidade do aumento do número de assessores, estagiários e remuneração na máquina de empregar e gastar que está se tornando o Legislativo gasparense

Para os vereadores Ciro, José Hilário Melato, PP, Giovano Borges, PSD, e Alexsandro Burnier, PL, que assinaram o documento e que foi aprovado em sucessivos PLs, o município já estava em 80 mil moradores. Então a contratação de mais pessoas para assessorar os vereadores era a medida certa e necessária.  Coisa de políticos e seus assessores bem pagos sem justificativas para o aumento do seu séquito e gastança. Nem a antiga projeção do IBGE chegaria perto destes 80 mil habitantes. Já escrevi há muito sobre esta esperteza ocasional, tratando-nos como tolos.

Retomando.

O que chama a atenção e sempre foi tema de comentários aqui, quando abordo à falta de revisão obrigatória do Plano Diretor, atrasada desde 2016, repito, desde 2016, segundo preconiza o Estatuto das Cidade? A organização de futuro diante de novas necessidades.

E quem faz este embarrigamento? Os políticos no poder de plantão. E eles ficam fulos, quando toco neste assunto que antes de ser político, é técnico e humano. O nosso crescimento populacional está claramente fora da curva. Ele não é feito por nascimentos de pessoas. Ele é decorrente da migração por necessidade de mão-de-obra escassa por aqui, ou até, por melhoria da qualidade de vida onde isso é um sintoma da má gestão, planejamento ou então falta de oportunidade. Qual o tamanho do problema?  Brasil cresceu em pouco mais de 12 anos, 6,45% (203.062.512 de habitantes); Santa Catarina, expressivamente 21,78% (7.609.601 moradores, o segundo estado neste preocupante quesito) e Gaspar? Atentem: 25,14% no mesmo período.

O que significa isto? 

Problemas se continuarmos como estamos improvisando e zombando daquilo que está se deteriorando na área da Saúde, Educação, mobilidade, habitação, assistência social e principalmente qualidade de vida. Ah, mas alguns dos nossos vizinhos até aumentaram mais a sua população. Verdade! A exceção de Ilhota, com 37,97% (17.050 habitantes), é visível, igualmente, a preocupação deles com o desenvolvimento sustentável em relação ao que acontece em Gaspar. Aqui há, por enquanto, um crescimento. Não há desenvolvimento.

Antes de continuar , para se situar, comparar e refletir: Blumenau, o polo do Vale Europeu, cresceu no mesmo período segundo o IBGE 16,93%; Brusque, 34,01%; Indaial com população semelhante a Gaspar, 30,44%, Timbó, 25,36%, Pomerode, 27,88%, Itajaí, 44% e Jaraguá do Sul, 27,62%.

Nós aqui em Gaspar, por exemplo, estamos emendando o Plano Diretor ao gosto do freguês, do apoiador e daquilo que, propositadamente, o político no poder de plantão deixa se transformar com o tempo numa emergência, ou numa dificuldade para se criar a facilidade mais adiante – como sugerem à série de quatro áudios cabulosos que circulam por aí e que o poder de plantão tenta sepultá-los numa CPI, também montada pelo poder de plantão, para intencionalmente ser velório e cremação – ou então, essas “dificuldades” serem resolvidas em momentos próprios, ou seja, próximos as eleições. E vem mais uma aí. 

O governo de Gaspar, incrivelmente, e já escrevi várias vezes sobre isto, mostra todos os dias nas redes sociais oficiais e pessoais dos gestores, supostas reuniões que as classificam de planejamento. Os resultados da gestão, por outro lado, atestam que isto é nulo no atual governo. Só improviso e marquetagem.

Quer um exemplo – entre tantos outros que já mostrei ou que passa batido por falta de espaço – desta semana de como o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, talvez PP, se distrai naquilo que deveria ser o seu foco e usa a marquetagem falsa contra si próprio? 

O prefeito e o vice posaram, com os vereadores mirins e outros do governo, para “comemorarem” o Junho Verde. Como assim? E o próprio Kleber explica na sua rede social, na maior cara de pau: “mais uma ação de conscientização com os nossos jovens”, como se ele já fosse um velho. Talvez seja e esteja reconhecendo isso no próprio texto testemunho, foto e atitude.

Onde todos estão nesta foto? A beira do Rio Itajaí Açú, poluído, porque em quase sete anos de governo de Kleber Edson Wan Dall, e dois anos e meio de Marcelo de Souza Brick, não foram capazes de tocar um milímetro de rede de coleta de esgotos, implantar o saneamento, tratar um milímetro dos dejetos que misturam à rede pluvial como se atestou em vários locais, não deram perna aos papéis e projetos que já existem há quase uma década sobre este assunto, acompanhado de um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público Estadual. Afinal, de que conscientização verde e futuro estes políticos estão falando para Gaspar e os gasparenses?

Resumindo.

Gaspar é um amplo campo de experiências negativas contra o futuro. Pessoas sensatas vêm advertindo há anos. O IBGE acaba de comprovar que estamos num caminho estranho. A imprensa distante, a tal sociedade organizada acuada, os supostos candidatos a prefeito no ano que estão preferindo festas e bailões, e os políticos no poder de plantão, como os da foto, conscientizam mal os jovens e preferem comemorar o erro como se ele fosse uma virtude. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

O requerimento aprovado com boa antecedência é de autoria do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT. E tinha data e hora. Todos concordaram. Inclusive o governo. Dionísio depois da morte do vereador Amauri Bornhausen, PDT, se tornou, praticamente, o único a questionar sistematicamente e como amparo jurídico e contábil, as dúvidas dos gastos extraordinários do Hospital de Gaspar sem a respectiva contrapartida e transparência para a comunidade. Amauri pertencia a Bancada do Amém, onde estão onze dos 13 vereadores. E exatamente por posicionamentos de fiscalização como este, Amauri era tido pelo governo e na Bancada do Amém como um patinho feio.

Qual a jogada? É que o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, vai entrar em licença no dia Primeiro de Julho para dar vaga a um suplente do PT por 30 dias, no sistema de rodízio do partido. O governo, na última hora, sabedor da licença de Dionísio, alegou que a data de ontem era conflitante com a agenda do Controlador Geral – que já foi o assessor do prefeito quando ele era vereador com outros compromissos que até a aprovação do requerimento não existiam. E mais uma vez, na manobra do governo de Gaspar, contra a transparência propôs a ida de Ernesto no dia seis de julho, exatamente durante na ausência de Dionísio.

Confusão até porque todos os vereadores – inclusive os do governo – tinham aprovado o requerimento com a data do dia 29 de junho. Ao final, nem uma, nem outra. O governo embarrigou outra vez a ida do Controlador à Câmara. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, enviou ofício justificando a ausência do seu subordinado. Marotamente, o líder do governo alegou que a convocação do Controlador foi do PT e não do vereador. Há controvérsias claras no Regimento Interno da Câmara. Como nada ficou claro até ontem, e o governo não garantiu o adiamento da ouvida para depois da volta do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, ele foi à Câmara esperar o Controlador. Ele não apareceu.

Da série quem não deve não teme II. Não é que a novela mudou de nome e o enredo se repetiu quando foi a votação do requerimento do vereador Alexsandro Burnier, PL, para trazer o presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, MDB, para se explicar, sobre afirmações que gravou, possivelmente quando era secretário de Planejamento Territorial, em áudios cabulosos que circulam nos aplicativos de mensagens. As conversas cifradas com o ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB.

Novamente, o líder do governo Francisco Solano Anhaia, MDB, mandou avisar que Jean Alexandre não poderia comparecer na nada do requerimento, dia 13, uma sexta-feira que vem, às 16h. mas na data que o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, quer: na quinta-feira, dia 12. Ficou o impasse e que está sendo resolvido internamente. Pode se repetir o que aconteceu ontem com o vereador Dionísio Luiz Bertoldi.

O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, mas talvez PP, mudou a tática. Depois de se desgastar politicamente na cidade negando aprovar requerimentos na Câmara que levem ao esclarecimento das dúvidas de gestão e execuções, agora “recomenda” a Bancada do Amém aprovar as convocações, e a exemplo dos requerimentos que não responde e só parcialmente com lhe convém, ou  quando a Justiça lhe manda fazer isso via os mandados de segurança, depois da aprovação dos requerimentos cria, da mesma forma, dificuldades para que os seus se expliquem não apenas aos vereadores, mas à cidade.

O que o vereador Alexsandro Burnier quer saber do presidente do Samae? Coisas que se esconderam na CPI da pizza que se montou na Câmara pela Bancada do Amém, só com membros dela, para enterrar as cabulosas conversas dos membros do primeiro escalão do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e de Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, talvez PP.

Entre as questões estão estas: . Esclarecer a quem se refere: “Ele chamou o Roberto e pediu mais 30; 2. Esclarecer ao que se refere “E isso virou 80 mil”; 3. Esclarecer ao que se refere “Ô Jorge, tá botando na reta”; 4. Esclarecer ao que se refere “A corda arrebenta”; 5. Esclarecer o que significa o trecho do áudio “em tese tem a Educação”, “É tudo 25%”. O que era os 25%? Alguém era beneficiado ou favorecido na Educação?

Entendem-se duas coisas que aconteceram. A primeira a mais visível de todas: armar a confusão para a data na ida do ex-secretário e atual presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos à Câmara. A segunda, a invisível, onde um covarde, pelas redes sociais, ameaçou de morte o vereador se ele levasse adiante o tal requerimento a plenário. O caso está na polícia. O requerimento aprovado. E se o governo diz que não teme nada está mais do que na hora de esclarecer à cidade sobre o que ele diz ser uma armadilha política. Acorda, Gaspar!

O radicalismo torto e inexplicável levado ao pé da letra e que não ajuda nem a conservadores, direitistas, liberais e a cidade, num município essencialmente conservador: bastam ver as votações das eleições. Uma parte do bolsonarismo invocou e começou um movimento para boicotar a tradicional e centenária Festa de São Pedro e que vai até domingo na nossa Igreja Matriz. Qual o motivo? O suposto comunismo do Papa Francisco, do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o gasparense do Poço Grande, dom Jaime Spengler e uma suposta ligação deles com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, PT. Meu Deus!

Não pegou bem. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Esta mistura de religião e política é coisa do demônio e isto está explícito na nossa política com as neopentecostais e que já começa a prejudicá-las também. É o extrato da ignorância no seu estado mais orgânico. A festa de São Pedro, antes de ser uma festa religiosa e católica, é um encontro comunitário, cultural e tradicional. Ela precede até a Festa do Divino Espírito Santo, da Diocese de Blumenau. A comunidade católica de lá como é hoje, surgiu desmembrada daqui. É história.

O boicote pretendido e as argumentações só serviram para isolar os autores de tal façanha insensata. Gaspar nasceu católica. É berço de centenas de seminaristas, padres, além de bispos e arcebispos. E as festas de igrejas e capelas são a convergência comunitária do altruísmo e identidade dos nossos cantões e bairros, independentemente de ser católico ou luterano. Quem não entender isso, possivelmente não é gasparense e não entenderá o espírito que alimenta esta tradição. Agora misturar isso à interesses ideológicos ou políticos é assinar um atestado de indigência de identidade com a cidade.

Outra. Ao invés de escolher e fortalecer seus candidatos locais, o bolsonarismo esta semana se empolgou em trazer para cá como atração Jair Renan Bolsonaro, que está morando em Balneário Camboriú, quer ser candidato a vereador por lá ou Itajaí, para aí se lançar a deputado, tirando mais uma vaga de um catarinense que entende a alma barriga-verde. Já não basta um senador com sotaque carioca que ainda não disse aos catarinenses a que veio? O PL de Gaspar está perdido, sem liderança e se não se cuidar, vai passar vergonha.

Engordando o orçamento da secretaria de Obras e Serviços Urbanos na crise de caixa da prefeitura de Gaspar. Como escrevi aqui há semanas – e fui praguejado – quando a superintendência do Distrito do Belchior saiu do gabinete do prefeito, além de “diluída” e diminuída no organograma municipal, foi parar como um apêndice sem importância na secretaria de Obras. E a dotação orçamentária dela também iria para lá. Bingo! Os Projetos de Lei 45/2023 foi relatado por José Hilário Melato, PP, 46/2023 relatado por Alexsandro Burnier, PP, e 47/2023 relatado por Dionísio Luiz Bertoldi, PT, foram e aprovados esta semana por todos os vereadores, inclusive pela representante do Distrito, Franciele Daiane Back, PSDB. O Distrito está sem orçamento próprio. Gaspar comeu.

E por falar em fazer caixa, a prefeitura de Gaspar está pensando, até, em leiloar terrenos que possui no seu cadastro de patrimônio e não os usa. As contas sinalizam que vai faltar dinheiro para pagar contas até o final do ano. Seria interessante leiloar, também, por exemplo, o prédio da antiga agência do BESC que está jogado às traças. Comprou por R$1,8 milhão, não deu destinação – apesar de que para aprovar a compra assegurou na Câmara que tinha – deixou abandonado, e uma reforma não sairá por menos de R$3 milhões, calculam especialistas imobiliário. E leiloado, valeria uns R$5 milhões.

A coisa está feia mesmo. A prefeitura de Gaspar, escondeu e na última hora, a secretaria de Desenvolvimento Econômico, Renda e Turismo, tocada pelo suplente de vereador Pablo Ricardo Fachin, PP, anunciou a não realização da ExpoGaspar. Terceirizou a parte de show para outros darem circo e ganharem dinheiro. Tudo isso, na Capital Nacional da Moda Infantil que ao invés de promovê-la, vai fazer a Expofeira, a de animais. Enquanto isso, Santa Catarina bomba com eventos que discutem que discutem o nosso futuro, como a Exposuper, a Expogestão… sem shows.

O lobby e o silêncio sobre os acontecimentos da cidade, pelo jeito, não estão salvando as verbas de sustentação para os veículos de comunicação locais. Eles ficaram fracos editorialmente. E por conta disso e pior, apenas dependentes de terceiros – ou de fonte da pior espécie: as verbas públicas e os políticos da hora -, os quais se acham donos desses veículos e que os abandonam naquilo que usam e abusam para seus interesses momentâneos. É uma pena. Avisados estavam.

O Partido Republicanos, antigo PR, informa que está regularizado perante a Justiça Eleitoral para concorrer no ano que vem como cabeça de chapa em Gaspar na ondas conservadora. Falta agora, o pré-candidato, o empresário Oberdan Barni se conscientizar de que ele é pré-candidato e como tal, precisa se enquadrar e criar a imagem confiável para tal.

E para encerrar esta sexta-feira. Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, numa entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, afirmou ao defender um ditador, o venezuelano Nicolas Maduro, bem como o regime de exceção em vigor lá, que o “conceito de democracia é relativo”. Cuméqueé? Se esta afirmação for para valer, então o conceito de democracia do STF, TSE e Alexandre de Moraes é fachada e o julgamento de Jair Messias Bolsonaro – e outros – por suposta infração aos princípios democráticos, é uma farsa. Para este trem que eu quero descer. Wake up, Brazil!

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7 comentários em “QUANDO VAMOS FALAR DO NOSSO FUTURO? IBGE DESMENTE POLÍTICOS, FATOS E PRENUNCIA MÁS PERSPECTIVAS SE DEPENDER DOS ATUAIS GESTORES. OS NOSSOS PRÉ-CANDIDATOS ESTÃO QUIETINHOS”

  1. É PRECISO ENTENDER O AGRONEGÓCIO, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    Na quinta-feira o novo Brasil e seu desafio estavam na vitrine. Uma fotografia de Danilo Verpa mostrava o pátio da montadora Volkswagen empanturrado com milhares de carros. No mesmo dia noticiava-se que a empresa havia suspendido sua produção e que o governo ampliaria o socorro ao setor, com facilidades para os compradores.

    Noutra ponta, os números do Censo de 2020 informaram que a região Centro-Oeste, onde está boa parte do agronegócio, teve um crescimento populacional de 1,2% ao ano, o dobro da média nacional. Isso durante o governo de Luiz Inácio da Silva, o Lula, filho de “Seu” Aristides e Dona Lindu.

    Lula tinha 7 anos em 1952, quando Lindu e o Tio Dorico subiram com as crianças num caminhão, com destino a Santos. Eles eram guiados pela esperança dos brasileiros dos anos 1950. Aristides era um nordestino da grande migração. Estava em Santos e carregava sacos de café no porto. Desde o Império, a riqueza nacional estava naqueles sacos. Lula nunca carregou café. Fez um curso no Senai, tornou-se torneiro mecânico e orgulhava-se ao circular com o macacão sujo de graxa. O Brasil de Juscelino Kubitschek produzia automóveis.

    Passou o tempo e a história de Lula é conhecida. Com ele no Planalto, os carros das montadoras estão encalhados e há um fluxo migratório para o Centro-Oeste. Muitos Aristides de hoje vão para Goiás e os dois Mato Grossos.

    No primeiro trimestre deste ano, o agronegócio cresceu 21,6%, enquanto a indústria encolheu 0,1%. Há um ano, na ponta da produção, o tempo de espera por uma colheitadeira de soja e milho estava em seis meses, agora está em três. Na última safra o plantio rendeu mais de 50%, em dólares. Na próxima deverá render 25%.

    Um setor tornou-se internacionalmente competitivo, enquanto o outro continua competindo por proteção e benefícios.

    O Brasil precisa dos dois, mas uma parte dele não lida direito com a novidade. Felizmente Lula parou de chamar uma parte dos empresários do agronegócio de “fascistas”, constrangendo aqueles que o apoiaram contra a facção troglodita que seguia Bolsonaro.

    Os grandes empresários do agronegócio não são os velhos coronéis do Nordeste do século XX, nem os agrotrogloditas do XXI. Por artes de Asmodeu, acabaram no mesmo panelão.

    (Ao tempo de JK era irrelevante registrar que Schultz-Wenk, o presidente da Volks brasileira, que desfilava num Fusca ao lado do presidente, havia sido um moço entusiasta da Juventude Hitlerista, filiado ao partido nazista dois anos antes de sua chegada ao poder.)

    A ORFANDADE CULTURAL DO AGRO

    Há algum tempo ridicularizavam-se os conservadores do Parlamento, dizendo que existia a bancada do BBB, com o boi, a Bíblia e a bala. O boi impulsionava a economia, a Bíblia era o livro mais vendido no país e boa parte da população defendia a pena de morte para bandidos. Em 2018 deu Bolsonaro.

    O Brasil do século XX legou ao XXI uma cultura capenga ao lidar com o país rural. Ele foi retratado pelas injustiças, pelo sofrimento e pela exaltação vazia. Euclides da Cunha disse que o sertanejo é antes de tudo um forte e, como repórter, estava alistado na tropa que massacrou a gente de Canudos. Jorge Amado, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto expuseram esse país, mas ele não é mais o mesmo. Guimarães Rosa trouxe um sertão épico, porém inerte.

    Como um penetra que se enfia numa festa, o Brasil rural instalou-se na música e há décadas o gênero sertanejo está nas paradas. Em janeiro deste ano ele foi o mais tocado nas rádios do país. Em segundo lugar vinha o forró.

    Enquanto a questão esteve no campo da cultura, esse problema teve bom tamanho, mas estava circunscrito. Hoje ele está na vitrine e nas estatísticas.

    A encarnação do poderoso senhor do agronegócio nada tem a ver com os clássicos proprietários rurais da literatura. Ele é um colono do Sul do Brasil, cujo pai não lhe deixou um tostão. Subiu para Goiás, Mato Grosso e chegou a Roraima. Ralou como o Severino de João Cabral. Diferenciando-se dele, na parte que lhe coube do latifúndio, plantou soja. Culturalmente órfão, está vivo, educou bem o filho e não se importa com isso.

    SERVIÇO

    Há tempo, está nas livrarias, “Alimentando o mundo — O surgimento da moderna economia agrícola no Brasil”, de Herbert Klein e Francisco Vidal Luna. Para quem opina a respeito do agronegócio com conhecimentos superficiais, é uma aula. Responde a todas as perguntas.

    OS NÚMEROS DO IBGE

    Com governos preocupados com o que acreditam ser “um problema de comunicação”, o IBGE deu uma aula de competência ao divulgar os números do Censo. Tinha números para informar e tornou-os disponíveis, sem adjetivos. Parece fácil, mas é raro.

    A TEORIA DA RELATIVIDADE

    Na quinta-feira, ao tratar do regime venezuelano, Lula disse o seguinte:

    “O conceito de democracia é relativo.”

    Em 1977 o presidente Ernesto Geisel disse a mesma coisa. Apanhou que nem boi ladrão. Não mudou de opinião, mas nunca mais voltou publicamente ao tema.

    Lula disse no Fórum de São Paulo que a esquerda precisa rever seu discurso. Podia começar revendo o seu, que num dia manda sinais de fumaça ao agronegócio e no outro carrega a bola de ferro do regime venezuelano.

    SEM BOLSONARO

    Sem Bolsonaro, o conservadorismo nacional fica livre de uma liderança primitiva, catapultada ao poder em 2018 por diversos fatores, entre os quais esteve a soberba do consulado petista.

    Na sua história, antes de Bolsonaro, a direita só chegou ao poder pelo voto com um histrião, mas pode-se acusar Jânio Quadros de tudo, menos insinuar que durante uma epidemia ele viesse a encrencar com as vacinas.

    Essa direita terá dois anos para levar aos eleitores um quadro vacinado contra o estilo de seus antecessores.

    MINISTÉRIO DA SAÚDE

    A turma que pretendia capturar o Ministério da Saúde (com suas verbas) entrou em recesso. Apenas um recesso.

    CPI DO 8 DE JANEIRO

    Pelo andar da carruagem, a CPI do 8 de janeiro vai a lugar nenhum. O governo não a queria. Instalada, ele espera apenas que ela acabe.

    CARLOS FRANÇA NO CANADÁ

    Com uns três meses de atraso, no fim de maio, o governo do Canadá concedeu o agrément ao embaixador Carlos França, ex-chanceler de Bolsonaro (nada a ver com seu antecessor, Ernesto Araújo).

    Para quem conhece os minuetos da diplomacia, isso aconteceu também porque o governo fez saber que sua escolha se deu pelos méritos profissionais de França. Jogo limpo.

    Do alto de sua importância, em 2021, Bolsonaro resolveu mandar o ex-prefeito Marcelo Crivella para a embaixada na África do Sul. Quando o agrément começou a demorar, Bolsonaro tentou destravá-lo num telefonema para o presidente Cyril Ramaphosa.

    A gestão era impertinente, o agrément continuou encalhado, e Crivella voltou às suas origens na política do Rio de Janeiro.

  2. LULA BRINCA COM FOGO, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está brincando com fogo, ao esquecer que na política, como na vida, nada como um dia atrás do outro. Assim como ele saiu da prisão, venceu as eleições e assumiu o terceiro mandato, não é prudente agir como se Jair Bolsonaro estivesse morto politicamente com a inelegibilidade por oito anos. Pode ser, pode não ser. E depende diretamente do próprio Lula.

    A política, já diziam as velhas raposas mineiras, “é como nuvem, você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou”. Com a asfixia do centro democrático e a polarização entre esquerda e direita, Lula empurrou o centro para Bolsonaro em 2018 e Bolsonaro empurrou para Lula em 2022. Agora, Lula corre o risco de jogá-lo de volta, ou para a “nova direita” pós-Bolsonaro ou para o próprio Bolsonaro.

    É incompreensível que Lula repita o general Ernesto Geisel e diga que “a democracia é relativa”, ache lindo ser rotulado como comunista, insista em elogiar o regime criminoso da Venezuela, faça reverências a Fidel Castro, Hugo Chávez e Nicolás Maduro e dê sinais a favor dos regimes autoritários de China e Rússia e contra as maiores democracias ocidentais, EUA e Europa. O que ele ganha com isso? E o Brasil?

    O debate no Congresso, acompanhado com lupa pelos setores produtivo e financeiro, agronegócio e estudiosos da política, é se Bolsonaro terá ou não condições de ser o que ele chama de “cabo eleitoral de luxo”. Sem mandato, caneta, verbas e sem projetar poder? Provavelmente, não. E suas motociatas não farão tanto barulho. Em 2022, ele tinha tudo isso, usou ao extremo e foi o primeiro presidente derrotado na reeleição.

    Não há dúvida, porém, quanto a força da direita que emergiu com Bolsonaro e lhe deu 58 milhões de votos, depois de tudo: negação da covid, educação, cultura, ciência, estatísticas, Amazônia, parcerias internacionais – e da própria democracia. Um fenômeno. Lula não pode desprezar.

    Ao radicalizar, Lula trabalha contra ele e a favor do adversário, fortalecendo versões de que vai implantar o comunismo e o Brasil vai virar uma Venezuela. É gol contra, tiro no pé, autoengano, seja o que for, mas o problema não é exclusivo de Lula e sim do País e dos democratas, que cobram responsabilidade e juízo para não alimentar os fantasmas que embalam autoritarismo, retrocesso, negacionismo.

    No primeiro mandato, Lula disse que “não tinha o direito de errar”. Hoje, ele tem muito menos ainda, porque o inimigo é forte, veio para ficar e é uma ameaça para o País. Bolsonaro cavou a inelegibilidade com seus próprios erros, Lula não pode cavar a volta de Bolsonaro.

  3. A TEORIA DA RELATIVIDADE DE LULA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    A Venezuela realiza “mais eleições que o Brasil”, logo é um país democrático. Eis o postulado da esdrúxula “teoria da relatividade democrática” formulada pelo presidente Lula da Silva.

    Relativizando as barbaridades perpetradas pelo ditador Nicolás Maduro e debochando do sofrimento do povo venezuelano, há décadas privado de tudo sob o tacão do regime chavista, nosso genial Einstein petista afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, no dia 29 passado, que “o conceito de democracia”, ora vejam, “é relativo”.

    Para Lula, a bem da verdade, deve ser mesmo. Afinal, gente da estirpe de Maduro, Hugo Chávez, Daniel Ortega e Fidel Castro, por exemplo, é tida pelo petista, há tempos, como a quintessência do democrata, pois eles encarnam, em sua visão autoritária, as legítimas aspirações do “povo”. Nesse sentido, democracia, para Lula, pode ser qualquer regime que se coadune com seus valores e dogmas ideológicos, ainda que uma prisão ilegal aqui, um fechamento de jornal ali ou uma execução sumária de opositor acolá sejam inevitáveis, fatos da vida.

    Entretanto, para qualquer democrata genuíno, em qualquer lugar do mundo, a democracia é o que é – sem relativismos. É a supremacia da vontade popular; é a liberdade de ser e agir nos limites da lei, que vale para todos; é a intransigência com qualquer forma de arbítrio. Mas, como não é nem nunca foi um democrata genuíno, Lula segue o manual da esquerda retrógrada, aquela que considera “democratas” todos os tiranos que se apresentam como adversários do “imperialismo estadunidense” – impostura em nome da qual se justifica toda sorte de repressão interna. Aos pobres habitantes dos países comandados pelos ditadores companheiros de Lula, resta apenas o direito de votar em eleições fajutas.

    Não há que falar em democracia, de fato, quando aos cidadãos é vedado o direito de influenciar os rumos de seu país por meio do sufrágio universal, com voto direto e secreto. Mas há outras garantias e liberdades democráticas tão fundamentais quanto essa, como, por exemplo, as liberdades de expressão, a liberdade de imprensa e a existência de meios legais que permitam a participação da oposição na disputa eleitoral, com paridade de armas. Nada disso, contudo, existe na Venezuela.

    Menos de 24 horas depois de Lula classificar a Venezuela como um país “democrático”, o regime de Maduro proibiu Maria Corina Machado de registrar sua pré-candidatura à eleição de 2024. Se a eleição fosse limpa, Maria Corina seria, segundo todos os prognósticos, a mais forte ameaça à permanência de Maduro na presidência. Como a eleição não será limpa, Maduro não teria com o que se preocupar – mas o ditador venezuelano, zeloso quando se trata de se aferrar ao poder, parece que não quer dar a menor chance para o azar.

    Com um misto de desfaçatez e escárnio, Lula desafiou os que chamam o governo da Venezuela pelo que é – uma ditadura implacável – a visitar o país e “fiscalizar” as eleições. “Se não tiver eleição honesta, a gente fala”, disse o petista. Ora, essa fiscalização já foi feita por organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), e por instituições independentes da sociedade civil de uma série de países verdadeiramente democráticos, inclusive o Brasil. Até a ONU, por meio de seu Conselho de Direitos Humanos, já atestou que a ditadura do “companheiro” Maduro “não cumpre, de maneira nenhuma, as condições mínimas para a realização de eleições livres e confiáveis” na Venezuela.

    É lamentável, triste até, que o presidente da República submeta o Brasil à vergonha de condescender com um regime tão nefasto quanto o comandado por Nicolás Maduro, sobretudo no contexto em que um ex-presidente, Jair Bolsonaro, acaba de ser condenado à inelegibilidade por oito anos justamente por seus desabridos ataques à democracia brasileira. Mas Lula é irremediável. Resta aos verdadeiros democratas do País conviver com sua retórica de botequim até que um presidente que nutra lídimo apreço pelos valores democráticos volte, enfim, a despachar no Palácio do Planalto.

  4. BOLSONARISMO SEM BOLSONARO, por Pablo Ortellado, no jornal O Globo

    Com a inelegibilidade de Bolsonaro, o campo político que hoje orbita em torno dele precisará não apenas de um novo candidato para 2026, como de um novo nome. Tem sido chamado de “bolsonarismo” um pouco por conveniência, mas, se refletirmos bem, o nome nunca foi adequado, pois sugere que o vigoroso movimento da sociedade a sustentá-lo se esgota na expressão eleitoral. O que chamamos hoje de bolsonarismo foi se formando antes de Bolsonaro e provavelmente sobreviverá a ele. É um fenômeno social, e não meramente eleitoral. Que outro nome podemos adotar agora que Bolsonaro está impedido de concorrer?

    A candidatura Bolsonaro começou a germinar muito antes de 2018. Podemos tomar as mobilizações anti-Dilma de 2015 e 2016 como ponto de partida, já que os grupos que convocavam essas manifestações terminaram apoiando Bolsonaro em 2018. E olhar ainda para a mobilização das igrejas católica e evangélicas em 2014 e 2015 contra o uso do termo “gênero” nos planos de educação (nacional, depois estaduais e municipais) e para toda a campanha contra a “ideologia de gênero” que se estruturou desde então, cujas principais lideranças apoiaram Bolsonaro em 2018.

    Podemos olhar também para a formação do movimento anticorrupção, que depois se confunde com o movimento anti-Dilma/anti-PT, e para a onda social de apoio à Operação Lava-Jato que começa em 2014. Por fim, olhar para a grande mudança editorial de setores da imprensa brasileira, que abraçaram e deram destaque a ideias conservadoras nos anos 2010, ou para a cultura juvenil da zoeira e do politicamente incorreto, que ganhou projeção nas mídias sociais no mesmo período.

    A candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 é onde deságuam esses e outros movimentos da sociedade brasileira. Bolsonaro não os criou nem os liderou, apenas os articulou numa candidatura eleitoral. Mas, agora que estão bem amarrados, que outro nome daremos ao movimento que deverá sobreviver a Bolsonaro?

    Podemos chamá-lo de “populismo”, seguindo diversos cientistas políticos. O movimento político que chamamos de bolsonarismo parece adequar-se perfeitamente a essa categoria da ciência política, que descreve movimentos com discursos antielites propondo conexão direta com o líder carismático e rejeitando instituições de representação como os partidos.

    Mas o termo populismo é algo técnico, totalmente rejeitado pelos bolsonaristas, que não se reconhecem nele. Pensando nisso, podemos seguir outro caminho e adotar uma categoria “nativa”, como dizem os antropólogos. Podemos chamá-lo de “patriota”, termo amplamente adotado pelos bolsonaristas para se referir ao próprio campo político. O termo tem a vantagem de ser nativo, mas a desvantagem de ser positivo, quase elogioso, lembrando patriotismo ou civismo. Além disso, sugere nacionalismo, um equívoco. Embora os bolsonaristas acreditem estar defendendo o Brasil, certamente não são nacionalistas e não defendem a cultura, os empregos ou a economia nacional.

    Minha opção predileta é chamar o bolsonarismo pós-Bolsonaro de “conservadorismo”, outro termo nativo. “Conservadorismo” é adotado pelos bolsonaristas e empregado como contraponto à desordem e ao progressismo. Ressalta, por um lado, a defesa da tradição e da ordem e, por outro, a rejeição aos movimentos feminista e LGBTQIA+, traços efetivamente importantes do bolsonarismo.

    Está na hora de acadêmicos e jornalistas pensarem em como chamar o movimento que teve como expressão eleitoral a candidatura Bolsonaro em 2018 e 2022 e que deverá ter outro candidato em 2026 — a não ser, é claro, que essa candidatura termine ocupada pela mulher ou por um dos filhos do ex-presidente.

  5. DIREITA E ESQUERDA SE REORGANIZAM, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    O rápido isolamento de Jair Bolsonaro, tornado inelegível seis meses depois de deixar o poder, é nítido para quem conversa com seus principais aliados e não se atém a olhar seus posts condoídos de solidariedade.

    Entre os que posam de inconformados há desde antigos colaboradores que, no processo, trataram de se afastar do ex-chefe dizendo não ter tido nada a ver com a fatídica reunião com embaixadores em julho do ano passado, até candidatos a herdeiros de seu espólio eleitoral que já esfregam as mãos.

    Mas ninguém pode correr o risco de denotar algum alívio ou ansiedade em público, porque o moedor de carne bolsonarista que já triturou tantos antigos aliados ainda é forte nos submundos do Telegram e nas redes sociais.

    Na esquerda, também, a análise do efeito da inelegibilidade de Bolsonaro precisa ir além do óbvio. Memes e comemorações pululam, mas, no coração do poder federal, pesquisas que mostram a ascensão rápida de Tarcísio de Freitas como liderança autônoma, inclusive superando o criador em várias regiões do estado de São Paulo e em estados do Sul e Sudeste, é motivo de grande preocupação.

    Tanto que a próxima prioridade do governo Lula serão as obras de infraestrutura. A ideia é desmontar a aura de “asfaltador” do ex-ministro e atual governador de São Paulo, com dados que mostrariam que, na verdade, ele entregou pouco enquanto esteve no posto. Isso já começou a ser ensaiado em entrevistas, como a que o ministro Alexandre Padilha concedeu a mim e a Carlos Andreazza nesta semana.

    Outra linha será a de que Tarcísio mal conhece São Paulo e nem começou efetivamente a governar para pensar em ser candidato a presidente. A razão para isso é um temor quanto à decisão rápida do TSE: PT e partidos aliados acham que o sucessor do capitão terá muito tempo para se cacifar junto a uma parcela do eleitorado órfão.

    A ordem, então, é avançar em cidadelas não extremistas: evangélicos e agronegócio, como já escrevi aqui, eleitores de baixa renda que começarão cada vez mais a se beneficiar de programas sociais turbinados, endividados que serão socorridos por programas de crédito e empresários conquistados por agendas como a briga pela queda dos juros e a reforma tributária.

    Na direita, haverá uma briga pelo passe de Tarcísio entre seu partido, o Republicanos, e o PL. E deverá se acentuar a pressão da ala bolsonarista mais radical, com os filhos do agora inelegível ex-presidente à frente, para dar as cartas em seu governo, algo que, até aqui, o governador vem evitando.

  6. O VILÃO DO FILME, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    O ex-presidente Jair Bolsonaro, como bem definiu o relator, ministro Benedito Gonçalves, não está sendo julgado pelo TSE por uma “fotografia na parede” (a reunião com os embaixadores) e sim por um “filme”, a tentativa de golpe de Estado que desembocou no quebra-quebra do Planalto, do Congresso e do Supremo em 8 de janeiro. Esse filme não acaba hoje, mas terá um capítulo histórico: a condenação de Bolsonaro a oito anos de inelegibilidade.

    Já são 3 votos a favor e 1 contra a condenação e faltam os dos ministros do Supremo Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes e Nunes Marques. Como o bolsonarista Nunes Marques é a única incógnita, o destino do ex-presidente está selado: ou por 6 a 1 ou por 5 a 2, ele vai perder e ficar fora das eleições presidenciais de 2026 e municipais de 2024 e 2028.

    O voto dissidente, do ministro Raul Araújo, foi na linha do advogado de Bolsonaro, como se tudo tivesse sido “normal” e “legítimo”. Ele discordou da “juntada” da minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres à ação e minimizou o quanto pôde a reunião de Bolsonaro com embaixadores – “um ato solene” –, o uso do Palácio da Alvorada, os ataques ao sistema eleitoral e ao TSE e os efeitos eleitorais de tudo isso.

    Segundo Araújo, se todos têm direito à “liberdade de expressão” e a reunião não alterou o resultado da eleição, qual o problema? Espantoso! O presidente da República tem o direito de usar cargo, palácio, recursos, funcionários e TV pública para fazer campanha eleitoral e vender o Brasil ao mundo como uma republiqueta de bananas, onde as instituições não valem nada e as eleições são fraudadas?

    Já os ministros Floriano de Azevedo Marques Neto e André Ramos Tavares, indicados pelo presidente Lula, apoiaram o relator, derrubando, um a um, os argumentos tanto da defesa de Bolsonaro quanto de Araújo. Sobre a “liberdade de expressão”, Floriano comparou: um professor pode até achar que a Terra é plana, mas não tem o direito de ensinar isso a seus alunos.

    Assim como o advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira de Carvalho, o ministro Araújo apenas confirmou o que os não terraplanistas já sabiam, pelo enredo, falas públicas, indícios, manifestações, minutas, mensagens de celular e cooptação de militares: o ex-presidente é indefensável.

    O relator classificou Bolsonaro como “integral e pessoalmente responsável pela concepção intelectual” da fatídica reunião com embaixadores. Mas não é “só” isso: ele é alvo de 15 outras ações e o grande responsável pela armação de um golpe de Estado que deu errado. Ou seja, é o grande vilão desse filme.

  7. DEMOCRACIA NÃO É RELATIVA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    É lamentável que, no curso de um julgamento histórico, que deverá tornar Jair Bolsonaro inelegível pelos graves ataques perpetrados por ele contra o Estado democrático de direito no Brasil, Lula, eleito com a promessa de defendê-lo, diga em alto e bom som que a democracia é algo relativo. Não é, presidente. Nem aqui nem na Venezuela.

    Não é democrático um regime que muda as regras do jogo no Judiciário e no Legislativo para se manter. Não é democrático um regime que mantém presos políticos e persegue opositores. Não é democrático um regime que aparelha as Forças Armadas e cria aparatos paramilitares para se impor. Não é democrático um regime que sufoca a imprensa e persegue jornalistas.

    Hugo Chávez e Nicolas Maduro cometeram todos esses ataques à democracia ao longo dos muitos anos em que o chavismo comanda a Venezuela.

    A necessária retomada de relações diplomáticas e comerciais com o país vizinho não precisa vir acompanhado dessa sabujice quase semanal que Lula resolveu praticar com Maduro. Absolutamente nada justifica passar pano para autocrata, seja ele de direita ou de esquerda.

    Não há um ínfimo interesse legítimo do Brasil que recomende essa dissociação do presidente da República entre o que acontece na Venezuela e os recentes e graves ataques que a democracia enfrentou aqui mesmo, sob Jair Bolsonaro.

    Se as instituições brasileiras fossem mais tíbias, e se Bolsonaro contasse com o aparato subserviente que Chávez e Maduro tiveram a seu dispor, o destino do Brasil poderia ter sido estar hoje sob um regime semelhante ao praticado em Caracas.

    Porque Bolsonaro flertou com o aparelhamento das polícias e das Forças Armadas, atacou a imprensa impiedosamente, tentou submeter e desacreditar o Judiciário e aliciar o Legislativo à base de Orçamento secreto. As eleições passaram a ser tratadas pelo presidente como ilegítimas, quando os fatos demonstravam a higidez do nosso sistema.

    Isso é o oposto da Venezuela, que tem eleições, sim, mas eivadas de suspeitas de fraudes e não acreditadas pelas organizações internacionais. Não é a quantidade de vezes que um autocrata renova sua permanência no cargo que dita que o país é uma democracia. A alternância de poder com paridade de armas é um pressuposto absoluto da democracia, e relativizar também isso é um desserviço lamentável a uma luta que o Brasil trava nesse exato momento.

    O julgamento do TSE tem trazido de volta à nossa memória, sempre desafiada por uma sucessão de fatos ainda mais aterradores que os anteriores, a gravidade extrema do que Bolsonaro foi capaz de fazer para tentar melar as eleições e se manter no poder.

    O que ele faria se fosse reeleito depois de jogar com abusos flagrantes de poder político e econômico? Um bom mostruário do que ele tentaria é fornecido pela Venezuela do chapa de Lula, bem como pela Hungria e pela Polônia. O ditador ser de direita ou de esquerda não o faz menos repulsivo.

    Muitos dos que votaram em Lula o fizeram para assegurar a vigência das liberdades, dos direitos civis, do meio ambiente e da democracia como valor absoluto, e não por concordar com o viés ideológico do petista. Ele se engana de forma crucial se acredita que conta com aval da maioria em sua reverência, reiterada de forma inexplicável e contraproducente, a Maduro ou a um desgastado Alberto Fernandes, que não é autocrata, mas não é modelo de governança para a maioria da população brasileira.

    No momento em que o Brasil está prestes a se livrar da ameaça golpista de Bolsonaro, é triste ver o presidente eleito para assegurar a plenitude da democracia tão duramente conquistada dizer que esse é um valor cambiante. Que o TSE, nesta sexta-feira, demonstre ao Brasil que não se brinca com isso.

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