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GASPAR TERÁ NOVAMENTE CINCO CANDIDATOS A PREFEITO. O PL NÃO CONSEGUIU TIRAR OBERDAN DA DISPUTA. DEU ERRADO A TENTATIVA DE SE IMPOR UM CANDIDATO ÚNICO DA SUPOSTA DIREITA POR AQUI

O candidato Oberdan Barni, Republicanos, anunciou ontem ao final da tarde que resistiu a todas as manobras do PL estadual, regional e local para retirá-lo da disputa Gaspar. E para não deixar dúvidas a quem manobrava a retirada a força a retirada da sua candidatura e de Aurino Amaral, confirmou e convocou a Convenção do partido para este sábado na tradicional Sociedade Alvorada, cedida para esta finalidade.

Na Convenção será homologado a nominata dos candidatos a vereadores, vice e dele próprio como candidato a prefeito. Oberdan não confirmou se a ata ficará em aberta para fazer ou aceitar coligações, possíveis até a meia-noite do dia cinco de agosto.

A reviravolta veio nesta semana depois que o diretório nacional do Republicanos – devido a explícita quebra do acordo que fez com o governador Jorginho Melo, presidente do PL, e gestor da manobra que colocou o deputado Federal, Jorge Goetten – ex-PL -, de Rio do Sul, como “interventor” no Republicanos de Santa Catarina – retirou as senhas que deu ao “novo” Republicanos catarinense e a deu para gerir recursos e homologação de candidaturas que já estavam alinhavadas antes da “intervenção”. 

O deputado Jorge Goetten e nova “tropa de choque” – que aqui tem o futuro candidato a vice-prefeito de Gaspar pelo PL, Rodrigo Boeing Althoff como seu cabo eleitoral – sob orientação direta Jorginho e seu entorno direto de poder, foram quebrando todos os acordos que o Republicanos tinha até então e que deveriam ser preservados, inclusive os de Gaspar, como se ajustou com o presidente nacional do Republicanos, o deputado Federal por São Paulo, Marcos Pereira.

Isto, feito de forma impositiva e rapidamente, sem qualquer diálogo, provocou uma choradeira geral e foi dar no diretório nacional com vários relatos, principalmente os do sul do Estado, área de domínio do ex-governador Carlos Moisés da Silva.

E com a senha que “ganhou” do diretório nacional, o “novo” presidente do partido em Santa Catarina, até então presidido pelo ex-governador Carlos Moisés da Silva, rival de Jorginho, ameaçava deixar à míngua nos recursos partidários – incluindo o bilionário Fundo Eleitoral -, todos os candidatos do Republicanos que não se alinhassem, ajoelhassem incondicionalmente ou ficassem em segundo plano aos planos eleitorais locais do PL e sem qualquer contrapartida política de futuro dos filiados neste novo cenário. “Era uma rendição como nunca tinha visto antes“, resumiu Oberdan

A conversa dura entre o deputado e “interventor” do Repoublicanos catarinense Jorge Goetten, seus assessores, Oberdan Barni e Aurino Amaral, vestido de vice de Oberdan, aconteceu nesta segunda-feira, em Itajaí, depois dela ter sido adiada de domingo. O PL com essa manobra mal arranjada, conseguiu, mais uma vez, colocar Oberdan no centro dos comentários políticos da cidade de Gaspar e mexer com os seus brios.

Reportei em PL E EMPRESÁRIOS SEM SUCESSO NAS RASTEIRAS ATÉ AGORA, FECHAM O CERCO E DECLARAM GUERRA PARA ACABAR COM A CANDIDATURA DE OBERDAN BARNI, DO REPUBLICANOS, EM GASPAR. ELE AINDA RESISTEPL MANDA FAZER PESQUISA EM GASPAR PARA ESCOLHER ENTRE PAULO KOERICH E OBERDAN BARNI, REPUBLICANOS, MAS ELA NÃO TERÁ VALIDADE NENHUMA. A ESCOLHA JÁ ESTAVA FEITA EM FLORIANÓPOLIS PELO PL E JORGINHO MELO ANTES MESMO DA PESQUISA IR À PRAÇA AQUIPL QUE MANDA NO REPUBLICANOS RIFA OBERDAN BARNI. NEM PESQUISA FAVORÁVEL ADIANTOU. MESMO ASSIM, A CONVENÇÃO, POR ENQUANTO, ESTÁ MANTIDA PARA ESTE SÁBADO

Impressionante. A empáfia e a arrogância do PL catarinense, regional e local. Elas tornaram Oberdan e seu Republicanos em vítima do processo em que os mesmos se perpetuam por décadas no poder de plantão em Gaspar uma hora vestidos de MDB, outras de PP e agora de PL. Mais uma que a lição do ex-primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves, não foi observada: “a esperteza quando é demais, ela come o dono“. 

O PP, PL, parte do MDB e empresários que tocam todo este processo por detrás dos panos – agora até deram uma recolhida estratégtica para diminuir o desgastes – ainda comemoraram a forma como fizeram, pelo cansaço, o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, ex-MDB, e hoje filiado ao PL, desistir da candidatura a vereador, quando foram surpreendidos pela resistência e teimosia do novato Oberdan a que tinham como favas contadas e quando muito, um apoiador sem valor. “Não vou passar o atestado de vendido, como fizeram crer maldosamente essa gente que é meu adversária tão logo voltei da reunião de Itajaí, na swegunda-feira”, desabafou irritado Oberdan. “Nem esperaram o corpo do morto esfriar. Vergonha. Gente sem escrúpulos. Prefiro perder de cabeça erguida do que deixar qualquer dúvida à comunidade“, desafiou.

UMA CAMPANHA CARA E JUDICIALIZADA

De volta da renião tensa e de quase cinco horas em Itajaí; revelada intimidação de deixá-lo à míngua do bilionário Fundo Partidário se não desistisse e aderisse à candidatura do PL com uma mão atrás e outra na frente, sem que tivesse, ao menos, garantia de recursos mínimos para os candidatos a vereadores do Republicanos gasparenses, aconteceram dois fatos fundamentais: o PL de Gaspar passou a contar a candidatura de Oberdan como favas contadas, comemorou a “vitória” e ampliou o desdém contra Oberdan e o Republicanos. 

Na outra, ponta, por outro lado, os seguidores de Oberdan reforçaram a ideia da não desistência, sugerindo resistência e ao mesmo tempo, reabrindo canais com o diretório nacional do Republicanos, depois do próprio diretório reconheceu que o “PL interventor dos Jorges (Melo e Goetten)” havia extrapolado e enfraquecido propositadamente o Republicanos em Santa Catarina.

Para aumentar a pressão e criar fato novo, o delegado Paulo Norberto Koerich “resistia” em ser o candidato do PL, de parter do PP, MDB e principalomente dos empresários. 

Falava que só seria candidato se o Novo e o Republicanos estivessem juntos na mesma chapa com ele. Não estarão. E Paulo será o candidato dos empresários que colocaram Kleber Edson Wan Dall, MDB, com Luiz Carlos Spengler Filho, PP em 2017 na prefeitura e Kleber com Marcelo de Souza Brick, naquela época no PSD, e hoje no PP, em 2021 no poder de plantão. A coordenação da campanha será majoritariamente do PP – apesar do partido ter candidato Marcelo como continuidade de Kleber – e até com parte do MDB – a que rifoua candidatura do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, a vereador. O PL já tem convenção marcada: será na quinta-feira que vem, dia primeiro de agosto, na também na Sociedade Alvorada.

Como a última, a campanha deste ano em Gaspar terá cinco candidatos: Pedro Celso Zuchi, PT que tenta o quarto mandato; o ex-vereador (única eleição que venceu até aqui em sua vida de político) e atual vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, PP, que tenta ser a continuidade de Kleber; o delegado Paulo Norberto Koerich, PL, que como o serventuário da Justiça, Ednei de Souza, Novo, tenta pela primeira vez esta disputa sem ambos antes estarem na política propriamente dita. A mesma sorte se lançará o empresário Oberdan Barni, pelo Republicanos, este já com experiência nos bastidores de outras campanhas ligadas ao MDB.

Aos esquecidos, lembro que 2020, também eram os cinco os candidatos. Os que surfaram a onda da direita que tinha Jair Messias Bolsonaro, PSL, antes dele chegar ao PL, foram os de piores votações. Eles não tinham qualquer identificação com os padrinhos nacionais. Apenas usavam como marca. O eleitorado de Gaspar, não caiu nesta cilada naquele ano.

Kleber se reelegeu com 20.960 votos (65,60% dos votos válidos) fazendo vale a força da máquina administrativa, mas principalmente, o voto evangélico, numa cidade de profundas raízes católicas; no sacrifício, o ex-vereador do PV e ex-secretário de Zuchi, Rodrigo Boeing Althoff, PL – o partido ainda não estava ligado ao bolsonarismo -, chegou em segundo com 7.097 votos (22,21%); o PT com o radicalismo do vereador Amarildo Rampelotti, fez 2.500 votos (7,82%), e os da chamada direita orgânica e ideológica nos discursos, mas que não tinham isso de verdade na vida e no currículo, como o empresário Vanderlei Knopp, do extinto DEM com 721 votos (2,26%) e o sindicalista, fingindo ser bolsonarista no extinto PSL, Sérgio Luiz Batista de Almeida, ficou na rabeira com os minguados 675 votos (2,11% dos votos válidos).

É sabido que não há votos para tantos candidatos em Gaspar. O PL sabe. O PP, também. O governo de Kleber igualmente. Então, a continuidade de Oberdan na disputa forçará os empresários gastarem mais (além das bilionárias verbas distribuídas a eles pelos Fundos Partidários e Eleitorais), bem como os do governo azeitarem melhor a máquina que está em falta há tempor para a óbvia manutenção da cidade. Simples assim. E um experiente advogado da praça me adiantou: vai haver judicialização como método de diminuir os custos destas eleições por aqui, além do intuito de inviabilizar candidaturas no seu nascedouro, pois não se conseguiu isso pela negociação até ontem. Todos nervosos. Não com o amadorismo e arrogância dos atores políticos, mas com este espaço. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

É de arrepiar. O Republicanos – com uma pesquisa na algibeira e que não a abriu nos detalhes – tentou convencer de que Oberdan Barni, era o candidato da elite, dos mais escolarizados e que por isso tinha um teto de votos numa cidade feita de gente mais humilde. Foi aí que Oberdan descobriu que não tinha pesquisa, mas enrolação. Oberdan intelectual, acadêmico e preferido dos ricos? É coisa de gente sem noção. Ou despreparada para uma conversa séria de desconstrução de uma candidatura.

O PT de Gaspar, depois do PL, também era o que mais torcia pela saída de Oberdan Barni da campanha eleitoral, na forma como se fazia no PL – pela porta dos fundos. E por quê? Fazia um raciocínio simples: humilhado, Oberdan Barni não migraria o apoio dele para o PL, e por coerência, também não faria isso para o PP por estar a cupula com o PL. O Novo era tida carta fora do baralho. Sobraria, neste raciocínio, gratuitamente, o PT para a vingança ao PL, ao PP, ao MDB e empresários. Muita água vai rolar debaixo desta ponte. E esta água ainda não chegou, apesar da tempestade já ter acontecido nas cabeceiras das montanhas partidárias.

Pedro Celso Zuchi está mostrando obras de três governos dele. A queridinha é a ponte do Vale, e que praticamente não levou nenhum dinheiro dos cofres ou de financiamentos que oneraram outros prefeitos como o de Kleber Edson Wan Dall, e o que vai ser eleito este ano. A prefeitura de Gaspar Acaba de tomar mais R$30 mil de financiamento do BRDE (Pró Transporte) para os outros prefeitos pagarem.

Ontem a noite num eventto social aconteceu o primeiro encontro entre ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, rifado na candidatura a vereador, pelos da cúpula do PL , patricina e coordenam a candidatura de Paulo Norberto Koerich. Todos disseram que não entenderam a atitude dele e que ele deu bola para um porta-voz isolado. Por outro lado, ninguém pediu desculpa e nem pediu para ele voltar a ser candidato. Preferem ele longe da campanha. Então…

Aliás, que inventou, articulou com o ex-vereador Egídio Beckhauser, de Blumenau e coordenador regional do partido, e colocou Oberdan Barni no Republlicanos e candidato a prefeito de Gaspar, foi o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL. Um já tinha sido rifado. O outro tenta dar a volkta por cima. Sintomático.

Lembram daquela licença que a Defesa Civil concedeu a Igreja Assembleia de Deus para drenar – cortando a Rua Anfilóquio Nunes Pires – emergencialmente área que mais tarde recebeu um prédio não licenciado e que foi embargado, como saias justas para todos os lados?

A providência divina parece estar faltando mais uma vez neste caso. Aquela pracinha belvedere que se montou como disfarce e compensação está prestes a ir para dentro do Rio Itajaí Açú. É o que opinam os técnicos da própria Defesa Civil de Gaspar, tocada pelo ex-motorista do prefeito Kleber Edson Wan Dall, e irmão de Kleber naquele templo.

Mais uma pesquisa eleitoraL esteve na praça esta semana em Gaspar.

Olhando bem as composições que o PL sob o comando de Jorginho Melo, está fazendo em Santa Catarina, ainda mais nos principais colégios eleitorais, são todos eles bem longe do pragmatismo bolsonarista. É uma mistura de gatos num mesmo balaio. A regra básica parecer ser a de enfraquecer e dividir os adversários políticos do que valorizar e fortalecer o próprio PL e o bolsonarismo.

Poucos presstam a atenção neste jogo, mas o sinal mais contundente está em Chapecó, onde Jorginho Melo, faz das tripas o coração para João Rodrigues, PSD, o queridinho de longa data de Jair Messias Bolsonaro, PL, não tenha palanque com Rodrigues. Agora, inventou o vereador André Kovaleski para ser o candidato do PL de lá.

Uma história. E uma sinalização. Leitor do blog conta a seguinte história. Em 1999, o prefeito Beranrdo Leonardo Spengler, MDB, foi afastado. Assumniu, o vice, Andreone Cordeiro dos Santos, PT, neto do primeirom prefeito eleito de Gaspar, João dos Santos. Dário Beduschi, que foi um fiasco nas urnas, assumiu a chefia de gabinete e virou uma espécie de “primeiro ministro”. Andreone não gostava de chegar cedo e tomar as rédeas da administração. Espaçoso, Dariozinho, que depois disso, sumiu da política e virou escritor, também tomou conta do PTB.

Tanto tomou que Dario Beduschi impediu Andreone Cordeiro dos Santos de ser candidato. Corta a cena. Hoje na candidatura do delegado Paulo Norberto Koerich no PL, o comando não é exatamente a do presidente do partido por aqui, Bernardo Leonardo Spengler Filho, mas de Pedro Bornhausen, um histórico do PP, que continua filiado lá, e cujo partido possui candidatura própria, mesmo que importada do PSD, Marcelo de Souza Brick, PP. Muda, Gaspar!

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12 comentários em “GASPAR TERÁ NOVAMENTE CINCO CANDIDATOS A PREFEITO. O PL NÃO CONSEGUIU TIRAR OBERDAN DA DISPUTA. DEU ERRADO A TENTATIVA DE SE IMPOR UM CANDIDATO ÚNICO DA SUPOSTA DIREITA POR AQUI”

  1. ESTÁ MADURO

    Ainda hoje artigo inédito no blog e não é sobre a montada e anunciada vitória de Nícolas Maduro, na Venezuela. Mas, naquilo que Gaspar muito se parece

  2. A FESTA DE PARIS SERÁ DE TODOS, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Na sexta-feira as delegações de 204 países desceram pelo Rio Sena. Melhor que isso, só se em 1840 os restos mortais de Napoleão tivessem chegado de barco. Ele vinha da Ilha de Santa Helena, onde havia morrido em 1821 como prisioneiro dos ingleses.

    Coisas ruins acontecem em todos os países do mundo, mas os franceses dão a volta por cima como nenhum outro.

    A Olimpíada de Paris poderia ensinar ao mundo a gostar (e cuidar) de suas cidades. Só os franceses são capazes de ter uma Arco do Triunfo para um general corso derrotado.

    A Olimpíada de Paris tem tudo para ser um grande espetáculo. Graças a ela, revitaliza-se o bairro de Saint-Denis, assim como Londres ressuscitou uma parte degradada da cidade. Era como se fizessem parte das competições em São Gonçalo. (O Rio fez a Olimpíada na Barra da Tijuca e deu no que deu.)

    Os franceses amam Paris e desse amor resultou também a paixão do mundo pela cidade. Em 2024 todo mundo gosta da Torre Eiffel. Em 1887, quando seu projeto foi anunciado, os escritores Alexandre Dumas e Guy de Maupassant, mais o pintor Ernest Meissonier (autor da inspiração do “Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo), assinaram uma petição condenando-o. Chamavam-na de “Torre de Babel”.

    A bandeira da França foi hasteada na Torre em março de 1889. Semanas depois nasceu Adolf Hitler, que teve a sua suástica hasteada em 1940 e visitou-a. Quatro anos depois, em 25/8, as tropas aliadas retomaram a cidade. No dia seguinte, o general De Gaulle subiu heroicamente a Avenida dos Campos Elísios. (Nos escalões avançados não havia soldados negros.)

    Londres saiu maior da Olimpíada e tudo indica que com Paris acontecerá o mesmo. De Barcelona, nem se fale.

    O Rio, saiu igual, com um espeto de bilhões de reais. É melhor fazer de conta que aquela Olimpíada não aconteceu.

    QUESTÃO DE ESTILO 1

    A França usou a Olimpíada para divulgar suas marcas, como a Vuitton. O Comitê Olímpico Brasileiro contratou um uniforme para os atletas no escurinho da cartolagem.

    Como bem definiu Joanna Moura, “formam um conjunto desatualizado, com um design não apenas conservador como preguiçoso.”

    Algumas jaquetas parecem peças de Maria Bonita, a mulher do cangaceiro Lampião.

    É uma questão de estilo. No século XIX, Louis Vuitton fornecia as malas da imperatriz Eugênia, mulher de Napoleão III. Até aí, era mais um fornecedor. Vuitton ia além: ia ao palácio e arrumava as malas da senhora.

    QUESTÃO DE ESTILO 2

    Ruy Castro informa: A casa do Rio de Carmen Miranda, na Travessa do Comércio, está desabando. A casa em que na infância viveu a cantora Édith Piaf, de 1917 e 1923, está em melhor estado que o Palácio da Alvorada.

    JOGO DO CONTENTE

    Joe Biden vem se despedindo da presidência dos EUA com altivez e frases bonitas. Como a simpatia por Donald Trump pelo mundo afora é baixa, fica a impressão de que a subida de Kamala Harris para a cabeça da chapa Democrata é uma solução quase mágica. Falso.

    Biden saiu da disputa porque a sua capacidade foi questionada após o debate.

    Quanto a Harris, ela entrou na disputa melhorando a posição dos Democratas nas pesquisas. Contudo, seu desempenho como vice foi lastimável. Ela parecia seguir a lei de Stanislaw Ponte Preta (1923-1968): “O vice-presidente acorda mais cedo para passar mais tempo sem fazer nada.”

    Kamala Harris poderá derrotar Trump, mas terá que gastar a sola do sapato. Tomara.

    A MALDIÇÃODOS R$ 6

    A gasolina bateu a marca dos R$ 6. É um mau número, mas pode-se conviver com ele. Na semana passada o dólar dobrou a esquina dos R$ 5,50.

    Dólar a R$ 6 é algo que o governo não espera.

    SEGURANÇA PÚBLICA

    O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou mais um grande plano para a segurança pública. Mais um.

    Para quem acompanha o funcionamento de sua pasta, faria melhor se organizasse sua tropa. Lá, as coisas vão mal, começando pela desordem das agendas, que submetem visitantes (até ilustres) a constrangedores chás de cadeira.

    Os hierarcas de Brasília acham que mandam. Deveriam guardar na memória um acontecimento de 1966. Num choque do presidente Castelo Branco com Adauto Lúcio Cardoso, presidente da Câmara dos Deputados, o marechal resolveu fechar a Casa.

    Para esvaziar o prédio, decidiram cortar-lhe a energia. À hora em que a luz seria cortada, pelo menos dois poderosos foram para a janela do Planalto para ver a cena.

    Apagaram-se as luzes do Planalto.

    BOLSONARO IMUTÁVEL

    Jair Bolsonaro não muda. Descobriu uma maneira de implicar com a senadora Tereza Cristina a partir de uma questão municipal de Campo Grande (MS).

    BUSCETTA E PASQUINO

    No século passado a temida polícia do delegado Sérgio Fleury interrogou o mafioso italiano Tommaso Buscetta à sua maneira e dele nada arrancou. Isso se deveu em parte à omertà (lei do silêncio) do mafioso e também ao fato de que ele não operava com a bandidagem brasileira.

    Anos depois, Buscetta fez acordos com o Ministério Público italiano e com a polícia americana, detonando a Máfia.

    O caso de Vincenzo Pasquino é inverso, o mafioso tinha conexões e negócios com as quadrilhas dos Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho. Se a PGR e a PF se organizarem direito, ele poderá entregar as conexões do crime organizado brasileiro com pedaços do andar de cima. Em tempo, assim como fizeram no caso de Marielle Franco, os maganos já estão trabalhando para embaralhar as investigações.

    O VALOR DO SILÊNCIO

    De um diplomata americano ao tempo em que a Venezuela era governada pelo coronel Hugo Chávez. Não digam que eu falei isso, mas brigar com o Chávez é como você entrar num chiqueiro para agarrar um porco. Vai perder.

    O mesmo vale para o risco de se alimentar bate-bocas com Nicolás Maduro. O americano simplesmente ignorava o venezuelano.

    EXEMPLO DO CNJ

    O Conselho Nacional de Justiça está montando uma plataforma que unificará as consultas processuais junto a todos os tribunais do país. Se tudo correr bem, ficará pronta em dezembro. Se o Ministério da Justiça e a Casa Civil estiverem interessados, podem copiar a iniciativa, fazendo com que as informações dos governos sobre segurança pública falem umas com as outras.

    HADDAD ENCANTA

    Fernando Haddad é um encantador de serpentes. Com a meta do déficit público desacreditada e os ministros brigando para não cortar R$ 65 bilhões, ele propõe um imposto para os bilionários. Se esse imposto mundial não colar, a culpa será dos outros.

    ALGUMA COISA MUDOU

    As eleições municipais não antecipam os resultados presidenciais, mas colocam sinais no tabuleiro. A de 2020 sinalizou que a força do vendaval de 2016 havia perdido vigor.

    Em 2022 muita gente dava como certa a eleição de um Bolsonaro para a prefeitura do Rio. Nenhum Bolsonaro foi para a pista e Alexandre Ramagem, afilhado do capitão, está devagar, parando. Vale lembrar que Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, era vice de Bruno Covas. Seu bolsonarismo, além de parcial, é de ocasião.

  3. SEGREDO DE ESTADO, por Bernardo de Mello Franco, no jornal O Globo

    Transparência nos olhos dos outros é refresco. Tema de debate na última eleição presidencial, o sigilo de cem anos voltou ao noticiário. Desta vez, é o governo Lula que insiste em esconder documentos oficiais.

    O Executivo negou acesso à Declaração de Conflito de Interesses do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O ofício precisa ser entregue antes da posse de cada ocupante do primeiro escalão.

    A decisão pelo segredo foi da Comissão Mista de Reavaliação de Informações, chefiada pela Casa Civil. No início do mês, o órgão alegou ao UOL que a declaração de Silveira conteria dados de acesso restrito, “que se referem a aspectos da vida privada e intimidade do titular e, portanto, não publicizáveis”. A conversa repete um artifício muito usado pelo governo de Jair Bolsonaro: usar a Lei de Acesso à Informação para dificultar o acesso à informação.

    De acordo com a lei, o Estado deve preservar informações pessoais que envolvam “a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem” dos cidadãos. Nesses casos, é previsto o sigilo máximo de cem anos. A regra foi estabelecida para valer em situações excepcionais. Numa interpretação distorcida, virou arma para encobrir o que deveria ser revelado.

    A transparência deve ser a norma no serviço público. Quem aceita virar ministro precisa estar pronto para ser submetido a escrutínio. É o que prevê a Lei de Conflitos de Interesses, sancionada em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff. O texto afirma que os ocupantes de altos cargos na administração pública devem informar patrimônio, participações societárias, atividades econômicas e profissionais. Se Silveira preencheu o questionário para virar ministro, não há por que esconder essas informações da sociedade.

    No início do governo, Lula bateu bumbo para a derrubada de sigilos impostos por Bolsonaro. É no mínimo incoerente repetir a prática que condenava na gestão passada.

    A aversão à transparência é suprapartidária. Na última semana, o governo de São Paulo impôs cem anos de sigilo a processos disciplinares contra o coronel Mello Araújo, ex-comandante da Rota. O policial será candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes, que concorre à reeleição na capital paulista. A decisão de esconder os documentos beneficia o prefeito, aliado do governador Tarcísio de Freitas.

    Ao tratar informações corriqueiras como segredos de Estado, governantes também se arriscam a cair no ridículo. Na quarta-feira, a Casa Rosada se negou a fornecer informações sobre os cachorros do presidente da Argentina, Javier Milei. Alegou que os dados seriam “de natureza privada e familiar”.

    Desde que o dono da matilha tomou posse, a imprensa pede informações sobre os cães, que ele chama de “filhos de quatro patas”. Uma das excentricidades de Milei é que ele acredita se comunicar por telepatia com seu primeiro mastim inglês, morto anos atrás. Os repórteres tinham perguntas mais simples: quanto se gasta em ração, quem cuida dos animais, quanto custou a construção de canis na residência oficial de Olivos.

  4. UM GOL CONTRA DE LULA, por Lourival Sant’Anna, no jornal O Estado de S. Paulo

    O Brasil está prestes a aderir à Nova Rota da Seda (BRI), o trilionário programa de obras de Xi Jinping destinado a consolidar a dominância da China. Com 150 participantes, e forte engajamento de ditaduras africanas e asiáticas, o esquema é uma porta para corrupção e inadimplência, dada a falta de transparência, juros altos e hipoteca das obras para o credor chinês.

    Nos últimos dez dias, Lula mencionou duas vezes a possibilidade. “Quero discutir com a China a Rota da Seda”, disse à agência chinesa Xinhua. Lula aceitou o primeiro convite a um presidente brasileiro para a cúpula do Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (Apec), em novembro, no Peru, com a participação de Xi, e também o receberá no Brasil “com uma grande festa”. “Quero saber aonde é que a gente entra, que posição vamos jogar, porque não queremos ser reserva, queremos ser titular”, entusiasmou-se.

    Boa sorte com isso. Lula sabe como é transacionar com os chineses, quando interesses geopolíticos estão em jogo. Na cúpula dos Brics, em 2023, a China enfiou goela abaixo do Brasil o convite para Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Etiópia ingressarem no bloco. Lula queria a entrada apenas da Argentina, na esperança de turbinar a campanha de Sergio Massa à presidência.

    O Brics virou um clube de ditaduras, cujos conflitos regionais a China passou a arbitrar. Enquanto a Índia caminha para uma autocracia sob o nacionalismo hinduísta de Narendra Modi, Brasil e África do Sul se tornam minoria no bloco e se subjugaram à estratégia chinesa de liderar a disputa global entre autocracias e democracias.

    A declaração de Lula repercutiu na China. O jornal Global Times e a porta-voz do ministério, Mao Ning, elogiaram o brasileiro. “Tenho informes relevantes”, respondeu Mao. “China e Brasil são parceiros estratégicos. O Brasil é o país do futebol. A China dá as boas-vindas para o Brasil se juntar à família da BRI e está ansiosa pelo golaço mundial do Brasil nessa cooperação.”

    DÚVIDAS. “O Brasil já é o maior destino de investimentos estrangeiros diretos da China na região”, disse Filipe Porto, acadêmico da UFABC e editor do Grupo de Comunicações Internacionais da China. “Entrar para quê?”

    Lula tem histórico de concessões à China sem contrapartidas reais. Em 2004, tornou o Brasil o primeiro país grande a reconhecer o status de economia de mercado da China, retirando da indústria brasileira espaço para ações antidumping contra os chineses. Eu estava em Pequim. Presenciei o deslumbramento dos petistas e o assombro dos empresários.

    No ano passado, assinou o memorando sobre o grupo de trabalho de facilitação da adesão à BRI. O que mais me preocupa é a opacidade do programa chinês. O sistema de compliance e governança do Brasil resistirá às oportunidades de corrupção nesses contratos?

  5. O péssimo e bandido exemplo do PT. Ajuda no rombo e ainda chama os outros de caloteiros e desonestos naquilo que ele próprio pratica. Com o agravante de se rotular como o partido dos trabalhadores

    A “DESONERAÇÃO” DA FOLOHA DO PT, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Autoproclamado defensor da classe trabalhadora, o Partido dos Trabalhadores (PT) é justamente a legenda brasileira que mais acumula dívidas por desrespeitar os direitos trabalhistas de seus empregados e suas obrigações com a União. É como se o PT instituísse por conta própria uma espécie de desoneração da folha de pagamento, ao arrepio da lei, ao deixar de recolher Contribuição Previdenciária e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

    Essa burla às regras previdenciárias e trabalhistas custa caro aos cofres públicos. Diretórios petistas espalhados pelo País têm R$ 22,2 milhões inscritos na Dívida Ativa da União – dos quais R$ 18,2 milhões em débitos com a deficitária Previdência Social e R$ 266 mil com o FGTS.

    E tudo isso numa agremiação que está entre as mais ricas do País, financiada pela fartura de fundos públicos que nem deveriam existir, pois partido político que se preze consegue se bancar exclusivamente com doações de seus simpatizantes. Agora, ao que parece, o PT se financia também por meio de calote trabalhista em seus funcionários. Quando questionada, a legenda ainda se dá o direito de não dar nenhuma explicação, talvez porque explicação não haja.

    Enquanto alardeia que a reforma trabalhista promovida no governo de Michel Temer acabou com os direitos dos trabalhadores, o PT escolhe quais direitos de seus funcionários vai respeitar. A comparação com os partidos ditos “burgueses” é ainda mais reveladora: o PT bate de longe os débitos do União Brasil (R$ 5,2 milhões), do PSDB (R$ 5,1 milhões) e do MDB (R$ 4,5 milhões) – ao todo, as siglas devem hoje ao menos R$ 54,2 milhões aos cofres públicos da União.

    Não foi à toa, portanto, que o PT apoiou com tanto entusiasmo a infame PEC da Anistia – a Proposta de Emenda à Constituição, recentemente aprovada na Câmara, que perdoa partidos que violaram a legislação eleitoral e que cria um financiamento camarada para as dívidas com a Previdência Social. São 60 prestações generosas – ou cinco anos – para quitar as pendências. Não tendo sido a primeira vez que os partidos se concedem a si mesmos uma desavergonhada anistia como essa, nada indica que será a última.

    Nada disso orna com o feroz discurso petista contra a indecência na política e contra o que chamam de “desmonte” dos direitos trabalhistas. No “outro mundo possível” idealizado pelo lulopetismo – que segundo seus devotos só não se concretiza porque a “burguesia” e o “capital” não deixam –, os trabalhadores estarão no paraíso. Já neste mundo trevoso, o PT tunga seus próprios empregados, e justamente na Previdência – aquela que, segundo a fábula petista, não tem déficit. É mais que apenas uma ironia: trata-se de um estudo de caso sobre o cinismo dos que sabotam a modernização do País, em nome da proteção dos trabalhadores, ao mesmo tempo que não hesitam em tomar dinheiro desses mesmos trabalhadores para fechar as contas do partido.

  6. NÃO É PARA DESCONFIAR? por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    E depois o ministro Haddad reclama quando o pessoal desconfia do cumprimento das metas do arcabouço fiscal. Reparem: o governo entrou janeiro prevendo superávit para as contas deste ano; seis meses depois, a projeção já tinha virado um baita déficit. E isso mesmo com o ministro cumprindo a tarefa de turbinar as receitas.

    Nos meios econômicos, o pessoal acredita em contas. Com os números conhecidos nesta semana, a desconfiança torna-se dominante. No Orçamento para este ano, aprovado no Congresso, previa-se superávit de R$ 9 bilhões para o governo federal, boa folga diante do déficit zero estabelecido no arcabouço. No passar dos meses, os números ganharam tons de vermelho toda vez que se refazia a conta. Concluído o primeiro semestre, a projeção já era de um déficit de R$ 44 bilhões, arredondando.

    Vai daí, depois de muita conversa de persuasão com o presidente Lula, o ministro Haddad anunciou um corte de R$ 15 bilhões na execução orçamentária. Isso para deixar a projeção de déficit para este ano em R$ 29 bilhões, declarando cumprir a meta do arcabouço.

    Mas a meta não era zero? — pergunta o brasileiro comum, que não é obrigado a conhecer as matemáticas oficiais. Ocorre que a meta tem uma margem de tolerância de R$ 29 bilhões (equivalente a 0,25% do PIB) para mais ou para menos. Logo, se a previsão de déficit saltou para aqueles R$ 29 bilhões, tudo bem, está dentro da meta, certo?

    Mais ou menos.

    Margem de tolerância é um esquema de acomodação. Sabe como é, pode acontecer algum imprevisto, uma receita a menos, uma despesa a mais, que se acomoda na margem. Não é o que fez o governo. Se o buraco previsto na última contagem bateu nos R$ 44 bilhões, o corte no Orçamento deveria ser desses mesmos 44 bilhões para restabelecer a meta de déficit zero. Como temos um governo que quer gastar, e não equilibrar, resolveram congelar apenas R$ 15 bilhões.

    O que isso significa? Simples: mudaram a meta de zero para um déficit de R$ 29 bilhões, no limite máximo da margem de tolerância. Alargaram o alvo. Daí a desconfiança. Se, em seis meses, o governo já jogou a toalha, num ambiente em que a dinâmica de gastos permanece a mesma, qual a tendência mais provável? Que a meta seja alterada de novo, com péssimas repercussões políticas e econômicas. E no dólar mais alto, pressionando a inflação e, pois, os juros.

    Desde o lançamento do arcabouço, sabia-se que o êxito dependeria de forte ganho de arrecadação. O ministro Haddad foi à luta e conseguiu. No primeiro semestre deste ano, as receitas do governo federal cresceram nada menos que 9%, descontada a inflação, em comparação com o mesmo período de 2023. Sim, o ministro tomou dinheiro dos ricos, taxando os fundos exclusivos, mas também tomou das classes médias com o PIS/Cofins sobre os combustíveis. E tomará mais um tanto com os 20% de imposto de importação sobre as “blusinhas”, que entra em vigor em 1º de agosto.

    Em resumo, a arrecadação bate recorde todos os meses. Significa que, a cada mês, o governo toma uma parte maior da economia. Só que as despesas crescem ainda mais depressa: alta de 10,5% no primeiro semestre, já descontada a inflação. Não fecha.

    O governo, por determinação de Lula, não atacará nas principais fontes de despesas crescentes, os gastos previdenciários e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Pensões e BPC, pela regra, têm ganho real, acima da inflação. Pode-se defender a prática: o governo promove o bem-estar social, distribuindo renda para os mais pobres. OK, mas aí seria preciso reduzir o gasto em outros setores, incluindo funcionalismo, educação e PAC, para ficar em poucos exemplos. Lula não topa, claro.

    E tem mais: o déficit verificado no primeiro semestre é só de R$ 44 bilhões porque não se contam os gastos com o Rio Grande do Sul e outros, como pagamentos de precatórios. Está na lei. Esses gastos não contam para fins de arcabouço fiscal. Mas estão lá. Contando esses, o déficit real vai a R$ 66 bilhões. Não entra na matemática oficial, mas entra na dívida pública — e, pois, nos juros, no dólar, na inflação.

  7. O OBSERVADOR, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo

    Maduro prometeu vencer as eleições “por bem ou por mal”. A Venezuela é uma ditadura singular, descrita pelo ditador como “união cívico-militar-policial”. Faltou esclarecer que a “união” é gerida por uma máfia cleptocrática apoiada na intimidação, na violência e em extensas redes de clientelismo. Celso Amorim, enviado por Lula, observará se o regime é capaz de aceitar, por bem, a derrota eleitoral avassaladora indicada pelas pesquisas.

    O chavismo nasceu das urnas, numa revolução nacionalista pacífica concluída pela Constituição de 1999. Nela estavam as sementes da lenta transição da democracia representativa à democracia plebiscitária, ou seja, à tirania da maioria. Foi isso que Lula caracterizou, com uma ponta de inveja, como “democracia até demais”.

    Na etapa inicial, Chávez representava a maioria, utilizando-a para enfeixar poderes crescentes, subordinando o Judiciário, as forças armadas, o serviço público e os veículos de comunicação. À sombra do ciclo internacional de commodities, o petro-regime chavista conservou a hegemonia social sem recorrer à violência sistemática. Lula ofereceu-lhe amparo político e diplomático, tornando-se cúmplice da longa operação de erosão democrática.

    O encerramento do ciclo econômico e a morte de Chávez, em 2013, inauguraram a era Maduro. O “bolivarianismo” perdeu sua base popular, sedimentando-se como ditadura devastadora. A falência venezuelana tem muitos índices, mas deve ser sintetizada num número: 7,7 milhões, um quarto da população total, fugiram do país na última década, num êxodo maior que o deflagrado pela guerra na Síria.

    Nas últimas eleições competitivas, realizadas em 2015, para a Assembleia Nacional, a oposição triunfou com 56% dos votos, contra 38% para o chavismo. Dois anos depois, o regime extirpou a Assembleia de seus poderes, substituindo-a por uma Constituinte oficialista. Maduro decidiu que vencer “por mal” era a única solução. Lula seguiu fiel ao companheiro ditador.

    O Acordo de Barbados, firmado entre o regime e a oposição, começou a ser costurado em maio de 2023, quando Lula recebeu Maduro em Brasília. A ditadura cambaleante precisava livrar-se das sanções dos EUA para reativar o setor petrolífero – e prometia, em troca, patrocinar eleições livres. Biden e Lula vestiram o figurino de fiadores diplomáticos do acordo, abrindo a via para o pleito deste domingo (28/7).

    Maduro nunca pretendeu honrar o compromisso. Violando-o seguidamente, proibiu o acesso de observadores europeus, vetou a candidatura de Corina Machado e de sua substituta, Corina Yoris, providenciou ordens de prisão contra dezenas de opositores e bloqueou os sites independentes venezuelanos. Cada um desses passos foi admitido, com silêncio resignado ou murmúrios ambivalentes, pelo fiador brasileiro. Contudo, apesar deles, as sondagens sugerem acachapante vitória de Edmundo Urrutia, o discreto diplomata convertido, na hora final, em candidato opositor.

    A qualidade distintiva da democracia é a garantia de que os governantes derrotados não enfrentarão a vingança arbitrária dos oposicionistas triunfantes. Ditadores não têm o hábito de ceder o poder pacificamente pois temem a justa punição por seus crimes. É por isso que Maduro proclama a seus associados mafiosos que triunfará “por bem ou por mal”. Se o passado serve como bússola, Celso Amorim, o observador brasileiro, pouco se importa com a segunda alternativa.

    Urrutia e Corina Machado descortinaram nos últimos dias, talvez tarde demais, uma proposta de anistia e reconciliação nacional. Os próceres da ditadura enfrentam acusações criminais nos EUA e no TPI. Lula poderia ter usado sua influência na articulação de um perdão internacional aos chefões chavistas, contribuindo para uma transição pacífica. Não o fez, confiando no triunfo de Maduro. Agora, resta-lhe apenas observar.

  8. PROGRAMA VOA BRASIL É POPULISMO SEM SENTIDO, editorial do jornal O Globo

    Em março de 2023, quando o Ministério de Portos e Aeroportos anunciou a intenção de criar um programa de passagens de avião por até R$ 200, o plano parecia sem sentido. Depois de um ano e quatro meses, o Voa Brasil foi lançado na quarta-feira e, apesar do tempo investido em estudos e negociações, não mudou em nada a primeira impressão. Não é papel do Ministério de Portos e Aeroportos intermediar a venda de passagens de companhias aéreas privadas, assim como seria inaceitável que o Ministério dos Transportes atuasse em feirões de automóveis ou o de Desenvolvimento em liquidações de refrigeradores e batedeiras. Preocupado em agradar à classe média descontente com a alta dos bilhetes de avião, mais uma vez o governo apelou ao populismo.

    Na primeira fase do programa, os 23 milhões de aposentados do INSS que não tenham viajado de avião nos últimos 12 meses poderão comprar dois bilhetes por ano. Uma segunda etapa deverá ser lançada no primeiro semestre de 2025, para estudantes de instituições de ensino público. Num país com tantas carências, o governo decidiu dedicar tempo e esforços a um objetivo duvidoso:“fomentar a inclusão social da aviação civil”. O ministério fala em atingir 1,5 milhão de brasileiros que nunca andaram de avião, mas as chances de sucesso são ínfimas. Dado que não há limite de renda para participar, o mais provável é as camadas mais abastadas entre os aposentados serem as principais beneficiadas.

    À primeira vista, a argumentação do governo é sedutora. A ociosidade das aeronaves no Brasil foi de 20% entre janeiro e junho, prejudicando as companhias aéreas. Do outro lado, há consumidores ávidos por viajar de avião, sem condições de pagar passagem. Na prévia da inflação de julho, o destaque negativo foi justamente o setor de transportes, com alta de 19,21% nos bilhetes aéreos. Então, supôs o governo, por que não promover o casamento entre oferta e demanda, criando um portal estatal para vender passagens baratas?

    A ciência econômica documenta bem as falhas de mercado, situações em que a atuação de empresas privadas é incapaz de resolver certos problemas, e se faz necessária a intervenção estatal. É o caso da regulação de indústrias para evitar danos ambientais ou das regras para lançar novos medicamentos. Mas criar uma plataforma para vender passagens aéreas não se enquadra nos critérios que definem o papel do Estado. Por um motivo simples. As companhias já dispõem de um instrumento poderoso para equilibrar oferta e demanda: o preço. Com promoções, conseguem gerenciar a ociosidade. Há diversos portais vendendo passagens baratas na internet. O controle de preços pelo governo significa apenas impor prejuízos às aéreas e deteriorar ainda mais um negócio que já não anda bem.

    O Ministério de Portos e Aeroportos faz questão de ressaltar que o Voa Brasil não envolve subsídio do governo. Ainda bem. Seria mais um escândalo em tempos de crise fiscal aguda e necessidade de cortes de gastos. Afirma ainda que a adesão das companhias é voluntária, sem meta na oferta de passagens. Esse último ponto consta na minuta que regulamenta o Voa Brasil, mas deve ser lido com cautela. Quando um ministério lança um programa caro ao presidente da República, a pressão para que as empresas do setor participem é considerável. Ainda mais às vésperas do anúncio de um pacote de ajuda do governo às companhias aéreas.

  9. RECEITA DE LULA ATÉ 2026, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Conforme antecipei em meu blog no GLOBO, o governo Lula entende que a fase de reformas deste terceiro mandato se esgotou. No cômputo do que foi feito, além da reforma tributária, entra o novo arcabouço fiscal. No do que deixará de ser enfrentado, a ideia de revisitar as regras previdenciárias e uma batalha para reformar o Orçamento.

    Segundo auxiliares de Lula, o caminho que o presidente vislumbra até 2026 tem como carro-chefe o crescimento acima de 2% nos quatro anos de gestão, acompanhado do aumento no emprego e na renda e de uma gestão fiscal suficiente para entregar a meta proposta. Será suficiente? No entendimento do Planalto, se a economia “chegar bem”, o presidente é favorito.

    Também consideram nulas as possibilidades de Jair Bolsonaro rever sua inabilitação para concorrer em 2026, ainda que a direita se sagre vitoriosa nas urnas nas eleições municipais e que Donald Trump vença nos Estados Unidos, o que poderia levar um entusiasmo ao Q.G. bolsonarista. O fator eleições americanas é visto como pouco significativo para a sucessão por aqui, exatos dois anos depois.

    O que, então, poderia atrapalhar o caminho traçado? Na avaliação do entorno lulista, o governo não pode errar com os evangélicos e precisa melhorar a avaliação junto a um segmento fundamental para a vitória de Lula, os jovens, que vêm demorando mais que outros a se reconectar com o presidente, de acordo com as pesquisas.

    O que pesa para a baixa adesão dos jovens, no entendimento do Planalto, é o baixo desempenho das políticas de educação e emprego voltadas para essa faixa. Especificamente, a dificuldade do Ministério do Trabalho, sob o comando de Luiz Marinho, de lhes oferecer perspectivas e a demora do MEC em definir o novo ensino médio entram na conta do que o governo deve.

    A percepção na cúpula do Executivo é que outro fio que aqui andava desencapado, as mulheres, começou a ser recomposto nos últimos levantamentos de avaliação do governo. A melhora é atribuída a fatores como queda na inflação de alimentos e programas voltados a microempreendedores, categoria em que as mulheres estão cada vez mais presentes.

    Um calcanhar de aquiles permanente, sempre citado entre as preocupações do governo, é a comunicação. A mais recente queixa diz respeito à percepção, que vai se tornando generalizada, de que o governo aumentou a carga tributária. Integrantes do primeiro escalão dizem que passa batido nessa narrativa o fato de Lula ter ampliado a faixa de isenção do Imposto de Renda, que atinge uma fatia mais extensa da população do que as medidas pontuais de fim de benefícios e isenções a grupos de grande poder aquisitivo ou lobby.

    O conjunto do road map para 2026, conforme enunciado nas conversas de bastidores, é, portanto, para lá de otimista, sobretudo quanto à possibilidade de a economia prosperar apenas com base nesse mínimo necessário para não estourar a meta fiscal, uma vez que as contas mostram que Haddad e companhia já caminham no limite de cima da margem de tolerância estabelecida por eles mesmos.

    Também parece haver excesso de confiança na capacidade de aglutinação política de Lula, que se mostrou suficiente apenas para uma vitória estreita em 2022 e, desde então, não só não se expandiu, como sofreu retração.

    Por fim, passar dois anos e meio sem reformas de impacto mostra uma estreiteza de projeto que impõe a questão sobre qual será o mote para buscar um novo mandato em 2026, num mundo em transformação cada vez mais rápida.

    Nesse capítulo, aliados de Lula sacam a carta da transição energética e da liderança da economia verde, também usada há dois anos, mas até aqui sem grandes entregas, para além de certo greenwashing de um governo com cara de antigão.

  10. O partido do PL e suas atitudes vergonhosas, querendo ganhar o poder a qualquer custo, sem limites, bando de hipócritas, gente baixa, suja que não representam em nada nosso povo, a não ser os interesses próprios da corja que está infiltrada no partido do PL. O Presidente do Partido do PL de Gaspar não tem mais vez e nem voz, tem que abaixar a cabeça e dizer amém, pois o PL está sendo comandado por pessoas que só pensam em se beneficiar. Oberdan Barni do Republicanos, é um homem de coragem, sem interesse próprio, ele sim representa nosso povo, povo esse que clama por uma saúde descente, vagas nas creches, educação de qualidade e outras necessidades. Oberdan é uma pessoa do povo, com sua simplicidade e humildade e mesmo sem verba partidária (dinheiro para a campanha) irá até o fim pelo nosso povo. Ele sim merece todo o respeito por sua persistência, garra e determinação. Vamos juntos mudar Gaspar!!!

  11. odete.fantoni@gmail.com

    Bom dia.
    Muito obrigado por nos manter informados sobre os acontecimentos de bastidores, silenciados pelas mídias locais.
    Ética não tem partido, nem religião.

  12. CALEIDOSCÓPIO EVANGÉLICO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Mulher, negra, com renda familiar de até três salários mínimos e que frequenta templos pequenos: eis o perfil do evangélico paulistano, segundo pesquisa Datafolha recentemente realizada com 613 praticantes da religião que mais cresce no Brasil. O levantamento é a mais recente evidência de que o segmento evangélico é um universo rico, diverso e complexo, ao contrário do que sugerem muitos dos fundamentalistas que se apresentam como seus representantes no mundo político. Na prática, os templos evangélicos funcionam como um programa de diversidade e inclusão, no qual pessoas oprimidas ou marginalizadas encontram um espaço em que são aceitas e respeitadas.

    De acordo com a pesquisa, 71% dos entrevistados vão a templos de pequeno porte, o que ajuda a explicar o crescimento da fé evangélica em regiões periféricas. Em bairros que nunca conheceram nem igrejas ricamente decoradas nem megatemplos que mais parecem casas de shows, o culto realizado em pequenos espaços, às vezes uma sobreloja ou até mesmo a garagem improvisada de um vizinho, é onde uma camada da população sem acesso a quase nada finalmente encontrou espaço para ser ouvida e reconhecida.

    A adaptação à realidade regional não se dá apenas na ocupação dos espaços físicos. Apenas 19% dos entrevistados mostraram simpatia pelo chamado homeschooling, isto é, a educação das crianças em casa, e não na escola – bandeira da direita evangélica norte-americana, importada aqui pelo bolsonarismo, que tem como objetivo proteger os filhos de uma suposta doutrinação esquerdista e pervertida nas escolas. A questão, que a pesquisa evidencia, é que a escola, no Brasil, não é apenas o lugar de aprendizado, é também o lugar onde as crianças de famílias pobres se alimentam – realidade que foi escancarada na recente pandemia de covid-19. Na hierarquia das famílias evangélicas, ao que parece, alimentar os filhos é mais importante do que protegê-los de ameaças que só existem no discurso de pastores extremistas e dos políticos que exploram a fé alheia para angariar votos.

    Outra pauta importante entre conservadores, a das armas, também não tem aderência entre os evangélicos. Só 28% apoiam que cidadãos tenham acesso a armas para se defender. Ao mesmo tempo que rejeitam o aborto, apenas três entre cada dez evangélicos concordam que mulheres que recorram ao método sejam processadas e presas, punição prevista num infame projeto de lei apresentado pela bancada que se diz evangélica no Congresso. E se 57% dos entrevistados são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma esmagadora maioria (86%) acredita que os templos devem estar abertos a homossexuais e transexuais.

    Para o grupo entrevistado, líderes religiosos também não devem interferir em escolhas políticas. Expressivos 70% são contrários a que pastores indiquem em quem devem votar, enquanto 76% acreditam que a citação de políticos não deve ocorrer durante os cultos. E 33% rejeitam que religiosos ocupem cargos públicos.

    A percepção de que o Brasil vem se tornando um país mais conservador, sobretudo graças ao crescimento dos evangélicos, é muitas vezes acompanhada da visão, sem qualquer embasamento, de que os evangélicos são um grupo monolítico, que docilmente se deixa conduzir por líderes reacionários que pugnam pela redução de direitos de minorias.

    O teste de realidade, porém, já fez com que expoentes do conservadorismo político recuassem. Depois da reação negativa da sociedade em relação ao projeto da bancada evangélica que trataria como assassinas as mulheres estupradas que abortam, com penas superiores às impostas aos estupradores, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, expoente do evangelismo bolsonarista, apressou-se a se dizer contrária.

    Aos que têm a pretensão de cabalar votos entre eleitores que se declaram evangélicos, portanto, a primeira lição que a pesquisa mostra é que esses cidadãos são, como o resto da sociedade, indivíduos com aspirações comuns a todos – querem trabalhar, viver com dignidade e ter paz. Tendo a Bíblia como referência e o templo como sua comunidade, querem apenas respeito por suas crenças e por seus receios.

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