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KLEBER NEGA TRANSPARÊNCIA. ESCOLHEU A SANGRIA DA DÚVIDA ÀS VÉSPERAS DAS ELEIÇÕES. A CIDADE INTEIRA OUVIU O ÁUDIO-VÍDEO. OS VEREADORES DA BANCADA DO AMÉM, SURDOS, AINDA NÃO!

Alterado às 10h35min de 23.03.23. No artigo de segunda-feira, o qual disponibilizei no blog no domingo à noite aos leitores e leitoras, cravei, ouvindo fontes da prefeitura e principalmente do entorno do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, de que o requerimento do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, em que ele pedia para o todo poderoso secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB (foto), ir a Câmara na tarde do dia 13 de abril, para confirmar a autenticidade e se explicar  sobre um áudio-vídeo de circulação ampla na cidade, em que ele supostamente fala de propina com poderosos daqui, ele seria rejeitado pela Bancada do Amém: onze dos 13 vereadores. 

Bingo! 

Com os votos contrários dos vereadores José Hilário Melato, Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos e André Pasqual Waltrick (suplente), todos do PP;  José Carlos de Carvalho Júnior, Norberto dos Santos, o Betinho (suplente) e Rafaele Vancini (suplente), todos do MDB, bem como Franciele Daiane Back, PSDB; e Roberto Procópio de Souza, PDT, o requerimento de Dionísio foi rejeitado por dez votos a dois.

Além de Dionísio, votou com ele e a favor do requerimento, o vereador Alexsandro Burnier, PL. Ele até se desculpou por não ter assinado o mesmo pedido de Dionísio. O presidente Ciro André Quintino, MDB, não votou. Ele só vota em caso de empate, e isto ficou bem longe de acontecer.

Quem conduziu a defesa do secretário Jorge Luiz, que também estava até pouco tempo interino na secretaria de Planejamento Territorial e é o atual presidente da Comissão Interventora do Hospital, que sofre do mal de transparência com a sociedade? Roberto Procópio de Souza, PDT, o suplente que substituiu Amauri Bornhausen, PDT, falecido no final do ano passado. Amauri tinha comportamento diametralmente oposto: brigava pelos esclarecimentos, doesse ou não, aos do governo e da Bancada do Amém.

Procópio em defesa do governo Kleber – apesar de não ser o líder do governo, tarefa que está com José Carlos de Carvalho Júnior, MDB – e do secretário exposto, disse que não sabia e não ouviu o áudio – que é líder de audiência nos aplicativos de mensagens, assim, como, insinuou, segundo ele, a maioria dos vereadores. Argumentou Procópio, ainda, a favor da reprovação do requerimento, que o requerimento não trazia o áudio, necessário para que o requerimento tivesse senso de legalidade

Mais. Antecipadamente, sem que provasse, disse que poderia ser o tal áudio-vídeo uma montagem, além de ser de fonte anônima: “nenhuma denúncia pode ser aceita ou possui validade sem que tenha um nome e um CPF”, enfatizou.

Os demais vereadores ficaram calados. Só votaram. E este assunto na Câmara quase se encerrou. Ele piorou com a intervenção de Giovano Borges, PSD, que alegava não ter recebido, mas ouvido por ai, e com o bate boca entre Dionísio e Procópio, depois de sacramentado a votação e as acusações mútuas e esclarecedoras entre ambos. O show de sensatez ficou por conta do novato Alexsandro, seguida da mudez dos demais, pois todos sabiam que o assunto era e continua cabeludo. E se faltava o video-áudio, o próprio Dionísio tratou de mostrar na sessão. E o silêncio continuou.

Entretanto, por outro lado, o resultado da votação mostra o quanto erra, esconde e por isso, desgasta-se como poucos o governo de Kleber, bem como os vereadores que o apoiam incondicionalmente, orientados por um punhado “çábios” que acha controlar o que se sabe na cidade. O que devia ser uma pá de cal em um defunto, acabou dando errado, atiçou a cidade e exalou curiosidade sobre suas vísceras.

Supondo que o advogado Procópio, que já foi o mais ferrenho adversário de Kleber e o complicou no primeiro mandato (em 2017 especialmente), onde até foi a Justiça para ver seus questionamentos respondidos e esclarecidos, até ele virar de uma hora para outro como incondicional defensor de Kleber e fazer parte do governo – estava no Procon -, tenha razão, o que se fez ontem à noite só amplia à dúvida e o desgaste governamental.

Primeiro, se a Câmara aprovasse o requerimento, cumpriria o papel dela de fiscalizar em favor da cidade, cidadãos e cidadãs para a qual está constituída e os vereadores eleitos. Mas, não preferiu esconder fatos para proteger os seus políticos de estimação. De verdade, optou por mais um desgaste. E às vésperas das eleições municipais. Desgaste este, por exemplo, que já levou à improvável derrota na reeleição do próprio Procópio, tudo decorrente da mudança radical de posição, bem como a forma como ajudou à enterrar a CPI da drenagem da Frei Solano, no Gasparinho. Lembram?

Segundo, se o requerimento de Dionísio fosse aprovado, mostraria que Kleber não teme – porque não deve – nem chantagens, ameaças ou conivências com erros no seu governo. Muito menos armadilhas de seus adversários. Mataria a cobra e mostraria o pau. Outra vez, preferiu o desgaste. E correr do esclarecimento. foi isso que aconteceu. É isso que corre na cidade.

Terceiro, o secretário e evangélico neopentecostal Jorge Luiz, teria a oportunidade de dizer – e provar – que é alvo de uma trama sórdida, de uma montagem barata e que tudo não passava de disputa de poder. Entretanto, o secretário, preferiu se esconder, escolheu o desgaste e se estabeleceu na dúvida. Ou seja, com o silêncio oficial que ganhou para este assunto e à proteção que recebeu da Câmara, o secretário Jorge Luiz Prucino Pereira validou o áudio-vídeo que circula na cidade. Este áudio-vídeo possui caráter explosivo, mesmo sendo anônimo e de suposta montagem.

No fundo, Kleber, o seu governo, o secretário embolado na gravação, bem como os vereadores perderam, inclusive a oportunidade de reverter algo que conspira contra a reputação do governo, do prefeito por extensão e do seu secretário.

Pior mesmo, é se aparecerem mais coisas não tão anônimas assim. Kleber, o secretário e os vereadores fizeram uma aposta alta. E mesmo supostamente estando com a razão, alimentaram o imaginário e os adversários. Quem mesmo orienta esta gente? Acorda, Gaspar!

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14 comentários em “KLEBER NEGA TRANSPARÊNCIA. ESCOLHEU A SANGRIA DA DÚVIDA ÀS VÉSPERAS DAS ELEIÇÕES. A CIDADE INTEIRA OUVIU O ÁUDIO-VÍDEO. OS VEREADORES DA BANCADA DO AMÉM, SURDOS, AINDA NÃO!”

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  5. Gaspar estaria nesta conta?

    MDB PREPARA ESTRATÉGIA PARA AUMENTAR NUMERO DE PREFEITURAS EM 2024, por Juliana Braga, da sucursal de Brasília do jornal Valor Econômico

    O presidente do MDB, Baleia Rossi, já começou os trabalhos para tentar superar em 2024 o número de 784 prefeituras eleitas em 2020.

    Nas últimas eleições municipais, o partido encolheu, tendo saído de 1.044 gestões conquistadas no pleito anterior, mas conseguiu manter a posição de campeã de prefeituras.

    O esforço agora é para não perder o posto para legendas como PL, PP e PSD, que cresceram nos últimos anos e tiveram os cofres robustecidos pelo fundo partidário após aumentarem as bancadas federais.

    Uma das frentes é tentar filiar chefes de Executivos municipais já em exercício, incluindo os candidatos à reeleição ou os que desejam fazer sucessor.

    A meta é chegar a outubro do ano que vem com cerca de 900 prefeitos filiados.

    Outro objetivo é apaziguar brigas nos diretórios estaduais, que têm o potencial de boicotar o próprio MDB. No último sábado (18), por exemplo, Baleia pôs fim a impasse entre os ex-deputados Raul Henry e Jarbas Vasconcelos, com a nova eleição dos dirigentes do partido em Pernambuco. Henry manteve a presidência e Vasconcelos foi eleito como primeiro vogal.

    Baleia reconhece que a força do partido ainda está nos municípios pequenos e médios, mas o objetivo é ampliar o número de cidades grandes.

    Para isso, aposta também na projeção que os ministérios comandados pela legenda podem oferecer -Cidades e Transportes são pastas com capilaridade e capacidade de entregar obras.

  6. BANCO CENTRAL PEITA GOVERNO, por Celso Ming, no jornal O Estado de S. Paulo

    Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos tomaram nesta quarta-feira decisões de grande impacto macroeconômico – e político.

    Apesar da impressionante pressão do governo Lula por uma derrubada imediata dos juros básicos (Selic), o Banco Central do Brasil manteve os 13,75% ao ano, como se esperava, decisão que pode ser interpretada como franco desafio ao governo.

    No comunicado divulgado logo após a reunião, o Copom deixou claro que um dos mais importantes fatores de risco de alta para o cenário inflacionário é a incerteza que ronda sobre o arcabouço fiscal, ainda não divulgado pelo governo. E avisou que “conduzirá a política monetária (política de juros) necessária para o cumprimento das metas”.

    O governo Lula quer juros substancialmente mais baixos para baixar o custo do crédito e acionar a retomada da atividade econômica e do emprego. Ou seja, quer que o Banco Central não maneje a política monetária apenas para conduzir a inflação para a meta, como está na lei, mas com objetivo contracíclico – para reverter a estagnação da economia.

    O Banco Central, por sua vez, apega-se a seu mandato, que é o de combater a inflação, que tem hoje entre suas principais causas a excessiva expansão das contas públicas.

    A depender do presidente Lula, as despesas correrão soltas. Para ele, gastos com saúde e educação deverão ficar fora do teto. O problema é que não são apenas despesas com saúde e educação. São também as de Bolsa Família, habitação popular, saneamento, combustíveis, emendas do relator e outras mais. Inúmeras distorções podem sair do baú e saltar para o imponderável e para a irresponsabilidade fiscal.

    Os juros não são o problema de fundo, embora o governo não pense assim. Não seria um recuo de uns pontinhos na Selic que garantiria essa retomada esperada. Tendem a se intensificar agora as pressões políticas para o mergulho dos juros a canetadas, como no tempo da “presidenta”.

    O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tinha preparado a opinião pública para uma puxada nos juros básicos (Fed funds) de pelo menos 0,5%. Mas, em apenas duas semanas, foi obrigado a desacelerar para um aumento de apenas 0,25 ponto porcentual, para tentar conter a fogueira que ameaça se espalhar sobre as finanças dos bancos regionais, insuflada pela alta dos juros. A prioridade escolhida pelo Fed foi o combate à inflação, que oscila nos Estados Unidos em torno dos 6% ao ano. E não ficou claro se essa opção foi a mais correta, num momento em que a ação dos bombeiros se torna mais importante do que a da arrumação da casa.

  7. REVER A VENDA DA ELETROBRÁS É UMA IDEIA SEM CABIMENTO, editorial do jornal O Globo

    Não tem cabimento a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmando que pretende entrar com ação na Justiça para que o Estado retome o controle da Eletrobras, privatizada no ano passado. Ela é contrária ao interesse do país por, pelo menos, dois bons motivos. Primeiro, há uma questão prática. As chances de sucesso são ínfimas. A privatização foi aprovada pelo Congresso Nacional e chancelada pelo TCU. Segundo, há uma questão de mérito. A reestatização tornaria a empresa de novo um cabide de empregos, com baixa capacidade de investimento e alta vulnerabilidade a interferências políticas. Seria, ao contrário do que diz Lula, péssimo para o Brasil.

    Lula descreve a privatização como “loucura”, mas insanidade era a Eletrobras nas mãos do Estado, em especial nas administrações do PT. Quando o governo Michel Temer deu início à preparação da empresa para ser privatizada, os funcionários somavam 26 mil. Quando o controle passou a investidores privados, caíram para 12 mil. Em fevereiro, cerca de mil foram demitidos, e há ainda 1.500 inscritos no plano de desligamento voluntário. Quando concluída, só essa redução de 2.500 na força de trabalho gerará economia de R$ 95 milhões mensais. Quem pagava a conta de todos os empregos públicos desnecessários mantidos por décadas? Nós, contribuintes.

    Nas mãos da iniciativa privada por poucos meses, a Eletrobras já retomou investimentos que andavam paralisados. Ao todo, R$ 5,6 bilhões foram aplicados em 2022, 20% a mais que na comparação com 2021. A expectativa é que esse valor cresça nos próximos anos para R$ 14 bilhões, patamar impossível de alcançar quando a empresa era estatal. Não há como o investimento público — consumido por demandas mais relevantes como educação, saúde ou combate à miséria — competir com o capital privado.

    Em 2016, o endividamento era tão alto que a Eletrobras só não corria o risco de entrar em recuperação judicial porque a União bancava as perdas. Se continuasse estatal, sua participação de mercado derreteria ao longo dos anos. Longe de leilões de energia por muito tempo, ela agora volta a competir para crescer na comercialização. Neste ano, o foco será em transmissão, segundo declarações dadas pelo presidente da empresa, Wilson Ferreira Junior. O próximo leilão está previsto para junho e oferecerá projetos em Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe.

    Mesmo defensores da privatização da Eletrobras reconhecem que ela não ocorreu sem problemas. O principal ficou conhecido como “jabuti das térmicas”. Congressistas favoreceram empresários do setor do gás e incluíram na lei a obrigação de instalar termelétricas onde não há gás nem alto consumo de energia. Foi um erro, mas não justifica rever uma privatização de sucesso. Ao levantar a questão, Lula apenas semeia insegurança no estratégico mercado de energia e cria ainda mais turbulência na gestão da economia. Ele deveria esquecer o assunto e, se for adiante, o Supremo tem o dever de zelar pela sensatez.

  8. NÃO É BEM ASSIM

    A alguns meses venho acompanhando as sessões no entanto e em especial, nesta preciso discordar do nobre redator, nos seus textos o SR. se adelonga em demasiado somente para torna lo, maior e mais extenso o Sr. não pode escrever “SHIMISHONGA” somente por gostar da palavra.
    Dói concordar com o nobre Roberto Procópio, mas ele tem razão, seria de uma leviandade investigar e expor alguém só porque alguém resolver de um aúdio aleatório expor outra pessoa numa montagem grosseira.
    O Bertoldi gosta muito de um fogo no parquinho, na sessão passada ele perdeu todo seu tem para e explanar os problemas do hospital e nessa traria as provas, até vibrei de feliz, pensei agora pega fogo que nada só repetiu as acusações e nada de prova.
    Na sessão anterior para completar sua completa falta do que fazer, parecia um promoter de MISS, Gaspar iria a falência total se a MISS não desfilasse ou subisse no palanque das autoridades.
    Assim ele também foi convidado e arrumou uma desculpa, até parecendo uma comadre invejosa, ficaria doente para não prestigiar tanto é que não teceu uma palavra, para dizer o que achou se foi bom ou não.
    Olha não ter politica, não ter representatividade eu entendo, mas agredir pessoalmente a familia dos seus pares aquilo ali se tornou um lugar de rapaz pequeno, só faltou sair, a tua mãe que é.

    1. TAMBÉM NÃO É BEM ASSIM

      1. O requerimento não era para investigar, só CPI na Câmara apura e com o voto do também vereador Roberto Procópio de Souza, enterra o que se apurou, por exemplo, na drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho

      2. Era só para dizer se o áudio era dele e se era, quem deu 150 mil reais para quem. Era muito simples: ir lá, dizer que o áudio não era dele, e se era, que foi montando, que montado, os 150 mil reais estavam fora de contexto pois se referia a investimentos públicos que foram usados etc e tal

      3. O problema, é que tudo isso pegou na cidade. E há uma chance muito grande de vir mais áudio-vídeos e mais cabeludos e que podem chegar perto de outros políticos. Este é o problema criado pelos vereadores e os “çábios” do paço municipal.

      4. Sobre o Hospital, sabe-se que ele é um ralo de muito dinheiro público. Espera-se que seja apenas incompetência. Um ralo que o PT criou.

      5. Sobre a miss, é algo a ser estudado pela ciência política. Cada coisa.

  9. De uma olhada nos exemplos de alimentos consumidos no Brasil e que basicamente, não dependem de cotação ou paridade internacional, ou que sejamos exportadores. E por quê.? Não estão sujeitos a produtividade internacional. Ou seja, derruba, mais uma vez, o palanque e a narrativa da esquerda do artraso

    CARESTIA TEM CARA: INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS, por Zeina Latif, no jornal O Globo

    A alta de preços de alimentos acumulada entre 2000-22, sob o regime de metas de inflação, foi de 447%, muito acima do aumento dos demais itens do IPCA, de 271%. Desnecessário explicar o quanto isso é particularmente perverso para as camadas populares.

    Há certa similaridade entre os ciclos de inflação de alimentos entre os países. A dinâmica de preços internacionais, notadamente de commodities (alta de 150%, em dólar, no período analisado), é uma das condicionantes da inflação doméstica, pela influência direta nos preços de muitos alimentos e por impactar custos de produção — exemplo deste último foi a explosão de preços de fertilizantes, por conta da guerra na Ucrânia.

    O que distingue o Brasil, bem como outros países não desenvolvidos, é que o diferencial entre a inflação de alimentos e a dos demais itens da cesta do consumidor é muito maior na comparação com o observado em nações ricas.

    A força da nossa agropecuária — como na boa safra esperada para 2023/24 — não garante menor inflação de alimentos, sendo que as culturas mais importantes (como soja e cana) são de produtos que proporcionam benefício modesto ao consumidor.

    É verdade que os preços de alimentos são mais voláteis que os demais. Além dos limites para ampliar tempestivamente a oferta de produtos agrícolas no curto prazo, a demanda desses bens, essenciais, pouco se ajusta a variações de preços, deixando assim de ser um freio às suas oscilações.

    Como resultado, pequenas alterações nas condições de demanda (como excessos no estímulo fiscal) ou de oferta (como quebras de safra) podem gerar fortes oscilações de preços. Como agravante, o real é muito mais volátil em comparação às demais moedas globais.

    No entanto, maior volatilidade não deveria significar inflação mais elevada. Esta última pode ser resultado da combinação entre insegurança alimentar ou consumo reprimido de grande parcela da sociedade e baixa produtividade na economia, inclusive de parcela de propriedades rurais.

    Um exemplo foi o ano de 2020, quando os estímulos governamentais produziram um visível aumento da demanda de alimentos — como refletido na alta de 4,2% na produção da indústria de alimentos, em meio ao quadro de recessão —, o que provavelmente foi um fator decisivo para a alta de 14% desses preços.

    Para piorar, itens mais populares — com maior peso na cesta — com frequência exibem altas muito mais expressivas, inclusive comparativamente a produtos da mesma categoria.

    Vale citar exemplos: feijão-carioca (561%), farinha de mandioca (773%), batata-inglesa (963%), tomate (987%), cebola (1.748%), alface (741%), banana-prata (719%), mamão (1.176%), costela bovina (810%), sal (883%) e óleo de soja (634%).

    Essa pode ser uma indicação de que condições de demanda têm importante peso na dinâmica de preços. Além disso, sugere o fracasso da política de isenção da cesta básica, que, para piorar, é injusta socialmente, ao não focalizar nos mais pobres.

    Já a baixa produtividade cobra seu preço particularmente para produtos que não podem ser comercializados no exterior, devido ao custo de transporte proibitivo de itens mais perecíveis — como tubérculos, legumes, verduras e hortaliças.

    A rentabilidade costuma ser menor, assim como o estímulo a buscar ganhos de produtividade. Ainda que o peso na cesta seja pequeno, esse grupo registrou inflação acumulada acima de 700% no período analisado.

    Muitas vezes, a produção agrícola ocorre em propriedades com escala de produção inadequada, muito pequena, o que dificulta o acesso a insumos de maior qualidade e tecnologia mais moderna, e compromete a resiliência a choques.

    Há ainda fragilidades associadas ao baixo capital humano e ao manejo inadequado em todo o ciclo produtivo, desde a preparação do solo.

    Nesses tempos em que se discute caminhos para facilitar o trabalho dos bancos centrais no controle da inflação, é necessário buscar formas eficientes para conter a alta nos alimentos.

    O alicerce é o ambiente macroeconômico estável, com menor volatilidade cambial e evitando estímulos artificiais ao consumo.

    Sem dúvida, cabe maior atenção à produtividade no campo, problema que não se resolve simplesmente ampliando o crédito ao setor.

    Precisamos resgatar o “espírito Embrapa”, com pesquisa, desenvolvimento e implementação de técnicas modernas e adequadas na produção agropecuária, e de forma disseminada.

  10. SOL NASCENTE, A FAVELA-SÍMBOLO, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    Os dados preliminares do Censo de 2022 indicam que a Rocinha, do Rio de Janeiro, perderá o título de “maior favela do Brasil” para a comunidade de Sol Nascente, de Brasília. A Rocinha tem cerca de 31 mil habitantes, e a Sol Nascente tem 32 mil. Chamá-la de favela é uma impropriedade. Como milhares de outras, é uma comunidade mal servida. Ainda assim, esta é uma das piores notícias dos últimos tempos.

    O fato em si parece natural, Brasília cresce e, com ela, a Sol Nascente. A comunidade fica a 35 km do Palácio da Alvorada, onde vive o presidente Lula, um migrante nordestino que chegou a São Paulo em 1952. Ele tinha 14 anos quando o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou Brasília, a meta-síntese de seu programa que daria ao Brasil 50 anos em cinco. O garoto havia acabado de ganhar seu primeiro salário como aprendiz de torneiro no Senai. Lula encarna a ponta do sonho que deu certo. A comunidade de Sol Nascente ilustra o que deu errado.

    Brasília seria uma cidade de sonhos. Planejada por um arquiteto liberal (Lúcio Costa) e outro comunista (Oscar Niemeyer), seria igualitária, funcional e moderna. Nada a ver com as grandes cidades do país, muito menos com o Rio e suas favelas. Nessa época a Rocinha devia ter uns 10 mil habitantes.

    JK levava visitantes ilustres para conhecer sua cidade. No dia 21 de abril de 1960, quando a inaugurou, os dignitários vestiam casacas. Não passava pela cabeça de ninguém que Brasília viesse a ter favelas, mas também não passava pela cabeça dos sábios da ocasião onde viveriam os candangos que construíram aquela maravilha ou os migrantes que ela atrairia. Falava-se em “cidades-satélites”. Inicialmente tentou-se absorver o fluxo migratório em cidades como Taguatinga, Sobradinho e Gama. Passou o tempo, e os planos foram atropelados.

    Brasília é protegida por uma legislação que exige autorização de repartições para colocar um corrimão numa escada do Itamaraty. Essa parte do Brasil legal continua de pé. Enquanto isso, no Brasil real, dezenas de milhares de pessoas vivem a alguns quilômetros dali em áreas sem a infraestrutura adequada.

    Daqui a pouco Brasília completará 63 anos. Em 1960, o Plano Piloto abrigava metade da população da cidade, hoje só abriga 13% dos moradores. A cidade igualitária tornou-se a mais desigual entre as capitais brasileiras, e a comunidade de Sol Nascente tornou-se uma síntese. JK pensava numa síntese do progresso, mas o tempo produziu uma síntese do atraso fantasiado de moderno.

    Em todas as grandes cidades brasileiras, as favelas refletem uma ocupação desordenada dos espaços urbanos. Em Brasília planejou-se tudo, menos um lugar para o pessoal do andar de baixo. Jornalistas que topavam ir para a nova capital habilitavam-se a receber terrenos no lago.

    É fácil atribuir os defeitos de Brasília à onipotência planejadora do Estado, mas a comunidade de Sol Nascente é a síntese de um Estado fracassado. Lá, não foi o planejamento que fracassou, foi o fracasso social que prevaleceu.

    Numa trapaça do tempo, a região administrativa de Sol Nascente também é chamada de Pôr do Sol.

    O palácio de JK poderia também ser chamado de Palácio do Poente. A alvorada com que ele sonhou se foi.

  11. FANTASMAS DOS CEM DIAS ASSOMBRA LULA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece assombrado pela contagem regressiva para que seu terceiro governo alcance a simbólica marca dos cem dias. Trata-se, é claro, de uma efeméride boba. Pouco mais de três meses não são suficientes para ditar o sucesso ou fracasso de uma gestão de quatro anos, mas os próprios governantes alimentam essa cobrança ao preparar planos e balanços como se vivessem sob o rigor das 12 badaladas do conto da Cinderela e fossem virar abóbora depois de 10 de abril.

    Com Lula não é diferente. Pelo contrário. A conjunção de economia que anda de lado, país dividido politicamente, popularidade que não chega nem perto da que ele já ostentou nos tempos áureos pré-2010 e governabilidade ainda não garantida está pressionando o chefe do Executivo para além do padrão quando se aproxima essa primeira linha divisória dos mandatos.

    O adiamento da apresentação do tal marco fiscal tem a ver com esse fantasma. Lula não quer errar. Por isso submeteu a proposta de Fernando Haddad a um longo e confuso test drive. Não só não a chancelou de primeira, como recomendou ao ministro rodar mais um pouco — apresentá-la ao Congresso, à Junta Orçamentária, quiçá à gigantesca comitiva que vai à China — para amaciá-la antes que se transforme em Projeto de Lei Complementar.

    Até lá, o presidente parece esperar que Haddad seja convencido pelas visões de que a economia brasileira precisa de estímulos, de que as taxas de juros nos condenam à morte, de que a política monetária é pornográfica, essas hipérboles ditas com ainda mais ênfase nesta semana em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central definirá o futuro da taxa Selic. Como se os diretores do BC se impressionassem com adjetivos.

    Mas não é só na intrincada e urgente definição dos rumos da política fiscal que o espectro dos cem dias tira o sono do presidente. Lula foi eleito prometendo a volta a um passado idílico que, na sua fantasia, corresponde a seus dois mandatos anteriores. As pessoas comiam picanha, a austeridade fiscal saía na urina, estádios de futebol brotavam do chão como mato, todos eram felizes.

    Mas essa fábula não descreve a realidade em toda a sua complexidade, o mundo mudou muitas vezes desde então, e o presidente — que enfrentou um calvário pessoal pesadíssimo nesse interregno entre a descida e a nova subida da rampa, de que dá mostras de não ter se dissociado totalmente, como na entrevista de ontem — não se deu conta de quanto.

    Retomar grandes obras de infraestrutura não esbarra só nas restrições orçamentárias, mas em questões como a mudança necessária de matriz energética e a nova centralidade da questão ambiental nas decisões de investimento, pautas com que Lula se comprometeu retoricamente na campanha, mas que são estranhas a seu repertório de como se governa e de como o crescimento é induzido pelo Estado.

    Em seu terceiro governo, certamente Lula teria mais dificuldade de arbitrar em favor da construção das hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, cuja pertinência continua defendendo, mas que são cada vez mais contestadas pelo impacto nas populações afetadas.

    Esses novos protagonistas foram levados por ele para dentro do governo, assim como os expoentes da tal “frente ampla” com que se comprometeu para obter uma dificílima vitória contra Jair Bolsonaro. Serão forças a atuar contra a ideia de que Lula 3 será uma repetição malpassada e com gordura de Lulas 1 e 2.

    Diante do choque entre as promessas eloquentes e as dificuldades legadas pelo pesadelo bolsonarista e um mundo em mutação, a viagem à China, com um séquito digno dos velhos tempos de glória, parece ser o escape ideal para formular melhor o que apresentará ao país quando os temidos cem dias chegarem.

    1. Kleber Luiz do Espírito Santo Carvalho

      Senhores (as),

      É sempre na forma da lei. UNDF é verdade.

      Felicidades.

      Kleber Luiz do Espírito Santo Carvalho

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