Terça-feira. Câmara lotada. Raro. Somaram-se os convidados das homenagens feitas pelo Legislativo sempre na última sessão do mês, a parte dos servidores que estavam fungando no cangote dos vereadores por mais um privilégio que a Câmara legalizaria no voto naquela sessão. Raro também, mas lá estava o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, autor do Projeto de Lei 88/2023. Este PL que voou ao Executivo para se tornar lei, reduz a carga horária dos psicólogos que se empregam na prefeitura de Gaspar como efetivos ou nos ditos empregos públicos.
Das 40 horas semanais que trabalhavam agora, com a nova Lei vão trabalhar apenas 30 horas semanais, sem que seus vencimentos sejam reduzidos proporcionalmente. E isso virou moda na prefeitura de Gaspar com ampla anuência da Câmara, o silêncio da sociedade e das ditas entidades representativas.
Resumindo: os psicólogos vão trabalhar menos, vão ganhar o mesmo que estão ganhando.
De verdade? No fundo se trata de um aumento real de salários que os demais servidores não ganharam e não ganharão. Mais do que isso e acredite se quiserem? Tanto os profissionais, quanto os que patrocinaram tudo isso prometem, incrivelmente – e teve vereador atrás de aplausos fáceis que destacou esse tipo de bobagem no discurso -, com menos horas de trabalho vão produzir mais, com mais qualidade e devido a isso, ter mais produtividade e talvez zerar a fila de mais de 500 pacientes que estão esperando consultas de psicólogos nos vários ambientes públicos de Gaspar, mas principalmente na secretaria da Saúde.
Estavam lá na Câmara, também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Gaspar, Jefferson Debus, no papel dele, mas também o secretário de Saúde, onde está a maioria dos beneficiados desta redução de hora e aumento real de salário, Santiago Martim Navia, MDB, coincidentemente, candidato a vereador.
O único que votou contra e explicou o porquê disso, foi Alexsandro Burnier, PL. E foi aplaudido. Não exatamente pelos beneficiários do privilégio, que rangeram os dentes com a sua coragem e clareza, mas por quem estava lá para ser homenageado naquela sessão e que sabe, muito bem, que no fundo são eles quem pagam, com os seus pesados impostos, mais esta conta criada pelos políticos e os gestores políticos passageiros no poder de plantão diante de tantas carências e prioridades que o governo de Kleber e Marcelo não conseguiu superar em mais de sete anos para a cidade.
VIROU MODA. VEM MAIS REDUÇÃO DE JORNADA SEM A RESPECTIVA REDUÇÃO SALARIAL EM ANO DE ELEIÇÕES
E vem mais. Depois dos assistentes sociais, que abriram a porteira no final do ano passado – e aí há uma determinação de lei federal para isso, e só quanto a carga horária, de 30 horas e não para se manter o salário das 40 horas semanais que se manteve por aqui-, está no forno, e já rodando na Câmara de Vereadores, o PL 100/2023, dos pedagogos lotados na secretaria da Assistência Social. Este PL já tem como relator, André Pasqual Waltrick, PP, da Bancada do Amém e também – como foi no caso dos psicólogos – não se trata de nenhuma adequação a uma lei federal. No caso dos psicólogos, por exemplo, a matéria que trata que regulamenta a carga horária, está parada no Senado desde 2017. A mãe Gaspar resolveu o problema deles por aqui…
Abriu-se a porteira. E em fim de mandato, de governo fraco. E em ano eleitoral, com um agravante de que isso juridicamente poderá provocar uma enxurrada de pedidos de isonomia – igualdade de tratamento dos servidores por semelhança de cargo e função – na Justiça. E no processo feito neste caso de terça-feira, nenhuma consulta foi feita, por exemplo, ao Tribunal de Contas do Estado.
A busca da isonomia dos outros funcionários em funções assemelhadas foi o que moveu à Câmara Vereadores de Gaspar, por exemplo, há anos passados.
Os primeiros assessores tinham a obrigação de cumprirem 40 horas por semana. Um dia fizeram um concurso para 30 horas semanais. Na hora do vamos ver, todos foram para 30 horas com salários de 40. Ingenuidade? Poucos acreditam. Só se admitir que a assessoria da Câmara que apontou esta discrepância e tinha na ponta do lápis como resolver a lambança jurídica quando fez o concurso embaralhando as horas e remunerações, é falha.
Aliás, um parêntesis; como sempre apontei aqui, a Câmara de Gaspar está num processo lento – para não provocar comoção ao distinto público – mas gradual de inchamento. Há poucos anos eram 20 entre vereadores e assessores. Hoje são 60, sendo que de vereadores, apenas saiu de onze para 13. Sexta-feira que vem abre o concurso para agente de comunicação, agente de informática (as duas áreas que não funcionam por lá) e assistente administrativo.
Voltando ao caso de terça-feira passada.
UM LEGADO DE ERRÁTICO DE GOVERNO
Kleber e Marcelo estão deixando um legado de dívidas para os sucessores e que no caso de Marcelo, poderá ser ele mesmo que terá que administrá-lo. Para a população, o legado de ambos, por enquanto, é frustações na falta de resultados, cobranças de taxas nos cemitérios, paizão para os servidores e o crescimento do capim. E mais do que isso pelo que se viu terça-feira na Câmara: uma armadilha. Basta o Sindicato que tudo assiste e os servidores pedirem à revisão dos seus salários e cargas horárias à Justiça. Vão resolver o problema deles, criado pelos políticos e gestores públicos passageiros, comprometendo ainda mais os cofres vazios da prefeitura de Gaspar.
A relatora desta matéria foi Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, uma servidora de carreira, e com ela votaram todos os vereadores do seu partido, do PP, PSD, PDT e PSDB, que são os onze da Bancada do Amém, de uma Câmara de 13. Se uniu a eles desta vez, Dionísio Luiz Bertoldi, PT. Este, aliás, é o DNA do PT e da esquerda do atraso: inchar a máquina pública e dar vantagens aos funcionários públicos.
O que é certo? Quando os psicólogos que reclamam agora que trabalham muito e ganham pouco se candidataram no concurso – por livre vontade deles próprios – ou na contratação deles, sabiam a carga horária que teriam que cumprir e o salário que iriam ganhar. Então, fizeram uma escolha consciente. Empregados, usaram a Câmara para “consertar” algo só para uma categoria e não para todos os trabalhadores públicos municipais.
Qual a solução se há filas represadas no atendimento para pacientes em psicologia? Além de verificar a razão disso, contratar mais profissionais. A prefeitura de Gaspar de Kleber e Marcelo não fez isso.
E se os vencimentos desses profissionais estão defasados em relação aos municípios vizinhos, comprometendo à atratividade deles para Gaspar, e não se provou isso na matéria que se discutiu? É a de aumentá-los, equiparando-os. A prefeitura de Gaspar de Kleber e Marcelo não fez isso.
Ela preferiu diminuir a carga horária, aumentar indiretamente os vencimentos quando não os diminuiu proporcionalmente à nova carga, e mais tarde, apostem, quando se vê que todas as falácias dos discursos feitos na terça-feira se concretizarem, a prefeitura vai contratar mais psicólogos na nova carga horária diminuída e até aumentar os seus salários.
É sempre assim. Foi no passado. É no presente. E será no futuro. Os vestidos a pré-candidatos prefeitos os líderes empresariais que vestem candidatos, ou até mesmo as entidades empresariais, caladinhas. Perguntar não ofende: os empresários que levaram Kleber, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, e Marcelo ao poder, e agora se ensaiam em novo escolhido, estão reduzindo a carga de trabalho de seus empregados, sem reduzir seus respectivos salários proporcionalmente? Diante de filas de clientes não atendidos em produtos e serviços, ficariam inertes? Se fizessem isto estariam falidos. Simples assim! Por que no ambiente público tem que ser diferente? Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
O partido Novo, em Gaspar, não deve ter candidatura solo, como queria e planejava. Ednei de Souza, nega isso, como qualquer um quando contatado para comentar este tipo de assunto. Mas já está no projeto do PL com o União Brasil. Sabe que não tem fôlego para is adiante.
Registro. Na sessão de terça-feira da Câmara de Gaspar, o sanitário dela quase vira um ringue. Nele estava um vereador questionando um eleitor gasparense que o contrariou nas redes sociais. A liberdade de expressão sendo cerceada por um político no melhor lugar mais adequado possível.
A Câmara de Gaspar vai ficar onde ela está, improvisada e pagando caro aluguel e condomínio. Em 2007 – ou seja, há 18 anos – A Cãmara ganhou um terreno de pouco mais de três mil metros quadrados do município – a pedido e pressão dos vereadores do MDB da época às turras com o prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, eleito pelo mesmo MDB – para a construção da sua sede própria.
Agora, oficialmente, como mostra a foto festiva acima, com ares de campanha eleitoral, este terreno no bairro Sete de Setembro é do governo do estado. Nele vai se construir o novo quartel da Polícia Militar. O atual, quase vizinho, alega-se, não possui mais tamanho e instalações adequados. Se isso sairá do papelinho, ninguém sabe. O prazo é 2027 e se sair, será uma lição sem igual aos vereadores e políticos de Gaspar. No Orçamento estadual, porém, esta nova edificação para a PM nada consta. Se não ficar em cima disso, será apenas mais uma foto, onde casualmente não está o relator original da matéria e hoje presidente da Câmara, José Hilário Melato, PP.
O que não se entende, é que não tendo mais terreno para se construir nele uma sede própria, qual a razão do Orçamento da Câmara de Gaspar ainda possui esta rubrica para a construção do prédio? E o único que tentou construir a sede física da Câmara naquele local, o ex-presidente dela e hoje suplente, Silvio Cleffi, PP, foi boicotado por seus pares, incluindo o atual, José Hilário Melato, PP, que estava presidente do Samae.
A nova sede da Câmara está prometida para aquele terreno caro, fantasma e cheio de capim que a prefeitura comprou da Furb há dois anos por R$14 milhões, praticamente a vista. Nem projeto, nem um pio sobre a alegação que se deu na Câmara para aprovar a compra dele, que engole tudo, como engoliu a compra da antiga agência do BESC, comprada por Kleber Edson Wan Dall, MDB e Luiz Carlos Spengler Filho, PP, e que foi à leilão recentemente para a prefeitura continuar nos múltiplas e caros alugueis, outra moeda de troca de barganhas eleitorais.
Blitz I – Agora foi a vez o Tribunal de Contas do Estado obrigar os municípios a vacinarem as crianças em idade escolar contra a Covid-19, cumprindo o calendário vacinal do Ministério da Saúde. Acabou com a farra dos discursos dos políticos oportunistas em ano eleitoral. Kleber Edson Wan Dall, MDB, ainda não explicou como e quem deixou vencer os testes para a Covid em Gaspar na rede pública sob seu controle.
Blitz II – O mesmo fingimento está em cortina de fumaça que criou com mais um factoide para que a cidade não olhe para as carências simples e óbvias que o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, PP, não consegui dar resolução. Na Câmara de Gaspar continua a tramitar Projeto de Lei o Projeto de Lei 04/2024 de Kleber. Ele desobriga pais de alunos à vacinação. Nem Kleber pediu de volta o PL, nem a Câmara devolveu o PL. Um esculacho. O relator da matéria, claramente morta e inconstitucional, é Alexsandro Burnier, PL.
Inominável I – O abismo na educação de Gaspar é assustador. Há anos escrevo sobre isto. E prego no deserto, eu um egresso de escola pública de qualidade. Não me refiro à crônica falta de professores, assistentes nas salas de aulas por anos afio. Não me refiro às goteiras, salas improvisadas e política partidária na gestão escolar.
Inominável II – tenho escrito, e sido praguejado por isso, sobre como os nossos políticos e gestores públicos, quase todos jovens, fato que por si só piora de tudo, mascaram situações presentes e comprometem o futuro de milhares de crianças gasparenses, como se estes políticos não conseguissem agradecer ao que receberam de outras gerações para estar onde estão, mesmo revelando consciências mal formadas.
Inominável III – A esperteza desses politicos em algo tão sensível e essencial, com a “ajuda” pela ausência do Ministério Público, transformou a creche em Gaspar em meio período apenas para conter, e não acabar com as filas de filhos de trabalhadores e trabalhadoras de baixa renda – ainda obrigados a trabalharem em período integral, enquanto os filhos desses mesmos politicos, usufruíam período integral.
Inominável IV – O Ideb – Índice de Desenvolvimento da Escola Básica – antes da pandemia caiu em Gaspar e a sua secretária conseguiu se eleger vereadora. No mesmo ambiente de desastres educacionais e pedagógicos, que fazem dos políticos vencedores e não seus estudantes, a escola em turno integral e contraturno não chegaram e se resiste à esta ideia elementar, que não é apenas de educação, mas de inclusão, assistência social e até alimentar.
Inominável V – Quando eu toco neste assunto, gente caolha com gente esclarecida se reúne não para resolver o problema que lida com o futuro das crianças, mas para encontrar caminhos para me punir. Incrível. OIha só o que o que o “Jornal Hoje”, da tevê Globo mostrou esta semana. Lavou a minha alma, mostrando cases e ouvindo educadores em algo tão óbvio quanto a terra ser redonda. Estou de alma lavada, outra vez.
Inominável VI – Sem essa de achar que a Globo é lixo. O verdadeiro lixo está entre os políticos e gestores públicos daqui que usam a educação como uma muleta quebrada para seus discursos que leva as nossas crianças matriculadas na rede pública municipal ao abismo da falta de competitividade, agravada, diante da escassez de oportunidades que esperam as nossas crianças e jovens mal formados. E qual é a prova disso? A lição não aprendida e a ocupação da secretaria por esquemas políticos partidários e curiosos.
Inominável VII – É inominável o que se faz por aqui. É inominável o silêncio da sociedade, que está desorganizada e contra o seu próprio futuro. Veja esta reportagem e conclua você mesmo qual é pela qual os atuais políticos gestores da cidade, bem como os que querem se instalar no poder de plantão, a exceção de Oberdan Barini, Republicanos, filho de professora, estarem mudos sobre este assunto.
Apenas 27% das crianças mais pobres têm acesso à educação nos primeiros anos de vida
Ontem houve uma chuvarada. Normal. O que não foi normal foi o alagamento na Rua Barão do Rio Branco. O que é isto? Falta de manutenção. Empresa contratada para isso há. Tente ter um bom final de semana diante de tanto deboche. Acorda, Gaspar!
13 comentários em “PT, BANCADA DO AMÉM, KLEBER E MARCELO CRIAM E APROVAM PRIVILÉGIOS EM ANO ELEITORAL. DIMINUEM A CARGA HORÁRIA DOS PSICÓLOGOS, MAS NÃO PROPORCIONALMENTE OS VENCIMENTOS DELES PAGOS PELOS IMPOSTOS DO POVO”
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17 MINISTROS DE LULA ACUMULAM SALÁRIOS EM CONSELHO: MAIORIA DO PT, por Lucas Borges Teixeira, do UOL, em Brasília
Quase metade dos 38 ministros do governo Lula (PT) ocupam cargos em conselhos de empresas e fundações e acumulam salários. A maioria deles é filiada ou ligada ao PT.
O QUE ACONTECEU
Pelo menos 17 ministros (45% do total) têm funções em conselhos administrativos ou fiscais de empresas e fundações privadas e públicas. As indicações geralmente são das próprias pastas que comandam ou do governo federal. O levantamento foi feito até o final de fevereiro por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação)
Dos 17 nomes, 12 são filiados ou têm ligação direta com o Partido dos Trabalhadores. Outros três indicados compõem a base e apenas dois são do chamado centrão
Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) indicou que as indicações respeitam a legislação vigente. A remuneração extra pode chegar a R$ 36 mil.
MAIORIA PETISTA
Os ministros ocupam cargos em conselhos de entidades públicas, mistas e privadas. As atividades geralmente envolvem reuniões mensais, com carga horária variada
Só três dos indicados são de outro partido que não o PT: Alexandre Silveira (PSD), de Minas e Energia; Carlos Lupi (PDT), da Previdência Social; e Juscelino Filho (União Brasil), das Comunicações. Em entrevista, Anielle Franco (Igualdade Racial) sinalizou que vai se filiar ao PT para concorrer como vice à Prefeitura do Rio na chapa de Eduardo Paes (PSD).
Ministro acumulador de conselhos. Vinicius Carvalho, da CGU (Controladoria-Geral da União), ex-filiado ao PT, participa de dois conselhos. Lupi e Esther Dweck (PT), de Gestão e Inovação, também chegaram a acumular duas funções, mas deixaram o conselho fiscal do Sesc no ano passado
VEJA A RELAÇÃO
Alexandre Padilha (PT), Secretaria de Relações Institucionais: Conselho Fiscal do Sesc
Alexandre Silveira (PSD), Minas e Energia: Conselho de Administração da Itaipu Binacional
Anielle Franco, Igualdade Racial: Conselho de Administração Tupy S.A.
Camilo Santana (PT), Educação: Conselho Fiscal do Senac
Carlos Lupi (PDT), Previdência Social: Conselho de Administração Tupy S.A.
Esther Dweck (PT), Gestão e Inovação: Conselho de Administração Itaipu Binacional
Fernando Haddad (PT), Fazenda: Conselho de Administração Itaipu Binacional
Jorge Messias, AGU: Conselho de Administração Brasilprev Seguros e Previdência S.A.
José Múcio, Defesa: Conselho de Administração Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro – CEG
Juscelino Filho (União Brasil), Comunicações: Conselho Deliberativo da Sistel
Luiz Marinho (PT), Trabalho e Emprego: Conselho Fiscal do Sesc
Márcio Macêdo (PT ), Secretaria-Geral: Conselho Fiscal do Senac
Mauro Vieira, Relações Exteriores: Conselho de Administração Itaipu Binacional
Paulo Pimenta (PT), Secom: Conselho Fiscal do Senac
Rui Costa (PT), Casa Civil: Conselho de Administração Itaipu Binacional
Silvio Almeida, Direitos Humanos e Cidadania: Conselho de Administração da Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro – CEG
Vinícius Carvalho, CGU: Conselho Fiscal da Brasilcap Capitalização S.A. e Conselho de Administração da Tupy S.A.
Ex-ministro da Justiça, Flávio Dino (então PSB) também integrava o conselho fiscal do Senac. Com sua indicação ao STF, ele foi substituído em dezembro por Márcio Macêdo
PARTICIPAÇÃO EM CONSELHOS É PRAXE
A participação de ministros em conselhos é prática comum adotada pelos governos desde a ditadura militar. Instituições mistas, como Itaipu e Sesc, geralmente têm o titular da pasta à qual estão ligadas como representante do governo
As indicações são usadas geralmente para garantir posições do governo junto a instituições-chave, além de ter um ganho extra para os ministros. Em Itaipu, por exemplo, dos sete conselheiros do lado brasileiro, cinco são ministros de Estado e uma é a ex-tesoureira do PT Gleide Oliveira. A empresa atualmente é copresidida pelo deputado federal Enio Verri (PT-PR)
A Secom preferiu não comentar sobre a maioria dos indicados estar ligada ao partido do presidente. Ao UOL a secretaria apenas reforçou que “requisitos e vedações” para indicação de conselheiros estão previstos na Lei das Estatais e no Decreto nº 8.945, de 2016, assinado por Michel Temer (MDB), que trata de empresas públicas e de capital misto.
O Ministério da Saúde, de Nísia Trindade, foi o único a não responder. Por LAI, o pedido foi prorrogado e, depois, ignorado. A reportagem também não teve resposta por email. Não foi encontrado, contudo, registro da participação da ministra em conselhos
PAGAMENTOS CHEGAM A R$ 36 MIL
Os pagamentos e atividades variam de empresa para empresa. Na consulta pela LAI, só os ministérios da Defesa e dos Direitos Humanos responderam detalhadamente sobre ganhos e afazeres dos ministros. O resto indicou a consulta aos regimentos internos e estatutos sociais das companhias.
Na CEG, a remuneração de Almeida e Múcio é de R$ 19.461,21 por mês. “O ministro se envolve nas discussões acerca das decisões estratégicas da empresa. Não há uma carga horária definida”, informou o Ministério dos Direitos Humanos. “O Conselho de Administração se reúne, em média, uma vez por mês e a reunião dura em torno de três horas”, completou a Defesa
A Itaipu Binacional não divulga os ganhos dos conselheiros, mas estão na casa dos R$ 34 mil segundo reportagem do final do ano passado. As reuniões são bimestrais, além das extraordinárias. “Entre as competências, estão as decisões sobre o regimento interno, o plano de organização dos serviços básicos, os atos que importem em alienação patrimonial, as reavaliações de ativo e passivo, as bases de prestação dos serviços de eletricidade; a proposta de orçamento para cada exercício e suas revisões”, informou a companhia. Além disso, a presença dos ministros marca uma posição estratégia nas negociações sobre revisão da tarifa junto ao lado paraguaio
No Sesc e no Senac, os membros do conselho fiscal, chamados jetons, ganham por reunião R$ 4.770. Em ambas as instituições, não há um número fixo de reuniões, mas são limitadas a seis por mês, com convocações extraordinárias e encontros em diferentes locais do país. “O conselho acompanha, examina e emite pareceres a respeito da previsão e prestação de contas das administrações nacional e regionais”, informou o Sesc.
Ao UOL a Tupy também indicou que as informações estão presentes no estatuto da companhia. As reuniões são mensais, com salário de R$ 36 mil por mês
Na Sistel, as reuniões são bimestrais. Procurada, a empresa não forneceu os valores repassados aos conselheiros por “tratar-se de dado pessoal protegido pela Lei Geral de Proteção de Dados”.
O UOL não teve resposta nem acesso às cargas horárias e remuneração dos conselhos da BrasilPrev e da BrasilCap, ambas ligadas ao Banco do Brasil
DE ADOLF HITLER@REICH PARA LULA@GOV, por Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo
Prezado senhor,
Escrevo-lhe porque vi que depois de se meter numa briga com os judeus, o senhor se explicou dizendo que nunca falou no Holocausto. Indo-se à literalidade de suas falas, a razão está consigo. Recapitulo:
Em Adis Abeba o senhor disse o seguinte:
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.”
Dias depois, ao se explicar, o senhor esclareceu:
“Não tentem interpretar a entrevista que eu dei. Leiam a entrevista e parem de me julgar a partir da fala do primeiro-ministro de Israel. (…) Primeiro que não disse a palavra Holocausto. Holocausto foi interpretação do primeiro-ministro de Israel. Não foi minha. A segunda coisa é a seguinte, morte é morte.”
Senhor presidente, desse jeito, tudo se resumiu a cinco palavras: “Hitler resolveu matar os judeus.” O senhor realmente acha que eu resolvi matar os judeus e disso resultou uma máquina que exterminou seis milhões de pessoas?
Mataram-se judeus antes e depois de Hitler, mas só durante meu governo houve o que hoje se chama de Holocausto. Não há um sem o outro.
Durante todo o tempo que governei o Reich persegui os judeus e tudo o que lhes aconteceu teve o meu estímulo e aprovação, mas lhe escrevo para esclarecer que nada do que aconteceu deveu-se apenas ao Hitler.
De novo, recapitulo, atendo-me ao período posterior à chegada dos europeus à terra que o senhor governa.
Na Páscoa de 1506, dois mil judeus foram massacrados em Lisboa. Em 1647 foi queimado vivo, no Terreiro do Paço, Isaac de Castro, que havia vivido em Pernambuco e na Bahia. Em 1739 foi a vez de António José da Silva Coutinho, um judeu que nasceu no Rio e escrevia coisas para o teatro.
Aqui onde estou, convivo com vários Papas, mas eles pedem que não os mencione. Eu tinha 5 anos de idade quando Edgar Degas, esse grande pintor francês, expulsou uma jovem do seu atelier ao suspeitar que ela fosse judia. No início do século XX, quando comecei a denunciar os judeus, não estava sozinho. O imperador da Alemanha, Guilherme II, vivia no exílio e dizia que, para aqueles “parasitas” (…) “acredito que o melhor tratamento seria o gás”.
Eu, Adolf Hitler, nunca estive sozinho. Acho que os judeus devem ser expulsos da Palestina e, novamente, não estou sozinho. A guerra de Gaza prova isso.
Quando o senhor diz que resolvi matá-los, exagera. Transformar-me em bode expiatório é fácil, mas inútil. Veja o caso desse Adolf Eichmann. Ele deportou centenas de milhares da judeus para os campos de extermínio. Depois que os judeus o capturaram na Argentina, disse que não era antissemita, mas cumpria ordens minhas.
É verdade que cumpria ordens, mas veja a lista de presença na reunião que estruturou a burocracia da Solução Final, ordenada por mim. Ela se deu em Berlim, em 1942, com 15 participantes, inclusive ele. (Eu tinha mais o que fazer.)
Terminada a guerra, vim para cá e começou o despejo das responsabilidades para cima de mim. Dos 15, dois já tinham morrido, um matou-se, três foram executados e outros dois sumiram. Restaram sete. Todos pegaram penas leves. Um deles, depois de cumprir a pena, conseguiu um emprego público. Voltou a ser julgado e, em 1951, foi condenado a pagar uma multa de uns cem dólares em dinheiro de hoje.
Boa sorte e Heil Hitler!
Adolfo
MAGNOLI DISSE TUDO
Demétrio Magnoli disse tudo sobre Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel:
“Seu governo, uma coalizão do Likud com supremacistas de extrema direita, foi golpeado pelas manifestações populares que bloquearam a reforma judicial autoritária. Depois, no 7/10, foi ferido mortalmente pelos bárbaros atentados do Hamas que destruíram o edifício da ‘segurança sem paz’ erguido desde 2009.
De lá para cá, a guerra sem fim transformou-se na sua boia de salvação — e, por isso, desafiando os EUA, Netanyahu anuncia a expansão da invasão militar na área de Rafah.”
OS RICOS COITADOS
Antes que se completasse uma semana da tarde em que Jair Bolsonaro classificou como “pobres coitados” os presos pelo vandalismo do 8 de Janeiro, a Polícia Federal prendeu dois empresários. Joveci Andrade e Adauto de Mesquita são sócios na empresa Melhor Atacadista. Eles caíram na roda durante os trabalhos da CPI. Chamados a depor, negaram tudo, mas a quebra dos sigilos mostrou que uma de suas empresas pagou à representante do trio elétrico que se instalou diante do QG do Exército.
Na fila de ricos coitados há mais gente.
A LEI DE MURPHY NÃO FALHA
Se uma coisa pode dar errado, errado dará. Não deu outra, a Proposta de Emenda à Constituição que acaba com a reeleição de presidentes, governadores e prefeitos carrega um jabuti que estende os mandatos de todo mundo.
Em nome de uma coincidência dos mandatos, o relator da PEC, senador Marcelo Castro, propõe que presidente e os deputados fiquem com cinco anos e os senadores, com dez.
Os presidentes sempre tiveram mandatos de quatro anos. Só um, João Figueiredo, foi premiado com seis anos. O resultado foi desastroso.
Com um jabuti desses, fica mais fácil aprovar até a volta da monarquia.
A VOLTA DO IMPOSTO SINDICAL
Com mão de gato, arma-se a volta do imposto sindical, embutindo-a num projeto que regula o trabalho aos domingos e feriados.
O imposto sindical foi criado por Getúlio Vargas durante o Estado Novo e custava aos trabalhadores o equivalente a um dia de trabalho por ano. Durante o governo de Michel Temer ele foi extinto. Com isso, os sindicatos perderam cerca de 90% de seus recursos e cerca de seis milhões de filiados. Desde a posse de Lula, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, batalha para recriar o tributo, mudando-lhe o nome e a metodologia da mordida. Passou a ser uma contribuição mandatória a ser paga pelos trabalhadores de uma categoria, desde que ela tenha sido aprovada numa assembleia.
O sindicato que presta bons serviços aos seus associados e negocia direito um dissídio deve ser remunerado por isso. Sindicatos de papel e pelegos devem se remunerar noutro tipo de caridade. Eis que os sindicatos foram ao Supremo Tribunal e lá decidiu-se que a cobrança de uma contribuição de todos os trabalhadores de uma categoria é constitucional, desde que seja assegurado o direito de oposição. O que é isso, o STF, não explicou. Coisa típica de um tribunal que vive uma fase de jurisprudência-roleta, a cada sessão sai um número. Segundo o professor José Pastore, “o STF escolheu o caminho da confusão.”
Toda essa encrenca surgiu quando Vargas decidiu que uma categoria só poderia ter um sindicato no município, criando monopólios, tanto no sindicalismo dos trabalhadores quanto nos patronais. Os patrões livraram-se parcialmente desse peso esquecendo-os e criaram associações privadas para a defesa dos seus interesses.
Pelo andar da carruagem, essa história terminará no de sempre: o sindicato da categoria serve para nada, o trabalhador não é filiado a ele e, mesmo assim, tomam-lhe algum, com desconto na folha.
PT, PEÃO DE PUTIN, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O PT tem um encontro marcado neste mês com a “democracia” russa – aquela em que Vladimir Putin, há quase 24 anos no poder, vai atrás do seu quinto mandato com a garantia absoluta de vitória, já que estão fora do páreo – presos, assassinados ou proscritos – quase todos os principais líderes de oposição.
Como mostram diversas denúncias a cada disputa, as eleições russas não são nem livres nem justas, imersas em suspeitas de fraude e falta de transparência. Também pairam as sombras produzidas pelo histórico de sufocamento de dissidentes e críticos ao governo e pela tenebrosa frequência de mortes de opositores – o último deles Alexei Navalny, que morreu na prisão onde cumpria pena. E convém lembrar ainda que diversos relatórios apontam crimes de guerra e violações gravíssimas cometidas por forças russas no conflito com a Ucrânia.
Nada disso, porém, arrefece o ânimo do partido de Lula da Silva com as eleições na Rússia, muito menos a aliança tácita entre os dois presidentes. Segundo informou a Folha, o PT acaba de ser convidado pelo partido de Putin, o Rússia Unida, para acompanhar a eleição presidencial. É a reafirmação de uma relação mais estreita do que já sugerem as erráticas intervenções públicas de Lula em favor do colega russo. Seria uma surpresa se o PT, como “observador” da eleição, denunciasse alguma das muitas e previsíveis irregularidades que qualquer um seria capaz de perceber. Na prática, portanto, o partido de Lula fará o que dele se espera, isto é, atestará a “lisura” de uma eleição fajuta.
É esse o tipo de disputa que o PT foi convidado a chancelar. Putin controla o poder na Rússia desde 2000. O grave, porém, é menos a longevidade e mais o fato de estar continuamente reescrevendo as regras do sistema político para expandir seus poderes. Para tanto, recorre não só aos seus conhecidos métodos internos para preservar o poder, mas busca também usar peões úteis para o xadrez de suas ambições internacionais. Lula da Silva é um desses peões.
Basta ver a retórica e a prática antiamericanas e terceiro-mundistas escondidas sob o manto de um multilateralismo de conveniência. Lula e o PT acabam servindo de correia de transmissão dos interesses russos e chineses contra os Estados Unidos e a Europa. Não é à toa a defesa que Lula faz de Putin e seu silêncio diante da criminosa agressão russa à Ucrânia – Lula, ao contrário, teve a pachorra de igualar os agredidos ucranianos e os agressores russos. Além disso, o chefão petista, a propósito da morte do oposicionista Navalny num gulag russo, criticou a “pressa” em condenar Putin e pediu “bom senso” – o mesmo que o PT nunca teve quando se trata de condenar os “imperialistas” ocidentais.
No ano passado, comissários petistas estiveram em Moscou a convite do partido de Putin, num encontro cuja pauta era o “neocolonialismo ocidental”. Neocolonialismo é o adorno conceitual usado por esses países para promover a versão atualizada da guerra fria: contra o imperialismo e o colonialismo norte-americano e europeu, a saída é o bloco liderado por Rússia e China. Nada mais é, porém, do que um sintoma da doença infantil do esquerdismo deste século 21.
RETROCESSO À ESPREITA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
O pragmatismo e a racionalidade têm prevalecido, até aqui, na política econômica do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A agenda do retrocesso, entretanto, está sempre à espreita.
As declarações de Lula são especialmente reveladoras a esse respeito —e sua mais recente e estapafúrdia investida contra a Vale mostra de modo assustador o primitivismo de seu ideário.
“A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil, não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então o que nós queremos é o seguinte: empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”, pontificou o líder petista, em entrevista à RedeTV.
No raciocínio tortuoso, quem parece reivindicar a condição de dono do país é o próprio Lula. Sua tese já seria ruim se dissesse respeito a uma empresa controlada pelo Tesouro Nacional. Tratando-se de empresa privada e, pior, do conjunto das empresas brasileiras, está-se diante de um disparate perigoso.
A experiência não permite tomar a afirmação como mais uma das bravatas do mandatário. Administrações petistas já fizeram pressões variadas sobre a Vale, chegando a influenciar na troca de comando da gigante mineradora.
Mais recentemente, o governo flertou abertamente com a pretensão de conduzir o ex-ministro Guido Mantega, partícipe da ruína econômica de Dilma Rousseff (PT), a um posto elevado na empresa.
Privatizada em 1997, a Vale hoje é menos permeável ao mandonismo governamental devido à pulverização de seu capital acionário. Ainda assim, opera mediante concessão em um setor fortemente regulado. Quando quer, o Estado encontra meios de intervir com mão pesada em atividades privadas.
Não se discute que o mercado deve estar submetido a regras que protejam os interesses da sociedade. Quando o governo se mete a interferir em decisões de negócios, entretanto, quase sempre sabota a eficiência empresarial e a produtividade —para nem falar da impessoalidade da gestão pública.
DELÍRIO DE GRANDEZA E CULTO DA PERSONALIDADE INVENTAM O PIBÃO DE LULA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
A economia cresceu bem em 2023. Para a propaganda oficial, foi o “PIBão do Lula”.
Os replicantes da militância disseminaram o slogan e saíram à caça mesmo de quem apenas discutia o que é preciso fazer para que o crescimento seja maior. Tentavam linchar quem recorresse a um “foi bom, mas…” na conversa. Tem de haver rendição incondicional ao grande líder.
Se a besteira não tivesse consequências práticas, seria cômica.
Um terço do crescimento de 2023 veio diretamente da agropecuária. No mundo Mad Max oligofrênico das redes sociais, a gente lia que o agro foi muito bem em 2023 porque Lula fez o “maior Plano Safra da história”. Mas o plano para a safra que inflou o PIB de 2023 fora o de 2022, no governo das trevas.
Mais crédito não resulta necessariamente em safra maior. A de 2024 será menor. Deve tirar pontos do PIB deste ano, por causa de tempo ruim. Embora o lulismo-petismo acredite que Lula faça chover e ventar, a safra não terá diminuído por causa do presidente.
O “PIBão do Lula” cresceu 2,9% em 2023. Em 2022, sob Jair Bolsonaro, cresceu 3%. Foi o “PIBão do Bozo”?
Nesses termos, a conversa é idiota. Um governante até pode anabolizar o PIB de um ano, se não exagerar na dose (pois o tiro sairia pela culatra). Mas logo efeitos colaterais aparecem. No curtíssimo prazo, um ano, influências internacionais, acasos, momento do ciclo econômico e estrutura da economia vão ter mais impacto em resultados positivos do que a ação governamental naquele momento. Boa parte do efeito duradouro de um bom governo em geral aparece depois que um presidente deixou o cargo.
Militantes e crentes também faziam troça dos erros de previsão dos economistas, a maioria ligada à finança, no caso. Até aí, tudo bem, pois o vexame foi grande. Mas o crítico, que não sabe o que é PIB, investimento ou aritmética, atribui o erro à conspiração de “o mercado” contra Lula (de quem não gostam mesmo).
Pois bem. Para o ano do “PIBão do Bozo”, crescimento de 3%, “o mercado” previa alta de 0,36%. Para o ano do “PIBão do Lula”, de crescimento de 2,9%, “o mercado” previa alta de 0,8%. Erraram mais com Bolsonaro. Conspiraram contra o “mito” deles?
O Brasil voltou a ser a “9ª economia do mundo”, com “Lula bom de serviço” (era a 11ª em 2022), comemora a propaganda. Esse ranking do PIB em dólares correntes é baseado em dados do FMI, alguns deles ainda estimativas. Note-se que, em PIB por poder de compra, o Brasil continua em 8º lugar.
É fácil perceber que a variação do PIB em dólares depende das variações de taxa de câmbio e PIB. O PIB do Brasil em reais cresceu em 2012, 2013 e 2014, mas nesses anos foi menor em dólar do que em 2011. Teria sido por culpa de “Dilmãe” Rousseff?
Quanto ao PIB per capita (corrente), uma medida de padrão de vida, o Brasil está em 82º lugar, uma pobreza triste. O ano de 2010, sob Lula 2, foi o melhor desde 1980. O Brasil ficou em 60º lugar.
Quanto a PIB, o Brasil logo deve passar a Itália (8ª, que não cresce faz décadas). A fim de ultrapassar a França (7ª) seria preciso haver uma composição de desvalorização do euro e alta relativa do PIB do Brasil de mais de 43% —está longe. E daí? Nada. Isso é conversa bananeira, “Brasil Grande”.
Desde 2011, com Dilma, com tudo, o Brasil encolhe, relativamente. O PIB per capita é apenas 14% do americano, 79% do chinês, 64% do chileno, 19% do povo das “economias avançadas”.
Mas a gente acha que o dedo de ouro de um “painho” presidente é que resolve, metendo a mão em empresas, gastando de modo ineficaz etc. A gente não discute aumento de produtividade (que eleva o padrão médio de vida) e investimento; detesta escola, ciência e educação infantil de criança pobre. A gente tem delírio de grandeza e cultua líder.
O último parágrafo é decisivo, e serve não para o PT de Gaspar, mas para o governo que quase fez nada de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP e Marcelo de Souza Brick, PP, o escolhido do grupo para sucedê-lo
DELÍRIO DE GRANDEZA E CULTO DA PERSONALIDADE INVENTAM O PIBÃO DE LULA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
A economia cresceu bem em 2023. Para a propaganda oficial, foi o “PIBão do Lula”.
Os replicantes da militância disseminaram o slogan e saíram à caça mesmo de quem apenas discutia o que é preciso fazer para que o crescimento seja maior. Tentavam linchar quem recorresse a um “foi bom, mas…” na conversa. Tem de haver rendição incondicional ao grande líder.
Se a besteira não tivesse consequências práticas, seria cômica.
Um terço do crescimento de 2023 veio diretamente da agropecuária. No mundo Mad Max oligofrênico das redes sociais, a gente lia que o agro foi muito bem em 2023 porque Lula fez o “maior Plano Safra da história”. Mas o plano para a safra que inflou o PIB de 2023 fora o de 2022, no governo das trevas.
Mais crédito não resulta necessariamente em safra maior. A de 2024 será menor. Deve tirar pontos do PIB deste ano, por causa de tempo ruim. Embora o lulismo-petismo acredite que Lula faça chover e ventar, a safra não terá diminuído por causa do presidente.
O “PIBão do Lula” cresceu 2,9% em 2023. Em 2022, sob Jair Bolsonaro, cresceu 3%. Foi o “PIBão do Bozo”?
Nesses termos, a conversa é idiota. Um governante até pode anabolizar o PIB de um ano, se não exagerar na dose (pois o tiro sairia pela culatra). Mas logo efeitos colaterais aparecem. No curtíssimo prazo, um ano, influências internacionais, acasos, momento do ciclo econômico e estrutura da economia vão ter mais impacto em resultados positivos do que a ação governamental naquele momento. Boa parte do efeito duradouro de um bom governo em geral aparece depois que um presidente deixou o cargo.
Militantes e crentes também faziam troça dos erros de previsão dos economistas, a maioria ligada à finança, no caso. Até aí, tudo bem, pois o vexame foi grande. Mas o crítico, que não sabe o que é PIB, investimento ou aritmética, atribui o erro à conspiração de “o mercado” contra Lula (de quem não gostam mesmo).
Pois bem. Para o ano do “PIBão do Bozo”, crescimento de 3%, “o mercado” previa alta de 0,36%. Para o ano do “PIBão do Lula”, de crescimento de 2,9%, “o mercado” previa alta de 0,8%. Erraram mais com Bolsonaro. Conspiraram contra o “mito” deles?
O Brasil voltou a ser a “9ª economia do mundo”, com “Lula bom de serviço” (era a 11ª em 2022), comemora a propaganda. Esse ranking do PIB em dólares correntes é baseado em dados do FMI, alguns deles ainda estimativas. Note-se que, em PIB por poder de compra, o Brasil continua em 8º lugar.
É fácil perceber que a variação do PIB em dólares depende das variações de taxa de câmbio e PIB. O PIB do Brasil em reais cresceu em 2012, 2013 e 2014, mas nesses anos foi menor em dólar do que em 2011. Teria sido por culpa de “Dilmãe” Rousseff?
Quanto ao PIB per capita (corrente), uma medida de padrão de vida, o Brasil está em 82º lugar, uma pobreza triste. O ano de 2010, sob Lula 2, foi o melhor desde 1980. O Brasil ficou em 60º lugar.
Quanto a PIB, o Brasil logo deve passar a Itália (8ª, que não cresce faz décadas). A fim de ultrapassar a França (7ª) seria preciso haver uma composição de desvalorização do euro e alta relativa do PIB do Brasil de mais de 43% —está longe. E daí? Nada. Isso é conversa bananeira, “Brasil Grande”.
Desde 2011, com Dilma, com tudo, o Brasil encolhe, relativamente. O PIB per capita é apenas 14% do americano, 79% do chinês, 64% do chileno, 19% do povo das “economias avançadas”.
Mas a gente acha que o dedo de ouro de um “painho” presidente é que resolve, metendo a mão em empresas, gastando de modo ineficaz etc. A gente não discute aumento de produtividade (que eleva o padrão médio de vida) e investimento; detesta escola, ciência e educação infantil de criança pobre. A gente tem delírio de grandeza e cultua líder.
Os dois artigos abaixo, precisam ser lidos e entendidos a razão pela qual o PT e Lula, são reconhecidos como da esquerda do atraso. E foram escritos por quem entende da matéria e nem de perto são conservadores ou direitistas.
Eles também passam bem longe do bolsonarismo a nova moda que sofre do mesmo mal: intervenção contra a livre inciativa, cria insegurança jurídica e legislativa, falta de foco e resultado, além de inibir à livre iniciativa e comprometendo a “lenha da fornalha” (investimentos e investidores) que fará a economia do futuro girar
NA FESTA SURPRESA DA ECONOMIA, PAÍS NÃO INVESTIU NADA NO FUTURO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Já fizemos bastante festinha para o resultado bom e muitíssimo inesperado do crescimento da economia em 2023. Discutimos muito o que se passou no curto prazo (ainda não entendemos direito) e o que pode ser de 2024. Olhando um pouco além da próxima esquina, aparece um aviso de congestionamento econômico: a taxa de investimento caiu no ano passado; é de apenas 16,5% do PIB.
Taxa de investimento: é o quanto da renda (do PIB) de determinado ano foi gasto em aumento da capacidade de produção de bens e serviços. Isto é, em novas casas, em instalações produtivas e outras obras de construção civil, em novas fábricas, em máquinas, equipamentos, “softwares”.
Pois bem, repetindo: a taxa de investimento foi de 16,5% do PIB. É a menor do século, fora os anos do final da Grande Recessão e da economia ainda deprimida de 2017-2019.
Sem investimento, é difícil que a economia cresça sem estresse mais adiante, se crescer. Estresse: mais inflação ou também mais déficit externo. Déficit externo: mais comprar do que vender bens e serviços ao exterior. O déficit pode crescer, mas até um limite.
Um país meio pobre como o Brasil precisa crescer rápido pelos motivos óbvios e, agora, ainda mais, para recuperar outra década perdida. O biênio 2022-2023 foi o de melhor crescimento acumulado desde 2011-2012. Ainda assim, tirou apenas uma poeira do prejuízo.
A renda (PIB) per capita de 2023 ainda é menor que a do começo de 2011. Se crescermos 2% neste 2023 e 3% em 2025, passaríamos apenas então do pico da renda per capita, que ocorreu em 2013. Uma dúzia de anos perdidos.
Em 2021, houve um crescimento forte do investimento (12,9%), provavelmente por causa de taxas de juros muito baixas, ajudas do governo e necessidade de remodelar negócios. Em 2022, a alta foi de 1,1%. Em 2023, um fiasco, queda de 3%.
Juros altos e as nossas incertezas sempre renovadas, por um motivo ou outro, como mudança atabalhoada de governo, podem ter colocado empresas na retranca.
Em 2024, as taxas de juros estarão algo menores, de modo mais notável no segundo semestre. Quem sabe o investimento aumente. Se não aumentar, será difícil que o PIB cresça a uma taxa decente também no curto prazo: neste ano de 2024 também.
Vai ser difícil que o setor externo (exportações menos importações) dê uma contribuição tão grande ao crescimento de 2024 quanto a de 2023: 2 pontos do crescimento de 2,9% do ano passado vieram do setor externo (o resto do mundo consumiu esse tanto da produção do país, em termos líquidos).
Não deve haver tanta produção agrícola para vender (a safra será menor), os preços caíram; a produção e a exportação de petróleo devem crescer, mas os preços não devem ajudar, embora o valor futuro do barril seja insondável. O Brasil será ainda mais um país petroleiro.
O emprego ainda vai bem, como vimos pelos dados de janeiro. O endividamento de empresas e famílias diminuiu. Dados ainda os juros mais baixos, há sinais de que a propensão a investir pode aumentar. Mas os humores empresariais também são meio insondáveis.
No mais, não haverá um impulso oficial para o PIB tão grande quanto o do aumento do gasto do governo em 2023, em especial o quase 0,7 ponto percentual de aumento de gasto do Bolsa Família.
Não quer dizer que 2024 será ruim, em comparação com o nosso histórico medíocre. É ainda possível que o PIB cresça perto de 2%, provavelmente com mais força no segundo semestre.
Recorde-se que o segundo semestre de 2023 foi de crescimento nenhum, foi de estagnação. Se continuarmos assim, crescimento zero de trimestre sobre trimestre anterior, o PIB de 2024 terá aumentado 0,2%.
Enfim, afora o investimento baixo, sempre é preciso lembrar dos nossos problemas crônicos, de solução incremental, sendo otimista: educação fraca, infraestrutura insuficiente, pouca pesquisa e desenvolvimento de inovação, instabilidade de regras econômicas. Ainda há muito a fazer por aí.
LULA QUER TODAS AS EMPRESAS, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Já aconteceu uma vez. Lula conseguiu derrubar um presidente da Vale, Roger Agnelli, porque ele cometera a ousadia de encomendar navios de grande porte na China. Isso foi em 2011, quando Dilma já estava no Planalto, mas Lula cultivava uma longa bronca com o executivo. Este tocava a Vale — imaginem! — como se fosse uma empresa privada.
Como hoje, Lula queria uma companhia que se alinhasse com os planos do governo. Que comprasse insumos no mercado nacional, mesmo que fossem piores e mais caros, e que partisse para a produção de aço, o que desviaria recursos e energia do negócio principal, a mineração.
Tem mais: o governo petista estava empenhado em mais uma tentativa de construir navios no Brasil e contava com a Vale como compradora fiel. E Agnelli adquiriu não um, mas três enormes navios em estaleiros chineses, de capacidade internacionalmente reconhecida.
Se tivesse esperado pela indústria brasileira, a Vale estaria até hoje — desculpem — a ver navios. Na ocasião, Lula e Dilma apelaram para o então presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, que indicara Agnelli. E assim caiu o executivo que, em dez anos, transformara a Vale numa multinacional, a segunda mineradora global, multiplicando o lucro por dez.
A Vale estava privatizada desde 1997, mas, como se viu, ainda estava à mercê de ações oportunistas do governo de plantão. Por isso, em 2021, depois de um longo processo, os acionistas transformaram a Vale numa corporation — uma sociedade anônima genuína, sem blocos de controle.
Para Lula, não mudou nada. Ele continua achando que a empresa precisa “estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”. Não apenas a Vale, mas todas as empresas brasileiras, disse o presidente.
Trata-se de uma barbaridade. As empresas se relacionam com o Estado, não com os governos. O Estado regula a atividade econômica como um todo, não esta ou aquela empresa. Concede licenças, fiscaliza, cobra impostos e royalties.
Governos têm planos partidários, que mudam a cada eleição. Lula queria que a Vale fabricasse aço. Imaginem que a empresa topasse a determinação e investisse pesado nesse negócio. Aí troca o governo, e este decide que o investimento prioritário não é fabricar aço, mas produzir baterias de carros. A empresa teria de se desfazer das usinas e começar tudo de novo.
Dirão: então para que serve ser governo, se não manda nada? Manda. O governo pode estimular um setor, concedendo subsídios para a indústria automobilística, mas não pode dizer às montadoras que carros devem produzir. Mais: nem pode obrigar as empresas a tomar os subsídios. Lembram a velha história? Você pode levar o cavalo até a beira do lago, mas não consegue obrigá-lo a beber água.
As ações da Vale estão em queda desde o início do ano. As últimas declarações de Lula prejudicam não apenas a Vale — levando dúvidas sobre sua gestão —, mas geram desconfiança geral. A economia brasileira foi bem no ano passado, mas não nos investimentos. Se o PIB cresceu 2,9%, o investimento caiu expressivos 3% em relação a 2022, que já não tinha sido um bom ano. O consumo é PIB de hoje. O investimento é de hoje e amanhã.
Como o governo está com as contas exauridas, o país necessita de investimento privado. Para isso, o governo deve oferecer um bom ambiente de negócios, de modo que as empresas se sintam confortáveis para aplicar aqui.
Lula passa o recado contrário. A maioria dos acionistas da Vale está no exterior. E todos têm perspectiva desfavorável quando o presidente intervém numa companhia privada e anuncia que todas as empresas aqui instaladas têm de rezar pela sua cartilha.
Sem contar que, com sua habitual desinformação, Lula passou uma série de fake news sobre a Vale. Disse, só em exemplo, que a empresa mais vende ativos do que produz minério. Errado: em 2023, a Vale produziu 321 milhões de toneladas de minério de ferro, quase 10% acima de ano anterior. Vendeu ativo, mas comprou outros.
Mas quem se importa com fatos?
Para reflexão. Este é o país que O PT, Lula e a esquerda do atraso – os democráticos – no Brasil sonham para se ter por aqui. E lutam por isso
CUBA VIVE O MAIOR ÊXODO DESDE A REVOLUÇÃO, por Jamil Chade, de Havana, para o UOL
Na periferia de Havana, um cartaz gigante anuncia: “Aqui, nadie se rinde”. Ou simplesmente: aqui, ninguém se rende. A propaganda do governo é ainda dos anos de Fidel Castro. Mas, segundo um morador da cidade, a placa ganhou uma nova pintura recentemente — como se a mensagem tivesse de ser reforçada
A realidade, entretanto, não é coerente com a frase. Milhares de cubanos deixaram o país nos últimos dois anos, fugindo da pior crise vivida pelo país desde o colapso da União Soviética há três décadas. O bloqueio americano cruelmente intensificado, a pandemia de covid, uma gestão desastrosa, um furacão, a guerra na Ucrânia e considerações geopolíticas colocaram Cuba e seu modelo em uma encruzilhada
Os números do governo de Washington apontam que 313 mil cubanos cruzaram as fronteiras dos EUA em 2022. As autoridades aduaneiras americanas ainda falam em 153 mil entradas de cubanos irregulares em 2023, além de outros 67 mil que foram aceitos nos EUA por meio do programa de imigração criado por Joe Biden chamado Parole
Em apenas dois anos, portanto, pelo menos 533 mil cubanos deixaram a ilha apenas em direção aos EUA — cerca de 5% dos 11 milhões de cubanos. De cada dez deles, oito estão em idade de trabalho.
Se não bastasse, 37 mil cubanos pediram refúgio no México entre 2022 e 2023 e, com o passar do tempo, o ritmo ganha força. Em agosto de 2023, 6 mil cubanos chegaram à fronteira entre o México e os EUA. Em setembro, o número já era de 10 mil
Em apenas dois anos, portanto, pelo menos 533 mil cubanos deixaram a ilha apenas em direção aos EUA — cerca de 5% dos 11 milhões de cubanos. De cada dez deles, oito estão em idade de trabalho.
Se não bastasse, 37 mil cubanos pediram refúgio no México entre 2022 e 2023 e, com o passar do tempo, o ritmo ganha força. Em agosto de 2023, 6 mil cubanos chegaram à fronteira entre o México e os EUA. Em setembro, o número já era de 10 mil
Naquele momento e até 1962, 250 mil cubanos deixaram o país.
Nos anos 80, foram mais 130 mil.
Com a crise diante do colapso da ajuda de Moscou, nos anos 90, mais 30 mil deixaram o país.
Nada, porém, se compara ao que ocorre hoje. Para muitos cubanos, uma das rotas mais populares para emigrar é o voo para a Nicarágua, do aliado Daniel Ortega. Desde 2021, um cubano pode entrar como “turista” no país centro-americano. E, de lá, iniciam uma longa caminhada até a fronteira entre o México e os EUA
Para financiar o percurso de 3 mil quilômetros e os “coiotes” que fazem a travessia pelas fronteiras, os cubanos vendem suas casas por cinco mil dólares e mobilizam recursos da família, na esperança de escapar da escassez que toma conta do país.
O governo cubano não divulga números sobre isso.
CUBANOS VENDEM TUDO PARA DEIXAR A ILHA, DIZ PADURA
A situação de profunda crise que vive o país tem levado até mesmo os filhos de cubanos que dedicaram toda suas vidas ao governo a partirem para Miami.
“As pessoas estão vendendo tudo, ao preço que seja, para ir embora”, diz o escritor Leonardo Padura, ao receber o UOL em sua casa
A realidade é que essa desesperança é baseada em fatos reais. Com a guerra na Ucrânia e a crise na Venezuela, Cuba deixou de contar com seus aliados em Moscou e Caracas no fornecimento de combustível. O resultado: frequentes apagões pelo país e o uso da energia para abastecer os hotéis com turistas estrangeiros
Em outubro de 2023, por exemplo, o déficit de energia era equivalente a 20% do consumo nacional. Nos postos de gasolina, motoristas relatam filas de até 24 horas. E, mesmo assim, sem garantias de abastecimento.
A falta de combustível passou a ter até um impacto político. As grandes caravanas de todo o canto do país para marcar as principais datas da revolução, em Havana, passaram a ser reduzidas ou até canceladas
Outro símbolo da crise tem sido a questão do acesso aos alimentos. 85% da comida consumida no país é importada. Em meados de 2023, o presidente do Parlamento cubano, Esteban Lazo, admitiu que praticamente 100% da cesta básica estava sendo importada.
A grande dependência passou a custar caro quando, nos mercados internacionais, o preço dos alimentos explodiu por conta da guerra na Ucrânia
O UOL visitou os centros de distribuição de alimentos subsidiados para a população. Mas encontrou prateleiras vazias e um racionamento medido grama a grama. No momento em que se completa 60 anos da “libreta” — que cada cubano conta para garantir o acesso à comida a um preço baixo —, mesmo os funcionários dos locais de distribuição são irônicos
“Isso é Cuba”, disse uma mulher enquanto explicava que seu centro não contava com leite que o estado deveria garantir para as crianças. Em outro centro, era dia de frango. Mas apenas 500 gramas de carne por pessoa por mês.
O restante das necessidades os cubanos precisam comprar nos mercados convencionais, hoje a preços proibitivos depois da explosão do custo de vida
Fontes do próprio governo Lula em Brasília admitem que a crise de alimentos em Cuba hoje justificaria um pedido de ajuda humanitária. Mas decretar tal condição está descartado — já que insinuaria o fracasso do modelo.
BOQUEIO AMERICANO INTENSIFICADO
Nada se explica, porém, sem considerar que o bloqueio imposto pelos EUA foi ampliado e intensificado nos últimos anos
A esperança criada em 2016 com a visita de Barack Obama desapareceu, assim como os dólares dos turistas americanos. Naquele momento, Havana chegou a receber dez voos diários de cidades dos EUA.
Mas, durante a presidência de Donald Trump, não apenas as medidas contra Havana voltaram, como ainda foram reforçadas. No total, 243 medidas foram adotadas. Membros de uma igreja metodista americana chegaram a ser investigados por ajudar uma igreja cubana
Em 2021, faltando nove dias para deixar o governo, Trump declarou Cuba como país que patrocina o terrorismo, criando ainda novos problemas para empresas de todo o mundo que desejassem vender para a ilha. No fundo, nada diferente da origem das medidas dos anos 60.
Naquele momento, num memorando interno do governo norte-americano, o objetivo do bloqueio era o de “desencantar e desiludir” a população por meio da privação econômica.
Mas, para a surpresa dos cubanos, a vitória de Biden em nada mudou a política americana para Cuba. Nos primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente brasileiro tentou convencer a Casa Branca a rever o embargo com Havana
Fontes no Itamaraty confirmam que o gesto de Lula não é apenas um agrado aos históricos aliados latino-americanos. Brasília sabe que apenas com uma retomada da economia cubana é que o país conseguirá reaver o dinheiro que emprestou para Cuba — no valor de mais de US$ 670 milhões.
No entanto, com eleições dominando a lógica da política americana em 2024, qualquer chance de uma nova estratégia está descartada.
O bloqueio custou US$ 4,8 bilhões para a economia cubana apenas em 2023
O turismo europeu, que chegava a levar para a ilha 500 mil pessoas por ano, despencou para pouco mais de 100 mil e, depois da covid-19, ainda não foi plenamente recuperado.
ESGOTAMENTO
Todos os números oficiais ainda mostram o profundo impacto na economia nacional
Em 2023, o PIB encolheu em 2%.
O estado está sem dinheiro e o déficit fiscal é de 18% do PIB.
O Observatório Cubano de Direitos Humanos apontou, em setembro de 2023, que 88% dos cubanos vivem com menos de 1,9 dólar por dia e que 48% já deixaram de comer em algum momento por falta de dinheiro
A ilha vive uma dolarização virtual, descobre os primeiros sinais reais da desigualdade social e até a delinquência ganha terreno — todos fenômenos comuns em diversas capitais latino-americanas por décadas e que Havana havia conseguido, de certa forma, se blindar.
Insustentável, a crise teve de ser lidada pelo governo. A moeda passou por uma profunda desvalorização e os planos eram de uma reforma do Estado que seria um verdadeiro furacão sobre a ilha.
Mas poucas horas antes do anúncio oficial, no início de fevereiro, o governo comunicou que um vírus havia atacado os computadores dos ministérios e que, portanto, a reforma estava suspensa até que os “problemas técnicos” fosse resolvido
Dias depois, a cúpula econômica foi substituída. E a população ficou sem saber se as medidas seriam adotadas ou não
Para ex-funcionários do estado cubano, o paradoxo é que a crise ocorre num momento de transformação política. Nos últimos anos, a Constituição foi reformada e o presidente pode ficar no cargo por apenas dois mandatos.
Em 2021, o governo ainda reverteu políticas datadas dos anos 60 e permitiu que pequenas empresas fossem estabelecidas — 7 mil delas foram registradas
Hoje, porém, o que impera é a incerteza e, acuado, o governo deu sinais de suspender o processo de ampliação das liberdades individuais.
Se o ativo revolucionário dos irmãos Castro e subsídios do exterior ajudaram, por décadas, a manter a esperança de que o modelo cubano poderia funcionar, a realidade atual explicita a necessidade de uma fadiga da utopia.
Sem uma nova liderança carismática, sem ajuda internacional e boicotado pelos diferentes governos americanos, não são poucos os indícios de um esgotamento de um modelo, justamente quando a revolução completa 65 anos
É vale pra cá, vale pra lá. Vale disso, vale daquilo. São tantos vales que o belzubu de Garanhuns pensa que a Vale é mais um dos seus programinhas sociais de compra de votos!
DIREITO DE PROPRIEDADE, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo
A Vale do Rio Doce não é dona do Brasil, mas o presidente Lula também não é dono da Vale. Aliás, nem da Petrobras. E é por falar demais, e agir como se fosse dono de tudo e da verdade, que o presidente cria polêmicas desgastantes, tumultuando a política externa brasileira e atraindo desconfiança do mercado e dos investidores. Com uma agravante: o novo ataque à Vale foi dias depois da demonstração de força de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista.
É como se Lula não engolisse o fato de que a Vale foi privatizada e, como privatizada, vai muito bem, obrigada. Tudo piora quando ele manobra para impor na presidência da companhia o ex-ministro da Economia de Dilma Rousseff, das pedaladas fiscais e de dois anos de recessão. Houve resistência a Guido Mantega até para a equipe de transição, imagine para a presidência da Vale? A ideia flopou.
Lula também cometeu erros factuais contra uma das principais companhias brasileiras no mundo. Fiquemos em dois. Um, quando acusou a Vale de não explicar por que desistiu da mina Moatize, em Moçambique, “que foi um esforço para a gente conseguir”. Outro, quando disse que a companhia “ultimamente, está vendendo mais ativos do que produzindo minério de ferro, perdendo o jogo para empresas australianas”.
Bem, a mina de Moatize é de… carvão. A Vale deixou um legado considerado importante em Moçambique, mas tem compromisso com o Acordo de Paris, a priorização da mineração de baixo carbono e até a ambição de se tornar líder mundial nesse segmento. Para completar, a operação era deficitária. As explicações parecem convincentes.
E a Vale vem elevando a produção e saiu de 308 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022 para 321 milhões em 2023, mas… sua estratégia não é aumento de volume e, sim, a diferenciação de mercado. Investe em descarbonização e é líder em produtos “premium”.
Vira e mexe, a Petrobras, estrela do “petrolão”, também leva canelada de Lula, sofre ingerências políticas e adota medidas tidas no mercado como populistas, repetindo os governos anteriores de Lula e Dilma e de Bolsonaro – que trocou um presidente da companhia atrás do outro, inclusive um general de estrelas, porque se recusavam a fazer o que ele exigia, sem entender patavinas da questão.
Assim, Lula atrai chuvas e trovoadas na política externa e nos setores financeiro, produtivo e de investimentos, e sacode a Bolsa, com as ações da Vale caindo após suas críticas e as da Petrobras, diante da redução de compensação a acionistas. Parece teimosia, visão atrasada ou uma assessoria mais ideológica do que seria conveniente aos interesses do Brasil. Ou, quem sabe, tudo isso junto.
LULA EXTRAPOLA SUAS ATRIBUIÇÕES AO TENTAR INTERVIR NA VALE, editorial do jornal O Globo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai além do razoável na pressão para tentar alinhar ao Palácio do Planalto a mineradora Vale, uma empresa privada. Depois de fracassar na tentativa de indicar o economista Guido Mantega para comandar a empresa, Lula afirmou: “A Vale não pode pensar que é dona do Brasil. As empresas brasileiras precisam estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo brasileiro”. O presidente está enganado.
Por definição, empresas privadas têm compromisso com seus acionistas, clientes, funcionários e comunidades onde atuam. O setor privado não tem obrigação de dizer amém ao partido no poder. E o governo não detém participação acionária para promover qualquer tipo de ingerência na Vale.
A explicação para a naturalidade com que Lula tenta pressionar o conselho de administração da mineradora, prestes a decidir quem comandará a empresa nos próximos anos, é a ideia prevalente no PT de que o Estado deve mandar em tudo, ainda que em desafio ao mercado ou à realidade da economia.
Tal visão também fica evidente na atual gestão da Petrobras. Seguindo à risca as instruções do Planalto de “ajudar no crescimento”, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, ampliou investimentos em áreas duvidosas, como refino ou exploração terrestre, interrompendo um programa exitoso de venda de ativos.
Num clima de desconfiança dos investidores, bastou uma declaração infeliz dele sobre a política de dividendos para a Petrobras perder R$ 35,3 bilhões em valor de mercado. Apesar de a maioria dos acionistas da empresa ser privada, o governo se comporta como se ela fosse 100% estatal. Em administrações anteriores do PT, essa visão do Estado como condutor do crescimento abriu espaço a escândalos de corrupção e causou imenso prejuízo.
O mandato do atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, acaba em maio, e Lula já deixou claro que é contra sua recondução ao cargo. A mensagem implícita em suas críticas à mineradora é: “Atendam aos desejos do presidente ou terão o governo como inimigo”. Em seu ataque recente, Lula fez menção a lugares onde a mineradora precisa lidar com passivos ambientais. Esse é um assunto que cabe à Justiça e a outras instituições responsáveis, não ao presidente. Seria um absurdo se a frustração dos desejos de Lula resultasse em punições descabidas na esfera regulatória.
A pressão indevida sobre a Vale atinge todas as empresas brasileiras de capital aberto. O governo federal e as instituições sob sua influência não deveriam intervir nas decisões de nenhuma empresa privada. O simples fato de tal movimentação acontecer enfraquece a imagem do Brasil. Se Lula tiver sucesso na pressão, o estrago será maior. Ficará, aos olhos do mercado, demonstrado que, por aqui, as leis que regem o controle das empresas pouco valem diante da vontade e dos caprichos de quem está no poder.
Num passado não tão distante, quando o governo detinha fatia maior do capital da Vale, administrações petistas não se furtaram a intervir na empresa. A pressão na Vale e a intervenção na Petrobras são retrocessos que já cobram seu preço.