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PL LANÇA OFICIALMENTE O DELEGADO PAULO NESTA SEGUNDA. AO MESMO TEMPO COMEMORA A DESISTÊNCIA DO EX-PREFEITO ADILSON PARA SER PUXADOR DE VOTOS A VEREADOR

Patinando e exclusivamente dependente neste momento da marca e franquia do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, bem como do governador Jorginho Melo, o PL de Gaspar – depois de duas pré apresentações – lança oficialmente nesta segunda-feira à noite, na Sociedade Alvorada, uma marca do MDB local, dois gasparenses da gema, o delegado Paulo Norberto Koerich e o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff (candidato derrotado em 2020 com 22,21% dos votos válidos) a prefeito vice-prefeito, respectivamente, de Gaspar. O PL de Gaspar está associado nesta disputado ao União Brasil e ao PRD, fruto da fusão do Patriota e do PTB.

Esta é a notícia. Está em todos os noticiários. Previsível.

Por outro lado, o que ofuscou – por culpa do próprio PL – e apareceu de forma contida no noticiário da cidade – e por questões óbvias -, mas tomou conta dos debates nas redes sociais, aplicativos de mensagens e repercutiu como um fato estupefato e surpreendente, foi a ruidosa desistência da candidatura a vereador do ex-prefeito (2005/2008), o médico veterinário Adilson Luiz Schmitt, na época eleito pelo MDB, mas obrigado a sair dele e foi dar do PPS e PSB, para depois de ser derrotado na reeleição em 2008 e na tentativa de voltar em 2012 de voltar a política.

E isso se deu justamente uma semana depois de Adilson se reunir os amigos para num convescote particular para comunicar esta volta as disputas políticas. E a sua pré-campanha, aparentemente, vinha tomando proporções inusitadas. Tanto que o slogan era “um vereador por toda a Gaspar” e que bem retrata a foto oficial do encontro.

Estranhamente, a saída de Adilson da corrida política eleitoral foi comemorada no comando da campanha do PL, União Brasil e PRD. O presidente do partido, Bernardo Leonardo Spengler Filho, PL, limitou-se, friamente a lamentar, numa troca suscinta de mensagens com o próprio Adilson. Os demais, bem quietinhos vendo o circo pegar fogo.

Estes foram sinais claros de que Adilson – apesar dos acontecimentos, ainda declara voto em Paulo Norberto Koerich – era um estranho no ninho – não exatamente do PL, mas dos interesses que tomaram conta da candidatura do PL – e sempre será como explicarei abaixo. Em tese – fato que só as urnas de seis de outubro poderiam comprovar isto -Adilson, um nome municipalizado, seria um puxador de votos, capaz eleger pelo coeficiente eleitoral, pelo menos mais um vereador do PL e ampliar a base se a eleição de Paulo vier a acontecer.

Na verdade, se outro fato não for revelado, o PL de Gaspar olhou para Adilson com as lições deixadas pelo falecido e o mais ativo vereador da atual legislatura – mesmo tendo exercido apenas dois anos de mandato -, Amauri Bornhausen, PDT. Amauri, na Bancada do Amém onze dos 13 vereadores) não se ajoelhou para as atrocidades do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP. E na coerência, os incomodou como nenhum outro vereador de oposição. Adilson tem esta mesma índole combativa pela transparência e a coletividade.

E o PL – ou os que estão nele por oportunismo de poder contínuo – resolveu cortar o mal pela raiz. Trocou uma suposta bancada maior de vereadores, por uma bancada menor, mas amestrada. 

Adilson – o que inventou, lançou e deixou na mão a candidatura de Oberdan Barni, Republicanos, vinha recebendo avisos internos do PL de que era um “candidato indisciplinado” porque buscava votos em todos os lugares do município. Na verdade, Adilson estava sendo o bicho político obstinado e incontrolável que sempre foi, e o PL, em identidade, sem coordenação, sem liderança e sem rumo, não estava conseguindo enquadrar Adilson.

Melhor agora do que mais tarde. Adilson – não escrevi isto, mas falei reservadamente nos poucos encontros pessoais que tive com ele – estava metido num ninho das cobras que o picaram um dia e o fizeram ir para um longo período na UTI. Deixaram marcas e prejuízos, que se ampliam pelo não esquecimento dele sobre pessoas e fatos.

E por que?

A candidatura do delegado Paulo e do engenheiro Rodrigo a prefeito e vice de Gaspar, respectivamente – toda a cidade sabe, já escrevi aqui e até falei pessoalmente ao Paulo -, não são propriamente do PL, mas de um grupo de empresários que se cansaram dos erros e à falta de resultados de Kleber para eles. Esses empresários são os mesmos que Adilson quando prefeito os contrariou. Poderia dar certo ao estilo de Adilson? Claro que não.

AS MÃOS INVISÍVEIS DA CAMPANHA NO PL DE GASPAR

Quem toca a campanha de Paulo e Rodrigo é a velha guarda do PP, tendo a frente Pedro Inácio Bornhausen, do mesmo o PP, sob o comando do ex-vice-prefeito, e atual chefe de gabinete, Luiz Carlos Spengler Filho, tem candidato próprio, o atual vice, Marcelo, o que os empresários que estão com o delegado Paulo foram buscar para “casar” com Kleber em 2020 e assim não ameaçar a reeleição do escolhido por eles, Kleber. E ao longo dos anos, Marcelo que originariamente era PSD foi engolindo sapos e vendo escorrer pelos dedos as promessas desses mesmos articuladores dessa aliança. Nem mais, nem menos,

O PP foi parceiro na eleição de Adilson, via o vice, Clarindo Fantoni – que também está com Paulo sem sair do PP -. O PP- como o MDB – dificultou e boicotou o governo de Adilson. E para completar, o PL do delegado Paulo tem parte do MDB, por conta da origem do presidente do partido, Bernardo, cujo pai, já falecido, foi prefeito de Gaspar (1997/99, o único até agora a não completar o mandato. Foi substituído por Andreone Cordeiro dos Santos, PTB). Isto poderia dar certo ao estilo Adilson? Claro que não!

Ingenuidade, erro ou propósito?

A saída do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, da corrida eleitoral se surpreendeu por um lado o seu eleitorado, aliviou como expurgo na cúpula do PL, dos empresários e do MDB que ele peitou quando prefeito. Sabiam que ele não aguentaria a pressão. E não aguentou, segundo ele próprio diz por aí.

Mais do que isso, mostrou mais uma vez às fragilidades e à dependência da candidatura de Paulo e Rodrigo da franquia Bolsonaro; mostrou um presidente do PL de Gaspar que vai conforme a maré, apenas confiante na relação de adolescência com Bruno, filho do governador Jorginho – que morou em Gaspar quando ex-gerente da agência do falecido BESC. Muito mais que isso, mostrou como é “costurada” a colcha de retalho de interesses que é feita campanha, com gente que nem é filiado ao PL mas, inclusive, está no comando da candidatura e da campanha.

Paulo Norberto Koerich precisa sair do modo delegado, onde todos devem lhe subserviência por ofício ou então por medo, e ligar, urgentemente, o modo de político em campanha. E não será com uma linha direta a qual ele não está acostumado, mas inventada por marqueteiros em desespero, como mostra a ilustração ao lado.

A primeira escolha Paulo já vez e por terceiros, amigos seus deixando um dos seus se desgarrar. Se eleito, esta terceirização será uma prática? Foi esta a perigosa lição que ficou deste ato que resultou na debandada de Adilson. Foi isso que aconteceu com Kleber Edson Wan Dall, MDB e que apenas comanda as vinganças. É isto, que a priori está sendo rejeitado em Marcelo de Souza Brick, PP. Então… Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Um dos mais inconformados com a desistência da candidatura a vereador do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, foi o seu ex-articulador político e procurador geral do município no mandato de Adilson, o advogado Aurélio Marcos de Souza, também filiado ao PL. Ele não encontrava razões para tal decisão e o seu inconformismo estava na unilateralidade intempestiva, no modo de avaliação de Aurélio, de Adilson. “Não consultou ninguém do seu círculo de confiança”.

O seu inconformismo foi de tal monta, que Aurélio Marcos de Souza, ao relembrar fatos passados, não descartou, a possibilidade de que a desistência de Adilson Luiz Schmitt tenha sido um acerto para abreviar a sua mais nova viagem política. E Aurélio foi radical: bloqueou Adilson no WhatsApp.

Depois de receber vários recados por várias vias, segundo, Adilson Luiz Schmitt, e que relevou, ele não aguentou quando na Festa de São Pedro, o emedebista ferrenho, agora convertido em bolsonarista e cabo eleitoral de Paulo Norberto Koerich, Haroldo Roberto Medeiros, o Suca, o abordou e o acusou, sem provas, de estar pedindo votos para Pedro Celso Zuchi, PT.

“Estou crescido demais para viver neste inferno. Estes corvos que estão em torno do Paulo [Norberto Koerich] e Rodrigo [Boeing Althoff] só querem tirar proveito. Os donos da cidade se acham no direito de dizer quem pode e quem não pode ser candidato”, desabafou Adilson. E ele próprio caiu na cilada. Se tivesse ficado com Oberdan Barni, ao menos não teria sido humilhado, como diz ter sido, dentro do próprio campo partidário. Apenas passado dificuldades de estar num partido pequeno.

A cavalheiro. O ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, está rindo à toa e já mostra antecipadamente um traço marcante das suas três administrações: a arrogância. Escolheu Elizabete Calarrari, uma desconhecida para ser sua candidata a vice-prefeita. O que significa isso? Que a entidade Zuchi será suficiente para a sua eleição. Isto só se saberá lá em seis de outubro quando fecharem as urnas. Se eleito, a vice será decorativa. Não o incomodará.

O líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, foi um dos três vereadores que saíram cedo na sessão de terça-feira da Câmara. Foi para não ouvir a réplica didática de Francisco Hostins Júnior, ex-MDB, ex-líder de governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, ex-secretário de Saúde do atual governo. Anhaia na sessão anterior acusou Hostins Júnior de cuspir no “prato que comeu”. Voltarei ao assunto.

O pré-candidato a prefeito de Gaspar, Oberdan Barni, Republicanos, diz que vai anunciar o vice dele na entrevista que vai dar na sexta-feira que vem a Joel Reinert, 89,7 FM. Será um homem, assegurou. A convenção está marcada para o dia 27 de julho, na sociedade Alvorada, um reduto preferido do MDB para suas reuniões. Oberdan, é um egresso do MDB.

Na festa de São Pedro, o coordenador de campanha do PL de Gaspar, Pedro Inácio Bornhausen, PP, abordou Oberdan Barni, Republicanos, para desistir da candidatura e apoiar o delegado Paulo Norberto Koerich. Ao que Oberdan teria retrucado: “ora se eu tenho só 1% nas pesquisas como vocês mentem por aí, qual a razão de vocês quererem a minha desistência?” Pedro saiu fulo. Oberdan, continua pressionado depois que o governador Jorginho Melo fez um acerto com a cúpula do Republicanos para o PL colocar o cabestro no partido em Santa Catarina. Muda, Gaspar!

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14 comentários em “PL LANÇA OFICIALMENTE O DELEGADO PAULO NESTA SEGUNDA. AO MESMO TEMPO COMEMORA A DESISTÊNCIA DO EX-PREFEITO ADILSON PARA SER PUXADOR DE VOTOS A VEREADOR”

  1. A CASA DAS FUTRICAS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente Lula da Silva disse “dormir tranquilo” com o ministro-chefe da Casa Civil que tem. Em meio à verborragia sem filtros que exibiu em recente viagem à Bahia, Lula encontrou um modo singular de defender o titular da pasta e, em tese, seu principal auxiliar no Palácio do Planalto, o ministro Rui Costa. Ao atribuir méritos à Casa Civil, desabonou os demais ministros, embora sem citá-los nominalmente, e expôs a natureza das relações na Esplanada dos Ministérios. Um assombro.

    “A presença do Rui na Casa Civil, e a equipe que ele montou, é a certeza de que posso dormir toda noite tranquilo que ninguém vai tentar me dar uma rasteira”, disse o presidente, durante discurso em Feira de Santana. Para Lula, tanto Rui Costa quanto a secretária executiva do Ministério, Miriam Belchior, são úteis porque “nenhum ministro conta uma mentira” sem ser desmentido por ambos. “É por isso que muitas vezes vocês ouvem que há divergência entre Rui e outros ministros”, emendou.

    O ex-governador da Bahia tem sido objeto frequente de críticas de colegas ministros, é visto com ressalvas por muitos deputados e senadores em meio às dificuldades do governo na articulação política com o Congresso, está no epicentro de algumas das decisões mais questionáveis do governo e se tornou um dos principais personagens daquilo que os franceses chamam de politique politicienne – as futricas palacianas. Algumas vezes, há de fato choques de opinião que ecoam visões distintas, o que é natural num governo de coalizão multipartidária. Outras vezes, menos republicanas, revela-se tão somente o desencontro de ambições e de interesses.

    Seja como for, a declaração de Lula escancara a desconfiança que impera na relação do presidente com seus auxiliares – e quem conhece as entranhas do poder sabe a disposição de ministros e assessores para tentar driblar a força dissuasória e de comando que um presidente da República tem, omitir falhas, direcionar escolhas e se proteger do chefe. Sobretudo ante um chefe como Lula, que se vê acima do bem e do mal e explora as divergências internas para exercer seu poder como um árbitro ungido pelo Espírito Santo. Em muitos casos, porém, são problemas que não se restringem ao universo petista: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso incluía esse item na gaveta de problemas com os quais precisava lidar no exercício do cargo e no que chamava de “solidão do poder”.

    Há, contudo, singularidades na Casa Civil lulopetista e dizem respeito tanto à natureza da pasta quanto à competência frágil para cumprir o que lhe cabe. Como em outros governos – do PT ou não – a Casa Civil costuma ser considerada o ministério mais importante no Palácio do Planalto, pela atribuição de coordenação dos outros ministérios e pelo braço político que exerce. É um trabalho bastante próximo do presidente – literalmente, inclusive: a pasta fica um andar acima do gabinete presidencial. Na prática, o ministro ajuda o presidente a desempenhar suas atribuições. Numa ponta, tem perfil administrativo, avaliando e monitorando o trabalho de outras pastas e órgãos governamentais; noutra ponta, tem perfil de articulação política; entre uma e outra, exerce a tarefa de articular políticas públicas para executar obras estratégicas de infraestrutura.

    Em todas as pontes, porém, é evidente a baixa eficácia da Casa Civil de Lula. No front político são fartos os exemplos de fracasso do governo nas negociações com o Congresso. No administrativo, basta lembrar as sucessivas demonstrações de inépcia na condução das políticas prioritárias para o País. Em ambos, a Casa Civil tem sido um esteio seguro para que Lula seja Lula: aquele que ora dá bronca indireta nos demais ministros, ora faz valer seu apetite intervencionista, como se vê nas polêmicas envolvendo a Petrobras.

    Seja assegurando o rumo correto do governo e evitando a dispersão de iniciativas e prioridades, seja concentrando-se na articulação política, uma Casa Civil eficaz garante a tranquilidade necessária ao presidente da República. Permite a ele um sono tranquilo, portanto, mas não pelas razões informadas por Lula da Silva, mais preocupado em evitar rasteiras de ministros e em colher dividendos eleitorais do que melhorar o País. No fim das contas, quem não dorme tranquilo é o Brasil.

  2. O BRASIL QUE SURTA E DELIRA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Durante dois meses, o debate-boca sobre economia andou mais desvairado do que de costume. Foi aquela algaravia sobre déficits, isenções de impostos, juros e Banco Central.

    Ao final do surto, Lula 3 não terá conseguido jeitinho de aumentar a despesa de modo relevante, para efeitos práticos, sociais ou políticos. A promessa de contenção de despesas anunciada por Fazenda e Planejamento deixa quase inalterada a perspectiva de que a dívida pública continuará a crescer.

    Quanto ao déficit, pois, não aconteceu nada, para os que odeiam ou que amam contas no vermelho. Juros e dólar ainda mais altos deixaram um saldo ruim. Ficamos no mesmo lugar, com um futuro imediato mais danado.

    Em vez disso, poderíamos ter passado por conflito sério, em todos os sentidos da palavra. Por exemplo, uma disputa causada por um plano de Lula 3 de aumentar impostos sobre renda e patrimônio de ricos. Ou de diminuir aqueles benefícios tributários dos quais Luiz Inácio Lula da Silva tanto tem se queixado, mas sobre o que não propôs quase nada. Na verdade, cria ou defende mais isenções.

    Mais imposto progressivo ainda é providência necessária se quisermos conter o endividamento crescente e perigoso do governo; desde 2015 é necessária a fim de acelerar o ajuste e distribuir a conta de modo mais justo. Não será suficiente nem vai funcionar se não houver também contenção da despesa e reorganização do Estado. Contenção não significa redução.

    Em vez de conflito sério, tivemos um surto contraproducente, prejudicial até para interesses politiqueiros do governo.

    Vivemos conflitos fantasmagóricos, embora motivados por dores reais. Uma névoa grossa de ideologia abafa debates essenciais como impostos, uma reforma do SUS que barre a privatização da saúde, as opções duras da transição energética, a reforma da propriedade urbana, um choque contra a devastação ambiental, a escola péssima, o desemprego crônico, os juros altos —para ficar no mais óbvio.

    Relatos sobre o bunker luliano dizem que, na visão da “ala política”, bater na meta fiscal, no BC, nos banqueiros etc. renderia pontos nas pesquisas. Quanto custaram décimos de prestígio? Parece tudo louco e ignorante.

    Perto de 71% do gasto primário é social: Previdência (INSS), benefícios sociais (Bolsa Família, BPC, seguro desemprego etc.), saúde, educação, ciência. Outros 17% vão para servidores (salários, aposentadorias, pensões e benefícios).

    “Ah, e os juros?”. A receita do governo federal equivale ora a 17,7% do PIB. O gasto é de 20,4% do PIB. O déficit primário é, pois, de 2,7% do PIB, o que é financiado por mais dívida.

    A conta de juros da dívida, de 6,1% do PIB, é paga também por meio de mais dívida. Mesmo que a despesa com juros diminuísse, o que é desesperadoramente necessário, não haveria mais dinheiro para gasto primário (Previdência, benefícios sociais etc.), para os quais nem a receita atual de impostos é suficiente (há déficit primário).

    A despesa com juros é ora maior também porque a dívida federal cresceu. Era de 50,7% do PIB ao final de Lula 2 (2010), de 65,4% ao final de Dilma 2 (agosto de 2016) e está em 73,2%, crescendo rápido. Dívida crescendo sem limite eleva as taxas de juros, tudo mais constante.

    Parte da dívida federal é remunerada pela taxa Selic, definida pelo BC. Parte, de prazo mais longo, é definida no mercado de dinheiro. O BC pode diminuir a Selic em quanto quiser, até a zero, amanhã. As demais taxas subiriam. Se a lei mudasse (e supondo que não haja pânico explosivo), poderia até baixar taxas de outros prazos. A inflação ficaria sem controle; o dólar explodiria, causando mais inflação. O desastre iria além. Quem souber como fazer essa mágica dar certo, com modelos e planos: cartas para a redação.

  3. O MERCADO ACREDITOU NO GOVERNO, PERDEU DINHEIRO, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Vale o arcabouço fiscal, declarou o ministro Fernando Haddad nesta semana, depois de algumas reuniões com Lula. Não foi fácil. Precisou o dólar bater em R$ 5,70 para o ministro impor ao governo uma espécie de renascimento de sua agenda.

    Há várias interpretações para o episódio. O arcabouço fiscal, como lembrou Haddad, está fixado em lei complementar desde agosto do ano passado. Que fosse preciso reiterar isso, quase um ano depois, demonstra que o mercado tinha razão quando desconfiou que o governo Lula, a começar pelo presidente, pretendia driblar as regras do arcabouço para gastar sem limites.

    Essa descrença é recente. Há algumas semanas, o Boletim Focus, editado pelo Banco Central, mas resumindo as opiniões dos analistas de fora do governo, previa um cenário positivo para este e para o próximo ano: inflação em queda, juros idem e o dólar, imaginem, estável em R$ 5 até 2026.

    Com base nesse cenário, os investidores fizeram suas apostas. Não são bem apostas, mas aplicações financeiras com base em dados e expectativas, com o objetivo de preservar o capital e obter lucros. Não são especulações no vazio. Têm ligação com a economia real. Se o país crescerá com inflação baixa e ganhos de renda, então o varejo venderá mais. Logo, comprem-se ações das companhias varejistas. De modo mais amplo, se a economia vai bem no presente e tem boas perspectivas para a frente, as empresas ganharão dinheiro. Logo, a Bolsa de Valores é um bom local para colocar seu dinheiro.

    A atuação do governo, claro, constitui elemento fundamental na formação dos cenários. O governo Lula começou sob certa desconfiança, que se dissipou quando foi aprovada a lei do arcabouço fiscal, prevendo déficit zero nas contas públicas já neste ano. Houve críticas ao modelo, que busca equilíbrio das contas mais pelo aumento da receita que pelo controle de gastos. Mas, tudo bem, pelo menos havia uma meta de equilíbrio fiscal. Mesmo não chegando ao déficit zero, haveria alguma redução no tamanho do buraco.

    Como mostrou o economista Marcos Lisboa em artigo na Folha, o cenário implícito nos investimentos dos fundos multimercado, onde se fazem as tais apostas, era de confiança na política econômica. O mercado comprava alegremente papéis que pagavam juros de 5,5% acima da inflação. Lógico, se juros e dólar cairiam. Danaram-se. Deu o contrário, os fundos multimercado perderam dinheiro. Foram punidos por acreditar na política econômica oficial.

    As expectativas começaram a mudar quando, primeiro, o governo não obteve as receitas necessárias. Segundo, quando continuou gastando. Terceiro, quando anunciou que se não pudesse cumprir a meta de déficit zero, azar. Fica para o próximo ano. O arcabouço não vale, tal era a mensagem.

    Aí vem o quarto fator: as falas de Lula atacando o mercado e o Banco Central pela alta moderada do dólar e dos juros futuros. Moderada até então, pois o presidente conseguiu jogar o real ainda mais para baixo. O presidente e seu pessoal deveriam entender. Se o ambiente financeiro piora com a alta de dólar e juros, de onde tiraram que o mercado queria isso? Os diretores do BC nomeados por Lula obviamente sabiam que os fundos multimercado perdiam dinheiro. Não disseram isso a ele? E Haddad, não via ou não conseguia ser ouvido?

    Resumo: o mercado acreditou que o arcabouço valia e se colocou conforme essa crença; o próprio governo começou a desmoralizar o arcabouço; déficit em alta implica juros mais elevados; desajuste fiscal e ambiente nervoso levaram à alta do dólar e à perspectiva de subida da inflação.

    Depois de suadas reuniões, Haddad declara: vale o arcabouço. O tal mercado reage de primeira: cai o dólar, a Bolsa dá um respiro, os juros futuros começam a se acomodar. Sinal óbvio de que o mercado não queria, nem ganhava com o ambiente de descrença na política econômica.

    Como fica? Há um alívio, mas condicional. Depende de o governo efetivamente fazer os cortes de gastos que o ministro Hadad diz que serão feitos.

  4. MÚNIA FISCAL, por Carlos Andreazza, no jornal O Globo

    Fernando Haddad diz que Lula mandou preservar o arcabouço fiscal. Mandou preservar um corpo morto. Natimorto. A ver qual a melhor modalidade de manutenção para o presunto; também para anular o cheiro podre de matéria em decomposição faz tempo. Mumificação? Qualquer uma que ajude o projeto de empurrar a fatura para 2027.

    O natimorto “será preservado a todo custo”. É caro embalsamar? Talvez entre na categoria lulofiscalista do gasto “necessário”. O presidente reafirmou o seu empenho pelo equilíbrio das contas públicas nestes termos: “A gente aplica o dinheiro que é necessário. Gasta com educação e saúde o que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra. É compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá à risca”.

    Bastou. Deixa quieto. A semana foi dura. O dólar, abusado. Ninguém – entre os conspiradores contra a moeda nacional – quis se agastar com reflexões sobre a relatividade infinita do conceito de “aplicar o dinheiro que é necessário”. O endividamento público a quase 76% do PIB.

    O presidente mandou preservar a carne vilipendiada anunciando corte em despesas da ordem de quase R$ 26 bilhões. Em 2025. Promessa-puxadinho, para efeito paliativo, produto de pente-fino em programas sociais e benefícios previdenciários. Varredura empreendida sob cobrança do TCU. A turma do Planejamento ora dedicada à perseguição de proposta de lei orçamentária “sustentável”.

    Urgente rever gastos. Depois do ano eleitoral. A mumificação do futuro muito longe de atender a demanda que o mundo real imporá. E imporá ainda em 2024. À parte a forma que inventarão para maquiar a realidade, a necessidade de bloqueios orçamentários, neste ano, a ser maior do que o volume de cortes prometidos para o que vem.

    “Cumpra-se o arcabouço fiscal. Não há discussão a respeito” – bradou Haddad.

    Há, sim. O arcabouço fiscal já não é cumprido. Já não foi. Nunca viável. Adulterou-se a meta fiscal – rolada adiante – para folgar. (E não será pessimista a previsão segundo a qual, mesmo com esse refolgo, o objetivo fiscal continuaria infactível.) Que o ministro então lance a cousa no tempo correto: cumpra-se o arcabouço fiscal doravante. E acredite quem quiser.

    Temos memória. Pedalouse, em abril, para antecipar a fabricação de dinheiros, o Congresso alterando facilmente dispositivo da regra para adiantar a ampliação de despesas do governo independentemente de projeções orçamentárias.

    Foi pelo “necessário”. Entre outras coisas, num acordo, para recompor a base bilionária das emendas parlamentares de comissão. A nova fachada do orçamento secreto. Ninguém em Brasília acha que joga dinheiro fora.

  5. O REAL NÃO SUBIU A RAMPA, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo

    Há 30 anos, o Brasil tem moeda, graças ao Plano Real, que nos libertou da “cracolândia monetária” (apud Gustavo Franco). A Argentina tem um pedaço de papel pintado –e, por lá, despreza-se tanto a moeda que seu presidente ultraliberal almeja criar uma “concorrência entre moedas”. Celebrou-se o 30º aniversário do real num evento na Fundação Fernando Henrique Cardoso. Por que Lula não convidou os pais, os patronos e os guardiões do real para subirem a rampa e celebrarem no Planalto?

    Batizou-se “soberano” a primeira moeda de ouro cunhada na Inglaterra em 1489. “Só aquele que tem o poder de fazer lei pode regular a cunhagem”, ensinou Jean Bodin, no século 16. Moeda é um dos pilares da soberania nacional. O real é um patrimônio do Brasil, como o Pão de Açúcar e o Pantanal (que arde em chamas…). Mas, por algum motivo, o governo ignorou seu aniversário.

    O real nasceu em 30 de junho de 1994, quando concluiu-se a mágica genial de metamorfose da URV em moeda. Pérsio, Lara, Bacha, Franco, Malan, Ricupero e, claro, FHC e Itamar fizeram o parto. A nova moeda, porém, só foi batizada em 1999, no meio da turbulência cambial, por Armínio, que desenhou a trindade: câmbio flutuante, metas de inflação, equilíbrio fiscal. A maioridade veio ainda depois –e pelas mãos de Lula.

    O PT votou contra o Plano Real. Qualificou-o como golpe contra a economia popular, rendição ao império das finanças, submissão ao imperialismo. Contudo, na Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, Lula peregrinou à Canossa real, prometendo conservar a trindade. Cumpriu, com louvor, entre 2003 e 2004: no início de seu primeiro mandato, produziu os superávits fiscais que conduziram a jovem moeda da adolescência à idade adulta. Por que ele não juntou-se aos pais, patronos e guardiões numa comemoração do patrimônio comum?

    Do governo, emanou apenas um sinuoso artigo de Aloizio Mercadante consagrado, no fundo, a ocultar sua profecia original de que o real teria vida curta, um equívoco histórico ditado por obsessão ideológica. Nenhuma pessoa sã solicitaria de Lula uma revisão crítica de sua postura negacionista na hora do parto da nova moeda. Bastaria erguer um brinde. O gesto ajudaria a amainar a polarização política nacional que o presidente jura lamentar, isolando num gueto sombrio os fanáticos bolsonaristas. Por que não o fez?

    O Plano Real foi muito mais que um brilhante truque monetário –e, três décadas depois, ainda não se concluiu. Sem a limpeza das cavalariças financeiras, a hiperinflação não seria derrotada. Nos mandatos de FHC, foram saneados os bancos públicos, privatizaram-se estatais, o tão difamado Proer estabilizou o sistema bancário. As crises financeiras na Ásia e na Rússia (1997-98) romperam o cabo de nossa âncora cambial. No lugar dela, baixamos uma âncora fiscal. A flutuação do câmbio foi seguida, em 2000, pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

    Confiança é o outro nome de moeda. Com a solitária exceção do dólar, uma moeda estável não suporta pilhas crescentes de déficit público. Mas a “cracolândia fiscal” seduz os políticos: o pecado da inflação é logo punido por eleitores tungados, enquanto o gasto perdulário proporciona imediatos triunfos eleitorais. Por esse motivo, a cultura do equilíbrio fiscal não deitou raízes entre nós. Sempre damos um jeito de circundar as leis e as regras que ancoram nossa moeda.

    “Gasto é vida”. Foi Dilma quem proclamou, mas Lula já praticava desde o final do primeiro mandato, sob o escudo do ciclo internacional do dinheiro fácil e das commodities caras. O desastre nada lhe ensinou: no terceiro mandato, esquecido, prefere ler os parágrafos complacentes de Mercadante a reproduzir suas iniciativas virtuosas de 2003. Nessa via, sabota –com a interessada colaboração do centrão– o frágil arcabouço de Haddad. É por isso que o real não subiu a rampa.

  6. ELIAS MARTINS DA SILVA NETO

    Muita coisa se explica com esse texto, que: Política da muntio dinheiro. Infelizemente o que temos neste contexto, salvo pequenas excessões.

  7. Carlos Eduardo Bornhausen

    Eu não consigo entender estes que se dizem políticos aqui na cidade. Ontem (04/07), na sessão extraordinária pra ouvir os secretários, de boca cheia (eles) disseram inúmeras vezes que estão 100% a disposição pra esclarecer todas as dúvidas da comunidade e dos vereadores. Mas a comunidade não pode questionar sem ser enquadrada, sem ser perseguida pela legião de comissionados. Já o vereador (de vez em quando vereadores) que solicitam respostas mesmo via requerimento que tem prazo pra resposta, e/ou via mandado de segurança quando o prazo de resposta do requerimento não é cumprido, ficam esperando meses pra ter respostas “erradas” e/ “vazias”. Uma pena que tão poucas pessoas estejam realmente interessadas em assistir este teatro montado a poucos meses da eleição. Uma pena a desistência do Adilson, precisamos de mais pessoas com “culhão” pra falar a verdade na cara de todos, doa a quem doer dentro da câmara de vereadores, porque quem assiste as sessões da Câmara de Gaspar já percebeu que a renovação não vai se dar com estes que estão ali dentro.

    1. Acabo de assistir a gravação da sessão extraordinária. Impressionante. Circo. Armaram e se deram mal, mais uma vez. E outra vez, a dobradinha José Hilário Melato, PP e Roberto Procópio de Souza, MDB, com o chefe de gabinete e presidente do PP, Luiz Carlos Spengler Filho, bem como o padrinho dessa turma, o vereador líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, Francisco Solano Anhaia, MDB, operando para a lona não cair neles próprios. Muda, Gaspar!

    2. odete.fantoni@gmail.com

      Concordo plenamente contigo, Carlos Eduardo.
      É uma perda para o município a desistência do senhor Adilson Schmitt ao legislativo Municipal.
      Quanto menos REPRESENTANTES dentro do cercadinho, mais e melhor assistida será a comunidade.
      Mais que combater POLÍTICOS OMISSOS, precisamos de CORAGEM pra dizer NÃO aos poderosos que se julgam DONOS de Gaspar.

  8. GOVERNO MUDA DE ATITUDE, MAS “CORTE” É ILUSÓRIO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfim decidiu fazer algo para estancar a escalada de incertezas acerca da política econômica, que se materializava por meio da alta do dólar e dos juros.

    A providência mais óbvia a tomar cabia tão somente ao presidente da República —interromper a recente enxurrada de bravatas e diatribes contra o Banco Central, a política de juros, o mercado financeiro e as medidas sugeridas para conter gastos públicos.

    Na quarta-feira (3), um Lula calculadamente comedido esquivou-se de uma pergunta sobre o BC e o dólar. “Eu agora vou conversar sobre feijão e arroz”, disse, antes de discursar no lançamento do plano para a safra agrícola.

    “Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso deste governo desde 2003. E a gente manterá ele à risca”, foi a conclusão de seu pronunciamento.

    Houve mais. No mesmo dia, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, declarou ter ouvido de Lula a determinação de que as regras orçamentárias para a contenção da dívida pública devem ser preservadas “a todo custo”.

    Isso significa, segundo Haddad, que o governo está disposto a bloquear despesas para cumprir a meta de reduzir o déficit do Tesouro para perto de zero neste ano.

    Ademais, anunciou-se que análise técnica conduzida nos últimos 90 dias identificou despesas indevidas de R$ 25,9 bilhões em benefícios sociais, que serão “cortadas” do Orçamento do próximo ano.

    A inflexão da administração petista produziu algum alívio imediato, também refletido nas cotações do dólar. Mitigam-se, ao menos por ora, os piores temores quanto às inclinações gastadoras e intervencionistas reveladas pela verborragia de Lula. O conjunto de anúncios, porém, é fragílimo.

    Um contingenciamento emergencial de gastos será bem-vindo, mas neste momento as projeções do governo para receitas e despesas —e, portanto, para o cumprimento da meta fiscal— estão plenamente desacreditadas. Não parece provável, assim, que a medida se dará na dimensão necessária.

    O “corte” prometido para 2025 não passa de uma reestimativa de custos, a ser verificada. O pente-fino nos benefícios é sempre salutar, porém equivalerá a enxugar gelo se não forem revistas as regras que impõem a alta contínua de desembolsos obrigatórios.

    Não merecem maior consideração, por fim, as juras de responsabilidade do mandatário, desmentidas por outras declarações e, sobretudo, por atos. Lula, que instituiu uma regra fiscal cada vez mais percebida como insustentável, ainda governa como se desfrutasse da fartura circunstancial de recursos de seus primeiros dois mandatos.

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