Se já era temerário tirar dinheiro do caixa afrontando as outras prioridades nas áreas de saúde, educação, assistência social, obras e manutenção – como as simples roçadas – para comprar um terreno da Furb lá em abril de 2022 por R$14 milhões, pior mesmo, foi comprá-lo sustentado por empréstimos e dizer isso publicamente, para que disso não restasse nenhuma dúvida ou irregularidade de procedimento administrativo.
A Bancada do Amém (na época MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) aprovou esta compra nestas condições, em regime de urgência, sem discussões, sem ouvir a sociedade e que se queixou não só perdeu tempo, foi marcada e zombada. O PL 13/2022 que foi relatado por Francisco Hostins Júnior, hoje no PL, mas naquele tempo estava no MDB do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP.
Compra com dinheiro emprestado é isso que diz o PL com todas as letras na sua justificativa assinado pelo prefeito Kleber. Foi isso, que todas as comissões da Cãmara referendaram. É isto que está escrito e todos leram:
“Esclareça-se, por oportuno, que o valor a ser pago na aquisição do imóvel está condizente com o mercado, no importe de R$14.000.000,00 (catorze milhões de reais), sendo adquirido com operações de crédito do FINISA da Caixa Econômica Federal“, escreveu Kleber no dia 14 de março na peça que enviou à Câmara de Vereadores.
Este financiamento – e outros – havia sido aprovado anteriormente por todos os vereadores. Tudo sob chantagem política de que, se não aprovassem, do jeito como o governo queria, estariam atrasando a vida, os investimentos urgentes, as prioridades e até, vejam só, o desenvolvimento de Gaspar. Tudo como alegava Kleber, por mera picuinha política.
O que aconteceu, de verdade e isto registrei aqui?
Alguns vereadores, queriam apenas explicações mais detalhadas sobre capacidade de endividamento e tentar, e até rubricar o uso desses recursos nos seus interesses e prioridades. O governo foi ao revide alegando que feria sua autonomia executiva. Discursou, deu sucessivas entrevistas – aquelas sem perguntas inconvenientes. Usou a imprensa local, não este espaço, é claro, insinuando que os vereadores, por questões políticas estavam atrasando o processo de aprovação das autorizações dos empréstimos. Tudo no escuro. Nem esta chance tiveram de esclarecer.
Ao final, desgastados, os vereadores que pediam mais tempo e mais informações do paço municipal, fizeram um acordo de compadres para evitar o desgaste político a que estavam submetidos pela máquina do governo que naquele tempo era de Kleber com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, e aprovaram os empréstimos. Deu no que deu.
Na verdade, foi um cheque em branco que os vereadores deram para a prefeitura ter autorização para contrair empréstimos de mais de R$150 milhões de reais, sem que tivesse lastro para isso na época, e usá-los em obras de infraestrutura, como discursaram e juravam os governistas. Está gravado. Nunca se mencionou, por exemplo, que parte destes empréstimos seria usado na compra deste terreno. Ele está lá sem projeto, criando mato e cuja avaliação de mercado é menor a que se pagou.
Entenderam como funcionam os políticos em Gaspar e o atual governo de Kleber e Marcelo?
Entenderam porque é preocupante que pelo menos dois pré-candidatos a prefeitos – Paulo Norberto Koerich, PL, e Pedro Celso Zuchi, PT -, questionados a respeito sobre o que fariam com o terreno se eleitos, estarem ainda, em completo silêncio em algo tão sério que delapidou, nas prioridades, os cofres da prefeitura que eles querem gerir a partir do ano que vem, se vencerem em seis de outubro deste ano?
Com o comportamento de avestruz, ambos parecem concordar com o que foi feito.
Paulo, por exemplo, estava ontem em São José. Foi lá fazer o quê? Posar, novamente, em fotos e vídeos com o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL. Eles sorrindo e Bolsonaro, mais uma vez de cara fechada.
No fundo, é mais uma tentativa de melhorar a performance de Paulo e Rodrigo nas pesquisas. Sem esta bengala, as chances diminuem muito. Zuchi, por outro lado, ainda em posição mais confortável, também continuava na moita sobre o que não se explica na compra do terreno da Furb e ainda mais com empréstimo. Quando, Zuchi se der conta de que, os tempos mudaram e que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é danosa para a sua candidatura, talvez seja tarde demais para abrir o bico e olhar para o que não se explica em Gaspar.
PROJETA GASPAR, A PROPAGANDA DA TRANSPARÊNCIA PELA METADE
Por outro lado, ao menos quem já tinha se ensaiado se candidato a prefeito pelo PT de Gaspar, Dionísio Luiz Bertoldi, diga-se, foi um dos que não aprovou a compra deste terreno, mas para não passar recibo de estar prejudicando o governo e Gaspar, aprovou anteriormente no escuro os financiamentos. Ele não sabia que Kleber e sua turma não sabia iriam dar este uso indevido na prioridade, a do nada. Dionísio abriu o bico.
“Se eu ganhar, vendo já no primeiro ano“, escreveu-me ao ler HÁ PRÉ-CANDIDATOS DECLARADOS A PREFEITO DE GASPAR QUE NÃO SABEM O QUE VÃO FAZER COM O TERRENO QUE A PREFEITURA COMPROU HÁ DOIS ANOS DA FURB PELOS EXAGERADOS R$14 MILHÕES. SERÁ QUE SABEM O QUE QUEREM PARA A CIDADE? no domingo a noite.
É uma saída. Ednei de Souza, do Novo, disse-me a mesma coisa. Oberdan Barni, Republicanos, ensaiou botar fogo nesse negócio, abrindo a ferida e ocupando a área com uma “universidade”.
Mas, vendê-lo é sacramentar o erro e com prejuízo para os gasparenses, tanto no valor de mercado quanto nos acréscimos dos juros e correções do empréstimo que permitiu a compra deste terreno pela prefeitura de Gaspar. Pouco vai adiantar vender ou ocupar ele com outra função. O problema é outro. E maior. “E já sei o que vou fazer com o dinheiro“, completou Dionísio, sem especificar exatamente no quê. Dionísio, continua insistindo que houve intermediação neste negócio que ele diz que o PT vai fazer questão de esclarecer quando ganhar em seis de outubro. Mas, esta é outra conversa…E perigosa.
Quem se saiu bem nesta foto foi o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, PL. Ele não precisou prejudicar os seus cofres para cumprir com as obrigações dele com a Furb e nem a Furb, precisou para saldar seus compromissos se socorrendo a banco nenhum pagar juros e correções monetárias sobre empréstimos. A prefeitura de Gaspar fez isso por eles. Por quê? Por quê do silêncio de Paulo e Zuchi diante de tudo isso se eles dizem serem diferentes? Neste caso, parecem serem iguais, inclusive na teimosia.
E para encerrar. Faz dias, o prefeito Kleber e seu vice Marcelo, seus “çábios”, marqueteiros e os puxa sacos de sempre, alardearam, depois de oito anos de zoeira, a implantação e a disponibilidade para a cidade de uma ferramenta de transparência para os cidadãos e cidadãs. Balela. Tente no tal Projeta Gaspar que está ai do lado encontrar nesta ferramenta, quanto dura e custa este financiamento de R$14 milhões contraído pela prefeitura, que segundo o site, o beneficiário desta compra foi a “população”. Zomba.
Este terreno ao final, se tudo for pago em dia, vai custar mais de R$20 milhões dos pesados impostos dos gasparenses. Bonito não é? E ainda tem gente muda e que vai pagar a conta. Mas, neste momento não está muda para pedir votos. Se eleito, não poderá reclamar. Foi informado e não teve coragem de emitir uma opinião sequer.
Esclarecimento necessário: de uma Câmara de 13 vereadores, os únicos três que votaram contra esta compra do terreno da Furb foi Dionísio, Alexsandro Burnier, PL, e falecido Amauri Bornhausen, PDT, mesmo pertencendo à Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB, este dois últimos recém desaparecidos por aqui).
Noves fora e para comparação a grosso modo. A Fecomércio está pagando pela sede da Sociedade Canarinhos, com o dobro da área e uma explêndida área construída e de lazer, bem conservada, R$5 milhões, numa negociação dura, reconhecida pelas partes envolvidas. A prefeitura, numa moleza sem igual, fará com que os gasparenses, paguem quatro vezes mais por um terreno nú, sem projeto, sem destino certo. Impressionante modelo de gestão e resultados. E todos estão brabos porque é só isso que se comenta na cidade e não se pode contestar. São números e fatos. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
As pesquisas internas dos partidões de Gaspar estão deixando seus “donos”, ou figurões, decididamente nervosos. Eles dizem não entenderem bem os números que enxergam. Culpam os institutos, a metodologia e até mesmo, o povo entrevistado que não estaria enxergando resultados e oportunidades. Será?
O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, estão inconformados com a avaliação do conjunto da obra deles próprios. No PL, a questão é outra: aritmética. A pergunta é como dois candidatos se unem e nas pesquisas eles, por enquanto, não se somam.
Por isso, está em curso, uma negociação, tida como secreta e em bastidores. Ela envolve o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, PP. Ele poderia voltar ao PL – onde assinou, mas não assumiu – e ser o candidato a deputado estadual de Gaspar e da região em 2026. Com isso, o PP – que parte dele já sustenta Paulo Norberto Koerich no PL – ficaria numa aliança branca com o PL. Nesta arquitetura, Marcelo estaria fora da corrida deste seis de outubro, o MDB de Gaspar isolado e enfraquecido. Falta-lhe nomes.
Marcelo de Souza Brick, definitivamente, se isto prosperar é um político de má sorte. Parece aquele surfista de trem que pode ser surpreendido por um fio. Até hoje, Marcelo só conseguiu ser eleito para vereador e esteve na boca de todas as chances e eleições depois disso. Uma hora se une com um, em outra, com outro, troca de partido aqui, outra vez lá. Acredita em papai noel e no fundo, sempre espera pelo próximo Natal. EMas, perguntar, não ofende: em 2026 o candidato do PL de Gaspar a deputado não era pela ordem Rodrigo Boeing Althoff ou o vereador Alexsandro Burnier, se o deputado Ivan Naatz for mesmo para o Tribunal de Justiça?
Conversa de dois políticos gasparenses se alfinetando. Um publica uma foto dele dizendo que estaria na praça do CEU (que pode ser pronunciada de céu). O outro retruca: “agora sabe onde fica” [a praça e exatamente pela proximidade da campanha]. Um gaiato retruca: “está morto”, como zomba e não ser uma preocupação ele estar no “céu”. E o político, espirituoso arremata: “cadáver político. Ainda tenta se mexer. A cremação está próxima”. Como se vê, a alma dessa gente já se foi há muito…
Falta dinheiro? Que nada. A nova sede da Superintendência Ditran de Gaspar na Rua São Pedro vai custar R$8.416,00 por mês. Já a biblioteca Dom Daniel Hostin, que deveria estar na antiga agência do BESC e que a prefeitura comprou com esta finalidade e se desfez recentemente, vai custar R$9.500,00 por mês. Já o Bela Vista Country Club, alugado parcialmente para a palestra do Google, vai receber R$21.673,54 para cobrir as despesas feitas lá…
Perguntar não ofende. Se numa redação gasparense se tem a informação de que o Gaeco de Blumenau estaria tomando depoimento de agentes públicos de Gaspar, porque este veículo não as publica? E não publicando, oferece de mão beijada a in formação a outro que não tem relação comercial e de interesses com o poder de plantão? Ou é pegadinha, ou se está obrigado ao silêncio, ou como se vê, a credibilidade está em outro lugar.
Aliás, as oitivas, inquéritos e processos que nasceram no Ministério Público da Comarca contra a administração de Érico Oliveira, MDB, de Ilhota, estão quase todos prontos. E vão fazê-lo dançar miudinho em plena campanha eleitoral. O corpo fechado de lá não é igual ao daqui.
11 comentários em “PARA COMPRAR O MILIONÁRIO TERRENO DA FURB A PREFEITURA DE GASPAR, NÃO TENDO DINHEIRO NO CAIXA, SOCORREU-SE DE EMPRÉSTIMOS. ENCARECEU-O MUITO MAIS. ENDIVIDOU O MUNICÍPIO. E HÁ CANDIDATOS A PREFEITO QUE CONTINUAM CALADINHOS SOBRE O ASSUNTO”
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SUSPENDER A CENSURA VIROU A NOSSA FORMA OFICIAL DE SUSPENDER A CENSURA, por Christian Dunker, do blog do Dunker, hospedado no portal UOL
Tendo a achar sim que a vida digital tem algo que ver com o decréscimo de nossa capacidade de escuta. Não só porque as pessoas passam muito tempo nisso, mas porque elas aprendem novos modos de estar com o outro, para o bem e para o mal.
Antes, quando alguém tinha uma crença bizarra ou fora de esquadro, sentia-se acuada e desenvolvia formas de se conter; agora ela encontra “parceiros” para tudo na internet, inclusive para o pior. E em grupo a gente fica valente. Em grupo na internet, então, parece que o Maracanã está nos aplaudindo, quando na verdade são quatro ou cinco simpatizantes
A liberação de censura depende essencialmente disso. Pensemos nas piadas ofensivas, contra um gênero ou um povo, quando é que elas acontecem? Para Freud, isso acontece quando temos certo tipo de “paróquia” que no fundo já pensa tudo aquilo individualmente, mas que quando se junta é levado a suspender a censura. E dali a pouco vão se juntar apenas para isso: suspender a censura.
É neste ponto que os objetos ou substâncias que podem ajudar nisso começam a substituir as palavras que faziam a mediação de aceitação e ultrapassamento da censura. De certa maneira, esta virou nossa forma oficial de diversão: suspender a censura. Quanto mais disso melhor, até o ponto em que em vez de falar e escutar, o ato de cruzar a censura resume o encontro. E aí entra esta ideia de que em grupo quem fala mais “alto” (no sentido de mais escrachado e chulo) e mais “baixo” (no sentido de desleal e intimidador), leva. Isso cria uma população de pessoas que só pode falar para emitir certezas e, consequentemente, à guerra aberta de opiniões.
Ora, como a gramática que liga as pessoas é esta da esquizo-paranoia (dividir para perseguir e perseguir para dividir) a solução prevista é o choque de massas vocais, que não estão dispostas à escuta, mas à dominação pelo eco. Essa moral de torcida uniformizada é duplamente surda: para os de dentro eu não preciso escutar porque sei o que eles vão dizer, e para os de fora, escutar é desnecessário porque afinal eu já sei quem eles são.
É importante lembrar que o narcisismo em si não é uma patologia. Sem o narcisismo seria impossível compartilhar socialmente nossos desejos e ideais. O narcisismo permite, por exemplo, que eu me reflita no outro, que eu me coloque no lugar dele, que eu o inveje por que ele tem algo que eu não tenho, que eu cobice ser o que ele é.
O problema começa quando temos uma patologia do narcisismo, que justamente me impede de exercer esta atitude reflexiva com o outro, porque ao assumir o ponto do vista do outro eu sinto que minha própria identidade está ameaçada. Ocorre que para funcionar e ser eficaz o narcisismo precisa da palavra, da palavra dita e escutada. Da palavra pessoal e insubstituível do outro, a partir da qual podemos nos reconhecer em uma instância terceira que nos compreende e define: a lei, a linguagem, a razão, ou seja lá que nome encontremos para isso, que torna possível a experiência de compartilhamento e de pertencimento.
Há exemplos muito menos espetaculares e muito mais corrosivos do declínio da escuta e da fala:
* São os casais, casados há muito tempo, que podemos reconhecer nos restaurantes porque eles não trocam uma palavra entre si ao longo de todo jantar.
*São os adolescentes que só conseguem falar do que bebem ou consomem.
* São os amantes que não encontram palavras nem mesmo para designar o abismo de falta de intimidade no qual vivem.
* São os médicos que não escutam mais seus pacientes, oprimidos que estão por receitas, exames e fichas que têm que preencher.
* São os professores que temem perder sua autoridade empenhando sua palavra além do roteiro para o qual são pagos.
* São as mulheres que vivem romances épicos, dos quais seus amantes jamais terão a mais pálida ideia.
* São os homens que temem colocar uma palavra, como “eu te amo” ou “case-se comigo”, no temor de que isso os comprometerá para sempre diante do tribunal imaginário da relação de compromisso.
* São os vizinhos que jamais se metem na briga de marido e mulher, mesmo testemunhando sua devastação.
* São os que sofrem cansados e em silêncio, imposto pelo temor de invadir a vida alheia, de um lado, e do outro lado, os que desejam ardentemente serem invadidos por algo que os tire da miséria ordinária de suas neuroses na qual vivem, mas que quando encontram esta palavra estrangeira, só sabem excluí-la como sinal de inadequação
RENOVAÇÃO DO PERSE É UM ERRO DE R$15 BILHÕES, editorial do jornal O Globo
Em mais um sinal de descaso com a responsabilidade fiscal, a Câmara aprovou na terça-feira um Projeto de Lei que prorroga o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, conhecido pela sigla Perse. Criado em 2021 para ajudar empresas a enfrentar a crise econômica provocada pela pandemia, o Perse se tornou mais uma evidência de como, no Brasil, o provisório e emergencial tende a perdurar por mais tempo que o razoável. Seu custo é significativo. Dados da Receita Federal mostram que consumiu R$ 10,8 bilhões em renúncias fiscais em 2022 e R$ 13,1 bilhões no ano passado. Se o texto for aprovado no Senado, mais R$ 15 bilhões deixarão de entrar nos cofres do governo até 2026.
A votação na Câmara aconteceu exatamente dois anos depois de o Ministério da Saúde divulgar portaria declarando o fim da Emergência em Saúde de Importância Nacional causada pela Covid-19. De lá para cá, o desemprego no país caiu de 10,5% para 7,8%, com acréscimo de 5,7 milhões de vagas. Desde novembro de 2021, a desocupação está abaixo do nível pré-pandemia, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do IBGE. O rendimento médio do brasileiro subiu 12% nos últimos dois anos. Esses números tiveram efeito positivo no faturamento de hotéis, bares, parques de diversões, feiras ou agências de viagem — principais segmentos beneficiados pelo Perse.
Ciente da realidade fiscal ingrata — todas as projeções sugerem que a meta de zerar o déficit neste ano não será cumprida, e as de 2025 e 2026 foram afrouxadas —, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez o que pôde para barrar a prorrogação do programa. Acabou cedendo diante da falta de força do governo no Congresso e da insistência dos parlamentares. Restou a possibilidade de reduzir os danos. Haddad tentava segurar a renúncia fiscal em no máximo R$ 8 bilhões, mas momentos antes da votação aceitou limitar o benefício a R$ 15 bilhões, sem correção da inflação. Também houve redução de 44 para 30 setores contemplados (a intenção do governo era limitar o total a 12). O PL prevê ainda um gatilho para o fim do programa. Se o valor previsto for atingido antes de 2026, o Perse poderá ser suspenso após audiência na Câmara.
O acompanhamento do custo será feito em relatórios bimestrais da Receita Federal. Na tentativa de reduzir o risco de fraude e lavagem de dinheiro, o Fisco também passará a habilitar as empresas interessadas em participar. As que faturam acima de R$ 78 milhões não terão mais isenção de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) a partir do ano que vem. Mas continuarão com alíquota zero no PIS e Cofins.
Para azar do brasileiro, os deputados resolveram fechar os olhos às evidências. Embora possa haver hotéis, bares e afins ainda em dificuldades, como insistem em dizer representantes do setor, a prorrogação do benefício não é mais justificável. A economia se recuperou da queda brusca provocada pela pandemia, e o montante já concedido em benefícios foi gigantesco. Parece evidente que o Brasil tem demandas mais urgentes. E o valor previsto até 2026 tornará bem mais difícil o urgente equilíbrio das contas públicas. Entre priorizar a racionalidade e ceder ao lobby dos favorecidos com a benesse, os deputados ficaram com a segunda opção. Um erro de R$ 15 bilhões.
A ILUSÃO DO BOLSA FAMÍLIA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Alívio e vergonha, acerto e desacerto, gigantismo e vulnerabilidade: se há no Brasil um terreno em que se constatam sentimentos aparentemente contraditórios e desconexos é nos números relacionados à pobreza, à miséria e à desigualdade. O País viu um novo exemplo dessas dualidades vexatórias com a divulgação da pesquisa do IBGE sobre rendimentos, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Dela se constatam boas e péssimas notícias – da demonstração de força do redivivo Bolsa Família à manutenção da desigualdade em níveis absolutamente inaceitáveis. Dada a natureza triunfante do lulopetismo, o maior risco é o governo optar pelo regozijo das boas notícias e ignorar os gigantescos desafios que as más notícias impõem.
A boa notícia é, primeiro, a constatação de que a expansão de programas sociais como o Bolsa Família ajudou a conter a desigualdade no País em 2023. A proporção de domicílios com algum beneficiário do programa atingiu níveis recordes, algo relativamente positivo depois da atabalhoada e eleitoreira criação do Auxílio Brasil pelo governo de Jair Bolsonaro, que não só demoliu as bases do Cadastro Único (CadÚnico) – porta de entrada dos programas sociais –, como eliminou as necessárias contrapartidas que o benefício impunha às famílias, como frequência escolar e cumprimento do calendário de vacinação das crianças. Para completar, a massa de rendimentos da população e o rendimento domiciliar per capita em 2023 foram recordes quando analisada a série histórica.
Mas isso não é tudo. A desigualdade só não piorou devido ao reforço do Bolsa Família e à recuperação do mercado de trabalho. Como o governo de Lula da Silva adicionou benefícios complementares conforme o número e a idade das crianças das famílias, o valor médio do rendimento per capita nos domicílios que recebiam o Bolsa Família em 2023 cresceu 42,4% na comparação com o ano anterior. Sem o Bolsa Família, a desigualdade teria piorado. No mercado de trabalho, mais gente obteve rendimentos, seguindo uma tendência desde 2021, mas a população de renda mais elevada conseguiu melhores salários, ampliando a distância entre ricos e pobres. Apesar de uma suave elevação na renda, trabalhadores menos escolarizados ficaram para trás.
Tais números oferecem uma constatação dupla e igualmente desabonadora: de um lado, a dependência em relação ao Bolsa Família para conter o avanço da desigualdade; de outro, mesmo sendo fundamental para reduzir o número de pessoas na extrema pobreza, o programa se mostra insuficiente para reduzir os níveis de pobreza e de desigualdade.
E nem foi criado para tanto. Apesar da prosápia lulopetista, programas de transferência de renda não produzem desenvolvimento social. Um torneiro mecânico que iniciou sua carreira décadas atrás pode ter subido na escala estatística da renda, mas, sem conquistas educacionais, aumento de produtividade, emprego com maior perspectiva de crescimento e condições melhores de saúde e saneamento, terá continuado no mesmo patamar da estratificação social original. Uma ascensão pela metade, frágil, de curto prazo e sujeita às intempéries e descontinuidades de ocasião. No caso de 2023, por exemplo, os ganhos tanto do Bolsa Família quanto do rendimento do trabalho foram neutralizados pela inflação.
É espantoso ainda haver tantos milhões de dependentes do benefício estatal para sobreviver. Estamos longe de acabar com a miséria e eliminar a desigualdade como um traço distintivo da formação nacional e, por essa razão, não se pode prescindir de um bom programa de transferência de renda. Mas isso continuará a ser insuficiente se não avançarmos nas condicionalidades do programa e, sobretudo, nos caminhos necessários para que eliminemos as vulnerabilidades e incertezas impostas à esmagadora maioria.
Originalmente, os formuladores do Bolsa Família previam que a porta de saída estaria nos filhos dos beneficiários – e ainda assim condicionada a uma soma complexa e contínua de mudanças estruturais. Uma geração depois, a luz no fim do túnel da pobreza é apenas um lusco-fusco.
Boa noite.
MDB de Gaspar está tão enfraquecido que nem as reuniões mensais com os filiados (reunião de comissionados) fazem mais. Seria falta de assunto? Ou falta de lideranças?
Enquanto o vice calça justa no PL, creio que não haja nenhuma intenção do PL querer formar uma “”aliança”” com ele, com duas aspas mesmo, não é a hora de mudar Gaspar? Porque então se encabrestar nos velhos?
Para encerrar, até sobrinha do assessor da Ana Paula Lima está agora comissionada na prefeitura. Seria esse o início de um “acordo” para as eleições de outubro? Agora azedou o caldo. Abraço
TODO MUNDO QUER GASTAR, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Lula pareceu, em dois momentos desta semana, um tanto irritado com essa “mania” de, vejam só, todo gasto ser considerado… gasto. Inconveniente, de fato. Quem não gostaria que suas compras no cartão de crédito fossem computadas noutra rubrica que não a do gasto e não precisassem ser pagas, não é mesmo?
Acontece que não adianta o presidente demonstrar inconformismo com a cobrança, que sempre houve e que também esteve presente em seus mandatos anteriores, pela responsabilidade fiscal. O sucesso do primeiro ano do terceiro mandato se deve a dois pilares: a defesa da democracia, feita em conjunto pelos três Poderes, e a demonstração do Ministério da Fazenda de compromisso com esse rigor fiscal.
Começar a se impacientar com isso no segundo ano, ao primeiro sinal de dificuldades nas pesquisas de avaliação do governo e na articulação política com o Congresso, acarreta grande risco de desarrumar a casa em vez de melhorar os indicadores.
Mesmo porque todo mundo parece disposto a esquecer que gasto tem de ser pago. Basta ver a inexplicável investida do Senado, capitaneada pelo presidente Rodrigo Pacheco, para ressuscitar um privilégio que não tem como ser justificado sob nenhuma ótica, com a malfadada PEC do Quinquênio.
Não adianta Pacheco posar de rigoroso e implacável com o Judiciário com a também questionável PEC que inclui no artigo 5º da Constituição a proibição ao porte de qualquer quantidade de drogas — algo que vem sendo discutido no mundo todo, mas isso é tema para outra coluna — e, para limpar a barra com os juízes, fazer essa média de recriar um dos poucos penduricalhos que tinham sido extintos na lista infindável de que são beneficiários juízes, procuradores e todos aqueles que pegarão carona nesse trem.
A ousadia do Senado foi tanta nessa que mereceu reparos até da turma da Câmara. O presidente Arthur Lira fez chegar a aliados de Pacheco e de Lula que está preocupado com a PEC dos penduricalhos e também com outras políticas, como a valorização real do salário mínimo, que fixa em 2025 o valor de R$ 1.502 para o benefício e indexa vários outros gastos, com impacto nas contas públicas que, segundo a avaliação de políticos de diferentes partidos, as tornará inviáveis nos próximos anos.
Não que a Câmara esteja disposta a fechar a boca e cortar gastos, nada disso. Deputados e senadores devem conseguir reaver parte dos R$ 5,6 bilhões em emendas ao Orçamento que haviam sido vetados por Lula, e a Casa de Lira prorrogou o Perse, programa de ajuda ao setor de eventos que o governo gostaria de ver extinto imediatamente, para voltar a arrecadar com a cobrança de impostos sobre as empresas da área.
Ninguém parece muito preocupado em enxugar gastos e harmonizar ações para destinar o Orçamento público a programas com evidências de contribuir para melhora da economia, redução da desigualdade e da pobreza e geração de empregos.
Há iniciativas interessantes nessa direção. Do pacote anunciado na segunda-feira com o sintomático nome Acredita, algumas medidas parecem bem auspiciosas se bem desenhadas e executadas. A ideia de fornecer subsídios para que beneficiários do Bolsa Família se tornem microempreendedores individuais, potencializem assim seus ganhos e, aos poucos, possam sair do programa e andar com as próprias pernas e com ascensão social se inscreve nessas categoria.
Qual o risco? O Congresso, assim como diz o dito popular sobre o inferno, está cheio de boas intenções. Medidas Provisórias costumam chegar ao Legislativo de um jeito e sair transfiguradas, transformadas em árvores em que são dependurados jabutis variados a depender dos lobbies influentes. Porque, na hora de gastar na conta da Viúva, todo mundo comparece, por mais que o presidente se inquiete com quem aponta essa verdade inconveniente.
A TUNGA DOS LIVREIROS, por Elio Gaspari, no jornal O Globo e Folha de S. Paulo
Reapareceu no Senado a velha ideia de tabelar os livros. Ela circula há mais de dez anos e, em 2018, esteve perto de sair, tramitando pelo escurinho de Brasília. É um caso especial de tabelamento, pois, enquanto o costume é tabelar uma mercadoria para impedir que se cobre a mais, nessa girafa pretende-se impedir que o comerciante cobre menos.
Desta vez, a tentativa de tabelamento parte do Senado. Lá, a senadora Teresa Leitão desarquivou um velho projeto propondo que, ao lançar um livro, a editora estabeleça um preço. Nos primeiros 12 meses, as livrarias não podem oferecer descontos superiores a 10%. Vai-se além: numa segunda edição, o tabelamento vigoraria por outros seis meses.
No século passado, um jovem chamado Jeff Bezos trabalhava no mercado financeiro e queria mudar de vida. Foi a uma série de palestras de editores e livreiros, surpreendeu-se com a imperfeição daquele mercado e teve uma ideia: fundou a Amazon.
Começou num galpão em Seattle vendendo livros pela internet e deu no que deu. Bezos revolucionou o mercado de livros e o próprio varejo. Entrega rápido e dá descontos. Hoje a Amazon é a maior livraria do mundo. Estima-se que tenha conquistado metade do mercado de livros no Brasil. Em seu rastro, editoras e outras empresas criaram serviços de vendas on-line. Algumas, como a rede varejista Americanas, deram com os burros n’água. Foi-se ver, e a rede havia sido saqueada.
Todo o comércio de varejo passa pela destruição criadora do capitalismo. Num primeiro momento, os supermercados tomaram uma fatia do comércio às lojinhas da rua. Depois, veio o comércio eletrônico redesenhando a venda de livros a xampus. Mas só os livreiros querem tabelar seus produtos.
Os livreiros têm uma aura apostolar. Afinal, um livro não seria um sabonete. Ilusão. Livros, sabonetes e caminhões são mercadorias. Tanto é assim que, há muitos anos, quando era mais barato imprimir um livro na China, algumas editoras passaram a rodá-los em Xangai, trazendo os volumes para o Brasil. As duas maiores redes de livrarias nacionais quebraram, muito mais por causa de suas acrobacias financeiras que pela concorrência. Quando as grandes redes afogavam as pequenas livrarias, ninguém falava em tabelamento.
Reclama-se que o freguês vai a uma livraria, consulta os volumes e, ao voltar para casa, encomenda-o eletronicamente. Os comerciantes que fazem essa reclamação fazem compras on-line e não pensam em tabelar os sanduíches. Ademais, todas as grandes editoras têm operações de venda eletrônica. Se cobram mais caro ou forçam a venda de livros físicos em detrimento dos e-books (mais baratos), o problema é delas.
O tabelamento de livros existe em outros países, como França, Alemanha e Espanha. A ideia é ruim, mas deve-se admitir que essas nações funcionam direito. Valeria a pena copiar também seus sistemas de saúde e educação públicos. Copiando só o tabelamento dos livros, o Brasil correria atrás de uma jabuticaba passada. Replica-se o que há de pior, reprimindo o que há de novo.
GREVES SOB LULA SUPERAM PRIMEIRO ANO DE BOLSONARO, por Johanns Eller, no jornal O Globo
O número de greves no setor público registradas em 2023, primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, superou ligeiramente as do mesmo período do governo Jair Bolsonaro. Os dados são do do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que monitora a atividade grevista a nível nacional.
Segundo o levantamento antecipado à equipe do blog , foram 629 greves registradas em 2023, frente a 566 no primeiro ano de mandato de Bolsonaro – um aumento de 12%.
A tendência de alta é constatada num ambiente de paralisações em órgãos estratégicos que, para sindicalistas e especialistas ouvidos pela equipe do blog, deve se intensificar ainda mais em 2024.
Entre as mobilizações do ano passado, no entanto, apenas 12% se prolongaram para além de 12 dias – patamar similar ao do governo anterior. Ainda segundo o Dieese, praticamente metade (47%) foram greves de advertência, com tempo de duração pré-determinado.
São situações bem diferentes, por exemplo, da greve na rede federal de ensino. Só os técnico-administrativos estão paralisados há mais de 40 dias. Segundo fontes do governo federal relataram à equipe do blog, a categoria é a mais delicada por ser a maior do funcionalismo público: são 200 mil servidores, quase 40% do efetivo total da máquina federal.
Só nestes quatro primeiros meses de 2024, o governo federal tem sido pressionado por paralisações de profissionais no Ibama, ICMBio, Comissão de Valores Monetários (CVM), Banco Central, auditores fiscais e agropecuários, além dos técnico-administrativos.
Lideranças sindicais ouvidas pela equipe do blog afirmam que o retorno do PT ao poder criou um ambiente muito mais favorável à mobilização do funcionalismo público do que na era Bolsonaro e também preveem um 2024 intenso e marcado por cobranças.
Paulinho da Força, líder do partido Solidariedade e principal expoente da Força Sindical, uma das maiores centrais sindicais do país, aposta que a mobilização no segundo semestre deste ano ficará ainda mais “aquecida” em função da movimentação de diferentes categorias nos últimos meses.
Deputado federal licenciado, Paulinho, que apoiou Lula em 2022, também vê uma nova fase do movimento sindical após os governos Michel Temer e Bolsonaro.
“Tendo mais liberdade, em um governo democrático, fica mais fácil das reivindicações aparecerem. Há uma retomada do movimento sindical, que teve uma queda violenta com a reforma [sindical de Temer], mas os sindicatos encontraram outras formas de sobrevivência e investiram na aproximação com as bases durante o governo Bolsonaro”, afirma o parlamentar.
Além disso, de acordo com Paulinho, há também uma insatisfação com o próprio governo Lula. “São muitos anos sem aumento e recomposição salarial. Há uma retenção salarial muito grande. Havia muitos compromissos do Lula para o setor [na campanha], mas nada foi feito. Estou dizendo isso como alguém que apoiou o Lula, além do meu partido. Há também uma frustração com o governo”.
O clima mais favorável para a mobilização dos sindicatos, tradicionalmente atrelados às bases de esquerda, é admitido pelo próprio Lula, que ingressou na política como sindicalista no ABC Paulista. No início de março, o presidente sugeriu ver a movimentação com bons olhos.
“Eu fiquei sabendo que o pessoal do instituto federal [sic] quer entrar em greve. Ótimo. Só o fato dos caras quererem fazer greve já é bom, porque no governo passado ninguém se metia a fazer greve. Então o fato do cara falar ‘porra, o Lula está no governo, eu posso fazer uma grevezinha’, é ótimo”, declarou o petista durante uma reunião com o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
Porém, na mesma ocasião, o presidente também reconheceu que nem todas as demandas serão atendidas, em uma referência tácita à meta fiscal do déficit zero encampada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Que bom que ele está exercitando o direito de reclamar, o direito de reivindicar. E a gente [governo federal] pode exercitar o direito de dar ou de não dar [reajustes salariais]. Quando a gente não pode dar, a gente sempre coloca a culpa na Fazenda”.
Um dos focos de preocupação da gestão petista é a possibilidade de novas adesões entre docentes federais. Na última sexta-feira (19), o Ministério da Gestão e Inovação (MGI), que já havia acenado com a concessão de reajustes em benefícios, se reuniu com técnicos em Brasília e propôs mais um aumento de 9% em janeiro do ano que vem e outro de 3,5% a partir de maio de 2026, no último ano de mandato de Lula.
Até agora, os técnicos só acataram a proposta dos benefícios, que prevê também reajustes dos valores do auxílio-alimentação, da assistência pré-escolar e do subsídio per capita de saúde complementar, mas votaram pela continuidade da greve. A categoria atrela o fim da paralisação à concessão de aumento salarial já em 2024, mas o MGI e a Fazenda argumentam que não há espaço no orçamento aprovado para este ano.
Em 2023, Lula deu aumento de 9% a todo o funcionalismo federal, mas os servidores cobram recomposição dos vencimentos pela inflação acumulada desde o último aumento antes do concedido pelo petista, assinado em 2016 na gestão Dilma Rousseff.
Procurado para comentar a tendência de alta das mobilizações grevistas durante o governo Lula III, o MGI não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Para Hélio Zylberstajn, professor sênior da FEA/USP e coordenador do salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o crescimento da mobilização sindical após o retorno de Lula à presidência já era esperado.
“Quando um grupo de trabalhadores decide fazer uma greve, ele faz uma análise do custo e do benefício dessa decisão. A diferença deste governo para o passado [Bolsonaro] é que o custo na gestão atual é muito menor”, avalia Zylberstajn.
“No governo anterior havia ameaça crível de descontar os dias parados, por exemplo. Acho muito difícil que um governo do PT chegue a esse ponto. Mesmo que não possa conceder os benefícios reivindicados, o Estado não vai reprimir. Na gestão passada não seria concedido nada e seriam reprimidos. Há um ambiente mais tolerante, mas também faz parte da democracia o Estado-patrão não ceder às pressões”.
Em relação ao cenário de paralisações em 2024, Zylberstajn ressalta que a tendência é que as mobilizações se intensifiquem em função da aliança entre diferentes categorias para ampliar a pressão sobre o governo – em especial tendo em vista as eleições municipais de outubro.
“Os trabalhadores do setor público em geral têm um poder de pressão muito pequeno, salvo determinados setores como a Saúde e a Receita Federal”, observa o docente da USP. “Por esse motivo devemos esperar um aumento na frequência das greves. O adensamento e a unificação dessas demandas fortalece o movimento e dá mais visibilidade às pautas”.
David Brandão, coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), entidade que apoiou Lula publicamente em 2022, também vê um “despertar” por parte da base sindicalista.
“Não elegemos Lula para ficar em casa, mas para ter esse espaço de luta pelo serviço público e pela educação. Vivemos um momento de falta de liberdade, muita pressão contra a gente sob Bolsonaro. Isso quebrou a esperança das pessoas e o sentimento de mobilização. Perdemos muitos filiados sob Bolsonaro”, argumenta Brandão.
“Essa não é uma greve de oposição, muito pelo contrário. Entendemos que agora temos um governo de frente ampla, com muitos lados envolvidos. Sabemos das divisões internas e queremos disputá-las também”, completa o sindicalista, citando como exemplos a ministra da Gestão, Esther Dweck, quadro do PT, e Simone Tebet (Planejamento), filiada ao MDB e que disputou a Presidência contra Lula.
Mas, para além de uma Esplanada dos Ministérios de composição político-partidária diversa, Lula se vê diante de querelas em torno do orçamento dentro do seu próprio quintal.
Com uma meta fiscal alvo de fogo amigo dentro do Palácio do Planalto e do PT, a mobilização do funcionalismo público reflete o dilema do petista, que no fim do seu primeiro mandato chegou a afirmar que era de esquerda, mas seu governo não.
Às turras com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), com quem vive um cabo de guerra pelo controle do orçamento, o presidente ainda se vê dependente de uma base de apoio vacilante na Casa, enquanto as diretrizes orçamentárias de 2025 já são discutidas nos bastidores do Congresso.
Tudo isso, somado à pressão do sindicalismo, indica que ficará cada vez mais difícil para Lula chegar a 2026, quando deve disputar a reeleição, com condições de renovar as promessas à base progressista – quanto mais cumpri-las.
Em resposta ao colunista , reforço que como pré-candidato entendo que o terreno em questão foi um péssimo negócio para os munícipes e principalmente um desrespeito aos comerciantes do centro da cidade . E principalmente , porque foram intimidados em seus questionamentos com a presença de vários policiais na sessão da Câmara , casa de leis e do povo, no dia da votação do projeto de lei . Já quanto a destinação do terreno sugeri na última coluna , que seja construído um centro de inovação tecnológica, principalmente pra indústria têxtil. Mas , amadurecendo a idéia com alguns integrantes do Novo , entendemos que o melhor , caso o Novo assuma a administração municipal, será construir com a sociedade civil organizada a uma solução viável do “problema “ gerado pela má administração do atual governo. Mas , uma decisão é certa. A Prefeitura deve continuar no Centro , pois o que falta não é espaço físico , mas boa gestão profissional . É isso que o Novo se propõe. E como modelo , temos Joinville.
A presidente da Câmara de Gaspar na época, era a jornalista Franciele Daiane Back, PSDB, que agora migrou para o MDB