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O BLEFE DO PT DE GASPAR NAS ELEIÇÕES DO ANO QUE VEM. ELE MOSTROU A PRIMEIRA CARTA E TIROU DO CONFORTO OS DEMAIS JOGADORES

Na quarta-feira, depois de ver – mais uma vez – o fingimento repetido da imprensa local de que nada tinha acontecido no poker eleitoral de Gaspar, eu mostrei e comentei as declarações do petista João Pedro Sansão à oportunista declaração do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, nas redes sociais sobre o presidente eleito. Kleber lamentou, como se estivesse falando “em nome da população” e ignorassem a real divergência deste jogo, o possível desastre para o Brasil sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva, PT. O murmúrio de Kleber foi expresso nas redes sociais no dia primeiro de janeiro. João Pedro, retrucou no dia 15. E eu opinei no dia 18.

Primeiro, o ato de Kleber foi pensado e para a bolha. Foi para reatar laços com bolsonaristas e conservadores, ainda mais, sendo Kleber um representante de um ambiente evangélico contaminado pela política que quer estar no poder de plantão em Gaspar. 

É pensado porque o MDB é, por simbiose de sobrevivência no aparelho estatal, está com Lula. 

É pensado porque Kleber está arrumando uma desculpa para sair do MDB onde usufruiu por longos anos, como poucos, sem ser um MDB raiz. Eu já tinha escrito sobre a declaração e o porquê dela. 

Segundo: a “reação” um tanto ousada de João Pedro também foi pensada. Ela é tardia e cheia de riscos, até porque João Pedro protege e esconde quem verdadeiramente manda – e também alertei sobre isto – no PT de Gaspar, o ex- prefeito Pedro Celo Zuchi. Ele e sua turma estão à espreita das combinações de cartas, as quais estão disfarçadamente marcadas entre os jogadores de diversos partidos daqui. No fundo os poderosos de hoje e de ontem podem ainda ficar juntinhos, dividindo o mesmo naco como se faz hoje e estampada na Bancada do Amém na Câmara de vereadores (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB).

Só os eleitores e eleitoras estão acreditando, mais uma vez, na lisura do jogo com cartas de valores e estampas diferentes. Coitados!

Por fim o meu artigo de quarta-feira sob o título EM VÍDEO, O PT DE GASPAR DESNUDA SEM PIEDADE A FACE OCULTA DO MDB OPORTUNISTA NA CORRIDA DE 2024 foi, na verdade, apenas um mero esclarecimento sobre quem – João Pedro – devidamente instruído e avalizado se aventurou a entrar na mesa de jogo para provocar o ambiente, mas que a imprensa daqui e regional resolveu ficar bem caladinha. Tudo, outra vez, para se dar bem e desinformar o distinto público. Ela, como já expliquei em outros artigos, não quer incomodar os que a sustenta comercialmente seja no privado, ou, principalmente, no público. Como eu não dependo dessa gente e pago caro por isso…

Como se vê ainda, eu caí na provocação. E conscientemente. Não comi o prato pronto. Sei – ou ao menos penso – o que se trama. E compartilhei, mais uma vez, com a cidade para reflexão. E a polêmica rolou solta. Então vamos animar a sexta-feira e o final de semana.

Retomando.

Se você for no Google e procurar por “blefe no jogo de poker”, encontrará esta definição genérica: “Blefe ou Bluff, significa criar um engano para que alguém acredite que nós vamos agir de certa forma, quando nossa verdadeira intenção ou situação é bem diferente. Em poker, isto significa representar uma mão que você não tem”. Uma “mão” neste caso, é a combinação de cartas vencedoras

O que fez o PT de Gaspar por meio de João Pedro? Blefou. Ninguém esperava que ele entrasse na sala do jogo dizendo que possuía as cartas vencedoras. A verdadeira intenção do PT é óbvia: tirar os que estão atualmente no poder em Gaspar – e que um dia, ou seja, por três mandatos já foi do PT. E o que fez João Pedro? Fez os que estão dando as cartas se mexerem. Se não blefou, ao menos avisou que o crupiê desta jogatina, que o PT possui cartas na mão e que vai pedir para ver as dos outros. E aí…

O que está acontecendo? Mesmo havendo um enfraquecimento natural dos que estão no poder plantão, supostamente divididos, os jogadores desse carteado não querem entrantes fora do ambiente de conforto onde estão. E blefam, quando não “penduram melancia no pescoço” para serem notados e assim dizer que são candidatos.

E a declaração de Kleber foi a de que o PT é o diabo que deve ser eliminado, porque Kleber sem caminhos e habilidade ou articulação – além de não ter mais nada para fazer em Brasília além de ganhar diárias e visitar o novo prefeito de fato, deputado Ismael dos Santos, PSD, que mora em Blumenau, antecipou uma desculpa esfarrapada para o suposto miserê de realizações ou de que vai ser maltratado nestes dois últimos anos pelo governo de Lula e do PT.

Blefe também. 

Kleber teve seis anos para construir a sua marca sem o PT a atrapalhá-lo, nem mesmo aqui. E nada. 

Com muita sorte colocará um parque náutico para os riquinhos se esbaldarem em água poluída do Rio Itajaí Açú, pois vergonhosamente, Gaspar não coleta e não trata nada de esgoto, apesar do TAC – Termo de Ajustamento de Conduta -que possui há quase uma década com o inerte Ministério Público e diante do novo Marco Legal do Saneamento que possui metas claras para isto. 

Por outro lado, o PT de Gaspar possui ao menos duas marcas de realizações: a Ponte do Vale (foto da placa de inauguração) e a Policlínica, sem que isso onerasse os bolsos dos gasparenses. Por outro lado, criou um problemaço chamado CDI Dorvalina Facchini, no bairro Sete, que tenta esconder desde os tempos em que eu era o único apontar que aquilo era um ralo de dinheiro contra o bom senso da engenharia em terreno de turfa, estaqueado até com bambus. Sobre o Instituto Federal de Educação, na divisa com Blumenau, é apenas uma narrativa várias vezes desmentida aqui e que não para de pé.

O verdadeiro blefe está na conivência do PT com os desastres que tenta apontar para a administração de Kleber. É isso mesmo.

O PT é parte do problema e do resultado torto das gestões de Kleber (2017/20 e de 2021 até agora). O PT deixou Kleber se lambuzar no seu próprio lamaçal e agora está ensaiando mostrar a sujeira alheia. O PT de Gaspar como fiscal e oposição, não fez o papel dele. Cícero Giovane Amaro, no então PSD, um funcionário de carreira no Samae, bem como Amauri Bornhausen, PDT, também funcionário efetivo, mas na secretaria de Obras, diabético, com problemas cardíacos e sem as duas pernas, e estando supostamente na Bancada do Amém, foram muito mais eficazes e úteis à comunidade e até mesmo ao próprio Kleber, do que o PT nestes seis anos.

O PT colocou as manguinhas de fora. Talvez seja tarde e pode pagar caro pela omissão que se estabeleceu nesta mesa do jogo de poder e eleitoral em Gaspar. Está blefando. E este blefe vai dar o tamanho do erro, esperteza e se ainda sim, há tempo para ter ao menos uma quadra ou uma trinca, sem que os demais tenham um “royal flush”, ou um “straith flush”, ou… Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Como funciona. A prefeitura de Gaspar reabriu só esta semana. O caro marketing do erro que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, sustenta nas redes sociais, mostrou que ele se reuniu duas vezes com seu secretariado. “Pé no acelerado para garantir os serviços para a nossa comunidade”, numa confissão explícita de que se não é um marcha lenta, as coisas sob sua liderança estão travadas.

Pois não é que para comemorar a volta ao trabalho e mais uma vez tentar estimular a equipe com os comissionados e os de Função Gratificada, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, espalhou um convite entre chamado de “reunião de alinhamento e confraternização”.

Será hoje as 17h30min, no Restaurante Questão de Gosto, a partir das 17h30min. Como ninguém é de ferro, depois haverá jantar com música ao vivo. E quem pagará isto? Os impostos dos gasparenses.

Eu escrevi convite? Nada! É convocação. “Portanto a presença de todos é imprescindível”, diz o texto de encaminhamento do “convite”.

Enquanto o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, reclama do PT e ainda não abriu canais de negociação com o governador Jorginho Mello, PL, o escanteado e que levou uma rasteira do MDB e da turma do poder de plantão, o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, Patriota, está emplacando seus protegidos no novo governo estadual.

Não é que o seu ex-sócio e ex-gerente da Ditran – Diretoria de Trânsito de Gaspar, Maico Rodrigo Ebertz acaba de ser nomeado suplente Cetran de Santa Catarina, para o qual se exige entre outras,  “notório saber na área de trânsito”.

Impressionante. Enquanto em Gaspar se nega a propor e implantar uma política de zoonoses, enquanto os abrigos particulares estão á míngua, enquanto a Agapa promove ações na Justiça para que a prefeitura faça a parte mínima dela, e a prefeitura por birra recorre na Justiça para que nada aconteça, os membros do governo publicam nas redes sociais, demonstração de carinho e cuidados com os seus bichanos.

O que significa isto? Se não for provocação à Justiça e os que se dedicam à causa animal em Gaspar, é o retrato do egoísmo que domina um governo que não entende de soluções coletivas e integradas. Mostra que as reuniões com o secretariado do prefeito no seu gabinete, são momentos de retratos para eles estarem nas redes sociais. De prático, nada!

O poder faz coisas. Tem vereador que queria porque queria a presidência da Casa. Ficou quieto o tempo todo. Precisou outro vereador ir ao seu reduto eleitoral mostrar na tribuna da Câmara as mazelas que fingia não enxergar. Agora, que não está mais na presidência da Câmara, acordou e parece ser como antes: instável e o governo virou o alvo pelas cobranças represadas nestes dois anos.

Os prefeitos catarinenses que entraram na onda do Plano 1000 do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, estão reclamando. Eles tiveram suas verbas cortadas pelo governador Jorginho Mello, PL. É do jogo jogado. Primeiro os prefeitos beneficiados não se esforçaram para reeleger Carlos Moisés, e Jorginho, além de outras prioridades, vai querer reatar esse relacionamento ao seu modo com os prefeitos desta moeda de troca. Ou alguém pensou diferente? Jorginho não escondeu que faria isto.

Mais uma da incoerência que corrói o político e o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Fez uma suposta eleição democrática, incluindo provas de titulação, bem como testes aplicados pela Furb, para a escolha de novas diretoras de escolas e CDI. Elas já tomaram posse. Mas, nem todas que passaram pelos critérios estabelecidos pela secretaria de Educação, foram as escolhidas.

Estão nas redes sociais, desgastando todos e expondo à incoerência, memes mostrando os que foram eleitos pelos critérios da prefeitura e as que foram escolhidas pelo critério do secretário o jornalista Emerson Antunes, indicado pelo prefeito de fato daqui o deputado Ismael dos Santos, na vaga do PSD de Gaspar.

Na escola Ana Lira, no Gasparinho, a diretora Sirlei tirou 8,145 na prova e teve 93,83% de aprovação da comunidade. Mas quem levou foi Alexandrina que teve 6,725 na prova e 53,05% de aprovação da comunidade. No CDI Tia Maria Elisa, no bairro Bela Vista, Adelita teve 7,070 de nota e 78,66% aprovação da comunidade, mas quem levou a vaga foi Fernanda com 6,240 de nota na prova e 66,87% da comunidade.

E na posse ontem, estava lá aplaudindo tudo, a ex-secretária de Educação, a que derrubou o Ideb antes da pandemia e atual vereadora, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB. Perguntar não ofende: para que fazer concurso, gastar dinheiro e tempo, iludir a comunidade, se no frigir dos ovos, escolhe-se por afinidade com o poder de plantão? Acorda, Gaspar!

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10 comentários em “O BLEFE DO PT DE GASPAR NAS ELEIÇÕES DO ANO QUE VEM. ELE MOSTROU A PRIMEIRA CARTA E TIROU DO CONFORTO OS DEMAIS JOGADORES”

  1. ORDEM, DISCIPLINA E…DEMOCRACIA, por Eliane Cantanhêde, no jornal o Estado de S. Paulo

    O presidente Lula e as Forças Armadas “viram a página”, “olham para a frente” e discutem como financiar os programas militares, com a iniciativa privada e recursos internacionais, mas isso não significa jogar para debaixo do tapete a omissão proposital de uns e a participação direta de outros militares no que o presidente percebeu como “golpe de Estado”. A troca no comando do Exército é exatamente por isso.

    O comandante que sai, general Júlio Cesar de Arruda, é das Forças Especiais (FE), consideradas “uma seita linha dura” no Exército, e, além de apontado como leniente com os acampamentos golpistas no Quartel General, se recusava a exonerar o tenente-coronel Mauro Cid do Batalhão de Ações de Comando. Cid, também das FE, foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e é alvo de ações por fake news em lives e de suspeitas sobre gastos da família presidencial.

    O comandante que entra, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, é muito ligado ao ex-presidente Fernando Henrique, integrou tropas no Haiti e compõe um trio legalista no Alto-Comando do Exército, com os comandantes do Nordeste, general Richard Nunes, e do Sul, general Fernando Soares. Já na campanha eleitoral de 2022, o Exército garantia que “bateria continência” para o presidente, ganhasse quem ganhasse, pois as Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo.

    Atual comandante do Sudeste, com sede em São Paulo, Tomás, como é chamado pelos colegas, fez na semana passada um discurso para sua tropa pró-democracia, Constituição, alternância de poder e despolitização das Forças Armadas. E destacou a importância do voto e de respeitar o resultado das urnas – o vitorioso Lula é o comandante em chefe das Forças.

    A troca ocorre quando as investigações sobre o golpe de 8/1 apontam mais caras, nomes e patentes militares nos acampamentos, na Esplanada dos Ministérios e dentro de Planalto, Congresso e STF. Dezenas podem parar na Justiça Militar, inclusive um antigo comandante do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), subordinado ao Comando Militar do Planalto, portanto, ao Exército. General de brigada da reserva, ele não sai bem na foto, de camiseta amarela, suado, com a perna ferida. Quem tomava conta do palácio agora invade palácios?

    Há um empenho mútuo para normalizar as relações entre Lula e Forças Armadas, mas ele, a polícia e a Justiça não podem botar panos quentes em ações criminosas, de civis ou militares, e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica têm de ter consciência disso e punir quem errou. Assim como reuniu os líderes civis, Lula precisa unir as Forças Armadas em torno da democracia brasileira.

  2. AO ENQUADRAR O EXÉRCITO, LULA ENFIM TOMA POSSE COMO COMANDANTE-EM-CHEFE, por Josias de Souza, no UOL

    O comandante do Exército Júlio César Arruda confundiu pacificação com bagunça quando torceu o nariz para a ordem do presidente da República de anular a transferência de um ex-auxiliar de Bolsonaro para a chefia de uma prestigiosa unidade militar. Ao demiti-lo, Lula atalhou a indisciplina e restaurou a hierarquia. Qualquer tratativa com o general em torno do descumprimento de uma ordem superior conduziria à anarquia. Com atraso, Lula finalmente tomou posse como comandante-em-chefe das Forças Armadas.

    Em 24 horas, o discurso do ministro José Múcio deu um cavalo de pau. Na sexta-feira, após reunião de Lula com os comandantes militares, Múcio dissera que o mal-estar do presidente com as fardas estava superado. Chegara a hora de “virar a página”, “pacificar” o ambiente e “olhar pra frente”. Neste sábado, compelido a explicar a demissão do comandante do Exército, Múcio endireitou a prosa: “…As relações com o comando do Exército sofreram uma fratura no nível de confiança. Achávamos que deveríamos estancar isso no início para superar o episódio”.

    Presidente de terceiro mandato, Lula sabe que toda crise tem um custo. Os militares regatearam. Na sexta, Lula parecia disposto a fechar a conta. Acertou-se que fardas pilhadas no quebra-quebra seriam punidas. Afastaram-se do Planalto e do Alvorada oito dezenas de bolsonaristas camuflados, a maioria de baixa patente. No mais, Múcio sinalizou que o barato sairia caro. A crise nem foi discutida na reunião. Falou-se sobre investimentos. Em vez de castigo, prêmios. As Forças Armadas iriam às compras.

    Lula poderia ter exonerado o general Arruda em 8 de janeiro. Naquele dia, após passar dois meses protegendo falanges bolsonaristas na porta do seu quartel-general, o Exército favoreceu a arruaça golpista ao descumprir sua missão de guarnecer o Planalto. À noite, consumada a depredação nos Três Poderes, o Exército impediu a polícia de prender criminosos em flagrante. Usou até blindados para retardar o cumprimento de ordem judicial emitida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Muita gente fugiu.

    Por mal dos pecados, a história mostra que tentativas de pechinchar o custo de crises costumam magnificar o tamanho do prejuízo. Após a reunião apaziguadora de sexta-feira, Lula encomendou a anulação de um prêmio concedido por Bolsonaro ao seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid. Foi nomeado comandante de uma tropa de elite, no 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia. Lula impressionou-se com o rastro pegajoso deixado pelo coronel Cid, como é chamado o amigo de Bolsonaro.

    Espécie de faz-tudo do capitão, o coronel Cid é coadjuvante no inquérito sobre milícias digitais. É protagonista numa investigação sobre o suposto desvio de verbas do cartão corporativo da Presidência para o pagamento de contas pessoais de Michelle Bolsonaro. Alheio às suspeições, o general Arruda esboçou contrariedade com a ordem de Lula. Foi como se cutucasse a autoridade presidencial com o pé, para ver se Lula mordia.

    Mordido, Júlio César Arruda perdeu o comando do Exército para o comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Na semana passada, falando para a tropa, ele defendeu o respeito à democracia. “É o regime do povo, da alternância de poder. É o voto”, declarou. O futuro comandante do Exército é ligado ao general Eduardo Villas-Bôas. Ajudou a redigir o tuíte que Villas-Bôas postou para pressionar os ministros do Supremo às vésperas do julgamento do habeas corpus que autorizou a prisão de Lula em 2018.

    Os ministros do Supremo sempre negaram que a postagem de Villas-Bôas, então comandante do Exército, tenha influenciado no julgamento. Entretanto, Lula e o PT crivaram o general de críticas. Ao escolher para a chefia do Exército um coautor do tuíte que almejava a sua prisão, Lula pode argumentar que deseja a profissionalização das Forças Armadas, não a sua politização com o sinal trocado. A mudança de guarda no Exército não vira integralmente a página da crise. Mas, por um instante, o governo parou de puxar a página para trás.

  3. A ANATOMIA DE UM GOLPE PIFADO, por Elio Gaspari, nos jornais O globo e Folha de S. Paulo

    Na sua entrevista à repórter Natuza Nery, Lula mostrou que, por instinto, protegeu seu mandato na tarde do dia 8, ao refugar a proposta de decretação do expediente de Garantia da Lei e da Ordem, a GLO. Se ele aceitasse a proposta, mobilizaria as Forças Armadas para restabelecer a paz em Brasília. Depois disso, sabe-se lá o que aconteceria, mas esse era o caminho defendido também por pessoas que não gostam dele.

    Há anos, Jair Bolsonaro sonhava com Apocalipses que chamariam a tropa. Às 17h10min do dia 8, o general da reserva Hamilton Mourão, ex-vice presidente e senador eleito pelo Rio Grande do Sul, escreveu: “Repito que o governo do Distrito Federal é responsável e, caso não tenha condições, que peça ao governo federal um decreto de Garantia da Lei e da Ordem.”

    Quando Mourão ofereceu esse caminho, o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal já haviam sido invadidos. O painel de Di Cavalcanti, esfaqueado, o relógio de D. João VI, atirado ao chão, e o armário do ministro Alexandre de Moraes, arrombado. Às 17h02min, a Agência Brasil informou que uma tropa do Batalhão da Guarda Presidencial estava chegando ao Planalto e o Choque da PM havia retomado o Supremo.

    Às 17h55min, foi ao ar a fala de Lula chutando a bola na pequena área ao decretar a intervenção federal na segurança pública de Brasília. Era a exclusão da alternativa da GLO que vinha de seus correligionários.

    (Esta foi a segunda vez que aliados de Lula tentavam mover a peça errada. No dia do segundo turno, quando a Polícia Rodoviária Federal parava ônibus de eleitores no Nordeste, petistas queriam prorrogar o encerramento da coleta de votos. Nesse episódio, quem tirou a bola da pequena área foi Alexandre de Moraes. Ele percebeu que o adiamento poderia robustecer uma proposta de cancelamento do pleito.)

    Só as investigações mostrarão o que havia no panelão do golpe do dia 8 de janeiro. Deixando de lado as palavras, o que não é pouca coisa, trata-se de juntar os pontos.

    Desde dezembro, incendiaram-se carros e ônibus em Brasília, numa noite em que a sede da Polícia Federal foi atacada. Quatro torres de transmissão de energia foram derrubadas. Três pessoas já confessaram que preparavam um atentado explodindo um caminhão de combustível nas cercanias do aeroporto e detonando uma subestação de energia. George Washington de Oliveira e Souza, metido nesse projeto de atentado, foi claro: Dariam “início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio.”

    A GLO é a prima pobre do estado de defesa proposto no papel guardado pelo ex-ministro Anderson Torres que, por sua vez, é a prima pobre do estado de sítio.

    A CONFIANÇA DE LULA

    No seu café da manhã com jornalistas, Lula tratou da invasão do Palácio do Planalto e disse o seguinte: “Eu perdi a confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à normalidade”

    “Eu pego no jornal um motorista do (general) Heleno dizendo que vai me matar e que não vou subir a rampa. Outro tenente diz que vai me dar um tiro na cabeça, que não vou subir a rampa. Como vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro?”

    No dia seguinte, o general da reserva Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo de Michel Temer, respondeu:

    “Passado o triste episódio do dia 8, o presidente Lula, comandante supremo das Forças Armadas, dá uma declaração clara à imprensa de que não confia nas Forças Armadas. Como é que se pacifica o país a partir daí?”

    Lula tratava de situações concretas. Noves fora as diatribes do motorista e do sargento, o mundo viu a invasão do palácio presidencial na tarde do dia 8. O prédio, bem como o Palácio da Alvorada, é protegido pelo Batalhão da Guarda Presidencial, e sua inação ficou documentalmente comprovada.

    Se um general tem o seu quartel vandalizado numa tarde de domingo, o mínimo que tem a fazer é desconfiar da guarda. A raiz dessa desconfiança não precisa ser política, é operacional. Lula não disse que “não confia nas Forças Armadas.” Podia ter sido mais preciso, porém o comentário envolvia uma inação operacional.

    Em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel decidiu demitir o ministro do Exército, general Sylvio Frota, acautelou-se montando três dispositivos, sem que cada um deles soubesse da existência dos outros. Além disso, escolheu a primeira quinzena de outubro porque, naquele período, de acordo com um rodízio, os palácios estavam sob a proteção do Regimento de Cavalaria de Guarda. Com razão, ele não confiava no coronel que comandava o Batalhão da Guarda Presidencial. (Duas semanas depois, sem estridência, o novo ministro substituiu-o.)

    GUARDA NACIONAL

    Não podia ser pior, por inútil e redundante, além de mal afamada, a ideia de criação de uma Guarda Nacional para ser encarregada da segurança de uma área específica do Distrito Federal. É inútil e redundante, porque em Brasília há oito polícias, a Civil, a Militar, a Federal, a da Câmara, a do Senado e mais uma para cada Força Armada.

    A ideia seria criar uma Guarda Nacional formada por pessoas aprovadas em concurso público. Nada a ver com milícia, mas o nome remete a uma instituição criada no Império. Depois da Guerra do Paraguai, essa Guarda passou a ser vista com desconfiança por muitos militares.

    No dia 9 de novembro de 1889, um renomado político e jornalista publicou um artigo intitulado “O plano contra a pátria”, excitando os brios da tropa. Numa excelsa vivandagem, ele dizia:

    “O exército ir-se-á escoando, batalhão a batalhão, até desaparecer da capital do Império o último soldado, e ficar o Rio de Janeiro entregue às forças do conde d’Eu: a polícia, a guarda cívica, a Guarda Nacional.”

    Uma semana depois, a tropa depôs o Imperador, desterrou-o com o genro conde e a família, empossando um marechal. O jornalista foi nomeado ministro da Fazenda. Chamava-se Rui Barbosa.

    ÇULA E O BC

    Num período de 24 horas, Lula atacou duas vezes a autonomia do Banco Central. Numa, disse que essa independência é uma “bobagem”. Desde 1º de janeiro, seu ministro da Fazenda condenou a taxa de juros fixada pelo BC em duas outras ocasiões. A autonomia do BC e de sua prerrogativa de fixar a taxa de juros são consequências de uma lei aprovada pelo Congresso. A taxa de 13,75% pode justificar amplos debates acadêmicos, mas como a autonomia do BC é um imperativo legal, discuti-la com a metodologia dos palanques é coisa perigosa. Afinal, a bandeira da legalidade protege muitas outras coisas.

    FESTA NOS TRIBUNAIS

    A encrenca das Americanas fez a festa de algumas bancas de advocacia. Assim como a Lava-Jato fez a alegria de bons criminalistas, as Americanas levaram uma lufada de sorte para advogados especializados em litígios comerciais. Todo mundo está brigando com todo mundo.

  4. ARMÍNIO FRAGA: “VEJO AS MEDIDAS DE HADDAD COM BONS OLHOS. É O INÍCIO DE UM TRABALHO DIFÍCIL’”, entrevista para Diego Viana, no jornal Valor Econômico

    Valor: Que impressão lhe causou o anúncio das primeiras medidas fiscais do ministro da Fazenda?

    Arminio Fraga: Eu diria que foi um bom primeiro passo. Achei correto o ministro reconhecer que nessas medidas tem muita incerteza e muitas receitas que não são recorrentes. Em prazo mais longo, é preciso um ajuste até maior do que o anunciado, que vá além do controle da dinâmica de crescimento da dívida pública. Se o país quer atingir seu potencial, trabalhando nos grandes temas da desigualdade e da falta de oportunidade, e de temas macroeconômicos como a produtividade, precisamos repensar o direcionamento geral do gasto público. É um trabalho que vai levar tempo.

    Valor: Há algo a destacar nessas primeiras medidas?

    Arminio: Tem dois aspectos importantes, para além das medidas anunciadas. Primeiro, a manutenção do aumento do salário mínimo já concedido, portanto o abandono da ideia de dar um novo aumento. Isso mostra bom senso. O segundo ponto é a recuperação do Cadastro Único, eliminando distorções introduzidas no Auxílio Brasil. Não só porque esse foi um gasto que não passou por um crivo de prioridades. Mas também por causa da qualidade da política social, já que as pessoas estavam se recadastrando individualmente para receber mais. Corrigir isso é importante.

    Valor: As medidas pendem para o aumento de receitas. Poderia ser feito mais do lado do gasto?

    Arminio: Do lado do gasto, onde tem dinheiro? Na Previdência, na folha de pagamentos e nos regimes especiais de imposto de renda. O dinheiro está ali e é muito. Quero crer que isso vai entrar em discussão. Principalmente a parte do IR. Seria absurdo um governo do PT não mexer nele. Do lado fiscal, é claro que o que se obtiver vai ser dividido com estados e municípios. A relação federativa está meio chacoalhada depois da desoneração do ICMS, no ano passado.

    Valor: Se o ajuste chegar ao máximo estimado, embora o ministro considere improvável, o BC pode ser levado a começar mais cedo o ciclo de baixa da Selic?

    Arminio: Poder, pode. Se ocorrer, por exemplo, uma valorização do câmbio, que hoje embute um prêmio de risco razoável.

    Valor: Um ajuste de 2% do PIB pode ter impacto no crescimento?

    Arminio: Acho que teria um impacto altamente positivo. Foi assim em 1999, quando houve um ajuste de 4 pontos, até mais, e o PIB cresceu bem durante vários trimestres. A experiência oposta foi no governo Dilma, que fez uma megaexpansão e legou uma recessão enorme. Agora, o Brasil tem a perspectiva de um conjunto de boas notícias, na área ambiental, por exemplo, que poderia colocar a economia em trajetória de crescimento acelerado.

    Valor: No ano passado, o sr. assinou uma carta ao presidente Lula alertando sobre o perigo da irresponsabilidade fiscal. Essas primeiras semanas indicam mais comedimento?

    Arminio: As posições que o governo eleito vinha externando eram extremamente preocupantes. Uma atitude raivosa em relação aos temas de responsabilidade fiscal, sinais de retrocessos na Previdência, nas relações trabalhistas, no marco do saneamento, no uso de bancos públicos, no uso e abuso da Petrobras. Muita coisa. Agora, o ministro Haddad deu uma freada de arrumação que é importante.

    Valor: Na primeira semana no ano, declarações do ministro da Previdência, Carlos Lupi, sobre uma “antirreforma” previdenciária foram desautorizadas pela Casa Civil. É um sinal de ruído?

    Arminio: Como dizem os americanos, só temos uma chance de causar uma boa impressão. Houve essa correção, mas já havia ficado a imagem de que era isso que queriam fazer. Por isso vejo as medidas de Haddad com bons olhos. É o início de um trabalho difícil.

    Valor: Qual é sua expectativa para o novo arcabouço fiscal?

    Arminio: Não existe um modelo único que funcione, mas algumas coisas têm que estar presentes. A relação dívida/PIB não pode seguir crescendo, então tem que ter algum mecanismo de controle. Aí, alguma flexibilidade é inevitável e desejável, mas precisa ter mecanismos de volta. Como no caso da pandemia, em que era preciso gastar, gastou-se, mas com o fim da pandemia era preciso ficar um tempo poupando, recuperar o balanço do governo, para que ele possa, inclusive, enfrentar outras emergências. E é preciso eliminar a política pró-cíclica. E depois vem a questão do tamanho do Estado, que era o foco do teto de gastos.

    Valor: Para este ano, a reforma mais adiantada é a dos tributos indiretos. A economia seria afetada de imediato?

    Arminio: Acho que sim. E creio que várias das reformas já feitas estão tendo impacto na produtividade e na economia. A reforma seria um fator de confiança, porque nosso sistema tributário é um manicômio completo. Aí vem o lado político: como o Congresso, com o perfil que tem, vai lidar com essas questões? Essa é outra encrenca.

    Valor: O lado político deve pesar ainda mais na tentativa de mudar o imposto de renda. Dá para contar com uma reforma?

    Arminio: Qualquer reforma não vai ser aplaudida de pé e resolvida com uma votação simbólica, unânime. Tornar o IR mais progressivo é um desafio antigo. Não podemos contar com uma reforma, mas é preciso tentar.

  5. O que eu li aqui.

    O parentesco da Diretora Sirlei, cargo que só conseguiu e ocupou por um parentesco com Roberto Pereira, ganhou e levou por indicação é o mesmo parentesco que a derrubou.
    O Jean, também só que este se manteve mais tempo, pois ameaçou ir ao ministério público e de repente, silêncio……………………..
    Sobre agapa, o SR. esquece de algo muito importante e já tivemos um conversa nesse mesmo canal, inclusive com uma apoiadora incondicional de João Paulo Kleinubing, hoje quem está a frente do CEPREAD em Blumenau é o irmão do vereador, candidato a
    prefeito e queridinho do MDB da ala da SRA. Ivete
    Sobre o Jovem Sansão acho que não foi tão brilhante assim.
    Só aumentou a lista dos prováveis candidatos
    MDB = disputam o partido e levam a desconfiança por não ter liderança do Paca, Ciro e Junior Hostins
    PT = Celso e Sansão chapa unica
    Marcelo e um partido…………..
    PL = E quem sabe Rodrigo
    E a noiva do PP vem com ,se tiver coragem, Secretário Lú

    1. 1. Obrigado pela leitura.
      2. Ao que se diz Maria Galvão, eu não posso explicar o que escrevi. O que está escrito é para ser lido. Eu leio de uma forma. E você com outras informações e intereses que não tenho, lê de outra. É assim que as coisas são.
      3. Sobre fazer um concurso, com critérios públicos e jogá-los no lixo, para impedir gente não tão amiga, de assumir, não é uma prática aceitável, mas abominavel. Há um direito adquirido quando se cria regras que se supõem universais a todos que disputam o mesmo espaço
      4. Sobre a nossa “vida animal” é o retrato do cão. Ele mostra bem a teimosia dessa gente que está sendo comida pela própria teimosia. O queridinho já perdeu votos por ser fiel às bobagens daqui, poderá perder mais votos e discurso se inventar querer ser o São Francisco do pau oco. Provas não faltam.
      5. Finalmente sobre os pares para a disputa eleitoral do ano que vem, nenhum reparo. Mas, o tempo, o presente e o passado conspiram contra algumas delas.

  6. A BOBAGEM DE LULA SOBRE O BC, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Lula da Silva declarou, numa entrevista, que não gosta do Banco Central (BC) autônomo. E não gosta porque, para o lulopetismo clássico, o governo deve mandar na autoridade monetária para definir, conforme critérios políticos, quais devem ser os juros básicos da economia. A autonomia, segundo os petistas, “afeta a soberania popular e nacional” ao “transferir o controle do BC aos bancos privados”, como se lê em um comentário do partido a respeito do projeto de lei que conferiu independência ao BC, em 2021. Nada muito diferente dos manifestos radicais do PT primevo.

    De volta ao poder, o presidente Lula mostrou que continua incapaz de compreender que, sem autonomia, o Banco Central depende da boa vontade do governante para fazer seu trabalho de preservação do poder de compra da moeda. A mão pesada de Dilma Rousseff no BC para forçar uma queda dos juros logo no início de seu primeiro mandato, em 2011, a título de impulsionar o crescimento, abriu a picada para o desastre que estava por vir – inflação descontrolada, instabilidade econômica e recessão. Mas Lula e o PT são teimosos.

    Em entrevista à GloboNews, o presidente disse que a autonomia formal do BC é “uma bobagem”. Além disso, Lula sugeriu que, se autonomia fosse eficiente, a inflação não estaria tão alta. “Por que, com um banco independente, a inflação está do jeito que está?”, questionou, ignorando o fato, óbvio, de que a inflação só não está mais alta porque o BC tomou as providências necessárias. Aliás, pode-se dizer que, não fosse a autonomia do BC, o então presidente Jair Bolsonaro teria usado a autoridade monetária para seus propósitos eleitoreiros, mandando criar artificialmente um aumento momentâneo do poder de compra dos brasileiros para ganhar votos. Talvez até se reelegesse – vejam só os petistas do que a autonomia do BC nos livrou.

    As declarações de Lula, portanto, não surpreendem ninguém, mas são dignas de lamento. É inacreditável que o presidente hesite em reconhecer a importância de um marco institucional tão relevante para o País.

    Ao longo de sua história, o PT sempre defendeu o combate à inflação por meio do controle de preços de combustíveis, incentivos setoriais e uma política cambial que reduza a volatilidade da moeda. Não são propostas de um passado distante, mas as diretrizes expressas do programa apresentado por Lula na campanha eleitoral de 2022.

    Esse receituário heterodoxo foi testado e reprovado no governo de Dilma, quando o BC ignorou os sinais de deterioração da economia e abriu mão da defesa da moeda, sua função primordial, perdendo o controle da inflação e da ancoragem das expectativas. A combinação entre juros em patamares artificialmente baixos e os efeitos de uma política fiscal expansionista mergulharam o País em uma profunda crise econômica até hoje não totalmente superada.

    Foi após esse contexto que ressurgiu o debate sobre a autonomia do Banco Central. Um dos pilares do projeto de lei complementar aprovado pelo Congresso foi o estabelecimento de mandatos fixos para os diretores e o presidente da instituição em períodos não coincidentes com os do presidente da República. Longe de representar privilégio aos membros da autarquia, a proposta deu a eles a blindagem necessária para executar suas atividades sem pressões políticas do governo de plantão, independentemente de seu viés político.

    Tema completamente superado, a autonomia do BC é mais um dos vários dogmas aos quais o PT mantém um apego visceral. Quando Lula a critica, trai a si mesmo, pois sabe que a independência que deu ao BC lhe garantiu um primeiro mandato tranquilo. Pior: amplia as incertezas e a volatilidade da economia, desancora as expectativas do mercado e cria um ambiente propício para que um BC sobre o qual ele não tem qualquer poder ou ascendência volte a aumentar a taxa básica de juros. Com o enorme desafio de pacificar o País após os violentos ataques à democracia, Lula deveria abandonar essa retórica inconsequente. Com esse discurso, ele boicota seu próprio governo e castiga justamente os mais pobres, que ele diz tanto defender.

  7. A BAZÓFIA DE LULA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Não satisfeito com os discursos anteriores à posse que fizeram disparar os juros de mercado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a desafiar o bom senso em temas econômicos com autoconfiança inaudita em seu terceiro mandato.

    Na quarta-feira (18), loquaz durante uma entrevista, criticou a autonomia formal do Banco Central, a seu ver uma bobagem, e defendeu uma meta de inflação mais alta —pois, afinal, o Brasil precisa crescer. “Onde estão a inflação e os juros?”, indagou o mandatário.

    Também atribuiu uma suposta incompatibilidade entre responsabilidade fiscal e social à “ganância das pessoas mais ricas”. Nesta quinta (19), arengou contra “essa gente do mercado”, que para ele só aprova gastos com juros da dívida. “A gente podia não ter nem juro”, asseverou o petista.

    A esta altura, é preferível acreditar que se trata de demagogia oportunista —pior será se Lula de fato acreditar em tais disparates e não estiver disposto a ouvir técnicos e estudiosos da matéria. Ou se ignorar que juros e inflação estão altos, em quase todo o mundo, porque ainda há um legado de desequilíbrios da pandemia de Covid-19.

    No caso brasileiro, o fenômeno é agravado pela imprudência na gestão do Orçamento, impulsionada pela farra eleitoreira de Jair Bolsonaro (PL) e aprofundada pelo atual governo com a PEC da Gastança.

    O presidente, aliás, gaba-se de trabalhar por mais desequilíbrio das contas do Tesouro Nacional, com a promessa de livrar do Imposto de Renda ganhos até R$ 5.000 mensais. Tal propositura, além de ruinosa para a arrecadação, seria péssima política pública, por subsidiar estratos com rendimentos muito acima da média nacional.

    Não deixa de guardar coerência, infelizmente, com a velha e falsa tese de que a tolerância com a inflação favorece o crescimento sustentável —que Lula repete como se desconhecesse os funestos experimentos de Dilma Rousseff (PT).

    Quanto aos famigerados juros da dívida, o falatório omite que o meio mais eficaz de não depender de credores é não precisar de ainda mais dinheiro emprestado.

    É notável que, em contraste com a bazófia de Lula, ministros da área econômica venham dando sinais de sensatez. Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, mostram preocupação com o ajuste fiscal. O vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) descartou retrocessos nas reformas previdenciária e trabalhista.

    Talvez o mandatário queira principalmente manter sua base mais ideológica mobilizada, mesmo que sob o risco de sabotar a retomada do emprego e a melhora da renda. Fato é que, além da retórica, as medidas concretas tomadas até aqui não inspiram otimismo.

  8. LULA CONTINUA A DERRAPAR QUANDO FALA DE ECONOMIA, editorial do jornal O Globo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou sua primeira entrevista após a posse para criticar o sistema de inteligência do governo, incapaz de deter a barbárie do 8 de janeiro, e pedir a punição dos responsáveis. É também o desejo da maioria da população brasileira. Infelizmente, Lula deixou transparecer na entrevista à GloboNews sua visão turva sobre temas cruciais para a economia. Não custa lembrar: o fracasso econômico de seu governo teria como efeito nefasto a realimentação da descrença na democracia e do golpismo.

    Questionado se acredita haver antagonismo entre as responsabilidades fiscal e social, Lula respondeu que sim, em razão da “ganância” dos mais ricos, resposta extraída do manual do populismo de esquerda. Os fatos: um governo que gasta mais do que arrecada aumenta a dívida pública; quanto maior ela fica, maior a percepção de risco e mais altos os juros pagos para atrair compradores de títulos da União; quanto mais se gasta com isso, menos dinheiro sobra para programas sociais.

    Em vez de aceitar a realidade, Lula insiste em insinuar que quem é a favor do controle de gastos é contra o combate à fome, à pobreza ou à desigualdade — visão sem cabimento. Repetiu que ninguém pode cobrar dele responsabilidade fiscal porque ele foi responsável quando esteve no poder. Obviamente, o mais importante não é o que fez, mas o que fará. E, até agora, o controle das contas públicas, hoje sujeitas a um déficit estrutural da ordem de 2% do PIB, continua restrito às promessas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sem o compromisso de Lula, será difícil transformá-las em realidade, tantas as demandas por recursos do governo.

    Ainda que na cabeça de Lula a confusão possa fazer sentido político, o discurso ambíguo atrapalha o país, pois tem reflexo nos indicadores econômicos. Isso ficou claro noutra declaração infeliz na entrevista à jornalista Natuza Nery. Lula atacou a autonomia do Banco Central (BC) como desnecessária. Afirmou que, em seus primeiros governos, o então presidente do BC, Henrique Meirelles, tinha mais independência que o atual, Roberto Campos Neto. Não é verdade. Campos Neto não pode ser demitido por Lula, por isso tem mais liberdade. Lula chegou a dizer que, se a autonomia do BC fosse boa, a inflação não estaria tão alta — um disparate que não leva em conta a conjuntura doméstica, a mundial e as incertezas trazidas pela incúria fiscal.

    Para piorar, Lula também atacou a meta de inflação para este ano: 3,25%. O novo governo tem todo o direito de discutir as metas, mas na instância adequada e no momento certo. Ao fazer a crítica numa entrevista, Lula sabota o trabalho do BC, empenhado em ancorar a expectativas de inflação futura de consumidores, empresários e investidores. Em vez de ajudar a derrubar os juros e a elevar a perspectiva de crescimento (desejo de Lula e do Brasil), a declaração tem o efeito contrário.

    Os avanços na área social nos dois primeiros mandatos de Lula são incontestáveis. O atual papel do presidente na defesa da democracia tem sido e continuará sendo primordial. Na área econômica, infelizmente, o quadro é mais incerto. O mundo mudou desde que Lula passou a faixa a Dilma Rousseff. O PIB não voltará a crescer como antes, quando havia crédito abundante e o cenário externo era favorável. Cada demonstração de amadorismo de Lula na economia cobrará seu preço. Também na política.

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