O que esperar de um político, que em 2017, com o argumento de ter necessidade de fazer caixa, alegando não haver Lei maior que assim o obrigava – e não tinha – , no seu primeiro ano de governo, tentou e conseguiu parcialmente com aprovação da Câmara e num acordo com o Ministério Público, desmontar uma Lei benéfica gasparense que o obrigava a colocar verbas no Fundo da Infância e Adolescência?
Eu dissequei este assunto. Fui apedrejado. Hoje diz o mesmo político e arrota por aí que há dinheiro demais no caixa. Mesmo assim faltam obras físicas com recursos próprios e na área social ela continua à míngua contra a cidade e sob desleixo inexplicável.
Pior: sem a devida fiscalização dos órgãos que deveriam zelar por Crianças e Adolescentes em Gaspar.
Esta estranha atitude de Kleber Edson Wan Dall, MDB, seu vice na época, Luiz Carlos Spengler Filho, e hoje presidente do PP e do seu poderoso secretário de Fazenda e Gestão Administrativa da época, Carlos Roberto Pereira, o prefeito de fato e presidente do MDB, era na verdade, o anúncio de que o Estatuto da Criança e do Adolescência, que completou 31 anos recentemente, estava sendo assassinado naquilo em que ele é essencial.
Exagero? A situação do Centro Educativo Maria Henricks é uma das pontas deste imenso e incompreensível iceberg entre nós.
Pelo ECA, tido por muitos como algo esquerdista – isto porque os que o criticam não são filhos sem pais, da falta de amor; porque não nunca foram pobres de verdade, despedaçados e desesperançados; porque não foram algum dia machucados emocionalmente, sequelados e sobras de lares destruídos em algum momento da união -, crianças e adolescentes deixaram de ser consideradas (os) “objetos” e transformaram-se em “pessoas de direito”. Menos em Gaspar! Incrível!
O Centro Educativo Maria Hendricks já foi referência e um lugar de orgulho, inclusão social para mais de crianças e jovens moradores de Gaspar por ano em seus diversos programas educativos, sociais e de lazer.
As fotos deste novo desastre de Kleber e da secretaria de Assistência Social “falam” por si só.
Sobram questionamentos para a secretaria de desassistência social, tocada por um curioso que ganhou a titularidade dela como prêmio por ter perdido a disputa de vereador pelo PP, Salésio Antônio da Conceição, para a secretaria da Educação, tocada por outro curioso na área, o jornalista Emerson Antunes, vindo de Blumenau e apadrinhado pelo deputado evangélico Ismael dos Santos, na vaga do PSD de Gaspar, para o politizado Conselho Tutelar que não consegue enxergar o que se passa lá e denunciar às autoridades competentes.
Estranho mesmo é a inércia Ministério Público Estadual e da Vara da Infância da Criança e Juventude, a que não pode fazer nada pois não é “provocada”.
Aliás, copiei este enunciado do Defensoria Pública do Paraná, num artigo sobre os 30 anos do ECA: há quem diga que as crianças “são o futuro” da humanidade. São elas que terão a oportunidade de mudar, reconstruir e salvar o que, para nós, hoje, já não é mais possível. Mas, para que as crianças tenham condições de alcançar as expectativas depositadas nelas, é necessário que seus direitos estejam assegurados e sejam garantidos.
Então, pergunto: como elas poderão realmente mudar, reconstruir e se salvar, se em Gaspar, por exemplo, lhes é retirado esta oportunidade mínima, decente e humana de inserção pelos políticos?
Se investissem via o FIA já seria um alento. Mas, não. Estão parados lá no caixa da prefeitura mais de R$ milhões. Incrível. Nem projeto, nem iniciativa, nem resultado a favor de gente vulnerável.
Os mesmos políticos que foram às suas redes sociais e estamparam manchetes de rádios e fomentaram conteúdos jornais, louvando o que funcionava, para se passarem falsamente de corações bondosos, agora permitiram à destruição física do ambiente e do projeto em si de inclusão dessas crianças e jovens na busca de si próprias e de um futuro melhor na sociedade?
Ai estão alguns links. Acesse-os e reflita: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2596164807120682&id=400337996703385&sfnsn=wiwspwa
Mais um ano sem Natal no Maria Hendricks. Ao menos se poupa as fotos com os políticos que ficaram omissos contra a cidade, a cidadania e as crianças e adolescentes.
A destruição do modelo de inserção do Maria Hendricks é pior do que a destruição física e abandono das suas instalações em tão pouco tempo e que chocam aos nossos olhos. Esta é a Gaspar do futuro, a que verdadeiramente Avança e se esconde na marquetagem dos políticos já doidos e atrás de votos dos incautos.
Vergonha.
Vão me apedrejar de novo por querer que crianças e jovens em situação de vulnerabilidade em Gaspar – uma cidade dormitório, um centro de migração – tenham vida e oportunidades e não se tornem párias e nossos próprios algozes?
O fechamento do Centro Educativo Maria Hendricks é também o fechamento de uma porta de oportunidades e mitigação importante que o poder público, caolho e insensível dos poderosos de plantão aos gasparenses.
Como me explicou um educador social ao questioná-lo sobre este caso, a ausência dessas aulas, oficinas, convívio e acompanhamento, impediam, ou ao menos mitigavam, de alguma maneira, os riscos sociais a que estas crianças e adolescentes estavam expostos, bem como os atos infracionais, e vários tipos de violências intrafamiliares entre outros.
Hoje, nada acontece. Nem oficina. Nem educação complementar. Nem convívio. Nem mapeamento. Nem acompanhamento. Nem inserção. Está lá um equipamento público destruído.
Uma destruição e desperdício de dinheiro público com o abandono do prédio, simbolizados exatamente naquilo que se reflete nas crianças e jovens de hoje e seu futuro: mais abandono. E cruel!
Estes são os nossos políticos atrás de votos, atrás de acordos, atrás de bíblias. Pecadores contumazes. No fundo, ímpios. Só possuem fachada religiosa a que deveria no mínimo se apiedar dos mais expostos. Vendilhões não do templo, mas da moral. Irresponsáveis. Acorda, Gaspar!