Ninguém chuta cachorro morto, diz o ditado popular. E quem está soberano por cima da carne seca, não vai virá-la para correr o risco e deixar escapar de que, por debaixo, ela está bichada.
Pois é. Só depois que o empresário Oberdan Barni – Massa Forte – anunciou a sua filiação aos Republicanos – um partido que nem existia por aqui – a vida dele de “novo” político não está fácil. Estão atrás dos defeitos – e ele os possui – e pior, das suas ideias para fazer o que os políticos não fizerem pela cidade e sua gente, e que Oberdan está anunciando que implementará se tiver sucesso na corrida para a prefeitura de Gaspar em outubro do ano que vem.
Oberdan montou a Comissão Provisória do Republicanos há pouco mais de um mês. É o presidente. E neste curtíssimo tempo, já sentiu o bafo no cangote dos poderosos de plantão. Eles já avisaram a Oberdan de que não vão largar o osso assim tão fácil, não.
Os “velhos” políticos de Gaspar – mas que se apresentam como novos – já estão querendo “jantar” Oberdan vivo. A verdade, é que a primeira reação dos políticos que estão no poder de plantão e até mesmo na oposição, foi de desprezo. “isto não vai a lugar nenhum”, disse-se com todas as letras um deles, num contato que me fez com esse propósito – o de me tornar um “garoto de recado” para a cidade, devido o blog ter mais credibilidade que a imprensa. Faz poucos dias. Então o recado está dado.
Mas, quando poderosos do presente viram as pesquisas deles próprios e que mandam fazê-las para sentir a temperatura, começaram coçar a cabeça. É sempre assim. A arrogância e o poder cegam quem está no trono. Ou seja, repete-se versão do “rei nú”.
Então Oberdan que se prepare nas forças e no estômago: quanto mais ele fica entre os nomes tradicionais que não o querem como companhia para uma eventual disputa de poder, mais forças se juntarão contra ele. Oberdan é um estranho no ninho. E mesmo que por acaso estivesse nesse ninho, há fila e cadeira cativa. Todos na cidade sabem disso..
Já escrevi sobre o aparecimento de Oberdan nas pesquisas dos adversários e atribuí isso a três fatores, o fato de Oberdan ter se sobressaído, quase do nada e fora dos esquemas tradicionais: o da surpresa – e muita coisa pode mudar a partir de então, incluindo a falta de fôlego do candidato bem como à reação organizada taticamente dos adversários; o da novidade – a maioria do eleitorado está cansada de ver os mesmos políticos – velhos e novos – se revezando e nada de verdade avançando e mudando na cidade e para os cidadãos e cidadãs; e o da vingança contra os políticos tradicionais, pois Oberdan ainda não carrega o “carimbo de político na testa dele” e de alguma forma, possui uma penetração popular devido à sua atuação na área do futebol de várzea na nossa cidade.
Vamos a um caso específico de retaliação e aproveitamento de ideia alheia, mas que é óbvia. Ela, garanto e sou testemunha, não carrega nada de criatividade, inovação ou original.
O vereador Ciro André Quintino, MDB, está dez anos no mandato de vereador e por três vezes foi presidente do Legislativo, onde está hoje, num acerto que fez com o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Ciro e Oberdan eram – ou são – amigos. Oberdan já foi cabo eleitoral de Ciro, principalmente em torneios de futebol amador. E Ciro ficou fulo com o voo solo do seu patrocinador e cabo eleitoral. Cobrei de Oberdan: “chega; cansei de ser usado”. Hum!
Nestes dez anos de mandato, Ciro não tocou uma só vez na palavra UPA – Unidade de Pronto Atendimento -, uma espécie de pronto socorro aberto 24 horas por dia, essencial para desafogar a emergência do Hospital de Gaspar.
Meus leitores e leitoras nestes anos todos, leram aqui e na coluna homônima que assinava no jornal Cruzeiro do Vale, eu insistir e defender este tipo de equipamento público. Ou seja, nada novo, nem para mim, nem para Oberdan, nem para Ciro, nem para Kleber Edson Wan Dall, MDB, nem para Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, nem para o secretário da Saúde, o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, nem para ninguém na cidade, seja de situação ou oposição hoje. Repito: e há anos.
Ciro e quase todos os políticos, ficaram calados neste tempo todo neste assunto. Interessante. O governo de Kleber e Marcelo também. Apostaram no desastre chamado Hospital de Gaspar sob a marota intervenção municipal, bem como a falta de transparência dele para a comunidade. Agora, estão tentando se explicar sobre as dúvidas e talvez, por falta de explicações, saber-se-á, igualmente, à razão desta opção errática por colocar todo o dinheiro no Hospital.
O que aconteceu neste final de semana?
Tomado por uma lucidez tardia e incomum, vendo que está cada vez mais metido nos seus próprios erros comportamentais, ou talvez, finalmente, “ouvindo” a cidade pelo óbvio, como admitiu no meme, bem como, alertado pelas entrevistas do ex-apoiador Oberdan e que não ouviu, Ciro, mandou, tardia e espertamente, mais um meme via às suas redes sociais à praça, exatamente contra àquilo que nunca defendeu até então, mesmo tendo, tempo e autoridade para tal.
É que como vereador é o representante dos anseios e amarguras do povo que sofre no Pronto Atendimento do Hospital, isto sem falar, nas falhas dos postinhos de saúde espalhados pelos cantões do município, uma UPA pode ser uma parte da solução para os mais pobres, doentes e sofrendo com dores, mas esperanças.
Ciro está no caminho certo. Eu repliquei na abertura deste artigo o meme dele para provar, mais uma vez, de que não invento nada, bem como para mostrar de que ele fulo à toa. Eu apenas exponho a incoerência dos nossos políticos. E eles ficam incomodados. Em tempo de campanha, pressentindo que estão falhando e apostando na falta de memória de seus eleitores e eleitoras, esses mesmos políticos falam o que os ouvidos dos eleitores e eleitoras querem ouvir. Só isso!
Todavia, quando no poder e mandato, como é o caso de Ciro, Kleber, Marcelo e outros, eles fingem sofrer de falta de memória. Bastou um candidato sem passado político – neste caso Oberdan – tocar no calo dos velhos problemas da cidade com soluções necessárias, mas óbvias, para os velhos políticos carreiristas se estabelecerem nas promessas que nunca defenderam, exatamente. E por que fazem isso? E por que não foram atrás de uma UPA até agora? Exatamente para incomodar o sistema onde estão metidos e que os acolhem e entre eles, se autoajudam. Nem mais, nem menos. E o povo? É mero detalhe que se trata – e se engana – em quatro meses de campanha. Sempre foi assim. Tende ser desta vez.
Voltando e encerrando.
Ciro, sem a menor cerimônia e se esquecendo que por dez anos teve a oportunidade e não aproveitou, ou sequer insinuou, escreveu que: “JÁ PASSOU DA HORA!” de se ter uma UPA 24 horas em Gaspar “A cidade clama por esta solução”.
Mas, perguntar não ofende: o que de concreto o vereador fez até hoje para que isso acontecesse para os gasparenses? Nenhum discurso, sequer. Mais, Ciro – o campeão de diárias e que agora manobra para inchar e gastar mais na Câmara – é Kleber e Marcelo. Não é de oposição. Então por que eles não querem, deixaram passar da hora e não ouviram este clamor da população como constatou Ciro e está no meme do vereador?
Ciro não é oposição. Ele apenas está dizendo – e provando, lavando a minha alma mais uma vez – ao se promover – ou se salvar – que, o governo de Kleber e Marcelo falhou com a cidade, com os mais vulneráveis, exatamente numa área, onde não faltaram milhões além do Orçamento. É de se confiar que se eleito prefeito, Ciro como quer e se ensaia antes do tempo, alguma coisa vai mudar? Não é isto que ele, tendo oportunidade como vereador e presidente da Câmara fez e vem fazendo. E o meme é, na verdade, uma propaganda enganosa.
Finalmente, quem mesmo orienta e faz o marketing contra desta gente que cai nas próprias pegadinhas? Acorda, Gaspar!
PS: Onde estava o vereador Ciro André Quintino, MDB, nesta terça-feira? Em Florianópolis. Fazendo o quê? Reunindo-se com o deputado estadual do qual é cabo eleitoral aqui, Jerry Comper, MDB, de Ibirama, agora investido de secretário de Infraestrutura e Mobilidade de Santa Catarina. Ciro estava com o vereador José Carlos de Carvalho Júnior, MDB. Todos, aparados por diárias.
Onde estava o secretário Jerry neste final de semana? Num aniversário aqui em Gaspar, como registrei no artigo desta segunda-feira. Então Ciro não foi capaz de organizar e fazer esta conversa com o secretário enquanto ele estava em Gaspar e precisou três dias depois, ir para Florianópolis? Afinal do que mesmo Ciro reclama? Dos olhos abertos dos eleitores e eleitoras, ou do seu jogo errático quando diz que vai fazer alguma coisa e de diferente?
TRAPICHE
Até o fechamento deste artigo, a Expo Gaspar deste ano estava cancelada. Tinha gene se mexendo para adiar este anúncio ou costurar remendos. A confirmação virá nesta quarta-feira. Como ela, também está no vinagre a Expo-Feira e o Festival da Tilápia, da Aquipar. Coincidentemente, ambas são de responsabilidades de secretarias que estão nas mãos do PP, a de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda (suplente de vereador Pablo Ricardo Fachini), bem como a de Agricultura e Aquicultura (vereador Cleverson Ferreira dos Santos). Afinal, o que de fato avança em Gaspar?
Depois de um período “isolado” no Oeste do estado, o ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, ex-secretário de Planejamento Territorial, ex-presidente da Comissão interventora do Hospital de Gaspar e ainda presidente do PSDB de Gaspar, Jorge Luiz Prucino Pereira, foi visto e fotografado em Balneário Camboriú, coincidentemente destino de alguns políticos de Gaspar. Ele está olhando a maré.
E a CPI da pizza? Pelo andar dos piazzolos , nem pizza se terá. No dia 18 de abril, a resolução 64/2023 do presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, criava e formalizava a Comissão de Parlamentar de Inquérito para apurar responsabilidade, sobre possíveis ilicitudes em obras – que nem verbas públicas as possui. Estas verbas teriam sofrido mal uso, segundo um áudio, em que um dos interlocutores era o ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB.
A criação da CPI foi uma jogada para abafar estes áudios e proteger o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota ou PL, sei lá. Ela veio de encomenda pelo vereador, Roberto Procópio de Souza, PDT, depois da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB), em sessão anterior, ter rejeitado um requerimento para que o secretário, como convidado apenas, fosse à Câmara dar explicações, praticamente. em privado, sobre três áudios – agora já são cinco – sobre conversas cabulosas. O requerimento rejeitado era do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT.
O PL e o PT perceberam a jogada marota de abafamento do governo e não entraram na CPI para serem “comidos” como queria o governo e a Bancada do Amém. O PSDB – onde o secretário é o presidente do diretório de Gaspar – e PSD – onde estava o vice – pediram para não participarem da CPI. Ficou tudo entre compadres. Bingo: o mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, se tornou presidente, e o autor dela, Roberto Procópio de Souza, PDT, relator. O secretário Jorge pediu para sair, sumiu e se dizendo ameaçado. Como prova apresentou um “bilhete”, de computador.
O que aconteceu? Na primeira reunião da CPI, num reservado de segredos, sem outro assunto relevante, Melato e Procópio pediram a prorrogação por mais 60 dias da CPI. Como não tem assunto nem para o prazo regimental, quando mais se estica, leva-se ao esquecimento. Tática manjada.
Na imprensa, nada sobre esta CPI. No plenário da Câmara, também nada. Na cara e falha assessoria de imprensa da Câmara, muito menos. Nenhuma linha do tempo ou um canal de acompanhamento no site da Câmara. Transparência zero. As entidades quietinhas. Os supostamente envolvidos, igualmente. Todos no poder de plantão, mesmo com brigas entre si para saber quem desse grupo vai ser candidato em outubro do ano que vem, alimentam outros factoides. E para quê? Para esconder do debate este caso grave.
Resumindo: está tudo dentro do script, até porque falta farinha – mesmo ruim e não apropriada para pizza -; faltam ingredientes e forno para assar esta pizza. Qual a aposta dos políticos que, marotamente, criaram esta CPI de um lado só? Espera-se que o povo esqueça o assunto. Aí se divulgar o relatório final, sem encontrar nada, nadinha de nada, até porque já esclareci, ali não tem dinheiro público. O relatório nasceu como parte da CPI e está guardado no imaginário das estratégias. O prefeito, o vice, os secretários, os assessores, os “çábios”, o presidente da Câmara e os vereadores da Bancada do Amém reclamam que estão expostos à toa. Será?
O quase eterno deputado estadual, Marcos Vieira, assumiu a presidência estadual do PSDB. Em Gaspar, o presidente do PSDB ainda é Jorge Luiz Prucino Pereira e quem gravita em torno do PSDB, diz que o partido nem existe mais. A única vereadora dele por aqui, a que criou Jorge no PSDB, Franciele Daiane Back, está obediente e necessariamente quieta como se nada do que corre pela cidade tem a ver com o partido dela.
O governo Jorginho Mello, PL, tem tudo para ser um dos piores governos que Santa Catarina já teve. É centralizador e vingativo. Já se viu na construção do Projeto da Universidade Gratuita, uma promessa de campanha, mal dimensionada administrativa – no que tange o leque de entidade beneficiadas – e financeiramente, para a ideia caber no Orçamento estadual.
Há outra fervura nos bastidores. Quando era presidente na Assembleia Legislativa, Jorginho Mello, PL, fazia o governo do estado se curvar aos desejos da maioria que liderava no parlamento. Natural. O que não é natural, para um ex-parlamentar experimentado, pois já foi vereador, deputado Federal e até senador? É ter esquecidos desses dias de parlamentar e de quanto isso é uma regra de ouro no Legislativo quando se possui estreita maioria para a governabilidade.
Perigosamente, o governador está deixando prefeitos pendurados – ávidos por terminarem obras começadas, ou prometidas diante de contratos assinados, em seus municípios e que vão dar em imagem e reeleição – e deputados, unirem-se em busca das verbas do tal Plano 1000, do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos. Jorginho quer vingança contra o ex-governador ou ex-alinhados dele, ou então, alinhamento incondicional dos prefeitos ao PL, para as eleições de outubro do ano que vem. Se mal gerenciado, tudo isso ainda poderá ter um preço político muito alto para Jorginho.
A Furb sem caixa de novo. O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, já salvaram o caixa da Furb no ano passado. Ela vendeu, sob intensa polêmica, para a prefeitura de Gaspar, um terreno no Bairro Sete por R$14 milhões. Desgastes. O dinheiro era para salvar a Furb as dívidas do Fundo Previdenciário que a prefeitura de Blumenau tem que bancar na complementariedade, se ele não tiver os devidos fundos.
Os recursos vindos de Gaspar – R$10 milhões de uma tacada só, no ano passado e outros R$4 milhões neste ano – segundo se informou na época, não cumpriu exatamente o papel sanear o Fundo Previdenciário. Alongou-se o passivo do Fundo.
Pois é. Agora, a Furb, está colocando à venda, também por leilão, um terreno em Blumenau, por R$4,5 milhões com a mesma argumentação: quitar as dívidas do Fundo Previdenciário, no qual a prefeitura de Blumenau tem a obrigação de cobri-lo. Enquanto isso, aqui, o caríssimo e criticado no preço terreno da Furb, bancado por Kleber Edson Wan Dall, MDB, comprado pela prefeitura de Gaspar, está sem ocupação. Acorda, Gaspar!
Bolo. O médico veterinário Adilson Luiz Schmitt, ex-prefeito de Gaspar (2005/2008) na manhã de sábado vai distribuir bolo no consultório dele na Agropecuária Trica Ferro, da Rua Rio Branco. É para comemorar os quatro anos do consultório.
5 comentários em “O FATOR SURPRESA OBERDAN DÁ MOSTRAS QUE ESTÁ INCOMODANDO O SISTEMA DO MDB, PP, PSD, PDT E PSDB QUE DOMINA O GOVERNO E OS ESCÂNDALOS EM GASPAR”
HADDAD E LIRA VENCEM, PT PERDE, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
A Câmara aprovou a tramitação urgente do teto móvel de gastos Lula-Haddad, o dito “arcabouço fiscal”. Foi uma vitória por 367 votos a 102, com uma abstenção – presença de 91,6% dos deputados.
Foi uma vitória de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Derrota do comando do PT, que não engole o “arcabouço fiscal” e ainda menos o ligeiro aperto que a Câmara deu na regra de gasto. Essa tramitação também tem um recado para o presidente da República.
Nada foi aprovado. O projeto será votado na semana que vem, dia 24. Os números da votação, porém, foram expressivos. A tramitação com urgência reduziu a possibilidade de haver emendas importantes ao projeto. O que importa aqui é menos política econômica e mais a política-politiqueira.
Sob certo aspecto, o governo venceu, depois de semanas levando safanões, caneladas e rasteiras da Câmara. Sob outro aspecto, é uma força um pouco ilusória ou sub judice.
Lira atuou um tanto a sua maneira de trator. Quis mostrar ao governo que pode ser um bom sócio da administração de Luiz Inácio Lula da Silva, desde que tenha poder, que seja um pouco o semipremiê que foi na segunda metade do governo das trevas. Lira ainda não tem esse poder, diz gente do seu entorno e mesmo do Planalto, que agora parece começar a entender o jogo.
Não foi a liberação de emendas parlamentares e outros mimos que facilitou de modo relevante a vitória desta quarta-feira. O dinheiro e os cargos ainda não chegaram em volume relevante. Além disso, chegaram por pressão de Lula sobre seus ministros de casa.
Lira quis demonstrar boa vontade e força a fim de obter de Lula um acordo: quer mais do que emendas para os seus. Quer ser o diretor de trânsito desses dinheiros, dizer quem recebe, como e quando, em acordo com suas lideranças amigas. Esse é o primeiro recado para Lula.
A vitória dependeu de um acerto entre a cúpula da Fazenda e a cúpula de Lira. Não foi uma negociação mediada pela Casa Civil ou pelo Planalto. Quando o assunto bateu por lá, como na segunda-feira retrasada, chegou a empacar por uns dias, pois a Casa Civil então percebeu de vez que a negociação era direta, Fazenda-Lira. Por disputa de poder e por ser um centro mais petista do governo, a Casa Civil não gostou. Nem do encaminhamento do assunto nem do teor da nova regra fiscal, ligeiramente mais rígida.
Além do mais, deputados do PT e economistas amigos de fora do governo chegaram a formular um plano alternativo. Havia pressão de deputados próximos da cúpula do partido. Lula interveio e o movimento parou.
Há um segundo recado para o governo, que deveria estar ciente disso desde a eleição deste Congresso de direita.
Lira quer se mostrar o fiador da responsabilidade econômica, por assim dizer. Em entrevistas em Nova York, na semana que passou, reiterou, agora para o mundo, que vai barrar “retrocessos” nas reformas liberais de 2016-2022. Diz que a nova regra fiscal é um “assunto do país”. Assim, satisfaz aliados fora do Congresso, como na finança, parte dos parlamentares mais convicta dessas ideias e outros que são apenas antipetistas e antilulistas.
A atitude de Lira e seu entorno quanto à regra fiscal é facilitada pelo fato de o limite de gastos de Lula 3 ser bem flexível. Dado o aumento de gasto a ser permitido para 2024, Lula deve ter problema maior com as contas de seu governo apenas em 2025.
A votação desta quarta-feira pode ser o começo de uma bela amizade entre Lula e o aspirante a semipremiê Lira. Lula ainda tem dificuldades no Congresso. A Câmara apresentou sua proposta de regras do jogo e o que tem a oferecer. Falta ver a reação de Lula e dos seus.
O SISTEMA É F*#@, por Merval Pereira, no jornal O Globo
Continuamos a fase mediúnica da Justiça brasileira, quando se arquiva um processo porque ele certamente prescreverá no seu decorrer e se condena alguém pelo que poderia fazer caso acontecesse isso ou aquilo. Tudo faz parte, no entanto, de um esquema organizado para liberar condenados e condenar os que os condenaram. E tudo dentro da lei, “com Supremo, com tudo”, como previa o ex-deputado Romero Jucá. Ele, por sinal, anda livre, leve e solto fazendo política em Brasília, embora tenha sido derrotado mais uma vez na eleição de seu estado. A Justiça não o apanhou, mas o eleitor sim.
No primeiro caso, a título de exemplo, Lula não pode mais ser punido pelo caso do tríplex do Guarujá, pois o Ministério Público Federal alegou que, com os prazos prescricionais reduzidos pela metade, já que ele tem mais de 70 anos, os crimes de que é acusado — lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva — já estariam prescritos se um novo julgamento ocorresse. O processo foi arquivado, e Lula considera-se inocentado nesse e noutros casos.
O caso do deputado federal eleito e ex-procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol, que perdeu o mandato por unanimidade em julgamento que durou um minuto, enquadra-se na segunda hipótese. O relator do caso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Benedito Gonçalves, usou uma interpretação premonitória para cassar a candidatura de Dallagnol, pois é proibido que um integrante do Ministério Público peça demissão do cargo para evitar uma condenação. O curioso nesse caso é que não existia nenhum processo administrativo disciplinar contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) quando se exonerou.
Mas poderia vir a existir, alegou o ministro Gonçalves, pois havia na ocasião 15 ações preliminares contra ele, que poderiam se transformar em Processos Administrativos Disciplinares (PADs) que, por sua vez, poderiam acarretar punição a Dallagnol. O relator afirmou que essas ações preliminares “potencialmente ensejariam processos administrativos disciplinares com eventual penalidade de demissão caso o recorrido não tivesse requerido de forma antecipada sua exoneração”.
E o que caracteriza a má-fé de Dallagnol, de acordo com o ministro Benedito Gonçalves? Ele poderia ficar no cargo até seis meses antes da eleição e, mesmo assim, resolveu sair antes. Então, ficamos assim: se uma das ações preliminares tivesse se transformado em processo administrativo e se o CNMP tivesse punido Dallagnol, ele teria sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa e não poderia ter concorrido à eleição. Sendo assim, vamos puni-lo nesse metaverso hipotético, para que ninguém sequer pense em burlar a legislação.
Quer dizer que o TSE já sabia que Dallagnol seria punido pelo CNMP? E como podia ter tanta certeza assim o relator? Então, ficamos assim: o ex-procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol foi eleito deputado federal com mais de 300 mil votos e está impossibilitado de exercer seu mandato por uma adivinhação do ministro Benedito Gonçalves sobre o que poderia ter ocorrido, seguida por todos os ministros do TSE.
Nas redes sociais, políticos da estirpe do ex-deputado Eduardo Cunha e do senador Renan Calheiros vibram com a condenação e já clamam pela punição do ex-juiz Sergio Moro, contra quem também há processo no TSE. Enquanto isso, no Congresso, segue impunemente a votação para uma anistia a todos os atos ilegais cometidos pelos partidos políticos, desde o uso indevido de dinheiro público até o não cumprimento das regras sobre cotas para mulheres e negros.
Pode-se dizer que houve excessos na Operação Lava-Jato, mas os fatos não foram alterados. A corrupção existiu, o dinheiro foi roubado, parte dele foi devolvida. Hoje, todos dizem que foram obrigados a delatar. Até Emílio Odebrecht escreveu um livro onde afirma que não houve roubo da Odebrecht. Palocci também quer desdizer o que disse, alegando ter sido pressionado. Como disse o Capitão Nascimento, personagem de “Tropa de elite 2”, “o sistema é f*#@”.
LULA TENTA DESTRAVAR O PROGRAMA QUE OELEGEU, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Lula parece ter percebido que a conjuntura com que governará até 2026 é em tudo diferente daquela que vigorava em seus dois primeiros mandatos, ao fim dos quais desfrutava popularidade recorde, capaz de eleger Dilma Rousseff, que nunca fora política.
Diante da tomada de consciência da realidade mais adversa, o presidente adotou o pragmatismo, que sempre foi uma das características apontadas nele por historiadores e analistas políticos, e baixou a ordem de que não quer ver marolas na votação do novo marco fiscal.
Prova de que se trata de uma decisão de cunho prático é o próprio Lula não morrer de amor pela proposta da Fazenda. Antes de fechar com Fernando Haddad, ele deixou correr solta uma tentativa de outros ministros e de setores do PT de tornar a proposta mais flexível ainda com gastos e menos comprometida com metas de austeridade fiscal.
Foi convencido pela argumentação da equipe econômica de que, diante da conformação do Congresso, seria um tiro no escuro apostar nessa fórmula para tentar revogar o teto de gastos. E, uma vez convencido — para o que parece ter sido fundamental a derrubada de trechos de seus decretos alterando o marco do saneamento —, resolveu deixar claro que não serão toleradas defecções na base aliada “raiz”, com o PT à frente.
A decisão de tapar o nariz e apostar num arcabouço fiscal longe do desejável — incluindo deixar passar um dissabor de última hora, a recusa do relator, Cláudio Cajado, em blindar o Bolsa Família da aplicação de gatilhos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal — parte da compreensão de Lula de que a queda dos juros tão desejada por ele não virá sem que essa etapa seja cumprida.
Da mesma forma, não há como falar em reforma tributária sem cumprir a premissa de definir a nova âncora fiscal. Então é preciso tirar esse assunto da frente. E nem isso está garantido, uma vez que uma semana é uma eternidade em termos das idas e vindas da articulação política para um governo que não tem maioria folgada no Parlamento, como se viu claramente na discussão do Projeto de Lei das Fake News, que era dado como favas contadas e agora foi para o fim da fila da Câmara.
Ansioso para deslanchar as propostas com que disputou e venceu as eleições, Lula avançou na promessa de acabar com o Preço de Paridade Internacional (PPI) como política de definição do preço dos combustíveis pela Petrobras.
O anúncio feito ontem foi recebido com um misto de apreensão e dúvida quanto aos critérios adotados de agora em diante. É por isso que o primeiro impacto para cima no valor das ações da companhia não é sinal claro de céu de brigadeiro.
Lula vai tentando se desgarrar da “marcação” de um Congresso que está bem à sua direita operando como pode. Recorreu ao Supremo Tribunal Federal para rever as condições da privatização da Eletrobras, com que não concorda, e, agora, vai dirigindo a Petrobras a revisar todas as mudanças adotadas no governo Temer, pós-petrolão e intervenção de Dilma no preço dos combustíveis.
Mercado, analistas e políticos estão de olho se o comunicado pouco claro que anunciou a mudança da política de preços abrirá as comportas para uma volta ao estado de coisas que levou a empresa a acumular escândalos e prejuízos bilionários. Se for esse o caso, haverá em alguns dias e semanas a turbulência que não se viu ontem.
De qualquer forma, parece bastante estreita a margem de manobra do presidente para implementar, em 2023, o programa de governo que desenhou. Talvez porque ele tenha sido feito muito na base de prometer a volta a um passado que se desenhou idílico, mas nem era tanto assim — e, ainda que fosse, não é possível reviver quando se passaram 20 anos.
O EFEITO DA GASOLINA NA INFLAÇÃO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
A Petrobras baixou os preços dos combustíveis de modo justificável e relevante: mais de 12% no caso de gasolina e diesel, mais de 21% no gás de cozinha (GLP). Vai ter algum impacto na inflação final de 2023, a depender de quanto dessa baixa chegar às bombas e revendedores.
No entanto, boa parte dessa redução de preços já estava contada nas previsões para o IPCA deste ano, em torno de 6%. Além do mais, em junho pode voltar o PIS/Cofins integral sobre a gasolina, a não ser que o governo resolva abrir mais um buraco nas suas contas. A volta da cobrança do PIS/Cofins quase anularia a redução de 40 centavos no preço do combustível nas refinarias da Petrobras.
Sim, as pessoas que compram combustíveis vão sentir alguma diferença, é claro. A ver também como esse aumento de renda disponível, tudo mais constante, vai afetar os demais preços.
No debate e na chutometria informada de índices de inflação, porém, o peso da baixa dos combustíveis deve ser pequeno. Deve surtir pouco efeito sobre expectativas de inflação, no que o Banco Central fica de olho.
Um banco estima que sua previsão para o IPCA em 2023 passe de 6% para 5,8%. Outro, mais otimista, de 5,8% para 5,5%. Um terceiro, de 5,9% para 5,8%. Os economistas desses bancos preferem o anonimato, por ora, porque as contas são preliminares.
De qualquer modo, é um tico de notícia boa. No campo da economia, vamos viver assim, da mãozinha para a boca, se tanto. A queda dos preços do petróleo deve ter outros impactos menos visíveis para o público em geral. Como se notava nestas colunas, a deflação dos preços de atacado é forte. A valorização do real ajuda. Entre março e maio, foi uma das maiores entre 37 moedas acompanhadas rotineiramente pelo FMI.
O Brasil tirou um dos seus tantos bodes mefíticos da sala, com a apresentação do teto móvel de gastos de Lula-Haddad. A aprovação disso que se chama de “arcabouço fiscal” com regras menos relaxadas, com os apertos do Congresso, deve ajudar mais.
Nesse contexto de redução de bodes, taxas de juros altas, contas externas em ordem e déficits externos relativamente baixos ajudam o real a se valorizar.
Também caem as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro, onde se define o piso do custo de empréstimos e as taxas de financiamento de déficits e dívida do governo.
Essas taxas vinham caindo, aos poucos, desde fim de março. Despencaram, de uma semana para cá, apesar do saltinho desta terça-feira. Para quase todos os prazos, estão abaixo das registradas no início de novembro de 2022, antes do “Lula Day”
Foi então que o presidente da República achou conveniente dar caneladas na ideia de controle da dívida pública, na meta de inflação e no Banco Central. As taxas de juros subiram, assim como as expectativas de inflação. Perdemos seis meses por causa de falação contraproducente.
Mas isto é passado, “custos afundados”, por assim dizer, ao modo dos portugueses. Dá para aproveitar a janelinha, postigo, de oportunidade. A julgar pelas taxas de juros futuras no atacadão de dinheiro, a Selic poderia ir a 11,8% no final do ano. O Banco Central, por ora, insiste em 13,5%. Na mediana das projeções dos economistas privados, a 12,5% e caindo.
É bom lembrar, porém, que esse disco tem um lado B. Preços de petróleo e outras matérias primas baixam porque a economia mundial esfria. A Petrobras deve pagar menos impostos e dividendos para o governo. Aliás, o BNDES vai pagar também menos.
São algumas dezenas de bilhões que vão fazer falta; vai ser preciso que Fernando Haddad tenha sucesso estrito na sua previsão de aumentar a arrecadação de impostos, que são também um risco para a inflação. Um déficit grande nas contas federais deste ano pode azedar o caldo outra vez.
BARULHO NA PETROBRÁS, editorial do jornal Folha de S. Paulo
A Petrobras ocupa obviamente lugar de destaque na agenda passadista de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —a gigante estatal, afinal, espelhou à perfeição os momentos de prosperidade, megalomania, escândalos e, por fim, derrocada das administrações petistas.
Na campanha pelo terceiro mandato, Lula prometeu reviver os dias em que a companhia fixava seus preços não a partir das condições de mercado, mas da diretriz e da conveniência do governante da vez.
No último quadriênio, aliás, Jair Bolsonaro (PL) tentou pôr em prática o mesmo discurso populista, mas suas sucessivas trocas no comando da petroleira surtiram pouco ou nenhum efeito. Não será surpresa se o atual mandatário enfrentar dificuldades semelhantes.
Nesta terça-feira (16), a Petrobras divulgou que adotará uma política diferente para os preços dos combustíveis, em substituição à que vigorava desde 2016 e seguia de perto as cotações internacionais e a taxa de câmbio. Em seguida, anunciaram-se reduções —razoáveis— nos preços da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha.
Investidores e especialistas do setor tiveram dificuldade em entender o exato teor das mudanças, mas petistas e aliados trataram de propagandear uma nova era, de preços “abrasileirados”. Barulho à parte, a novidade foi bem recebida na Bolsa de Valores por não parecer tão novidade assim.
Há bons motivos para tal leitura. Em seu comunicado um tanto vago, a estatal apresenta uma estratégia mais flexível e menos previsível de reajustes de preços, mas indica que as cotações internacionais e a busca por rentabilidade continuarão sendo decisivas.
Acima disso, seguem em vigor os dispositivos da Lei das Estatais e do estatuto social da Petrobras que restringem a possibilidade de uso da empresa em políticas públicas.
Tudo isso nem de longe significa, claro, que estejam afastados os riscos que pairam sobre a gestão da petroleira. Para além da manipulação de preços, que gerou prejuízos bilionários há poucos anos, não é segredo que o governo pretende expandir novamente o raio de atuação da companhia —o que pode significar investimentos temerários e até reestatizações.
Quando o presidente da República determina o retorno de incentivos à indústria para a oferta de “carros populares”, pode-se ter uma ideia da obsolescência das ideias em curso na administração.
Felizmente, tem havido resistência a retrocessos, como se vê agora, por exemplo, na reação do Congresso Nacional à tentativa de enfraquecer o marco legal do saneamento básico. Sem prejuízo das realizações do passado, Lula deveria reconhecer os avanços recentes do país e mirar o futuro.