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“HAJA ESTÔMAGO” É O MELHOR RESUMO E DISCURSO PRODUZIDO PELA EX-PRESIDENTE DA CÂMARA DE GASPAR DO ELA QUE FEZ

Franciele Daiane Back, PSDB, eleita a mais jovem vereadora daqui em 2016 e reeleita com a maior votação em 2020, com 1.568 votos, a maior parte do Distrito do Belchior, foi às redes sociais dela – até porque a imprensa daqui não vai dar bola para este tipo de lamúria, afinal depende das verbas públicas. Desabafou. Foi sobre o tempo em que exerceu a presidência da Casa no ano passado: “Haja estômago”.

Ou seja, ela lavou a minha alma também e mais uma vez. Era previsto. Quem é leitor e leitora deste espaço sabe, que há anos escrevo e repito que ser político está relacionado a sua capacidade de ter estômago para suportar todo tipo de alimentação estragada. Por isso, nunca fui um deles, mas aprendi com eles.

Realmente, estômago neste sentido figurado da política, estava claro desde o início, não seria o melhor órgão da vereadora, uma jornalista de formação e sim o fígado, o fel… Para começo de conversa, ela sempre foi intolerante às críticas, seja nos veículos ou nas redes sociais. E naquela que é a sua virtude, a obstinação, mostrou-se imperial e nenhum aprendizado, amadurecimento. Ou seja, no fundo, não preparou devidamente com antiácidos o seu estômago.

No final de 2016, quando se escolhia a presidência da Câmara para o ano seguinte, Franciele foi protagonista de uma das cenas mais patéticas da história da Câmara. Perdeu a corrida para a presidência da Câmara diante do padrinho, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e de cara provocou uma ruptura da maioria da base do governo. Deixou o governo em minoria em fatos essenciais e paralelamente, aumentou o cacife do líder da oposição de então, Roberto Procópio de Souza, para ele negociar o seu alinhamento ao governo de Kleber.

Naquela eleição, Franciele perdeu literalmente o discurso juvenil que tinha preparado com dias de antecedência. Substituiu o que estava escrito pelo improviso. Lágrimas e compaixão de um lado. Alegria silenciosa incontida de outro. Franciele culpou todos e de tudo, menos à sua ingenuidade, ou à falta de articulação dela e dos padrinhos para se garantir na eleição que tanto queria. Afinal, ela era uma intrusa na fila, no ambiente que não admite isso e nem arrogância.

E a votação secreta não a perdoou a comemoração antecipada de um jogo em que ela não era a carta da vez do baralho: o médico Silvio Cleffi, PSC, na época e hoje, abandonado no PP como primeiro suplente, irmão de templo e da base de Kleber foi o escolhido como troco a Kleber e a mais jovem vereadora. Silvio, outro neófito, usado, foi outro que foi jogado ao inferno e serviu de bucha de canhão pelos que verdadeiramente armaram o troco a Kleber. E eles estão de volta ao comando da Câmara.

Reeleita, Franciele voltou à cobrança do governo Kleber: queria ser presidente da Câmara. Entrou no acordo e que se quebrou agora para que Ciro André Quintino, MDB, voltasse ao poder e as pernas do governo não fossem trincadas outra vez. O voto aberto favoreceu claramente a eleição de Franciele em 2021 para ser presidente em 2022. Se fosse secreto, teria perdido de novo apontam em “off” os seus próprios pares. E qual a conclusão dela de próprio punho na sua rede social?

Com o passar dos meses de 2022 entendi de verdade o que era ser presidente de um Poder e, honestamente, não combina em nada comigo e também não é aquilo que você vê na televisão, ouve nos rádios ou lê nos jornais. Haja estômago!. Foram doze meses ouvindo as mesmas coisas. Escutava o tempo todo que ‘presidente tinha que trabalhar para vereador’, que ‘tinha que por isso pra votar’ que ‘você devia fazer assim’ e tantas outras ladainhas. Tive que fingir ser surda, né? Passar de doida muitas vezes para aturar a falta de educação e noção de alguns ‘colegas’“.

Aí eu pergunto? Alguma coisa fora do previsível e daquilo que sempre escrevi aqui sobre a Câmara e os vereadores de Gaspar? Franciele quando eleita presidente da Câmara de Gaspar já não era tão jovem e não tão neófita assim. Já tinha derrubado a ex-vereadora e candidata a prefeita, Andreia Simone Zimmermann Nagel para nunca mais ser sua concorrente, tomado o diretório do PSDB para si, conseguido a reurbanização da Bonifácio Haendchen para ser o mote da sua campanha no Distrito e tido a experiência da derrota na busca fácil da presidência da Casa.

E ainda diz que lhe faltou estômago? Ou finalmente arrumou algo para aparecer pois como presidente da Câmara, ficou sumidinha.

O que de verdade aconteceu? Franciele queria ser vereadora. E conseguiu. Como? Sendo assessora do vereador, Jaime Kirstner, MDB, do Belchior. Ele nunca mais conseguiu votos para continuar. Queria ser presidente da Casa. Conseguiu, não exatamente no tempo que açodadamente previu. Mas, falhou naquilo que é essencial: a liderança. Franciele é impositiva, vingativa, não negocia e principalmente, falha na comunicação, que deveria ser sua especialidade devido ao conhecimento acadêmico. Ou seja, realmente Franciele não teve estômago não para “dirigir” a Câmara. muito mais do que isso, não teve habilidade, ou seja, o tal estômago, para ser de verdade, uma política. Sempre quis tudo do seu jeito… E não dei e não dará certo. Resta choramingar.

Tentou se diferenciar, todavia foi uma militante e até segregou. E é a própria ex-presidente quem dá as tintas e o tamanho da mágoa, se não for isto um claro recado de chantagem aos pares e aos que estão na prefeitura, da qual, supostamente, é um deles.

Nossos amigos teriam orgulho da gente se contarmos tudo o que negamos, ouvimos e defendemos lá dentro que não vieram parar nas redes sociais e ficariam surpresos com tantos falsos profetas que a câmara abriga. Da pra contar agora? Nem tudo, né? Mas de pouco em pouco a gente vai conhecendo se quem caminha do nosso lado realmente está junto por lealdade ou interesse“.

Encerrando. Na prestação de contas, a ex-presidente diz que há coisa podre na Câmara. Entretanto, ao mesmo tempo, quando admite se silenciar no tempo da sua conveniência, que ela se declara conivente com aquilo que esconde, não concorda e supostamente é errado, ao menos na visão dela. Gaspar e os gasparenses deveriam saber disso para fazerem escolhas melhores ou mais conscientes. Separar o joio do trigo. Ganharia não só Gaspar e a sociedade, mas os políticos que se dizem acima de qualquer suspeita.

E por fim, quem são estes “falsos profetas”? O que isto significa mesmo, senão à base evangélica do governo Kleber? Ou Franciele está dizendo que não fará mais parte da Bancada do Amém ou está dando recados para as contrapartidas para o silêncio, a conivência e que fará da Câmara um lugar para se ter “estômago”? Acorda, Gaspar!

Nota necessária e interessante. O ex-presidente da Câmara, Marcelo de Souza Brick, Patriota, teve a mesma queixa, mas de forma mais discreta. Ele registrou que o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, diante de receios de Marcelo sobre criar mais penduricalhos na Câmara para os vereadores, registrou: “você é aqui presidente para trabalhar pelos vereadores”. Ou seja, a cidade inteira sabia deste princípio há anos. Impossível que Franciele, não.

TRAPICHE

Jair Messias Bolsonaro, PL, foi embora, e não passou a faixa, não prestou contas sobre o que se supõe serem suas realizações, e ainda viu o vice, General Hamilton Mourão, eleito senador pelo Republicanos Rio Grande do Sul, discursar ao povo pela TV e culpá-lo pela desesperança aos bolsonaristas e insegurança que levou as Forças Armadas.

Luiz Inácio Lula da Silva, PT, por sua vez, mostrou claramente que usou uma suposta “frente ampla” para chegar ao poder, e que isso poderá ser apenas uma armadilha para o pior da esquerda do atraso ser o verdadeiro governo. Isto acendeu o sinal de alerta. E o Congresso, se não comprado, como está nesta suposta frente ampla, será o necessário contraponto para equilibrar esta sanha de retrocesso e vingança.

O ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, ficou e esteve presente em todos os atos de passagem. Tinha um discurso debaixo do braço. Não deram oportunidade para ele abrir a boca. Coisas do protocolo e do medo da turma de Jorginho Mello, PL, de ouvir que se entregava um Estado enxuto para o sucessor, que pelos cálculos de muitos, vai piorar muito.

E se o discurso é aquele que se espalhou pelas redes sociais, é fraco diante do que Carlos Moisés ufana. Fez bem em não falar. Ao menos não foi vaiado pelos bolsonaristas que o tratam como traidor.

No último dia do ano, sim teve texto, escrevi: O MDB está no governo de Lula e o MDB de Gaspar se acha representado. O prefeito Kleber, evangélico, correu para as redes sociais dizendo que ele é MDB – por enquanto -, mas não é Lula. Hum! É porque antevê desastres, mas se der certo, será Lula de carteirinha. É sempre assim. Um olho no Brasil, outro em Gaspar e os empregos públicos depois de 2024.

O PSD do novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal eleito, o evangélico Ismael dos Santos, é Lula. O deputado ainda está em silêncio. Em Brasília, o buraco é mais embaixo. Mudar de partido não pode. E Gilberto Kassab é o mandatário. Nada como um dia após o outro. E eu de alma lavada até no último dia do ano.

O que está estranho? O reforço de Kleber nas suas redes sociais contra o governo de Lula. Não discuto um tiro que ele dá, até porque estou escrevendo a mesma coisa: é um governo que ruma para o atraso, usando os pobres e comprometendo o futuro de todos por um projeto socialista que não deu certo no passado e não arruma a vida de ninguém em nenhum lugar do mundo.

O que é estranho é na outra ponta, como algo essencial aos brasileiros, é ele defender como quase única conquista de Jair Messias Bolsonaro, PL, a liberação das armas aos civis. Kleber é um evangélico e ele próprio confessa não ter armas. A “arma” do evangélico, do cristão é a Bíblia, o convencimento pela palavra.

O que parece estar claro nesta insistência de Kleber no dia 31 de dezembro e primeiro de janeiro? Duas coisas. A primeira é uma desculpa esfarrapada para sair do MDB onde ele nunca foi um deles de verdade, mas usou a sigla em um momento de referência para a busca de votos fáceis, bem como na armação dos que já estão ou vão ficar órfãos. Kleber sairia do MDB mesmo se Lula não fosse eleito e o MDB esperto, não se grudasse mais uma vez nele.

A segunda, é uma esperteza, a mesma que o fez ir convenientemente para o MDB e nele fazer juras: Kleber está ocupando o espaço dos conservadores, fazendo trancas, criando rótulos e se alinhando aos bolsonaristas. Ele está apostando num suposto e até agora previsível ruim chamado governo Lula. Kleber pode sair e até mudar de partido. Não perde o mandato. Por outro lado, o novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Ismael dos Santos, terá que ficar no PSD e votar com a bancada na Câmara nas propostas do atraso de Lula. Acorda, Gaspar!

O risco e o riscado. Final de ano. Dia de compras agitadas nos supermercados. Dois conselheiros tutelares de Gaspar usando o carro para suas tarefas emergenciais. E logo quem vive denunciando distorções como estas. Ai, ai, ai

E quando se está de plantão. O motorista não pode buscar o conselheiro em casa para o atendimento de uma eventual necessidade. Haja estômago.

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11 comentários em ““HAJA ESTÔMAGO” É O MELHOR RESUMO E DISCURSO PRODUZIDO PELA EX-PRESIDENTE DA CÂMARA DE GASPAR DO ELA QUE FEZ”

  1. E o que será feito referente aos dois conselheiros encontrados em horário de plantão fazendo atividades pessoais? Os mesmo que pactuaram entre si de acionar o motorista plantonista para o mesmo receber seu honorário 100%? Até quando à população vai ser coagida por um órgão que se intitula não partidário, mas todos tem o rabinho preso com alguém ligado com altos cargos na prefeitura? Até quando será tolerado uma advogada que exerce a função trabalhar para o conselho? É justo uma população carente de informações passar por todo esse processo e ser submetida a sempre ter os três mesmos candidatos ao cargo? Até quando o conselho municipal dos direitos da criança e adolescente irá fechar os olhos por amizade?

      1. E agora esperar saber se nosso querido prefeito ou alguém capaz entrará com um processo administrativo contra ambos, no qual já até imagino que nada será feito, como tudo que acontece dentro desse órgão. Será que alguém seria capaz de julgar? Será que essa denúncia realmente será realizada? Aguardando próximos episódios e também um posicionamento de um órgão responsável por esses que julgam ser conselheiros e imbatíveis

        1. É o que dá aparelhar, usando como um puxadinho do aparelho do poder de plantão. As eleições, foi qual uma campanha política partidária. Só poderia enfraquecer a autonomia da instituição com o nobre propósito de não incomodar os gestores públicos. Sabia-se o que fazia. Sabia que daria errado. E está dando.

  2. O QUE SE PODE DIZER DO NOVO GOVERNO LULA? por Joel Pinheiro da Fonseca, no jornal Folha de S. Paulo

    Um governo solidamente petista e que prioriza a governabilidade, com espaço reduzido para a frente ampla. Isso não é uma crítica, é uma descrição do que vemos. Ele se parece muito mais com um governo do PT do que com um governo de união das forças democráticas e da sociedade civil.

    Para a maioria das áreas, é um progresso inegável. Camilo Santana, Nísia Trindade e Marina Silva são um respiro de ar puro depois da terra arrasada que o governo Bolsonaro deixou em suas pastas. Um país que prioriza o ensino básico, que retoma a vacinação universal —perigosamente negligenciada nos últimos anos— e que protege seus biomas. Se forem bem-sucedidos, deixarão um legado importante.

    Com número significativo de ministros do PSD, MDB, PSB, PDT e União Brasil, podemos dizer a que a política voltou a Brasília pela porta da frente. No início de seu governo, Bolsonaro se colocara frontalmente contra a negociação de cargos. Compor com partidos no Congresso era, por si só, algo similar à corrupção. Quem governaria seria o “povo na rua” exigindo as bandeiras anunciadas pelo capitão. Foi um fracasso total, e o Congresso apenas se fortaleceu. Quando mudou de postura, Bolsonaro entregou cargos e orçamento ao centrão da forma menos transparente possível.

    Outra marca do governo Bolsonaro que, felizmente, não vemos: cargos dados a ideólogos e falastrões sem qualquer competência para suas pastas. Não há nada próximo de Ernesto Araújo, Weintraub, Milton Ribeiro, Onyx Lorenzoni, Osmar Terra, Damares. Ao longo do governo Lula, imagino que haverá muito o que discutir sobre, digamos, a política educacional do MEC, mas será uma discussão sobre políticas públicas, não sobre se as universidades traficam drogas ou se gays atentam contra a família. A política voltou e saiu do hospício.

    A “frente ampla” ficou mais estreita e está representada em Simone Tebet, Marina Silva e Geraldo Alckmin. É pouco, e muito se espera deles, especialmente Tebet e Alckmin. É da economia, afinal, que podem vir os maiores desastres da nova gestão.

    Empresas estatais e bancos públicos inspiram mais preocupação. Já era esperado que não veríamos privatizações. Mas, dentro de um horizonte de gestão estatal, há toda uma gama de possibilidades: desde uma gestão eficiente e que busca seguir os sinais do mercado a uma gestão politizada que submete as empresas a uma agenda de curto prazo. Petrobras baixando o preço dos combustíveis para agradar consumidores e segurar a inflação e bancos públicos emprestando a juros baratos e sem critério para estimular a economia são receita para a volta da crise.

    Verdade seja dita: até agora, as entrevistas e falas de Haddad têm ido na direção certa: equilíbrio fiscal, parcerias público-privadas, reforma tributária. Aliás, há nomes do PT e de partidos próximos que representam essa esquerda moderna, que sabe ser pragmática e moderada. Rui Costa e Flávio Dino estão nessa lista também.

    Só não se sabe até que ponto essas falas realmente determinarão o rumo do governo. Haddad queria encerrar a isenção fiscal da gasolina já no início do mandato, medida impopular mas que já mostrava compromisso com as contas públicas. Lula decidiu estendê-la por pelo menos mais dois meses.

    A economia é uma pasta importante, não a única. Não tenho dúvidas de que estaremos melhor na Saúde, na Educação, no Meio Ambiente, nas relações internacionais. Mas, se não se evitar os piores erros na economia, ela pode puxar todas as outras para o buraco.

  3. FOI BONITA A FESTA, MAS… por Eliane Cantanhêde, no jornal Folha de S. Paulo

    Passada a festa, com o presidente Lula empossado, o ex-presidente Bolsonaro curtindo Orlando e os golpistas de volta para casa, o governo começa já com forte queda do mercado ontem. Não é um grito a ser desprezado, porque não é exclusivo do mercado, vilão para todos os gostos.

    Já na posse, Lula sinalizou que o velho Lula e o velho PT estão de volta, com seu amor pelo Estado lento e obeso e a crendice de que é assim que se produz desenvolvimento, bem-estar e igualdade. Há controvérsias. Não apenas o mercado, mas também o setor produtivo, economistas, jornalistas da área econômica e especialistas de diferentes áreas discordam.

    Em discursos, Lula fez o esperado apelo à alma nacional contra fome e desigualdade. Assim como a defesa da responsabilidade fiscal não é exclusividade do mercado, a defesa dos miseráveis e da diversidade e dos milhões de famílias na rua da amargura, sem emprego, casa e comida, não é exclusividade de Lula. Mas ninguém com mais autoridade do que ele para verbalizá-la.

    O complicado é equilibrar o justo combate à injustiça social e o correto equilíbrio das contas públicas. É bem mais fácil falar da miséria com compaixão do que convencer que quem paga o pato de promessas e gastos a rodo são os miseráveis. Um dilema ainda mais velho que Lula e o PT é o conflito nos governos entre o que é popular (político/populista) e o que é preciso (pragmático/técnico).

    Ao assumir, ontem, Haddad fez um discurso morno, cuidadoso, avisando que não seria “um posto Ipiranga” e teria “vários postos”. Veio à mente o seu antecessor, Paulo Guedes, que começou como superministro e perdeu, uma a uma, as grandes guerras com Centrão, generais e filhos de Bolsonaro.

    Em 2018, Guedes foi conveniente para dar falsos ares de liberalismo e abertura econômica a um capitão insubordinado, corporativista e nacionalista a la anos 1950. Já Haddad pensa igual e joga o mesmo jogo de Lula. Em comum nas duas duplas é que Haddad, como Guedes, está pronto para engolir sapos. Aliás, começou já no dia da posse, desautorizado na desoneração dos combustíveis.

    Haddad não faz questão de fingir que veio para fazer tudo que seu mestre mandar. O quê? O que está nos discursos de posse, quando Lula acusou o teto de gastos de “estupidez”, não falou em nova âncora fiscal, mirou a reforma trabalhista e já atirou nas privatizações. “Revogaço” na política de armas e na segurança, saúde, educação, ambiente, cultura, política externa… é saudável, um alívio. Mas na economia, sem consenso, em medidas desde Michel Temer? Como na canção, “foi bonita a festa, pá, mas é preciso navegar, navegar…”

  4. Miguel José Teixeira

    Diante do acima exposto, podemos afirmar 2023 promete!
    Se vivo fosse, o saudoso Horácio Braun já estaria iniciando os preparativos para o reveillón em 30 de julho, como o fêz em 1988.
    Oremos!

    1. Eu anteciparia para antes da Páscoa. A não ser que tomem tento, a tempo.

      Todos estão fartos de ambiguidades, ameaças e vinganças de quem já falou quando governo

      A economia aberta e de mercado, sustenta qualquer governo numa democracia. Ela só pode ser relativizada num governo autoritário e ideológico, que toma o estado para se satisfazer individualmente.

      A eleição de Lula é um recado a quem estava no poder, não exatamente um cheque em branco à esquerda do atraso, aos oportunistas de sempre do centrão e ao PT

      Ele também, ao seu modo vivia de ambiguidades, ameaças e vinganças. Era uma encrenca a todo minuto para sustentar a bolha e os radicais. Deu no que deu.

      Pelos discursos e ações até agora, Lula, o PT e a esquerda do atraso não entenderam o que aconteceu com Dilma Vana Rousseff, PT, muito menos com Jair Messias Bolsonaro, PL.

  5. DISCURSO ALINHADO ÀS “LINHAS GERAIS” DO PETISMO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Não há nada surpreendente no primeiro discurso do presidente Lula. Está perfeitamente em linha quanto à tática política, que é a de se apresentar como salvador. E alinhado ao que se pode chamar de “ideias gerais” do petismo. Lula diz assumir um país destruído por regime autoritário que dilapidou o patrimônio público, tem responsabilidade por genocídio na pandemia, foi criminoso, negacionista e obscurantista. Lula inicia o mandato, disse, “frente a adversários inspirados no fascismo”.

    O extremo lógico desse raciocínio abre caminho para dizer que a enorme oposição ao PT e a Lula – cujo espectro é imensamente mais amplo do que o bolsonarismo – é oposição a quem pretende “reconstruir em bases sólidas a democracia”. É arriscado como tática política num país profundamente dividido.

    Assim como é arriscada a afirmação de que o teto de gastos é uma “estupidez” que será revogada. Da mesma maneira, o extremo lógico desse raciocínio abre caminho para caracterizar como “estupidez” a limitação do crescimento de gastos públicos. Está implícita neste trecho do discurso a falsa dicotomia entre política fiscal e social.

    O que Lula postulou em termos gerais sobre o que pretende fazer na economia faz parte de seu discurso padrão de quase meio século de vida pública. É a ideia de que o principal motor do crescimento é o consumo popular, e que os grandes indutores de investimento são os bancos públicos e estatais.

    Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo e aeronaves, afirmou Lula. “Caberá ao Estado trazer a indústria brasileira para o século 21 , prosseguiu, “com uma política industrial que (…) garanta acesso a financiamentos a custos adequados”.

    Lula disse ter compreendido que deveria ser o candidato “por uma frente mais ampla” do que o campo político no qual se formou. Foi a única referência à proposta de conduzir um consenso entre forças políticas diversas que convergiram na necessidade de derrotar o bolsonarismo – embora Lula tivesse logo dito que deve sua vitória “à consciência política” da sociedade e “à frente democrática”.

    O discurso não faz menção ao tipo de oposição de amplo espectro que o coloca na posição de ser o presidente eleito que já assume com um grande índice de rejeição. Mas seus primeiros passos e medidas, sim. Segura mais um pouco aí essa desoneração dos impostos sobre combustíveis. Presidente assumindo e já tem gasolina mais cara?

  6. JÁ VISTE QUE UM MITO TEU FUGIU À LUTA, por Felipe Moura Brasil, no jornal O Estado de S. Paulo

    O melhor discurso da transição não foi de Jair Bolsonaro, nem de Lula. Foi de “paulop1983” no Tik Tok.

    No sábado, 31, um dia após a viagem de Bolsonaro para Miami e horas antes do discurso de Hamilton Mourão como presidente em exercício, ele disse em vídeo:

    “Acabou, gente. O que nós, bolsonaristas, vamos precisar, a partir de segunda-feira (2/1/23), é procurar um psiquiatra. Porque nós ficamos doentes por causa dessa desgraça desse Bolsonaro. É um desgraçado, covarde, que fugiu. Agora, está todo mundo com essa doença aí, ó.

    Quem quiser ganhar dinheiro, abre uma clínica de psiquiatria. Vai ficar rico, de tanto bolsonarista que vai ter de procurar um psiquiatra. Porque ficou todo mundo doente, não pensa mais, só ‘Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro’.”

    O discurso de Mourão, o segundo melhor, não ficou longe dessa linha. Antes tarde do que nunca, o general e senador eleito fechou 2022 como o adulto na sala evacuada pelo fujão:

    “Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram que o silêncio, ou o protagonismo inoportuno e deletério, criasse um clima de caos e de desagregação social; e de forma irresponsável, deixaram que as Forças Armadas, de todos os brasileiros, pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe. A alternância do poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada.”

    “Paulop1983” não gostou, mas reagiu ainda mais contra bolsonaristas que acusaram, ele próprio, de “esquerdista infiltrado para ganhar like”.

    “É fácil vocês falarem que são patriotas: na porta do quartel, tem churrasco, uísque, água mineral, internet… Por que ninguém chamou todo mundo para fazer uma greve de fome? (…) Vocês é que ficam fazendo churrasco e vídeo para ganhar engajamento em rede social. Isso é ser patriota? (…) Eu era doente, não sou mais. E vocês continuam doentes.”

    “Bolsonaro numa mansão do lutador José Aldo, passeando no condomínio em Orlando, e o povo aqui na porta de quartel. Se ele não está nem aí, o que o povo pode fazer? (…) Bolsonaro está de férias até 30 de janeiro. Ele lavou as mãos.”

    “Pelos ministros que o Lula colocou, vai ser um péssimo governo. O que a gente tem de fazer é protestar, falar, gritar, mas não tem mais nada, não. (…) É ignorância, é idiotice achar que Bolsonaro vai fazer alguma coisa. Entendeu? Se você não entendeu, é porque você não quer entender, aí já é problema seu.”

    “Paulop1983” está certo. Mal saiu da bolha e já faz uma oposição melhor do que o bolsonarismo raiz.

  7. MENTIRA, POBREZA E ORÇAMENTO, por Irapuã Santana, no jornal O Globo

    Dois governos, de espectros políticos distintos, mentiram para nós no ano de 2022.

    Em julho, o Congresso aprovou uma PEC para ter uma injeção no Orçamento de R$ 41 bilhões, com a justificativa de combater a fome no Brasil. Seis meses depois, há um novo furo no teto de gastos de mais R$ 145 bilhões, sob o argumento de socorrer os mais vulneráveis.

    Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), o aumento do Bolsa Família elevaria o custo em R$ 51,8 bilhões. Ora, e os R$ 93,2 bilhões para onde vão?!

    É preciso deixar uma coisa clara: não falta dinheiro para o governo combater a pobreza, mas sim vontade efetiva.

    Talvez por isso, José Guilherme Merquior disse em 1987 que “a verdade é que temos, ao mesmo tempo, Estado de mais e Estado de menos”. Prova disso é que, segundo o relatório de 2021 sobre o Panorama Social da América Latina, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), antes da pandemia, em 2019, 22,5% do PIB brasileiro era dedicado a gastos sociais.

    Sabendo que o PIB brasileiro na época foi de R$ 7,389 trilhões, quer dizer que o governo gastou quase R$ 1,7 trilhão com questões sociais no período. E, considerando que, entre os anos de 2010 e 2020, o Brasil foi o país que mais aumentou as despesas públicas com questões sociais na América Latina (27% ao ano), nem o teto de gastos teria a possibilidade de impedir, por si só, o combate à pobreza.

    Falta, no entanto, enfrentar seriamente o tema. Para tanto, não é necessário abrir mão da responsabilidade fiscal. O presidente do Chile, abertamente de esquerda, declarou que isso não é coisa de direita, mas sim um meio concreto para a efetivação dos direitos sociais.

    Temos de aproveitar a existência do Projeto de Lei 5.343/2020, que determina como objetivo do Estado brasileiro reduzir a taxa geral de pobreza para 10% da população em três anos, a partir do dia da entrada em vigor dessa Lei de Responsabilidade Social.

    Caso consigamos nos comprometer genuinamente com a pauta, a taxa de extrema pobreza também pode cair para 2% da população no mesmo período. À época da propositura do projeto, 24,7% da população brasileira encontrava-se na pobreza e 6,5% na extrema pobreza.

    O projeto propõe a fusão dos programas Salário Família, Abono Salarial, Seguro Defeso e Bolsa Família. Dessa maneira, haveria um redesenho criando (i) a renda mínima para extremamente pobres; (ii) uma Poupança Seguro Família para trabalhadores de baixa renda, incluindo informais; e (iii) uma Poupança Mais Educação, para jovens que terminarem o ensino médio e passarem a integrar o mercado de trabalho.

    Outra proposta interessante é a facilitação do acesso aos dados, por meio de um cadastramento único das pessoas que são o foco desse novo planejamento.

    A verdade é que a História recente tem mostrado que o Brasil tem plenas condições de combater a pobreza, mas simplesmente não quer. Assim seguimos o grito do alarmista que queima bilhões de reais todas as vezes. Nenhum povo quer seu país com fome e na miséria. Temos uma proposta séria e concreta para mudar esse jogo, mas infelizmente seguimos caindo no conto dos populistas de todas as direções.

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