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O MDB, O GOVERVO KLEBER E MARCELO BLEFAM E SE TORNAM O MELHOR CABO ELEITORAL NA REELEIÇÃO DE BURNIER – O QUE NÃO OS INCOMODOU, VERDADEIRAMENTE, O PODER DE PLANTÃO ATÉ AQUI

Eu continuo atrapalhado para entregar pelo menos três artigos de opinião e algumas notas do TRAPICHE por semana sobre os bastidores da política gasparense, como costumeiramente vinha fazendo. Não estou de férias, nem preguiçoso, nem negociando a a liberdade da minha pena como dizem por aí, nem doente. É que a rotina de trabalho deste septuagenário foi alterada momentaneamente. Sim, eu trabalho, e de forma prazerosa, para pagar as minhas contas, viver com relativa qualidade e ampliar os conhecimentos em plena era da Inteligência Artificial, a que vai mudar significativamente as nossas vidas, assim como mudou a internet quando virou parte do nosso cotidiano

Na semana passada consegui postar um só artigo. Perdão. E olha que material não faltou como as “entrevistas” sem apertos na rádio Sentinela do Vale de Ednei de Souza, do Novo, e o convescote regional do partido dele aqui em Gaspar, bem como de Paulo Norberto Koerich, PL. Isto sem falar no “novo” MDB que virou mais velho do que antes com a escolha da ex-vereadora e ex-candidata a prefeita derrotada, Ivete Mafra Hammes, para ser candidata a vice prefeita de Marcelo de Souza Brick, PP, lavando, toda essa gente metida a esperta, a minha alma, mais uma vez. 

O MDB de Gaspar só não morreu como o de Blumenau naquilo que o daqui se dizia inspirar, mas, reconheça-se, está no caminho certo. Os jovens autores de tal desastre político, partidário e histórico, estão escondidos, espalhados, ou lavando as mãos, como se não tivessem culpa capital no resultado disso tudo. Avisei-os. E com anos de antecedência. Meus leitores e leitoras sabiam disso. E eles, com arrogância e usando a rede de influência do mal, desacreditando-me e me castigando administrativamente bem como na própria na Justiça. A conta está chegando. E não é contra mim. Muda, Gaspar!

Voltando. Todos esses fatos e acontecimentos, que você só vê publicado ou comentado aqui, mas à vista de todos, está acumulado. E esta minha quase “indisponibilidade” para relatá-los ou comentar do meu ponto de vista, vai para lá do dia oito de julho, para a comemoração de muitos, os mesmos que dizem que este espaço não é lido por ninguém, a não ser eu mesmo., o invejoso e narciso.

Explicado mais uma vez, começo o artigo desta segunda-feira, mas que antecipo para este domingo que mais parece ser de meia estação. Estamos no inverno.

CASA DO ESPANTO

Estes políticos e a política, de há muito, são coisas sinistras em Gaspar. Quem lê este espaço, por décadas, não se espanta com mais nada. Veja mais esta.

Sob quase o silêncio total da imprensa local – e que neste caso está entre a cruz e a espada, pois ainda deve ficar calada aos que estão no poder de plantão e ao mesmo tempo, preventivamente, não quer antecipar um entrevero com o PL, se ele for o vencedor, e vencendo as eleições de seis de outubro, usará, tenho certeza, a mesma tática das trocas das migalhas pela oficialidade marqueteira -, o recém em possado secretário do Obras e Serviços Urbanos de Gaspar, Douglas Francisco Muller, MDB, “resolveu enviar e protocolar” um requerimento à presidência da Câmara, tocada pelo mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP.

Douglas está pedindo a cabeça do vereador de primeiro mandato e até então, único do seu partido, Alexsandro Burnier, PL (este ano, Francisco Hostins Júnior, depois de traído, saiu do MDB e foi dar no PL). É claro que a iniciativa não é dele, pois nem autonomia político-administrativa para isso teria, mas colegiada do poder de plantão. No fundo quem avalizou isso, foi o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o seu vice, Marcelo de Souza Brick, PP.

Resumindo o que está no enfadonho requerimento lido da íntegra na última sessão da Câmara? Ou Burnier garante que ficará mudo naquilo que ainda nem expôs direito e está sentado em cima, alegando que está “estudando” e “coletando” mais provas, ou então vai para a vara. No fundo, ir para a vara é mais vantajoso do ponto de vista político eleitoral. Explico mais adiante. 

QUAL A PUNIÇÃO?

E por que vai para a vara? Porque no voto, a Bancada do Amém com dez (dos 13 da Câmara) vereadores distribuídos entre o MDB, PP e PSD possui folgada maioria para impor punições e dessgastes, independente do Burnier ter pecado, ou estar limpo, como parece estar. Se for adiante o pedido do Douglas Muller, será um julgamento político, em ano político, feito por políticos adversários de Burnier em clara vantagem numérica. Simples assim. Os perseguidores, se o vereador souber usar a tempestade a seu favor, virarão cabos eleitorais de Burnier. Nem mais, nem menos.

E por quê?

Valerá, mais uma vez, a vingança, a marca mais expressiva do governo de Kleber e Marcelo até aqui. E para quem já enterrou duas CPI cabeludas contra Kleber e Luiz Carlos Spengler Filho (drenagem da Rua Frei Solano no Samae tocado por Melato) e outra no mandato de Marcelo (áudios cabulosos do ex faz tudo de Kleber e presidente do PSDB, Jorge Luiz Prucino Pereira, com o atual presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, PSD), tirar Burnier da zona de conforto e até suspendê-lo no mandato, será fichinha para esse pessoal especializado em tumultuar o ambiente político-administrativo e que só isso para esconder as suas próprias fraquezas bem como, e principalmente, à falta de resultados diferenciais para a comunidade depois de oito anos de mandato. 

Por enquanto, só o pedido assinado por Douglas foi lido na Câmara. Este pedido está esperando o parecer técnico do assessor jurídico da Câmara, Marcos Alexandre Klitzke, e que está de férias. E qual será a punição? O requerimento pede os do artigo 71 do Regimento Interno. Ele vai da “censura pública” até a suspensão do mandato, por no máximo 90 dias. Noves fora, se for aceito este requerimento, instruído na burocracia, o burburinho, tudo acontecerá em plena campanha eleitoral. 

E para responder a pergunta lá de cima: será mais um tiro no pé de Kleber, Marcelo, MDB, PP e PSD, seja qual desfecho que este caso tiver. A vítima já está na praça: é Burnier, o que está tentando descobrir o que o governo de Kleber, Marcelo e por extensão, a Cãmara pela Bancada do Amém, esconde da cidade. 

Só os políticos vingadores contumazes de Gaspar ainda não se deram conta, ou estão achando que, gritando no pedido de truco, vão assustar quem eles acusam, vão confundir eleitor e a eleitora gasparenses para levarem vantagens nas urnas, esquecendo de que os votantes já conhecem essa gente de outros carnavais.

Estranho mesmo é o silêncio do diretório gasparense do PL na defesa do seu vereador e militante. O presidente Bernardo Leonardo Spengler Filho, consultado, fingiu que não leu o questionamento e de que forma enxerga, ou como pode isso “ajudar” e” prejudicar” a campanha do vereador. Até a publicação deste comentário, nem um pio. Normal.

POR QUE UM VEREADOR NÃO PODE FISCALIZAR OS INTOCÁVEIS KLEBER E MARCELO?

Quem é Douglas, o autor do requerimento? Secretário que substituiu o primo Roni Jean Muller, MDB na secretaria de Obras e Serviços Urbanos – uma das mais problemáticas da cidade e que chegou deixar a Gaspar, muito recentemente, por quase seis meses sem a simples capinação e roçação. Roni é candidato a vereador no lugar do atual vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, hoje líder do governo de Kleber e Marcelo na Câmara. Anhaia não vai à reeleição e com isso, em tese, sobrou para Roni o curral eleitoral da Margem Esquerda aos Muller, onde eles estão estabelecidos há muitos anos.

Qual a alegação, deste pedido quase inédito na Câmara de Gaspar? É que Burnier teria faltado com o decoro parlamentar, “invadindo locais públicos de guarda de materiais da prefeitura, supostamente danificando alguns materiais e propagado vídeos desta ação de fiscalização nas redes sociais – “que invadiram o mundo, além de Gaspar” – com afirmações falsas na avaliação de Douglas e do governo de Kleber e Marcelo.

Trata-se de um jogo de gato caçando o rato, sem duplo sentido. Burnier como vereador possui essa prerrogativa de fiscalizar o Executivo. A atual gestão detesta isso, apesar do atual prefeito (Kleber) e vice (Marcelo), vejam só, terem sido não só vereadores, mas presidente da Câmara. Então, estão escolados e sabem muito bem o que fazem. Então é caso pensado. Então é se se perguntar: o que mesmo querem esconder e por quê há tanto tempo e o tempo todo?

Se isso não fosse pouco, Burnier fez um requerimento – entre tantos – em março pedindo informações sobre o que foi fiscalizar. Isso deixou enfezado o governo de Kleber, Marcelo e a Bancada do Amém. Nada de respostas do prefeito e sua turma.

Nem mesmo recorrendo a Justiça via o mandado de segurança. Em Gaspar, o Executivo, manda bananas para a Justiça e os vereadores ficam pendurados no pincel. Sem alternativas, Burnier foi aos locais de guarda dos materiais. Contou. Inspecionou. Gravou-os não só sob os olhares da sua assessoria, mas do próprios servidores da secretaria. Não houve nada violento nos registros de servidores da prefeitura e nem, aparentemente, de burla às regras de acesso ao ambiente públicos, tanto que Burnier não foi impedido por ninguém de entrar onde entrou. 

Ou seja, houve consentimento implícito e explícito. E sendo os servidores responsáveis pelos locais visitados, a autorização é sintomática do Executivo o qual representam autonomamente. Qualquer rábula pode explicar isso. E se não tinham esta autonomia, quem devem ser punidos são os servidores que não agiram no cumprimento das regras a que estão obrigados. Simples assim.

E para agravar ainda mais a violência que se faz pelo prefeito, vice e secretários no poder de plantão ao trabalho e ao papel de um vereador na Câmara de Gaspar e que não esteja ajoelhado na Bancada do Amém, Alexsandro Burnier é membro titular da Comissão Permanente Economia Finanças e Fiscalização. Ela é presidida por Ciro André Quintino, MDB, que não deu um pio sequer até agora sobre este assunto. Um presidente que não defende a sua comissão? E nela, está, ninguém mais, ninguém menos, do que a presidente do MDB, de Gaspar, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, ex-secretária de Educação que conhece bem este riscado. Também calada. Um silêncio que consente à razão de Burnier. Simples assim.

O MORDE E ASSOPRA DO VEREADOR E O LATIDO DOS EXPERIENTES

Ora, se uma Comissão Permanente da Câmara ou um membro dela não possuem essa autonomia para a fiscalização do Executivo, depois de esgotar todas as possibilidades, baleado pelas manobras impeditivas propositais e não recebendo as respostas por canais formais, qual a razão dessa Comissão existir na Câmara de Gaspar? 

Ao menos, depois de mais este tre-le-lê da Sucupira do Vale dos anos 20 do século 21, pelo menos Burnier recebeu as respostas sonegadas por meses, e a prefeitura, numa ação operacional para passar uma vergonha menor, começou a instalar o material “guardado por meses” pelos quatro cantos da cidade. Um deles está na ligação entre as avenidas Frei Godofredo e Francisco Mastella, no pasto do Jacaré e que mal se vê nos postes os suportes dos vasos de plantas. Enfeites de araque.

E vendo eles naqueles postes, a pergunta que não quer calar é: no cemitério e nas casas não podem vasos de plantas, por serem criadores de mosquitos da Dengue. Nos postes de Gaspar isto será possível e com a assinatura da prefeitura e da vigilância sanitária?  

E para encerrar. 

Por que só agora Alexsandro Burnier, PL, entrou na mira do governo Kleber e Marcelo? 

Porque o vereador mordeu e assoprou durante o seu mandato. Nunca começou um assunto e foi firme até o final dele. E a turma experimentada da prefeitura resolveu testar, dar o troco e mostrar os dentes com latidos para que ele não tenha coragem e capacidade de morder de verdade em plena campanha naquilo que até agora só assoprou. O falecido vereador Amauri Bornhausen, PDT, sem pernas, diabético e cardíaco deixava essa gente atordoada e caladinha no canto dela. Já Burnier…Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Negacionistas. Na Câmara de Gaspar votaram uma moção condenando à obrigação das crianças serem vacinadas contra a Covid-19 como determina o Calendário Nacional de Vacinação. Foram 12 votos a favor, inclusive de Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, uma técnica de Saúde, e que se apresenta como Mara da Saúde. Impressionante. O único voto contra foi de Dionísio Luiz Bertoldi, PT.

A argumentação dos votantes é de que os pais sabem o que é melhor para os filhos. Se sabem, porque eles levam seus filhos ao médico? Se sabem, porque eles exigem e levam seus filhos as creches e escolas e se isso não acontecer, denunciados no Conselho Titular e Ministério Público são punidos? Moção cata votos.

Sempre escrevi aqui: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, e suas maluquices de presidente autocrático é o pior cabo eleitoral do ex-prefeito por três mandatos, Pedro Celso Zuchi e que tenta a quarta eleição, com a sua ex-vice, de dois mandatos, Mariluci Deschamps Rosa. Bingo. O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, sumiu com a frase clichê de exaltação na Câmara ao “papai Lula”.

“Os otimistas acham que o governo Lula acabou. Os pessimistas acham que nunca começou. Os realistas têm certeza de que nunca vai começar”, Ciro Nogueira, senador PI-PP, bolsonarista. Mas, já apoiou os governos do PT.

O vereador Ciro André Quintino, MDB, três vezes presidente da Casa, é conhecido como campeão de diárias (até agora R$8.770,00). Logo agregará outro título: o de campeão de saídas antecipadas da única sessão deliberativa feita por semana na Câmara. Na legislatura passada havia um vereador de primeiro mandato que ficava incomodado com obrigação de participar das sessões. E como paga do povo, não conseguiu votos suficientes para retornar como vereador. Então…

Está enfadonho e repetitivo o debate na Câmara e entrevistas sem perguntas sobre paternidade das verbas vindas de Brasília e Florianópolis nas tais emendas parlamentares, o uso delas, o que fez e o que não se fez obras em Gaspar nos governos de Pedro Celso Zuchi, PT e Kleber Edson Wan Dall, MDB. Uma coisa é certa: a única vítima é o município e os munícipes neste campeonato de culpados, inocentes e incompetentes.

Na sessão de terça-feira passada, o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT saiu-se com esta contra Francisco Solano Anhaia, MDB, que já foi vereador petista: “sabe por quê você é líder de governo? Porque ninguém quer esta função. E aí você se acha o tal. Perguntamos aqui as coisas a você [relacionadas as demandas dos vereadores junto a prefeitura] e você não tem capacidade de trazer [respostas] para nós. Você não quer conversa conosco. Só grita“. 

O futuro novo presidente do Republicanos em Santa Catarina arrumado pelo governador Jorginho Melo que também é presidente do PL catarinense, o deputado Federal por Rio do Sul, Jorge Goetten, ainda no PL, esteve em Blumenau. Ele se reuniu com o ex-vereador Egídio Beckhauser, Republicanos. Egídio deverá ser o coordenador regional do “novo” Republicanos. O nome do pré-candidato a prefeito de Gaspar pelo Republicanos, Oberdan Barni, esteve na  pauta. Contrariando expectativas e torcidas, ele foi mantido. Em Blumenau, PL e Republicanos estão juntos.

Como funcionam as pesquisas em Gaspar as que fazem aparecer uns e desaparecerem outros do nada. E não servem para nada, a não ser a auto enganação ou a criminosa enganação dos outros. Sábado. Margem Esquerda. Pesquisador de uma tal “Pesquisas Gaspar”, que no crachá tinha escrito que se chamaria Almir Cruz, bate a porta e convence um morador a responder à sua pesquisa. A medida que as respostas iam saindo, o pesquisador se vestia de cabo eleitoral. Inacreditável.

Mas o senhor não vai votar no candidato do prefeito? Foram oito anos de progresso e tudo que ele começou precisa terminar. Se vem outro, começa tudo de novo e tudo se atrasa“, argumentou o pesquisador ao eleitor entrevistado. Meu Deus! Isto é pesquisa ou trabalho de cabo eleitoral? Ora, se em oito anos não foi possível fazer ou terminar o que se começou, também está claro que precisa trocar para ao menos dar mais agilidade. Ou o eleitor e eleitora em Gaspar, agora não podem mais ter opinião e liberdade de escolha, inclusive nas pesquisas?  Muda, Gaspar!

Outra enquete. Um empresário do Bela Vista, em Gaspar, com cerca de 80 empregados, segundo ele, todos residentes e votantes em Gaspar, fez uma “brincadeira”, consentida. Ou seja, segundo ele, sob a concordância dos mesmos. Um dia colocou uma urna e pediu para eles colocarem o nome do partido que eles votariam para prefeito nas eleições de seis de outubro. Num outro dia, da mesma semana, a mesma urna, recebeu cédulas, com os nomes da praça, além do “x” ir para o nulo e branco. Os resultados foram quase diametralmente opostos.

O que mostra isto? Que candidatos não estão sendo ligados a partidos. Alguns estão desperdiçando esta chance e outros se beneficiando da falta de ligação dos desatentos marqueteiros que não estão lendo adequadamente as verdadeiras pesquisas. Só isso. Muda, Gaspar!

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11 comentários em “O MDB, O GOVERVO KLEBER E MARCELO BLEFAM E SE TORNAM O MELHOR CABO ELEITORAL NA REELEIÇÃO DE BURNIER – O QUE NÃO OS INCOMODOU, VERDADEIRAMENTE, O PODER DE PLANTÃO ATÉ AQUI”

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  3. ARTUR LIRA DERRAPA NA RAMPA, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo

    O poder é bicho traiçoeiro. Tanto confere altitude ao dono como lhe retira de sob os pés a escada quando a esperteza despreza os conselhos do bom senso. É nessa zona de perigo que entrou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL), ao abrir o baú de anacronismos para atrair a ala reacionária do eleitorado interno ao plano de fazer o sucessor.

    O deputado pode, e tudo indica que conseguirá, eleger o substituto em fevereiro de 2025. Mas se arrisca a sair do posto menor do que entrou e a descer a rampa do Congresso Nacional sob a égide de inimigo da opinião pública representada pela instituição que preside.

    Lira saiu-se mal ao desengavetar projetos desprovidos de relevância e urgência para a sociedade, mas relevantes e urgentes para os propósitos ideológicos daquela parcela da Câmara de quem ambiciona ter votos em detrimento do consenso prevalente na população.

    O deputado caminhava bem em seu acordo com o presidente Lula (PT) de ajudar nas propostas econômicas de interesse do país, se abster na agenda de costumes e posicionar-se contra agendas marcadamente petistas.

    Nesse cenário, a ideia era figurar como fiador da reforma tributária e de propostas atinentes a avanços na economia. Até que resolveu render homenagem à obsolescência legislativa.

    O presidente da Câmara escolheu aparecer como avalista do atraso no apoio às propostas de equiparação do aborto ao homicídio, de restrição ao uso das delações premiadas e de anistia aos partidos em débito com a Justiça Eleitoral por uso indevido do fundão de R$ 4,9 bilhões.

    Lira reclama de as críticas serem concentradas na pessoa dele, reivindica dividir o prejuízo com o colégio de líderes, mas, claro, aprecia quando se vê reconhecido como detentor de influência absoluta sobre o Poder Legislativo.

    Um ganho questionável quando tal poder se põe na condição de antagonista da consciência média do país.

  4. LAMBANÇA SINDICAL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Após mais de dois meses de agonia, foi anunciado, enfim, o encerramento da greve nacional dos professores das universidades federais. O único sindicato que ainda resistia – Andes – comunicou no domingo que a maioria de suas instituições filiadas optou pelo término da paralisação, consumando um movimento que já se iniciara com a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes). Os paredistas do Andes eram os mais inflexíveis, mas acabaram sucumbindo aos fatos: uma greve sem sentido, uma paralisação já rejeitada por parte considerável dos docentes, um governo que já havia chegado ao limite orçamentário para o atendimento às demandas salariais e um movimento sindical rachado e mais preocupado com a busca de hegemonia de sua representação do que com a efetiva reestruturação do ensino superior. O fim da greve, na prática, se deu bem antes de o Andes decretá-lo.

    O movimento sindical reafirmou, assim, sua inépcia: o risco apontado antes pelo ex-sindicalista Lula – um experiente grevista, como se sabe – se consumou, isto é, o de que a greve acabaria por inanição. Enquanto isso, os sindicatos disputam a tapa o coração de filiados. Previsivelmente o comando sindical se apressou a definir o movimento como “vitorioso”, e creditou o fim da greve à “intransigência” do governo do presidente Lula da Silva. Também como de praxe, a extensa lista de reivindicações para justificar a greve acabou resumida a um só desejo: reajuste salarial. Por causa das evidentes limitações orçamentárias, o governo propôs reajuste zero em 2024 e uma elevação de reajuste linear, até 2026, de 9,2% para 12,8%, sendo 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026. O Proifes topou, o Andes não e ainda levou um mês desde a definitiva oferta do governo, tornando mais penosa a vida de estudantes e professores. Com o calendário acadêmico jogado às favas, mais uma vez o cumprimento dos programas sairá prejudicado.

    Objetivamente se contabilizaram alguns ganhos: aumento de benefícios para os servidores federais, como saúde e alimentação, suplementação no orçamento das instituições federais de ensino superior e um acordo de aumento salarial para o ciclo 2024-2026. Tais conquistas, no entanto, se deveram não ao sindicato que queria estender a greve, e sim ao Proifes e à Andifes, associação que representa os dirigentes das instituições federais de ensino superior. Sinal evidente de que os métodos de negociação precisam ser atualizados. Greves como essa não ajudam nem a carreira docente nem os técnicos administrativos, muito menos a universidade como um todo. Ao contrário, são geradoras de desgaste, confusão e perda de prestígio, um desserviço contra a universidade pública, alvo de crescente desconfiança (e, pior, indiferença) em parcela relevante da sociedade.

    Enquanto isso, uma universidade como a UFRJ diz estar “respirando por aparelhos”, a Unifesp anuncia só ter dinheiro para funcionar até setembro, e instituições têm obras inacabadas enquanto o governo anuncia expansão com novos campi. Problemas cuja solução passa bastante longe de movimentos grevistas.

  5. O MERCADO QUE NOS SABOTA, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo

    ‘O governo do presidente Lula está enfrentando forte campanha especulativa e de ataques ao programa de reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social’, afirmou a nota da direção do PT publicada há uma semana. Como? Pela “escancarada sabotagem ao crédito, ao investimento e às contas públicas, movida pela direção bolsonarista do Banco Central com a manutenção da maior taxa de juros do planeta”. O BC seria uma ferramenta de “setores privilegiados” que, “valendo-se da mídia associada a seus interesses financeiros, fabricam uma inexistente crise fiscal”.

    A economia de mercado é uma conspiração — eis o conceito de fundo que orienta o texto partidário. Fosse, apenas, expressão da ignorância econômica petista, isso não passaria de uma curiosidade. Só que não é: a nota reflete o pensamento econômico de Lula, raiz do atual impasse fiscal.

    Dólar, Bolsa, juros de longo prazo representam, na economia, o que temperaturas e precipitações representam para a ciência climática: indicadores das dinâmicas de um sistema complexo de interações. O PT e o presidente, porém, os interpretam como resultados de uma ação política premeditada. A economia atenderia às ordens de um Comitê Central oculto, formado pelos tais “setores privilegiados”, cujo executor seria o BC.

    É um equívoco benevolente imaginar que as periódicas campanhas semioficiais contra Roberto Campos Neto configuram apenas uma tática política destinada a produzir um bode expiatório para as dificuldades do governo. Como atestou a catástrofe econômica fabricada por Dilma Rousseff, o lulismo acredita genuinamente que, para o bem ou para o mal, uma varinha de condão política determina o comportamento da economia. “Vontade política” e “sabotagem” — a linguagem ritual lulista desvela uma abordagem mística da economia.

    A refutação da tese exposta na nota do PT tardou só 48 horas. A decisão do Copom pela manutenção da “maior taxa de juros do planeta” contou, na sua unanimidade, com o voto dos quatro diretores indicados por Lula. Como, depois disso, acusar a “direção bolsonarista do BC”? Fácil: basta alegar que os quatro escolheram a “traição”, alinhando-se aos “setores privilegiados” na “sabotagem” ao governo. Sem surpresa, é precisamente o que se diz em círculos próximos ao Planalto, num incipiente bombardeio à indicação de Galípolo para a presidência do BC.

    Campos Neto “trabalha para prejudicar o país”, na frase insultuosa de Lula? O Copom unânime retrucou, certeiro, reafirmando que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”. Tradução: a queda na taxa Selic depende, entre outros fatores, da “vontade política” do governo de perseguir o equilíbrio fiscal.

    Nem tudo está errado na nota do PT. Ela, claro, não menciona a “democracia da meia entrada”, expressão cunhada por Marcos Lisboa e Zeina Latif, nem reconhece a farta distribuição de subsídios a setores empresariais nos governos lulistas anteriores e no atual. Mesmo assim, acerta ao alertar sobre a necessidade de “correção de um conjunto de desonerações tributárias, muitas injustas e injustificáveis”, algo que exigiria esforço conjunto do Executivo e do Congresso. O problema, no caso, é o acerto colocar-se a serviço do equívoco — da resistência ideológica à revisão das despesas públicas compulsórias.

    A vinculação extensiva dos benefícios previdenciários ao salário mínimo faz com que cresçam bem acima da inflação — mas o governo desautoriza sistematicamente os tímidos ensaios de Simone Tebet para revê-la. Os pisos legais da saúde e educação experimentam aumentos reais persistentes e inerciais, sem melhorar a qualidade dos serviços. Mas o tabu econômico lulista só admite ajuste pelo lado da receita, condenando qualquer tentativa de cortar despesas.

    O Orçamento engessado, consequência de um pensamento econômico envolto em misticismo, comprime o investimento público. “Sabotagem”? Sim: o governo sabota a si mesmo.

  6. REFORMA DEVE ENFRENTAR A CAPTURA DO ESTADO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Era questão de tempo para que a opção do governo por ajustar as contas públicas apenas com aumento da arrecadação esbarrasse em limites políticos.

    Após críticas do setor privado, os entraves ficaram demonstrados pela devolução pelo Congresso da medida provisória que buscava compensar os efeitos da desoneração da folha de pagamento aprovada pelos parlamentares.

    Cedo ou tarde, o governo terá de agir para conter despesas, agenda posta de forma definitiva pelos ministros da área econômica e não rechaçada, ao menos a princípio, por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    O episódio teve outro desdobramento favorável, o de chamar a atenção para o enorme e crescente peso dos chamados gastos tributários, a coletânea de benefícios fiscais para atividades e regiões.

    O montante —R$ 535 bilhões, quase 5% do PIB— impressionou quem já deveria conhecê-lo, caso de Lula, que criticou os incentivos. Se mostrará disposição em combatê-los, ou ao menos racionaliza-los, ainda está por ser verificado.

    A maior parte é direcionada a setores influentes, como a Zona Franca de Manaus, as vantagens do Simples que atingem também pessoas no topo da distribuição de renda, as subvenções ao crédito agrícola e a desoneração indiscriminada da cesta básica.

    A conduta geral do Executivo e dos parlamentares não encoraja otimismo quanto a uma ação efetiva para reduzir renúncias e favores. Ambos ainda patrocinam novas iniciativas do gênero, caso do regime do setor automotivo e de subsídios da chamada nova política industrial, entre outras que acabam submergindo na infinidade de exemplos de menor monta.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido voz petista isolada até aqui no combate à captura do Estado por interesses privados. Também acerta ao apontar que os três Poderes deveriam assumir responsabilidades em conter o avanço de interesses particulares sobre o Orçamento.

    Tal entendimento não deve se resumir às receitas. A teia patrimonialista e corporativista é ampla e inclui os dispêndios, a começar pelo funcionalismo. Categorias poderosas do Judiciário e do Ministério Público obtém facilmente concessões salariais excessivas e penduricalhos cada vez mais numerosos.

    O enfraquecimento do Executivo e a multiplicação dos valores de emendas parlamentares impositivas certamente criaram novas distorções. O Congresso obteve maior poder para gerir um quinhão crescente dos recursos, mas não o ônus de garantir boa governança e a primazia do interesse público.

    Há uma degradação do processo orçamentário. Reorganizá-lo depende de liderança política.

  7. odete.fantoni@gmail.com

    Sobre as pesquisas disfarçadas de ação de cabos eleitorais, aqui em casa aconteceu com a visita do pessoal do combate ao mosquito Aedes aegypti 👀
    Aliás, QUAIS CRITÉRIOS DE CAPACITAÇÃO SÃO EXIGIDOS pra CONTRATAR ESSA GENTE?
    Tudo CORRELIGIONÁRIO vampiro, bebendo o nosso sangue sem nenhum remorso ou CONSTRANGIMENTO.

    Chega outubro 🙌

    1. Leitora Odete

      Impressionante e grave relato

      Por quê? É uma máquina de poder que perdeu a vergonha na cara e usa programas sociais de saúde e sanitários, pagos com pesados impostos de todos nós, para ser disfarçar em campanha eleitoral e com isso se manter no poder

      Faltou vereador, polícia, ministério público. E pelo jeito faltará e tudo ficará ainda pior

  8. JUÍZES ESTIMULAM AÇÕES IMPRÓPRIAS DAS PMs, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha den S. Paulo

    Em outubro do ano passado o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, representando a Associação de Delegados do Estado de São Paulo, pediu ao corregedor nacional de Justiça que recomende aos magistrados o respeito ao dispositivo constitucional que delimitou as jurisdições das polícias Civis e Militares.

    O artigo 144 da Constituição é claro:

    “Às polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de Polícia Judiciária e a apuração de infrações penais, exceto a militares.”

    “Às polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos Corpos de Bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”.

    Contam-se às centenas os casos em que magistrados deferem pedidos de busca e apreensão solicitados pelas polícias Militares. Mariz de Oliveira é um respeitado criminalista e já foi secretário de Segurança de São Paulo (1990-1991). Conhece de cor e salteado os dois lados do balcão. O que ele pede é que o Conselho Nacional de Justiça recomende aos magistrados que não defiram pedidos encaminhados pelas PMs invadindo a competência das polícias Civis.

    A questão foi remetida ao Tribunal de Justiça de São Paulo e em maio passado seu corregedor respondeu que, “em situações de urgência específicas”, os magistrados podem deferir pedidos de buscas e apreensões solicitados pela Polícia Militar, sempre apoiados pelos representantes do Ministério Público. É o jogo jogado, desde que se defina o que vem a ser uma “situação de urgência específica”. As estatísticas indicam que as palavras “urgência” e “específica” são sinônimos de negro e pobre.

    Indo ao coração do problema, o juiz Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi, auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça, informou, em um parecer em que repisou a clareza da Constituição:

    “Pesquisa recente realizada pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), a partir da análise de dados da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, informa que é no cumprimento de mandados de busca e apreensão, ao lado da repressão ao tráfico de drogas e armas, retaliações por mortes ou ataque a unidade policial, recuperação de bens roubados, entre outras, que pavimentam as operações policiais que resultam em chacinas.

    Ou seja, mandados de busca mal realizados e executados tornam-se instrumento e tipo de circunstância que necessariamente antecede ou desencadeia massacres, violações, abusos de todas as ordens e têm levado o país, inclusive, a condenações em Cortes Internacionais.”

    Lanfredi concluiu propondo que o corregedor Luis Felipe Salomão recomende aos magistrados “que se abstenham de proferir decisões de deferimento de pedidos de busca e apreensão domiciliar ou de outros atos privativos de Polícia Judiciária e investigativa requeridos diretamente pela Polícia Militar.”

    Uma decisão final ainda deverá esperar novos pareceres e será votada pelo plenário do Conselho Nacional de Justiça antes que o pedido de Mariz complete um ano.

    INTENÇÃO E RESULTADO

    De boas intenções, o reino de Asmodeu está cheio. Com a melhor das intenções, o governo de Dilma Rousseff criou a Comissão Nacional da Verdade. Ela resultou num relatório repetitivo, capenga e superficial. Listou o brigadeiro Eduardo Gomes, ministro da Aeronáutica de 1965 e 1967 entre os militares responsabilizados pela prática de torturas, colocando-o na companhia de assassinos que executaram prisioneiros que atenderam a convites oficiais da tropa. Onde? Nas matas do Araguaia entre outubro de1973 e outubro de 1974. Essa e outras insensibilidades jogaram uma parte da oficialidade no colo do ex-capitão Jair Bolsonaro.

    Agora Lula 3.0 caminha para uma revisão na previdência dos militares. Trata-se de um vespeiro. Os inativos custam R$ 31,2 bilhões e os militares na ativa custam R$ 32,4 bilhões. Nele há penduricalhos e abusos, mas tudo gira em torno de uma realidade: os militares brasileiros ganham pouco. Faz tempo, quando um general da intimidade do presidente Ernesto Geisel reclamou, comparando seu salário com o de um paisano, ouviu: “Você é realmente muito burro, entrou para o Exército para ganhar bem?” Um general brasileiro vai para a reserva depois de pelo menos 35 anos de serviços bem avaliados, com R$ 37 mil de salário. É pouco e essa anomalia estimula governantes a criar as tenebrosas boquinhas para oficiais amigos. Num caso, um general, na reserva, recebia menos de R$ 20 mil líquidos, e reclamava, mas não mencionava a boquinha pela qual passara, rendendo mais de R$ 50 mil mensais.

    Pode-se mexer nesse vespeiro desde que fique claro que as mudanças tornarão o sistema mais transparente e justo. Parece impossível, mas o marechal Castello Branco fez uma reforma profunda no sistema de aposentadoria dos militares, modernizou as forças e acabou com aquilo que ele chamava de os generais chineses. Seu amigo Oswaldo Cordeiro de Farias ficou 23 anos no generalato.

    Era possível que um general de quatro estrelas ficasse mais de dez anos na patente. Castello criou uma escadinha de cotas compulsórias, pelo qual os quadros de generais de brigada, divisão ou exército, são obrigadas a uma renovação de 25% a cada ano. A mesma escadinha funciona para a Marinha e Aeronáutica. Disso resultou que ninguém fica mais de quatro anos numa patente, nem mais de 12 no generalato.

    Os generais chineses viraram fumaça, ninguém reclamou e as três Forças modernizaram-se, menos do que precisavam, mas como era necessário.

    A TEMER O QUE É DE TEMER

    A boa notícia é que o PT e o senador Sergio Moro estão falando em “pacificação”. A eles soma-se o ex-governador de São Paulo, João Doria, que passou pela política sem nunca ter esticado a corda.

    É justo reconhecer que essa atitude foi a marca registrada de Michel Temer, antes, durante e depois de sua passagem pela Presidência da República.

    MÁGICA BESTA

    Se Lula tivesse dispensado o público de sua última catilinária contra Roberto Campos Neto, é provável que a última reunião do Copom tivesse mantido a taxa de juros em 10,5% ao ano, sem a goleada de 9×0.

    Lula gosta de atribuir os humores do mercado à ação de especuladores. Alguém precisa avisá-lo de que falas contra o Banco Central fazem a alegria de quem fatura com a alta do dólar.

    RONALDO CAIADO NA PISTA

    O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, está na pista para a sucessão presidencial de 2026. Num só dia ele é capaz de descer no Ceará e em Santa Catarina.

    Caiado carrega consigo um patrimônio eleitoral do agronegócio e, pela sua agenda de hoje, quer ser um candidato com foco na segurança pública.

    ETIQUETA E COMPOSTURA

    Lula deveria criar uma força-tarefa de diplomatas para ensinar aos hierarcas de seu governo que, dependendo da lista de convidados, eles não podem ir embora de eventos onde participam como anfitriões.

    Em todos os casos, é falta de educação. Em alguns, chega a ser insultuoso.

  9. Lula, mais uma vez, dando a cara da falta de caráter ao PT e em ano de eleições.

    DE BANDEJA PARA A OPOSIÇÃO, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    Não há dúvidas de que o governo tem muito o que mostrar, como na economia e na área social, mas é impressionante a capacidade do presidente Lula de dar munição para a oposição, principalmente para Jair Bolsonaro. Os casos se acumulam, deixando a sensação de que, no seu terceiro mandato, Lula está se sentindo acima do bem e do mal, imunizado contra críticas e pode cometer erros à vontade.

    Por que raios Lula esperou nove dias para se manifestar sobre o indiciamento do ministro Juscelino Filho (Comunicações) pela PF, por corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa? Pior: para, no fim, aparecer num evento ao lado do ministro, dizer que tem “muito orgulho” da sua equipe e está “feliz” com Juscelino, alvo de uma lista de suspeitas desde o primeiro mês de governo. Lula aguarda a PGR e o STF para ver o óbvio.

    Por que raios Lula tinha também de se vacinar contra dengue, num hospital privado, cinco dias antes de o SUS iniciar distribuição pública, com doses insuficientes por falta de produção internacional? Tanto ele sabia que ia dar pano pra manga que fez… secretamente! O que era ruim ficou pior ainda e num tema em que ele tem tudo para confrontar o antecessor: vacina. Levantou a bola, Bolsonaro cortou. “Se vacinou escondido… O povo que se dane”, postou nas redes sociais, como se tivesse a mínima autoridade para entrar nesse jogo.

    Por que raios Lula tinha, ainda, de autorizar a importação de uma tonelada de arroz, se o grosso da safra já tinha sido colhido antes da tragédia gaúcha? E incluir propaganda oportunista do governo em letras vermelhas nos sacos importados? E descuidar da licitação, que ele admite agora que foi contaminada por “falcatrua”? O resultado é: faz, não faz, vai e volta. Bom, não é.

    E por que raios Lula insiste em mandar no Banco Central, autônomo, e na Petrobras, empresa mista, com ações na Bolsa? E em ser amiguinho de Vladimir Putin, Nicolás Maduro e Daniel Ortega? Política externa pragmática faz bem, mas posições condescendentes com ditaduras cruéis fazem mal aos países e seus governantes.

    Tão bom orador e carismático, Lula também abusa de brincadeirinhas e palavras fora de hora e lugar sobre gênero, raça, grupos LGBTQI+ e, depois dos anos sombrios de Bolsonaro, anunciou R$ 1,6 bilhão para o audiovisual, numa cerimônia alegre e cheia de estrelas, mas borrou a repercussão ao dizer que “artista, cinema e teatro não são para ensinar putaria”. Gafe ou tentativa de falar para o público conservador, a frase reforça um velho preconceito contra a cultura. Se alguém achou um barato, só pode ser de oposição.

  10. LULA, CANDIDATO A REDENTOR, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Tem sido cada vez mais difícil para Lula da Silva encontrar um espaço em sua concorrida agenda de candidato – à reeleição, ao Nobel da Paz e ao Olimpo – para exercer a função de presidente da República, para a qual foi eleito por estreitíssima margem em 2022. Sabe-se que Lula não tem nem vontade nem traquejo para governar, pois seu hábitat é o palanque, e não o gabinete presidencial. Mas mesmo para os padrões do demiurgo, declarar-se candidato faltando ainda longos 30 meses para o fim de seu errático e preguiçoso terceiro mandato, como fez Lula há poucos dias, parece um pouco demais.

    Lula, no entanto, claramente entendeu que precisa desde já tratar todos os crescentes problemas de seu governo e do País como resultado não de sua incompetência atávica e de sua visão antediluviana de economia, mas da sabotagem política dos “trogloditas” – nome que ele deu aos bolsonaristas – que almejam voltar ao poder.

    Nesse terreno, em que tudo se resume à luta política, Lula joga em casa. Os seguidos ataques desferidos ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, são parte da manjada estratégia de arranjar um inimigo que incorpore todo o “mal” que Lula e o PT se julgam destinados a combater. As mais recentes declarações de Lula a respeito de Campos Neto não deixam margem a dúvidas: para o petista, o presidente do BC “tem lado político” e “trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o País”. O “lado político”, claro, é o campo bolsonarista, do qual Campos Neto, lamentavelmente, nunca se afastou.

    É fato que o presidente do BC deveria ter sido mais prudente e evitado que sua imagem se identificasse com este ou aquele grupo político, mas mesmo que Campos Neto fosse um dos Eremitas da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, ainda assim seria denunciado por Lula como o enviado do Cramulhão para sabotar o projeto petista de fazer do Brasil o Paraíso na Terra. E isso se dá porque Campos Neto foi nomeado para o BC pelo Cramulhão em pessoa.

    Desse modo, sendo ele a chaga bolsonarista remanescente no coração do governo lulopetista, Campos Neto é desde sempre o candidato preferencial a bode expiatório para carregar todos os pecados do mundo. Lula foi claro: “Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central”. Em outras palavras, não fossem Campos Neto e os “trogloditas” aos quais o presidente do BC supostamente se alinha, o País de Lula estaria voando.

    Como o nome de Campos Neto até mesmo começou a ser aventado para ser ministro num hipotético governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas, Lula trata a prudência do BC em relação aos juros como se fosse politicamente motivada, destinada a prejudicar seu governo e preparar a volta dos tais “trogloditas” à Presidência.

    Incapaz de enfrentar os problemas que se avolumam e que demandam desprendimento e espírito público, Lula reage do único jeito que sabe: antecipa a campanha eleitoral e se apresenta como salvador do Brasil.

    De novo, quer que acreditemos que a democracia brasileira depende dele. “Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virarão 40 e eu poderei ser candidato”, disse Lula à Rádio CBN. E disse mais: “Não vou permitir que este país volte a ser governado por um fascista. Não vou permitir que esse Brasil volte a ser governado por um negacionista como nós já tivemos”.

    Ou seja, Lula se autoatribuiu a missão de impedir que o bolsonarismo ganhe a próxima eleição presidencial, como se disso dependesse o futuro do Brasil, quiçá do mundo. Nesses termos, é uma tarefa sobre-humana, que mais ninguém além dele, nem no PT, seria capaz de cumprir. “Como Deus existe, eu estou aqui”, disse Lula em evento na Petrobrás. Resta saber se ele quis dizer que sua existência é a prova da existência de Deus, ou – o que é mais provável – que ele e Deus são uma coisa só. De um jeito ou de outro, Lula mais uma vez se apresenta aos eleitores como aquele que se sacrifica para redimi-los. Mas o Brasil não precisa de um redentor. Precisa é de um estadista – e isso, definitivamente, Lula não é.

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