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QUANDO SE OLHA O DISCURSO DO CANDIDATO KLEBER E O RESULTADO DO ELEITO, DESCOBRE-SE QUE FALTARAM PRIORIDADE, PLANEJAMENTO E EQUIPE, BEM COMO FOCO NA EXECUÇÃO

Alguns me disseram que faltou interlocução do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, tanto no âmbito regional, estadual e federal para dar melhor sorte para Gaspar como gestor da cidade. Já escrevi várias vezes sobre isto com fatos e números. Assim mesmo, há gente contrariada e ainda que não tenha condições de contrapor os fatos e os números apresentados.

Eu penso diferente e já discorri sobre isto aqui. 

O que faltou realmente a Kleber foi definir as prioridades seja naquilo que, como político, ele queria para Gaspar, bem como nos relacionamentos que minimamente precisava construir para atingir os resultados. Faltou o mínimo do mínimo que se espera de um gestor que vinha com perspectivas de inovador, tendo o rótulo de jovem, mesmo estando em um aparelho político cheio de vícios como é o MDB e o PP. 

No fundo, se Kleber tivesse escolhido as prioridades, ele falharia no planejamento – que não são as reuniões que fotografa para colocar diariamente nas redes sociais. Mais do que isso, faltaria equipe pois ninguém produz resultados consistente mudando constantemente de liderança e escolhendo em postos chaves gente qualificação para a função. E se tudo isso não tivesse falhado, faltou foco na execução para os resultados que prometeu à sociedade como candidato. E o que sobra de tudo isso? Improvisos em coisas triviais, como a novela que se instalou no acesso ao bairro Sete de Setembro pela Avenida Francisco Mastella, que ilustra este artigo. Imagina-se as mais complexas.

Qual o grande feito que Kleber usa para se projetar? Tornar Gaspar a Capital Nacional da Moda Infantil. Verdadeiramente, e já escrevi várias vezes, o que isto agregou na imagem da cidade? O que isto melhorou à cadeia das nossas indústrias do ramo têxteis? O que os trabalhadores do setor ganharam com isso? Aonde quem não é daqui pode comprar e comparar a diversificação da nossa produção de moda infantil? Ilhota nos dá, por enquanto, um banho!

Gastou-se energia política em Brasília para um título que não muda à realidade da cidade, não cria empregos, não identifica sequer ou agrega valor aos produtos que produzimos. Kleber preferiu o possível, renegou o impossível e colheu o provável: dificuldades para se viabilizar politicamente e ser reconhecido como um gestor com diferenciais para se capitalizar politicamente. As eleições de dois de outubro mostram o tamanho deste fracasso.

E não vou longe, entretanto, vou ser repetitivo naquilo que já escrevi e vocês já leram aqui. Contudo, não vou ser genérico, vou focar outra vez na Educação. Ela foi tema do meu comentário de quarta-feira. Ele gerou burburinhos no ambiente do poder. Eles não se sustentam. Então, explicarei mais uma vez aos da bolha.

Quando prometeu e conseguiu em 2016 expurgar o PT de três mandatos com Pedro Celso Zuchi, Kleber foi a campo. “Falou” com a comunidade. Fez, segundo dizia, uma pesquisa e com ela promoveu seminários em várias partes da cidade, “ouvindo” parte da população. Kleber concluiu que precisava “Construir o futuro, recuperar a credibilidade e o desenvolvimento de Gaspar”. Este foi exatamente o título final do documento.

Na sua reeleição em 2020, essas conclusões e o papelório com as promessas já eram lixo depois de quatro anos de prática diferente. Para se reeleger, Kleber preferiu anular um adversário em potencial, Marcelo de Souza Brick, hoje no patriota, e enganá-lo como vice, de que Marcelo assumiria parte do mandato. Hoje, são dois prá lá, dois prá cá. Vivem, ao menos, por enquanto, educadamente como gato e rato.

Voltando. 

Seis anos depois e quando se lê o que se usou para o palanque naquela campanha de 2016 em que Kleber vinha escaldado por uma derrota em 2012, ele devia saber exatamente onde mora o perigo. A parte IV daquele trabalho – que segundo se dizia era fruto do clamor do povo nas pesquisas e audiências que fez como pré-campanha – tinha para a Educação, Cultura e Esporte o seguinte enunciado no primeiro item: ampliar a quantidade de vagas em CDIs, construindo novas unidades e viabilizando parcerias público-privada. 

Então para que eu quero descer. Qual foi a atitude da então secretária de Educação, a hoje vereadora Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, para resolver este problema? Ir até o Ministério Público, fazer um acordo, para não levar multa, desobrigar-se de dar vagas, usando a Lei, cortando o período integral pelo meio período de hoje. E Kleber e os seus dizem por aí que não sabem onde erraram e que no fundo problema é quem esclarece isto à população como eu?

Segundo item: viabilizar a construção do campus universitário em Gaspar. Pergunto, alguém sabe disso? O que se sabe, é que Kleber comprou o terreno da Furb por R$14 milhões, ajudando a instituição se equilibrar momentânea e economicamente. O terceiro item era o “de reativar os laboratórios de informática nas escolas municipais”. Bom! Só não digam que que o ensino a distância que se improvisou obrigatoriamente durante a pandemia da Covid-19 cumpriu este papel. Terceiro item: aprimorar os programas de formação continuada, valorizando os programas da educação. Não vou à polêmica. Dou o benefício da dúvida e vou dar crédito de que este item foi plenamente cumprido.

Quarto item: “viabilizar estudos e propagar a rede de escolas e profissionais para a implementação do horário integral de forma progressiva“. Vou parar por aqui e deixar os demais itens de fora para não ser enfadonho e alguém achar que estou sendo radical. 

Se este diagnóstico ou um pré-plano de governo fosse um plano de voo, um dos principais objetivos na área social – e nem estou considerando como de edcuação – do governo de Kleber estava definido. Por outro lado, olhando agora a atual situação, que significa isso e bem claramente? Que ele não voou. Ah, mas teve a pandemia. Certo. Entretanto, isto não impediria a constituição de grupos de trabalho, mesmo remotamente, da burocracia da área para a realização e debates dos de propostas e estudos? 

Não! Hibernaram. Pararam no tempo como não se haveria retomada da normalidade. Por que não se formou na teoria a tal rede de escolas? Porque exatamente no ócio da pandemia não se formou a rede de profissionais, adequando a legislação para a volta às aulas ao menos com um experimento em tempo integral? Nem contraturno o temos entre nós como deveria ser. Impressionante!

E qual a razão de tanto desperdício e atraso?

Porque faltou determinação, foco, perdeu-se tempo com coisas pequenas e usou a educação como agente de política partidária.

Resumindo, o prefeito, o político, o administrado Kleber que vive em sucessivas reuniões de planejamento, com a sua turma, renegaram o próprio título do documento que criaram lá em 2016, quando enxergaram este defeito no adversário que estava plantado no poder de plantão. E quem contou a Kleber, ao marqueteiro e a quem o rodeava para se agarrar no novo poder se eleito sobre este defeito? Uma pesquisa com os gasparenses, seminários com gasparenses, contatos cara a cara com os gasparenses. 

Um deu os pontos do discurso e o outro fez melodia para os ouvidos cansados da mesmice. Então, Kleber e os seus sintetizaram tudo isso em “construir o futuro, recuperar a credibilidade e o desenvolvimento de Gaspar”

Lição mal aprendida. Tempo desperdiçado. E qualquer adversário sabe disso. Kleber e os que rodeiam na máquina de empregar e produzir pouco, refutam o óbvio que o povo lhes contou e tomaram como verdade. Kleber pode ser um agente tóxico neste momento paras quem ele apoiar. Então, por isso, já ensaia o manjado nós contra eles, para que ninguém lhe cobre o que prometeu e não fez até aqui. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Sabe quanto só em diárias custou a viagem de Kleber Edson Wan Dall, MDB, a Brasília, nesta semana? R$9.840,00, afora as caras passagens aéreas. O prefeito com o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB e o da Saúde, o vereador licenciado, Francisco Hostins Júnior, MDB, estas tiradas do Fundo da Saúde, foram entregar papelinhos de ajutórios nos gabinetes de parlamentares e na presidência da República, além de fazerem fotos pré-campanha com políticos conservadores famosos e da moda.

Estranho mesmo, foi ver o secretário da Saúde entregar o papelinho na Defesa Civil para consertar os estragos que devido o longo tempo sem simples manutenção, as sucessivas enxurradas fizeram estragos nas margens do Ribeirão Gaspar Grande, afetando desta forma, as ruas Rio Branco e Rafael Schmitt. Notícias anteriores na imprensa daqui davam conta que isto já tinha sido feito. E na semana passada, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, foi Florianópolis, com o vereador Alexsandro Burnier, PL, pedir a mesma coisa a Defesa Civil estadual.

Depois do fiscal da área de Meio Ambiente e que vem tirando o sono de muita gente na prefeitura de Gaspar, agora é a vez do geólogo da Defesa Civil. Ele está embirrando naquilo que, supostamente, era necessário se fazer e não se fez. Um exportador gasparense está com uma carga parada no porto à espera de um documento e que não se libera na prefeitura. Os técnicos estão peitando os políticos. Isto é bom? Não sei. Mas, os políticos jovens ainda não se deram conta de que o tempo do jeitinho dos velhos políticos está passando.

Como diz a música, “brincadeira de criança…”. A paz na Comissão Provisória do PL de Gaspar está cada vez mais comprometida. O presidente dela, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, foi esta semana a Florianópolis. Manteve vários contatos com diversos parlamentares de várias siglas, inclusive os do PL que teria ajudado por aqui. Rodrigo só não conseguiu se encontrar com o seu ex-fraterno amigo de PV, e agora o calo no seu sapato, o deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau.

Ontem, fiz um artigo com este título: JORGINHO HUMILHA O MDB E O PARTIDO ACEITA FAZER UM PAPEL DECORATIVO NO GOVERNO DELE COMO TITULAR DA SECRETARIA DE INFRAESTRUTURA. O que mostra o título, o artigo e a realidade? A decadência do poderoso MDB. Em Blumenau – o que espelha Gaspar – ele nem existe mais. Em Gaspar começou a disputa de um espólio. E ganhou contornos de definhamento com o afastamento do então prefeito e já falecido, Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho. Ele governou a cidade 1997/99.

A saída da Assembleia de Jerry Comper é o resultado direto da diminuição da sua bancada na Assembleia e da sua força como protagonismo pós Luiz Henrique da Silveira. A bancada não consegue mais cacifar espaços generosos do MDB no poder de plantão estadual. Outra, vai assumir o ex-prefeito de Porto Belo, Emerson Stein, tudo que a deputada Ana Paula Silva, a Paulinha, Podemos, da vizinha Bombinhas, não queria. Um leitor me escreve comparando o tamanho das duas cidades com a de Gaspar. Pois é…

E o vereador – e presidente da Câmara – Ciro André Quintino, MDB, cabo eleitoral do deputado por aqui onde conseguiu 900 votos para ele na última eleição, correu para os veículos amigos para tapar o sol com a peneira. Disse ele, que é um grande feito e Gaspar tem muito a ganhar com esta indicação. Uma delas, é a não duplicação da Rodovia de Gaspar a Brusque. Uma simples revitalização e ela continuará sendo uma bela picada ligando os dois municípios e não prejudicando interesses de menos de meia dúzia de lindeiros.

Exemplo. O bafo na nunca de entidades e de parte da população antenada, fez a Câmara de Blumenau arquivar, por enquanto, a criação do 13º salário para os vereadores. A Câmara de Gaspar ensaiava a mesma coisa entre quatro parades.

Se a moda pega… Registros captados e documentados por leitor do blog mostraram que se instalou uma nova modalidade na Câmara de Gaspar. Na tarde de terça-feira, muitas horas da sessão começar, já tinha vereador e vereadora com registro de presença na sessão que só se iniciaria as 18h30min. É a tal modernidade preconizada pela Mesa Diretora

Com a volta das aulas, veio a reclamação dos jovens e contra os vereadores. Eles estão inconformados de andarem, neste calorão, “enlatados” nos ônibus urbanos de Gaspar, isto quando os horários são coincidentes com o término das aulas. E por que os vereadores de Gaspar entraram nas queixas que circularam nas redes sociais? Porque os vereadores estão prestes a comprar carros de luxo para eles trabalharem pela cidade e o seu povo.

O artigo de quarta-feira, a partir do balanço feito na Câmara na semana passada pelo prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, pincei, outra vez, as incoerências dele na prestação de contas na área de Educação. A repercussão para alguns foi silenciosa. Para outros, nem tanto. Alguém da área me trouxe este posicionamento. Ele bate com a essência do artigo de hoje, mas que na bolha, os que estão no poder de plantão, não percebem, ou então, fingem que não vai dar em nada nas urnas em outubro do ano que vem.

“Quanta verdade. Falta professor e auxiliares nas duas áreas: normal e especial. Esta formação do Google é uma besteira. cobrança nos professores. Estamos estressados. É o fim”.

Com outro travei o seguinte diálogo naquilo que confirmou a falta de profissionais e pessoas de suporte. “Tem funcionário trabalhando nove horas por dia. Para a prefeitura é lucro. Não pagam hora extra. Economizam. E os pais não sabem disso”. Ai eu perguntei: “por que vocês não denunciam? E a resposta veio de pronto: “medo. Você sabe. Eles são terríveis”.

O que pega neste caso. Primeiro é que, segundo as mesmas fontes, a prefeitura e a secretaria de Educação de Gaspar sabem de tudo. Segundo é o silêncio impressionante e reiterado do Sintraspug contra o servidor. E quando algum professor liga relatando a situação, suavemente, para a secretaria, a resposta está na ponta da língua: “não tem pai ou mãe reclamando”.

O descanso dos políticos e dos servidores públicos em Gaspar para com os que lhes pagam. Na segunda e terça-feira não há expediente na prefeitura – que voltou das férias coletivas no dia 16 de janeiro – e na Câmara que depois de dois meses parada voltou no dia sete de fevereiro. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, manteve-se intransigente nos cinco primeiros anos. Desgastado e à véspera de eleições, aderiu ao feriadão que a Câmara nunca abriu mão para os seus.

A Acig protestou. A Ampe, a amiga, até agora nada. Os que empregam e pagam os pesados tributos estão inconformados é com a falta de creches – que já é a meia boca – por aqui para seus trabalhadores e trabalhadoras. A doença também vai festar no carnaval com os postinhos fechados. Onde de verdade estão os tais conselheiros da cidade?

Ninguém do PT de Gaspar foi a Brasília no jantar de comemoração dos 43 anos do PT. O ticket era de R$20 mil por cabeça. Para ficar longe dos graduados, podia-se pagar R$500,00. Consultado, o que mantém relações estreitas com o PT de Brasília, João Pedro Sansão, disse que preferiu ficar por aqui e economizar.

A entrega e apanha pelos pais ou responsáveis das crianças no CDI Dorvalina Fachini, via a Avenida Francisco Mastella, no bairro Sete de Setembro, só para encurtar tempo e caminho cheira a uma tragédia anunciada.

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9 comentários em “QUANDO SE OLHA O DISCURSO DO CANDIDATO KLEBER E O RESULTADO DO ELEITO, DESCOBRE-SE QUE FALTARAM PRIORIDADE, PLANEJAMENTO E EQUIPE, BEM COMO FOCO NA EXECUÇÃO”

  1. A REDE AMERICANAS QUER SOBREVIVER, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Depois de examinar as contas da rede varejista Americanas, os três grandes acionistas da empresa dispuseram-se a colocar R$ 7 bilhões no negócio. Os credores acharam pouco.

    (Dias antes a oferta estava em R$ 6 bilhões.)

    Bilhão para cá, bilhão para lá, é provável que a Americanas sobreviva, encolhendo. Ela sairia do mercado de vendas eletrônicas e voltaria a ser uma simples rede de lojas, onde o freguês entra, pega a mercadoria, paga e vai embora.

    A Americanas foi depenada numa fraude duradoura. As investigações dirão quem sabia o quê e quem levou quanto. O mercado sempre soube que a Americanas espremia os fornecedores espichando por meses os pagamentos.

    Até agora, os números mostram o seguinte:

    Nos últimos dez anos, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, os grandes acionistas, receberam R$ 500 milhões em dividendos e investiram R$ 1,5 bilhão sob a forma de aumentos de capital. Nenhum dos três vendeu ações da Americanas.

    Nesse mesmo período, os executivos da empresa receberam, só de bônus por desempenho, R$ 700 milhões.

    (Que desempenho? Se a ideia era cortar custos porque, como as unhas, eles sempre crescem, agora estão querendo arrancar as unhas alheias.)

    Entre agosto e setembro, quando se tornou público que a Americanas seria dirigida por Sérgio Rial, um executivo vindo do banco Santander, diretores da empresa venderam R$ 244,3 milhões de ações.

    (No final de 2022 a Americanas capotou, indo do lucro para o prejuízo.)

    Nos últimos dez anos os bancos foram felizes parceiros da Americanas e, em operações de crédito legítimas, ganharam algo como R$ 20 bilhões.

    Como disse Carlos Alberto Sicupira numa palestra energizadora para papeleiros:

    “O Brasil não será Estados Unidos. Porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação e é o país da impunidade. Isso é cultural. Não vai mudar.”

    Essa frase ecoa o príncipe de Salinas do romance “O Leopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, explicando a grandeza e decadência da Sicília. Com um rombo estimado de R$ 40 bilhões, o caso da Americanas tem coitadinhos demais. Cada um exerceu seus direitos. Resta agora saber se a Comissão de Valores Mobiliários lhes mostrará o tamanho de suas obrigações e responsabilidades.

    A ARROGÂNCIA DAS BIG TECHS

    A repórter Paula Soprana revelou que o TikTok entregou ao Tribunal Superior Eleitoral um relatório informando ter derrubado 10.442 vídeos impróprios durante os ataques golpistas do 8 de janeiro e nos dias seguintes. Boa notícia.

    E as outras plataformas? O Kwai diz que não pode abrir esses números. A Meta (dona do Facebook e do Instagram), bem como o Youtube, Telegram e o Twitter, também não se manifestaram. Má notícia.

    As empresas que controlam essas plataformas estão numa atitude suicida. Como empresas não se matam, pois quem as mata são seus diretores, eles correm o risco de se transformar em cúmplices de golpismo, mentiras e difamações. Nada custaria divulgar números como os do TikTok.

    O silêncio arrogante que esses doutores vestem ao discutir o uso impróprio dos serviços de suas empresas poderá alimentar avanços contra a liberdade de expressão. Sabe-se que o governo cozinha um instrumento legal para barrar a utilização das redes sociais como instrumento de mobilizações golpistas, mentirosas e difamadoras. A arrogância de uns poderá ser usada para satisfação de outros.

    As plataformas usadas para organizar a “festa da Selma” de 8 de janeiro foram instrumentais para a prática de crimes. Se um sujeito usa um Volkswagen para assaltar um banco, a Volks não tem nada a ver com isso, mas se uma locadora de fuscas sabe que seus carros estão sendo usados em assaltos, nada lhe custa colaborar com a polícia entregando-lhe a lista dos locatários.

    O sacrossanto juiz Oliver Wendell Holmes, da Corte Suprema dos Estados Unidos, matou essa charada em 1919. Num voto que se tornou pedra angular na defesa da “livre troca de ideias”, ele ressalvou que ela “não protege o cidadão que falsamente grita ‘fogo’ num teatro cheio.”

    Além dessa ressalva ilustrativa, Holmes criou o conceito de “perigo claro e presente”. O pessoal que no dia 8 de janeiro ia para a “festa da Selma” levava consigo uma proposta explícita (ocupar o Congresso, o Planalto e o STF). Quem invadiu os prédios delinquiu e as mensagens por eles trocadas são provas da participação num crime. Nada a ver com liberdade de expressão.

    Os doutores das Big Techs defendem o negócio de suas empresas. Devem lembrar que sempre há algum mentiroso protegendo-se atrás da liberdade de expressão e, do outro lado, sempre há alguém querendo esconder a verdade e buscando proteger-se com a censura.

    Quando recusam-se a revelar até mesmo quantos vídeos impróprios derrubaram nos dias em que o Brasil passou por uma tentativa vandálica de golpe de Estado, levam água para o monjolo da turma que gosta de censura.

    BOLSONARO NO WALL STREET JOURNAL

    Na sua entrevista à repórter Luciana Magalhães, do The Wall Street Journal, Bolsonaro fez uma espécie de mea culpa em relação à sua conduta diante da Covid. Afirmou que se pudesse voltar no tempo, “eu não diria coisa nenhuma, deixaria o assunto para o ministro da Saúde”.

    É pouco. A responsabilidade de Bolsonaro numa pandemia que matou cerca de 700 mil pessoas foi muito além das palavras. Em ações concretas, como presidente e no exercício de suas atribuições, demitiu dois ministros da Saúde e um diretor da Polícia Rodoviária Federal que lastimou a morte de um agente.

    Além disso, forçou a fabricação de quatro milhões de comprimidos de cloroquina.

    NÚMEROS DE OURO

    A Polícia Federal estima que entre 2020 e 2022 o garimpo ilegal tenha extraído 13 toneladas de ouro da Amazônia.

    Dito assim, é mais um número. Estima-se que em cinco anos a mina de Serra Pelada tenha produzido 30 toneladas. Em 1983, seu melhor ano produziu 17 toneladas.

    Entre 1735 e 1755, no apogeu do ciclo do ouro, as minas brasileiras produziam cerca de 15 toneladas anuais.

    Fazendo a conta de outro jeito, os grandes acionistas da rede Americanas ofereceram um aporte de R$ 7 bilhões. São 22,5 toneladas de ouro.

    GUARDA NACIONAL

    Subiu no muro a ideia da criação, neste ano, de uma Guarda Nacional para proteger áreas do Distrito Federal, fronteiras e sabe-se lá o que mais.

    Seus defensores reconhecem a dificuldade para aprovar a emenda constitucional necessária para sua formação.

    Nas Forças Armadas, a simpatia pela ideia é nula.

    ALÍVIO

    De um diplomata que serve no exterior e veio ao Brasil em férias:

    “Minha vida mudou, há um mês passei a circular durante as recepções sem receio de entrar numa conversa constrangedora com um colega.”

  2. CRISE, IDEOLOGIA E PRAGMATISMO, por Murillo Aragão, na Revista Veja

    Pergunta-se, com frequência, se Joe Biden é de direita ou de esquerda. A indagação está contida em uma matéria publicada pelo UOL na semana passada. A resposta, como esperado, é a de que o presidente dos Estados Unidos é centrista, o que, de forma imprecisa, significa que ele pode adotar no país soluções propostas por ambos os polos ideológicos.

    Aliás, as maiores potências adotam uma mescla de atitudes baseadas em seus interesses estratégicos. Por exemplo, a China financia pesadamente a expansão de suas indústrias e pratica uma espécie de capitalismo de Estado. Os Estados Unidos distribuíram dinheiro e estímulos em todas as graves crises deste século.

    As melhores soluções para a economia e para o governo não devem ser discutidas ideologicamente, o que, considerando as circunstâncias do mundo, trata-se de um retrocesso. O dogma ideológico é uma forma arcaica de medir a efetividade de políticas públicas. É como querer usar bússola magnética navegando no espaço.

    O Brasil de hoje resulta de uma mistura de conceitos de direita e de esquerda postos em sucessivas mesas de negociação. Os avanços dependem de consensos ou de crises. A mistura de conceitos e a necessidade de consenso amenizam radicalismos, mas, ao mesmo tempo, mitigam avanços.

    No entanto, as crises levaram o senso de urgência para a mesa. Foi assim, por exemplo, com as reformas implementadas por Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato, com a sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000, e com o advento do teto de gastos, em 2016, entre outras. As crises nos impulsionaram a fazer reformas e buscar aperfeiçoamentos.

    Hoje, no Brasil, estamos em uma encruzilhada determinada pela possibilidade de sérios problemas internos e externos. Dependendo das escolhas, podemos tomar o caminho virtuoso do crescimento sustentável ou cair na armadilha dos atalhos perigosos.

    O que o Brasil deve fazer agora? Em primeiro lugar, promover uma leitura adequada do momento no mundo e no país, considerando os desafios políticos, as sequelas da pandemia e as suas repercussões sociais e fiscais. O segundo passo é entender que o Brasil pode estar contratando uma crise grave se não tomar as devidas providências nos campos fiscal, tributário e econômico.

    O terceiro passo é admitir que existem boas e más soluções em praticamente todos os campos ideológicos. Muitas das soluções são as mesmas, ainda que venham embaladas em rótulos diferentes. As boas soluções devem ser implementadas sem preconceitos, por isso a preferência ideológica deve ser relativizada. O quarto passo é o de reduzir a temperatura política. É hora de governar e deixar o palanque para trás.

    As devidas providências, acima mencionadas, apontam para: prudência fiscal; simplificação tributária com o reequilíbrio de sua carga; privatizações e concessões tendo em vista mais investimentos; reforma administrativa, para melhorar o perfil do gasto público e promover maior eficiência da máquina pública; desburocratização radical dos investimentos; implantação de programas assistenciais eficientes; e maior segurança jurídica para investimentos. Pragmaticamente, não há muito o que fazer fora desse cardápio.

  3. ENVELHECEU MAL, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O passado atormenta o Partido dos Trabalhadores, como a um indivíduo incapaz de resolver as suas neuroses e olhar para a frente.

    Na semana em que comemorou os 43 anos de fundação, o diretório nacional da agremiação divulgou uma resolução em que reitera o seu apego a teses derrotadas pela história e insiste em não chamar pelo nome os fatos desabonadores da trajetória petista.

    Na fabulosa narrativa, as acusações contra gestões do PT não passaram de torpe tentativa de criminalizar a política. Pouco importa estarem fartamente documentados o mensalão e o assalto à Petrobras, para citar os escândalos que não desaparecerão por causa dos erros e abusos da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro.

    O manifesto chama de golpe a deposição da presidente Dilma Rousseff, o que tampouco resiste ao confronto com a realidade. A denúncia foi aceita pela Câmara, com voto de 72% dos deputados, e o processo correu sob a direção do presidente do Supremo Tribunal Federal no Senado, onde 75% decidiram pela cassação.

    Considerar ruptura constitucional esse ato juridicamente perfeito é trafegar na mesma frequência de quem contesta os resultados das urnas de 2022. Trata-se, ademais, de péssima estratégia para quem necessita, a fim de cumprir promessas de campanha, de aliados que apoiaram o impeachment.

    Se a falsificação da história cobra seus maiores custos do próprio PT, o apego a doutrinas empoeiradas na economia ameaça a renda e o emprego de dezenas de milhões de brasileiros.

    A sigla, vê-se na resolução de aniversário, continua devota de que alguns iluminados em posições de Estado terão o condão de fazer deslanchar o desenvolvimento. Bastaria manipularem na direção que consideram correta os juros, o câmbio, os impostos, o gasto público e as decisões empresariais ditas “estratégicas”.

    Em nome dessa quimera, o partido agora investe contra a autonomia do Banco Central, a privatização da Eletrobras, a Lei das Estatais e a contenção do BNDES, iniciativas tomadas para evitar a repetição dos abusos que engendraram o descalabro recessivo de 2014-16.

    A agremiação que corretamente louva a moderação exercida pela institucionalidade nos apetites autoritários do bolsonarismo se contradiz ao imprecar contra mecanismos que procuram evitar os danos do exercício ilimitado do poder.

    Em vez de preocupar-se com os determinantes do enriquecimento e do bem-estar dos povos – assentados na produtividade do trabalho, estagnada no Brasil -, o PT continua a vender atalhos e feitiçarias que só produzem ruínas.

    Envelheceu mal.

  4. CENTRAIS SINDICAIS QUEREM AGÊNCIAS PARA REGULAR O TRABALHO, por João Sorima Neto, da sucursal paulista de O Globo

    Com a eleição do ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva para seu terceiro mandato na presidência, as principais centrais sindicais (CUT, Força Sindical e UGT) estão discutindo uma proposta para regular as relações de trabalho nos próximos dez anos. Entre as principais ideias está a criação do Conselho de Autorregulação das Relações do trabalho, uma agência independente que, entre outras funções, seria mediadora de litígios entre trabalhadores e empresas.

    – Seria uma agência independente nos moldes de agências como Anatel ou Aneel, que regulam as relações entre consumidores e empresas. Nesse caso, a agência seria responsável por resolver litígios entre trabalhadores e empresas, reduzindo os custos da Justiça, além de promover debates, trazer sugestões – diz Ricardo Patah, presidente da UGT, que está participando das discussões.

    A ideia é que o Conselho seja constituído por uma Câmara Autônoma dos Trabalhadores, uma Câmara Autônoma dos Empresários e uma Câmara Comum. Essa agência ficará vinculada ao Ministério do Trabalho, mas com autonomia para tomar decisões, ou seja, sem interferência do Estado.

    Ao Ministério, caberá apenas observar se as normas estão sendo cumpridas e dar uma solução aos conflitos e impasses apenas se for acionado ou conforme as regras de seu funcionamento, diz o texto do documento.

    A Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho atuariam com mediação e arbitragem sempre que forem acionados pelas partes interessadas. A ideia é que o Conselho teria como fonte de financiamento um percentual das contribuições dos trabalhadores e empregadores. Também poderia receber recursos públicos ou de cooperação nacional ou internacional, propõem as centrais sindicais.

    – É uma proposta inovadora e tudo que é inovador causa preocupação – admite Patah.

    O documento que está sendo elaborado pelos sindicalistas, a que o GLOBO teve acesso, traz ainda propostas como a revalorização da negociação coletiva, que deverá ser incentivada pelo Conselho. Nos últimos quatro anos, segundo as centrais, as negociações coletivas foram desincentivadas com a busca de negociações individuais e a constante criminalização do movimento sindical.

    Esse movimento de volta ao protagonismo das centrais sindicais é uma resposta aos ataques sofridos pelo movimento sindical durante os anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, segundo os sindicalistas.

    O texto também reconhece que há mudanças profundas acontecendo no mundo do trabalho e na organização do sistema produtivo “que exigem respostas inovadoras da classe trabalhadora”. Por isso, está na pauta das centrais, “construir uma abordagem para tratar da mediação com plataformas e aplicativos”, diz o documento.

    A ideia é apresentar essas propostas em forma de Projeto de Lei nos próximos sessenta dias ao Congresso Nacional. Antes, haverá mais discussões entre as próprias centrais, empresários e o governo.

    O presidente Lula já disse que não haverá a volta do imposto sindical e nem a reforma trabalhista, de 2017, será revista.

    Mas as centrais também querem ‘repactuar’ alguns pontos da reforma, entre eles a volta da homologação, que pode ser virtual; a validade das cláusulas da convenção coletiva do ano anterior mesmo quando o prazo de negociação da categoria tenha se esgotado; participação do movimento sindical nos acordos individuais entre empresas e trabalhadores e permissão para que as assembleias aprovem o desconto da contribuição sindical.

    – Dos 120 pontos da reforma trabalhista, queremos repactuar apenas esses – diz Patah.

  5. E SE “AQUELE CIDADÃO” ESTIVER CERTO? por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Esse debate em torno de inflação, metas e bancos centrais ocorre no mundo todo. É o tema de capa da última edição da revista The Economist. Em linhas gerais, o problema é o mesmo tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes: a taxa básica de juros subiu – e continua subindo em muitos lugares -, e mesmo assim a inflação, embora caia, dá sinais de resistência.

    O que fazer? Mais juros? Aceitar uma recessão? Ou tolerar uma inflação mais elevada por mais tempo? Nos países desenvolvidos – Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, União Europeia – , a meta de inflação é de 2% ao ano. Discute-se: talvez uma meta informal de 3% esteja de bom tamanho para as circunstâncias.

    Quer dizer que o presidente Lula está atualizado com o panorama mundial quando esculhamba o BC, a meta de inflação e os juros de 13,75% ao ano?

    Não, não está.

    Há uma diferença entre esculachar, sem apresentar soluções amplas de política econômica, e discutir em ambiente democrático e civilizado. Se tomado este último caminho, encontram-se fatos surpreendentes para muita gente aqui no Brasil.

    Por exemplo: no debate internacional, o BC do Brasil (BCB) aparece como tendo um dos melhores desempenhos. Os acertos citados: percebeu antes dos outros que a inflação de 2021 não era transitória; em consequência, começou a elevar juros antes dos outros; e, finalmente, conseguiu resultados expressivos.

    O BCB começou a subir a taxa básica de juros (a Selic) em março de 2021, quando a inflação mensal se aproximou de 1%. Foi um ano difícil: a Selic subiu de 2% para 9,25% em dezembro, enquanto a inflação permanecia elevada mês a mês, chegando a um pico de mais de 12% em 12 meses. Terminou em 10,06%, bem acima do teto da meta.

    Em 2022, o BCB continuou puxando a Selic, alcançando 13,75% em agosto. A inflação finalmente cedeu. É verdade que preços-chaves – combustíveis, energia – foram derrubados via redução de impostos. De todo modo, ela fechou o ano em 5,79%, um pouco acima do teto da meta (5,0%)

    Nota The Economist: a alta da Selic “derrubou a inflação de 12% para 5,8%, a maior queda entre os emergentes”. Todos continuam subindo seus juros e ainda com inflação elevada. No Chile e na Colômbia, ela é mais do que o dobro da brasileira.

    Mais importante para o Brasil: em meados de 2022, ficou claro que a trajetória da inflação era descendente. Os agentes econômicos esperavam queda contínua para 2023 e 2024, conforme expresso no Boletim Focus, um relatório que resume as opiniões do mercado, de fora do BC. Tanto que essas mesmas expectativas sugeriam o início da redução da Selic para meados deste ano. Por esses dados, o BCB acertaria a meta de inflação ao longo de 2024, isso indicando uma estratégia de médio prazo. Como outros BCs estão fazendo.

    O cenário brasileiro parecia estar nos trilhos até que o governo Jair Bolsonaro detonou os gastos para tentar ganhar a eleição. Apareceu o risco de desajuste das contas públicas, piorando as expectativas, como notaram os relatórios do BCB. A coisa desandou na formação do governo Lula, com a aprovação da PEC que consagrou o aumento de gastos para 2023 – prevendo déficit de mais de R$ 200 bilhões – e derrubou o teto de gastos sem colocar nada no lugar. Terminou de piorar quando Lula iniciou a guerra contra “esse cidadão” do BC e o regime de metas, a favor de uma inflação mais alta.

    Todas as expectativas pioraram. Esperam-se agora mais inflação e mais juros para este ano e para o próximo. A Selic ficando mais tempo em 13,75%. Claramente, Lula conseguiu piorar as coisas. Já estava em curso aqui e lá fora o debate sobre a flexibilização das metas, como defendiam muitos economistas da academia e do mercado. Mas não desse jeito truculento e, sobretudo, sem uma regra que limite o crescimento da despesa e da dívida públicas. A regra é uma promessa. O aumento de gastos já está aí.

  6. O aviso da fatura…

    PARLAMENTO CLAMA POR SEU PAPEL, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Passados os traumas do fim do orçamento secreto e do 8 de Janeiro, um em seguida ao outro, e uma eleição para o comando das Mesas das duas Casas Legislativas em que todos jogaram na retranca, o Congresso começa a se recompor para ser ouvido e contemplado em troca de assegurar a Lula a governabilidade que, na ponta do lápis, ele ainda não tem.

    Tanto Arthur Lira quanto Rodrigo Pacheco, uma vez reeleitos, começaram a emitir de forma mais clara os sinais de como enxergam a, até aqui, não muito bem explicitada plataforma de governo do presidente e até que ponto estão dispostos a colaborar para sua implementação.

    Não se sabe se os dois combinaram, mas os presidentes da Câmara e do Senado falaram no mesmo tom na crise que opôs Lula e o Banco Central: em favor da manutenção da autonomia da instituição, aprovada no Legislativo em 2021, e contra arroubos pela queda dos juros na marra, embora fazendo coro à preocupação do presidente com as taxas altas que seguram o crescimento da economia.

    Agora que Fernando Haddad anunciou, de forma positiva, a antecipação da apresentação do novo marco fiscal para março, Lira tratou de lembrar a ele que será preciso bater à sua porta para essa negociação andar a contento.

    Quando o político alagoano, recém-saído do bolsonarismo, fala que o texto do novo arcabouço fiscal não pode ser “radical nem para um lado nem para o outro”, não é ingenuidade que essa frase faça pouco ou nenhum sentido técnico em matéria fiscal. Porque não é disso que Lira está falando, ao menos não apenas.

    Sim, o recado é que os partidos do Centrão não toparão mais dar polpudos cheques para Lula gastar indefinidamente. Não sem contrapartidas. Mas o sentido mais amplo de sua fala é que o governo precisa ser mais ativo ao procurar os partidos que eram base de Bolsonaro se quiser aprovar medidas que necessitam de mudanças na Constituição, como é o caso do tão importante substituto do teto de gastos.

    O Republicanos já está na pista, dando todos os sinais de que deseja colaborar com Lula. O PP de Lira está ali na troca da pele, com alguns senadores e deputados, o presidente da Câmara entre eles, se esmerando em fazer a esfoliação para acelerar o processo de muda.

    Restarão como oposição raiz o PL, já que Valdemar Costa Neto resolveu manter os Bolsonaros como chamarizes, apesar do alto custo de manutenção que Jair e companhia trazem e dos riscos judiciais incluídos, e o Novo, partido onde Romeu Zema planeja acomodar a direita que pretenda se dissociar de Bolsonaro sem precisar abrir mão de bandeiras ditas conservadoras, algumas das quais francamente reacionárias.

    Para isso, o governador de Minas e presidenciável em 2026 pretende atrair governadores, prefeitos, senadores e deputados, fazendo a prospecção no próprio PL e entre aqueles do União Brasil e do Podemos que estejam insatisfeitos com o flerte com Lula.

    Lula sabe que o momento de fazer cálculos da coalizão de que dispõe chegou. O anúncio do reajuste do salário mínimo e do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, feito nesta quinta-feira em entrevista à CNN Brasil, é parte da preocupação dele em sair da agenda de confronto inócuo e começar a colocar as promessas de campanha para andar.

    Mas as duas medidas acabam reforçando a sensação de que o governo, até aqui, só pensa em gastar, e não em mostrar quais são seus “fundamentos” fiscais, para tomar emprestado a palavra que Fernando Haddad disse ser a chave. Até aqui, esses fundamentos não estão claros.

    Começarão a ficar quando o tal marco for tornado público. Lira já se colocou na posição de quem pode ser tanto o avalista quanto o obstáculo para o andamento da proposta. Quer ser chamado para a mesa de negociação.

  7. A AMEAÇA DE BOLSONARO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Jair Bolsonaro disse ao Wall Street Journal que voltará ao Brasil para liderar a oposição. Se não quiser perpetuar a dialética infernal que recolocou no Planalto o lulopetismo – responsável pelos maiores escândalos de corrupção e a pior recessão da Nova República – nem a espiral de degradação que desembocou no 8 de Janeiro – o maior atentado à democracia desde a ditadura –, a direita, seja a liberal, seja a conservadora, deve fugir desse “líder” que nega todos os seus valores mais caros.

    A direita civilizada deve se opor tão energicamente a Bolsonaro quanto a Lula. Em certo sentido, até mais. Seu enfrentamento ao lulopetismo é um combate corpo a corpo. Até as derrotas podem ser revigorantes, se servirem para reconduzi-la às fontes de sua potência e de seu dinamismo. Como disse Winston Churchill, “o sucesso não é final; o fracasso não é fatal; é a coragem de continuar que conta”. A luta com o bolsonarismo é de outra natureza. Não tanto contra um adversário em pé de igualdade, mas contra um patógeno, um parasita que suga suas energias a ponto da putrefação.

    Bolsonaro não é conservador nem liberal, só reacionário e autoritário. O liberalismo crê na potência do livre-arbítrio e sua contrapartida, a responsabilidade individual. Daí a ênfase nas liberdades fundamentais, na igualdade ante a lei, na meritocracia, no livre mercado. O conservadorismo reverencia a sacralidade da família e a experiência acumulada pela sociedade nas tradições e materializada nas instituições. Ambos desconfiam da húbris humana. Por isso, creem no progresso rumo a uma sociedade mais justa e próspera por meio da distribuição, não da concentração do poder; do debate, não da imposição de ideias; da reforma, não da ruptura das instituições.

    Não é liberal quem faz carreira insultando minorias; acumulando privilégios para sua família e clientela política; opondo-se a reformas e defendendo o intervencionismo estatal. Não é conservador quem desdenha tão orgulhosamente do princípio moral e religioso do amor ao próximo, especialmente lá onde ele é mais testado e necessário: na compaixão pelos desvalidos, os vulneráveis, os marginalizados e mesmo, sim, os marginais. Não é nem liberal nem conservador quem promove o culto à própria personalidade; quem vê a luta política não como um embate entre adversários, mas como a aniquilação de inimigos; quem violenta a separação dos Poderes e busca submetê-los ao seu tacão.

    A direita, se quiser manter seu vigor e promover seus valores, deve combater esse corpo estranho. Mas não com seus mesmos meios. O bolsonarismo deve ser desmoralizado sem violência.

    Não será fácil. Primeiro, porque liberais e conservadores precisam expiar seus próprios pecados, a começar pela complacência com as desigualdades sociais, e recobrar a convicção em seus ideais e sua capacidade de articulação. Mas também porque a facção da esquerda no poder fará de tudo para oxigenar esse parasita que corrói a direita e no qual os esquerdistas encontraram sua nêmesis ideal. Lula tem feito tudo menos cumprir suas promessas de conciliação e está redobrando a aposta no ressentimento, colando em toda oposição os rótulos de “elitista”, “fascista”, “golpista”, “genocida”, “terrorista”. Essa esquerda também deve ser desmoralizada. Mas não com seus mesmos meios.

    Conservadores e liberais não devem buscar desmoralizar os eleitores de Lula ou Bolsonaro, mas ouvi-los, humildemente questioná-los, influenciá-los e, enfim, representá-los. Aos primeiros, precisam provar que antes que antagonizar seus ideais mais preciosos, a igualdade e a inclusão, só desconfiam dos instrumentos da esquerda e oferecem outros mais eficazes. Já as ansiedades dos eleitores de Bolsonaro – ante o crime, ante as intromissões estatais, ante as coerções das militâncias identitárias, ante a corrupção do “sistema” político – podem ser passíveis de distorções, mas exprimem, no fundo, um anseio pela lei e a ordem e pela preservação de valores universais. O desafio é mostrar que Bolsonaro, antes que liderá-los rumo à satisfação desses desejos, só os afastará dela, como os afastou, ainda mais.

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