Hoje, véspera de mais um feriadão, com um catarinense do Alto Vale do Itajaí se explodindo em Brasília e sendo, por isso, manchete até no noticiário internacional, testei o “Gemini”, a Inteligência Artificial do Google – a referência da administração de Gaspar na área de Educação – para abrir este artigo. Perguntei por que as pessoas se auto enganam. E ela me deu várias pistas.
O autoengano é um mecanismo psicológico complexo que envolve uma série de fatores e motivos. Em essência, é quando uma pessoa cria uma realidade alternativa em sua mente, muitas vezes para se proteger de emoções dolorosas, situações difíceis ou para manter uma autoimagem positiva.
Existem diversas razões para o autoengano, algumas das mais comuns são:
- Proteção emocional: É uma forma de lidar com sentimentos como medo, tristeza, vergonha ou culpa, evitando confrontá-los diretamente.
- Manutenção da autoestima: Ao criar uma versão idealizada de si mesmo, a pessoa pode se sentir mais segura e confiante.
- Justificativa de comportamentos: O autoengano pode ser usado para justificar escolhas e ações que, de outra forma, poderiam gerar culpa ou arrependimento.
- Evitação de conflitos: Ao negar a realidade, a pessoa pode evitar confrontar problemas ou situações que a incomodam.
- Adaptação social: Em alguns casos, o autoengano pode ser uma forma de se adaptar a um ambiente social ou cultural que exige determinadas crenças ou comportamentos.
Quais são os sinais de autoengano?
Reconhecer o autoengano pode ser difícil, pois muitas vezes ele é sutil e inconsciente. No entanto, alguns sinais podem indicar que alguém está se enganando a si mesmo:
- Negação da realidade: A pessoa insiste em acreditar em algo que não é verdade, mesmo diante de evidências contrárias.
- Racionalização excessiva: Justifica seus comportamentos e decisões de forma exagerada, buscando sempre uma explicação lógica.
- Projeção: Atribui seus próprios sentimentos e qualidades negativas a outras pessoas.
- Idealização: Cria uma imagem perfeita de si mesmo ou de outras pessoas, ignorando suas falhas e imperfeições.
- Dificuldade em aceitar críticas: Se sente muito sensível a qualquer tipo de crítica, interpretando-a como um ataque pessoal.
Como lidar com o autoengano?
Lidar com o autoengano requer autoconhecimento e disposição para mudar. Algumas estratégias podem ajudar:
- Conscientização: O primeiro passo é reconhecer que você pode estar se enganando. Observe seus pensamentos e sentimentos, e questione suas crenças.
- Auto-observação: Preste atenção em seus comportamentos e em como eles se relacionam com suas crenças.
- Aceitação: Aceite que você não é perfeito e que todos cometem erros.
- Busca por ajuda: Um terapeuta pode te ajudar a identificar e trabalhar seus padrões de pensamento e comportamento.
É importante lembrar que o autoengano é um processo complexo e que cada pessoa é única. Se você suspeita que está se enganando, procure ajuda profissional.
Talvez também eu esteja me auto enganando e precise de ajuda. Afora, isto é preciso ir ao ponto fora da curva de gente que como agente público e político está exposta, até por que na maioria dos casos, é escolhida por nós pelo voto livre para nos representar e nos liderar.
O prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, achou no final de oito anos de mandato uma válvula de escape na Fecam – Federação de Consórcios e de Municípios Catarinenses – para si e o seu braço direito daqui, o qual teve que pedir o boné diante de conversas cabulosas gravadas, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. Kleber se tornou uma espécie de governador dos prefeitos catarinenses em fim de mandatos.
Cria, com isso, laços que não fez em oito anos de mandato como prefeito, quatro esperando a vaga de prefeito e outros tantos como vereador e presidente da Câmara. Abre espaços. Faz convescotes e esconde o desastre político que liderou nas últimas eleições, tudo por conta de resultados administrativos pífios sob seu comando.
O AUTO ENGANO I
Esta semana, de volta a terrinha depois do convescote da semana passada em Blaneário Camboriu, o prefeito Kleber recebeu visitas para mostrar suas obras que não convenceram o seu eleitorado a dar um voto de confiança na continuidade: a tal sala de informática chamada “Laboratório Maker” que só em meados do ano passado fez parte da reforma da Escola Norma Mônica Sabel, na Margem Esquerda, bem como abandonado ginásio vereador Gilberto Sabel, no Poço Grande, que foi transformado e aberto há poucas semanas – repito, tudo só após de oito anos de governo – numa réplica do que se tem na Mônica Sabel e na marquetagem criativa, a qual chamaram de “Fábrica”, e naquilo que já deveria estar na maioria das escolas de Gaspar.
Centralizaram na “Fábrica” para suprir esta demanda. Mas, por enquanto, uma escala logística de deslocamento permanentedos alunos das demais escolas para o aprendizado organizado e regular dos seus alunos naquele espaço, não há. E nem haverá. Estamos em final de ano letivo. Por enquanto, isso é tratado como curiosidade em excursões de alunos por professores abanegados. Vamos ao cerne do comentário. Kleber trouxe esta semana a Gaspar a supervisora de políticas educacionais da Fecam, Marinez Chiquetti Zambom, para conhecer estes dois espaços tidos por ele e a gestão dele, como modelares de sua administração.
AUTO ENGANO II
Por outro lado, há três semanas eu estava sem olhar as sessões da Câmara. E tomei um susto. E para não fugir da área de Educação, para evitar qualquer mal comparação, lá estavam as respostas para esta auto enganação e desastre eleitoral de Kleber, assim como do seu apadrinhado de última hora, o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, PP.
Os próprios vereadores da situação – uns porque já perderam e não vão voltar e outros, porque finalmente se vêem livres da obrigação de se auto enganarem coletivamente e com isso, e só depois de perceberem os votos minguarem por serem da tal Bancada do Amém (MDB, PP, PSD e que engoliram os nanicos sem votos PSDB e PDT), malharam o governo Kleber e Marcelo, pela situação caótica em que estaria a Escola Ferandino Dagnoni, no Gasparinho: sem diretor-adjunto há sete meses, sem professor de matemática há quatro meses, sem professor de inglês há 45 dias, sem professor de religião há 21 dias, sem..
Tudo isso, numa escola com mais de 500 alunos, que vai para 600 no ano que vem – foi projetada para 300 -, e que devido a isso, não tem salas de aulas para acolher com o mínimo, sem contar que sala de reuniões e a de teatro já viraram salas de aulas regulares neste improviso de acomodação por falta de planejamento, investimento e até respeito.
Kleber está mostrando aos visitantes a Norma Mônica Sabel com o seu Laboratório Maker, como se isto fosse a realidade da educação em Gaspar. Mostra a “Fábrica” no ginásio vereador Gilberto Francisco Sabel como outro exemplo de avanço na área da educação, mas nem a escala logística que movimenta diariamente o acesso dos alunos das demais escolas ao equipamento, numa isonomia do conhecimento a quem não tem sequer professores regulares ele omite. Impressionante.
Nas mesmas sessões da Câmara do mês de outubro e novembro, ouço dos vereadores que a Escola Olímpio Moretto, no Gaspar Grande, vai ter implantado no ano que vem a nona série. Já se sabia disso faz anos. Desde que a secretária de Educação era a professora Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, no primeiro mandato de Kleber e que ficou vereadora por quatro anos no segundo mandato, e é a presidente do MDB gasparense, mesmo assim, não se reelegeu por larga margem de votos.
Impressionante outra vez, principalmente para quem ao longo desses oito anos, publicou semanalmente várias fotos e textos nas redes sociais de reuniões com o seu secretariado no seu gabinete, exaltando o planejamento e alinhamento da equipe no seu gabinete para resultados pela comunidade, mas esqueceu do básico: a manutenção da cidade e no caso da educação, a adequação das escolas já existentes às ncessidades e realidades não de futuro, mas as mais básicas da tualidade: espaços e profissionais.
AUTO ENGANO III
Numa das sessões da Câmara, o líder de governo – função que ninguém a quer, diga-se a bem da verdade – que não concorreu a eleição, Francisco Solano Anhaia, MDB, inconformado, endureceu para cima dos seus pares da Bancada do Amém por não terem permanecido ajoelhados após as eleições de seis de outubro.
Na sessão seguinte, talvez para não passar pelo mesmo vexame – e cansativa repetição e desta vez sozinho -, o líder de governo Anhaia pediu para sair cedo e o governo de Kleber e Marcelo não foi defendido por ninguém.
Uma sessão antes, Anhaia qualificou de irresponsáveis os vereadores da “base do governo” que alimentam este tipo queixa em ambiente públicos como a tribuna da Câmara. É transmitida – com todos os defeitos técnicos – e esta gravado. Anhaia é outro que se auto engana.
Talvez, ele tenha razão quando os acusa de irresponsáveis. Tendo fidelidade a um governo sem rumo e liderança, foram, os vereadores da base, irresponsáveis com a sociedade, a tal ponto que alguns estão pagando com a falta de votos para continuar na Câmara. Outros, já sabiam disso e nem foram à reeleição e até mesmo à campanha. E houve que trocasse de banda, depois de anos ferrenha defesa do atual governo. O verdadeiro problema de Kleber e Marcelo, e já escrevi outras vezes sobre isto, no fundo, foi a Bancada do Amém e falta de verdadeira oposição. Ela é necessária para se coçar. Houve acomandação e falsa marquetagem e que já está instalada no futuro governo.
AUTO ENGANO IV
Agora, tardiamente, o derrotado vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, ainda no PP, diz que a vida de realizações dele na política se inspira no ex-presidente da República (1956/61), o mineiro Jucelino Kubitsckek de Oliveira (1902/76), aquele que mudou a capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília e a fez fisicamente e nos trâmites burocráticos em cinco anos. Isto é sério ou deboche?
Marcelo é outro que se auto engana neste mundo político e administrativo. A prova? As urnas e o que ele, Kleber e a Bancada do Amém registraram sem critérios nas redes sociais e na imprensa amiga por anos afio. Criaram joias raras para exibirem. No fundo, deixaram abandonada a mina que lhes produziria a riqueza quase inesgotável para serem reconhecidos como joalheiros virtuosos na política e na administração pública gasparense e quiçá, serem reconhecidos regionalmente ou até estadualmente. Será que vai mudar? Pelas fotos, convescotes, hábitos e entorno que é praticamente o mesmo, será preciso muita aposta. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Este chilique do fim da jornada 6 x 1, lembra muito o movimento que veio do nada e tomou o Brasil pela passagem gratuita no transporte coletivo urbano lá em junho de 2013. Lembram disso? Algo precisa mudar, mas não há espaço para a jornada de quatro dias de trabalho para três de folga, com 36 horas de trabçalho por semana que é o que está na proposta da deputada do Psol de São Paulo, Érika Hilton. A passagem gratuita não foi adiante exatamente porque não há como bancar se isso não for para o bolso de todos nós mais uma vez via mais impostos e inflação.
A jornada de quatro dias trabalhados e três de folga, num ambiente competitivo até é possível, se a sociedade estiver disposta a pagar o aumento dos serviços de todos os tipos, ainda mais num ambiente de baixo desemprego e alimentar a inflação quie já é alta e prejudica sempre os mais pobres. Agora 6 x 1 é algo que precisa ser repensado, preservando as 44 ou 40 horas semanais. O 6 x 1 pode ser a razão de tanta gente empreender – e fazer o seu horário – ou estar na informalidade para não se sujeitar as regras de trabalhar obrigatoriamente seis dias por semana com um de folga, que na maior parte dos casos, não cai no domingo ou na coincidência da folga de marido, mulher, ou companheiros.
Esta foto publicada na coluna do Upiara Boschi diz muito de como o governador Jorginho Melo, PL, faz politicagem, corre o altíssimo risco de ser o pior governador que Santa Catarina já teve e não governa. Corre um sério risco de não apresentar quase nada de discurso para a reeleição. A foto mostra a comemoração do governador com o Republicanos que ele tomou para ele na última hora para enfraquecê-los onde o PL tinha candidato – como em Gaspar -, com o deputado Federal de Rio do Sul, Jorge Gotten de Lima que ele tirou do PL e colocou na presidência do Republicanos catarinense.
O governador Jorginho Melo, PL, diante dessas operações espertas (que a imprensa daqui escondeu, mas a de fora esclareceu junto com a blog do Marcelo Lula (daqui), está produzindo vulnerabilidade para si, não só a partir da oposição que ainda é fraca, mas do fogo amigo. Jorginho – e seus filhos, seus amigos do entorno de Joaçaba – está sendo vasculhado em contratos e por azar, agora, Jorge Goetten de Lima, Republicanos, foi parar para hoje nas páginas dos jornais, por ser amigo e correligionário de um maluco que se explodiu ontem em Brasília. O doido, é assim que considero até o momento, mas convencido posso mudar, era frequentador de seu gabinete.
Em Santa Catarina, o deputado Jorge Goetten de Lima, Republicamos, cujo cabo eleitoral em Gaspar é o vice-prefeito, Rodrigo Boeing Althoff, PL, anunciou a destituição de todos os diretórios do Republicanos em Santa Catarina. Aqui ele é ainda tocado por Oberdan Barni, o traído e excluído. É claro que Oberdam vai ser rifado e sairá com discurso de vítima. Aliás, ele já foi, há muito. Já escrevi isso várias vezes. As conversas de Oberdan com Goetten sempre muito foram difíceis por conta de que Goetten queria a desistência unilateral e humilhante de Oberdan. Oberdan insistiu e chegou em último, bem enfraquecido.
Com a formação do novo diretório do Republicamos em Gaspar, deverá haver uma divisão, ou acomodação de forças internas na coligação do governo de Paulo Norberto Koerich. Há uma tendência de migração do PRD para o Republicanos. A ideia é fortalecer e equilibrar PL, União Brasil e Republicanos. Pode vir uma nova Bancada do Amém por aí. Como se vê, pouca coisa nova. Quase tudo perigosamente, repetido.
Então já montaram uma empresa de marketing em Gaspar com gente e as bençãos do futuro governo de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL? Ai, ai, ai.
Então quer dizer que fazem uma reunião e recomendam os novos do entorno do futuro poder de plantão não se fale com a imprensa? Ou não entenderam a razão pela qual Kleber Edson Wan Dall, MDB, Marcelo de Souza Brick, PP, perderam, não aprenderam nada com as lições e estão no caminho certo para outro desastre. Aliás, estão cercadas das mesmas pessoas com os mesmos conceitos . Então nada é novo. Muda, Gaspar!
13 comentários em “O PREFEITO KLEBER E O AUTO ENGANO. DEPOIS DE GOVERNAR QUASE OITO ANOS A CIDADE E SER REJEITADO NAS URNAS POR EXPRESSIVA MAIORIA DE VOTOS NÃO FEZ SUCESSOR, MAS CONTINUA MOSTRANDO JÓIAS RARAS DA MINA ABANDONADA”
O SURTO TERROTISTA ESTÁ AÍ, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Em dezembro de 2022, George Washington de Oliveira Souza pretendia explodir um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília. Esse cidadão havia comprado seis armas de fogo e disse que tinha explosivos guardados. Durante os primeiros dias de 2023, convocava-se gente para o que seria a “Festa da Selma”, em Brasília. A 8 de janeiro, centenas de pessoas invadiram e depredaram o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Palácio do Planalto.
No início do segundo semestre deste ano, pipocaram pelo país incêndios em matas, e a Polícia Federal abriu pelo menos 85 inquéritos para investigar suas causas criminosas.
Finalmente, na quarta-feira passada, Francisco Wanderley Luiz atirou uma bomba caseira diante do Supremo Tribunal Federal (STF) e em seguida explodiu-se. O cidadão tinha militância política e em 2020 disputou uma cadeira de vereador em Rio do Sul (SC), conseguindo 98 votos.
Há um surto terrorista no país. À primeira vista, é difuso. Francisco Wanderley, por exemplo, seria um “lobo solitário”. As investigações dirão se tinha cúmplices.
Infelizmente muitas investigações nacionais são barulhentas ao serem anunciadas e silenciosas ao definhar. Até hoje não apareceram as conexões dos suspeitos pelos incêndios criminosos, muito menos os patrocinadores da greve de caminhoneiros de 2018.
As mensagens trocadas em janeiro de 2023 mostram que centenas de pessoas discutiam a “Festa da Selma”. Nem todas invadiram os palácios, e o inquérito do ministro Alexandre de Moraes revelou-se exemplar encarcerando culpados. Caso raro de eficácia.
A presença do surto terrorista, difuso ou não, traz consigo o perigo da culpabilização por associação. Uma pessoa que tenha ideias parecidas com a de um terrorista seria também um criminoso. Esse tipo de atitude aumenta a tensão política, embaralha as investigações e, em última análise, ajuda os terroristas.
Fechando-se o foco, neutralizam-se os delinquentes. Abrindo-o, amplia-se a rede de simpatizantes.
Às 12h30m do dia 22 de dezembro de 1963, o presidente John Kennedy teve o crânio explodido em Dallas.
Às 13h22m a polícia chegou à janela de onde o assassino havia atirado e encontrou seu rifle. Minutos depois, a quilômetros de distância, o suspeito foi preso.
Chamava-se Lee Oswald, havia vivido na União Soviética e correspondia-se com o Partido Comunista dos Estados Unidos. Dois meses antes, no México, esteve nas embaixadas de Cuba e URSS.
Raciocinando-se por associação, a Terceira Guerra Mundial teria começado no dia seguinte.
Tudo o que Lee Oswald havia feito na vida tinha dado errado, menos uma coisa.
ANISTIA FOI A PIQUE
O projeto que pretende anistiar a turma do 8 de janeiro foi a pique.
Para quem está trancado, resta torcer para que vá adiante uma ideia do cacique Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Ele aposta em algum tipo de advocacia auricular que consiga, do próprio Supremo Tribunal Federal, uma redução das penas dos condenados.
COLLOR CONDENADO
De um conhecedor dos labirintos do governo de Fernando Collor (1990-1992), ao saber que o STF manteve sua condenação a 8 anos e 10 meses de cadeia, restando-lhe apenas um recurso em liberdade:
“Ele se manda.”
GRITZBACH DEIXA UMA PISTA
Oito dias antes de ser fuzilado no aeroporto de Guarulhos, Vinicius Gritzbach deu uma pista preciosa ao Ministério Público. Contou que um operador do Primeiro Comando da Capital (PCC) era sócio de um policial em um banco digital.
Quadrilhas não têm CNPJ, nem são obrigadas a identificar seus sócios, mas os bancos digitais seguem normas do Banco Central e seus donos são identificados.
Se Gritzbach estava falando a verdade, a força-tarefa que investiga sua execução poderá chegar a um braço financeiro do PCC, com suas operações.
O CRIME É FEDERAL
Referindo-se à execução de Gritzbach, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que “num primeiro momento, não existe nenhuma ideia de federalizar esse caso.”
Sabe-se lá quando virá o segundo momento, mas o empresário fuzilado era um réu confesso e tinha relações milionárias com o Primeiro Comando da Capital. O combate às organizações criminosas metidas em tráfico de drogas é crime federal. Além disso, o PCC, ao contrário de alguns “bondes nordestinos”, tem jurisdição nacional.
Se o Federal Bureau of Investigation americano respeitasse melindres estaduais, a Máfia iria bem, obrigado.
CONTROLES DE GASTOS
Em 1889, o dia de hoje também era domingo. Na madrugada, a família imperial foi embarcada para o desterro. Deposto, D. Pedro II exclamou:
“Os senhores são uns doidos.”
Dias depois, Rui Barbosa, o novo ministro da Fazenda, anunciou que a República havia concedido ao velho monarca uma doação de 5 mil contos.
Era a primeira falsa expectativa de um ministro da Fazenda da República. D. Pedro II havia recusado o mimo.
(Na sua última semana, o Império discutiu um crédito de 6 mil contos para a seca do Norte do país.)
RUBIO, TRUMP E CUBA
A escolha de Marco Rubio para o cargo de secretário de Estado no governo de Donald Trump manda um sinal de perigo para o regime cubano.
Rubio é filho de cubanos humildes que migraram para a Flórida. Em 2009, ele disse que seus pais deixaram o país em 1959, depois da tomada do poder por Fidel Castro. Falso, eles deixaram Cuba em 1956, durante o governo de Fulgencio Batista. Fidel Castro e seus 74 expedicionários só zarparam do México a bordo de um pequeno iate em novembro.
Nesses dias, Fidel e seu irmão Raul diziam que não eram comunistas e esperavam por levantes em Cuba. Só entraram em Havana dois anos depois. Rubio nasceu em 1971 e fez uma bem-sucedida e habilidosa carreira política.
O declínio da qualidade de vida em Cuba, com apagões e falta de divisas, deverá levar Trump a apertar os parafusos contra o regime.
Cuba tem um especial atrativo para Trump. Se a propriedade privada for restabelecida em Cuba, a ilha terá uma explosão de bons negócios imobiliários.
CAMPOS NETO FALOU DEMAIS
Salvo na roupa que vestiu no dia da eleição presidencial, o doutor Roberto Campos Neto passou pela presidência do Banco Central medindo suas palavras com propriedade. Perto da hora de deixar a cadeira, errou a mão.
Tratando da PEC que altera o regime de jornadas de trabalho disse que ela “é bastante prejudicial para o trabalhador, porque vai aumentar o custo do trabalho e elevar a informalidade.”
Pode estar inteiramente certo, mas não compete ao presidente do Banco Central dar aulas de economia ao Congresso Nacional.
A partir de janeiro, poderá dizer o que quiser, e terá quem o ouça.
ESTABILIDADE NO BRASIL É ANOMALIA GLOBAL, editorial do jornal Folha de S. Paulo
O Brasil é o país que mais concede estabilidade plena a seus servidores públicos, o que torna extremamente difícil gerir o quadro de pessoal —seja por mau desempenho, obsolescência da função ou até para simples ajuste da máquina estatal.
A estabilidade remonta a 1915, quando uma lei federal determinou que funcionários com mais de dez anos no cargo só seriam dispensados após processo administrativo. Ao longo do século 20, as regras foram sendo relaxadas, até que a amarra se consolidasse no Estatuto do Servidor Público Federal, de 1990.
O resultado é que atualmente 70% do funcionalismo na União tem estabilidade. Incluídos estados e municípios, exorbitantes 65% dos 12,1 milhões de empregados pelo Estado brasileiro gozam do privilégio.
Embora aqui não seja exagerado o número de servidores, não se encontra paralelo no mundo em abrangência e vantagens que a estabilidade proporciona.
Na pandemia, quando empresas privadas se viram obrigadas a demitir e cortar salários autorizadas por medida provisória, os funcionários estáveis seguiram incólumes e sem cortes nos vencimentos.
Países como Reino Unido, Espanha e Alemanha têm bem menos trabalhadores nessa condição. Na maioria dos casos, a prerrogativa, quando existe, é restrita às carreiras de Estado —sem equivalentes no setor privado, como policiais, juízes e auditores fiscais.
Nesses casos, a proteção do emprego se justifica por assegurar o cumprimento das tarefas com autonomia ante o poder político e econômico.
No Brasil, três quartos dos servidores atuam em funções amplamente encontradas no mercado, como pessoal administrativo, professores e médicos. Pouco mais de 10% estão em funções típicas do setor público.
As poucas tentativas de alterar essa situação desde os anos 1990 têm sido barradas pelo lobby corporativista, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e boa parte do Congresso se recusam a enfrentar.
Em importante decisão recente, o Supremo Tribunal Federal abriu espaço para contratações pelas normas da CLT, o que, em ao menos em tese, concede mais flexibilidade à gestão. Ainda é preciso observar, no entanto, como tal abertura se dará na prática.
Segundo pesquisa Datafolha, 8 em cada 10 brasileiros defendem que funcionários públicos possam ser demitidos por má avaliação; 71% se posicionam a favor de uma reforma que mude a forma de escrutiná-los. Uma minoria (41%) aprova os serviços oferecidos.
A estabilidade precisa ser revista não para permitir demissões em massa, dado que não se verifica um excesso geral de quadros no país, mas para incentivar a produtividade de um Estado que consome cerca de um terço da renda nacional em impostos.
TRUMP NOMEIA BIRUTAS, VIGARISTAS E MUSK, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Donald Trump indicou Robert F. Kennedy Jr para o departamento (ministério) da Saúde. Kennedy é antivacina e difunde teorias da conspiração variadas. Em 2014, largou um cadáver de filhote de urso no Central Park, Nova York. Achou divertido. Dizia ter encontrado o bicho por aí, atropelado. Talvez o comesse.
Kennedy tem ficha extensa de biruta. É advogado, ambientalista. Foi candidato independente a presidente neste ano. Era democrata. É filho de Bobby Kennedy, senador assassinado em 1968. É sobrinho de John Kennedy, assassinado em 1963.
Diz que grandes empresas de remédio e comida se dão bem com o governo. Mas quem vai acreditar nele? Trump acreditou, por outro motivo. Kennedy diz que vai bulir com o “Estado profundo” das agências do departamento de Saúde (que regulam comida, remédios e bancam enormidade de pesquisa científica). Há mais gente biruta e/ou vigarista nomeada para o primeiro escalão de Trump, como um ministro da Defesa que é apresentador da Fox News.
Trump chamou Elon Musk e Vivek Ramaswamy para o governo. Ramaswamy criou uma grande empresa biofarmacêutica, foi pré-candidato a presidente pelo Partido Republicano e critica a responsabilidade social de empresas, “ideologia de gênero”, “identitarismo” etc.
Não se sabe qual autoridade terão nisso que Musk chamou de “Departamento da Eficiência do Governo”, que ora inexiste. Trump afirma que eles vão acabar com o excesso de regulamentação e remontar as agências do governo.
Musk diz que dá para cortar US$ 2 trilhões do gasto federal. A despesa foi de US$ 5,86 trilhões no ano fiscal de 2024, encerrado em setembro. Essa conta não inclui gasto com juros (de US$ 892 bilhões). Supõe-se que Musk não queira dar calote nos juros. Ou não?
Logo, Musk propõe corte de 34% da despesa primária do governo. Claro que é biruta, vigarice. Parece coisa de ministro de Jair Bolsonaro, que dizia ter meios de arrumar R$ 1 trilhão para o governo, inclusive vendendo terreno em Mumunhoca da Serra.
Do gasto, 16,3% foram para despesas de defesa. Juntando aí pelo menos o departamento de Veteranos de guerra, dá uns 22% do total. O gasto com saúde pública foi de 28,7% da despesa primária total. Com Seguridade Social (“INSS”), 24,9% (mas Trump prometeu tirar os impostos sobre benefício previdenciário: mais déficit). Musk quer fechar o governo.
Os déficits são de fato problema grave, mesmo para um país riquíssimo e no qual, desde 2008, o Banco Central, o Fed, pôde dar uma mãozona para financiar o buraco, um escândalo imperial.
A dívida pública equivale agora a 97,8% do PIB, a maior desde 1900, afora a dos anos de 1945 e 1946, do esforço de guerra. Em 2000, a dívida era de 33,7% do PIB. Deu um salto por causa da Grande Recessão (2008-09) e dos gastos para limpar a sujeira da finança; deu outro salto por causa da Covid.
Os donos do dinheiro grosso, dos EUA e do mundo, e governos não têm alternativa maior e melhor a não ser emprestar parte de seus fundos para o governo americano (é grotesco e delírio “Sul Global” que o dólar vá ceder lugar para a moeda da China). Mas déficits e dívida brutais do EUA aumentam o risco de choques perigosos na finança mundial, para começar.
Trump promete políticas que causarão mais déficit e dívida, apesar de Musk, por assim dizer. Se cumprir seu programa, esse é só o começo da loucura.
A ECONOMIA CRESCE; INFLAÇÃO E JUROS TAMBÉM, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Setembro, conhecidos agora todos os dados, foi um mês bom para a atividade econômica. Setembro foi também o mês do Rock in Rio. Não se trata de simples coincidência. Grandes espetáculos movimentam amplos setores da economia, especialmente serviços: hotéis, restaurantes e bares, viagens, para citar os mais evidentes.
Há algumas semanas, na Inglaterra, o Banco Central notou uma inesperada alta na inflação quando se esperava estabilidade. Procura daqui e dali, a única coisa de diferente que acontecia eram os shows de Taylor Swift, por diversas cidades. Era isso mesmo, inflação de serviços.
Por aqui, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou sólida expansão de 0,84% em setembro, na comparação com agosto. O número saiu nesta semana. Na comparação com setembro do ano passado, a expansão foi de 5,1%, melhor resultado desde julho de 2022. Todos os setores cresceram: indústria, vendas no varejo, prestação de serviços. E isso combina com os dados do IBGE sobre o mercado de trabalho.
No trimestre encerrado em setembro, o índice de desemprego caiu para 6%, recorde de baixa. Havia 103 milhões trabalhando, recorde de alta. O número reúne todos os que trabalham em qualquer condição: com carteira, sem carteira, por conta própria, empreendendo, nos setores público e privado. O IBGE mostrou que houve ganho de renda.
Tudo considerado, os analistas começam a rever suas projeções para todo o ano de 2024. A opinião dominante, fora do governo, falava em crescimento do PIB pouco acima dos 3%. Pelas novas análises, a coisa está mais perto dos 3,5% — seria um bom resultado, superando os 2,9% do ano passado.
Como tem acontecido ao longo deste ano, o crescimento real da economia brasileira vem se mostrando melhor que as projeções. Mas há problemas. Digamos, quatro: a inflação em alta, juros elevados e dívida pública aumentando. O quarto fator é Trump.
A inflação também se encaminha para um nível mais alto que o esperado. Em 12 meses, corre acima do teto da meta, de 4,5% — uma margem, por assim dizer, generosa. A meta que o Banco Central deve buscar é de 3%. Trata-se de um sinal esperado. A economia brasileira, de baixa produtividade, tem capacidade limitada de crescimento. Produtividade é tirar mais resultado dos mesmos meios de produção. Sem isso, acontece o seguinte: a economia chega ao máximo do que consegue produzir e, como a demanda continua aumentando, os preços sobem.
Aí vem o Banco Central e eleva os juros justamente para esfriar a economia, reduzir o consumo e investimentos. No momento, pode-se dizer que o BC continua aumentando a taxa básica de juros, e a inflação deverá cair lentamente. Ninguém gosta de juros altos. Mas, como mostra a História do Brasil, a inflação é pior. O momento mais delicado é o atual, quando os juros já estão subindo, e a inflação ainda permanece alta.
O outro problema — dos grandes — está nas contas públicas. O final da novela do corte de gastos ficou para depois do G20. Mas, pelos sinais, a redução de despesas não será suficiente para zerar o déficit, muito menos para produzir um superávit. Quando tem déficit, o governo precisa tomar dinheiro emprestado para fechar as contas. Faz isso vendendo títulos, aqueles do Tesouro Direto por exemplo. O resultado é um aumento da dívida pública e dos juros que o governo precisa pagar para se financiar. E os juros pagos nos títulos do governo se espalham por toda a economia. Assim, juros sobem por causa da inflação e da dívida pública.
E, em janeiro, vem Donald Trump. Pelas nomeações que já fez — nomes absolutamente fiéis a suas ideias —, ele deve mesmo impor o pesado aumento de tarifas de importação que prometeu. Isso provocará forte aumento de preços ao consumidor nos Estados Unidos. Inflação, portanto. E, com inflação, o Federal Reserve, o banco central, não poderá reduzir juros como se esperava. Juro alto nos Estados Unidos atrai capitais, valoriza o dólar.
Eis como tudo nos afeta: real desvalorizado pelos nossos desequilíbrios internos e pelo cenário externo. Em algum momento, o crescimento desacelera.
UM PACOTE SALVA-EMENDA, ´por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S.Paulo
O Supremo tem a obrigação de derrubar a fraude em que consiste o projeto de lei por meio do qual o Congresso finge dar transparência à gestão de emendas parlamentares.
Leia o troço, ministro Dino. O bicho esculacha princípios constitucionais criando a categoria-concessão “mais transparência”, com o que pretenderá convencer trouxas (ou trouxas de ocasião) de que uma luzinha acesa no canto do breu absoluto resultaria em claridade e clareza.
Se ainda norteado pela guarda da Constituição, o STF não pode manter o controle de constitucionalidade subordinado a acordo político que só produziu “me engana que eu gosto”. Ou se terá deixado enganar. Os maledicentes lembrarão que o autor do projeto, deputado petista do Maranhão, é aliado do senador-togado Dino.
Basta de acordos; de submeter o rigor a conveniências. O que se arma, apostando na correria de urgências com que se instrumentaliza o fim de ano legislativo, é uma vergonha. O que se arma avança sob a certeza de que o Supremo conciliador cumprirá papel na farsa. O que se arma tem vício de origem: projeto feito para que – prosperando o teatro – o STF libere o pagamento de emendas, suspenso desde agosto.
O que se arma tem esse objetivo de curto prazo. Mas se ergue amarrando o futuro num desbunde. Não só a garantia de que os fundos orçamentários sob comando do Congresso partirão de R$ 50 bilhões generosamente corrigidos ano a ano; também garantida espécie de impositividade informal das emendas não obrigatórias – aquelas que, sob regência dos donos do Parlamento, dão o caráter autoritário ao sistema do orçamento secreto.
O que se arma é a glória ao pensamento do deputado Júlio Arcoverde, presidente da Comissão Mista de Orçamento, para quem a forma corrente de domínio parlamentar sobre fundos orçamentários seria “direito adquirido”. Terá ido além Ângelo Coronel, relator do projeto no Senado, segundo o qual a “conquista” – a maneira opaca e arbitrária como o Congresso distribui dinheiros – seria “cláusula pétrea”.
Leia o troço, ministro. O bicho assegura, nas mãos dos liras, a administração autoritária de bilhões de reais que – patrocinadora da disparidade de armas – interferiu decisivamente no resultado das últimas eleições. É a aclamação de Hugo Motta.
Câmara e Senado, com o aval do governo Lula, aprovando um texto que entrega parte do anel – darão objeto ao disparo da emenda Pix – para assegurar intocados os dedos com os quais operarão o orçamento secreto em 2025.
Refiro-me à emenda de comissão, abrigo do esquema a partir de 24. A mais bem-sucedida superfície-fachada para o exercício do orçamento secreto desde a sua criação. Boiada que passa preservada e livremente ao largo. Passará pelo Supremo?
PEC QUE IMPÕE ESCALA DE TRABALHO 4 X 3 SERIA UM ERRO, editorial do jornal O Globo
Não, a sexta-feira não deve ser o novo sábado, como quer a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). O texto pretende impor uma semana de quatro dias de trabalho e três de descanso (4×3), com redução no limite de horas trabalhadas de 44 para 36, sem aumento da carga diária de oito horas nem redução de salário. Apresentada sem nenhum embasamento técnico, a PEC recolheu assinaturas suficientes para ser discutida, ganhou apoio de ministros, parlamentares e do vice Geraldo Alckmin. Quem defende a mudança parece crer que o avanço da tecnologia permitiria à força de trabalho uma rotina menos intensa, sem perda de produtividade. Imagina que, para dar conta do trabalho, as empresas contratariam mais funcionários, reduzindo o desemprego. Na teoria, parece bonito. Na prática, o resultado seria outro.
Adotar jornada menor com manutenção do salário significa criar mais despesa para as empresas, num país onde o custo de empregar já é alto. Para os contratados, equivale a um aumento salarial, mas não para os 40% que trabalham na informalidade. Como o governo não tem condição de conceder incentivos — precisa cortar, não aumentar gastos —, os empresários não teriam alternativa senão demitir, e o trabalho informal cresceria. Outra consequência seria a queda paulatina na remuneração para compensar a inevitável diminuição na produção resultante de menos horas trabalhadas.
Mais grave: a PEC é desnecessária. A reforma trabalhista de 2017 já autoriza que empresas e funcionários negociem mudança na jornada de trabalho quando ela se justifica. Tanto que a maioria dos contratados já trabalha cinco dias e folga dois. A reforma também trouxe flexibilidade na gestão do tempo, hoje facilitada pelo trabalho remoto. Tudo isso deve ser incentivado quando for adequado, mas jamais engessado. Gravar a escala de trabalho na Constituição equivaleria a retroceder numa reforma que, desde que implantada, só aumentou o emprego formal. E sempre vale lembrar: quem tem menos direitos trabalhistas no Brasil são os informais — contingente que só faria aumentar com a PEC.
A experiência internacional também mostra que reduzir a jornada não costuma gerar mais postos de trabalho. O melhor exemplo é a França, onde uma reforma instituiu a semana de 35 horas e, passados 26 anos, não houve impacto positivo no emprego. Não foi surpresa quando a reforma começou a ser desidratada. Novas leis permitiram mais horas extras, negociações setoriais criaram exceções e maior flexibilidade. Noutros países europeus, a história é parecida. “O total de horas trabalhadas diminuiu, mostrando que as empresas não contrataram mais”, diz estudo do Institute of Labor Economics (IZA) sobre as experiências de Portugal, Itália, Bélgica e Eslovênia.
Claro que o debate sobre a PEC deve levar em conta as peculiaridades do Brasil. A renda per capita europeia é o quádruplo da brasileira, mesmo assim brasileiros trabalham tantas horas quanto japoneses, italianos ou australianos. Em países ricos, o nível de renda permite trabalhar menos, e reduzir a jornada pode ser uma discussão pertinente. Nos de renda baixa ou média (caso do Brasil), o comum é trabalhar bem mais. Jornada de trabalho e produtividade são questões indissociáveis. Reduzir a primeira sem aumentar a segunda tem efeitos indesejados.
À SOMBRA DA ACLAMAÇÃO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) caminha para disputar a presidência da Câmara sem adversário, condição sacramentada com a desistência dos candidatos que restavam – Elmar Nascimento (União-BA), que até poucas semanas era visto como o favorito, e Antonio Brito (PSD-BA), que viu seu partido abrir mão de sua candidatura para apoiar Motta. O líder do Republicanos já havia promovido uma aliança improvável ao conquistar o apoio simultâneo do PT de Lula da Silva e do PL de Jair Bolsonaro, e uma rede extensa de aliados, unindo MDB, PP, Podemos, PCdoB, PV, PDT, PSB, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Rede e PRD, além da bancada evangélica na Câmara e, é claro, do próprio Republicanos, seu partido.
Caso essas alianças se mantenham firmes até fevereiro, data da eleição, Hugo Motta será o quinto presidente da Câmara eleito por aclamação após ser candidato único. Antes dele, também o foram Flávio Marcílio (Arena/PDS), Ibsen Pinheiro (PMDB), Michel Temer (PMDB) e João Paulo Cunha (PT). Isso assegura a Motta um triunfo político inquestionável, revelado por atributos que lhe garantiram bons padrinhos e trânsito gelatinoso em meio às siglas e ideologias com vida no Congresso. Mérito de quem é jovem, mas está há 14 anos na Câmara, fez parte da base dos governos Temer e Bolsonaro e é próximo do governo Lula – apesar de ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, do teto de gastos e da reforma trabalhista, agendas abominadas pela cartilha lulopetista.
Em se tratando de Câmara dos Deputados, porém, o histórico de eleições por aclamação desabona prognósticos muito otimistas ou elogios sem reparos. As aclamações de Marcílio, por exemplo, se deram num contexto do bipartidarismo da ditadura militar – ainda em plena abertura lenta e gradual, em 1979 e 1983. Ibsen Pinheiro, em 1991, teve a candidatura marcada pelo que na época ficou conhecido como “Anões do Orçamento”, o ruidoso caso envolvendo parlamentares em desvios e fraudes em recursos do Orçamento da União. Ibsen acabaria cassado três anos depois, acusado de sonegação e enriquecimento ilícito, até voltar à vida pública mais tarde.
Temer venceu por aclamação, em 1999, no contexto das deliberações que culminaram na Emenda Constitucional 16, que instituiu a reeleição dois anos antes. Embora até hoje seja reconhecido como um habilidoso político e grande conciliador, ele, que vinha do primeiro mandato de presidente da Câmara, foi beneficiado pelo novo instituto, com o qual também se fartariam o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, governadores e prefeitos. João Paulo Cunha, por sua vez, chegou sem adversários ao comando da Câmara, em 2003, ainda empurrado pela onda vermelha que invadiu o País com a eleição de Lula da Silva, no fim do ano anterior. Foi sob sua gestão na Câmara que ocorreu o inesquecível mensalão, escândalo de compra de votos que quase derrubou Lula.
Não está escrito nas estrelas que Motta repetirá a má trajetória dos eleitos por aclamação. Mas numa Casa que mistura acordos e consensos legítimos com a mesma desenvoltura com que interesses menores e troca de favores operam nas sombras, o temor é inevitável e a vigilância, imprescindível.
Enquanto isso, os bolsonaristas radicais – e que se expressam nas mídias sociais -, incluindo os que conconcorreram as eleições em Gaspar e não venceram, bem como os que foram para o PL, por conveniência, para ter na franquias chances de vitória, nela incluindo o prefeito eleito Paulo Norberto Koerich, um delegado, ex- delegado geral e ex-secretário segurança pública estadual, estão bem quietinhos. Fingem que isso nem aconteceu.
LOUCO OU GOLPISTAS, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo
Só o aprofundamento das investigações dirá se o homem que desferiu o ataque com bombas a Brasília e morreu numa das explosões é um louco que agiu sozinho ou se fazia parte de uma trama golpista mais ampla.
O vídeo do sistema de segurança do STF que mostra os instantes finais do agressor é sugestivo de uma ação suicida, o que favorece a hipótese do desequilíbrio mental. Mas as imagens não descartam a possibilidade de ele ter contado com apoio logístico e/ou financeiro de atores com uma agenda mais política que psicológica. O homem tinha história de militância na extrema direita. É preciso aguardar o resultado das apurações.
Bolsonaro e seus sequazes não querem esperar. Eles se apressam em pintar o perpetrador como um desvairado que agiu só. Fazem-no por um motivo bem concreto. Não querem ser relacionados a mais um ataque contra a democracia.
Não acredito em deuses, mas reconheço que eles têm um fino senso de ironia. O ex-presidente se agarra agora à tese do lobo solitário, a mesma que rejeitara com veemência quando do atentado por ele sofrido na campanha eleitoral de 2018.
O ministro do STF Alexandre de Moraes também parece ter queimado a largada ao afirmar que o ataque não foi um ato isolado. Eu também acho que não foi. Se a ideia é fazer análises que incorporem o clima político reinante no país, não dá para ignorar o longo histórico de pregação de Bolsonaro e seus asseclas contra o STF e as instituições.
Só que Moraes, ao contrário dos demais cidadãos, deveria se abster de fazer observações sobre o caso, já que existe uma boa chance de ele, por prevenção, vir a supervisionar o inquérito que vai apurar as circunstâncias do ataque.
Louco ou títere de uma ideologia extremista, o perpetrador produziu uma série de consequências que provavelmente não desejava. Suas ações praticamente inviabilizam a anistia a Bolsonaro e aos golpistas do 8/1 —o que é ótimo. Mas elas também dão argumentos para que o STF prolongue suas heterodoxias —o que vai minando a própria credibilidade da corte.
A bem da verdade?
O que falta pra Nação brasileira deslanchar é o POVO descobrir a FORÇA que tem e botar os políticos na LINHA. 👀😠
Concordo em gênero, gau e número, como diz a frase popular. Mas, não precisamos ir longe da nossa aldeia. Passada a eleição, o que parece estar na mesma linha, unicamente, são apenas os políticos que diziam estar em linhas diferentes para apenas cabalare votos. E eles não fazem segredo desse alinhamento pós eleições. Registram e espalham na internet para que não haja nenhuma dúvida entre os burros de carga de que são os mais dos mesmos.
O GOVERNO LULA CORRE ATRÁS DOS FATOS, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
A tramitação da PEC que prevê o fim da escala 6 x 1 é apenas o mais recente exemplo de como o governo Lula 3 corre atrás dos fatos, dentro e fora do País. No caso da redução da jornada de trabalho é patente a tentação no Planalto de surfar o impacto nas redes sociais com a promessa de fácil ganho eleitoral mais adiante. Mas corre atrás do fato muito sério da estagnação da produtividade no Brasil em relação às economias mais avançadas. Coisa chata de tratar que dá pouca visualização nas redes.
Há dois outros fatos de enorme relevância arrastando o governo para uma óbvia situação perigosa. O primeiro é a constatação de que despesas continuam subindo acima das receitas. Fato que decisões do atual governo agravaram e aprofundaram a armadilha fiscal. As energias políticas se concentram na luta pelas migalhas de despesas discricionárias no Orçamento.
O espaço de manobra vai sendo consumido em “puxadinhos” na tentativa – até aqui frustrada – de compensar via cortes de gastos pontuais a desconfiança dos agentes econômicos na capacidade do governo de equilibrar as contas. O que inclui comprar uma briga séria com os comandantes militares, que acreditavam que estava “combinado” que não se mexeria no sistema de previdência deles.
O segundo fato relevante foi perversamente revelado nessa minicrise para apontar quem é o mais malvado causador de déficits dos sistemas de previdência.
Ficou mais uma vez exposta a necessidade de dolorosa reforma da Previdência, cuja situação piorou com a política lulista de valorização do salário mínimo e o fechamento (exaustivamente apontado) da janela demográfica.
Observando esse grande quadro não é difícil perceber a complexidade da relação entre esses vários elementos: baixa produtividade, sistema de pensões e aposentadorias insustentáveis, demografia piorando e intratável disputa política pela alocação de recursos via orçamento público. Tudo muito sério, mas causa pouca espuma em redes sociais.
Para completar veio agora o tsunami do resultado da eleição presidencial americana, obrigando o governo brasileiro a correr atrás dos acontecimentos (no que não está sozinho, aliás).
A vitória de Trump promete tornar mais desafiador o cenário para economias emergentes em geral e a do Brasil em especial: juros altos, dólar caro, inflação e acirramento de protecionismo e guerras comerciais.
Do lado político, Trump esvaziou dois palcos com os quais o governo Lula 3 contava em termos de projeção internacional: o do G-20 e o da COP-30. Tornou a geopolítica ainda menos previsível, e mais delicada para o Brasil a busca de equilíbrio entre China e Estados Unidos. Haja fôlego para se correr tanto assim.
TOFOLLI PREMIA A CORRUPÇÃO E PUNE O ERÁRIO, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Reportagem da Folha mostrou que decisões do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de casos da Operação Lava Jato derrubaram ações em que o Ministério Público cobrava mais de R$ 17 bilhões de envolvidos.
Ainda que nem todo esse montante viesse a se materializar em decisões da Justiça, a escala de grandeza impressiona. Trata-se de um prêmio à corrupção que impõe mais perdas a um poder público já largamente deficitário.
Toda a sociedade arcará com esse prejuízo na forma de dívida pública sobre a qual incidem juros escorchantes e em alta.
Aos danos materiais para o erário somam-se os danos reputacionais para o Supremo, cujo valor é intangível. Se existe um assunto fundamental com o qual a corte não soube lidar, é a Lava Jato.
Não se trata de negar a complexidade da situação. Depois que determinou a incompetência do foro de Curitiba para julgar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bem como a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o STF previsivelmente recebeu centenas de pleitos de defensores para reavaliar a situação de réus e investigados.
No mais significativo desses casos, Toffoli decidiu monocraticamente tornar imprestáveis todas as provas derivadas da colaboração premiada da empreiteira Odebrecht. Foi a partir dessa decisão deletéria que o próprio magistrado determinou boa parte das anulações e arquivamentos que vão erodindo os bilhões de reais pretendidos.
Os executivos da Odebrecht que decidiram cooperar com a Justiça, cumpre recordar, confessaram seus crimes. Mais do que isso, apresentaram provas materiais dos malfeitos.
Para contornar essa dificuldade, o ministro recorreu a uma interpretação exuberante. Comparou a situação dos executivos à de torturados, que não teriam agido de livre e espontânea vontade, como exige a legislação de colaborações premiadas.
Acredite quem quiser nessa tese. Os empresários que confessaram eram assistidos por alguns dos melhores advogados do país, que não costumam fechar os olhos para situações de tortura.
De qualquer modo, se Toffoli está tão convicto de que suas decisões monocráticas apenas traduzem decisões coletivas anteriores da corte, deveria ter levado esse e outros casos de maior repercussão para o plenário ou pelo menos para a turma. Como não o fez, acaba atraindo para si mesmo especulações e suspeitas.
Tampouco ajuda o magistrado —que chegou ao posto graças a suas ligações com Lula e o PT— o fato de sua mulher advogar para um dos grupos empresariais beneficiados por suas decisões. Há juízes que se declaram impedidos quando vivem esse tipo de conflito de interesses.
Já passa da hora de os 11 ministros do Supremo se darem conta de que, principalmente nos processos de maior octanagem política ou econômica, decisões monocráticas são um mal a evitar, não um veio a explorar.
DESPERDÍCIO E MÁ GESTÃO EXPLICAM A FALTA DE VACINAS, editorial do jornal O Globo,
Em quase dois anos de governo, o Ministério da Saúde não resolveu os problemas de logística que prejudicam o abastecimento de vacinas e levam ao desperdício. Responsável pela compra e distribuição das doses aos estados, a pasta tem argumentado que não há escassez generalizada e que tem comprado novos lotes. Mas a todo momento vêm à tona casos de estoques zerados, em especial nas vacinas contra Covid-19. O cidadão que vai aos postos em busca de vacina é quem acaba punido.
Reportagem do GLOBO feita por meio da Lei de Acesso à Informação revela que o governo Luiz Inácio Lula da Silva deixou vencer 58,7 milhões de vacinas desde 2023, a maior parte delas — 45,7 milhões — contra Covid-19. O total jogado fora apenas nos dois primeiros anos do governo Lula supera todo o desperdício na gestão Jair Bolsonaro, que já descartara inacreditáveis 48,2 milhões de doses.
A perda ocorre devido a compras próximas ao vencimento e à baixa procura, que acarreta encalhe. O governo alega que, em 2023, já recebeu milhões de doses próximas do vencimento e que foi obrigado a descartá-las. Independentemente do motivo, a inépcia causou prejuízo de R$ 1,75 bilhão apenas no governo Lula, valor escandaloso num país em crise fiscal aguda.
Enquanto se joga vacina no lixo, a escassez nos postos tem sido rotina. Faltam vacinas em 11 estados e no Distrito Federal, entre elas a contra Covid–19, segundo levantamento do portal Metrópoles. Não se pode dizer que seja um problema ocasional. Em setembro, um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) identificou que 65% das cidades brasileiras relatavam falta de vacinas, em alguns casos por mais de 90 dias. Na época, o ministério alegou que alguns lotes próximos do vencimento precisaram ser substituídos, atrasando a entrega.
Os problemas não se resumem à inépcia na gestão dos estoques e ao desperdício. Há decisões incompreensíveis. Recentemente, o Ministério da Saúde recusou um lote de 3 milhões de doses contra a Covid-19 atualizadas para a variante JN.1. Elas seriam entregues pela farmacêutica Moderna até dezembro em substituição às antigas. Mas o governo optou por receber a vacina para a cepa XBB — desatualizada a ponto de nem ser mais produzida. A pasta alegou que a nova ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ora, o problema poderia ser resolvido com a própria Anvisa, como já ocorreu ao longo da pandemia. Aplicar vacina desatualizada não é uma alternativa aceitável.
O Ministério da Saúde precisa regularizar os estoques, corrigir problemas na distribuição e calibrar as compras de acordo com a demanda. O Brasil acaba de recuperar o certificado de país livre do sarampo, como resultado dos esforços de vacinação. Assim como nos casos do sarampo ou da Covid-19, a vacinação é a arma mais eficaz — quando não a única — para combater diversas doenças.
A imunização já enfrenta obstáculos de toda sorte para assegurar o patamar de cobertura necessário para deter a circulação de vírus e outros patógenos: desinformação, dificuldade de acesso ou a noção equivocada de que, por estar controlada, uma doença não representa mais risco. O mínimo a exigir do governo é que haja vacina nos postos. Nada mais frustrante do que chegar lá e não encontrá-la. Pior: porque a validade expirou e teve de ser jogada fora.