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PROCURA-SE ALGUÉM COM O ESPÍRITO DE AMAURI BORNHAUSEN PARA PREFEITO DE GASPAR

Alterado às 11h31min deste 14.07.2023. Católico fervoro, comunitário, exemplar funcionário efetivo público municipal e um surpreendente vereador de primeiro mandato, Amauri Bornhausen (foto acima), morreu no dia 12 de dezembro do ano passado, de parada cardíaca, aos 53 anos. Em menos de dois anos do seu primeiro mandato, sem qualquer experiência política eletiva, cardíaco, diabético, sem as duas pernas e cadeirante, fez muito mais como vereador do que outros, saudáveis, experientes e por mandatos inteiros.

Em que ponto o ex-vereador Amauri errou? Naquilo que ele foi autêntico. Apenas isso! Teve um exercício de legítimo vereador que, no fundo, é um representante de uma parcela da comunidade que se identifica por afinidade ideológica, resultados pretendidos ou, geograficamente na cidade. E todos seus pares daqueles dias, ainda na Câmara, sabem que ele era punido por sua autenticidade. Uma ponderável parcela da cidade também.

E com esta sinceridade, Amauri incomodou o seu próprio partido, o PDT – esquerda e historicamente em Gaspar atrelado às administrações petistas -, que o levou para o partido. Só para usá-lo no seu carisma, fazer votos para a legenda e com isso, ajudar a reeleger o dono dela por aqui, Roberto Procópio de Souza. Procópio em parte do primeiro mandato de Kleber Edson Wan Dall, MDB, com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, comandava uma ferrenha oposição na Câmara. Fê-la maioria – quando Silvio Cleffi, hoje primeiro suplente no PP, se tornou presidente. E obrigou o governo de então à composição. Nela, de uma hora para a outra, Procópio virou governo. E ele ainda fica brabo quando é lembrado desta vira-casaca, que com outras, fez o enterro da CPI da drenagem da Rua Frei Solano, as quais lhe custou à reeleição. 

Isto é história e não se muda. Está aqui, mais uma vez, para ser contextualizada e se evitar às narrativas dos poderosos no poder de plantão.

Procópio acabou ficando na suplência e teve que se contentar com a gerência do Procon dada pelo governo onde está. Eleito, Amauri, aos poucos foi tirando o sono do governo. Diante de tantas dúvidas e erros, o vereador Amauri foi afrontando no conforto de uma maioria folgada que Kleber e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP talvez, sempre teve na Câmara neste segundo mandato. 

Amauri não teve medo e nem meias palavras para colocar o dedo nas próprias feridas do governo municipal. E olha que, por ajustes dos e entre os caciques partidários, Amauri era um dos onze da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB). Entretanto – talvez por falta deles fisicamente -, nunca se ajoelhou aos erros e dúvidas do próprio governo onde supostamente estaria e deu os votos, quando o governo precisou e ele, Amauri, concordou com quase todas as matérias governamentais votadas na Câmara. Naquele período, Amauri, devido a este aspecto crítico ao governo que estava e servia, bateu o experimentado Dionísio Luiz Bertoldi, PT, e de longe, o novato, Alexsandro Burnier, PL.

E exatamente por esta coragem, persistência, coerência é que o PDT e os donos do poder de plantão tinham o vereador Amauri como traidor, um não confiável. E exatamente por não estar cego, por um lado, Amauri ganhou credibilidade de uma forma rápida e consistente na cidade e foi além dos que os elegeu com 1059 votos, e terceiro mais votado daquele pleito. Procópio só conseguiu 585 votos na tentativa de se reeleger.

Retomando

Com o tempo, esta credibilidade já transpassava no ambiente comunitário e os partidos. E todos, no ambiente político-administrativo, inclusive os do governo, sabiam disso. A morte prematura de Amauri, na verdade, para os poderosos de plantão e o PDT, foi um alívio. Pelo andar da carruagem, Amauri teria uma reeleição fácil e certamente em outro partido. Mais do que isso. Com o amadurecimento dos cenários, não exatamente pelo desejo dos que estão no poder de plantão e comandam o mecanismo de ajuntamento e interesses, seria um nome forte, não apenas para ficar na Câmara, mas, prematuramente, até para ser candidato a prefeito.

Estamos carentes de nomes, renovação e autenticidade. E explico o porquê, com exemplos a seguir.

A simples vinda do frajola Renan Jair Bolsonaro na quarta-feira por aqui como se um artista pop fosse, mostrou mais uma vez, que Amauri era um calo num ambiente cheio de enganação contra a cidade, eleitores, eleitoras, analfabetos, ignorantes, desinformados e manipulados

A primeira vítima do filho do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, foi o próprio PL de Gaspar.

O partido – nas fotos com a mesma meia dúzia de sempre – trouxe Jair Renan, um quase mudo. Saiu-se bem nas selfies. Já nas gravações e conversas… Nos discursos dos anfitriões, a vinda de Jair Renan era para unir e mostrar força do PL, ou da tal direita por aqui. Ou seja, o próprio PL de Gaspar e que ainda tenta blindar à pré-candidatura do engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, nada identificado com a tal direita, assumiu, o que quer negar publicamente quando comento isso por aqui: de que está com problemas.

A segunda vítima do turismo político de quarta-feira patrocinado pelo PL de Gaspar, foi a realidade.

Em questão de horas, Jair Renan virou o centro de atenções pela cidade, fotos, selfies e textos percorrendo as redes sociais com empresários e políticos de todos os matizes. Eles estavam tirando uma casquinha de quem só consegue ter carisma imaginário dos daqui, exatamente pela falta de um líder que os conduza a resultados não apenas no ambiente administrativo, mas no político. Há um vácuo.

Estavam lá nas fotos – isolados ou em grupos – e elogios com Jair Renan entre muitos, gente como o presidente da Câmara Ciro André Quintino, MDB, Francisco Solano Anhaia, MDB, que já foi PT, o vice Marcelo de Souza Brick, Patriota, o presidente do Samae e envolvido nos áudios com conversas cabulosas, Jean Alexandre dos Santos, MDB, o vereador José Carlos de Carvalho Júnior, MDB, o vereador Giovano Borges, PSD, ex-vice-prefeito e hoje encostado na chefia de gabinete, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, além do próprio prefeito, Kleber.

O baile era patrocinado e organizado PL de Gaspar, mas quem roubou a cena, dançou a música que quis e fez à festa foi o mecanismo que está querendo se perpetuar no poder, mesmo diante de tantas frustações e dúvidas, que o próprio PL de Gaspar diz não concordar e fala em querer mudar, criando candidato e chapa própria. Mas, será? Os ensaios com Marcelo e Ciro dentro do PL já eram pistas de que isso pode ser mais um blefe. 

E diante do que aconteceu nesta quarta-feira já se sabe que a comichão pegou em alguns observadores da nossa cena política. E por quê? 

Ou PL de Gaspar está avalizando e se disfarça naquilo que diz serem problemas de Kleber e Marcelo, ou vinda de Jair Renan por aqui – e que se tenta se viabilizar em Balneário Camboriú para concorrer a vereador -, mostrou ser mais do que uma esperteza, ou um erro tático do PL, ou de como o PL de Gaspar já foi comido pelo mecanismo. Ou então, pior, de que tudo e todos são farinhas do mesmo saco.

Cada vez, fica mais claro à razão pela qual Amauri Bornhausen, era temido neste ambiente governamental na mesma proporção que ele crescia na reputação na cidade. Amauri, até a sua morte, poderia ter sido uma farinha de outro saco. Hoje, já não se tem mais esta escolha. Gaspar, ainda está à procura de um Amauri Bornhausen. Dificilmente encontrará.

O único que se diz de direita, que sempre disse ser simpatizante e eleitor de Bolsonaro e que não se misturou na encenação de quarta-feira, foi o empresário e que se diz pré-candidato a prefeito no ano que vem, Oberdan Barni, Republicanos. É um bom começo. É um bom sinal. Ao menos disse com o seu gesto que, ao menos até aqui, não é farinha do mesmo saco ou tenta se diferenciar dela, pois já foi apoiador incondicional de Ciro e do MDB.

E como há muita farinha misturada num saco só – e para dar liga – ao mesmo tempo, isto está sinalizado o tamanho da encrenca se Oberdan quiser ir adiante. Será o David contra o Golias. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

A CPI da pizza com sabor da moda, “desconheço”, e que apura supostas responsabilidades de agentes políticos, gestores públicos e particulares supostamente descritos nos áudios do conversas cabulosas do ex-faz tudo do governo de Klerber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, “ouviu” nesta terça-feira o empresário Mário Jorge de Souza, o dono da Pacopedra. Já explico a razão destas aspas. Impressionante!

Nada foi transmitido. Nada de novo se conseguiu, segundo testemunhas do evento. Tudo escondido. Secreto. Nenhuma repercussão, a não ser que é algo arrumado, mesmo que isso também não seja verdade. É que os políticos e os “çábios” jogam contra eles próprios e ainda reclamam do resultado do jogo com as regras criadas pela esperteza deles. E quem quiser saber alguma coisa, mesmo sendo ela com cartas marcadas, terá que pedir e aguardar à boa vontade dos políticos da CPI e à burocracia da Câmara. Se tiver registro e já explico. Vergonha. Afinal, se nada teme, por que uma Casa rotulada como a do povo, exatamente esconde o que faz e apura do povo?

E para piorar tudo, o depoimento do empresário foi gravado nas imagens. Não possui áudio. É brincadeira. Inacreditável. Aumenta-se vencimentos, cargos e se tem uma cara área de comunicação na Câmara para se ter este resultado? Falta gestão. Falta responsabilidade. Para se salvarem, os políticos arrumam uma CPI da pizza do “desconheço”, colocam nela um empresário e ainda o humilham? Ontem foi uma correria. O culpado? Um tal de equipamento. Ou seja, por detrás do equipamento nenhuma pessoa terceiro, nenhum agente administrativo, nenhum agente político, pagos pelo povo nos seus pesados impostos exatamente para controlar algo tão relevante, mesmo que secreto ou cheio de segredos, manhas e manobras.

Na terça-feira que vem vão ouvir o gestor Mário Jorge de Souza Junior, da Pacopedra. Até lá, os membros da CPI vão decidir se reconvocam para “novo” depoimento do dono na empresa, Mário Jorge de Souza. Depois os políticos não entendem como são massacrados nas redes sociais e principalmente nos aplicativos de mensagens. Eles são a própria anedota. É pracabá.

Esta CPI pedida pela própria Bancada do Amém (MDB, PP, PDS, PDT e PSDB) foi uma forma de destampar a chaleira que fervia na cidade contra os poderosos de plantão. Ela fervia com quatro áudios, editados, com conversas que sugeriam corrupção no governo e seus fornecedores. Esta decisão de tornar os depoimentos quase um segredo ficou como o pior dos sonetos. E para o imaginário popular pelo vácuo de transparência proposital criada pelos políticos permitiu-se que se criasse de que há algo podre neste reino onde o rei está nu.

O objeto foi escolhido a dedo e para sepultar o caso: um áudio que tratou de uma obra particular, onde, supostamente, nenhum dinheiro público estaria envolvido: a pavimentação de um trecho aqui do Centro da Rua José Rafael Schmitt. Se não há dinheiro público envolvido, também supostamente, não há crime contra o erário público a se apurar.

E assim, por extensão, os políticos que criaram esta CPI, pretendem dar à inocência de todos e do governo de plantão para o resto dos áudios e sepultar mais uma vez, este assunto ao modo deles: em segredo. 

Na publicação oficial da Câmara, ela comemorou que a tal oitiva muda. É que ela, por um benefício foi franqueada a quem quisesse ir lá no meio da tarde de terça-feira assisti-la. É um deboche. Na semana passada, o suplente Eder Muller, PL, foi sem custos para a Câmara e a cidade, foi mais eficiente do que a cara assessoria de imprensa, a comunicação e a esperteza dos vereadores da CPI. Transmitiu a repetida resposta do principal envolvido Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB: “desconheço”.

Por outro lado, fora da CPI da pizza do “desconheço”, nesta quarta-feira foi ouvido o atual presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, MDB (o primeiro à direita na foto ao lado), na qualidade de ex-secretário de Planejamento Territorial. Ele supostamente é parte em outro áudio vazado, também uma conversa cifrada e cabulosa com o ex faz tudo do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, Jorge Luiz Prucinio Pereira, PSDB, onde ainda é presidente.

Repito para que não haja confusão. Esta ouvida, não tinha nada a ver com CPI da pizza do “desconheço”. Ela é fruto de um requerimento para “esclarecimentos” pedido pelo vereador Alexsandro Burnier, PL, e aprovado por unanimidade pela Câmara. Era para ser ontem, mas o ex-secreetário disse que só podia na quarta-feira e assim foi.

Um alívio. Esta reunião especial e extraordinária presidida pelo vice-presidente da Câmara, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP – o que mesmo que preside a CPI e esta observação é necessária para as comparações da falta de transparência numa – a CPI – e no procedimento que se espera dos políticos no outro ato. Ele foi transmitido ao vivo para cidade. Está gravada e disponível no site da Câmara. Ninguém morreu. Deu-se publicidade, naquilo que não se esclareceu, mas, paradoxalmente, ficou claro. Simples assim!

Ou seja, o que aconteceu na quarta-feira, foi bem diferente da trama na CPI da pizza do “desconheço” montada pelo governo municipal via a Bancada do Amém para esconder, ou dificultar tudo na necessária e óbvia transparência à cidade, cidadãos e cidadãs pagadores de pesados impostos que sustentam a prefeitura e a Câmara. Nesta inquirição fora da CPI nada ficou às escondidas, mesmo que pouca coisa tenha sido esclarecida ou convencido alguém. 

Repito. O segredo que cerca a CPI da pizza do “desconheço” só fez aumentar às dúvidas contra os políticos e envolvidos nas questões que exigem transparência, ou precisam ser expostas para avaliação pública, ou serem esclarecidas. Outro ponto que ficou claro é de que o vereador Alexsandro não se preparou para a inquirição e que o ex-secretário Jean Alexandre dos Santos, MDB, experiente, preparado, saiu-se muito melhor do que quando entrou na reunião.

O único que “ameaçou apertar” um pouco mais o ex-secretário, por incrível que pareça – e se entende até certo ponto -, foi o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB. Jean Alexandre dos Santos, MDB, escorregou o tempo todo como se tivesse ensaboado. É o jogo jogado, mas com plateia e o “tribunal”. E pouco foi confrontado.

Aliás, o ex-secretário, se não fez por ironia, “agradeceu” à oportunidade de se expor e contrapor ao que classificou de “assassinato de reputações” dele – e de outros – pelas redes sociais, nas quais os políticos e agentes públicos não possuem mais controle como na imprensa formal. O que mostra isto? Que a transparência é um problema para esse pessoal.

Jean Alexandre dos Santos NÃO admitiu explicitamente ser dele a voz e do ex-secretário de Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, nas conversas gravadas. Não soube dizer ou dar pistas quem as gravou ou quem as vazou. E as respostas foram feitas sobre o que ele classificou como um exercício do seu dia a dia de reuniões com membros do governo para “rodar” a secretaria que tocava. Perguntado, confirmou o Roberto mencionado na conversa, seja o do ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira. “Não vejo outro…”

Se explicitamente negou, implicitamente, pelas respostas, pode se concluir que Jean Alexandre dos Santos, MDB, é realmente um dos personagens do áudio, mesmo ele alegando que hoje em dia tudo é possível fraudar, editar e montar, incluindo vozes. O constrangimento e a contradição apareceram quando o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, perguntou se a iniciativa de sair do governo tinha sido do ex-secretário e o que o motivou a isso. Jean respondeu afirmativamente que a iniciativa foi dele diante do prefeito e para isso alegou questões familiares e de saúde. 

Foi neste instante o momento mais tenso da sessão de esclarecimentos. Diante da resposta do ex-secretário, o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, ex-secretário da Saúde, até há pouco vestido para ser pré-candidato a prefeito pelo grupo que está no poder de plantão,  quis saber do próprio Jean Alexandre dos Santos, MDB, qual a razão para a volta tão rápida dele ao governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB.

Jean Alexandre dos Santos, MDB, disse a volta para presidir do Samae atendeu a um convite do próprio prefeito e do atual chefe de gabinete, ex-vice-prefeito no primeiro mandato de Kleber, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, pois segundo ele,  os problemas que o levaram a sair do governo já tinham sido parcialmente superados. 

A cidade inteira sabe que a fritura de Francisco Hostins Júnior, MDB, foi armada pelo próprio grupo onde está o atual presidente do Samae e está atrelada à volta à cena política do vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, Patriota, PL, sei lá, ou PP, talvez. Ele estava rompido com Kleber bem antes das eleições de 2022, quando o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, desistiu de ser candidato a deputado estadual, não passou o bastão a Marcelo como se prometeram na aliança e reeleição de Kleber em 2020.

Voltando para finalizar este assunto. O requerimento do vereador Alexsandro Burnier, PL, tinha seis questões. A reunião poderia durar até duas horas. Em meia hora estava tudo encerrado. “Esclarecer a que se refere [no áudio]: “ele chamou o Roberto e pediu mais 30”. O ex-secretário não esclareceu, mas supôs que poderia estar tratando de recursos que deveriam ser remanejados no Orçamento Municipal para a sua pasta. A mesma resposta deu para a segunda questão: “E isso virou 80 mil”. Para Jean Alexandre do Santos, MDB, era a missão dos secretários: arrumar dinheiro na secretaria da Fazenda e Gestão Administrativa e na Chefia de Gabinete para tocar as suas secretarias.

Sobre “Ô Jorge [referindo-se a Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB], assim tá botando na reta”, entrou como um termo comum para dizer que não se estaria atendendo a uma demanda orçamentária entre os membros do governo. A mesma explicação, sem situar tempo e o quê, “a corda arrebenta”. A mais convincente das explicações sobre a conversa cifrada: “em tese tem a Educação. É tudo 25%”.

Para o ex-secretário de Planejamento Territorial, Jean Alexandre dos Santos, MDB, afirmou que este percentual se referia à obrigatoriedade constitucional de investimento do município na Educação municipal. O que ninguém perguntou – e Alexandro Burnier, PL, deu-se por satisfeito e por isso não se esclareceu, o que um secretário de Planejamento Territorial estaria discutindo naquele momento na Fazenda ou na Chefia de Gabinete, Orçamento de uma pasta fora da sua atuação ou competência.

O mais interessante, é que segundo a pergunta do requerimento e a resposta do ex-secretário, hoje presidente do Samae, nem o prefeito, nem o vice sabiam dessas tratativas, conversas, valores e remanejamentos. Ficou-se a impressão, que apesar das imagens quase diárias de reuniões de planejamento publicadas pelo gabinete do prefeito, tudo era tratado e decidido nas secretarias. Talvez, seja mesmo.

Há falta de repórteres e notícias em Gaspar. O vendaval de quinta-feira derrubou o que dizem ser a centenária figueira da Praça Getúlio Vargas, que fica defronte a prefeitura de Gaspar. Há controvérsias sobre a idade da pobrezinha, como relata Miguel José Teixeira, cuja mãe, dona Infância ajudou plantá-la. E não vou entrar nesta balela que mostra a falta de memória dos políticos com as coisas da cidade. Pois não é que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, fez um vídeo para dar a notícia. O vice-prefeito Marcelo de Souza, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, também entrou na pilha atrás de curtidas.

Perguntar não ofende: se era centenária e tão importante assim a figueira, ela não deveria estar mais cuidada e escorada? Como registrou num meme Eduardo Zimmermann, como testemunha do que passava nos gabinetes da prefeitura, ela não aguentou e caiu. Voltando. Perguntar não ofende, se viram a figueira cair, não viram o engarrafamento que estava a cidade em função das obras do Samae, e os agentes do Ditran quando aparecem por lá mais parecem fiscais da obra do que organizadores o fluxo dos veículos? Ontem o serviço avançou 25 metros.

Choro dos indiferentes. O clima esquentou. Foram parar no Ministério Público Estadual da Comarca, as queixas dos parentes dos mortos enterrados aqui em Gaspar que agora estão obrigados a pagar pela cessão dos terrenos nos dois campos santos municipais – Santa Terezinha e Barracão. O governo municipal esperou por anos para torná-los cheios e veio com um Projeto de Emergência. A toque de caixa, o relator Giovano Borges, PSD, atendeu ao governo. E se abriu para os gavetários e a cremação.

Outra audiência que foi suspensa. Na terça-feira, o relator da matéria que “proíbe a linguagem neutra ou não binária nas escolas da rede municipal”, Roberto Procópio de Souza, PDT, propôs e teve aprovado uma audiência pública. Vap vupt. Era para hoje início da noite num assunto que está na Casa desde março. A matéria é inconstitucional – pois quem deve propor isso é o governo Federal – e é de autoria do Executivo Municipal

Ontem do nada, esta audiência foi cancelada em lacônica nota – sem explicações do porque da suspensão – da Câmara de vereadores. Audiência nesta matéria – no âmbito jurídico ela está amplamente definida – é para dar palanque justificar o engavetamento dela ou então, encaminha à inócua aprovação e arma mais um outro palanque: do vitimismo.

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12 comentários em “PROCURA-SE ALGUÉM COM O ESPÍRITO DE AMAURI BORNHAUSEN PARA PREFEITO DE GASPAR”

  1. A CANETADA ONIPOTENTE E INÓCUA DO MEC, por Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Com uma canetada, o Ministério da Educação podou os recursos para 202 escolas cívico-militares de 15 Estados, onde estudam cerca de 120 mil jovens. No ofício em que comunicou a suspensão da iniciativa aos secretários estaduais, referiu-se a um “processo de avaliação liderado pela equipe da Secretaria de Educação Básica” ao fim do qual “foi deliberado o progressivo encerramento do programa”.

    Não se conhecem as conclusões de qualquer avaliação pedagógica dessas escolas, e a Nota Técnica que instruiu a decisão discute genericamente a questão.

    A medida, anunciada na última quarta-feira , é a um só tempo onipotente e inócua. Onipotente, porque partiu de burocratas que criam ou matam programas sem maior discussão. Inócua, porque em 48 horas cinco governos estaduais anunciaram que financiarão as escolas com seus recursos.

    O MEC não força o fechamento dessas escolas e cuidou para que a transição seja feita sem prejudicar os alunos. Apenas corta os recursos. No ano passado essa conta ficou em R$ 39,3 milhões. Esse dinheiro amparou 202 escolas. Já os kits de robótica que foram para sete municípios alagoanos, durante o governo de Jair Bolsonaro, custaram R$ 26 milhões.

    As escolas cívico-militares nasceram em 2019 no rastro do radicalismo bolsonarista e empregam militares da reserva apenas em funções disciplinares. Funcionam com severa disciplina, algumas exigem coque no cabelo das meninas e corte militar no dos meninos. Sua eficácia pedagógica nunca foi medida. De uma maneira geral, as comunidades onde elas foram instaladas elogiam os resultados. No Paraná, são louvadas, mas em Goiás não deram certo e a experiência foi abandonada.

    A canetada do MEC assemelha-se à do Ministério dos Direitos Humanos que extinguiu a Ordem do Mérito da Princesa Isabel, acabando com uma simples concessão de patacas. Se uma coisa saiu do governo passado, boa não é.

    Uma avaliação pedagógica desses colégios jogaria luz sobre a experiência. Em diversos países ela existe há séculos. O aspecto mais triste da canetada é a sua inutilidade. Servirá apenas para agravar polarizações políticas. O governador paulista Tarcísio de Freitas, que há dias afastou-se do radicalismo de seu capitão apoiando a Reforma Tributária, precisou de poucas horas para anunciar que preservará suas escolas cívico-militares.

    Nunca é demais lembrar que em 2018 Jair Bolsonaro, entre outros fatores, foi alavancado pela soberba petista. O comissariado acreditava que ele era o melhor candidato para ser derrotado. Deu no que deu.

    Inelegível, Bolsonaro caminha para o ocaso, mas aquilo que se chama de bolsonarismo, precisa dos erros de seus adversários para crescer. Ajudado, vai longe. Andando com as próprias pernas, briga com as vacinas durante uma pandemia, demora para reconhecer o resultado de uma eleição presidencial americana e arruma um chanceler que se orgulha de colocar o país na condição de pária.

    BAÚ DOS IMPOSTOS

    Os parlamentares e os economistas que tratam dos detalhes da Reforma Tributária prometem uma alvorada da economia nacional simplificando a coleta de impostos.

    Que tenham boa sorte, mas devem se lembrar que essa ideia tem quase cinco séculos. Em maio de 1559, Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, pedia ao rei de Portugal que se cobrasse “um só imposto, a saber, de cada dez, um.”

    Duarte Coelho foi um craque e suas cartas a D. João III revelam um administrador clarividente. É dele a primeira argumentação para estimular investimentos estrangeiros sem amarras burocráticas.

    A memória nacional é seletiva ao tratar dos coletores de impostos. Todo mundo aprendeu no colégio que, em 1556, os índios caetés capturaram e, provavelmente, comeram o briguento bispo Pero Fernandes Sardinha. Pouca gente lembra que no mesmo repasto entrou também o provedor Antônio Cardoso de Barros, uma espécie de ministro da Fazenda e Secretário da Receita.

    Cardoso de Barros foi nomeado a 17 de dezembro de 1548 e hoje a data homenageia os servidores da Receita. Ele foi comido no dia 6 de junho de 1556.

    O GENERAL TRIBUTÁRIO

    O general Marco Antonio Amaro dos Santos, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ofereceu uma contribuição ao debate em torno da Reforma Tributária. Levada à última consequência, ela dispensa todo o trabalho da ekipekonômica e dos parlamentares.

    O GSI trabalha na formulação de uma Política Nacional de Segurança Cibernética e concluiu pela necessidade de criação de uma agência do Estado para cuidar do assunto. Ela custaria R$ 600 milhões anuais.

    Fala o general: “Quando se apresenta um projeto de lei que gera despesa, tem de apresentar uma fonte para cobertura dessa despesa.”

    Sendo assim, ele propunha mais um tributo, o TCiber. Cada um dos atuais 57 milhões de usuários da internet pagaria cerca de R$ 1,05 por mês à Viúva. Amaro foi publicamente desautorizado horas depois, mas dada a posição que o general da reserva ocupa, sua ideia valeria um seminário.

    Eremildo é um idiota. Ele achava que a obrigação de só se projetar despesa indicando-se a fonte da receita, partia da premissa de que se entendia por receita o que estava contratado. Agora ele entendeu: cria-se a despesa e, com ela, um novo tributo para financiá-la. É mais fácil assim.

    Por essas e outras, Duarte Coelho teria morrido amargurado.

    O EXEMPLO DE SORAYA

    A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) destacou-se durante a última campanha eleitoral chamando o padre Kelmon, franco-atirador de Bolsonaro, de “padre de festa junina”. Tinha razão.

    Durante o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid na CPI do 8 de janeiro, Soraya cortou a carnavalização dos trabalhos pedindo respeito aos colegas que faziam piadas com as visitas ao militar.

    Não custa ouvi-la.

    OPPENHEIMER, O FILME

    Felizmente, a greve de Hollywood começou depois que o filme “Oppenheimer” estava pronto e estreia nos cinemas brasileiros nesta semana.

    Baseado no livro “American Prometheus”, de Kai Bird e Martin Sherwin, lida com superlativos. O filme dura três horas, Sherwin levou 25 anos para escrever o livro e o físico Robert Oppenheimer dirigiu o laboratório de Los Alamos, onde os Estados Unidos produziram a primeira bomba atômica, explodida no dia de hoje, há 78 anos. Nesse mesmo dia outra bomba foi embarcada para o Pacífico e sua história é sabida.

    Oppenheimer foi um gênio esquisito. Aos nove anos pedia aos colegas que lhe fizessem perguntas em grego para respondê-las em latim. Depressivo, aos 21 foi a um psicanalista e ele dispensou-o, por considerá-lo um caso perdido de demência precoce.

    Mulherengo e introvertido, fez a bomba e condenou sua proliferação. Nos anos 1950 caiu nas malhas da caça às bruxas do macartismo. Teve revogado o seu acesso a informações secretas e morreu em 1967, com a reputação restabelecida.

    O desempenho do ator Cillian Murphy no papel de “Oppie” foi saudado por quem viu o filme. Sem ser parecido com Oppenheimer, ficou igual a ele, graças ao seu talento. O diretor de “Oppeheimer”, Christopher Nolan, foi quem fez “Dunquerque”.

  2. O PROGRAMA POP DE LULA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Faz alguns meses, governo, BC (Banco Central) e bancos dizem conversar sobre o que pode ser feito de taxas de juros, como a do cartão de crédito, em especial do rotativo, de 455,09% ao ano. O governo não pode fazer quase nada, se algo, mas gostaria (a “ala política”) de ver um anúncio qualquer a respeito. Bancos discutem um modo de dar um fim ao crédito rotativo no cartão, linha que seria substituída por um parcelamento automático da fatia da dívida que não é paga no mês.

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado mais providências “pop”. Não por acaso, na semana que passou jogou no ar a ideia de uma espécie de programa “Mais Geladeiras”, desconto de impostos para eletrodomésticos.

    Também na semana passada o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos) disse a esta Folha que o “Voa Brasil”, começa em agosto. Não tem dinheiro do governo e é uma tentativa de vender cadeiras vazias nos aviões comerciais a R$ 200.

    A semana teve ainda o anúncio de que vai começar o Desenrola, que demora e, por isso, causa “frustração crescente” em Lula, como diz um assessor próximo. É apenas a “faixa 2” do programa, a renegociação direta de dívidas entre bancos e clientes com renda maior.

    O Desenrola “popular”, que pega a massa endividada, deve vir em setembro, se forem resolvidos problemas técnicos da plataforma de venda e renegociação de dívidas. O programa pode ter efeito relevante e foi bem pensado. A um custo relativamente baixo (no máximo R$ 10 bilhões de subsídios, em cinco anos), pode eliminar dívidas de uns R$ 50 bilhões.

    O resto é paliativo muito pequeno, se tanto, ou bobagem demagógica, como o “Mais Geladeiras”, primo mais novo do “Mais Carros”. O país inteiro pagou até R$ 800 milhões para que 95 mil pessoas e 30 mil CNPJs comprassem carro com desconto (que, em parte, comprariam de qualquer modo). A indústria continua na mesma, assim como a economia, e havia alternativa melhor para o dinheiro.

    A bobagem apenas não foi maior porque a Fazenda limitou o tamanho do estrago. Agora, ministros tentam dar um jeito de conter os danos do “Mais Geladeiras” ou enterrá-lo. Mais adiante, tentarão evitar o cumprimento da promessa de Lula de isentar de Imposto de Renda as pessoas que ganham até R$ 5 mil.

    A crítica a esse tipo de medida causa revolta. Os possíveis beneficiados acreditam, como em parte também Lula e gente do PT, que basta “vontade política” para fazer com que a vida melhore (cortar impostos, tabelar preços e juros etc.). Se fosse assim, até o inepto e inescrupuloso governo das trevas o teria feito (tentou, deixando rombos nas contas públicas que o governo Lula tem de administrar).

    “Tributem os mais ricos”! Sim, é preciso. Porém, não para dar desconto de IR ou gastar em demagogia que não fará coceira no crescimento. O imposto extra cobriria déficits do governo, diminuindo a necessidade de pedir emprestado (aos mesmos ricos), a juros horríveis. Esse vai ser o problema macroeconômico maior do governo Lula, a partir de agora; se encaminhado, pode contribuir para a queda de juros e para o aumento do investimento produtivo.

    Quanto a outros planos, gente do governo diz que está à beira de sair o plano de “transição verde”, que pode vir a ser uma intervenção bem pensada, mas de que nada se sabe.

    Mudanças institucionais profundas são abstratas, ininteligíveis e levam tempo para fazer efeito (como o plano fiscal, a Reforma Tributária, a lei de garantias, coisas que o governo vem fazendo ou incentivando). Surge então a tentação da demagogia, por vezes aliada a uma crença genuína, mas ignara. O risco é de partir para a ignorância em grande escala, criar ineficiências, arrebentar as contas públicas e, assim, a perspectiva de crescimento.

  3. O BRASIL PERDE QUANDO O DESENVOLVEMENTISMO GANHA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Na primeira reunião do recauchutado Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), o presidente Lula da Silva disse que “ficou uma briga de séculos: quem era desenvolvimentista e quem era financeirista (sic) – os financeiristas (sic) ganharam, e o Brasil perdeu”. Segundo ele, “está na hora de o desenvolvimentismo ganhar para que a gente volte a gerar oportunidades para 203 milhões de habitantes”.

    Seja lá o que Lula entenda por “financeirismo”, o “desenvolvimentismo” é bem conhecido. Ele se baseia na premissa de que a indústria tem um papel diferenciado em relação a outros setores, o que justifica uma parafernália de intervenções “estratégicas” do Estado na economia para favorecê-la, como barreiras protecionistas, créditos subsidiados, desvalorização da taxa de câmbio ou redução forçada dos juros. “Intervenção” equivale a “distorção” do mercado, mas é uma distorção “do bem”.

    A ideia do Estado indutor antecede em muito à industrialização do País. Na verdade, antecede ao próprio País: ela vem desde o Estado patrimonialista português e foi transplantada para o Império. O “nacional-desenvolvimentismo” foi a regra desde a ditadura Vargas até a ditadura militar.

    No início da redemocratização, o Brasil era uma economia fechada, com forte desequilíbrio fiscal, que se traduziu na hiperinflação. O hiato veio com o governo FHC, que investiu no equilíbrio fiscal, na abertura econômica, nas privatizações e nas agências reguladoras. Em seu primeiro mandato, Lula se comprometeu com essa agenda. Então, a crise financeira de 2007 serviu de pretexto para restaurar as velhas estratégias intervencionistas, multiplicadas exponencialmente na gestão Dilma Rousseff. O Brasil perdeu fragorosamente. Não só a participação da indústria na economia seguiu em queda livre, como o desequilíbrio fiscal – maquiado à base de “pedaladas” – escalou. No biênio 2015-16, foram pelo ralo quase 7% do PIB, deixando um rastro de mais de 14 milhões de desempregados.

    Como sempre, essas políticas foram implementadas sem qualquer cálculo de seus custos e benefícios nem metas de desempenho. O pensamento mágico – lapidarmente expresso na fórmula dilmista “gasto é vida” – é que basta jogar dinheiro em certos setores da indústria, sempre “estratégicos”, para que o crescimento milagrosamente aconteça. Não surpreende que o discurso desenvolvimentista seja tão favorecido por grupos de interesse que clamam ao Estado por proteção. Na prática, isso cria uma cultura de tolerância com a ineficiência e poupa os beneficiados de investir na produtividade para enfrentar a competição.

    A associação histórica do dirigismo estatal com o autoritarismo populista, mais do que mera coincidência, é fruto de afinidades eletivas. Ambos se reforçam mutuamente. Como já disse neste jornal o cientista político Sérgio Fausto, “a ideologia nacional-estatista é empregada para justificar a apropriação do Estado por grupos políticos determinados, o manejo discricionário das políticas e das instituições públicas e a asfixia da sociedade civil e das instituições” (ver A miséria do nacional-estatismo, 30/6/2013).

    Não por acaso, em artigo, também publicado neste jornal, em que apresentou sua nova política industrial, Lula disse que o CNDI daria “missões” à indústria (ver Neoindustrializção para o Brasil que queremos, 25/5/23). Tampouco é obra do acaso que o artigo não diga praticamente nada sobre o papel da defasagem do capital humano e do “custo Brasil” na defasagem crônica da produtividade do trabalhador e da indústria brasileiros. A solução populista é sempre jogar dinheiro fácil na demanda, e nunca o caminho difícil da qualificação da oferta.

    Em 1989, o então candidato tucano à Presidência, Mário Covas, defendeu que o Brasil precisava de “um choque de capitalismo, um choque de livre iniciativa, sujeita a riscos e não apenas a prêmios”. O que se viu foi um breve espasmo. Agora, Lula deixa claro que evitará esse choque a todo custo. O Brasil pode esperar por uma nova rodada de distribuição de prêmios a grupos de interesse corporativistas, clientelistas e patrimonialistas. As oportunidades para os 203 milhões de habitantes ficarão, como é a regra no país dos desenvolvimentismos, para as calendas.

  4. LÍNGUA ABSOLVIDA, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

    Desta vez foi o ministro do STF Luís Roberto Barroso quem deu com a língua nos dentes. Num evento da UNE, soltou um “derrotamos o bolsonarismo”. Foi o que bastou para os simpatizantes do ex-presidente pedirem o impeachment de Barroso e reforçarem suas convicções de que existe uma conspiração das elites estatais contra o seu grupo político.

    Barroso não é o único ministro do STF que fala e aparece demais. E isso é um problema porque as decisões do Judiciário só cumprem seu papel de pacificação social se forem percebidas, se não como justas, ao menos como imparciais.

    Já sugeri aqui que poderíamos imitar bolivianos e sul-africanos e criar uma capital judicial, instalando as cortes superiores numa cidade que não Brasília. Fazê-lo diminuiria as oportunidades de interação social entre magistrados e políticos, o que seria positivo. Não há nada mais prejudicial para a imagem de uma corte do que ver um de seus integrantes julgando o político que organizou uma festa para homenageá-lo.

    Receio, porém, que o problema seja mais profundo. Há uma tensão entre o que se espera dos ministros do Judiciário e a fórmula que usamos para recrutá-los. No nosso sistema, levam vantagem os candidatos com um perfil mais político, capazes de ver para que lado os ventos sopram e cultivar extensas redes de relacionamento.

    Não é de todo mau que seja assim. Especialmente juízes de cortes superiores devem estar atentos à dimensão política de suas decisões. Mas o resultado líquido é que acabamos selecionando pessoas que gostam demais de estar em evidência e de confraternizar com os poderosos.

    Não existe solução óbvia para o problema. Além de transferir o STF para Palmas (TO), sugiro que tentemos criar uma cultura que valorize o laconismo ministerial. Não acho que conseguiremos fazer com que só falem nos autos, mas creio ser possível convencê-los a falar menos, para que não tenham de morder a própria língua.

  5. A IRRESPONSABILIDADE DO SR. BARROSO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O sr. Luís Roberto Barroso, na condição de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), deveria ter declinado do convite para comparecer a um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado no dia 12 passado, e por razões óbvias: tratava-se de evento eminentemente político, do tipo que deve ser evitado a todo custo por juízes – aqueles que têm de ser vistos pela sociedade como imparciais. Já que cometeu a imprudência de aceitar, o sr. Barroso deveria ter ficado calado, pois qualquer manifestação sua ali poderia ser tomada como simpatia ou antipatia por este ou aquele político – e, recordese, políticos são julgados por ministros do Supremo. Como foi ainda mais imprudente e resolveu discursar, o sr. Barroso deveria medir cautelosamente as palavras – mas, como o País soube, estupefacto, o sr. Barroso cometeu a irresponsabilidade de jactar-se de ter “derrotado o bolsonarismo”.

    Ante o choque que seu comportamento causou, o sr. Barroso, em lugar de reconhecer o erro, de resto evidente para todos, tentou dizer que foi mal compreendido – ou seja, além de ignorar as interdições éticas impostas a quem exerce a magistratura, o sr. Barroso tentou responsabilizar a audiência pela confusão.

    Ainda há tempo para que o sr. Barroso se retrate para valer, considerandose, em primeiro lugar, que será sob sua presidência que o Supremo julgará alguns dos processos que pesam contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, líder do tal “bolsonarismo” que o ministro diz ter ajudado a derrotar. Nesse sentido, foi exemplar a cobrança do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco: “Se não houver um esclarecimento em relação a isso, mesmo uma retratação quanto a isso, até para se explicar a natureza do que foi dito, evidentemente que isso pode ser interpretado como uma causa de impedimento ou suspeição”.

    O mais lamentável dessa história toda é que o mau comportamento do sr. Barroso não foi um fato isolado. Ao contrário: há muito parece ter se instaurado no STF uma cultura na qual se considera aceitável que ministros do Supremo atuem como celebridades nacionais, aptas e disponíveis para comentar as mais diversas facetas da vida do País.

    Ignora-se uma das regras mais básicas da magistratura: o juiz fala apenas nos autos. Tão frequente é a violação desse dever, que o silêncio, que deveria ser o comportamento habitual de todos os ministros, se tornou algo extraordinário. A atitude discreta da presidente do STF, ministra Rosa Weber, tem sido uma absoluta exceção hoje em dia.

    Conforme a Lei Orgânica da Magistratura, juízes só podem se manifestar fora dos autos se a manifestação se der no exercício do magistério. Ou seja, mesmo que o sr. Barroso não tivesse dito o que disse sobre o bolsonarismo, já seria escandalosa sua simples participação num congresso da UNE, que não tinha rigorosamente nenhum caráter acadêmico. Infelizmente, vige no STF outra compreensão sobre o comportamento público que um integrante da Corte deve ter. Parece que alguns ministros pensam que tudo o que falam seja verdadeira “aula” à sociedade: todas as suas manifestações seriam “exercício do magistério”.

    Ao não reconhecer claramente seu erro, o sr. Barroso reiterou o modus operandi vigente no STF: o de que um ministro da Corte pode se manifestar sobre assuntos políticos, devendo apenas ter cuidado com as palavras.

    Todo esse deplorável episódio, cujos efeitos ainda serão sentidos por muito tempo, explicita o acerto da proibição da Lei Orgânica da Magistratura. Sejam quais forem a intenção e o contexto, toda vez que o juiz fala fora dos autos causa danos ao Judiciário e, em última instância, ao Estado Democrático de Direito. Não surpreende, portanto, que os liberticidas de sempre, interessados em desestabilizar o País, logo tenham aproveitado a chance para exigir o impeachment do ministro.

    O caso do sr. Barroso tem de ser ocasião de uma profunda mudança de cultura no STF. É preciso respeitar as limitações próprias da magistratura. Juiz não é celebridade. Caso contrário, entre outros danos, a autoridade do Supremo estará comprometida para julgar aqueles que tanto mal causaram ao País.

    1. Miguel José Teixeira

      Há muito tempo que os supremos ministros “se-consideram-se” deuses! Um até “se-considera-se” e “se-apresenta-se” como o CEO do SuTriFe! (CEO significa Chief Executive Officer, cujo labor envolve tomar decisões sobre todos os níveis da organização).

  6. Não tropeçou, apenas expressou aquilo que o reprime e pode estar nas decisões como magistrado. É revelador

    BARROSO TROPEÇOU NA LÍNGUA, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

    Era setembro de 2015, e o governo Dilma Rousseff caía pelas tabelas. Depois de participar de um seminário na Fiesp, o ministro Gilmar Mendes prenunciou o fim do ciclo do PT. Ele disse que o partido tinha o objetivo de “se eternizar no poder” e insinuou que o plano seria interrompido. “O que atrapalhou? A Lava Jato. A Lava Jato estragou tudo”, declarou.

    O impeachment de Dilma ocorreria no ano seguinte, num processo com as marcas da Lava Jato (que divulgou escutas ilegais da então presidente), da Fiesp (que bancou protestos contra a petista) e do próprio ministro (que impediu a posse de Lula como chefe da Casa Civil).

    A conversão de Gilmar num fervoroso crítico dos abusos da operação empresta uma ironia singular ao episódio. Mas aquela não foi a primeira nem a última vez que um ministro do STF fez comentários despreocupados sobre casos julgados pelo tribunal e seus impactos na vida política do país, enquanto confraternizava com uma entidade que tem seus próprios interesses no jogo.

    Luís Roberto Barroso tropeçou na língua ao participar de um congresso da UNE na quarta (12). “Já enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo”, disse o ministro, que presidiu o TSE durante a preparação das últimas eleições e enfrentou ataques da extrema direita às urnas.

    Tudo indica que Barroso tentava dar uma carteirada para a plateia de esquerda que o vaiava. Como a toga não serve para fazer enfrentamento político, o ministro precisou explicar, no dia seguinte, que se referia apenas ao golpismo do antigo presidente. Depois, ofereceu a mesma justificativa ao presidente do Senado, que chamara o comentário de “infeliz, inadequado e inoportuno”.

    Barroso poderia ter passado a semana sem a declaração e sem a retratação. Cobrar um voto de silêncio de integrantes do STF seria ingenuidade, assim como cair na onda de bolsonaristas que cobram uma punição. Mas os ministros precisam, no mínimo, evitar espaços com alta voltagem política e proteger seus juízos de tintas partidárias.

  7. Não são duas bolas fora. Um pede a cassação do ministro do Supremo que se despiu do espírito de magistrado e se vestiu num corpo de político para ter lado, e o outro é uma retaliação ideológica clássica de governo e não uma política de estado, como foi, na mesma medida, a instituição das escolas cívico-militares.

    DUAS BOLAS FORA QUE ATIÇAM O BOLSONARISMO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Vencer o bolsonarismo não é uma tarefa simples, não é algo que diga respeito a apenas um Poder ou uma instituição e requer inteligência e compreensão da panela de pressão que ainda está sobre a chama alta na sociedade.

    Nesse sentido, a declaração injustificável do ministro Luís Roberto Barroso num congresso da UNE, no qual ele nem sequer deveria estar discursando, e a forma como o governo Lula anunciou o fim do projeto de escolas cívico-militares podem até parecer eventos sem nenhuma correlação, mas são dois exemplos, num curto espaço de tempo, de como aumentar a pressão da panela, em vez de destampá-la.

    Barroso já havia se enrolado na própria língua quando, em abril do ano passado, poucos meses depois de ter deixado a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, disse em uma videoconferência a uma universidade alemã que as Forças Armadas estavam sendo “orientadas” a desacreditar o processo eleitoral brasileiro.

    Foi um bafafá — e contribuiu para acirrar as relações entre os militares e o TSE, que, paradoxalmente, enquanto ocupou o comando da Justiça Eleitoral, o próprio ministro tentou de todas as formas distensionar.

    A fala de agora é mil vezes pior, porque abre uma avenida para toda sorte de teorias conspiratórias de que o STF e o TSE teriam agido de forma política para derrotar Bolsonaro. Sua nota não melhora em nada a situação, pois não é uma retratação pública total, e sim uma reformulação do raciocínio que nunca poderia ter sido proferido por ele, e que ainda associa eleitores do ex-presidente ao “extremismo golpista”.

    Barroso assumirá a presidência do STF no segundo semestre, justamente quando os verdadeiros extremistas golpistas bolsonaristas serão julgados pela Corte que ele comandará. Para fazê-lo sem que fiquem o tempo todo bombardeando seu impedimento, tem de se retratar sem meias palavras.

    Olhemos agora para a forma como o ministro Camilo Santana anunciou o fim do programa de escolas cívico-militares. Era uma promessa de campanha de Lula acabar com essas escolas dispendiosas, que contratam militares da reserva em desvio de finalidade, contrariam a base comum curricular e não apresentaram resultados pedagógicos que justifiquem sua permanência.

    Mais: em quatro anos, Bolsonaro entregou pouco mais de 200 dessas escolas ineficazes, uma prova a mais do desastre que foi o Ministério da Educação em seu governo.

    Ou seja: houve sete meses, estudos técnicos e dados a granel para que o MEC anunciasse — de forma transparente, organizada e com antecedência para que as redes de ensino pudessem se organizar — que acabaria com esse modelo que comprovadamente era ruim, deu errado e só atendia a um capricho ideológico do ex-mandatário.

    Mas a forma pouco transparente e tardia com que foi feito o anúncio acabou gerando insegurança e desinformação para pais, alunos e gestores de educação e, pior, propiciando a aliados do ex-presidente falar em revanchismo, perseguição política e defender a permanência do modelo fracassado.

    Até mesmo adversários de Bolsonaro quiseram fazer uma média com os militares ao dizer que manterão as escolas, como foi o caso do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que encheu a boca para dizer que manterá uma (isso mesmo, umazinha) escola desse tipo que existe na cidade. Por que manter? Ele não achou necessário explicar, talvez porque o ministério tenha se furtado ao seu dever de explicar direito e para todo mundo de uma vez por que acabar.

    Se há uma área na qual o PT, Camilo Santana em particular, tem expertise e massa crítica acumulada é a Educação. Não por acaso foi um dos grupos de transição mais superlotados. Que essa decisão necessária e simples de anunciar tenha demorado tanto e, quando veio, tenha servido à narrativa bolsonarista, e não ao contrário, é mais um alerta de que “vencer” o bolsonarismo demandará mais inteligência e estratégia que as bolas fora da semana demonstraram.

  8. Bom dia.
    Obrigada por mais está homenagem ao nosso querido e saudoso Vereador Amauri Bornhausen.

    Ele foi gigante em DIGNIDADE
    num mundo onde MENTIR, ILUDIR, LUDIBRIAR, CONSTRANGER, AMEAÇAR e HUMILHAR faz parte do “jogo jogado”.

    1. Se é verdade que os políticos nos representam, eles precisam ser lembrados de que o eleitor e a eleitora também fazem e são a parte mais importante deste jogo jogado, mas sem aspas, que eles insistem em colocá-las no jogo particular deles quando chegam ao poder com os nossos votos.

  9. Infelizmente vereador Amauri deixou muitos órfãos na cidade, pessoas que não tem dinheiro pra pagar ou votos suficientes pra bancar candidaturas e que por conta disso continuam esperando calados na fila do esquecimento. Amauri deu voz ao justo, defendeu o que acreditava com unhas e dentes e nunca se deixou levar pelo toma lá da cá tão comum à vida política, mesmo com todas as ofertas recebidas. Está fazendo muito falta pra família e pra cidade.

    1. Se por um lado, Amauri faz falta para a família e a cidade, por outro, propositadamente, está esquecido pelos políticos que possuem sede de poder, trama e vingança

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