No dia 12 de dezembro de 2022, uma segunda-feira, depois de várias complicações cardiorespiratórias, diabético, já sem as duas pernas, morria o vereador de primeiro mandato, o combativo como poucos políticos em Gaspar nos últimos tempos, Amauri Bornhausen, PDT. Ele não tinha experiência política anterior. Entrou na política partidária convidado para fazer número e votos ao nanico PDT que queria eleger o presidente da sigla e vereador conhecido na cidade, Roberto Procópio de Souza e que já pulou para o MDB.
Procópio ficou pelo caminho e inconformado de ter perdido para um iniciante, tanto que quando assumiu o mandato depois da morte de Amauri, nem um pio deu sobre o antecessor. Coisas da política.
Amauri era um servidor de carreira, e atuou principalmente na secretaria de Obras e Serviços Urbanos. Conhecia a cidade, apesar das limitações que a saúde madrasta lhe oferecia. Era católico fervoroso. Comunitário. Sincero. Direto. Tanto que obrigado a estar na Bancada do Amém (MDB, PP, PDT, PSD e PSDB), não se ajoelhou e colocou o dedo nas feridas daquilo que achava que tinha espaço para melhorias, errado e duvidoso.
Diante desta postura cidadã, virou então um grande problema para o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, então no PSD, e hoje no PP, principalmente, quando colocou suas lupas no Hospital de Gaspar, um sumidouro de expressivos recursos públicos sem a mesma contrapartida a população.
Nenhum político foi tão meteórico, carismático e catalizador na história de Gaspar quanto Amauri em menos de dois anos de mandato. E os poderosos e donos da cidade sabiam disso e começavam a ficar preocupados. Pois não era só na Saúde que estava o dedo apontado de Amauri, mas na Educação e naquilo que os áudios com conversas cabulosas derrubaram mais tarde, o então todo poderoso secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB.
Na Educação, é emblemática e icônica esta foto em que registra de que ele saiu daqui no Centro, e chegou lá no Belchior Alto numa cadeira de rodas, com guarda-chuva, molhando-se, numa creche do Distrito do Belchior, para denunciar que havia não só chuvarada fora, mas dentro do ambiente de acolhimento das crianças, mesmo tendo o Distrito, uma vereadora para fazer este tipo de denúncia ou então, gerenciar uma solução com o governo a que pertence até hoje.
Nem Dionísio Luiz Bertoldi, PT, nem o suposto adversário de Kleber e Marcelo, Alexsandro Burnier, PL, chegaram a igualar os feitos de Amauri, em tão pouco tempo.
Dionísio estava obrigado ao papel que lhe cabia, sem falar que possui experiência e estrutura para isso. Alexsandro, por outro lado, andava flertando com concessões, que quase lhe custaram no final do mandato, a inacreditável punição do Conselho de Ética da Câmara, sugerida pelo governo de Kleber e Marcelo, por meio do secretário tampão de Obras e Serviços Urbanos, Douglas Francisco Muller, MDB.
Diante do tiro no pé, a Câmara, mais uma vez – como aconteceu nos casos da CPI – fez o favor de abafar o caso a favor do governo, como relatei em TURMA QUE ENTERROU DUAS CPIs NA CÂMARA A FAVOR DO ATUAL GOVERNO, AGE ORQUESTRADAMENTE PARA ABAFAR ATO DE VINGANÇA INVENTADO POR KLEBER E MARCELO PARA PUNIR BUNIER. ELE EXERCEU APENAS O SEU PAPEL CONSTITUCIONAL DE VEREADOR
Voltando para encerrar.
Por que Amauri foi mais que Dionísio e Alexsandro, então os dois únicos da oposição até então dos 13 vereadores?
Porque Amauri era da Bancada do Amém, e não era um opositor por oposição e exposição numa mídia que não lhe deu bolas porque tinha que estar com o governo que a sustenta. Amauri, defendia do governo de Kleber e Marcelo, mas não os erros e as dúvidas do governo. Mais. Ele se cercava de documentação. Não se intimidava com os recados de retaliação e que não foram poucos. Achava, disse-me uma vez, que “estes recados, sinalizam que eu estou incomodando e que eles estão errados e eu certo“. Se ele não tivesse morrido tão prematuramente, o governo teria tido outro caminho? Talvez e improvável ao mesmo tempo.
Se ele não tivesse morrido tão prematuramente, poderia ter sido um nome para ser candidato a prefeito? Talvez e improvável ao mesmo tempo. Talvez, mas a sua saúde frágil seria uma aparente dificuldade muito grande. Improvável porque ele não tinha as bençãos dos poderosos e donos da cidade. A sua eleição a vereador no PDT já tinha sido uma surpresa e um acidente. Dificilmente, essas forças permitiriam uma segunda chance a ele que não estava domado e obediente. Afinal, Amauri tinha vida própria. Poderosos precisam de fantoches e não de donos dos próprios narizes na gestão de uma cidade e se estabelecendo na transparência e prioridades da comunidade. Mas, que Amauri, vivo, mesmo com todas as limitações, influenciaria ao declarar apoio a alguém, ah isso era muito provável.
Perguntar não ofende: dos candidatos que estão na prça, quem é que possui o perfil e ganharia o apoio de Amauri? Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Uma definição aos que possuem dificuldades para a clareza de quem é Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. “Nada de grave, nada de anormal” [sobre as eleições, resultados e invenção de números finais que deu vitória não provada ao ditador de esquerda Nicolás Maduro, na Venezuela no domingo passado]. “Lula sendo Lula. Mensalão era normal, esquema Petrobras era normal, roubalheira era normal. Dilma era normal. Conclusão: nós somos anormais”, escreveu Xico Graziano, no X.
Nada pode ser pior. O vice-presidente Geraldo Alckmin, PSB, cujo partido sugeriu que as eleições na Venezuela foram fraudadas e por isso, não democráticas, foi a posse do novo presidente da tirania e polo de desestabilização do Oriente Médio, onde é mentor e financiador de vários grupos extremistas e terroristas que atuam na região, Masoud Pezeshkian, do Irã.
Na terça-feira, como mostra a foto, Geraldo Alckimin estava sentado na primeira fila com o líder do grupo terrorista do Hamas, Ismail Haniyeh. Às duas horas da manhã desta quarta-feira, Ismail estava morto num ataque do Mossad (Israel) em plena Teerã. Vem mais e muita confusão por aí.
A continuar assim, o PT que já está com muitas dificuldades para se estabelecer competitivo nas eleições de outubro deste ano, muito pela errática e radical da governança que impõe o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Janja, Gleisi, Paulo Pimenta e outros, terá muitas dificuldades para se estabelecer na reeleição do próprio Lula em 2026. Está dobrando muito as apostas no atraso e naquilo que contraria a bandeira que o levou de volta ao poder: a democracia. Soa cada vez mais falso. Pedro Celso Zuchi, como previ, que coloque as barbas de molho. Vão descontar nos votos fáceis e cativos dele.
A Câmara de Gaspar aprovou por unanimidade as contas de 2022 do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, PP. E Kleber foi as redes sociais se vangloriar daquilo que está obrigado a fazer certo. O próprio Tribunal de Contas do Estado já havia feito esta recomendação no ano passado à Câmara de Gaspar. O documento do TCE, por falta de transparência, mais uma vez, não aparece no site da Câmara de Gaspar. Se aparecesse, se saberia que a prestação de contas de 2022 de Kleber foi entregue com atraso no órgão controlador. A quem mesmo Kleber está parabenizando?
Mais. Foram feitos vários apontamentos pelo TCE de correções neste relatório que analisou a prestação de contas do prefeito de Gaspar, todos de ordem de lançamentos incorretos ou em contas indevidas, pincipalmente, nas emendas parlamentares individuais e de bancadas que o município recebeu dos senadores, deputados federais e estaduais para completar várias obras por aqui naquele ano.
Impressionante I – As únicas sessões ordinárias da Câmara de Gaspar feitas uma vez por semana, estão cada vez mais curtas e tão logo passa o expediente deliberativo, a debandada se inicia. Alguns corajosos, ainda dizem que precisam cumprir agenda que “ajustaram previamente”, sendo que ela devia estar reservada unicamente para a sessão. Alguns desses vereadores ainda querem a reeleição. Será?
Impressionante II – Na Câmara gasta-se um monte de dinheiro para a área digital, incluindo, gente “especializada”. Mas, basta um vereador querer participar remotamente da sessão, que toda esta fantasia tecnológica desaba. Diante de tanto improviso, tem-se a certeza que está se colocando dinheiro dos pesados impostos dos gasparenses fora, num mundo multiconectado e a baixo custos.
O prefeito de Ilhota, Érico de Oliveira, MDB, conseguiu colocar o PL a seu reboque. Para a sucessão dele, o MDB de Ilhota oficializou o nome de Joel Soares. Para a vice, foi homologado Ademir da Silva, o Lico da Ise, PL. No diretório do PL de Ilhota, que queria ter até candidato próprio, há uma choradeira só, deserção e acusações de traições.
Com a manobra, que pode parar na Justiça, Érico de Oliveira, MDB, diminuiu, outra vez, o poder de fogo do PP. Quem indicou o vice para a coligação em Ilhota? O PL de Florianópolis num prato pronto. Não tem jeito. É uma atrás da outra.
Nesta quinta-feira à noite, na Sociedade Alvorada, será a vez do PL fazer a sua convenção e referendar a coligação com o União Brasil e PRD. Será chapa pura e também montada em Florianópólis, com o delegado Paulo Norberto Koerich e o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff. Será uma vez para 42 candidatos à Câmara de vereadores. Para encher o Alvorada, além da movimentação dos partidos coligados, do PP e empresários que atuam pela candidatura, são esperadas delegações de diversos municípios do Vale do Itajaí e de Florianópolis.
Coisas de Gaspar. No Barracão, estão desmanchando uma praça para implantar um campo de areia. Já na Rua Itália, no Alto Gasparinho, uma área de lazer pública está projetada para dentro da Sociedade Gasparinho, uma entidade que tem o direito, pelos estatutos, de restringir o acesso às suas dependências. Os “çábios” do presente estão criando dificuldades para os comunitários no futuro.
Então quer dizer que uma empresa de São Paulo, que não conhece nada de Gaspar, precisa vir aqui para fazer uma pesquisa eleitoral para sair antes de todos os candidatos estarem homologados? Nunca antes isto aconteceu por aqui. Com o tempo e o andar da campanha, vão ajeitando os cenários. Afinal, como diz a máxima nessa matéria, “uma pesquisa é um retrato do momento”. Seis de outubro será outro momento, se a pesquisa de sexta-feira não confirmar o que o retrato mostrará na sexta-feira.
Continua tensa a relação de bastidores do PL de Gaspar, da cúpula do PP – que tem candidato próprio, mas está embarcada em outra candidatura – e empresários que embalam a candidatura do delegado Paulo Norberto Koerich. Querem que o interventor do Republicanos em Santa Catarina, nomeado pelo presidente estadual do PL, Jorginho Melo, o deputado Federal por Rio do Sul, Jorge Goetten, evite, a qualquer custo, o registro da candidatura de Oberdan Barni e Aurino Amaral. O embate de bastidores está quentíssimo.
No sábado passado pela manhã, o Republicanos de Gaspar fez a pré-convenção na Sociedade Alvorada (a que homologará está marcada para segunda-feira dia cinco). O nanico, sozinho, sem coligação, sem tradição, conseguiu reunir muitas mais pessoas do que todas as apostas que rolavam pela cidade, exatamente para uma cilada: espaço grande e aberto como o Alvorada onde estará amanhã o PL. E esta aderência assustou o PL e até o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Não havia patrocinadores, não havia empresários, não havia comissionados e nem caravanas de outros municípios para inchar a pré-convenção.
Quem acha que o regime democrático de Nicolás Maduro, aquele que escolhe candidatos e elimina candidaturas adversárias, é muito longe daqui, não sabe da missa nem a metade. Este assunto de rifar a candidatura de Oberdan Barni pelo Republicanos, pode ainda parar na Justiça.
O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, está sofrendo nas redes sociais com a espera prolongada no atendimento no Hospital de Gaspar. O desgaste é grande. Previsível, para quem não quis dar transparência e soluções. Teve oito anos para fazer isso.
Final de governo. A prefeitura que está remanejando trocos e milhões na Câmara no seu Orçamento, acaba de alugar um imóvel para transferir a sede da Ditran. Ela, é quase autônoma, porque possuiu recursos das multas para gastar. Mas, até nisso falta foco e prioridade. Primeiro, faz-se um contrato para vigorar no outro governo. Segundo, ao invés de gastar com aluguéis, deveria se fazer concurso e contratar agentes de trânsito. A Ditran em Gaspar, hoje, é mera figuração para o controle, política e mobilidade urbana. Muda, Gaspar!
8 comentários em “O NOME QUE FALTARÁ NESTAS ELEIÇÕES PARA PREFEITO DE GASPAR: AMAURI BORNHAUSEN. OS PODEROSOS E DONOS DA CIDADE TEMIAM POR ESTE DESFECHO”
A ENCRUZILHADA DE LULA NA VENEZUELA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo
A esta altura, já está claro que não há nenhuma chance de a crise na Venezuela acabar com a saída de Nicolás Maduro do poder. Antes do pleito, ele mesmo avisou que, se não ganhasse a eleição, haveria um banho de sangue. Pois ele se proclamou vencedor e, mesmo assim, há um banho de sangue, porque o resultado é flagrantemente fraudulento, e a população tomou as ruas em protestos.
Pelo menos 16 pessoas já morreram, centenas ficaram feridas, e mais de 750 foram presas pelo regime. Um líder oposicionista foi sequestrado, e Maduro já disse que prenderá também a líder María Corina Machado e o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. Sete embaixadores que pediram a divulgação das atas eleitorais foram expulsos da Venezuela.
Depois de prometer tornar públicas as atas, o ditador voltou atrás e disse que não tem como apresentar os documentos porque o Conselho Nacional Eleitoral, controlado por ele mesmo, “está no meio de uma batalha cibernética nunca antes vista”.
A única coisa que importa para Maduro é continuar no poder, mesmo que isso leve a um isolamento internacional ainda maior.
Como observou o analista e editor-chefe da revista Americas Quarterly, Brian Winter, o venezuelano segue os passos do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, endurecendo a ditadura e a repressão sem se preocupar com o que o resto do mundo possa fazer.
Tal contexto coloca o governo brasileiro e o presidente Lula numa encruzilhada. O discurso oficial é de não aceitar os resultados da eleição sem ver as atas. Mas e se isso não acontecer?
Os diplomatas garantem que o Itamaraty não arredará pé, ainda que isso custe um afastamento da Venezuela — e apesar das declarações de Lula de que está tudo normal por lá. O fato de o governo ter “congelado” relações com o regime de Daniel Ortega é lembrado como exemplo de que o presidente é capaz de se posicionar em defesa da democracia mesmo contra governos com os quais tem afinidade ideológica.
A Venezuela, porém, não é a Nicarágua. E para Lula, qualquer decisão embute riscos significativos.
O país tem uma fronteira de 2,2 mil quilômetros com o Brasil na Amazônia, numa espécie de terra de ninguém por onde transitam de traficantes a garimpeiros ilegais e milhares de refugiados por ano.
Embora o comércio bilateral hoje seja pequeno, a Venezuela já foi o nosso sexto parceiro mais importante, quando a América Latina vivia um boom de commodities.
Nessa época, empresas brasileiras financiadas pelo BNDES faturaram bilhões de dólares com obras e serviços na Venezuela. Só a Odebrecht ganhou US$ 40 bilhões entre 1999 e 2013 — de acordo com as confissões de seus executivos ao Departamento de Justiça americano, um único lobista recebeu US$ 100 milhões em propinas para liberar pagamentos da construção do metrô de Caracas.
No ano passado, o governo autorizou a Ambar, de Joesley e Wesley Batista, a fechar contratos de venda de energia para a Venezuela que poderiam render até R$ 1,7 bilhão, se a crise não tivesse se agravado, e o negócio posto em banho-maria.
Politicamente, também, Lula e Dilma Rousseff sempre endossaram o chavismo. Em 2013, o petista chegou até a gravar um vídeo para a propaganda eleitoral em que dizia que a gestão Maduro representaria “a Venezuela que Chávez sonhou”. Já em 2023, recebeu o aliado com tapete vermelho em Brasília para uma cúpula de chefes de Estado, defendeu a retomada de conversas sobre a Venezuela no Mercosul e se declarou a favor da inclusão do país no Brics.
“Não é que o Brasil tenha assistido de camarote o endurecimento do regime e agora possa apenas lamentar”, contextualiza o professor de relações internacionais da FGV Matias Spektor. “O país é corresponsável pelo declínio da democracia venezuelana”.
Complica ainda mais o cenário o fato de a Venezuela ter o apoio e o financiamento da Rússia e da China, interessadas nas ricas reservas de petróleo e em diminuir a influência dos Estados Unidos na América Latina. Para o Brasil, não interessa entrar em rota de colisão com os americanos. Não foi por outra razão que Joe Biden fez questão de telefonar para Lula e sutilmente cobrar dele uma posição.
Internamente, também, o presidente só tem a perder apoiando Maduro, porque o bolsonarismo conseguiu transformar a questão venezuelana em item da pauta eleitoral doméstica, com amplo apelo entre conservadores e grupos evangélicos.
É essa a encruzilhada de Lula. Ninguém discute que o presidente seja um democrata da porta para dentro. O que o mundo quer saber é até que ponto ele está disposto a abrir mão de um aliado como Maduro em nome da democracia.
LULA NORMALIZA A FRAUDE ELEITORAL DE UM DITADOR, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Se a reação da chancelaria brasileira à farsa eleitoral venezuelana foi tardia e tímida, mas ao menos buscou um tom de cobrança, a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi de um cinismo vil e cúmplice.
“Não tem nada de grave, não tem nada de assustador”, disse Lula em entrevista. “Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que tem 51%, tem outra pessoa que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não, entra na Justiça, e a Justiça faz.”
Com lógica e tortuosa, o presidente da República evoca sua tristemente célebre observação do ano passado sobre a Guerra da Ucrânia, ao nivelar a Rússia invasora e o país invadido —”Quando um não quer, dois não brigam”.
O petista, mais uma vez, deixa escrúpulos de lado na defesa acovardada de tiranias que partem de um camarada seu, seja Vladimir Putin, seja Nicolás Maduro.
Nada houve de anormal, depreende-se de sua fala, em uma eleição cujo órgão organizador impediu sucessivamente candidaturas de oposição e cancelou o convite a observadores da União Europeia —afora a prisão de dezenas de cidadãos contrários ao regime chavista durante a campanha.
Nada houve de anormal, para Lula, na divulgação opaca de um resultado que contrariou as pesquisas de intenção de voto, após mais de seis horas sem nenhuma informação sobre os números das urnas.
Os descontentes, segundo a cândida recomendação do petista, devem recorrer à Justiça —num país em que até o Parlamento teve seus poderes esvaziados, sete anos atrás, após uma vitória oposicionista no pleito legislativo.
Enquanto o mandatário brasileiro discorria sobre a normalidade da eleição, considerada “pacífica, democrática e soberana” por seu partido, as ruas de Caracas e outras cidades venezuelanas eram tomadas por protestos populares que resultaram em ao menos 11 mortes e centenas de presos.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) não reconheceu a reeleição de Maduro, apontando haver indícios de distorção do resultado. Os governos de esquerda do Chile e da Colômbia, entre muitos outros da região, manifestaram publicamente suas dúvidas quanto à lisura do pleito.
Longe de microfones e holofotes, Lula conversou por telefone com o americano Joe Biden e, segundo a Casa Branca, concordou com a necessidade de divulgação completa e imediata dos dados relativos à votação na Venezuela.
Foi essa a posição inicial do Itamaraty, que mostra o caminho menos desonroso a ser seguido pelo Brasil. Infelizmente, o descaramento de Maduro e a pusilanimidade do presidente brasileiro parecem nos reservar mais vergonhas.
Herculano, você nunca participou da política de Gaspar. Você sempre foi omisso nos projetos da cidade. E agora, seu Domício, vem o senhor criar uma fantasia da atuação do Sr Amauri, na política de Gaspar. Eu tive alguns poucos contatos com falecido vereador e posso te afirmar que todos os nossos projetos nunca foram cumpridos. A revelia, o vereador só visava seus interesses particulares. Portanto, senhor jornalista, conheça a história, de fato, antes de ficar criando ilações sobre a atuação de alguém que o senhor nem conhecia. Sds
Esta é a voz do PDT que não vai ter votos e nem projetos nas eleições de seis de outubro deste ano. Realmente, eu sou ignorante e nem sei mesmo onde fica Gaspar, mas tenho opinião, voz e até, credibilidade. Mas, ninguém me lê. Então…
Não, político não é tudo igual.
Tem aqueles políticos de carreira, que só pensam em manter seus privilégios e honrarias. Tem os que querem preservar seus cargos comissionados, movidos apenas pelo interesse financeiro. E, claro, tem aqueles que buscam a fama, que gostam de ser cortejados pelas comunidades e ouvir seus nomes ecoando nos microfones.
Mas Amauri era diferente. Ele nunca foi um político de verdade. Amauri era um cidadão politizado.
Ele foi conferir de perto as picaretagens dentro dos órgãos municipais. E, por isso, foi fácil para ele apontar as irregularidades. Porque, se nós, que estamos fora do círculo dos poderosos, conseguimos ver claramente as trapaças e falcatruas que eles cometem como se tudo fosse permitido, quem está lá dentro também consegue ver tranquilamente.
Mas só ter boa vontade não basta. É preciso manter-se independente, ficar de fora da folha de pagamento e sem indicar comissionados na prefeitura. Porque, a cada votação contrária ao interesse dos poderosos, a pressão vem pesada, ameaçando demissões de familiares e amigos que foram empregados como favor político partidário.
Então, aqui fica a pergunta: quantos dos atuais pré-candidatos e seus familiares estarão empregados na próxima gestão? Essa resposta já nos dirá se os vereadores terão autonomia para votar conforme a vontade do povo ou conforme a vontade do partido.
Não podemos pensar que isso só acontece em Brasília. A mudança começa na nossa cidade.
Este ano tem eleição. É hora de fazer a diferença. Converse com amigos e familiares. Escolha um pré-candidato comprometido com mudanças reais. Se não for agora, vamos passar mais quatro anos reclamando nas redes sociais sobre políticos que trocam seu apoio por cargos comissionados e favores nas repartições públicas. E não dá mais para aceitar isso como normal.
LULA DEIXOU MADURO SE CRIAR, por Mariliz Pereira Jorge, no jornal Folha de S. Paulo
Lula vai precisar de muito mais do que “chá de camomila” para se posicionar sobre a situação na Venezuela. Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo de Nicolás Maduro e de que o país vizinho não é “vítima de narrativa de uma antidemocracia e autoritarismo”. Para começar, reconhecer que o venezuelano é protagonista dessa crise, que as eleições foram fraudadas, que o nome do que acontece no momento é golpe de Estado.
É bom lembrar que Lula recebeu o venezuelano, que não pisava no Brasil desde a posse de Dilma. Pouco mais de um ano depois de ter assumido a Presidência, de ter enfrentado uma quase tentativa de golpe, o presidente brasileiro estendeu o tapete vermelho a um ditador, contrariando um movimento de parte da esquerda da América Latina que passou a condenar a ditadura.
Um encontro bilateral antecipado foi arranjado durante reunião de líderes sul-americanos, o que foi lido como desfeita por outros convidados, exatamente pelo status que Maduro tem na região. Mas Lula insistiu em ignorar as acusações feitas pela Anistia Internacional, Humans Rights Watch e ONU, que denunciam a violência estatal usada pelo ditador para se manter no poder, por meio de sequestros, prisões, estupros e execuções de opositores, civis, sindicalistas e jornalistas.
No encontro com Maduro, além da puxação de saco e das baboseiras sobre as sanções econômicas impostas ao país, Lula disse que cabia a ele construir a sua “narrativa” e que “os nossos adversários terão que pedir desculpas pelo estrago que fizeram à Venezuela”. A narrativa está aí, cai quem quer. O PT, por exemplo, que em nota disse que o processo eleitoral foi “pacífico e democrático”. Contrariando as projeções, Maduro diz que venceu as eleições, mandou prender opositores, já são pelo menos seis mortos nos protestos. Lula deveria estar muito “assustado” e ser ele a se desculpar por ter deixado um ditador se criar no nosso quintal.
A POF DE LEWANDOWSKI, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Ricardo Lewandowski entrou no Ministério da Justiça com uma boa biografia, as melhores intenções e dois planos. Um criará o Sistema Único de Segurança, centralizando informações que estão dispersas na árvore do governo. A ideia é boa, restando-lhe o teste da prática. O outro plano é redundante e politicamente tóxico. Trata-se de anabolizar a Polícia Rodoviária Federal, transformando-a numa Polícia Ostensiva Federal, ou POF.
Pretende-se mexer com uma Polícia Rodoviária que funciona, mas tem problemas passados e presentes, berços para encrencas futuras.
Chamada de Polícia Rodoviária do Flávio (Bolsonaro), ela foi usada na tentativa de atrapalhar os movimentos de eleitores nordestinos no segundo turno da eleição de 2022. A manobra falhou porque o ministro Alexandre de Moraes ameaçou prender seu diretor.
Silvinei Vasques está preso desde agosto de 2023 por essa malfeitoria y otras cositas más. Perdeu 13 quilos. Meses antes, na sua gestão, agentes da PRF mataram um cidadão asfixiando-o no porta-malas de uma viatura. Isso no governo Bolsonaro.
Com Lula 3.0, a PRF tornou-se sede de uma guerra de dossiês contra seu atual diretor. Cinco de seus superintendentes são filiados ao Partido dos Trabalhadores. Tudo o que uma polícia não precisa é de superintendentes filiados a partidos. Esse é um direito de qualquer cidadão, mas guerra de dossiês já é um estágio superior de clientelismo.
A criação de uma Polícia Ostensiva Federal é uma gritante redundância. A União já tem a Polícia Federal, que funciona direito e não mostra os sinais de partidarização já exibidos pela PRF. Com Lula, mandariam petistas. Coisas como essas inibem a ação profissional, resultando em algo que o próprio PT já percebeu: cresce o crime organizado.
Depois dos distúrbios do 8 de Janeiro, saiu do governo a ideia de criar uma Guarda Nacional para proteger Brasília e sabe-se lá mais o quê. A ideia foi arquivada quando chegou ao Planalto o desconforto surgido nas corporações militares. (Em 1889 a República foi proclamada por oficiais do Exército e vivandeiras descontentes com um fortalecimento da Guarda Nacional.)
Um governo petista não precisa criar uma nova polícia. Estima-se que a POF geraria 3 mil nomeações, mas pode-se esperar que os lugares seriam preenchidos por concurso.
Até o governo de Bolsonaro, um presidente que dizia ter “o meu Exército”, a PRF foi uma instituição exemplar. Nele, foi mobilizada até nas tétricas mobilizações da necropolítica do Rio de Janeiro contra comunidades pobres. Com décadas de bons serviços comprometidos e um diretor na cadeia, a PRF não precisa expandir-se. Precisa retornar ao seu quadrado profissional.
Foi a expansão que arruinou a imagem da PRF e encarcerou o doutor Silvinei. Policiais amigos de ocupantes do Planalto são um perigo. Daqui a três semanas completam-se 70 anos da ruína do governo de Getúlio Vargas. Ele deu relevo ao chefe de sua guarda pessoal, e Gregório Fortunato equipou-se com policiais amigos.
Nos primeiros dias de agosto de 1954, dali saiu uma ideia: matar o jornalista Carlos Lacerda. Deu no que deu e, no dia 24, Getúlio Vargas matou-se.
LULA RELATIVISA DEFESA DA DEMOCRACIA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Parecia que Lula adotaria uma postura ligeiramente mais prudente em relação às eleições eivadas de evidências de fraude na Venezuela, mas o temor de que, uma vez encorajado a falar, o presidente brasileiro não conseguiria esconder o viés pró-Maduro se confirmou com as declarações dadas por ele em entrevista ontem.
Seria cômico, se não fosse lamentável e gravíssimo, que Lula decida culpar a imprensa brasileira (!) por, segundo ele, transformar na “Segunda Guerra Mundial” o que seria um processo “normal”.
Fica explícito que, quando não está em ambiente controlado, o presidente não tem nenhuma divergência em relação a seu partido, o PT, que prontamente reconheceu a vitória autoproclamada de Maduro, sem a apresentação dos boletins de urna ou de qualquer comprovação de que os números anunciados pelo cooptado Conselho Nacional Eleitoral (CNE) correspondem à realidade da população que compareceu em massa para votar.
Depois de sua vitória suada contra Jair Bolsonaro, e de denunciar, acertadamente, o 8 de Janeiro como uma tentativa de golpe no Brasil, Lula volta todas as casas no tabuleiro ao demonstrar absoluta falta de compromisso real com a defesa da democracia. Em outras palavras, essa pregação só vale quando o autoritário da vez é identificado pelo presidente e por seu partido com a direita ou a extrema direita, como é o caso de Bolsonaro ou de Donald Trump.
Ao derrapar feio mesmo no script de cautela ensaiada e tardia que o governo montou diante da pantomima chavista, Lula atrela seu mandato e, pior, o Brasil a uma ditadura sanguinária que deixa um rastro de mortes, violações de direitos e miséria na sua luta desesperada por manter o poder pelo poder, sem nenhum projeto visível para resgatar a Venezuela da crise em que ele próprio a mergulhou na sua escalada de terror.
O alinhamento incondicional a um regime que deixou de ter sequer uma plataforma social típica de governos socialistas, como Hugo Chávez e Maduro definem seu bolivarianismo militaresco, mostra quanto a ideologia turva a capacidade de discernimento de Lula e do PT, que preferem colher imenso desgaste doméstico e no front internacional a se dissociar de um tirano.
Assim, por obra e graça apenas do presidente e de sua sigla, sem que a oposição bolsonarista tenha precisado mover uma palha, Lula internaliza uma crise que de forma alguma deveria ser sua, menos ainda do Brasil diante de suas muitas carências urgentes nos campos social, econômico e ambiental.
Faz isso no momento em que sua popularidade vinha melhorando, o que mostra que mesmo o louvado tirocínio político de Lula, que o fez sobreviver a crises políticas e econômicas nos seus mandatos anteriores e, inclusive, renascer nas urnas depois de preso em 2018, está comprometido por uma certa teimosia em reafirmar posições antigas que não encontram mais qualquer respaldo na realidade.
Lula deu a declaração de que está tudo normal na Venezuela mesmo depois da notícia de que há pelo menos 11 mortos em protestos no país, além da denúncia de perseguição a opositores e a ameaça explícita de Maduro de aprovar novas leis de exceções para se juntar ao seu extenso corolário de medidas ditatoriais.
Foi de improviso? Estava desinformado? Mas não enviou Celso Amorim ao cenário já conflagrado, mesmo com insistentes alertas de que isso seria uma fria? São perguntas simples, que deveriam ser triviais para fazer a um chefe de Estado diante de um cenário tão crítico.
Mas o Itamaraty virou um mero reprodutor de notas burocráticas, o chanceler Mauro Vieira é uma testemunha silente do que Amorim diz a um Lula bastante disposto a ouvir só que foi tudo bem, e o companheiro Maduro está reeleito. Com essa arquitetura, qualquer discurso empolado do brasileiro daqui para a frente louvando a democracia e cobrando déspotas já nasce sem credibilidade.