O ex-deputado estadual, ex-deputado federal e o quase ex-senador Jorginho dos Santos Mello, PL, dispensa apresentação. Então Jorginho não será um governador muito diferente do político que sempre foi. Ou seja, com sede de poder, blefes, vinganças e sem experiência administrativa – a não ser como ex-presidente da Assembleia. Aliás, a falta de experiência administrativa não é um grande demérito a ninguém. O atual governador, Carlos Moisés da Silva, Republicanos, até então conhecido como Comandante Moisés – por ser tenente coronel da reserva do Corpo Bombeiros Militar de Santa Catarina -, também não tinha conhecimento administrativo e não foi por isto que foi reprovado nas urnas em dois de outubro deste ano.
Se Carlos Moisés não pagou caro pela falta desta suposta experiência administrativa no exercício do mandato de governador, foi penalizado por não ser um político enrolão e principalmente, por não querer fazer política. Bem diferente de Jorginho. Ele só faz política e politicagem. Aliás, administração no ambiente político, público ou privado, resolve-se com equipe capaz e de confiança – e nisto a aposta de Carlos Moisés no técnico fazendário Paulo Eli, foi um trunfo fundamental para o sucesso dele como administrator – prioridades, determinação, planejamento, avaliação e correção de resultados.
Carlos Moisés só se acordou no ambiente política que desdenhava, quando já sem a frágil base que o elegeu – e mais do que isso, ela considerava, no radicalismo que lhe é peculiar, um traíra à causa bolsonarista – só depois de dois impeachments e uma CPI arranjados na Assembleia Legislativa pelas castas políticas que perderam para ele no voto popular. Jorginho nunca foi bolsonarista, e provavelmente, saberá superar essa desconfiança da direita radical que o está monitorando, ainda mais depois de ontem quando o dono do PL e que ele o conhece tão bem desde os tempos do PR, disse que o PL será oposição clara ao que se elegeu ao Planalto. Tanto que aqui, na contramão, por obra de sobrevivência local, o pendular MDB já está com Jorginho – depois de emprestar o fracassado apoio a Carlos Moisés no governo e reeleição. E a fila de adesistas está aumentando a favor de Jorginho.
Retomando o propósito do comentário.
Jorginho foi ontem a Brasília. Três coisas o moveram a isso. Primeiro foi “sensibilizar” a atual bancada catarinense no Congresso -e da qual ele é ainda parte. Ela pouco pode fazer por Santa Catarina – como Jorginho quer – no Orçamento criado Jair Messias Bolsonaro, PL, para o ano que vem, em possíveis emendas para as obras federais. É um movimento político de fachada de Jorginho para se proteger, ter narrativas e ficar menos exposto à falta de dinheiro no primeiro ano (2023). A peça orçamentária está em tramitação – e mudanças – na Câmara Federal e Senado, mas sob forte pressão do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, que também a vê como incompleta para as necessidades mínimas do que arrotou para dar os brasileiros no seu governo a partir de primeiro de janeiro.
Em segundo lugar, Jorginho, experimentado, sabe que o Orçamento estadual onde ele de fato pode mexer – por proximidade, influências e a sinalização do atual governador de que não fará oposição ao que ele quiser – é curto para as promessas que Jorginho a rodo para chegar ao segundo turno, mas que não titubeou em turbiná-las quando foi a campo contra Décio Neri de Lima, PT, mesmo sabendo que seria facilmente o vencedor dessa corrida.
E em terceiro, Jorginho foi reafirmar que era o Jorginho de antes da campanha. Nela ele que queria punir os catarinenses para defender Bolsonaro. Agora para dar uma tranca em Lula. Ou seja, não quer colocar o dinheiro do governo do estado nas duplicações – como a BR-470 e 282 e que são abatidas as dívidas de Santa Catarina com a União – e melhorias de outras, como vinha fazendo Carlos Moisés, solução arrumada para tirar este eterno gargalo do desenvolvimento e competitividade do modelo produção catarinense. Impressionante! Avisados estavam de que Jorginho é assim. Até agora, nenhuma reação das entidades empresariais à esta manobra de Jorginho que se pressentir esta reação, não terá nenhuma dúvida em usar o arsenal populista que lhe é peculiar para diminuir estas entidades.
Jorginho queria ser governador. Mas, ele foi um dos que votou para diminuir o ICMS dos combustíveis e telecomunicações, só para quebrar o mercado e turbinar a campanha de Bolsonaro, bolsonaristas e dele próprio. Agora, Jorginho ensaia repassar a conta da diminuição da arrecadação para a sociedade com a precariedade da já precária infraestrutura que temos por sermos o patinho feio da Federação e se ter uma fraca representatividade no parlamente e pouca influência no Planalto. Diante de realidades tão duras, não estão descartadas à proposição de “criação” ou aumentos de outros impostos, com a aquiescência de uma ampla base que está formanda na Assembleia para facilitar tudo isso. E tudo contra a competitividade das empresas, produtos, bem como o empobrecimento do catarinense.
Para os municípios, Jorginho já ensaiou à interrupção do Plano 1.000 de Carlos Moisés. Está usando uma penimba de suposta inconstitucionalidade. Ou seja, quer dinheiro em caixa. Quer a repactuação com os prefeitos para tê-los na sua mão. Só isso. Dane-se as obras que eles estariam fazendo com os recursos do Plano 1000.
Carlos Moisés está quieto. E agradecido. Quem precisará espernear serão os prefeitos. No fundo, Jorginho voltou a ser Jorginho. Ele sabia o que estava fazendo quando em campanha. Conhecia os números de Santa Catarina. Agora, vai esticar a corda. E ela vai arrebentar no lado dos que produzem porque Jorginho e os políticos sempre fizeram assim. Resta saber se terá tempo e plano técnico para colocar as promessas e as ideias no lugar para que não arrume gratuita e gradualmente uma oposição nos municípios, entre os seus eleitores, a raivosa base e as entidades empresariais, e que por fatos opostos arrumou Carlos Moisés contra si próprio.
Os eleitores e eleitoras de Santa Catarina já deram mostras que não gostam de pagar o pato das narrativas e pirotecnias dos seus políticos.
Jorginho Mello, corre o risco de se tornar um novo Paulo Afonso Doin Vieira, MDB (1995/99), um técnico fazendário, que engenhosamente criou e lançou as letras do tesouro para atender as demandas orçamentárias do seu governo. E delas não se livrou até hoje. Nem nós.
TRAPICHE
De pedra, o deputado Ivan Naatz, PL, vai se tornar vidraça? Hum! Primeiro ele não possui perfil conciliador, não gosta de engolir sapos e não possui estômago forte para isso. É só ver no que deu a CPI em que ele procurava responsabilizar o governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, pela sumiço do dinheiro – parcialmente recuperado – dos respiradores.
Em segundo lugar, a sua própria bancada do PL é um problema. Ela não reconhece Naatz seu líder. Ele na linha de frente, será induzido a quebrar a cristaleira. E não terá como juntar os cacos.
A prefeitura de Gaspar (incluindo o Samae e a Fundação Municipal de Esporte e Lazer) quer, mais uma vez, vender o processamento e gerenciamento da sua folha de pagamento por cinco anos a uma instituição financeira. Ela quer desta vez R$3.379.000,00. O edital de licitação já está na praça e vai a leilão no dia 21. Quem ganhar além de poder instalar um posto de atendimento terá que colocar caixas eletrônicos na prefeitura. Normal.
Pelo edital, descobre-se que a prefeitura de Gaspar possui na sua folha de pagamento 2.015 pessoas, sendo que 850 são celetistas, 116 comissionados, 834 efetivos, 60 aposentados do quadro próprio – os demais são pelo INSS, além de 155 estagiários.
Os que recebem salário até R$1.999,99 são maioria (677), seguidos pelos que ganham entre R$4.000,00 e R$9.999,99 (675) e pelos que ganham entre R$2.000,00 e 3.999,99 (611). Os que ganham mais de R$10.000,00 são minoria (52), sendo que destes, 22 são efetivos, 18 celetistas e 12 comissionados.
Entre os comissionados está o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, com R$31.928,68 bruto por mês. É um dos altos salários de prefeito do estado. só para comparar. E não precisamos ir longe. O prefeito da vizinha e muitas vezes maior e mais complexa na administração, Blumenau, Mário Hildebrandt, Podemos, recebe bruto por mês R$26.353,80.
Aliás, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, já retomou as suas viagens mensais a Brasília, mesmo em ambiente de fim de governo, onde o presidente não apareceu ainda para trabalhar depois da derrota e sua máquina está em velório permanente. Resumindo, onde as portas e salas terão novos donos. Até mesmo os efetivos da máquina pública federal estão em compasso de espera. Impressionante desperdício.
Foram mais R$1.892,00 de diárias afora o reembolso de passagens, segundo a justificativa para reuniões com parlamentares e nos ministérios. Agenda pública, nenhuma. Neste ano, Kleber já tomou de diárias R$12,169,00 e o município, incluindo a Câmara, Samae, bem como a Fundação Municipal de Esportes e Lazer, gasto R$223.119,00 em diárias.
Um prefeito vai a Brasília, e nos meios oficiais de comunicação da prefeitura nada. Alguma coisa aparece nas redes sociais particulares. Transparência zero. E por que disso? Por falta efetivo de resultado da viagem. Simples assim. No máximo entregaram papelinhos para quem está saindo ou entrando em férias em Brasília.
Não tem jeito. Político gasparense, do gabinete político pago pelo povo, do computador e linha pagas pelo povo, assiste o anúncio da lista de convocados da seleção brasileira de futebol. E sem disfarce espalha o ato nas suas redes sociais. Acorda, Gaspar!
5 comentários em “O GOVERNADOR ELEITO JORGINHO MELLO “DESCOBRE” QUE O COBERTOR É CURTO PARA O SEU DISCURSO E PARA ATENDER OS ADESISTAS”
O Genial Elio Gaspari não mencionou no artigo acima, que a maioria desses atuais/futuros inimigos do lula, foram no passado recente, seus amigos do peito!
Verdade
LULA TERÁ INIMIGOS NÃO ADVERSÁRIOS, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Lula entrará no Planalto com uma oposição jamais vista na política brasileira, composta por inimigos, nada a ver com adversários. A falta de modos do general da reserva Augusto Heleno, há dias, é um aperitivo do que vem por aí.
Houve presidentes que assumiram sabendo que havia uma conspiração interessada em depô-los. Nunca houve caso em que o titular manifestasse seu descontentamento com a intensidade de Bolsonaro. Juscelino Kubitschek encestaria Jânio Quadros se ele lhe fizesse uma descortesia, mas o demagogo não era doido e foi gentil na cerimônia. Aureliano Chaves, vice-presidente de Figueiredo, ameaçou encestá-lo se lhe fizesse uma grosseria na posse de Tancredo Neves. Quem assumiu foi José Sarney, o general não passou a faixa, e tudo acabou bem.
Até aí, pode-se dizer que eram desconfortos pessoais. No caso de Bolsonaro, há muito mais que isso. Nunca se viram partidários da situação derrotada indo para fora dos quartéis pedindo um golpe. As vivandeiras operavam à noite, em silêncio. Nunca um presidente brasileiro assumiu com uma parte da população pedindo, às claras, um golpe. Golpista deixou de ser um insulto.
Se isso fosse pouco, a tropa de choque da oposição a Lula é formada por personagens com uma carga de virulência capaz de transformar o deputado Roberto Jefferson, da guarda pretoriana de Fernando Collor, num lorde inglês. A política brasileira passa por uma fase tóxica. Basta lembrar que a bancada que fez oposição a Getúlio Vargas e João Goulart era chamada de “Banda de Música”. No século passado, Roberto Jefferson tinha modos e nunca atirou nos outros. Nessa fase tóxica, mentir deixou de ser falta de educação, virou estratégia em português de “fake news”, em inglês.
Bolsonaro intitula-se líder da direita. É uma meia verdade. Trata-se de uma direita popular, mobilizada e primitiva, como ele. Não pode ser comparada à direita com os punhos de renda, que era educada, mas nunca teve 58 milhões de votos. Nem todos esses votos identificam-se com o radicalismo do capitão, mas a parte que de fato se identifica é um fenômeno novo, uma direita radical, popular e mobilizada. Faz tempo, quando a direita mobilizou centenas de milhares de pessoas nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, a ditadura de 1964 desmobilizou-a.
Lidando com inimigos, Lula está diante de um novo desafio. Em sua notável carreira, ele só lidou com esse fenômeno no breve período de sua demonização pela Lava-Jato. Agora, terá que conviver com ele no exercício do mandato.
Sua vitória de outubro se deu por uma pequena porcentagem. Aos seguidores de suas propostas, juntaram-se pessoas que votaram apenas em defesa da democracia. Esse bloco, ele não pode perder. Como será possível governar ampliando sua base de apoio, não se sabe. Será um prato a ser temperado enquanto é cozido.
Uma coisa é certa. A ideia de que ele foi eleito por uma frente ampla é bonita, porém falsa. Essa frente formou-se para elegê-lo — e só, até porque, com o naufrágio da terceira via, ele era a alternativa disponível. A verdadeira frente só poderá surgir na formação do governo e no seu funcionamento.
A eleição que conduziu Jorginho Mello ao Governo do Estado é o retrato da incoerência que o fanatismo provoca nas grandes massas.
A maioria do povo catarinense rejeitou o Governo Moisés não pq ele administrou mal o nosso estado, mas pq ele governou para os catarinenses.
Somos Incoerentes?
A maioria Sim. Tanto que ainda estão empoleirados em beira de rodovias e quartéis, chorando as pitangas pelo Bolsonaro.
EU SÓ GOSTARIA DE CONHECER UMA OBRA REALIZADA PELO GOVERNO FEDERAL EM SC NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS..👀
Enquanto os políticos precisarem de votos baratos de pobres e analfabetos, estes estarão condenados ao perigo permanente…. Veja o exemplo de Gaspar…
BRASIL PRECISA DE POLÍTICA DE ESTADO PARA RETIRAR CASAS DAS ÁREAS DE RISCOS, editorial do jornal O Globo
Um levantamento de imagens de satélite, do projeto MapBiomas, mostrou que a ocupação urbana em áreas de risco no país triplicou entre 1985 e 2021 — de 34,5 mil hectares para 103,5 mil hectares. Considerando apenas as áreas de risco em favelas, o avanço foi ainda maior — de 6,8 mil hectares para 23,1 mil hectares no período. Pelo menos 887 municípios brasileiros têm alguma área urbanizada em local suscetível a desastres.
A Amazônia registrou o maior crescimento proporcional de áreas de favelas: 29,3%, acima da Mata Atlântica (7,9%), do Pampa (7%), da Caatinga (4,8%), do Cerrado (4,4%) e do Pantanal (3,2%). Ainda de acordo com o levantamento, 13 das 20 cidades onde houve maior expansão de favelas ficam na Região Norte. Entre elas, as capitais Belém (aumento de 53,8%) e Manaus (44,9%).
O estudo do MapBiomas traduz em números o que o cidadão comum percebe no dia a dia: o surgimento de habitações em áreas que não poderiam ser ocupadas, devido ao risco de desastres. Nas últimas décadas, essa não tem sido uma preocupação de presidentes, governadores e prefeitos, que preferem fazer vista grossa ao problema ou até incentivam ocupações irregulares para escamotear a falta de políticas habitacionais que contemplem as famílias de baixa renda.
O resultado costuma se revelar de forma catastrófica durante as enxurradas de verão. Nos últimos dois anos, o Brasil assistiu a tragédias em Pernambuco, na Bahia, em Minas, no Rio de Janeiro e em São Paulo que custaram centenas de vidas. Não se podem encarar como fatalidade eventos climáticos que ocorrem praticamente todos os anos com resultados previsíveis. Tornam-se mais graves diante do despreparo flagrante dos governos para enfrentá-los.
É ridículo pôr a culpa em São Pedro. É verdade que os índices de chuva têm sido excepcionais — em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, onde mais de 200 moradores morreram em fevereiro, foram as maiores já registradas. Mas todos sabemos que, devido às mudanças climáticas, eventos extremos se tornaram e se tornarão mais frequentes e letais. Não é improvável que catástrofes semelhantes voltem a ocorrer. Daí a necessidade de se preparar.
É urgente que os governos federal, estaduais e municipais desenvolvam ações conjuntas para deter a ocupação em áreas de risco. É um erro pensar que ajudam as famílias pobres ao permitir que construam suas casas de forma precária à beira de abismos. Infelizmente, na campanha eleitoral o assunto foi abordado de forma rasa. O que se viu foram anúncios de programas habitacionais eleitoreiros. A questão habitacional precisa de uma política de Estado, não de governo. Programas desenhados nas pranchetas de marqueteiros políticos podem servir para atrair votos, mas não resolverão os problemas graves de moradia que há décadas desafiam o Brasil.