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QUANDO UM GOVERNADOR EM DIFICULDADES E DEPUTADOS DE FORA METEM A COLHER NO PROCESSO ELEITORAL DAQUI A UM ANO E MEIO ANTES DA ELEIÇÃO, SÃO PROVAS DA FALTA DE AUTODETERMINAÇÃO E LIDERANÇA POLÍTICA ENTRE NÓS

O passageiro vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, também passageiro num tal de Patriota, depois que no escurinho para mais um erro político na carreira eterna de candidato e empregos públicos, saiu do PSD, e tudo der certo, vai se filiar desta no PL nesta quarta-feira para se viabilizar candidato a prefeito do município. É o que ele deixou nas entrelinhas quando foi a Brasília negociar esta situação e que reportei aqui. 

É também o que Marcelo deixou claro quando foi a Blumenau participar do encontro regional do PL, sem a presença do pessoal do PL de Gaspar. É, na sequência, o que Marcelo anunciou afirmativamente na semana passada, mas escorregou dizendo que está refém das agendas de seus novos “padrinhos”. Ai, ai, ai.  

É o que o deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau, admitiu e espalhou intencionalmente nas redes sociais, bem como “plantou” imprensa regional e local sobre a nova conquista. Ela virá, segundo o deputado, com outras filiações. Todas para “engordar” o PL gasparense, com quem Marcelo, diante das inesperadas reações por ter o assunto nascido e prosperado fora daqui, encontrando resistências significativas. Marcelo além de amenizá-las, vem procurando direta e indiretamente bombeiros e meios de aproximação com o PL gasparense.

Por conta dessas resistências, nestes últimos dias se intensificou ataques – até certo ponto grosseiros e em outros, reveladores – de memes e montagens de áudio, fotos e vídeos nas redes sociais e aplicativos de mensagens – dos bolsonaristas e membros do PL de Gaspar.

Resumindo. Independente destas reações, esta filiação nesta ficou à deriva do espaço na agenda do governador Jorginho Mello, PL. O governador, informa Marcelo e Ivan, quer abonar pessoalmente ficha de filiação, lá em Florianópolis. E ela foi arrumada no ambiente político por Naatz, pelo deputado Federal sulino, Daniel Freitas, PL. Mas, há mais por detrás dela.

Não se sabe ainda se Marcelo é o candidato a prefeito do governador Jorginho. Talvez esteja apenas contratando um problema menor e que vai se resolver com o tempo. Ao apoiar a ida do Marcelo ao PL, claramente, Jorginho mira ou problema maior que está debelando e com o deputado Ivan. É que ele não entrar criar ou aumentar o conflito e ver o deputado Ivan detonar o governador neste início de governo, depois de que Jorginho “rifou” Ivan de tantas tarefas na composição do seu governo como a retirada da interlocução do deputado para formar o bloco majoritário de sustentabilidade na Alesc, de ser líder do governo, de até ser líder do PL, onde ele não se encaixa com a turma mais radical e ruidosa do partido. 

E de verdade? Nenhum governo, ainda mais no início quando as melancias estão se ajeitando na carroça, quer Ivan como fogo amigo e ou como oposição, uma especialidade intrínsica.

E quem está por detrás de tudo isso, além de Ivan e Freitas? Gente da própria comissão provisória do PL de Gaspar e que nega estar fazendo isso: Bernardo Leonardo Spengler Filho na interlocução Bruno, filho de Jorginho, que por sua vez se relaciona o outro filho, Felipe, o que verdadeiramente manda no governo do pai. Bernardo e Bruno são amigos amigos de infância e adolescência, pois o governador Jorginho, como gerente da agência do falecido BESC morou em Gaspar. Ao negar aos do PL daqui, Bernardo também não age contra o que caminha para filiar Marcelo sem antes de paz entre os daqui.

A filiação de Marcelo pode ser uma visão competitiva na próxima eleição, não exatamente do PL, mas de um grupo de pessoas – e de duas gerações – que já acessaram o poder ou que tentaram e nunca conseguiram por aqui. 

É isto que move todo o discurso para esconder a vingança que o deputado e então amigo de dificuldades no PV que Ivan nutre hoje em dia contra o engenheiro e ex-candidato a prefeito de Gaspar Rodrigo Boeing Althoff, PL. Ivan o boicotou aqui as eleições municipais de 2020. E desde então tudo azedou entre eles. Ou seja, o que nasce torto ainda vai ficar mais aleijado. Ivan fala que Marcelo tem dez mil votos cativos em Gaspar. Mas, se eleger de verdade, Marcelo só conseguiu uma vez para vereador com 1.439 votos; não precisou de dez mil e perdeu em todas que tentou para prefeito, deputado estadual e federal estes dez mil votos não foram suficientes. E com eles não vai se eleger de novo. E dez mil votos cativos, é por outro lado, uma tese.

No outro lado, em 2020, contra Ivan, contra a falta de dinheiro, sem estrutura, numa campanha de apenas dois meses, e contra o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que estava com a máquina para a reeleição, mas não ousou correr risco e se reuniu aos supostos dez mil votos de Marcelo – o candidato reiterado, Rodrigo foi o segundo colocado e fez 22,21% dos votos, ou seja, 7.097 votos.

O que mostrou isto naquela eleição e que se comprova hoje? Primeiro o medo fundado de Kleber; segundo, o erro de Marcelo que foi usado e está descartado pelo próprio Kleber, MDB, PP, PDT, PSDB e agora pelo PSD; terceiro um suposto potencial de Rodrigo.

E se isso não fosse pouco, um áudio produzido por Ivan durante a campanha do ano passado ao vereador Alexsandro Burnier, PL, reavivado nas redes sociais mais uma vez agora, detona Marcelo e seus métodos políticos de atingir os seus objetivos para sempre estar na “moda” e candidato. Agora, estão juntos. O que mudou? Nada apagará este áudio que será usado na campanha do ano que vem.

Para encerrar. Tudo isso, mostra o quanto também errou – e já escrevi várias vezes sobre o mesmo tema aqui – Rodrigo. Depois das eleições de 2020, ele não entendeu a representação dos votos que teve e não assumiu o papel de oposição que as urnas lhe conferiram. Não fez equipe. Não liderou. Foi para o silêncio do seu sítio, dos seus estudos, das suas aulas, das consultorias e dos seus negócios, inclusive muito deles, que dependem de avais do poder público de Gaspar, o vingativo a quem lhe cobra ou tece críticas. Está pagando o preço deste silêncio.

Se tivesse feito a tarefa de casa a partir do dia posterior das eleições de 2020, não teria deixado espaço para o deputado Ivan Naatz, de Blumenau, lançar torpedos e dividir a comissão provisória do PL de Gaspar que o próprio Rodrigo preside. O deputado, ou ambos, teriam que compor. O que também é evidente, por outro lado é ambos são duros de composição e se armam do troco. O resultado está aí à vista de todos. Ambos perdem. A cidade perde. Inclusive a autodeterminação política.

Mas, mesmo assim, a aposta, que colho nas impressões em Gaspar, Blumenau e Florianópolis, é que, passada esta tempestade que apareceu repentinamente nos radares, o PL entenderá que cobras e sapos podem conviver por algo maior na busca da prefeitura – como fez MDB e PP, por exemplo -, pois nem Marcelo, nem Rodrigo, nem Ivan são bolsonaristas raiz, propriamente de direita e conservadores. E sozinhos correrão riscos de não ultrapassarem sete e dez mil votos, respectivamente.

E se eventualmente o sapo e a cobra não se juntarem no próprio PL gasparense, como apostam uns mancos e outros que cobiçam à divisão e até na saída de Rodrigo do PL? Será decisiva para enfraquecer ou fortalecer os estão no MDB de Kleber, no PSD de Napoleão e pasmem, e até o PT do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, de quem o ex-vereador Rodrigo foi secretário. Então, mais uma vez, o jogo poderá passar pelo próprio Rodrigo, a vítima. Isto se ele mudar de postura e assumir o papel que as urnas já lhe deram há mais dois anos e que o renegou.

Quando políticos de fora se metem na política daqui, escolhendo os candidatos para os nossos destinos, isto mostra muito claramente o nosso enfraquecimento. São provas da falta de autodeterminação e fraqueza, ou divisão das lideranças entre nós. E não só no ambiente político. Ivan e Jorginho, por exemplo, deveriam estar mais preocupados em fazer dar certo o governo estadual que ainda nem começou e nele há graves problemas para serem superados. Ou então, com Blumenau. Ela sim será uma referência determinante no jogo eleitoral do ano que vem para o pulo de 2026 para Ivan, Jorginho e PL num embate entre conservadores e progressistas.

E estranhamente eles preferiram olhar para Gaspar, enquanto Blumenau leva os recursos e o jogo é feito exclusivamente entre os seus.

E uma observação final. No fundo Helena, a mulher de Rodrigo é um bicho político mais envolvente no campo do que o próprio marido, assim como a Manoella Vieira de Souza Santos, a Denise Schramm… Em homenagem as mulheres do PL, postei a foto que abre este artigo, no encontro no sítio do próprio Rodrigo, na Lagoa. Ele foi para comemorar o Dia Internacional da Mulher, e se ter novas filiações para o PL daqui. E elas deram conta do recado, mostraram organização e força. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

A indicação do vereador licenciado Francisco Solano Anhaia, MDB, para ser o secretário titular da secretaria de Planejamento Territorial, surpreendeu a todos em Gaspar. Depois dos áudios cabulosos vazados envolvendo o evangélico neopetencostal faz tudo e titular da secretaria da Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, bem como presidente da Comissão interventora do Hospital, este ato do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, era esperado. Era uma forma de cortar a sangria. E pelo jeito, ela deverá continuar.

Na outra ponta, a nomeação de Josiele Cristina Casanova para chefe de gabinete no lugar do vereador licenciado Francisco Solano Anhaia, MDB, mostra que politicamente esta função é decorativa. Um interlocutor do governo Kleber num contato informal com este blog, resumiu aquilo que escrevo aqui e a cidade já percebeu há tempos: o segundo mandato do prefeito ainda não disse a que veio. Até os vereadores aliados, desta vez perderam a interlocução.

Fedor do lixo. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, com o pessoal do Samae, foi conhecer a Recicle, do grupo francês Veolia. Isto depois de prorrogar por mais quatro meses ao custo de quase R$1,5 milhão com a gasparense Saays Soluções Ambientais a coleta de lixo entre nós. Em tempo de “Operação Mensageiro” que está prendendo a rodo ex e prefeitos, tudo que se pode mostrar distância da Serrana e seus braços ao distinto público, é sinalizador. Mas, não basta.

A deputada Federal Ana Paula Lima e ex-prefeito de Blumenau, atual presidente do Diretório Estadual do PT, Décio Neri de Lima, levaram ao Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, PSB, levaram dois grandes empresários do setor têxtil de Blumenau. Era para reclamar da concorrência desleal sem ICMS e padrões técnicos exigidos aos brasileiros, de sites importadores internacionais de tudo, inclusive têxteis. Se os grandes sentem na carne esta concorrência tributária desleal, imagina-se os pequenos – que é maioria. E a Capital Nacional da Moda Infantil, à margem e calada.

Prefeitfest e os marchadores em Brasília. Os prefeitos já começaram desde ontem para a 84ª Reunião da Frente Nacional dos Prefeitos no Royal Tulip, em Brasília. O governo petista vai em peso para o encontro, de olho em apoios para a reforma tributária. O presidente Lula encerrará o evento na terça-feira.

Por outro lado. No calendário de viagem mensais a Brasília, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, diz que irá lá na segunda-feira que vem e fica até a sexta-feira para a tal Marcha dos Prefeitos da Confederação Nacional dos Municípios, visita a gabinete e ministérios. Planos e agenda aberta, zero de transparência até agora. O custo das diárias, afora acara passagem área, será, mais uma vez, de R$3.440,00. Ainda bem que não foi nos dois eventos…

Cada uma. O deputado estadual Ivan Naatz, PL, de Blumenau, cismou em mudar o Hino de Santa Catarina. “Ele não representa à realidade”. Hino, bandeira, brasão são símbolos – e alguns com ciência por detrás disso – circunscrito à realidade de um tempo em que eles surgiram. É história. É memória. Se o argumento do deputado for válido, é preciso começar mudar o hino nacional brasileiro que não está mais atualizado à nossa realidade, inclusive na língua portuguesa usual pelo povo.

Com tantos problemas envoltos no nosso dia a dia real, o deputado prova duas coisas: arrumou uma melancia para parecer e está com falta de assunto sério para mudar e melhorar a vida dos catarinenses. Aliás, em Gaspar, também há um movimento para “atualizar” o nosso hino, de autoria de Neuza Cavalazzi. Ele começa assim: “Entre montanhas tu estás cidade amiga/Pequena e bela como um sonho eu te vi”. Um leitor, inspirado na realidade no deputado atualizou: “Entre buracos tu estás cidade abandonada/Pequena e ainda pequena não chegastes no sonho que te vi”.

A prova de que em Gaspar não possui qualquer tipo de política pública de zoonoses (cães e gatos, principalmente) e o poder público depois de não conseguir aparelhar a ong Agapa e para se vingar de quem a dirigia, sufocou-a nas suas ações, está na publicação nas redes sociais no final da semana da vereadora gasparense, Franciele Daiane Back, ainda no PSDB. Ela compartilhou o mutirão de castração em Blumenau, de uma ong de lá.

Aliás, para alguns vereadores, está enfadonho ir e participar das sessões da Câmara de Gaspar. Não passa uma sessão, que em média dura uma hora por semana, que antes dela terminar, inicia-se a debandada.

Vandalismo. Vira e mexe, a própria prefeitura de Gaspar reclama do vandalismo no Mirante que ela criou para se apreciar o Rio Itajaí Açú, aqui bem no centro da cidade, defronte o prédio da prefeitura. No mirante há câmeras. Há convênio com a Polícia Militar. Qual a dificuldade de identificar e prender os vândalos e fazerem eles pagar pelo dano ao patrimônio público?

E para fechar a edição de hoje. Estas notícias que percorrem as manchetes do Brasil de trabalho assemelhado a escravo, ou degradante – a que ofende a dignidade do trabalhador – é um aviso de alerta de que o barato sai caro. A primeira coisa é a terceirização. Não há como lavar as mãos. É preciso ser vigilante, até porque na hora da condenação se é solidário e por muito mais do que se economizou.

Segundo. A contratante precisa participar da seleção para minimamente saber o tamanho do risco que está assumindo ou se está apostando. E isto em todas as áreas. Não apenas na rural, construção civil, prestação de serviços sem qualificação. Logo, logo isto estará nos serviços faccionados tão comuns na nossa região.

O que está em jogo, neste caso, é a reputação de marcas e de uma sociedade.

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6 comentários em “QUANDO UM GOVERNADOR EM DIFICULDADES E DEPUTADOS DE FORA METEM A COLHER NO PROCESSO ELEITORAL DAQUI A UM ANO E MEIO ANTES DA ELEIÇÃO, SÃO PROVAS DA FALTA DE AUTODETERMINAÇÃO E LIDERANÇA POLÍTICA ENTRE NÓS”

  1. SENSAÇÃO DE URGÊNCIA, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    É imensa a responsabilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já que o governo Luiz Inácio Lula da Silva começou com uma expectativa alegre e colorida, mas encontrou uma herança maldita, enfrentou terroristas em 8 de janeiro e, no terceiro mês, continua convivendo com altos índices de desmatamento na Amazônia e uma inflação não apenas alta, como mais alta do que o previsto.

    Pelo MapBiomas, o Brasil perdeu 536 mil hectares para o fogo entre janeiro e fevereiro. É 28% menos do que no mesmo período do ano passado, mas 90% da área queimada foi na Amazônia.

    Não há o que comemorar. E o Boletim Focus aumenta a projeção de inflação, de 5,90% para 5,96% em 2023, muito acima do teto da meta, de 4,75%. Inflação breca a queda dos juros e a decolagem do desenvolvimento.

    “Viu os resultados da inflação e do desmatamento da Amazônia? Se não houver mudanças em seis meses, pode complicar muito politicamente”, alerta Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington e Londres, hoje presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice). O que mais preocupa, e atiça as redes bolsonaristas, é que o governo não para de anunciar projetos que exigem gastos, sem dizer de onde vêm os recursos.

    Todo mundo de boa-fé reconhece que Jair Bolsonaro e sua trupe deixaram o governo em frangalhos e leva tempo botar as coisas em ordem. Mas, como a situação é realmente feia, isso cria ansiedade e sensação de urgência. O relógio corre.

    Um pequeno exemplo de gastos bem-intencionados, mas que precisam ser bem avaliados, é o projeto do Ministério da Saúde de um hospital na área Yanomami. Parece uma boa ideia, mas significa alto investimento e o transporte de 30 toneladas de materiais, equipamentos e equipes, por helicópteros da FAB. Tem de saber da viabilidade e da disponibilidade.

    Em encontro hoje com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o ministro da Defesa, José Múcio, vai argumentar que é mais conveniente e eficaz manter um posto na reserva e a transferência dos indígenas que precisarem de tratamento mais avançado para hospitais da capital de Roraima. É menos invasivo para a reserva e mais eficiente para os pacientes. E mais de acordo com a frota da FAB.

    É em meio a esse debate sobre gastos sociais justos e necessários e uma crise fiscal de bom tamanho que Haddad faz suspense e um tantinho de teatro sobre a nova âncora fiscal. Reúne-se com a área econômica, alia-se a Simone Tebet e a Geraldo Alckmin e vai “submeter a Lula”, antes de um anúncio triunfal. Até agora, porém, tudo o que o distinto público sabe é que será… criativa. Ai, que medo!

  2. LULA DE LIRA, por Carlos Andreazza no jornal O Globo

    Arthur Lira disse que o governo Lula precisa de tempo para se estabilizar internamente. É uma avaliação. Para o presidente da Câmara, o novo governo estaria instável. Diagnosticou. E seria o caso de lhe dar tempo. Receitou.

    De estabilidade e tempo — de estabilidade no tempo —, Lira entende. Sua família indica diretores da CBTU desde 2007. Deu neste GLOBO. O atual presidente da estatal ascendeu à chefia em 2017, sob Temer, apadrinhado pelo deputado. Temer, Bolsonaro, Lula — e o trem segue. Não descarrila.

    — Teremos um tempo para que o governo se estabilize internamente — foi o que falou.

    Que o uso do plural não engane. Não existe nós. Nem apenas uma avaliação. É Lira, o avaliador, quem controla o tempo, que concede. E o tempo está correndo… Corre contra o governo desequilibrado. Avaliação e faca no pescoço. Lira dita o ritmo e amola a lâmina. É como avança. Nos trilhos.

    O governo ainda não se estabilizou em casa — o que comunica com o “internamente”. Externamente será com ele, Lira — o do tempo, da lâmina e da fatura. E, externamente, “o governo ainda não tem” base de apoio consistente. Vende dificuldades.

    Quase disse que o governo que ora se preocupa com base de apoio nem sequer tem o que votar no Parlamento. Quase disse. E foi entendido. Que só se testa base — e não será barato — com projetos a ser votados. Cadê? O ano avança. E Lira, o senhor da conta, espalha-se. Terá trabalho. Trabalho tem custo. Enquanto isso, antecipando-se, ocupa as caçambas de um comboio ainda parado; e com tempo para afiar a faca e mostrar o fio. Está exibido.

    Tem a CBTU, a Codevasf, o Dnocs — e contando. E então lemos que o Planalto entrega — ou mantém as entregas dos outros — por medo de, ao lhe enfrentar os interesses, Lira travar o governo. Não que lhe falte poder. Mas é o próprio, que manja dos trilhos, quem informa: o trem ainda não se moveu e já está travado.

    O governo bambo, que ainda não está em condições de votar grandes matérias no Congresso — para o que, quando a hora chegar, dependerá de mim. E será caro. É o que informa. E Lira decerto exclui a presença de elementos como Juscelino Filho da equação desestabilizadora. Coisa de ilusionista. Gere o tempo do governo, põe-lhe a faca no pescoço e desconsidera o atraso imposto por desequilíbrios internos que ajuda a forjar e manter.

    Lira tem também Juscelino, que divide com Alcolumbre, que é o Pacheco que não devemos ver. Esse arranjo, equilíbrio balanceado em orçamentos secretos, talvez defina o que o presidente da Câmara chamou de “Congresso com atribuições mais amplas”. Ele disse:

    — Temos um governo que foi eleito com margem de votos mínima e que precisa entender que temos Banco Central independente, agências reguladoras, Lei das Estatais e um Congresso com atribuições mais amplas.

    Avento se um governo eleito com imensa margem teria um Lira com largura menor, com atribuições menos amplas.

    Lira é estável, condição vitalícia, daí que se sinta à vontade para usar o resultado parelho da eleição — placar apertado que as “atribuições mais amplas” do Congresso facilitaram, aprovada a PEC Kamikaze, programa de financiamento público à reeleição de Bolsonaro — de modo a emparedar o governo eleito.

    As “atribuições mais amplas do Congresso” derivam da necessidade de aumentar a superfície de partilha do Estado, dado que Lira e sócios não apenas garantem o que já detêm como se espalham para além. A existência dos espaçosos Lira e Alcolumbre, com muitos braços e elmares, deixa mais caro mesmo, talvez impossível, ter a tal base de apoio. É preciso encontrar novos feudos. Mas até o Estado brasileiro tem finitude.

    A conta não fecha, mas o recado é: o governo tem de sustentar o que os donos do Parlamento controlam, para sustar qualquer risco de impeachment; e ainda negociar com a arraia-miúda parlamentar, deputado por deputado, a cada votação.

    Tratando da reforma tributária, Lira declarou:

    — Nós temos um Congresso que hoje tem atribuições mais amplas, e que isso precisa ser negociado com bom senso, muita conversa, amplitude, clareza, mas com rumo. E o rumo nós precisamos defini-lo agora em março. Nós não temos um rumo definido, um encaminhamento feito.

    Atribuições mais amplas tem Lira. Clareza. Rumo. O consórcio parlamentar que dirige conseguiu driblar o Supremo para formalizar o orçamento secreto. Que continua. Continua Juscelino. Continua a Codevasf. A Codevasf de Bolsonaro sendo homologada, agora, pelo governo de Lula — é um dos encaminhamentos que Lira, com bom senso, dá ao governo sem rumo.

    E o governo Lula — que assinou contratos de asfaltamento (atividade que deturpa a natureza da Codevasf) que somam cerca de R$ 650 milhões, conjunto herdado de pregões havidos sob Bolsonaro, dos quais transbordam evidências de cartelização — continua sem base de apoio no Congresso.

  3. Miguel José Teixeira

    Huuummm. . .”Antes de ser governo, o PT era um estridente paladino da ética. No governo, adequou-se rapidamente ao figurino das demais legendas e, depois do petrolão, simplesmente se comporta como mais um partido das “boquinhas”.” Lembram o que fez o “coveiro dos PeTralhas” quando assumiu a PMB? Simplesmente chutou os bagos de muitos jornalistas vermelhóides esquerdopatas da região e “encabidou” a filha do aspirante à presidente lula!

  4. ISTO NÃO NÃO UMA BALEIA, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo

    Em “A Traição das Imagens”, de 1929, o belga René Magritte pintou um cachimbo com a frase “Ceci n’est pas une pipe” (“isto não é um cachimbo”). O aparente paradoxo é uma reação ao racionalismo que identifica a imagem de uma coisa como a coisa em si: a pintura de um cachimbo não é o cachimbo que foi pintado.

    A mensagem é desconectar a arte do funcionalismo pedagógico, moral ou referencial (à realidade política e social). Uma pintura é um reino próprio, governado pelas próprias leis. A estética é a rainha.

    Contudo, passado um século, abundam críticas para as quais a arte é cartilha moral ou panfleto político, como várias sobre o filme “A Baleia”, de Darren Aronofsky.

    Charlie, o protagonista, tem obesidade mórbida (pesa 270 kg), um ex-namorado que se matou e uma filha adolescente com quem tenta se reconciliar, após abandoná-la para viver a paixão que findou em tragédia.

    Parte das críticas acusam o filme de gordofobia. Ao retratar Charlie numa casa suja e escura, se lambuzando de comidas ingeridas com sofreguidão, transmitiria-se a ideia de que gordos são repugnantes, estimulando o preconceito que enfrentam.

    Ora, mas isso seria dizer que o filme “Despedida em Las Vegas”, sobre um alcoólatra suicida, é preconceituoso. Nem todo mundo que bebe é alcoólatra, nem todo gordo é obeso mórbido. Tratam-se de relações obsessivas —atestadas pela ciência— com objetos que nos cercam, seja uísque, pizza, pôquer ou sexo.

    “A Baleia” não é sobre a comunidade gorda ou adicção. É sobre a angústia existencial relativa às contradições entre corpo, mente e normas culturais, que Freud descreve em “O Mal-Estar na Civilização”: o homo sapiens teve de reprimir seus instintos naturais para alcançar todas as conquistas culturais da humanidade.

    No entanto, constantemente, sentimos o fardo dessa troca, seja ao reprimir desejos ou segui-los cegamente. Esse é o peso que Charlie carrega, representado na arte pelo seu enorme corpo. Ou seja, a baleia não é uma baleia.

  5. FARRAS FAMILIARES NAS ESCOLHAS PARA OS TRIBUNAIS DE CONTA, editorial do jornal Valor Econômico

    Os Tribunais de Contas estaduais (27), de municípios dos Estados (4) e de municípios (2) tornaram-se dispendiosas sinecuras, com baixo cumprimento de suas funções principais, entre elas a de fiscalizar as contas do Executivo. Tornaram-se um clube formado por aliados políticos que são indicados pelas Assembleias Legislativas e pelos governadores, e que, entre outras regalias, têm cargo vitalício – aposentam-se aos 75 anos – e salários equivalentes ao topo do funcionalismo público (R$ 41 mil).

    Estes tribunais têm 7 membros, quatro deles escolhidos pelos Legislativos estaduais (e municipais, quando couber) e três pelo chefe do Executivo, que tem de indicar um auditor e um membro do Ministério Público, além de alguém de sua predileção. Como é corriqueiro no Brasil, ninguém é encarregado de fiscalizar o fiscal, e a perpetuação de critérios esdrúxulos de seleção, em desrespeito à Constituição, desfigura radicalmente as importantes missões para os quais foram criados.

    Levantamento realizado pelo jornal O Globo (6 de março) mostram dados chocantes. Dos 232 conselheiros existentes, 30% são parentes de políticos, lá colocados por irmãos ou cônjuges governadores. À fatia nepotista dos tribunais junta-se outra um pouco maior, de 32%, que já foram condenados pela Justiça ou são objeto de investigação por crimes como peculato, corrupção, lavagem de dinheiros e outras coisas mais. O cargo de fiscalização é um manto que encobre com a legitimidade da autoridade falcatruas diversas. O restante dos membros dos tribunais fizeram carreiras políticas e foram indicados por aliados.

    Os conselheiros só podem ser exonerados por má conduta e crimes diversos depois de receberem sentença transitada em julgado, o que, pelo novo entendimento do Supremo Tribunal Federal, só ocorre depois de esgotados todos os infindáveis recursos a que têm direito os acusados. Como a Justiça no Brasil é lenta, produz frequentemente situações bizarras, como as do Tribunal de Contas do Estado do Rio, em que nada menos de 5 conselheiros foram afastados pela Operação Quinto do Ouro, e foram presos junto com o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, em março de 2017.

    Além de o tribunal não poder mais funcionar sem cinco dos 7 membros, os acusados continuaram a receber normalmente seus altos salários. Um deles, Aloysio Neves, teve pagamentos de R$ 2,3 milhões, depois de afastado, de 2017 a 2022. Aposentou-se no mês passado, com salário de R$ 41 mil e os vencimentos da aposentadoria, que serão muito maiores do que o que os demais contribuintes da Previdência receberão pelas regras vigentes. Os demais investigados, dada a demora do processo, pediram para reassumir suas funções. Um deles, Domingos Brazão, teve seu requerimento aceito pelo ministro do STF Nunes Marques. O benefício foi estendido aos demais, que ainda não voltaram ao trabalho porque outra ação por improbidade administrativa na Corte estadual os impediu.

    O aproveitamento de oportunidades de emprego bem remunerado para o resto da vida não distingue partidos. Um dos homens mais poderosos do PT, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ex-governador da Bahia, conseguiu que sua esposa, a enfermeira Aline Peixoto, fosse eleita como conselheira no tribunal do Estado. Algo semelhante ocorreu com Rejane Dias, esposa do então governador do Piauí, Wellington Dias, hoje ministro do Desenvolvimento Social do governo Lula.

    Antes de ser governo, o PT era um estridente paladino da ética. No governo, adequou-se rapidamente ao figurino das demais legendas e, depois do petrolão, simplesmente se comporta como mais um partido das “boquinhas”.

    A forma de corrigir uma situação aberrante e injusta como essa é simples e uma das mais difíceis de se executar: cumprir a lei. Pela Constituição, além de idoneidade moral e reputação ilibada, os candidatos a ocupar o cargo têm de possuir “notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos financeiros ou de administração pública”. Mais: precisam ter exercido por mais de 10 anos função ou atividade profissional que exija esses conhecimentos. Grande parte dos beneficiados pelo nepotismo ou indicações políticas não preenche esses requisitos. A moralização desses tribunais é urgente, mas não há interesse dos políticos, beneficiários desta situação, em fazê-lo, já que aprovam qualquer um e a Justiça e o Ministério Público não têm se metido nisso.

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