“A crise da Educação brasileira não é uma crise, é um projeto”. A frase do antropólogo com foco no indigenismo, sociólogo, escritor, historiador e político (PDT), ex-ministro da Educação (1962/63), Darci Ribeiro (1922/97).
Na terça-feira, dia 28 de fevereiro, guarde bem esta data, em regime de urgência, como quase tudo que o Executivo manda para a Câmara de Gaspar, o Projeto de Lei 03/2022, foi aprovado por unanimidade na Casa, mas completamente fora deste rito. Guarde bem esta informação. E tudo diante do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. De forma incomum, ele foi àquela sessão. Por outro lado, Kleber já foi vereador e presidente da Casa. Ou seja, é amplo conhecedor dos procedimentos regimentais no Legislativo municipal.
O referido PL – que já é Lei – trata da Contratação de Pessoal Temporário por Chamada Pública. É para tapar os buracos nos CDIs e escolas municipais. Esta saída foi inventada, às pressas pela secretaria de Educação e o prefeito no dia seis de fevereiro, mas só foi protocolado, numa quarta-feira, às 16h35min, dia 15 de fevereiro. E as aulas começando. E salas sem professores, auxiliares e coordenadores. Incrível!
Para tramitar regularmente dentro da Câmara e chegar ao plenário para discussão, votação e aprovação, um Projeto de Lei precisa antes ser admitido em uma sessão regular – ordinária ou extraordinária.
Então veio o Carnaval. E por pressão do governo e principalmente da comunidade de pais com filhos sem professores, assistentes e cuidadores, os onze vereadores da Bancada do Amém – MDB, PSD, PSDB, PP e PDT, bem como os dois da suposta oposição no PT e PL, resolveram acelerar o processo de forma incomum, repito, de forma incomum, e na primeira sessão seguinte, a da Quarta-Feira de Cinzas, dia 22 de fevereiro, quando este PL oficialmente estava “pronto” para análise.
Era a exceção da exceção. Foi escolhido o relator e o PL despachado para as comissões fecharem os olhos e salvarem outra vez a imagem governo que planeja só na comunicação marqueteira que inunda as redes sociais e por isso, automaticamente, desacredita-o.
E na terça-feira passada, ou seja, em apenas seis dias corridos – num fato raro – o Projeto de Lei já tinha sido votado e aprovado, quando pelo caráter de urgência, recuperando a informação anterior, o prazo era de até 45 dias.
Noves fora, Este PL ficou mais tempo na mão da prefeitura e na da secretaria de Educação do que propriamente no rito de análise e aprovação na Câmara. Isto sem falar que se tinha o o final do ano passado para se resolver este assunto de forma preventiva. Impressionante, pela primeira vez.
E por que repito esta ladainha aqui, conhecida na cidade e uma marca do governo Kleber, bem como da secretaria de Educação desde os tempos em que a secretária era a atual vereadora, Zilma Mônica Sansão Benevenuti, MDB, e da sua ex faz quase tudo, Rafaelle Vancini, MDB, que como suplente também está lá na Câmara e com os votos dos que tocam a Educação de Gaspar e a deixam exposta à danos, aparelhamento político, de costumes e desleixos?
Porque diante do bafo dos pais inconformados com a falta de berçaristas, professores e suporte, uma graduada servidora da prefeitura não teve dúvidas em apontar o culpado por isso tudo: a Câmara e os vereadores que, supostamente, não estariam desatando o nó da falta de professores, auxiliares e coordenadores, nó este que só a prefeitura na gestão de Kleber criou e a secretaria com o curioso que a toca, o jornalista Emerson Antunes, de Blumenau, em vaga política ocupada novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal Ismael dos Santos, PSD, armou no gargalo.
Está gravado a fala da servidora em aplicativo de mensagens. E espalhou-se pela cidade. Impressionante pela segunda vez.
E quando o assunto foi esclarecido e repudiado pelo vereador Alexsandro Burnier, PL, no plenário e na sessão que aprovou o PL que remediava a falha brutal da prefeitura e da secretaria de Educação, e claramente referendado pelo presidente da Casa, Ciro André Quintino, MDB, o líder do governo, dublê de servidor municipal, José Carlos de Carvalho Júnior, MDB, entrou em cena para abafar tudo. Tentou passar o pano, dizendo que, ouvindo o “áudio” da servidora e que se esparramou pela cidade, a fala dela, segundo ele, era inconclusiva sobre a imputação direta de culpa à Câmara.
E os demais vereadores da Bancada do Amém, quietinhos. E Alexsandro teve insistir e voltar ao tema. E depois sou eu o implicante. Impressionante pela terceira vez.
De verdade? Depois de errarem tanto, mais uma vez contra a cidade, cidadãos e cidadãs, Kleber e seu secretário da Educação querem sair ilesos de algo em que são os unicamente culpados, apesar de estarem cercados de técnicos para, exatamente, não lhes deixarem viúvos, como ficaram, outra uma vez.
Eles deviam se antecipar e evitar estes problemas que estavam na cara de todos. E não estão sozinhos. Neste erro crasso, também estão os puxa-sacos agarrados nas tetas da barrosa. Eles vivem de empregos, atrapalham e pior do que isso, acham certo e fácil repassar a culpa para os outros, desde que eles e os seus chefes se saiam bem na foto perante a cidade e os prejudicados pela inércia do Executivo.
Kleber e Emerson sabiam do problema. Sabiam que iriam faltar profissionais nas escolas e creches desde o ano passado. Os sinais eram evidentes. Mostrei isso aqui. E não eram os pais que me alertavam. Eram professores que não são ouvidos e com medo de represálias e vinganças, nem podem acessar a secretaria. Seus superiores classificariam isso como insubordinação ou até traição. Então…
Se Kleber e Emerson insistirem em negar e alimentar à narrativa da surpresa, além de mentirosos, negarão à própria cara marquetagem que fazem ao povo de que são “escravos do planejamento”. Planejamento, serve para isso: antecipar soluções e desconstituir problemas à vista.
Sabia-se que o número de efetivos era insuficiente. Sabia-se que não havia reserva para contratação. Sabia-se que o Concurso de ACTs era insuficiente e um novo levaria tempo. Então estava na cara que se precisa de outra solução. Mas, primeiro, foram às férias. Não fizeram o dever de casa no ano passado e não remeteram a Lei de remediação e que a enviaram às pressas neste ano.
Ah, mas a situação poderia mudar. Poderia! Qual a solução? Retirar o Projeto de Lei ou emendá-lo na tramitação, ou então, não o usa-lo, se já tivesse aprovado. Simples assim!
Entenderam como funciona o governo Kleber? Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Depois da aprovação do Projeto de Lei na terça-feira na Câmara, a secretaria de Educação, então, só na quinta-feira, dia dois de março, publicou a portaria que homologou o edital da Chamada Pública 001/2023. E lá está o tamanho do erro de cálculo e embarrigamento da solução.
A escolha de vagas se dará a partir desta segunda-feira e vai até quarta-feira ao modo do século passado. Entre os professores empregados na rede municipal, mesmo com toda esta facilitação, há uma aposta que serão preenchidos algo em torno de 50% das vagas. A conferir!
Serão 40 para coordenadores pedagógicos; nove professores de matemática; 14 para educação especial; três para professor de português; dois para ensino religioso; dois para educação física, seis para arte e música; um para teatro; cinco para educador de dança; três para educação visual; dez para os anos iniciais; um terapeuta ocupacional, bem como o nó da questão e para os quais deverão faltar professor: 35 auxiliares de professor na educação infantil e 90 na educação especial. Uau!
E por que tudo isto tem a marca do século passado? O outro lado está no atraso de seleção e contratação para quem fala tanto em planejamento, inovação e digitalização. Todos os interessados deverão ir pessoalmente até a secretaria de Educação no Centro da cidade, em dias e horários determinados pelo edital. Se não fizerem isso presencialmente, que exige servidores para atendê-los, faça chuva, calor e sol, perdem a oportunidade.
Este assunto, seria mais prático, rápido e acessível se fosse feito on-line, inclusive na apresentação de titulação, documentação e escolha de vagas e escolas? Mas, não! Em dia de calor, chuva e falta de estacionamento, gente que já estaria até empregada, terá que ir ao Centro em determinado horário, enfrentar filas para se habilitar e ter que retornar lá, enfrentando a mesma burocracia, para as eventuais complementariedades. Inacreditável.
Enquanto isso, há alunos, há um mês sem aula do básico: matemática, português ou inglês. E levará outro mês, até que a burocracia da contratação, planejamento e integração dos novos professores aconteçam. Isto sem falar nos tais auxiliares e coordenadores, que sem eles, sobrecarrega-se quem está lá na sala de aula e não pode falar nada, sob o riscos de ser mais um que não ficará na boa conta do atual poder de plantão.
Por outro lado, amanhã na mesma toada do atraso e da terceirização, vai pelo sistema de registro de preço – ganha quem der o menor preço e fornece quando requisitado, e aí se discute o reajuste, como se acontece com alguma frequência devido ao alegado aumento do custo do serviço, do produto ou a falta do especificado na licitação – o pregão presencial 17/2023. Serão por lotes e que somados ultrapassam a R$ 4 milhões.
E do que se trata? Contratação de empresa especializada na implantação de laboratórios de tecnologias. A prefeitura e a secretaria da Educação, segundo o edital, vão alugar a infraestrutura (mobiliários e equipamentos) e comprar os insumos (material didático e de consumo), bem como licença da plataforma de gestão (software) e a equipe de professores dos conteúdos, incluindo os coordenadores e monitores.
Os vereadores de Gaspar estão esticando a corda neste assunto de pegar diária toda semana para dar em Florianópolis. E de lá, transmitirem o espetáculo do nada de quem são cabos eleitorais aqui. Inversão de papéis. E os assuntos tratados, explicitados nas suas próprias redes sociais, de tão banais, simplesmente poderiam ser tratados por simples telefonemas, ou na admissão de sofisticação, numa videoconferência. Os eleitores estão ficando injuriados. E nas redes sociais. Um perigo para quem quer se reeleger.
Estas vídeo conferências, por outro lado, como são de agentes públicos e políticos, poderiam ser postadas e estarem disponíveis em suas redes sociais. Ganhariam mais pontos e votos na cidade e entre os seus eleitores e eleitoras. Como os marqueteiros dessa gente ainda não entraram nos anos 20 do século 21, patrocinam com velhas práticas, o enfraquecimento de seus clientes ou patrões.
Nota corrigida às 11h40min de 06.03 Um político ganhou uma vaga de servidor efetivo na prefeitura de Gaspar por meio de um concurso que fez há três anos e agora foi chamado. E quando pediram os documentos faltou um: a comprovação de que estava em dia com a Justiça Eleitoral, exigência para se acessar o serviço público. Corre-corre. Ele não devia nada, diretamente. É que ele foi candidato a vereador em 2022 pela coligação PSL/Patriota e ela não fez a prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral.
A coisa está complicada. E a dívida do partido que não existe mais (PSL) e outro (Patriota) em estado de desaparecimento – e que foi usado recentemente como fachada pelo vice Marcelo de Souza Brick para ser candidato na frustrada busca da vaga de deputado estadual – não é pouca. Mas, o problema ficou.
Empregão. O ex-prefeito de Blumenau e presidente do PT de Santa Catarina, Décio Neri de Lima, cava diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vaga para ser o presidente nacional do Sebrae. Ela é cobiçada (mais de R$5 bilhões no Orçamento) e tem dono com mandato de mais três anos, indicado por Jair Messias Bolsonaro, PL, Jorge Melles. Mas, Décio ao pedi-la, está testando a fidelidade dos laços que une Lula e à família Lima desde os tempos em as coisas eram um sonho de verão do tal sindicalismo de resultados.
O desconhecido senador Jorge Seift Júnior, PL, estava neste final de semana deslocado do foco de defender Santa Catarina. Estava na capital dos Estados Unidos, Washington, para ouvir, fazer claque e aplaudir o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, no discurso na CPAC – Conservative Political Action Conference, um dos principais eventos conservadores de lá. Em outro momento, o espelho e ex-presidente americano, Donald Trump, Republicano, disse que era o único de acabar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, facilmente e logo. Não disse como. E mesmo assim, foi muito aplaudido.
Casa de ferreiro o espeto é de pau. O que faz um secretário da Saúde, Francisco Hostins Júnior, MDB, ser fiscal de obras em Gaspar? Falta do que comunicar e se vangloriar na área que administra e que um dia pode lhe tirar o fôlego? Ontem, por exemplo, para não ir mais para trás, o Hospital que está sob sua jurisdição devido à marota intervenção municipal, mostrou que está sem manutenção mínima no seu prédio. Ao invés de cuidar de doentes e que lotam o Pronto Atendimento, os funcionários de lá tiveram que cuidar das goteiras da chuva forte. A foto está no final deste artigo.
Na sexta-feira passada, um mutirão limpou a abandonada obra do Parque Náutico feito para os riquinhos se esbaldarem nas águas poluídas do Rio Itajaí Açú. Este estado de abandono o blog tinha mostrado dias antes. Todos viam. Menos a secretaria de Obras e Serviços Urbanos da prefeitura de Gaspar.
Desconecta. No mesmo dia em que o criador da fictícia Capital Nacional da Moda Infantil, o presidente da Ampe de Gaspar e Ilhota, Douglas Junges, foi a prefeitura de Gaspar comunicar que estava articulando a vinda a Gaspar do secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcelo Fett, por conta de um projeto de inovação que assumiu e denominado de Conecta e ligado a Associação dos Municípios do Vale Europeu, o secretário era recebido pelo prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, Podemos, depois de passar direto por aqui.
Conecta. Lá, acompanhado do ex-prefeito e hoje deputado estadual Napoleão Bernardes, PSD, o secretário Marcelo Fett viu o prefeito Mário articulado com o Blusof, o que mudou a realidade de milhares de jovens na preparação para o novo mercado de trabalho, o fundador do Projeto “Entra 21”, bem como o gestor do Centro de Inovação e o secretário de Desenvolvimento Econômico de Blumenau. Ou seja, já há uma realidade inovadora e digital. Então por que não imitá-la ou se associar naquilo que já anda e possui resultados?
Mas, não. Gaspar quer inventar a roda ou colocar ela fora da carroça como a tal Capital Nacional da Moda Infantil. Neste assunto de inovação é preciso pressa, pois o novo é velho em segundos, sendo necessária que a inclusão e a utilidade venha antes da marquetagem. Mais do que isso. É preciso se integrar no mundo da inovação. Ele já existe e antes da gente e da cidade.
E para encerrar duas dos nossos políticos. Desta vez quem saiu antes da sessão da Câmara terminar na sessão passada, foi Franciele Daiane Back, PSDB. Antes mesmo das homenagens da Câmara e vereadores aos nossos comunitários. E na sexta-feira, com um pistão na boca, o presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, mostrou que está mesmo desafinado. E não há o que fazer para ser reconhecido como um membro da banda. Acorda, Gaspar!
3 comentários em “NÃO TEM JEITO. QUANDO O GOVERNO KLEBER ERRA, ELE ARRUMA CULPADOS. NÃO HESITA EM FURAR À PRÓPRIA BARCA COMO A DOS ALIADOS NA CÂMARA. E ELES QUIETOS”
Bom dia.
Se o HOSPITAL de Gaspar está na UTI, imagina o atendimento oferecido aos ENFERMOS que têm nele a única alternativa de socorro via SUS no município..
Nossos POLÍTICOS?
Vão muito bem, obrigada 👀😠
FUTURO DA PETROBRÁS SE PARECE CADA VEZ MAIS COM O PASSADO, editorial do jornal Valor Econômico
em norte definido, o governo improvisa perigosamente ao sabor de conflitos internos que poderiam ser resolvidos sem algazarras públicas e sem tentativas explícitas de minar a autoridade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sob a mira do PT, Haddad se desvia de soluções adequadas – supondo que as busque – em direção ao subótimo ou ao francamente ruim, como ocorreu no caso da desoneração da gasolina e do álcool. Entre a opção binária da reoneração total ou escalonada, surgiu do nada e foi aceita a péssima ideia de um imposto de exportação, raramente usado no Brasil.
Com exceção das áreas sociais – saúde, educação, Bolsa Família – onde o governo Lula tem reconhecida expertise, há animosidade e divergências que continuam produzindo muito ruído e desgaste político. Até agora, em 64 dias de gestão, o próprio presidente Lula contribui para a confusão e agita bases do PT para ações inócuas. Os ataques ao Banco Central, que pareciam ter cessado, continuam. Na linha de frente, Lula. Na quinta, Lula voltou a criticar o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “Ora, por que esse cidadão, que não foi eleito para nada, acha que tem o poder de decidir as coisas?”, indagou. “Este país não pode ser refém de um único homem”.
O assédio é esdrúxulo. Campos Neto não obteve esse poder por vontade pessoal ou golpe, mas por delegação explícita do Congresso, que votou pela autonomia do BC. Arthur Lira, presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do Senado, a quem Lula se dobra para poder governar, deixaram claro que não pretendem mais discutir um assunto encerrado. Se Lula acredita em tudo o que fala, poderia reunir sua minoria no Congresso e tentar derrubar a autonomia concedida. Como sabe que não terá sucesso, fica esperneando nervosamente à toa, agindo para a plateia enquanto os juros, já altos, sobem por isso.
Na Petrobras, o governo planeja, se é que o termo é adequado, reviravolta radical rumo a um passado caótico, marcado por corrupção em grande escala. Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Haddad e o presidente nomeado da estatal, o ex-senador petista Jean Paul Prates, mostraram mais indignação com o lucro gigantesco da Petrobras – R$ 188,3 bilhões – do que com prejuízo de R$ 34,8 bilhões que a empresa teve em 2015, na gestão de Dilma. A estatal pagou dividendos de R$ 215 bilhões no ano passado. Como principal acionista, o governo recebeu R$ 72 bilhões, ajuda essencial para que as contas públicas voltassem ao azul em 2022. Mas esse não é o ponto. A fórmula que permite distribuir dividendos muito além do mínimo de 25% definido em lei está errada.
A regra de distribuição atende ao modelo de negócios da empresa na gestão Bolsonaro: concentração exclusiva na prospecção e extração. Com isso, segundo fontes próximas à empresa, a estatal gera muito caixa, mas não tem o que fazer com ele – caso digno de estudos em patologias empresariais. A Petrobras renunciou à transição energética, ao contrário do que suas gigantes rivais estão fazendo. Explorar todo o óleo que existir, até quando ele for necessário, e fechar as portas depois – esse foi o ideal do ex-ministro Paulo Guedes, que merece ser abandonado.
Algo bem diferente é como esse modelo será modificado. Lula já disse que quer que a Petrobras faça tudo ao mesmo tempo já: financiar a indústria naval, exemplo histórico de fracassos e prejuízos, e investir em refinarias que só se pagarão quando o petróleo se tornar uma relíquia poluidora. O problema do financiamento para tudo isso está ligado aos preços, que serão menores se o governo mudar, como é certo, a fórmula de paridade com as cotações internacionais. “Abrasileirar” os preços significa reduzi-los e incentivar o uso de combustíveis fósseis, um contrassenso gritante. Um subproduto essencial dessa política será a eliminação da concorrência e a volta do monopólio da Petrobras. “Temos que ter o melhor preço para conquistar e manter o cliente”, disse Prates, desconfiando da vantagem de existir importadores. Se o preço da Petrobras for inferior ao do produto importado, será impossível concorrer com ela.
Tornou-se lugar comum dizer que a transição energética abre o caminho para uma revolução tecnológica cujo vetor essencial é a descarbonização. O que o governo deseja para sua maior empresa de energia é de um anacronismo acachapante. Há pessoas suficientemente sensatas no governo capaz de fazê-lo mudar de rumo, desde que tenham discernimento e vontade política para dissuadir o presidente da República.
A FANTÁSTICA FÁBRICA DE NEURÓTICOS, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo
Uma das características do identitarismo é o desprezo pela estética. Arte é bom, mas só se for limpinha e simpática. O que afeta nossa psiquê, já que a arte é o meio seguro para lidarmos com nossas emoções.
Na Inglaterra, os livros do escritor Roald Dahl, autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, foram editados para eliminar termos considerados ofensivos. Quais termos? “Feia” e “gordo”, por exemplo. Não apenas soa infantil, é. O identitarismo está transformando jovens adultos em crianças amedrontadas.
Não à toa, o índice de ansiedade e depressão entre os millennials está em média 30% maior do que em gerações anteriores —segundo pesquisa citada no livro “Cancelando o Cancelamento”, de Madeleine Lacsko.
Em vez de ajudarmos jovens e crianças a enfrentar microagressões cotidianas que sempre existirão, dado que o homo sapiens é uma espécie gregária e competitiva, queremos enclausurá-los em um mundo cor-de-rosa de empatia. Resultado? Adultos imaturos e sem autonomia.
A descrição de características físicas é um recurso usado na literatura para materializar personalidade e emoções dos personagens, ou para estabelecer relações com o contexto social no qual estão inseridos.
A personagem chamada “bola de sebo”, no conto homônimo de Guy de Maupassant, é uma prostituta gorda que é vista com ojeriza por um grupo de aristocratas que está fugindo da invasão prussiana. Ela salva a elite que a despreza dormindo com um comandante do exército invasor, mas continua sendo maltratada.
O escritor francês aponta, assim, a hipocrisia da sociedade e quem são, de fato, aqueles que merecem asco. Mostra, ainda, que caráter não tem ligação com o aspecto físico menosprezado em determinada cultura.
Editores de Dahl disseram que os romances foram atualizados para atender ao público atual. Corrijo os editores: os romances foram censurados para atender a uma parcela do público que ignora arte e história. No limite, estamos apenas criando leitores neuróticos no futuro.