Atualizado em 9h02min deste 15.08.23. A notícia que se esconde é esta: estamos em meados de agosto e a secretaria de Educação de Gaspar não conseguiu sequer preencher – mesmo com todas as facilidades emergenciais administrativas e legislativas criadas para a “emergência”- o quadro de professores da rede municipal. Pior. Depois das “férias” deste julho, houve uma debandada para outras cidades, principalmente Blumenau, onde em tese, paga-se menos.
Então não se trata exatamente de remuneração, mas de clima, perspectivas e respeito profissional. Alerta máximo.
O problema que se esconde quando a prefeitura cria press release propaganda (clique em) Avanços no ensino e valorização da educação de Gaspar – Município de Gaspar – que você deve acessar para comparar a maquiagem com este artigo – para preencher espaços sem debates e dizer que está tudo bem nesta área é este: falta gestão, muita politicagem e um claro desestímulo na vocação educacional com algo muito sério e que lida no presente com os fundamentos do conhecimento, formação, competitividade, inclusão e inserção no futuro das pessoas no mercado de trabalho.
E isto não é de hoje. Não está se corrigindo. E se agrava ainda mais, porque está interditado o debate aberto e profissional sobre este assunto em favor dos estudantes, no fundo, os mais prejudicados. O estranho mesmo é como políticos que se rotulam de jovens, ou da suposta “nova política” – o que é isso mesmo? – prejudicam crianças e adolecentes.
As queixas dos profissionais efetivos e principalmente dos contratados em regimes temporários é recorrente. Os primeiros estão com medo de tornar pública a insatisfação latente. Temem as costumeiras perseguições. Os temporários até falam entre eles nos aplicativos de mensagens mas também não querem se expor. Preferem se mudar para outras cidades e até para outras profissões.
Vamos por partes.
A educação municipal em Gaspar está atrasada há pelo menos 20 anos. A última secretária da Educação técnica, mas para os velhos tempos, foi a já aposentada Isaura Constantini Pereira. Nem o ex-prefeito (1989/92), Francisco Hostins, PP de hoje, PDC eleito e MDB para onde foi depois de virar a casaca, como educador, era atualizado ou visionário para o seu tempo quando secretário de Educação numa nomeação política compensatória que ganhou no governo de Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho, MDB (1997/99 porque afastado não voltou ao cargo). Nadinho era até então seu adversário. Neivaldo Silva, para o segundo e terceiro mandatos de Pedro Celso Zuchi, seguindo a cartilha petista, estruturou o aparelhamento para, sem alarde, dar fundamentos à escola baseada nas crenças pedagógicas de Paulo Freire. É ela quem vai estimular os votos em quaslquer candidato petista que se apresentar por aqui no ano que vem.
E a Educação com Kleber Edson Wan Dall, MDB? O melhor retratado está estampado no primeiro mandato com a gasparense e técnica da área, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB. O Ideb com ela piorou bem antes da pandemia de Covid-19 contra o futuro das crianças e adolescentes daqui. E na outra ponta, num acerto com o Ministério Público, ao invés de abrir vagas, fez um acordo para ter meio período nas creches municipais para trabalhadores, trabalhadoras e pais desempregados à procura de emprego. E de quebra foi eleita vereadora. Então a cidade tem pouco do que se queixar. A secretaria Educação virou uma máquina de votos e não promoção do conhecimento aos mais vulneráveis, a massa matriculada.
Quando se pensou que a saída Zilma para o Legislativo abriria, finalmente, uma janela de oportunidades neste breu do governo de Kleber e agora com Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, que avocou para si o espaço quando ainda estava no PSD, tudo piorou.
A secretaria de maior Orçamento no papel – porque a Saúde virou um ralo sem fim por causa do escurinho e descontrole do Hospital de Gaspar, sob intervenção, para onde vai a maior do dinheiro público – foi dada a um curioso da área, vindo de Blumenau, o jornalista Emerson Antunes, aparentado do novo prefeito de fato de Gaspar, o irmão de templo, deputado – naquela época estadual e agora Federal – Ismael dos Santos, PSD.
A arrogância e o erro de cálculo dele para com a cidade fizeram-no baixar a bola e ir à Câmara pedir desculpas para continuar como secretário. Era um anúncio que nada mudaria e que o espaço para atualização e difusão do conhecimento às crianças e adolescentes seria dos políticos e curiosos.
Depois disso só desastres e muito marketing. O press release não deixa dúvidas. E propositadamente não toca em nenhum destes pontos nevrálgicos, seja reconhecendo, seja prometendo soluções.
Gaspar continua sem vagas para a demanda atual e futura nas creches; a manutenção nos prédios de algumas escolas e creches continua precária; salas superlotadas de alunos; faltam professores, auxiliares; nossos alunos da rede municipal não possuem acesso a uma estrutura de turno integral, ou sequer contraturno ou de línguas estrangeiras. Por isso, natural e em decorrência disso, não são competitivos comparativamente. Não estão atualizados. Estão expostos ao ócio e tudo o que pode se encontrar nele devido a isto na experimentação como drogas, problemas familiares, sociais e até delitos. E aí entra outra área que falha porque é uma entidade comandada por curiosos que foram premiados só porque não tiveram votos nas urnas para se elegerem vereadores: a secretaria de Assistência Social
Só agora, a secretaria de Educação criou uma, repito, uma sala de robótica (foto que ilustra a abertura do artigo e é amplamente exaltada no press release), em uma única escola e marqueteia como se fosse uma conquista inusitada no mundo. Concursos, avaliações, disputas de criações e engenhos robóticos se há a todo final de semana em todo lugar do Brasil. E não é de hoje.
Antes da transmissão do conhecimento e aprendizado, a educação, ou a pedagogia do saber, é um ato de atualização e compreensão dos contextos sociais onde estão mundos distintos da docência e dos discentes os quais se completam para os resultados diferenciais para os egressos.
O mundo é outro – e quase a cada dia. Inclusive na sala de aula. Não basta olhar a escola de dentro dela. O turbilhão de mudanças vem e está disponível fora dela.
No caso de Gaspar, há o atraso motivado pelas gestões que ficaram enclausuradas naquilo que achavam que não mudaria.
E para complicar veio e há o hiato da pandemia. Há outro hiato – o das tecnologias que ainda não se sabe até onde os métodos tradicionais podem ser competitivos ou se integram ou interagem. E não apenas no âmbito da aplicação pedagógica, mas no domínio dessas técnicas por alguns docentes.
Concorrem o abrandamento das legislações. Há brutais mudanças de comportamento sociais, incluindo a ausência dos pais para com seus filhos; a confusão das queixas fundadas e despropositais de todos os tipos; acesso às drogas, violência, pornografia, sem falar na incompreensão da diversidade e como lidar com esta linguagem, demarcação de “terrenos”, poder de grupos que se identificam, bem como no bullying contra os mais fracos, diferentes etc.
Na evolução, há a exigência do segundo educador em sala, ou então, para acompanhamento aos que precisam de atenção especial no senso de inclusão. E para completar o anárquico, piora-se quando o gestor lava as mãos e incentiva que as queixas contra seus subordinados desaguem na própria secretaria de Educação contra professores, auxiliares e outros profissionais para que de lá tenham avaliação, julgamentos e punições erráticas.
Foi isso que se descobriu, por exemplo, na comoção do atentado a uma creche de Blumenau, quando se começou a discutir a segurança de professores, crianças e estudantes com a simples aumento dos muros.
Há outro muro. O perigo está dentro da própria escola, com indicadores e comportamentos de ausência de certos pais, gestores e até educadores. Sinais são vistos todos os dias e fingidamente ignorados. Antes de erguer muros, contratar mais segurança, e até segundo professor em sala de aula, os educandários estavam – e estão – precisados de mais diálogos, atualização e profissionais da área comportamental seja para a transição e o novo mundo na transmissão do conhecimento.
E uma secretaria de Educação que não consegue preencher os seus quadros, que não consegue dialogar com a classe, que prefere escolha políticas e até de curiosos para a gestão da pasta, está derrotando, desanimando e afugentando os seus próprios laços vinculantes entre o presente e o futuro. Estamos plantando atraso e a pobreza. Os governos e políticos ainda se sentem orgulhosos disso. Parte da sociedade dominada pela ignorância, também. Impressionante. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Pois é. Novamente os políticos vêm com a manjada pegadinha do ovo e a galinha para nos distrair e tudo atrasar.
Na sessão da semana passada na Câmara, o líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, PL, sei lá, ou PP, talvez, o vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, acusou o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, de estar com as denúncias que faz sobre o Hospital de Gaspar, de ser contra, ou querer prejudicar a imagem daquilo que deve explicação – por ser público – e não quer dar. Entre eles, os contratos milionários e principalmente no que foi dar o ar contaminado que inundou a UTI com internados graves Covid-19.
Esta acusação nem é nova. É repeteco daquilo que o governo fazia contra o falecido Amauri Bornhausen, PDT, que era da base do próprio governo. Resumindo não se trata de oposição. Trata-se de esclarecimento que a prefeitura, o Hospital, prefeito, vice e secretários tentam esconder. Quem não deve não teme. A negativa da CPI pedida pelo vereador petista só aconteceu porque o governo não possui respostas ou os vereadores possuem o rabo preso com o erro.
Tanto que dois vereadores governistas procuraram o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PDT, para se justificarem a não assinarem o requerimento pedindo a abertura da CPI. E mais do que isso: pediram para não serem “descobertos”, temendo problemas mesmo neste simples contato. Era preciso de cinco assinaturas. Ora, quando cai um avião por exemplo, apura-se as causas. E por quê? Para além de se achar os culpados, criar um círculo virtuoso de segurança para que o mesmo erro não se repita para a segurança da aviação do avião, tripulantes, passageiros e os que estão em terra. É assim que se consertam os procedimentos. E os políticos de Gaspar não querem isso para o seu Hospital e nem o usam.
Outra do atraso nascido da politicagem. O líder do governo Francisco Solano Anhaia, MDB, pediu ao vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, que ao invés de criticar o governo de Kleber e Marcelo, usasse ele os canais do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, para trazer recursos para as demandas da cidade ainda mais agora a prefeitura em estado de penúria no seu caixa.
Pois bem. O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, por requerimento, está pedindo e aguardando há tempos, projetos que possam ser merecedores de verbas federais. Nada até agora. Ou o governo de Kleber e Marcelo não possui projetos, ou está trabalhando contra a cidade, cidadãos e cidadãs. Afinal, um projeto, se encaminhado hoje para a burocracia federal, diante de tantas prioridades, vai ser analisado e transformado em viabilidade de recursos federais em dois ou três anos. Kleber e Marcelo sabem disso. E se armam para continuar no poder, estão eles próprios se prejudicando. Incrível!
O PP de Blumenau formalizou o pedido de filiação do prefeito de Blumenau, Mario Hildebrandt, Podemos. O que mostra isto? Que o partido de lá não quer imitar totalmente o MDB de lá que já morreu. Por falta de renovação e liderança, o PP resolveu ao menos importar gente que está na berlinda atualmente. Se confirmada a ida de Mário para o PP, ele levará mais gente com ele e poderá também ter reflexo por aqui.
O caso das taxas criadas nos cemitérios de Gaspar está rendendo diante do vacilo em não acompanhar o que se faz na cidade e da gritaria tardia dos vivos na preservação da memória dos seus mortos. Os vereadores estão se explicando. Todos os 13 votaram a favor do que se quer remediar. Mas, o que está lavando a minha alma neste caso? É a mudança da legislação para abrir brecha emergencial a um crematório. O que estava escondido já aparece. Na última sessão entre os que admitiram que a solução é o crematório, estava Dionísio Luiz Bertoldi, PT. Em certas noites, todos os gatos são pardos. Ainda mais os que rondam os cemitérios.
Toda semana há um Projeto de Lei na Câmara para complementar a retirada da autonomia e do dinheiro do Orçamento do Distrito do Belchior, que virou um apêndice sem importância da secretaria de Obras e Serviços Urbanos. Na semana passada foi o Projeto de Lei 61/2023 entre quase uma dezena para esta cirurgia administrativa e financeira. E tudo com o voto da vereadora do Distrito.
Chinelagem. Quando os eleitores e eleitoras possuem políticos de estimação, aumentam as chances deles se tornarem idiotas perante seus mitos. o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, vai se tornar conhecido como muambeiro para enriquecimento próprio e familiar. A necessidade de esconder as rachadinhas e outras manobras que obrigaram a exclusão do ex-ministro Sérgio Moro do governo dele e a permissão do fim da Lava Jato para a ressuscitação de de Luiz Inácio Lula da silva, PT, eram pistas deste final trágico.
Trucagem. O PT, a esquerda do atraso, governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a maior parte das grandes redações que os protegem são uma máquina de mentiras. O governador conservador de Tarcísio Gomes de Freitas, Republicanos, está no centro de ataques pela operação que a Polícia Militar paulista faz na Baixada Santista e deixou quase duas dezenas de bandidos mortos.
Qual é a manchete do portal UOL de hoje- que não é de direita, liberal ou conservador? ” Sob PT, Polícia da matou em 2022 mais que toda a polícia dos EUA”. foram 1.464 contra 1.201. E a mídia tradicional até então estava caladinha.
É por isso e outras que as disputas municipal de outubro de 2024 estão contaminadas pelos erros dos líderes nacionais. No caso do PT ele corre um sério risco se não ajustar a política econômica com a gastança que está promovendo sem ter dinheiro nos cofres, o que naturalmente, pressiona a inflação e aumento dos juros pelo Banco Central para combatê-la.
Neste baralho, como venho escrevendo, agrava-se em Santa Catarina, o tom imperial que o governo Jorginho Mello, PL, quer dar nas escolhas e alianças para deixá-lo melhor posicionado em 2026. Por enquanto, só tiro nos próprios pés.
O ex-presidente da República, Michel Temer, MDB, estará na quinta-feira, no Lira Tênis Club, em Florianópolis. Faz contatos e participa de um almoço de ideias promovido pela ADBC-SC. Será por adesão. O lote mais barato a R$250,00 (palestra e almoço) por pessoa em mesa de oito, já está esgotado. Quem vende é a plataforma. Clique em Almoço de Ideias ADVB/SC com Michel Temer em Florianópolis – 2023 – Sympla
Gaspar tem nova marca? Era Avança Gaspar. Como nada avançou, na semana passada surgiu “eu avanço com Gaspar”. Perguntar não ofende: no que mesmo estão avançando? Acorda, Gaspar!
9 comentários em “O VEXAME NA EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE GASPAR SE MEDE NA FALTA DE PROFESSORES EM SALA DE AULA, OU NA “FUGA” DE PROFISSIONAIS TEMPORÁRIOS PARA OS NOSSOS VIZINHOS. DESESTÍMULO, MEDO, INDIFERENÇA E ATÉ PROTEÇÃO”
O PT IMPRIMINDO A SUA MARCA. COMEÇOU CEDO DEMAIS
Não há crise hídrica. Não há crise de geração de energia elétrica. Não há demanda superior à oferta, até porque não há nenhum sinal de crescimento extraordinário nos setores de grandes consumo. Pelo contrário. Qual será a desculpa desta vez, além da incompetência, desatenção e gestão?
Lula, o PT e a esquerda do atraso, nesta manhã, colocou o Brasil sob apagão. Um apagão que está naquilo que está anunciado – E o Congresso Nacional concordando – mais gastos, mais dívidas, mais corrupção, mesmo com menos geração de caixa e muito, mas muito impostos contra os brasileiros, o crescimento econômico, mais empregos e perspectivas. Acorda, Brazil!
HOJE, excepcionalmente, publico três textos, escolhidos e pinçados de tantos que já li nesta madrugada e manhã na imprensa brasileira sobre a surpreendente “vitória” de um anárquico liberal nas eleições primárias para a presidência da república na Argentina.
Os textos, além da surpresa, demonstram atordoamento e falta de conhecimento e previsibilidade. E eles servem muito bem para a nossa reflexão. É a insatisfação que se retratou na eleição. Prefere-se um anti-político e anti-presivísivel ao que tudo ao que doente peronismo fez contra o país.Milei é o macaco tião deles, ou um tirica, mais intelectualizado.
A revolta dos argentinos expressos nas urnas é o que o PT quer fazer mais uma vez contra o Brasil e não aprendeu com o passado de erros, sacanagens e desastres. Foi ele quem produziu um tal de Bolsonaro. Avisado, mais uma vez, mesmo que lá das eleições de domingo da Argentina, o PT está. E se as eleições no Brasil fossem hoje, nem Lula, nem PT. nem a esquerda do atraso, nem Bolsonaro, mas talvez alguém na área conservadora e liberal, levaria as eleições tanto as presidenciais quanto parlamentares.
JAVIER MILEI E A IMPRENSA, por Joel Pinheiro Machado, no jornal Folha de S. Paulo
Se tem um país cujo povo está justificado em querer varrer o establishment para longe, esse país é a Argentina. São décadas de decadência que tanto a esquerda quanto a direita só fizeram agravar. Hoje, com inflação a 115%, juros a 118% ao ano e miséria galopante, a escolha por alguém com uma proposta econômica simples, radical e revolucionária —e que promete desbancar as elites políticas e tecnocráticas que governaram pelas últimas décadas— fica bem compreensível.
E é isso que Javier Milei, vencedor das primárias e favorito para a eleição, representa. Ele se define como “anarcocapitalista”, ou seja, a versão mais radical da defesa da propriedade privada, da autodeterminação individual e da livre iniciativa. Defende dolarização da economia, abertura econômica unilateral, legalização das drogas.
Essa posição pode estar errada, pode ser desastrosa se colocada em prática; tudo isso é discutível. Mas ela é objetivamente diferente da defesa de um Estado militarizado e nacionalista, altamente repressor, que busca subsumir as vontades individuais num projeto totalizante da cabeça do grande líder.
É no mínimo questionável, portanto, que um mesmo termo —”extrema direita”— seja usado para definir ambas em diversos veículos de imprensa. (Não é o caso da Folha, que tem optado por “ultraliberal”, rótulo que, aí sim, o descreve com mais precisão e exclui confusões com outros grupos).
Descrever o posicionamento de políticos em um rótulo é um expediente necessário para dar um entendimento imediato ao leitor, um mapa muito básico de como cada um se coloca nas questões que interessam ao país. Esses rótulos sempre serão imprecisos, isso é inevitável. O que eles não devem ser, no entanto, é parciais, escamoteando a preferência política do veículo no que deveria ser uma descrição objetiva.
Numa discussão puramente filosófica ou técnica os nomes não importam, basta que haja acordo quanto a suas definições. Tanto faz se chamamos a um político de “direita”, “centro-direita” ou “extrema direita”, desde que esses termos estejam bem definidos. No debate mais amplo, com a sociedade, os nomes importam e muito. Cada um carrega consigo toda uma gama de associações e sentimentos na alma do público; sentimentos que serão mobilizados no momento de se fazer escolhas.
É um vício intelectual bem brasileiro confundir rotulagem com refutação. Aplique-se um rótulo que fixa o objeto no campo do mal e você já o terá desqualificado de antemão. Não há jeito mais simples e direto de fazer isso do que associar alguém a Hitler. O rótulo “extrema direita” cumpre esse papel, mesmo que seus alvos não se assemelhem a Hitler; não sejam racistas, antissemitas, nacionalistas, militaristas, antidemocráticos, antiliberais, etc.
Assim, o uso de “extrema direita” para descrever Milei dá a impressão de que o veículo está contra o candidato. Hoje, quando diversas narrativas antagônicas competem em pé de igualdade, a estratégia de desqualificar pelo rótulo é transparente. Ela persuade leitores satisfeitos com o sistema a rechaçar o candidato sem pensar duas vezes, mas gera nos demais o sentimento contrário: o de que o veículo está fazendo o jogo do “sistema” que os eleitores de Milei querem derrubar. Na tentativa de desmerecê-lo como se fazia antigamente, acaba por fortalecer sua narrativa e intensificar a revolta que a alimenta.
BOLSONARO DA ARGENTINA, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paullo
O bolsonarismo afunda no Brasil, mas emerge na Argentina em crise. A vitória do economista de extrema direita Javier Milei nas prévias que definiram os candidatos presidenciais assusta o governo Lula, ameaça o Mercosul e o acordo comercial com a Europa e gera o temor de uma nova guinada à direita na América do Sul. Milei é o homem errado, no lugar errado, na hora errada.
Já chamado de “Bolsonaro da Argentina”, ele entra como favorito na disputa pela presidência ao defender ideias como a privatização da educação e da saúde e com um bordão que exprime o oportunismo de candidatos de extrema direita por aí, que foi relevante, inclusive, para a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, capitão insubordinado e péssimo parlamentar, no principal país da região: “Um chute na bunda dos políticos”, atiça.
Um fiapo de esperança de que ele seja derrotado surge da reação do mercado ao resultado das prévias: o peso despencou mais e o Banco Central jogou os juros para 118%. Ou seja, a hipótese Milei amplifica o fracasso retumbante dos sucessivos governos da Argentina, em especial do atual, do esquerdista Alberto Fernández. A crise aguda no país é política, econômica, social. É isso que embala a extrema direita de Milei, mas ele, em vez de projetar melhoras, acena com mais desgraça.
A América do Sul tem presidentes de esquerda no Brasil, Chile e até na Colômbia e Peru, tradicionalmente de direita e aliados dos EUA. Do outro lado, estão o convulsionado Equador, o (quase) sempre direitista Paraguai e o Uruguai, que andou na contramão de Peru e Colômbia, da esquerda para a direita (moderna, diga-se). A Venezuela? É uma ditadura, não conta.
Com a estabilidade no Uruguai e os solavancos da nova esquerda, principalmente no Chile, uma vitória de Milei afundaria a Argentina de vez e poderia arrastar vizinhos para uma direita tosca, agressiva, com horror a pobres, obcecada por armas e de viés golpista – como uma que nós conhecemos bem.
Lula, hoje no Paraguai para a posse do liberal Santiago Peña, precisa de paz e desenvolvimento aqui e na região para um lugar ao sol no mundo. Com Milei, assassinato na eleição do Equador, turbulência no Chile e broncas de Lacalle Pou, por causa da Venezuela, e de Gabriel Boric, contra o petróleo, fica difícil.
Se há um aspecto bom no risco de Milei virar presidente, é que o Brasil pode negar, com argumentos, pedidos de ajuda da Argentina. Com Fernández seria um escândalo, e com o autodeclarado “anarcocapitalista” Milei?
A REVOLTA DOS ARGENTINOS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Os argentinos estão a ponto de se rebelar contra o Estado, conforme se depreende do resultado das eleições para a escolha dos candidatos à presidência do país, em 22 de outubro.
Javier Milei, de extrema direita, angariou 30% dos votos válidos e atropelou as duas forças tradicionalmente rivais na política do país vizinho – o peronismo e a centro-direita, maculados pelo fracasso na condução da economia do país. A perspectiva de chegar em terceiro lugar na disputa presidencial dá a exata medida da profunda crise do peronismo.
A proposta de Milei de liberar a venda de órgãos é a menos chocante de sua inacreditável plataforma política, chamemos assim. Na hipótese de Milei ser eleito e conseguir implementá-la, o resultado prático será a desmoralização do establishment argentino, situação em que a política inexiste ou é apenas acessória do populismo.
Ao que parece, a irresistível ascensão de Milei é impulsionada pelos votos de jovens que não sabem o que é uma Argentina estável e próspera. São décadas de incúria, desmandos e corrupção que arruinaram a economia do país e minaram drasticamente a confiança dos cidadãos nos políticos e nos partidos. A alta abstenção, embora o voto seja obrigatório, reforça a sensação de desencanto e raiva.
A Argentina jamais esteve tão perto da ingovernabilidade, do caos econômico e da ruína democrática neste século. Nem mesmo quando a turba em desespero derrubou o governo de Fernando de la Rúa, em dezembro de 2001. Como sintetizou o jornal La Nación, a vitória de Milei nas primárias teve o efeito de um “terremoto”.
O surgimento de uma nova força política na Argentina, assentada no fortalecimento da democracia liberal e em propostas econômico-sociais coerentes e factíveis, traria confiança nos rumos do país. Eleitores, países vizinhos e a comunidade internacional tenderiam a aplaudir a terceira via. Nada disso se assemelha ao fenômeno Milei. Seu discurso contra as “castas” políticas vem acompanhado de promessas econômicas irresponsáveis, razão pela qual não surpreendem a desvalorização de 18% do peso e o aumento da taxa de juros no dia seguinte às primárias.
Sob a égide do Estado limitado e do livre-comércio, seu plano de governo oculta demônios capazes de apavorar os mais respeitáveis gestores e teóricos liberais. Milei quer eliminar o Banco Central, como meio de combater a inflação, e quer dolarizar de vez a economia – um passo além do que ocorreu nos anos 1990, com desfecho desastroso em 2001. O comércio seria liberalizado ao extremo. Os impostos e os gastos públicos sofreriam cortes ferozes, como se não houvesse subsídios sociais necessários num país em que metade da população é pobre. A dívida pública não é mencionada nas 34 páginas do plano.
Milei faz parte da onda populista de ultradireita, a mesma que gerou Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Viktor Orbán na Hungria. Não há dúvidas sobre seu desprezo pelo Estado de Direito e sobre a sandice de suas propostas econômicas, mas não será fácil para o peronismo e a centro-direita reconquistarem parte dos indignados que se entusiasmaram pelo candidato que promete implodir a Argentina.
Acrescente-se à nota “Chinelagem”: não moveu um fio de cabelo para a manutenção da prisão em 2ª Instância, já prevendo o seu futuro e o de seus pets.
Pois é.
COM ESCASSEZ DE RECURSOS, LULA LANÇA PAC DE R$1,7 TRILHÃO, editorial do jornal Valor Econômico
O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado na sexta-feira, em tudo se parece com os dois PACs anteriores, salvo nas condições financeiras, agora bem mais hostis aos investimentos públicos do que o foram entre 2007 e 2018. Os métodos do programa parecem ser os mesmos – discernem-se pouco as prioridades nas várias centenas de obras e programas listados. A rigor, é um ajuntamento de tudo o que pode vir a ser feito com tudo o que já vem sendo feito nos âmbitos federal, estadual e municipal, mais o desejo de obter investimentos privados da ordem de R$ 612 bilhões. O país precisa urgentemente ampliar investimentos em infraestrutura e a preocupação do governo é correta. O programa pode dar alguns bons frutos. O voluntarismo, a falta de gestão competente e truques contábeis para prover recursos transformaram os programas anteriores em um fracasso do tamanho das enormes expectativas que foram criadas.
A situação fiscal recomenda um programa mais focado e menos ambicioso. O primeiro PAC e o anúncio do segundo conviveram com superávit primários robustos. A execução do PAC revigorado, na gestão de Dilma Rousseff, contribuiu para afundar as contas públicas, ao ser envolto em pedaladas contábeis e corrupção. A defesa do presidente Lula do Estado “indutor” contra a “austeridade fiscal”, quando ambos não precisam se contrapor, dá ao novo PAC um sabor de velho e insinua um mesmo destino ruim, que deveria ser a todo custo evitado.
O governo pretende que o novo PAC movimente R$ 1,7 trilhão, sendo R$ 1,4 trilhão até o fim do mandato de Lula, em 2026. Os programas estão divididos em 9 eixos, mas dois deles (cidades sustentáveis e resilientes) e transportes consumirão R$ 969 bilhões, ou mais da metade do total previsto.
Acrescido da transição e segurança energética, com R$ 540 bilhões, somam R$ 1,4 trilhão, ou 82,3% do total. Nessa última rubrica estão os investimentos da Petrobras, com R$ 335 bilhões já incluídos anteriormente no programa de investimentos da estatal. Os gastos de capital de Petrobras e do Minha Casa Minha Vida totalizam R$ 680 bilhões.
Em suma, são os programas tradicionais de infraestrutura e mais petróleo que serão o centro do PAC, com incursões periféricas de R$ 53 bilhões em Defesa, R$ 45 bilhões em Educação e R$ 31 bilhões em Saúde, mais R$ 28 bilhões em inclusão digital e conectividade.
A intenção de investimentos em várias obras mostra contradições do governo não pacificadas. O desejo de combater o aquecimento global e preservar o ambiente se choca com as obras da Ferrogrão, que corta a floresta amazônica, e os 19 poços a serem perfurados pela Petrobras na foz do Rio Amazonas, na margem equatorial.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse, após elogiar a ex-presidente Dilma Rousseff, presente ao lançamento, que o governo não pretende com o novo PAC “criar cemitérios de obras paradas” – uma herança clara do megalomaníaco e heterodoxamente financiado PAC gerido por Dilma. Das milhares de obras paradas ou inconclusas voltam ao PAC a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), a Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco e Angra 3.
O novo programa abriga também a refinaria Abreu e Lima, vítima da corrupção da Lava-Jato. Orçada em US$ 2,4 bilhões em 2003, em 2015 já havia consumido US$ 18,9 bilhões, até ser paralisada. Na área do petróleo merecem destaque negativo o plano de construção de 25 navios para a Petrobras, depois de mais um desastre, com enorme desperdício de recursos, na tentativa de reerguer a indústria naval nacional.
O governo destinará R$ 371 bilhões do Orçamento Geral da União ao novo PAC. Na atual gestão, serão R$ 60 bilhões por ano, mas essa despesa está condicionada à aprovação do novo regime fiscal, que voltou à Câmara dos Deputados e está sendo protelada pelo Centrão, que visa mais cargos e aguarda uma reforma ministerial. O regime fiscal estabeleceu um valor nominal mínimo para investimentos, próximo dos R$ 70 bilhões, que será corrigido pela inflação. Como é um gasto discricionário, e recorrente variável de ajuste para excesso de despesas, há dúvidas sobre sua viabilidade. Se for derrubado pelo reexame da Câmara, o PAC fica sem injeção de recursos orçamentários. Se aprovados os recursos, o mais provável, o governo terá de cortar outras despesas discricionárias, já uma parcela ínfima diante de mais de 93% de gastos obrigatórios.
Outras ideias ruins vêm com os bilhões do PAC. Segundo o ministro Rui Costa, o governo Lula fará esforços para recuperar as empreiteiras que desapareceram com a Lava-Jato e “reabilitar a indústria nacional, para que voltem a ser referência no mercado internacional de construção”. Elas também foram referência continental em corrupção. Ainda não está morta no governo a ideia de que as empreiteiras paguem as indenizações acertadas por suas falcatruas com a conclusão de obras públicas que deixaram de realizar.
Estabelecido um núcleo de obras prioritárias, com gestão eficiente, o programa pode contribuir para melhoria significativa da infraestrutura. O governo deve evitar cometer os erros do passado.
“DEUS” DO BOLSONARISMO FOI DESCOBERTO, por Felipe Moura Brasil, no jornal O Estado de S. Paulo
Frederick Wassef é um personagem e tanto. Quando o bolsonarismo precisou tirar Fabrício Queiroz dos holofotes, em razão da investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apontou o ex-assessor de Flávio Bolsonaro como operador do esquema de apropriação de salários de assessores, o advogado da família hospedou Queiroz em Atibaia até o momento da prisão do hóspede.
Quando o bolsonarismo precisou resgatar o Rolex recebido como presente oficial pelo então presidente Jair Bolsonaro e vendido nos Estados Unidos pelo pai de seu então ajudante de ordens Mauro Cid, o general Mauro César Lourena Cid, Wassef recuperou o relógio, “retornou com o bem ao Brasil” e o entregou em São Paulo a Mauro Cid, que “retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente”, de acordo com os indícios coletados pela Polícia Federal.
A nota de Wassef sobre as revelações da PF é tão ensaboada quanto a sua atuação, na fronteira entre a defesa advocatícia e a participação nos rolos da família Bolsonaro. Suspeito de ter recomprado um objeto específico, ele negou uma venda genérica: “Nunca vendi nenhuma joia”.
Em 2019, quando Dias Toffoli, a partir de pedido de Wassef, suspendeu investigações baseadas em dados do Coaf, como aquela sobre Flávio, e em dados da Receita, como as que miravam as esposas de Toffoli e Gilmar Mendes, o advogado foi ouvido festejando sua articulação no STF e comentando a felicidade da família do cliente, com frases como “tá o Brasil inteiro me ligando e me chamando de deus!” e “o Flávio, o presidente, tudo infartado, chorando”.
Se a família Bolsonaro, que ainda atuou para blindar Toffoli contra a CPI da Lava Toga, contou com a boa vontade do ministro, a diferença é que o inquérito das milícias digitais, no âmbito do qual tramita o caso das joias, é relatado por Alexandre de Moraes, o algoz dos bolsonaristas no STF.
Desde 1983, quando era tenente e “deu mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de ‘garimpo de ouro’”, como registrou a Diretoria de Cadastro e Avaliação do então ministério do Exército, Bolsonaro sempre teve, enquanto finge demência, quem amenizasse, varresse ou limpasse a sua sujeira, deixada pela “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”.
Agora que o “deus” do bolsonarismo foi descoberto, a série “Better Call Wassef” talvez precise de um novo gerenciador de crises para o papel do titular..
NÃO MATEM O MENSAGEIRO, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo
Em “Vidas Paralelas”, o historiador grego Plutarco relata que o rei armênio Tigranes, ao receber a mensagem de que seu inimigo estava se aproximando, ficou tão irritado que mandou cortar a cabeça do mensageiro. Daí a expressão “Matem o mensageiro!”, que descreve o ato de culpar o portador de notícias indesejadas.
Atualmente, a expressão remete a ataques à imprensa quando ela divulga informações desagradáveis sobre pessoas e temas com os quais o leitor tem afinidade. Esse modo passional de lidar com o jornalismo parece ser seguido pelo STF.
Na última terça (7), a corte decidiu que jornais podem ser responsabilizados por injúria, difamação ou calúnia proferida por um entrevistado.
O processo tem origem em caso que envolve o ex-deputado federal Ricardo Zarattini, já falecido. Em entrevista para o Diário de Pernambuco em 1995, o delegado Wandenkolk Wanderley disse que Zarattini era o mentor do atentado a bomba no aeroporto de Guararapes (Recife), em 1966. Inocentado em 2013, o deputado entrou com ação contra o jornal.
O relator, ministro Marco Aurélio Mello (hoje aposentado), e a ministra Rosa Weber foram vencidos na decisão. Segundo o voto de Mello proferido em 2020, jornais não podem ser culpados por falas do entrevistado, desde que não emitam opinião. Disse ainda que, por se tratar de caso de repercussão geral, o entendimento pela responsabilização “sugere o agasalho de censura prévia a veículos de comunicação”.
A decisão do STF pode gerar o “efeito inibidor” (desencorajamento do exercício legítimo de direitos pela ameaça de sanção legal), que afeta o papel de vigia do poder público conferido à imprensa, um dos pilares das democracias modernas.
Não esqueçamos que, em maio de 1992, a revista Veja publicou uma entrevista na qual Pedro Collor de Mello denunciou um esquema de corrupção envolvendo o tesoureiro da campanha de seu irmão. Sete meses depois, Fernando Collor de Mello era afastado da Presidência por um processo de impeachment.