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O NÓ QUE O DESCUIDO E AS CIRCUNSTÂNCIAS DERAM NOS POLÍTICOS CANDIDATOS A QUALQUER COISA EM GASPAR NO ANO QUE VEM

Está cada vez mais claro entre nós, seja pelas conversas, movimentações e principalmente pelos discursos que se “montam”, de que os políticos vão mais uma vez à disputa de prefeito, vice e vereadores de Gaspar escondendo os problemas da cidade, a qual eles próprios estão maltratando-a. E, exatamente, pelo andar desta da carruagem – e que mais se parece uma carroça -, não estão dispostos a dizer como vão fazer para mudar este estado de coisas e assim, transformá-la num ambiente minimamente preparado para o futuro.

Como na ilustração, estão insistindo e apostando que os eleitores e eleitoras são manipuláveis por pirotecnia do marketing político já ultrapassado em dias de inteligência artificial

E tudo isso pode mudar. Basta o que se esconde aparecer naquilo que alguns escândalos podem ainda surgir a tempo de embaralhar o jogo eleitoral do faz de conta e das uniões de interesses, as quais, por oportunidades comuns, e não exatamente ideológicas, entrelaçam-se em coisas incompatíveis como a cobra e o sapo.

Vamos aos fatos.

A bipolaridade entre o PP e o MDB já não existe mais desde a última eleição de 1996 quando duelaram com Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho, e João Leopoldino Spengler. Os tempos são bem outros. Mas, há gente descartando o pragmatismo e sendo engolido pela saudade do século passado. 

Em 2004 para vencer a zebra de 2000, com Pedro Celso Zuchi, PT, O PP e o MDB se uniram pela primeira vez como sapo e cobra no mesmo balaio e elegeram em 2004, o médico veterinário Adilson Luiz Schmitt, então no MDB. Não deu certo. E não por causa do Adilson, mas principalmente pelo jeito do MDB de mesmo enfraquecido, querer engolir tudo.  E a briga teve resultado contra a união do MDB e PP: Zuchi voltou para dois mandatos. Fez-se a mesma união em 2016 para se ter Kleber Edson Wan Dall, MDB, que está no segundo mandato, depois de ter sido vereador e tentado a prefeitura em 2012.

É passado. Mas, há consequências do presente como a falta de aprendizado dessa união de interesses voltado apenas ao poder e para os poderosos envelhecidos, mesmo remasterizados de novos no discurso. E onde está o nó, então? Nos cenários nacional e no local. 

No cenário nacional, a polaridade saiu do PSDB e PT e foi dar no bolsonarismo e no lulismo. O bolsonarismo é a revelação da direita – a xucra, a que espanta uma maioria e a parte conservadora fora das igrejas evangélicas neopentecostais, a atropelada. Já o lulismo dispensa apresentação: sem ele, não há PT de verdade, muito menos a esquerda do atraso. E quem sustenta ambos no poder? O pêndulo do Centrão onde estão PP, MDB, União Brasil, PSD...

No cenário local, o prefeito Kleber – que nunca foi MDB de verdade, ao contrário o MDB precisava dele para alcançar a máquina de voto de cabresto dos templos – vê o “seu” MDB se definhar aqui – em Blumenau já se foi há mais de dez anos – e no estado. E parte deste erro é do próprio Kleber. Ele não lidera o processo político para ele próporio e muito menos para o MDB, fato que o deixaria com a chave dos destinos do partido nas mãos. 

Kleber é evangélico e conservador. Por isso mesmo, quem de fato dá as cartas no ambiente político dele, sem nenhum disfarce, e para primeiro proteger os interesses da pregação dos templos, é o deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD. 

Pior. Kleber é um descuidado. Mal orientado, vive de marquetagem nas redes sociais com coisa pequena. Elas não o sustentam na realidade para as exigências da sua cidade e não o estabelece como o centro político da sua cidade e nem o faz um ator político regional e lateral. Em seis anos de governo, Kleber ainda não criou uma marca de governo sequer para si e nem se estabeleceu num legado – seja ele político ou de realizações – para transferi-los, a marca e o legado, a quem ele disser que vai apoiar em outubro do ano que vem. Para piorar, Kleber luta contra fantasmas de possíveis escândalos. Já teve uma CPI custosamente abafada na Câmara. Vem aí a falta de ar…

Por outro lado, o outrora bicho surpresa e posteriormente papão, de Gaspar, e chamado de PT, nascido por aqui, diga-se, nas hostes conservadoras oportunistas gasparenses, desta vez não está tendo vida fácil. Os nossos votos, apesar da migração, são majoritariamente conservadores e direita. Aliás, esta é aposta de Kleber para se sair com poucos arranhões no embate eleitoral do ano que vem. E parece que o PT comeu a isca.

Se de um lado, Kleber e seu entorno defendem Bolsonaro, suas pautas de costumes e bélicas para se ter a população rica armada, por outro lado, os ensaios no PT é defender o governo Lula enlameado pelo mensalão, petrolão e suas pautas sociais, a quais não se sustentam, por enquanto, na falta de governo, das obrigatórias reformas estruturais, na formulação de uma âncora fiscal, na geração de mais empregos, segurança jurídica e econômica para investimentos e com isso se ter mais tributos, exatamente para validar a gastança do populismo e as demandas sociais, isto sem falar na urgência de se criar condições para baixar a inflação, a que penaliza os pobres.

Há nos bastidores da política de Gaspar movimentos ingênuos de mudanças e outros, ardilosamente montados, para atrair incautos para o jogo bruto da política local e assim privilegiar os mesmos, em campos ideológicos diferentes, mas que no fundo vivem do mesmo pode de ouro: o emprego, o serviço e a gestão pública. Ou seja, dos nossos pesados impostos.

Um deles, visa cooptar parcerias de apoiadores financeiros, num ambiente onde já se tem bilhões de Reais dos impostos dos brasileiros para campanhas sem apoio privado. Outros políticos, tentam se associar a nomes de empresários para dar ar de seriedade às suas pretensas candidaturas, fato que por si só, mostra que não possuem a tal credibilidade, bem como, a capacidade de planejamento, administrativa e de execução transformadora, às quais tentam vender nos palanques de campanha e continuam depois de empossados nas entrevistas sem perguntas, nos programas de rádios comprados, na propaganda das suas mídias sociais impulsionadas e visitas aos botecos da cidade.

Do jeito que ainda está, até porque ainda é cedo em relação ao que pode acontecer com certos nomes e grupos, a eleição em Gaspar no ano que vem tem tudo por passar por um nome que represente a renovação de tudo isso que está embrulhado e malcheiroso por aí.  Um nome que não esteja ligado ao presente e que testado, não deu cachos como prometia os vendedores da árvore frutífera. Um nome que não esteja ligado a velharia que está unida fingindo-se de novo ou de renovado. Um nome que queira discutir a cidade, ou um nome que represente a vingança ao establisment como foi Zuchi na eleição de 2000.

É muito cedo, eu sei. E não tenho bola de cristal. E minha chance de estar certo é de apenas 50%. Mas dois fatores estão no radar: o desastre do governo Lula 3, que faz de tudo para ser pior do que Dilma 2, a impichada, bem como o cansaço da cidade com os resultados seus atuais políticos e gestores públicos, que estão bem, obrigado, mas perseguindo quem não esteja alinhados incondicionalmente com eles.

Ambos, Lula e Kleber, podem mudar o final desta previsão. Só eles. Mas, antes precisam aceitar que erraram ou que estão errando. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Ainda sobre os bastidores das armações políticas em Gaspar. Mulher de político foi escalada por seu marido para fazer uma visita a uma amiga. A missão, era a de convencer o seu marido da sua amiga a não se filiar a nenhum partido e nem patrocinar ninguém na campanha do ano que vem. Qual a alegação? O suposto inferno de que é a política aqui e em qualquer lugar, a qual pode, segundo a madame, até destruir famílias.

Cada coisa. No caso específico, é de se perguntar: estamos diante de uma exceção. Pois a interlocutora até o presente momento se deu bem com o marido político e a família dele, unida, vem se fortalecendo ainda mais na ambição de poder por meio da política.

Deboche I. Na audiência pública para apresentação do relatório da Saúde Pública em Gaspar e referente ao terceiro quadrimestre do ano passado, ou seja, o que fechou 2022, feita esta semana na Câmara, o atual secretário da Saúde, o vereador licenciado Francisco Hostins Júnior, MDB, garantiu que ao vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, que todos os números mensais da sua pasta e do Hospital de Gaspar estão disponíveis, imediatamente, a qualquer um. Verdade? Hum!

Deboche II. Mas, pela encenação feita até aqui, não é bem assim. Tanto que o caso foi parar na Justiça e com prazo para a prefeitura e o Hospital fornecerem ao Ministério Público e à sociedade gasparense os números que escondem há anos. Então estão construindo narrativas? Ai, ai, ai.

Deboche IV. O tudo isso que quer dizer, de verdade e bem claramente?

Deboche V. Primeiro que a secretaria da Saúde, a secretaria de Fazenda e Gestão Administrativa, bem como o Hospital, mandaram bananas e “testaram” o Ministério Público. Se não foi isso, todos cochilaram neste assunto, como já mostrei em artigo anterior. A prefeitura é boa na marquetagem e que também já mostrei, trabalha contra os seus políticos e gestores públicos. Então…

Deboche VI, Segundo e principalmente: que cai por terra a desculpa esfarrapada imediata dada pelo secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, que acumula a presidência da Comissão Interventora do Hospital, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. Ele, surpreendido, pelo pedido judicial, disse que precisava de tempo para recolher, analisar e enviar as montanhas de papelório – em tempo de mídias digitais integradas – de informações ao Ministério Público e que ainda devido, à quantidade, supunha que poderia pedir mais prazo. Há uma nota oficial.

Deboche VII. Como assegurou Júnior Hostins a Dionísio na audiência pública, e está gravado, tudo está pronto e atualizado. E tanto que está que estes dados serviram de base para a apresentação do secretário da Saúde. Trata-se de deboche do poder Executivo e do poder de plantão no mais amplo sentido da palavra e contra autoridades constituídas, investidas do poder de fiscalização. Se fazem isso com o MP e a Justiça, rotineiramente com vereadores até da própria base, o que farão com reles mortais? Vingança!

O relatório desta audiência pública não deixou nenhuma dúvida naquilo que se questiona e foi escrito aqui. Esta área consumiu R$91,1 milhões no ano passado – despesa efetivamente empenhada. Deste total, R$43,3 milhões foram para a Atenção Básica (postinhos) e pasmem, R$45,0 milhões para Assistência Hospitalar e Ambulatorial. Nela está essencial e majoritariamente o Hospital de Gaspar e minoritariamente, a Policlínica e as especialidades.

Resumindo: 97% dos recursos estão concentrados em duas rubricas da Saúde Pública em Gaspar. E daquilo que é tido como Assistência Hospitalar, mais de 75% segundo o balanço da prefeitura de 2022, foi destinado para uma única rubrica direta ao Hospital (R$33,8 milhões), diante da multiplicidade de demanda por especialidades.

Concluindo: a Saúde consumiu 28,98% das receitas do Orçamento, ou seja, R$31,1 milhões a mais do que a constituição manda Gaspar aplicar na Saúde. É um ralo, pois na outra ponta, há queixas, filas, dor e até falta de ar. Então qual a razão para resistir tanto na transparência dos números, bem como na melhoria do sistema em favor dos mais vulneráveis? No mínimo estranho, até porque tem dinheiro grosso do governo federal (21,2 milhões) e estadual (R$1,5milhão)

O prefeito de Ilhota, Érico de Oliveira, MDB, foi a Cidade do Cabo, na África do Sul, assistir a partida dos velozes barcos da Ocean Race em direção a Itajaí. Ilhota não fica a beira do mar. Os competidores não irão a Ilhota. E o Parque Náutico para os riquinhos no poluído Rio Itajaí Açú, está em Gaspar.

O fedor do lixo. A “Operação Mensageiro” pode atingir até 140 municípios. Quanto mais se mexe, mas fede. E para se limpar do mau cheiro, tem gente delatando. A Serrana não estava circunscrita a coleta de lixo. Ela era uma fazedora de múltiplas tarefas para as prefeituras desde que parte virasse lucro e outra propina. E por não ter braços suficientes e não ser especialista em tudo, mas em arrumar contratos e ganhar licitações, terceirizava. Inclusive a recolha de lixo e com gente que já experimentou a prisão.

Parte do PL de Gaspar resolveu peitar o deputado Ivan Naatz, de Blumenau. E pelas fotos espalhadas, acompanhadas com deputado estadual estranho à região, tudo com aval do governador Jorginho Mello, do mesmo PL. No fundo bobagens e exercício de egos. E este estado de coisas não leva de fato a resultado prático nenhum para a cidade, cidadãos e cidadãs.

O que de fato os que estavam na foto, incluindo o governador, que já foi morador de Gaspar, quando gerente do extinto BESC, já definiram como foco de solução para a comunidade? Quais os prazos para estas realizações? Ou vão ficar mais uma vez nas fotos, intrigas, papo furado, papelinhos e verbinhas? Se o interesse é do município, o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, não devia estar lá na audiência e na foto? Acorda, Gaspar!

Ao ver a foto do governador Jorginho Mello, PL, e do prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, Podemos, e da reitora da Furb, Márcia Sardá, com o ministro da Educação, Camilo Santana, PT, em Brasília, buscando encaminhar a tal federalização da instituição, o ex-egresso do curso de Direito, o petista João Pedro Sansão, não se conteve: “enquanto alguns fazem videozinhos criticando o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva, PT], outros avançam em pautas”.

João Pedro se referia ao prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que recentemente fez um vídeo lascando o pau no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, exatamente para o prefeito não perder a distância do seu público evangélico.

Por outro lado, não custa lembrar, que foi Kleber que, do nada, salvou o caixa da Furb com R$14 milhões de impostos dos gasparenses comprando o terreno da Rua Itajaí, e que já entrou no esquecimento popular. Alegava-se que era para se construir nele o novo prédio da prefeitura. O PT de Gaspar pelo jeito também se desmemoriou na cobrança. Sabe dos problemas, mas teme entrar em divididas. Malandramente, terceirizar o que é da sua obrigação.

Não pegou bem a Moção de Repúdio encabeçada pelo vereador Ciro André Quintino, MDB, contra a regulação do governo Federal à compra, posse e porte de armas no Brasil. Os conservadores viram uma apropriação malandra do tema, até porque Ciro não possui armas, não frequenta clubes de tiro, nem os tradicionais de caça e tiro. 

E ao mesmo tempo, é de se perguntar, ao povo esfomeado, sem emprego, ou se virando na informalidade qual é a prioridade: comida ou armas, neste momento. Quem dos eleitores de Ciro, um político popular, pode ter milhares de reais para comprar munições, armas e até arsenais para uso ou coleções, que em alguns casos por roubo ou comércio clandestino vão parar nas mãos dos bandidos?

O MDB de Santa Catarina está comendo o pão que o diabo amassou no governo de Jorginho Mello, PL. Não bastasse a humilhante nomeação do deputado Jerry Comper para titular da secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, agora o governador sacou o ex-governador Eduardo Pinho Moreira da diretoria do BRDE como representante do estado na instituição. E nela já indicou o ex-prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinubing, União Brasil. Só falta o aval do Banco Central.

Perguntar não ofende. Nos seus mandatos, quantas vezes o vereador Ciro André Quintino, MDB, foi à secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, em Florianópolis? Agora, que o deputado Jerry Comper, MDB, é titular dela, e ele é seu cabo eleitoral, fará nela à parada semanal, um espetáculo registrado para as redes sociais como se fosse um artista? E já começou. E nas redes, o assunto rendeu. E o vereador sendo questionado. Essa gente aposta alto na burrice dos seus eleitores. E depois reclama.

A toque de caixa, e retratando à falta de planejamento na Educação, pois este estado de carência de professores e berçaristas na rede municipal de Gaspar estava desenhada desde o ano passado, foi aprovada na Câmara na terça-feira. Gente do meio consultada, diz que não é suficiente. Pior, nos CDIs tem cuidadores na cozinha e servindo as refeições, obrigação que está no preço pago à terceirizada. Nem a secretaria de Educação cobra. Nem o Sintraspug fiscaliza.

Mudando a história. A atual coordenadora do Programa de Vereador Mirim de Gaspar, Simone Macki Voigt, afirmou em entrevista à Rádio Sentinela do Vale, que o atual prefeito, Kleber Edson Wan Dall, MDB, foi vereador mirim. Não foi. Como Simone, Kleber foi apenas coordenador do programa entre 2007 e 2008.

Depois da Capital Nacional da Moda Infantil que só existe na Lei e feita por políticos, estamos caminhando para uma cidade exemplo de inovação com a mesma cepa marqueteira. Cada coisa. Acorda, Gaspar!

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7 comentários em “O NÓ QUE O DESCUIDO E AS CIRCUNSTÂNCIAS DERAM NOS POLÍTICOS CANDIDATOS A QUALQUER COISA EM GASPAR NO ANO QUE VEM”

  1. JOGO DE LULA COMEÇA AGORA, por Vinicius torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    O ano político parece por enquanto o ano do futebol brasileiro, que começa com esses campeonatos estaduais, em geral uma várzea. Até agora não houve partidas no Congresso, por exemplo.

    Aconteceram apenas amistosos de distribuição de cargos, de resultado inconclusivo. O jogo duro da partilha de poder e dinheiros ainda está para começar. O esquema tático que Luiz Inácio Lula da Silva desenha ou improvisa não foi testado nos campos reais do emprego, da inflação ou do Congresso. Na arena dos juros, o governo está perdendo de muito.

    Lula ainda não teve de jogar com (ou contra) Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, príncipe do centrão, sultão das emendas parlamentares, comandante dos tratores legislativos e ex-regente do governo das trevas de Jair Bolsonaro. A gente já se esqueceu do resultado da eleição de 2022, mas convém lembrar que Lula vai jogar no campo do adversário, com muitos jogadores a menos. A situação é tão difícil que o governo petista passou um paninho vermelho para a reeleição tranquila de Lira – foi sensato.

    Pela primeira vez na República de 1988, o Congresso é dominado por partidos que mesclam extrema direita com uma direita que, de tão negocista, roubaria até o velho MDB.

    O Congresso se acostumou a mandar mais e seus caciques se habituaram a ter mais dinheiros para repartir. A Lei das Estatais racionou o número de cargos para a barganha. Afora as despesas obrigatórias, os recursos que sobram do Orçamento são mínimos. Ficou mais difícil adquirir apoios.

    Está para aparecer, em um futuro mítico, um Congresso que se oponha a aumento de gastos, o que em tese seria do gosto de Lula (que talvez seja impedido de fazê-lo, pela realidade). Mas parece claro que os parlamentares não vão bulir com as reformas liberais e similares.

    Além da concessão de poder e recursos, o desempenho de Lula no Congresso depende também da popularidade. O presidente chegou ao terceiro mandato contra a vontade de quase metade do eleitorado. Tem pouca gordura para queimar. Em tempos normais, prestígio varia com inflação e emprego.

    Seria muito difícil salvar a economia em 2023. Agora, há o risco de que 2024 vá para o vinagre. Lula escolheu o Banco Central como bode expiatório de um eventual fracasso. Até quando pode colar o discurso sobre juros e “rentistas” se não houver melhora em emprego e inflação, a diminuição da “taxa de sofrimento” econômico?

    Por enquanto, Lula deve ter o apoio de seus adeptos mais fiéis, pois manteve o Bolsa Família em pelo menos R$ 600. No entanto, trata-se aqui de no máximo um quarto do eleitorado. Além do mais, o benefício tem sido comido pela inflação. Desde abril de 2020, quando apareceu o auxílio de R$ 600, a inflação dos alimentos foi de 40% (“alimentos no domicílio”, na estatística do IBGE). A carestia da comida continua rodando a mais de 10% ao ano.

    Para a população fora do Bolsa Família, em média três quartos da renda vêm do trabalho. O ritmo de criação de empregos foi forte em 2022, mas diminui rapidamente e assim deve continuar, dados o arrocho dos juros e a incerteza econômica. Desde novembro, o discurso de Lula provocou alta ainda maior de juros, disseminou incerteza e abafou o otimismo entre donos do dinheiro (para quem Lula 3 seria Lula 1, não Dilma 1).

    Se Lula e PT deixarem Fernando Haddad e equipe trabalharem, é possível salvar 2024. É o que vai se ver a partir deste março, quando começam os jogos.

    Por enquanto, a administração da economia está assombrada por zumbis do bestiário da esquerda velha, como manipulação de preços, favores para empresários, imposto sobre exportações ou pela ideia de que se possa gastar o quanto quiser e manter juros e dólar a preços camaradas.

  2. Este artigo, escrito por uma referência petista, precisa ser lido pelos os petistas, os que insistem e vivem eternamente num no mundo da lua, como ele fosse o único, numa versão tão irracional como os terraplanistas, e a terra, onde a realidade é evidente e mutante, um satélite desta bolha prateada.

    O PT é assim. Se hão há problemas, ele cria e dentro do seu próprio partido e do seu campo ideológico. Desmancha seus ícones, ideias e experimentos. E depois reclama que é perseguido, sofre impeachment e outros até são presos.

    PT E SEU GOVERNO, por Celso Rocha de Barros, no jornal Folha de S. Paulo

    Na semana passada, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou o fim dos subsídios aos combustíveis defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O risco de personalização do debate era evidente. A disputa entre Gleisi e Haddad pela liderança do PT já dura alguns anos. Mas há mais em jogo do que isso.

    Se Gleisi está tentando minar Haddad para se tornar presidenciável, a estratégia é muito, muito arriscada. É difícil imaginar um cenário em que Haddad dê muito errado e Lula eleja seu sucessor em 2026, seja ele, ou ela, quem seja.

    Se Haddad cair, há bem mais gente na disputa pelo controle do PT além de Gleisi, a começar pelos governadores do Nordeste. E, se Haddad cair porque o PT o derrubou, Lula só fará o dólar cair se ligar para Joaquim Levy e perguntar se ele tem um primo mais ortodoxo.

    Não acho que, nesse caso específico, a disputa pessoal entre Gleisi e Haddad seja o mais importante. O que está em jogo é a relação do Partido dos Trabalhadores, que Gleisi preside, com o governo Lula, formado a partir de uma frente ampla contra o golpismo.

    A história do relacionamento do Partido dos Trabalhadores com os governantes que elegia começou horrível: quase todos os primeiros prefeitos eleitos pelo PT saíram do partido irritados com interferências na administração e intenso fogo amigo dos movimentos sociais petistas.

    Só nos anos 90 a situação se estabilizou, e o PT conseguiu transformar algumas administrações municipais e estaduais em vitrines do “modo petista de governar”.

    Mesmo assim, a própria Gleisi foi vítima de fogo amigo quando, como secretária em Mato Grosso do Sul, implementou uma reforma administrativa considerada dura. Acabou caindo.

    Em parte, essa tensão entre o PT e seus governos é positiva. É sinal de que há uma vida interna dinâmica na legenda, de que ainda há debate e disputa política transparente entre os militantes e de que o partido ainda tem ideias a oferecer.

    Mas às vezes dá errado: se o PT nunca topar pagar o custo político das decisões de seu governo, ninguém vai pagar por ele. E nem tudo o que um governo precisa fazer é popular. No segundo governo Dilma, o PT resistiu em apoiar, não só as reformas de Levy, mas também as de Nelson Barbosa. Dilma não foi “puxada para a esquerda”: ficou ainda mais isolada.

    Na disputa da semana passada, a posição do “núcleo político” do PT se explica facilmente: os subsídios foram um gesto demagógico de Bolsonaro, e Lula não tem condições de dar ao golpismo vitórias populistas. É o custo fiscal do golpismo.

    Mas esse cálculo político vai ficando mais complexo conforme o tempo passa.

    Como notou o economista Filipe Campante em uma conversa civilizada que tivemos no Twitter (pois é, vejam só), se os desequilíbrios de curto prazo se acumularem, podem ameaçar as perspectivas de longo prazo, desestimulando o investimento já agora.

    O equilíbrio é difícil, mas cada vez mais o sucesso do governo vai depender do sucesso do programa econômico de Fernando Haddad, que, não esqueçamos, foi indicado pelo PT.

    Nos próximos grandes debates —a reforma tributária e a nova regra fiscal— o PT tem direito e dever de participar, mas deve equilibrar melhor a defesa de sua posição com a garantia de bom funcionamento do governo

  3. OS AGROTROGLODISTAS DO SUL, por Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Se não bastassem os agrotrogloditas da Amazônia, com suas queimadas e ocupações, o agronegócio precisa se defender também dos trogloditas do Sul. Há cerca de uma semana, 200 trabalhadores baianos foram resgatados no município gaúcho de Bento Gonçalves. Contratados para a colheita da uva, viviam em condições degradantes. Expostas, as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi lastimaram o ocorrido e atribuíram a malfeitoria a uma prestadora de serviços. Esse é o protocolo seguido por todas as empresas apanhadas em malfeitorias semelhantes.

    Como o negócio do vinho é sensível a exposições constrangedoras, a resposta foi rápida, clara e talvez possa se provar sincera. Estava nesse pé a coisa quando o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves resolveu entrar na discussão e saiu-se com o seguinte disparate:

    “Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.”

    O que os doutores quiseram dizer foi o seguinte: programas assistenciais estão drenando o estoque de mão de obra informal, mal paga e, às vezes, aviltada. No século XXI, eles acham que a assistência aos pobres prejudica a economia.

    Em vez de oferecer lições de ciência política, os doutores do Centro deviam prestar alguma atenção para a qualidade das relações de trabalho no negócio da uva.

    Na metade do século XIX, fazendeiros do Vale do Paraíba achavam um absurdo dar glebas de terras ou pagar salários a imigrantes italianos e alemães. Era isso que se fazia no Rio Grande do Sul. Passou o tempo e hoje há ali um próspero negócio vinícola.

    Associá-lo a formas de trabalho aviltantes ou a empresários que satanizam programas assistenciais é colocar nos rótulos dos vinhos gaúchos a marca da estultice de alguns poucos maganos. Para produtores concorrentes, nada melhor.

    Nunca tão poucos fizeram tanto mal à indústria vinícola quanto seus agrotrogloditas.

    PALOCCI GANHOU TODAS

    O ministro Fernando Haddad tem motivos para comemorar o fato de ter prevalecido sobre as posições petrolíferas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Só não deve acreditar que seu adversário fosse ela.

    Durante o Lula 1.0, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ganhou todas. Perdeu só a última, para Dilma Rousseff, porta-voz de Lula.

    FRITO

    O juiz Marcelo Bretas não sairá incólume da investigação a que está sendo submetido no Conselho Nacional de Justiça.

    A parte mais delicada, e tóxica, envolve delações premiadas que parecem agenciadas e direcionadas.

    A dúvida está no tamanho do estrago.

    MELANCOLIA EM ORLANDO

    A melancolia de Jair Bolsonaro surpreendeu amigos que acreditaram na sua resistência a uma eventual derrota.

    Desconfiado mesmo nos momentos de glória, o capitão registra como traições gestos de puro distanciamento.

    Pelo andar da carruagem, Bolsonaro poderá ser preso pelo que se chama de “juiz da sexta-feira”. É o magistrado que prende uma celebridade na sexta, ganha fama e tem a medida revogada na semana seguinte.

    Como Marcelo Bretas fez com Michel Temer.

    MORAES E OS VALENTÕES

    Com sua experiência de promotor e secretário de Segurança, o ministro Alexandre de Moraes costuma repetir que muitos valentões desafiam a polícia na hora da prisão e, dias depois, sentam na cama da cela para chorar.

    Parece exagero, mas um bolsonarista preso em Brasília no dia 8 de janeiro contou ao repórter Tacio Lorran:

    “Eu achava que tinha um preparo psicológico, mas não aguentei. Pedi atendimento psicológico lá. Chorar, meu filho, é fichinha. É desespero mesmo. Não tem quem não chore lá dentro. Não vi um pai de família que não chorou.”

    TRIUNFALISMO DIPLOMÁTICO

    Jair Bolsonaro presenteou Lula com uma agenda diplomática de sonhos. O petista soube arquivar o pária e voltar a falar a língua dos povos.

    A passagem de Lula pela Casa Branca e a de John Kerry por Brasília sugerem que, por algum motivo, os americanos estão praticando uma política de muita simpatia e pouco resultado.

    Lula quer entrar na mediação da guerra da Ucrânia, defende a criação de um organismo internacional de governança ambiental, quer reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e, se lhe sobrar tempo, aceita o prêmio Nobel da Paz.

    Diplomacia barulhenta produz muitos sorrisos e poucos resultados.

    O apetite de Lula por cargos na burocracia internacional provocou até piadas, pois a eleição do argentino Bergoglio para o Papado teria sido uma derrota do presidente.

    EFEITO OPOSTO

    A ofensiva petista atrás da cabeça de Roberto Campos Neto terá o efeito oposto. Como ele só sai antes do fim do mandato se quiser, isso pareceria uma infeliz covardia institucional.

    Por uma questão de brio, Campos Neto tem que ficar no cargo, mesmo vestindo a camisa amarela com que foi votar e baixando os juros.

    APOSTA PERIGOSA

    Alguns prefeitos de grandes cidades parecem ter feito uma aposta. Deixam a cidade esburacada por falta de obras desde a pandemia e se preparam para brilhar no que vem, perto da campanha.

    Esse é o caso de São Paulo, onde o doutor Ricardo Nunes espera ser reeleito.

    Correm o risco de os eleitores perceberem a malandragem.

    ETIQUETA

    De um freguês dos programas de canais de notícias que mostram vários analistas compartilhando a tela.

    É comum que, enquanto um deles fala, outros baixem os olhos para conferir alguma mensagem em seus celulares. Se nem os colegas de equipe prestam atenção no que se diz, por que os outros deveriam ficar ligados?

    GOGO AMIGO

    A divulgação da fala do general Tomás Paiva na qual chamou de “indesejada” a vitória eleitoral de Lula foi um venenoso episódio de fogo amigo provocado pelo ressentimento.

    Em 1977, o general Silvio Frota, demitido do Ministério do Exército, julgava-se traído pelo seu sucessor, o general Fernando Bethlem.

  4. A MÁGICA FURADA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    A regra do teto de gastos, aprovada por Emenda Constitucional em 2016, tem três virtudes básicas. Primeira, a simplicidade: diz que o gasto do governo federal de um ano deve ser igual ao do ano anterior mais a inflação. Transforma uma coisa complicada – o arranjo ou arcabouço ou protocolo fiscal – em algo fácil de entender. A ideia, simples, é manter o gasto público constante. O governo não pode aumentar as despesas, mas não precisa diminuí-las.

    Dirão: mas fica engessado, de modo que o novo governo não pode aplicar seus próprios programas. Falso: o teto está dado, mas é possível manejar despesas para esta ou aquela área.

    Outra objeção: se a receita do governo tiver um crescimento elevado, acima da inflação, o governo fica com um dinheiro que não pode gastar no dia a dia. Verdade. Mas não é um dinheiro perdido. Vai para o pagamento de dívida. Dívida menor significa menor risco fiscal – o risco de calote – e, pois, leva a uma redução dos juros, o que estimula o crescimento econômico.

    A segunda virtude básica do teto de gastos está aí mesmo: mantendo a despesa pública constante em termos reais e, assim, abrindo espaço para o crescimento via investimento privado, isso reduz o tamanho do Estado em proporção ao Produto Interno Bruto.

    Qual a situação hoje? Com o gasto em expansão, o Estado precisa de cada vez mais impostos, tomando dinheiro das empresas e das famílias, reduzindo suas capacidades de investimento e consumo.

    Ora, todo mundo sabe que a carga tributária já é elevada no Brasil. É uma insegurança infernal, em consequência das seguidas gambiarras para o governo tomar mais um dinheirinho aqui e ali. Como essa ridícula cobrança de imposto sobre a exportação de petróleo, que só encarece o produto nacional no mercado global.

    A terceira virtude da regra do teto estava no prazo. Vinte anos para colocar a casa em ordem, podendo ser revista em 2027.

    Dirão: é muito tempo. Parece, mas considere que o gasto público vem crescendo sistematicamente há mais de quatro décadas. Aí fica razoável, não é mesmo?

    Dizem hoje: mas o teto de gastos não funciona, tanto que já foi furado muitas vezes. É como furar o cano e depois dizer que não presta porque tem muitos vazamentos. Ridículo. Mas foi o que fizeram no governo Bolsonaro – colocando várias despesas extratexto. O governo Lula, em vez de agir como encanador, acha que faltam mais furos.

    Logo, está maquinando um “novo arcabouço fiscal” baseado na seguinte história: primeiro, o governo toma mais dinheiro do contribuinte, aumenta os impostos; depois toma mais dinheiro emprestado, faz mais dívida; e aumenta o gasto.

    Como isso, segue a teoria Haddad, gerará um forte crescimento do PIB, as relações gasto/PIB e dívida/PIB cairão lá na frente, bem na frente. Assim, lá está o ministro no palco anunciando ao distinto público: nada nesta mão, nada nesta outra, e eis aqui o ajuste fiscal.

    Olha para público e diz: acreditem!

    Olha para o Congresso e recomenda: aprovem! (Ou perdem as verbas.)

    Dá uma piscadela para o presidente do Banco Central e cobra: reduza os juros.

    E vamos ficar ricos.

    A coisa só para de pé se for verdade que, primeiro, o governo gasta melhor que o setor privado e, segundo, quanto mais gasto público, mais crescimento econômico. Mas, se isso for verdade, não precisa fazer mais nada: a gente não percebeu, mas o Brasil já é um país muito rico e muito justo. Pois há décadas faz exatamente o que o governo Lula anuncia como grande truque: mais imposto, mais dívida e mais gasto.

    A sério: a regra do teto de gastos, se respeitada, exigiria que o governo, qualquer governo, fosse mais eficiente e mais produtivo na gestão dos gastos. Mas como isso dá trabalho e exige mais conhecimento econômico e sabedoria política, o tal novo arcabouço fiscal proporá a repetição em grande escala dos mesmos erros passados. E vai reclamar do mercado, da imprensa (quer dizer, de parte dela, nós inclusive) e do BC por não acreditarem na mágica.

    Eta nóis!

  5. SEM CAUSA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra já era um tanto farsesco na década retrasada, quando empregava métodos violentos em nome de uma causa duvidosa sob complacência camarada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Já se questionavam, na época, a eficácia e os limites da reforma agrária como política social, dados os custos elevados, a urbanização irreversível do país e a produtividade da agropecuária mecanizada.

    Mesmo com o ritmo inaudito das desapropriações, o MST mantinha o discurso radical e prosseguia com suas invasões de propriedades a qualquer pretexto, enquanto obtinha cargos e verbas públicas.

    Mais recentemente, os sem-terra ficaram em relativa calmaria sob Jair Bolsonaro (PL) – que se gabava de ter posto fim ao movimento com a entrega de centenas de milhares de títulos de posse a assentados em governos anteriores.

    Eis que agora, no retorno de Lula ao poder, o MST volta a ter destaque no noticiário com a invasão de três fazendas de cultivo de eucaliptos da Suzano Celulose, no extremo sul da Bahia, mobilizando cerca de 1.500 integrantes.

    Trata-se de terras produtivas, o que contraria a tradicional propaganda a respeito das ações do movimento. Este apresentou a versão oficial de que o objetivo era pressionar a empresa a cumprir um acordo de 2010 envolvendo a cessão de terras para 600 famílias.

    No próprio site do MST na internet, sugerem-se motivações bem menos revolucionárias. “O MST acionou o alerta amarelo diante da demora do governo federal em nomear a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)”, relatou-se ali na segunda-feira (27), dia da invasão das fazendas na Bahia.

    Na mesma data, o governo federal efetivou o servidor de carreira César Aldrighi, até então interino, no comando do órgão. A nomeação estava atrasada em razão de disputas políticas pelo posto.

    A reforma agrária há muito perdeu relevância entre as principais bandeiras do PT – já sob Dilma Rousseff, que não era dada a economizar dinheiro, o ritmo de incorporações de terras para o programa desabara. Não há expectativa de retomada vigorosa agora.

    Já o MST, mesmo amansado, ainda se presta ao papel de espantalho para os setores antipetistas da sociedade, notadamente no agronegócio. Com seu ato criminoso desta semana, forneceu um discurso fácil aos seguidores de Bolsonaro.

  6. INVASÕES DE TERRA E DESLEALDADE, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    A política externa avança, com o áudio do presidente Lula com o ucraniano Zelenski e o encontro do chanceler Mauro Vieira com o ministro russo Serguei Lavrov, mas a política interna vai aos trancos e barrancos. Lula está espremido entre esquerda, com PT e MST no ataque; e direita, com o União Brasil trazendo muitos problemas e nenhuma solução.

    Qual o objetivo do MST ao invadir três fazendas produtivas da Suzano Papel e Celulose na Bahia, quando o governo mal completa dois meses? Enfraquecer Lula? E fortalecer a guerra ideológica que desaguou na ação terrorista de 8/1 contra os três Poderes?

    E quem imaginou um movimento combinado nos ataques da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se enganou. Ela bombardeou em público o fim da desoneração dos combustíveis, considera os dividendos da Petrobras “indecentes” e quer porque quer mudar a política de preços da companhia. Com termos duros.

    “É mais fácil aguentar o Congresso do que a Gleisi”, dizem aliados de Haddad, que Lula escolheu como candidato à Presidência em 2018 em detrimento de Gleisi e virou o principal ministro, enquanto ela ficou fora, no PT. A crise dos combustíveis não foi a primeira nem será a última entre eles.

    Na outra ponta, a “frente ampla” inclui a direita do toma lá, dá cá. Exemplo: União Brasil. No “toma lá”, Lula pôs três enrolados no Ministério: os deputados Juscelino Filho, nas Comunicações, Daniela Carneiro, no Turismo, e o ex-governador Waldez Góes (este indicado, mas não filiado ao UB), no Desenvolvimento Regional. E o “dá cá” não rolou. Dos 59 deputados do partido, 28 apoiaram a CPI do golpe, proposta por um bolsonarista do PL e rechaçada por Lula. Que governo quer saber de CPI?

    Juscelino é um festival de problemas, como informa o Estadão. Deputado, destinou emendas parlamentares para uma estrada na sua fazenda e, em 2022, só apresentou um projeto, o do Dia do Cavalo. Candidato, escondeu do TSE R$ 2 milhões em cavalos de raça. Ministro, usou avião da FAB e diárias para ir a leilões de cavalos em São Paulo.

    Não bastasse, nomeou para a Diretoria de Radiodifusão o sócio de dono de rádios no seu Estado, o Maranhão. Lula não falou nada, não fez nada.

    Não dá para confiar nessa “base aliada”, embolada e desleal, para a aprovação da MP dos combustíveis. Haddad finge que está tranquilo, porque MPs entram em vigor automaticamente, por 120 dias, mas já tem um plano B: empurrar com a barriga. Se o Congresso não aprovar até julho, volta tudo: desoneração, guerra com Gleisi e perplexidade. Aliás, não só no “mercado”.

  7. A INACREDITÁVEL VOLTA DO IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O governo conseguiu sair da enrascada em que havia se metido ao prorrogar a equivocada desoneração dos combustíveis, adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na véspera da eleição, e felizmente determinou a volta da tributação sobre gasolina e etanol. No anúncio da medida, no entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que as alíquotas serão mais baixas e, para compensar a perda, o governo vai ressuscitar a taxação de exportações – desta vez, sobre o óleo bruto.

    O Imposto de Exportação (IE), como todo tributo regulatório, pode ser cobrado de forma imediata, sem respeito ao princípio da anterioridade. Essa situação peculiar se deve ao fato de que esse tipo de tributo, mais do que intenções meramente arrecadatórias, tem o objetivo de induzir o comportamento dos agentes e estimular ou reprimir o consumo de algum item. O governo, no entanto, não escondeu qual era o principal motivo a justificar a criação do Imposto de Exportação sobre o petróleo: arrecadar os R$ 6,66 bilhões de que o Executivo abriu mão ao não ter coragem de aplicar integralmente as alíquotas de PIS e Cofins sobre gasolina e etanol em vigor até meados do ano passado. Ou seja, o objetivo é exclusivamente arrecadatório – razão pela qual não será surpresa se o caso for parar na Justiça.

    Há inúmeros motivos para ser contra a aplicação do Imposto de Exportação. Embora sua existência tenha sido assegurada pela Constituição de 1988, o imposto não faz parte da tradição tributária brasileira e foi utilizado pouquíssimas vezes ao longo da história – como na crise mundial de 1930, época em que incidiu sobre o café. Na atualidade, trata-se de um imposto em completo desuso – afinal, em um mundo globalizado, o esforço da maioria dos países é reduzir custos internos para ampliar a competitividade de seus produtos e serviços.

    Sempre há exceções a regras universais, e o País acaba de se juntar a uma das mais célebres delas. A Argentina adotou não só esse tipo de imposto, como também cotas máximas para vendas externas, em tentativas malsucedidas de garantir o abastecimento e conter os preços de itens como trigo, carne e soja. No Brasil, o Congresso chegou a levantar discussões sobre o Imposto de Exportação em junho do ano passado, mas ficou muito claro tratar-se apenas de um blefe com outros objetivos implícitos – pressionar a Petrobras a espaçar os reajustes e aprovar a lei complementar que impôs um teto na cobrança de ICMS sobre combustíveis.

    Oficialmente, a tributação sobre a exportação de petróleo foi gestada para ser temporária, tanto que o governo não conta com a aprovação da Medida Provisória pelo Congresso. Pode até ser verdade. Mas o simples fato de que o imposto foi considerado uma alternativa viável por um governo que iniciou o mandato há dois meses abre um precedente muito perigoso para todos os setores que sustentam a pauta brasileira de exportações, como o agronegócio e a indústria de mineração.

    O fato de que o Brasil se tornou um grande exportador de petróleo não é acidente do destino, mas resultado direto de investimentos, eficiência e baixo custo de produção. O mesmo raciocínio que vale para a produção de commodities agrícolas e de minério de ferro. Por isso, taxar as exportações, mais do que algo anacrônico, é também uma medida medíocre, sobretudo para fins fiscais. O saldo comercial positivo, aliado ao Investimento Estrangeiro Direto (IED), é o que compensa o déficit no balanço de pagamentos e tem sido fundamental para manter o câmbio relativamente estável. Com o Imposto de Exportação, o governo contribuiu para minar os dois de uma só vez.

    Impressiona, portanto, que o governo Lula tenha levado a termo uma proposta como esta em um momento de tantas incertezas na economia. Para além de penalizar um dos setores que mais contribuem para a atração de investimentos, a geração de empregos e o crescimento, o governo subestima o impacto que esse anúncio pode ter sobre as expectativas dos agentes econômicos dos mais diversos setores. Ainda há tempo para assumir o erro e reverter a medida.

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