Esclarecimento. Nunca fui filiado a partido algum na minha vida. Mas, sempre fiz escolhas e expressei claramente minhas opiniões, mesmo que em alguns momentos contraditórias quando fui obrigado escolher entre os piores dos piores. Nunca fui candidato a qualquer cargo político. Mas, nunca deixei de votar na minha vida, mesmo não estando mais obrigado a isso. Farei escolhas até quando puder. Isto é cidadania antes de ser um ato democracia representativa.
Texto parcialmente revisado às 11h50min deste 12.09.2024. Este seria, a seguir, o artigo de segunda-feira passada. Tive que recuar. Antes, porém preferi esclarecer outra narrativa criada pelos políticos matreiros para justificar à razão pela qual a polícia, depois de longo e tenebroso inverno, resolveu bater aqui às vésperas das eleições municipais: “A CULPA É DA OPOSIÇÃO”, DIZ KLEBER PARA SE LIVRAR DA PARTE QUE LHE CABE. É PARA SALVAR A CAMPANHA ELEITORAL DA MÁ REPERCUSSÃO DEVIDO À AÇÃO POLICIAL QUE BUSCOU PROVAS PARA INSTRUIR A ” OPERAÇÃO LIMPEZA URBANA”. NO FUNDO, É A FALTA DE OPOSIÇÃO, IMPRENSA LIVRE, BEM COMO A FISCALIZAÇÃO DOS CIDADÃOS, DA CÂMARA, DO MP, DO TCE E DA POLÍCIA QUE LEVOU A ESTE RESULTADO Não vou me alongar. Basta relê-lo.
Só para refrescar a memória dos “esquecidos” – é entre aspas mesmo, pois político não esquece; ele manipula, ele cria estórias, ele descontextualiza propositadamente, ele transforma repetidas mentiras em verdades “irretocáveis” – ou dos que vivem – eleitores, eleitoras e gente que sempre esteve alienada do que, verdadeiramente, acontece nos bastidores da política gasparense – dopados pelos poderosos de plantão e que estão na rua pedindo votos para continuar na mesmice volto a repetir: a culpa no fundo, é nossa mesmo. Ela fala das nossas escolhas e da nossa impotência em gerenciar e fiscalizar nossos representantes.
Então, nada é culpa da tal oposição, como querem fazer crer agora o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, o vice prefeito Marcelo de Souza Brick, PP, secretários, funcionários, comissionados devedores de lealdade ao grupo que está no poder de plantão e até vereadores da Bancada do Amém – onde estão a favor incondicionalmente dez (eram onze, Francisco Hostins Junior, ex-MDB e agora no PL desistiu muito recentemente) dos 13 vereadores. Eles para defender o partido, o poder de plantão e os políticos, agora juram estar de mãos limpas, estão tratando de salvar a própria pele dessa sujeirada toda que corre solta por aí. Mas, isso é para outro comentário.
Parte do que veio à tona na “Operação Limpeza Urbana” deflagrada na semana passada aqui em Gaspar para se coletar de provas e amarrar as pontas soltas no contrato da Ecosytem, de Curitiba, com a prefeitura de Gaspar, aconteceu exatamente por falta de oposição, por falta de transparência, por falta de imprensa investigativa e livre, por falta de atuação mais firme dos órgãos de fiscalização como o Ministério Público, e principalmente o Tribunal de Contas de Santa Catarina.
Como mostram os dados disponíveis, este contrato vem desde 2017, o primeiro ano de governo de Kleber com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, seu ex-vice. Como suspeitam investigadores, isto não aconteceu só aqui. E se assim foi, será um método, entrelaçado entre agentes, empresários, empresas, agentes políticos e servidores como foi a “Operação Mensageiro” (lixo e limpeza urbana) que levou gente de todo lado para a cadeia, sem falar em renúncia e cassação de prefeitos e vices, alguns desses nomes, inclusive, referência na política catarinense.
SE VOCÊ NÃO PODE VENCER O SEU INIMIGO, JUNTE-SE A ELE
Pior mesmo, foi ver e constatar – até porque são fatos históricos -, que políticos sendo eleitos para serem oposição em Gaspar, mas diante da vida difícil que é ser oposição em qualquer lugar e circunstância – e pior aqui onde há um rito e uma estrutura de vingança instalada contra quem tenta esclarecer o que lhes parece nebuloso -, criaram dificuldades e se tornaram situação.
Agora, diante desta circunstância onde são atores de um mesmo ato e enredo, estão, mais uma vez, abraçados à beira do precipício em suas carreiras políticas ou funcionais. Estão se explicando, choramingando e em lugares sagrados pedindo por milagres por coisas próprias do diabo. Estão, como sempre fizeram, intimidando e calando quem tem voz para expor estas mazelas ou culpando e até cobrando explicações públicas dos adversários, alguns deles, em plena reta final da campanha eleitoral. Quando a esperteza é demais, ela come o dono, dizia o ex-primeiro primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves.
Quando Kleber teve certeza de que estava em desvantagem, precisava ceder e recompor suas forças políticas vencedoras em outubro de 2016 e que ele a armou no ensaio de 2012?
Quando em 2017 percebeu que não tinha uma maioria absoluta e fiel na Câmara de vereadores. Ela era um pêndulo. E esta maioria, quando aparecia para ele, era frágil e negociada. Quem era o calo e o líder dessa oposição? O vereador Roberto Procópio de Souza, um histórico do PDT, neste ano pulou para o MDB para se salvar na reeleição, sempre ligado a esquerda e aos governos do PT. Ele chegou a trazer a tevê de Blumenau, coisa cara ou difícil, para naqueles dias ao vivo no recinto da Câmara, ao meio dia, para mostrar que os juízes da Comarca estavam lhe concedendo mandado de segurança obrigando o prefeito Kleber lhe responder os seus requerimentos.
Eram dias de desgastes duro para o governo Kleber, Luiz Carlos e Carlos Roberto Pereira, o prefeito de fato do primeiro mandato de Kleber. Bateu em retirada depois de comanda a campanha de 2012, a 2016 – onde foi manda tudo – e a de 2020. O prefeito de fato do segundo mandato de Kleber estava sendo até há pouco o deputado Federal de Blumenau, Ismael do Santos, PSD, operado pelo faz tudo e irmão de templo, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. Pereira pediu o boné para não disputar audiência com os áudios editados das múltiplas conversas cabulosas. Agora, é o braço direito de Kleber na Fecam – Federação Catarinense dos Municípios. Ismael está calado e distante. Atua nos bastidores.
Retomando, depois de contextualizar aos neófitos em política gasparense.
Como escrevi acima, eram dias de desgastes ainda mais, depois de terem testemunhados, sob incredulidade e pasmaceira, o médico cardiologista, o neopentecostal e irmão de templo de Kleber, marinheiro de primeira viagem, outsider político, Silvio Cleffi, no nanico PSC, ter sido levado à presidência da Câmara, em voto secreto, desbancando e escrachando à comemoração familiar preparada pelos próprio Kleber no recinto do Legislativo para a eleição “certa” de Franciele Daiane Back, PSDB, à presidência da Casa.
Não vou trabalhar com cronologia, como sempre faço, para não virar mais um textão e mesmo assim já está encaminhando para isso. Resumo: ao final, Roberto Procópio de Souza, PDT, se tornou governo e Kleber pode respirar com os seus e Carlos Roberto Pereira, MDB, ser o centro de tudo com mão de ferro, inclusive para punir os críticos. Instalou-se o “corpo fechado”. Mais, do que isso, Procópio virou um ferrenho defensor do governo. Tanto que o mapearam para ser presidente da Câmara. Faltou o governo combinar com os seus. E como aconteceu com Franciele no ano anterior, Procópio foi traído no escurinho do voto secreto, que mais tarde deixou de existir, exatamente por estas duas derrotas fruto da falta de articulação e da imposição de nomes não identificados com a história dos que estão no poder de plantão.
A OPOSIÇÃO NA SITUAÇÃO
O prefeito de fato da época, Carlos Roberto Pereira, advogado, presidente do MDB de Gaspar, o que queria fazer do MDB daqui – e conseguiu, pois é só olhar para esta eleição – igual ao já morto MDB de Blumenau, o coordenador a campanha de 2012 de Kleber com Rodrigo Boeing Althoff, então no PV, e foi vitorioso em 2016, perdeu a empáfia depois da sua cara reforma administrativa que passou na Câmara e até as melancias se encaixarem melhor, ele se exilou como interino secretário da Saúde, sem saber a diferença entre esparadrapo e gaze.
Tudo ia outra vez sob controle quando apareceu, via o PT, em ano de eleição, em 2020, a drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho, redutos de Dionísio Luiz Bertoldi, PT, e do mais longevo dos vereadores de Gaspar até hoje, José Hilário Melato, PP, que estava presidente do Samae, e deixou na Câmara, um suplente boca-fechada, o neopentecostal Ademir José de Moura, PSC.
Conseguiu-se instalar uma CPI. O PT, o preparado, o esperto, foi comido nesta. Ficou sem voto, porque Dionísio foi “escolhido” numa comissão de quatro vereadores, por seus pares e sob a inteligente e marota manobra do MDB, como presidente da CPI. E como presidente não vota, a não ser em desempate, e como isso era algo quase impossível neste jogo bem armado, Dionísio só pode falar. Cícero Giovane Amaro, PSD, foi escolhido relator. Cedeu no relatório e mesmo assim não valeu.
Entrou em cena, o vice relator, Roberto Procópio de Souza, PDT. Ele em dobradinha com Francisco Hostins Júnior, MDB, ensacaram a CPI. Tudo para debaixo do tapete. Qual a alegação, as provas já estavam enterradas na própria Frei Solano. A falta de projeto, o número de tubos a mais, o tipo de contratação da obra, acabaram sendo detalhes desprezíveis nesta queda de braço que livrou Kleber, Luiz Carlos, Melato e Jean Alexandre, engenheiros fiscais, entre outros de culpa. Fotos acima mostram o depoimento de Melato, de Jean e a foto prova dos serviços que chocou, mas não serviu para nada. Sobrou para um jovem engenheiro vindo de fora recém contratado do Samae que bateu em retirada, quando percebeu que estava enroscado e sozinho. Mesmo assim, saiu culpando parte da imprensa que se interessou sobre o assunto. Novidade?
Para não correr riscos, Kleber com os empresários que o apoiavam, PP, PDT e PSDB aceitaram descartar Luiz Carlos. Anularam o voo solo do possível adversário com chances e trouxeram Marcelo de Souza Brick, PSD, para dentro do jogo como vice e muitas promessas que políticas que ficaram pelo caminho, onde correu o risco de nem ser o candidato sucessor de Kleber. Antes tivesse feito isso se olhasse para onde tudo foi desembocar nos dias de hoje.
Por outro lado, quando abriram as urnas de outubro, a CPI que salvou Melato e vejam só, Jean Alexandre dos Santos, que como secretário de Obras iniciou a drenagem sem projeto – segundo a CPI – e depois a repassou para o Samae, embrulhou seus atores. O suplente dela, Silvio Cleffi, que deixou o PSC e foi dar no PP de Melato, não foi reeleito em 2020 por ação deliberada de vingança dos poderosos de plantão. Não era confiável. O outro suplente da CPI, Francisco Solano Anhaia, MDB de 1.180 votos caiu para 933. O mais prejudicado de todos, foi Cicero, funcionário do Samae, que sabia de todas as entranhas e alimentou a CPI. Ele de 756 votos caiu para míseros 254. Teve que trocar o PSD pelo PL.
O estrago também abalou o campeão de votos Francisco Hostins Júnior, então no MDB, depois de ter sido secretário de Saúde do PT e agora está no PL. Hostins Júnior saiu 1954 votos em 2016 para 1070 em 2016 por ter atuado como poucos para enterrar aquela CPI da drenagem a favor de Kleber e os seus; Dionísio de 1032 para 572, Melato de 927 para 774 e outro que não se reelegeu foi Roberto Procópio de Souza, PDT, apesar de ter sido o único que aumentou a sua votação (de 481 para 585 votos). A vaga de Procópio foi ocupado pela novidade chamada Amauri Bornhausen, PDT, que fez 1059 votos contra os 458 que conseguiu 2016.
Então, encerrando.
A operação da polícia que se deu na semana passada (foto ao lado) não é coisa da oposição como alegam, falsamente, os envolvidos direta e indiretamente. Esta alegação é a mais fácil de se usar para quem está numa reta final de campanha eleitoral e não tem o que explicar e se explicar, se complicar e envolve outros. Trata-se, na verdade da falta oposição crível e persistente. Essa gente ficou solta e extrapolou. Essa gente está criando narrativas para expiar seus próprios graves pecados contra a cidade, numa administração onde a falta de transparência é algo relevante para todas as dúvidas que se questionam até aqui. Simples, assim!
A falta de oposição, por exemplo, se deu na armada, sem disfarce algum na mais recente CPI. O assunto foi escolhido a dedo para ser enterrada e dar o carimbo de inocentes a todos. Por que? Escolheu-se algo que não envolvia recursos públicos. E para quê? Para abafar o caso dos áudios de Jorge Luiz Prucinio Pereira, PSDB (foto abaixo em depoimento à CPI secreta), onde mais uma vez estava envolvido Jean Alexandre dos Santos, MDB, hoje no PSD, ex – interlocutor desses áudios como ex-secretário de Planejamento Territorial. E ontem à noite circulou mais um áudio inédito, depois de meses que eles desapareceram. Trato disso numa nota abaixo na sessão Trapiche.
Desta vez houve troca e retribuição de favores entre os poderosos de plantão. Melato atuou como presidente e mão de ferro desta CPI, praticamente, secreta, contrariando qualquer mínima transparência. Na relatoria, nada mais, nada menos, do que Roberto Procópio de Souza, agora no MDB. Nela estavam ainda – porque as CPI agora tem cinco e não mais só quatro membros – a presidente do MDB, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, o líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, bem como o suplente de vereador, Norberto dos Santos, o Betinho, MDB, o que teve a casa visitada pela polícia à procura de documentos para lastrear a “Operação Limpeza Urbana”.
A verdadeira oposição é a esperteza do tal “corpo fechado” do próprio governo. A que come o dono.
Como alega-se, Aristóteles, discípulo de Platão, 300 e tantos anos antes de cristo dizia: “o ignorante afirma, o sábio duvida, e o sensato reflete“. Se olharmos os resultados das eleições de 2016 e 2020 para vereadores envolvidos neste abafa entre eles e com doentia ação de tornar amiga oposição do primeiro mandato e pó a do segundo mandato de Kleber, temos que esperar os resultados das urnas de seis de outubro de 2024 para refletir sobre qual oposição tão terrível o prefeito Kleber e os seus amigos poderosos tanto culpa, reclama e está com medo.
Kleber e seu entorno deveria cobrar de quem lhe prometeu o “corpo fechado” eternamente e está permitindo as instituições, no papel dela, finalmente, bisbilhotar o que arrota como imune. Nada como um dia após o outro. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Operação Limpeza Urbana I – O suplente de vereador Norberto dos Santos, ou Betinho da Lagoa, MDB como é conhecido entre os amigos e no meio político- na Câmara está no lugar do titular do dentista e funcionário público municipal, José Carlos de Carvalho Júnior e que está, mais uma vez, secretário de Saúde. Betinho não se escondeu. Foi chorar as pitangas nesta terça-feira na tribuna depois que a polícia bateu na casa dele para vasculhá-la atrás de documentos para atar ou desatar os nós desta operação que quer esclarecer as faturas pagas, confrontando-as com as medições dos serviços previstos no contrato da Ecosystem, de Curitiba.
Operação Limpeza Urbana II – O vídeo do suplente Norberto dos Santos, MDB, deste momento de lamúria, que está em campanha à reeleição e acha até que o melhor de tudo é desistir disso, é de dar dó. Betinho da Lagoa não está na primeira campanha, nem em funções na secretaria de Obras e Serviços Urbanos. Ele sabe muito bem como sempre a fez para criar amizade e votos: “ajudando” os eleitores e eleitoras na reta final de campanha, usando das influências dele na secretaria de Obras, empreiteiros etc e tal. Ser um líder comunitário, como me disse um leitor da coluna, não significa fazer favores com os bens comuns. Intermediar, talvez!
Operação Limpeza Urbana III – As limitações que o suplente Norberto dos Santos, MDB, alega, só agora, e para se safar de suposta responsabilidade civil e até criminal, não podem prosperar. Exatamente por causa dessas limitações, o Betinho da Lagoa – eu que não sou tão limitado assim, sempre fiz isso naquilo que não dominava completamente – deveria estar cercado de gente mais instruída e não ter assinado, enquanto não estivesse seguro, o que diz que assinou, como assinalou no vídeo, ao tempo de “pessoas” que pegam três meses de férias como se queixou (licencia prêmio). O discurso de Betinho, gravado, se apensado ao inquérito, já é uma confissão. Nem mais, nem menos.,
Operação Limpeza Urbana IV – Norberto dos Santos, um homem de fé católica, pode ter sido usado e não será passando a mão publicamente no manto de Nossa Senhora de Aparecida, na sua Capela de São Bráz, que o livrará daquilo que assinou. Uma delação premiada é o melhor remendo para ele e uma desforra para quem o colocou nesta enrascada. Entretanto, cada um escolhe a cruz que quer carregar. O manto da Santa não poderá ser manchado por coisas do pecado material.
Operação abafa tudo I – Com a “Operação Limpeza Urbano” batendo as portas de políticos e servidores gasparenses, os poderosos fizeram o mais sabe fazem além de ludibriar na marquetagem e comunicação: partiram com tudo, mais uma vez, para calar os que revelam deste assunto publicamente. Foram a Justiça em busca de proteção. Primeiro na eleitoral, obrigada a ser mais rápida, alegando danos. Teve gente que foi obrigada a tirar o material das suas redes sociais.
Operação abafa tudo II – Se aqui tudo é enterrado por meios coercitivos oficiais e extraoficiais, veja este exemplo de Caçador, no Vale do Rio do Peixe, muito assemelhado. Os políticos também reagiram pedindo para se esconder e punir os adeptos da transparência. Não conseguiram. Ao contrário. Veja o vídeo abaixo feito depois que a Justiça negou o pedido de cala boca e censura dos políticos envolvidos. Quando os políticos e gestores públicos tiverem certeza que correm este tipo de risco, pensarão duas vezes, respeitarão a cidade, os cidadãos, as cidadãs e nossa escolhas serão mais conscientes e com qualidade. Muda, Gaspar!
Ao reclamar da falta de atendimento aos pedidos dele e dos próprios vereadores da base do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, pelo próprio Executivo amigo desses das bases, nas secretarias do governo de Gaspar, segundo o vereador Alexsandro Burnier, PL, quando não há guarda familiar do lugar de secretário, dois ou três mandam nelas, em conflitos que prejudicam a população. Até aí tudo bem. Mas, pelo jeito a coisa está bem pior.
O presidente da Câmara, o mais longevo dos vereadores e em campanha para a reeleição, José Hilário Melato, PP, que em tese está na campanha governista, que possui três secretarias (Assistência e Bem Estar Social, a de Agricultura e Aquicultura, e a de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda, além da de lambuja a chefia de gabinete perdida agora para a Operação Limpeza Urbana) emendou: “isso é não se entende no atual governo, é uma vergonha”.
É um recado, ou tardiamente, diante de alguma dificuldade, está matreiramente, mais uma vez se livrando da caca que está em vota de todos que estão no governo de plantão? Ou seja, a esperteza está comendo o dono e o experiente já está descolando para salvar mais um mandato, mesmo com toda a influência que teve nos oito anos do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB?
Não vai mudar nada. O engenheiro candidato a vice-prefeito (que já foi vice de Kleber Edson Wan Dall, MDB, em 2012 pelo PV), Rodrigo Boeing Althoff, PL, gravou uma peça mostrando a interminável recuperação da Rodovia Ivo Silveira entre Gaspar e Brusque pelo governador Jorginho Melo, PL, querendo associar a eleição dele a novos recursos para Gaspar.
Sucessão de erros. Primeiro deveria estar defendendo a duplicação da rodovia. Vai e volta-se como se estivesse num respeitoso e vagaroso cortejo funerário. Segundo. O próprio engenheiro político, tinha como fundo carros parados na rodovia, congestionamento daqueles tão comuns que vão de Gaspar a Brusque. Era sobre ele, que deveria estar discutindo solução no presente. No futuro será ainda pior. E contra a cidade e seu desenvolvimento. Terceiro, esta restauração, numa região rica, promissora, de algo essencial que virou gargalo, é tardia e não são recursos só para Gaspar, como insinua. São para uma região.
E por último, qual é mesmo a obra referência que o governo Jorginho Melo, PL, patrocinou para Gaspar e char de sua? Político em campanha eleitoral que gosta de passar vergonha.
Ontem à noite, previsivelmente, saiu mais um áudio editado (agora é moda de chamá-los de recorte), daqueles cabulosos, envolvendo o ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, ex-interino de Planejamento Territorial, ex-presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar e presidente do PSDB, e hoje o braço direito – e forte – do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, na presidência da Fecam – Federação Catarinense dos Municípios. Kleber como presidente da Fecam está exposto na mídia estadual. Para o bem e o mal. Se não cuidar….
Na interlocução deste áudio editado que virou febre nos aplicativos de mensagens e ninguém sabe o autor e origem, outra vez, o ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos, ex-secretário de Planejamento Territorial e ex-presidente do Samae de Kleber Edson Wan Dall, MDB, até semana passada, Jean Alexandre dos Santos, ex-MDB, e hoje no PSD, envolvido na continuidade do atual governo.
Qual o tema do diálogo do diabo, mais uma vez? Aquilo que deveria ser feito ou negado, diante da lei existente, mas sendo “negociado” pore poucos, com a caneta na mão, ao arrepio das formalidades legais. Desta vez, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, é citado diretamente. Como também é nominado empresários que cobravam soluções de entraves que a prefeitura estaria colocando para seus empreendimentos particulares.
E quem fez a montagem do áudio misturou, propositadamente, coisas explosivas como a suposta relação de tudo isso com o deputado Federal, padrinho político do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, do homem de confiança Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB perante o esquema político da igreja neopentecostal daqui e de Blumenau, Ismael dos Santos, PSD, na foto acima com o Kleber. Pior: agregou-se outro até então longe das traquinagens para burlar o Plano Diretor e limitações ambientais aos amigos e sacanear os adversários ou críticos: o milionário saco sem fundo do Hospital de Gaspar, que mesmo consumindo muito dinheiro não consegue dar à devida contrapartida para a população gasparense.
Não vamos ser ingênuos. Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, de há muito está no bico do corvo e mesmo assim, fingindo que nada é com ele. Está “livre e solto” com uma proteção incomum e mais do que isso: provocando. Orgulha-se do “corpo fechado”. No outro lado, está o desafeto e tão astuto quanto, Jean Alexandre dos Santos, PSD, mas cada vez mais vulnerável. Próximos a Jean Alexandre juram que ele está prestes a abrir o jogo numa delação premiada. Conhecendo ambos, alguém está pedindo truco. E neste jogo, Jean Alexandre já levou vantagem e teve o improvável: o Samae, o único caixa para movimentar a cidade neste tempo de caixa zerado na barrosa.
Gaspar ganharia muito se o suplente de vereador Norberto dos Santos, MDB, contasse como foi levado ao erro para assinar a papelada que provava que se roçava mais área do que existia em Gaspar para roçar e se Jean Alexandre dos Santos, PSD, levasse não os áudios picados ao sabor das chantagens, mas as intermináveis horas de gravação ao Ministério Público, ou ao Gaeco, para perícia, análise e enquadramento de supostas ilegalidades dos envolvidos. Até agora só gente pequena está com a corda no pescoço para pagar o pato dos peixes grandes.
O PT e a esquerda do atraso realmente tratam todos como analfabetos, ignorantes e desinformados. Dizem por aí que vão incluir as minorias no governo se eleitos como se os outros espectros ideológicos são culpados pela exclusão de todos os tipos dessas minorias. Tratam gente que empreende – que arrisca, que emprega, que se endivida, exposta a quebradeira, que vê o governo petista – com ajuda de deputados e senadores nossos representantes – todo o dia aumentarem impostos para cobrir rombos da máquina governamental, atrasada, emperrada na burocracia, empregadora descomprometida com resultados, cheia de privilégios de ricos, aproveitadores e exploradores. Sucesso, só o deles petistas e da esquerda do atraso, estes sim, podem viver em castas. Odeiam a classe média – a que verdadeiramente sustenta a máquina estatal – ou esclarecidos….Criam rótulos. Todos pejorativos. Bullying.
E para provar que os eleitores e eleitoras são uns tolos, na propaganda eleitoral – o PT de uma forma geral – diz esta eleição não deveria ser tratada como uma disputa ideológica. Mas, é o PT e a esquerda que nos separa entre nós e eles, sempre. De um lado os puros, os progressistas, os democratas. De outro, os impuros, os retrógrados e os antidemocratas. No fundo, essa gente está perdida, e na própria esperteza. E Brasília virou um problema. E a penúltima se chama Sílvio Almeida, a referência.
Agora aqui na nossa região, o PT e a esquerda do atraso estão falando de e dando voz para os venezuelanos. Legal. Só esqueceram de dizer na mesma propaganda eleitoral demagógica, errática e enganosa, de que o próprio PT e a esquerda do atraso de dizer, por sua presidente, deputada paranaense Gleisi Hoffmann – e não se retratou até agora -, por nota oficial, ou seja, não é discurso da direita ou extrema direita, solidarizou-se com a eleição do narcoditador Nícolas Maduro, julgando-as aquelas eleições – e outras – limpas e livres. Nicolás Maduro deu um baile em Luiz Inácio Lula da Silva e o mago das relações internacionais, Celso Amorim. Estão tomando chá de camomila, recomendado pelo ditador aos dois vestidos de democratas.
Se há venezuelanos entre nós, é por causa da ditadura, da pobreza imposta pelo ditador e da perseguição implacável a quem pensa diferente dele e seu regime. Nem mais. Nem menos. Os venezuelanos, nos exemplos dos nossos antepassados – que passaram por algo muito parecido – deveriam ser estimulados a construir, sem subjugar a falsos discursos de políticos oportunistas por votos fáceis. E não serem atiçados por esses políticos ideológicos brasileiros, avalistas de Nicolas Maduro, para a vingança contra os que exatamente os acolheram, pois este é o nosso espírito e ele não pode morrer.
Quem mesmo o PT e a esquerda do atraso querem incluir, se nos exemplos de democracia que nos dão são os piores possíveis? O PT e a esquerda do atraso, finge desconhecer, ignora, rejeita e distorce a nossa própria história e desrespeita nossos antepassados. Ora, então, como podem melhorar o que precisa avançar se querer – como imposição – destruir a nossa memória e o nosso orgulho?
Quem fez esta região e cidades serem assim qualificadas e referências, incluindo os defeitos que precisam ser corrigidos, foram, em sua maioria, empobrecidos – mas não ignorantes, pois a maioria era culta – que fugiam da fome, da miséria e da tirania dos enclaves europeus. Nossos sobrenomes revelam isto. Qual a razão dos políticos de discursos fáceis, também acolhidos, em insistir, reiteradamente, para nos envergonhar dos nossos sobrenomes, da nossa história, do nosso legado, das nossas manifestações culturais?
E foi com trabalho – duro, braçal, comunitário e cooperado desde 1850, e em Gaspar bem antes disso, até porque no que tange aos imigrantes alemães estamos comemorando 200 anos -, sacrifícios impensáveis para os dias de hoje, que esses sonhadores e desbravadores superaram. Com eles, incluindo a divergência, forjaram cidades fortes em todos os aspectos econômicos, sociais, inovação e políticos.
Agora, tudo isso, estão sendo condenados pelos políticos aproveitadores de hoje, os quais rotulam a nossa recente história fruto de elite a ser eliminada. Meu Deus. E tem gente que acredita nisso. Os políticos que pedem votos são representantes daquilo que somos e fomos. Os que possuem vergonha disso, ou nosso passado, tratando como uma somatória de erros ao ponto de vista pessoal ou da atualidade, sem enxergar a contextualidade da época, não merecem nos representar. Não se exclui e se rasga história. Respeita-se.
Parece que em Blumenau há um candidato que o principal objetivo é colocar todos na cadeia. Ainda não mudou a sintonia da profissão, como ficou clara na propaganda eleitoral nos últimos dias. Pelo jeito vai faltar eleitor e eleitora no dia seis de outubro. Já em Gaspar, os políticos tentam enquadrar a polícia e algemá-la naquilo que é obrigação dela fazer para proteger a população de políticos fora da lei. Triste dicotomia. Muda, Gaspar!
Escutando o áudio editado que está circulando na cidade, fica claro como os políticos tratam os empresários, mesmo os que lhes servem como filhos da… Quem viu o que se fez com a Verde Vale… Impressionante.
Desfile de Sete de Setembro em Gaspar. Político candidato, como funcionário da prefeitura, arrumou um jeito para desfilar e aparecer achando que estaria ganhando votos. Enquanto isso, até um cachorro apareceu desgarrado perante o palanque. E não abanou o rabo para as autoridades.
Esperteza. Vereador experimentado, conhecedor da legislação, foi obrigado pela legislação a tirar a sua propaganda eleitoral que evelopava seu comitê no Centro da cidade.
Amanhã, se não falhar mais uma vez, tem pesquisa eleitoral em Gaspar. Todos nervosos. Debate de ideias entre os candidatos, nada, nadinha de nada. Só entrevistas vazias e separadas. Propaganda. Nada de confrontação.
Tem candidato que vai precisar de quatro orçamentos já do que já foi aprovado na Câmara para o ano que vem para fazer menos da metade que está prometendo logo que tomar posse no primeiro ano. Também está defasado no timming: o mandato é de quatro anos apenas. Para o que promete é preciso de dez. Tempos estranhos. A campanha em Gaspar virou varejinho. E um repetindo a promessa do outro.
Para lembrar: Jean Alexandre dos Santos, foi levado a administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, pelo ex-prefeito de fato, ex-presidente do MDB, ex-coordenador de várias campanhas de Kleber, ex-secretário da toda poderosa secretaria de Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira. Ele sumiu. Mas, fotos mostram atuam em favor de candidatos a vereadores.
Quem foi o primeiro fiscal do contrato da Ecosystem que a polícia procura por provas, enquadrar ou descartar supostas irregularidades denunciadas na tal “Operação Limpeza Urbana’ e que abalou o meio político gasparense na quarta-feira passada? Gelásio Muller, o Daco Muller. Ele é genitor de Douglas Francisco Muller, MDB, atual secretário de Obras e Serviços Urbanos, que é primo de Roni Jean Muller, MDB, ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos, licenciado, exatamente para ser candidato a vereador, no lugar do atual líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB. E quem está chorando? É o suplente Norberto dos Santos, MDB, o Betinho da Lagoa. Como se vê, em Gaspar, tudo se entrelaça, se esconde e se ameaça. Muda, Gaspar!
12 comentários em “FOI O MDB E O PP UNIDOS QUE ABRIRAM A PORTEIRA PARA AS DÚVIDAS DE ONTEM E HOJE QUANDO COMPUSERAM COM OS OPOSITORES (PDT). FIZERAM DELES SEUS ESCUDEIROS E ENTERRARAM A PRIMEIRA CPI: A DA DRENAGEM DA RUA FREI SOLANO. ESTE ANO REPETIRAM A DOSE NA DOS ÁUDIOS VAZADOS. E ELES ESTÃO DE VOLTA”
AS AUTORIDADES E A AUTORIDADE CLIMÁTICA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Não se sabe o formato que terá a Autoridade Climática anunciada por Lula em Manaus, mas sabe-se como a ideia foi queimada em 2023, depois de ter sido prometida durante a campanha eleitoral.
Contra a criação dessa entidade militaram dois grupos com interesses quase antagônicos. De um lado estavam os que pretendiam defender o meio ambiente, protegendo seus quadrados de poder na burocracia. De outro, estavam os interessados em preservar um estado de coisas que mantinha a defesa do ambiente no mundo do palavrório. Nenhum dos dois queria a Autoridade Climática. Prevaleceram e continuam detestando a ideia.
Passados quase dois anos, o tamanho da crise refrescou a memória de Lula e a Autoridade Climática vem aí. Para a turma que queimou-a em 2023, trata-se de desonrá-la. Como? Reciclando os movimentos de 2023.
Antes da posse, tratava-se de decidir onde ficaria a Autoridade Climática. Poderia ser ligada à Presidência ou ao Ministério do Meio Ambiente. Colocá-la no organograma do ministério seria uma girafa semelhante à ideia de se jogar a Agência de Vigilância Sanitária dentro do Ministério da Saúde.
Como a criação da Autoridade Climática era um promessa para os primeiros cem dias, em abril de 2023 a ministra Marina Silva informou:
“Se Deus quiser, em breve, como parte dos compromissos do presidente Lula de criar a Autoridade Nacional do Clima, e isso vai acontecer à medida que tenhamos um melhor desempenho fiscal.”
Como se viu, Deus não quis. Na frase da ministra havia um alerta: “Vai acontecer à medida que tenhamos um melhor desempenho fiscal.” A promessa de campanha havia subido no telhado. Em agosto a criação da Autoridade Climática foi sumindo e queimou-se.
Como explicou a ambientalista Samyra Crespo, “divergências quanto a quem se submeteria ou responderia essa Autoridade Climática acabaram por obstaculizar a sua criação. (…) agora é correr atrás do prejuízo: mais de 3 milhões de hectares de mata nativa queimada.”
Tudo o que Lula disse e fez nas últimas semanas poderia ter sido feito em 2023 e, por ainda estar no mundo das palavras, continua precisando ser feito.
Os interessados em bloquear a Autoridade Climática continuam nos mesmos lugares. Dada a emergência, estão na defensiva encastelando-se na possibilidade de barrar uma Medida Provisória que pretenda criar a entidade. Sem o apoio da turma que matou a ideia para preservar seus quadrados de poder dentro da burocracia, poderão ser isolados os agrotrogloditas que defendem o atual estado das coisas. Quarta-feira completa-se uma semana da reiteração da promessa de 2022. Até as cinzas sabem que a criação da Autoridade Climática terá dificuldades para passar pelo Congresso.
A tragédia imposta ao país constrangeu Lula. Se ele apressar o envio da MP, poderá obrigar parlamentares a defender causas indefensáveis.
A SÍNDROME DA REIVINDICAÇÃO SUCESSIVA
Imagine-se um magano interessado em bloquear a criação da Autoridade Climática. Ele não é doido para combater a ideia. Afinal, ela foi engavetada por quase dois anos sem que uma só alma pusesse a cara na vitrine. Hoje, restam-lhe dois caminhos. Num, trata-se de desossá-la. No outro, argumenta-se que, antes da criação dessa Autoridade, é preciso fazer isso ou aquilo.
É a Síndrome da Reivindicação Sucessiva. Para se fazer A, é preciso antes fazer B e antes de B, precisa-se de C. Assim, não se faz C, nem B ou A. Não fazendo nada, preserva-se o poder.
Essa síndrome funciona às maravilhas na questão da legalização de lotes urbanos. Não se pode dar escritura a quem vive numa favela porque a terra não está titulada, falta a infraestrutura e não há o arruamento legal.
Trabalhando com uma equipe pequena, ajudada por prefeitos e cartórios, a Corregedoria Nacional de Justiça regularizou dezenas de milhares de propriedades. Num só dia, entregou 180 escrituras no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.
DINO QUER EXPLICAÇÕES
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, deu até o dia 19 para que os governadores de dez estados expliquem que providências tomaram para prevenir o fogaréu. Ele bem que poderá editar um volume com as respostas. Servirá de manual para gestores interessados na arte da enrolação.
Dino corre o risco de cair nas garras de um governador malvado, capaz de lembrar que de 2023 até fevereiro deste ano pediu socorro ao Ministério da Justiça, sem grandes resultados.
Nesse período, Flávio Dino era o ministro da Justiça, sob cuja jurisdição fica a Polícia Federal.
FUTUROLOGIA
Um dia o Brasil se livrará de polarizações irracionais e recuperará velhas alegrias.
A geração de Lula, e ele, com quase toda certeza, orgulhou-se quando viu a fotografia de Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk, presidente da Volkswagen, dirigindo um Fusca sem capota, ao lado do presidente Juscelino Kubitschek. O carro era alemão e Schultz-Wenk, como dezenas de milhares de alemães, havia terminado seus dias na Segunda Guerra como prisioneiro num campo russo. Nada disso importava, pois o Brasil fabricaria automóveis.
A alegria voltará quando um líder político conseguir a conciliação do país com o agronegócio, separando-o dos agrotrogloditas.
LULA QUER MUDAR A ONU
Lula está sem assunto.
Voltou a falar na necessidade de mudança de organismos internacionais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial.
TAREFA PARA MARQUETEIROS
Os marqueteiros de Ricardo Nunes estão quebrando a cabeça para resolver um problema. Com o apoio do governador Tarcísio de Freitas, ele pode ganhar a eleição numa cidade que em 2022 votou em Lula.
Marcado como candidato de Bolsonaro, ele pode perdê-la.
BOA NOTÍCIA
Enfim, uma boa notícia para o Rio. O repórter Rennan Setti informa que no início de outubro serão postos à venda os últimos 68 apartamentos do velho prédio do Hotel Glória. Inaugurado em 1922, era o hotel preferido de políticos como José Sarney. Hospedou Albert Einstein e a atriz Marilyn Monroe.
Numa época de delírios, o Glória foi comprado por Eike Batista, que cultivava o desejo de incorporar ao hotel a Marina do Aterro e tinha poderosos apoios.
Eike quebrou, e Glória virou um elefante branco, memória de um surto.
REFORMA TRIBUTÁRIA
A reforma tributária tem sido vendida como uma inovação simplificadora da cobrança de impostos. Simplificadora ela pode vir a ser, mas inovadora, não.
Exceções e benefícios fiscais estão sendo negociados no escurinho de Brasília pelos métodos convencionais. Os piores métodos.
O POVO NÃO É BOBO
No Rio e no Recife vive-se a demonstração de que, quando é dada aos eleitores uma escolha razoável, eles não se enganam. Os prefeitos João Campos e Eduardo Paes marcam mais de 50% das preferências nas pesquisas.
O caso de Paes é ilustrativo. Ele prevalece na cidade que foi o berço político de Jair Bolsonaro e o ex-presidente faz campanha para o candidato Alexandre Ramagem.
LULA E O PLANO CONTRA O FIM DO MUNDO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva prometeu reconstruir a BR-319, estrada que liga Manaus a Porto Velho (Rondônia), como se sabe. Fez a promessa no Amazonas, no auge do ruído midiático sobre o incêndio do Brasil. Convém voltar ao assunto.
O caso é uma caricatura de dilemas brasileiros e do governo Lula. É um exemplo da falta de planos do que fazer quanto a energia, investimento, ambiente e até das contas públicas. Vai dar besteira.
O que fazer de petróleo e de sua renda enorme e crescente? De rodovias e ferrovias na floresta? Como gerar mais eletricidade em horário de pico sem mais dano ambiental?
Fora da Amazônia e dos círculos de ambientalistas e cientistas, pouca bola se deu para a BR-319. Manaus não tem conexão rodoviária com o restante do país, entre outros isolamentos dessa região metropolitana com 2,6 milhões de habitantes. A reconstrução da BR-319 está emperrada desde 2005 por embates judiciais e administrativos.
Seus defensores dizem que será obra com sistemas de segurança ambiental inédita, além de ser estrada cercada, com travessias aéreas e subterrâneas para animais e controle de quem e do que vai passar por lá. Etc. Para críticos, a rodovia vai facilitar a destruição. Por onde passam, estradas de fato reduzem o custo de empreendimentos (legais ou ilegais).
O dilema é piorado pela expansão dos crimes organizados, pela dificuldade estatal de combater a destruição da floresta e a conexão amazônica de negócios legais e ilegais, pelo fato do plano de desenvolvimento local (Zona Franca) ser erro econômico enorme quase incorrigível.
É apenas um dilema. A exploração do petróleo no mar do Amapá, mesmo que não derrame gota de óleo, criará incentivos para a ocupação desordenada e destruição ambiental do estado (a história da urbanização brasileira).
Quão essencial é o petróleo? Em 2014, o país produzia 2,3 milhões de barris por dia. Em 2024, deve produzir 3,5 milhões. Em uma conta de guardanapo, pelo preço atual do barril, a renda petroleira passou de US$ 58,8 bilhões por ano para US$ 91,4 bilhões, sem contar efeitos indiretos.
A renda nacional aumentou com isso, assim como a receita do governo. Nesses anos, a taxa de investimento produtivo do país não aumentou. O setor público tem déficit. Estamos queimando receita petrolífera finita em gasto corrente.
Segundo a Empresa de Planejamento Energético (estatal), a produção para de crescer em 2030, em 5,3 milhões de barris por dia. O que fazer? Explorar mais? Menos? Há alternativas?
No caso da eletricidade, vamos precisar de mais térmicas a gás (da exploração petrolífera) para atender ao consumo do horário de pico, para a qual a solar não dá conta? De Angra 3 ou Nuclear “x”? Como revolucionar produção e consumo de energia? Secas mortíferas, cada vez mais prováveis, podem parar as hidrelétricas.
Precisamos da Ferrogrão (ferrovia que vai da soja do Mato Grosso a porto no Pará, mais rasgo na Amazônia)? No caso de restrições ou alternativas ao consumo mundial de grãos e carnes, como o país vai pagar as contas externas?
De onde vai sair o dinheiro para proteger a Amazônia (polícia, servidores ambientais, investimento produtivo) e para zerar desmatamentos? Do petróleo? Mas já não estamos gastando todo o dinheiro petrolífero em outra coisa?
Não temos plano, até aqui. Sobrou para Lula fazer.
POLARIZAÇÃO NOS TRIBUNAIS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
As mais recentes indicações do presidente Lula da Silva a tribunais superiores e regionais, em vez de promover pacificação, apontam para a ampliação de disputas ideológicas na cúpula do Poder Judiciário brasileiro. A origem e o perfil desses nomes e a forma como são escolhidos pelo atual presidente sugerem o acirramento dos ânimos nas cortes, intensificando tensões e transpondo da política para a Justiça uma polarização que em nada colabora com o fortalecimento das instituições e o bom funcionamento dos tribunais.
Antes de Lula, Jair Bolsonaro já havia deixado claro o interesse de domesticar o Judiciário. É de sua lavra a observação segundo a qual, ao indicar Kassio Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal, passou a ter “10% de mim” naquela Corte. O ex-presidente também batalhou por um ministro “terrivelmente evangélico”, qualidade irrelevante para a investidura do cargo, mas relevantíssima do ponto de vista político.
Quaisquer que fossem os méritos e deméritos dos indicados por Bolsonaro, eram evidentes os interesses pessoais e o ânimo conflituoso do então presidente. Lula, por sua vez, pode até ser um pouco mais discreto no seu desejo de aparelhar politicamente o Judiciário, mas já deixou claro que não está para brincadeira, seja ao colocar no Supremo seu advogado particular, seja ao nomear seu ministro da Justiça e calejado político, Flávio Dino, para ter na Corte alguém com “cabeça política”.
No passado, o petista ainda parecia ter alguma preocupação com a qualidade de suas indicações aos tribunais superiores, como no caso da nomeação do jurista conservador Carlos Alberto Menezes Direito para o Supremo. Mas essa preocupação não durou muito: para a vaga deixada por Menezes Direito em razão de seu falecimento, em 2009, Lula indicou ninguém menos que o ex-advogado do PT José Antonio Dias Toffoli – reprovado duas vezes em concurso para juiz de primeira instância, mas considerado por Lula bom o bastante para a mais alta Corte brasileira.
Neste terceiro mandato, Lula mantém o critério ao ocupar os tribunais superiores e regionais com nomes mais próximos – como um advogado seu, um fiel aliado ou uma amiga de sua mulher, Janja da Silva. O demiurgo decerto espera que esses indicados sejam a vanguarda das batalhas político-jurídicas de interesse do lulopetismo.
E é nessa arena que ganha protagonismo o Grupo Prerrogativas, formado por 250 advogados e juristas de esquerda. O “Prerrô”, como o grupo criado há dez anos para se contrapor a alegados desmandos da Operação Lava Jato é chamado por seus próprios integrantes, já possui representantes no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Tribunal Superior do Trabalho (TST), além de três tribunais regionais.
Nas indicações pelo chamado quinto constitucional – aqueles 20% das vagas de tribunais destinadas à advocacia ou ao Ministério Público –, grupos organizados sempre atuaram para emplacar nomes. O Prerrogativas, portanto, segue uma tradição, mas o faz de maneira desinibida, ostentando suas vitórias em celebrações nas quais assume a identidade de grupo político.
Sob a bênção de Lula, tudo isso terá impacto no Judiciário. Como mostrou reportagem do Estadão, a chegada de Antônio Fabrício de Matos Gonçalves ao TST, por exemplo, animou defensores das chamadas pautas progressistas e sua nomeação é vista como uma contraposição a um suposto polo conservador da Corte, representado por Ives Gandra da Silva Martins Filho. Ora, a inclinação política de um ou de outro é – ou deveria ser – indiferente, dado que os ministros deveriam estar comprometidos com a jurisdição trabalhista e com respeito às leis e à Constituição.
O poder concedido pela Constituição ao presidente da República para a indicação de magistrados para ocupar a alta cúpula do Poder Judiciário exige responsabilidade, autocontenção e profundo apreço pelo espírito público. A instrumentalização de tribunais superiores e regionais degenera a Justiça, e o Brasil não precisa de mais radicalização.
GOVERNO ATORDOADO, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
O Supremo Tribunal Federal é uma Corte constitucional. É um poder independente, que deve decidir, nas mais diversas situações e casos, se a Constituição é ou não cumprida. Portanto foi com certo espanto que tomamos conhecimento, nesta semana, de uma ordem executiva de um ministro do STF, Flávio Dino. Determinava que o governo federal enviasse mais bombeiros militares para atuar nas regiões afetadas pelos incêndios. Mandava também que se deslocassem mais equipamentos e veículos para apoiar os esforços da Força Nacional.
Onde estava a questão constitucional?
O Executivo também é um Poder independente, a que cabe justamente a função de executar políticas e tocar a administração. Governar, enfim. Não cabe ao STF determinar se bombeiros deveriam atuar aqui ou ali. Mas determinou. E o governo cumpriu. Dois dias depois da ordem de Flávio Dino, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, convocou 150 bombeiros para as ações de combate aos incêndios. Portanto dentro do prazo de cinco dias dado pelo STF.
Sabe-se que isso criou certo mal-estar no governo federal. Compreensível. Dino entrara na seara do Executivo e, mais, determinando algo que obviamente o governo já deveria estar fazendo. Mostrou a todo mundo que o governo falhava num momento gravíssimo de emergência nacional. E falhava em questões elementares, como a mobilização de bombeiros. O que fazia o ministro da Justiça? Esperava ordem do STF?
Não há crise, apressaram-se todos a dizer. É normal, disseram, pois o STF tem amparo legal para esse tipo de determinação executiva. Tem mesmo — e isso vem do tempo da pandemia, quando o governo Bolsonaro não era apenas incompetente na atuação sanitária de combate à transmissão de Covid-19. Era ostensivamente contra as medidas. E as sabotava. Ameaça à saúde pública, à saúde de todos e de cada brasileiro, poderia ser interpretada, como foi, como descumprimento pelo governo de uma obrigação constitucional. Decorrendo daí a capacidade do STF de determinar medidas que contribuíssem para o cumprimento executivo daquela obrigação constitucional. “Saúde é dever do Estado.”
Dada a explicação, a coisa ficou ainda pior para o governo Lula. Dino deixou o Ministério da Justiça faz pouco tempo, chegou ao Supremo pelas mãos de Lula. Não é, portanto, um adversário. E ficamos assim: o juiz do STF precisou recorrer a uma prerrogativa instituída para barrar os desmandos de Bolsonaro para determinar mais eficiência ao governo Lula, de que fazia parte há até pouco tempo.
E, quer saber? Dino tem razão.
No complexo e confuso governo Lula, há pelo menos 12 ministérios que têm ou deveriam ter o que fazer num plano nacional de combate imediato aos incêndios. E que deveriam estar preparados para a emergência climática caracterizada hoje por uma seca severa — prevista por especialistas e mesmo por integrantes do governo.
Apanhado no meio da crise, o governo passou a especular sobre medidas que já poderia ou deveria ter tomado. Por exemplo: a criação de uma Autoridade Climática, com amplos poderes para enfrentar o presente e o futuro. A ministra Marina da Silva propõe isso faz tempo. Ficaria dentro de seu Ministério do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas.
Deu problema político. Não da grande política — uma discussão sobre poderes e alcance de tal Autoridade. A questão foi outra: onde e com que partido ficaria? Ainda agora, quando a ideia voltou à tona, já surgiram especulações sobre nomes para comandar a talvez futura Autoridade. Um ambientalista? Ou um representante da Frente Parlamentar da Agropecuária?
Também se tratou de um arcabouço jurídico da emergência climática — pois é, não tinha. E até entrou na pauta o horário de verão, ainda em análise, segundo fontes do governo. Repararam? Nenhuma ideia nova. Apenas expõe um governo atordoado, o mesmo que ficou atordoado com a epidemia de dengue.
Se bem que apareceu uma ideia nova, de Lula: treinar os 70 mil recrutas que entrarão no Exército para o combate aos incêndios.
Agora vai.
Outro vício doentio inventado pelos políticos que dizem nos representar. Ele corrói valores, famílias, equilíbrio financeiro individual e rouba a riqueza da do país paras poucos, muitos, abrigados no submundo do crime e da lavagem de dinheiro.
A JUVENTUDE “BET”, por Flábia de Oliveira, em O Globo
Tão real quanto as chamas que destroem e a fumaça que varre territórios é a epidemia de apostas que assola o Brasil. A prática, que se expande em progressão geométrica, já produz reflexos na economia, na saúde e na política. É onda que alcança, principalmente, a juventude. Dos 52 milhões de brasileiros, predominantemente homens de baixa renda, que já efetuaram apostas esportivas em sites ou aplicativos, quase 21 milhões (40%) têm de 18 a 29 anos, segundo pesquisa realizada, no início de agosto, pelo Instituto Locomotivas. São moços que jogam por dinheiro, não por diversão. Imaginam a paixão e o conhecimento sobre futebol como ofício ou alternativa de investimento. Por impulso e perspectiva de prosperidade fulminante, também escolhem candidato a prefeito.
Nesta semana, a pesquisa Quaest para a Prefeitura de São Paulo mostrou crescimento das intenções de voto em Pablo Marçal (PRTB) na faixa etária de 16 a 34 anos, até então fortemente conectada a Guilherme Boulos (PSOL). Em agosto, era de 22% a proporção de jovens que declaravam voto em Marçal; passaram a 31% em setembro. O percentual do candidato de esquerda tomou o sentido inverso: saiu de 27% para 19%. Sugere a migração da sonhática calmaria para a (expectativa de) prosperidade galopante. Uma aposta carregada de adrenalina no “candidato bet”, aquele que promete riqueza fácil e rápida pela via do empreendedorismo e da fé, não necessariamente religiosa. Coisa de coach.
— Parece que Marçal traz à cena uma juventude cristã/evangélica que se empolga com a ideia de resolver a vida autonomamente. É menos uma mudança de lado em relação ao Boulos, mais uma juventude que se anima com a perspectiva de prosperidade, de autonomia, de poder decidir sobre si mesma. Marçal aciona esse grupo por meio da linguagem, da gramática religiosa. Apresenta-se como aposta muito potente no novo — analisa o teólogo Ronilso Pacheco, do Instituto de Estudos da Religião (Iser).
Não há pesquisa acadêmica a embasar a hipótese, mas ao jornalista cabe agrupar pontas soltas e provocar reflexões. A “juventude bet”, como passo a chamar, brotou da falta de políticas públicas dirigidas, de um mercado de trabalho que a confina à informalidade, aos baixos rendimentos, à escassez de oportunidades. No segundo trimestre, segundo o IBGE, a desocupação dos brasileiros de 18 a 24 anos foi de 14,3%, mais que o dobro da taxa nacional (6,9%). Um em cada cinco habitantes de 15 a 29 anos não estuda nem trabalha. São 9,6 milhões, a maioria mães adolescentes que precisaram abandonar a escola para assumir tarefas domésticas e de cuidado com filhos.
A partir da pandemia da Covid-19, assistimos à multiplicação do número de motoentregadores, predominantemente jovens periféricos submetidos a jornadas exaustivas, mal remunerados e sem rede de proteção social, mas que se veem, em larga medida, como empreendedores. São conectados, têm desejo de prosperar e de administrar o próprio tempo, valioso ativo. Vivem sob o impulso da aposta.
E assim o fazem. São homens 53% dos adultos brasileiros que já fizeram apostas esportivas em sites ou aplicativos. Quatro em cada dez têm até 29 anos; 79% estão nas classes C, D e E; 86% têm dívidas; dois terços têm CPF em cadastro de mau pagador. A pesquisa do Instituto Locomotivas permite inferir que há predomínio entre os apostadores de moradores de periferias, favelas, quebradas, bairros populares, territórios de classe média baixa. Nos últimos sete meses, estima Renato Meirelles, coordenador da pesquisa, 25 milhões de brasileiros tornaram-se apostadores:
— A Covid-19 demorou 11 meses para alcançar esse mesmo número de pessoas. Por isso não é exagero falar em epidemia, em risco de saúde pública.
A pesquisa mostra que sete em dez apostam ao menos uma vez por mês. Mais da metade (53%) joga para ganhar dinheiro; 45% já tiveram prejuízos; dois terços destinam parte ou todo o dinheiro que ganham com bets a novas apostas. Um terço já usou recursos de outras despesas para apostar. Há quem encare apostas como ofício decorrente do conhecimento esportivo; há os que veem como possibilidade de aplicação financeira, completa Meirelles.
Economistas do Banco Itaú estimaram que, em 12 meses até junho passado, os brasileiros destinaram R$ 68,2 bilhões a apostas e taxas de serviço. Ganharam R$ 44,3 bilhões, perderam R$ 23,9 bi. Empresas de varejo e serviços andam preocupadas com os efeitos nas próprias atividades, uma vez que há pedaços do orçamento doméstico migrando do consumo para as apostas. Nesta semana, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, defendeu que o governo antecipe a proibição do uso de cartões de crédito no pagamento de apostas esportivas. A regulamentação da medida, elaborada pelo Ministério da Fazenda, entra em vigor em janeiro de 2025. O dirigente está preocupado com quanto o volume de apostas poderá comprometer a renda das famílias, impactar o endividamento, elevar a inadimplência e, consequentemente, as taxas de juros.
Autorizar e ordenar o mercado de apostas é legítimo; tributá-lo é necessário. Correto é se preparar para o risco de compulsão. E perigoso permitir que jovens e adultos sem perspectiva façam da aposta trabalho, fonte de renda e inspiração político-eleitoral.
POLÍTICA EXTERNA E A EDUCAÇÃO PELA PEDRA, por Fernando Gabeira, no jornal O Globo
Dois países latinos são exemplares para examinar as hesitações da política externa brasileira: Nicarágua e Venezuela. Sandinismo e chavismo deslizaram rapidamente para clássicas ditaduras, e nosso governo parece ter sido o último a ter-se dado conta disso. Foram necessárias algumas pedradas para que a diplomacia brasileira mudasse, assim mesmo, lentamente seu rumo.
O caso da Nicarágua tem menos repercussão. Ao que tudo indica, a pedido do papa, Lula tentou libertar prisioneiros católicos que o governo de Manágua mantém ilegalmente. Certamente, tinha na memória os laços com um sandinismo ainda revolucionário.
A boa vontade de Lula com Daniel Ortega se expressa numa entrevista em que questionaram o tempo de presença de Ortega no poder, e Lula o comparou a Angela Merkel. Se ela pode, por que não ele?
Tanta empatia não foi correspondida. A resposta de Ortega ao pedido de libertação de presos foi a expulsão do embaixador brasileiro em Manágua, Breno Souza da Costa, sob o ridículo argumento de que faltara a uma solenidade que comemorava a revolução. Naturalmente, o Brasil teve de expulsar também a embaixadora da Nicarágua, Fúlvia Patrícia Castro.
Esta semana, a Nicarágua não libertou apenas um, mas 135 presos políticos a pedido dos EUA. Não foram argumentos sentimentais, mas os únicos que podem convencer Ortega: um bloqueio econômico que pode aprofundar a pobreza do país.
O caso da Venezuela é mais importante. O papel do Brasil é mais visível e temos fronteira comum e inúmeros interesses que nos obrigam a manter relações diplomáticas.
Desde o princípio, Lula subestimou o potencial de desgaste da relação com Maduro. Convidou-o ao Brasil, estendeu tapete vermelho e deu a entender, num discurso, que os problemas da imagem da Venezuela poderiam ser corrigidos com uma boa narrativa. O segundo passo foi apostar nas eleições venezuelanas, a partir do acordo no Caribe que pressupunha um processo democrático.
Maduro entendeu tudo isso à sua maneira. Aceitou os termos do acordo, mas na prática os sabotou, sempre que necessário. Começou invalidando a candidatura de María Corina Machado, que tinha condições de derrotá-lo. Seguiu invalidando uma outra candidatura, até que a oposição, finalmente, escolheu Edmundo González. Os EUA e a União Europeia se afastaram, mas o Brasil manteve-se próximo do aliado.
No dia das eleições, o governo enviou Celso Amorim, que disse que não seria observador, mas que levaria em conta o trabalho do Centro Carter, especialista nessa tarefa.
Celso Amorim achou normal o processo do dia 28 de julho, mas talvez tenha dormido mais cedo, porque quando as urnas se fecharam estourou o primeiro escândalo: a comissão de oposicionistas não poderia acompanhar a apuração.
Verdade é que o Brasil, ao lado da Colômbia e do México, pediu as atas para reconhecer a vitória de Maduro. Elas jamais apareceriam.
Antes disso, mesmo o Centro Carter já denunciava as eleições venezuelanas como irregulares. Muitos países latino-americanos condenaram Maduro e defenderam a democracia como um valor. O Brasil preferiu ser discreto e ocupar a posição de mediador.
Foi nessa posição que grande parte da imprensa saudou o Brasil porque custodiou a embaixada da Argentina, protegendo a vida de oposicionistas refugiados ali. Agora, Maduro retirou o último benefício da simpatia brasileira, cancelando sua custódia sobre a embaixada argentina e cercando o prédio com suas forças de segurança. O Brasil resistiu, sairá apenas quando outro país assumir a custódia. Mantém dignamente sua posição de mediador.
A questão que continua no ar é esta: valeu a pena tanta complacência com Maduro ou teria sido melhor, desde o princípio, assumir o verdadeiro papel de um líder regional e levantar a bandeira da democracia?
Essa diferença entre um líder mediador e um líder que defende valores coletivos é algo que nunca foi discutido neste caso específico.
É natural que partidos de esquerda tenham vínculos sentimentais. É compreensível que esses vínculos perdurem mesmo que as posições políticas já não sejam idênticas, como no passado. Mas o problema central é que não foi apenas a esquerda que venceu as eleições no Brasil. Ela precisa compartilhar a política externa, torná-la o instrumento de uma frente democrática, colocar em segundo plano sua visão nostálgica sem necessariamente abrir mão dela, nos momentos de celebração e relaxamento.
Talvez Ortega e Maduro tenham contribuído, involuntariamente, para o próprio amadurecimento da visão de mundo do governo. Ortega pode ficar no esquecimento por um período, Maduro não. Ele continuará produzindo situações que influenciam o Brasil. A próxima é uma possível nova onda migratória, agora que o candidato eleito pela oposição se refugia em Madrid. Pesquisas indicam que cerca de 20% dos venezuelanos pretendem deixar o país. Será um grande desafio para o Brasil, a Colômbia e deve repercutir até nas eleições norte-americanas. Sem falar naquela velha pretensão de anexar Essequibo, moeda eleitoral, que pode voltar a qualquer instante.
GOL DE MÃO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O longo imbróglio da desoneração da folha de pagamento de setores econômicos e municípios terminou na manhã de ontem. Depois de uma batalha que envolveu a aprovação de um projeto de lei, veto presidencial, derrubada de veto, edição de medida provisória pelo Executivo, devolução de trechos da proposta pelo Congresso e até mesmo a participação do Supremo Tribunal Federal (STF), finalmente se chegou a um acordo sobre o tema e uma nova proposta foi aprovada prevendo a reoneração gradual, a partir do ano que vem, e a compensação parcial da renúncia tributária associada à medida.
De início, o Senado queria manter a desoneração integralmente até 2027, enquanto a equipe econômica lutava pela reoneração completa já a partir deste ano. O Ministério da Fazenda cobrou dos parlamentares que propusessem ações para repor as perdas, mas o Legislativo rejeitou a maioria delas, sobretudo as que representavam aumento de impostos, e aprovou uma série de medidas que dificilmente vão cobrir o buraco.
De todas, a mais controversa, proposta pelo Senado com a conivência da Fazenda, era a permissão para que o governo se apropriasse de R$ 8,6 bilhões em recursos de pessoas físicas e empresas esquecidos em contas de instituições financeiras e contabilizasse o montante como receita primária para fins de apuração da meta fiscal. Quando todas as resistências haviam sido vencidas e o caminho parecia livre, o Banco Central (BC) entrou na história e jogou um balde de água fria nas pretensões do Executivo e do Senado.
Por meio de nota técnica, o BC – a quem cabe o cálculo para apuração da meta – recomendou aos deputados a rejeição integral desse trecho do projeto de lei, que estava em “flagrante desacordo” com a metodologia estatística utilizada pela instituição para o cálculo das contas públicas, as orientações do Tribunal de Contas da União e o entendimento do STF sobre o tema.
Fato é que o BC tinha razão. O dinheiro oriundo dessas contas, se contabilizado, deveria ser registrado como ajuste patrimonial, e não receita primária – ou seja, sem impacto no cálculo da meta fiscal. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), teve de assumir a relatoria da proposta para que fosse possível chegar a um acordo. Oficialmente, todos os envolvidos tiveram de ceder um pouco, mas o governo foi quem mais perdeu.
O Senado conseguiu manter um cronograma para que os setores e municípios tenham tempo para se adequar ao fim do benefício e não precisou se desgastar com medidas arrecadatórias. O BC manteve a dignidade e não será obrigado a deturpar os resultados fiscais. Já o Ministério da Fazenda poderá divulgar outro número, diferente do calculado pelo BC, para sustentar que cumpriu a meta.
A Fazenda, que entrou atrasada no debate, recorreu ao STF para forçar o Congresso a negociar, mas não conseguiu nem reonerar a folha como desejava nem aprovar as medidas para repor as perdas. Ao fim dessa disputa, julga ter obtido uma vitória ao poder apregoar o cumprimento da meta fiscal com mais uma exceção à regra, mas ignora que essa manobra pode ter um custo bem mais alto – a perda de sua credibilidade.
DIRETRIZES PARA GESTORES PÚBLICOS NA GESTÃO DE DENÚNCIAS E INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador do município de Gaspar (2005/2008); graduado em Gestão Pública pela Udesc/Esag. Publicado originalmente nas redes sociais do autor, com a seguinte recomendação: minha colaboração em forma de um singelo manual aos pré-candidatos ao poder executivo
Introdução
Este manual foi elaborado por um eleitor com grande preocupação com o que vem ocorrendo em várias cidades de Santa Catarina. A intenção é fornecer diretrizes gerais para gestores públicos que buscam assegurar a transparência e a legalidade dos atos praticados pelos seus subordinados. Os procedimentos descritos neste manual vão além do senso comum, incorporando boas práticas e a legislação vigente para garantir que as ações tomadas em resposta a denúncias e indícios de irregularidades sejam eficazes, justas e em conformidade com os princípios de boa governança.
1. AFASTAMENTO IMEDIATO E PREVENTIVO
Objetivo: Preservar a imparcialidade das investigações e a integridade da administração pública.
Diretrizes:
Afastamento: Imediatamente afastar os servidores ou secretários envolvidos ao surgir indícios consistentes ou denúncias, formalizando o afastamento através de decretos ou portarias.
Documentação e Comunicação: Documentar todas as decisões de afastamento e comunicá-las oficialmente para garantir transparência.
2. INSTALAÇÃO DE PROCEDIMENTOS INTERNOS DE INVESTIGAÇÃO
Objetivo: Garantir uma apuração rigorosa e imparcial das denúncias.
Diretrizes:
Processos Internos: Iniciar sindicâncias ou processos administrativos disciplinares conforme a gravidade das denúncias.
Princípios: Assegurar que as investigações sigam os princípios da legalidade, contraditório e ampla defesa.
3. CRIAÇÃO DE UMA COMISSÃO DE INTEGRIDADE E TRANSPARÊNCIA
Objetivo: Supervisionar as investigações e promover práticas de boa governança.
Diretrizes:
Formação: Constituir uma comissão interna composta por membros imparciais e qualificados.
Funções: Definir claramente as responsabilidades da comissão e assegurar a implementação de políticas de integridade.
4. COLABORAÇÃO PROATIVA COM AUTORIDADES COMPETENTES
Objetivo: Facilitar investigações externas e garantir a transparência.
Diretrizes:
Cooperação: Trabalhar de forma proativa com o Ministério Público, a Polícia Civil, o Tribunal de Contas e a Controladoria Geral.
Transparência: Fornecer todas as informações e documentação necessárias para auxiliar nas investigações.
5. REVISÃO DE PROCESSOS E CONTROLES INTERNOS
Objetivo: Identificar e corrigir falhas nos processos administrativos.
Diretrizes:
Auditorias: Realizar auditorias internas regulares e revisar os processos de gestão e controle.
Medidas Corretivas: Implementar melhorias para fortalecer a governança e prevenir irregularidades futuras.
6. COMUNICAÇÃO CLARA E TRANSPARENTE COM A POPULAÇÃO
Objetivo: Manter a confiança pública e demonstrar comprometimento com o interesse coletivo.
Diretrizes:
Atualizações: Informar a população regularmente sobre as ações tomadas e o progresso das investigações.
Clareza: Garantir que a comunicação seja clara, precisa e acessível para promover a transparência.
7. TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO DOS SERVIDORES
Objetivo: Fomentar uma cultura de ética e conformidade.
Diretrizes:
Capacitação: Organizar treinamentos periódicos sobre ética, compliance e boas práticas administrativas.
Participação: Incentivar a participação dos servidores e promover uma cultura de responsabilidade e integridade.
8. TOMADA DE DECISÕES BASEADAS EM EVIDÊNCIAS
Objetivo: Garantir decisões justas e fundamentadas.
Diretrizes:
Análise: Avaliar indícios e evidências com rigor antes de tomar decisões.
Processo Legal: Assegurar que todas as decisões respeitem o devido processo legal e os direitos dos envolvidos.
9. PROMOÇÃO DE UMA CULTURA DE INTEGRIDADE E RESPONSABILIDADE
Objetivo: Estabelecer um ambiente de ética e responsabilidade na administração pública.
Diretrizes:
Incentivo à Denúncia: Criar canais seguros e acessíveis para denúncias de irregularidades.
Proteção de Denunciantes: Garantir a proteção e confidencialidade daqueles que denunciam práticas inadequadas.
CONCLUSÃO
Seguir as diretrizes apresentadas neste manual oferece várias vantagens significativas tanto para o gestor público quanto para o eleitorado:
FORTALECIMENTO DA INTEGRIDADE E TRANSPARÊNCIA
• Para o Gestor: Adotar práticas de transparência e integridade ajuda a construir e manter uma imagem pública positiva e confiável. O gestor demonstra compromisso com a ética e a legalidade, o que pode aumentar o apoio e a confiança da população.
• Para o Eleitorado: A população se beneficia de uma administração pública que opera de maneira aberta e honesta, promovendo um ambiente de confiança e respeito pelos recursos públicos.
PREVENÇÃO DE IRREGULARIDADES E CORRUPÇÃO
• Para o Gestor: Implementar controles rigorosos e processos de investigação reduz o risco de práticas ilegais e corrupção, protegendo a administração contra possíveis escândalos e litígios.
• Para o Eleitorado: Medidas eficazes contra irregularidades garantem que os recursos públicos sejam usados de forma apropriada e que a justiça seja feita, promovendo a equidade e a responsabilidade na gestão pública.
APRIMORAMENTO DA GOVERNANÇA E EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA
• Para o Gestor: A revisão e a melhoria contínua dos processos internos levam a uma gestão mais eficiente e eficaz, melhorando a capacidade de cumprir com os objetivos administrativos e atender às necessidades da população.
• Para o Eleitorado: A eficiência administrativa traduz-se em melhores serviços públicos e maior eficácia na gestão de projetos e iniciativas, beneficiando diretamente a comunidade.
FORTALECIMENTO DA CONFIANÇA PÚBLICA E DA LEGITIMIDADE
• Para o Gestor: A comunicação transparente e a tomada de decisões baseadas em evidências ajudam a fortalecer a confiança do público na liderança e na gestão, reforçando a legitimidade do gestor e sua administração.
• Para o Eleitorado: A confiança na administração pública é essencial para o engajamento e a participação cidadã. Uma gestão transparente e responsável promove um ambiente de colaboração e respeito entre a administração e a população.
PROMOÇÃO DE UMA CULTURA DE RESPONSABILIDADE E ÉTICA
• Para o Gestor: Estabelecer uma cultura de ética e responsabilidade dentro da administração pública contribui para um ambiente de trabalho mais profissional e alinhado com os princípios de boa governança.
• Para o Eleitorado: Uma cultura de integridade dentro da administração pública garante que os servidores atuem com responsabilidade e ética, refletindo positivamente na qualidade dos serviços prestados e no bem-estar da comunidade.
Ao seguir essas diretrizes, o gestor público não só protege a administração contra irregularidades e corrupção, mas também fortalece a confiança e o apoio da população, promovendo uma administração pública mais eficiente e responsável.
Este singelo manual orienta os gestores públicos a adotar práticas proativas e eficazes na gestão de denúncias e irregularidades, alinhadas com os princípios de boa governança, e destaca os benefícios dessas práticas tanto para o gestor quanto para a população.
Gaspar, 12 de setembro de 2024.
Boa tarde.
As coisas literalmente estão incendiárias e o ar está cada dia mais difícil de respirar…
OS IMPACTOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, por Celso Ming, no jornal O Estado de S. Paulo
Aos poucos, analistas e políticos começam a entender a importância de um movimento relativamente novo e de grande impacto econômico e político no Brasil que leva o nome de Teologia da Prosperidade.
Quem zapeia os programas de TV das igrejas evangélicas logo percebe a frequência que é dada a quadros do tipo “xô pobreza!”, com seguidos depoimentos de gente que estava na pior e começou a prosperar, sempre com as graças do senhor.
São histórias que seguem mais ou menos este roteiro: “Estava largado da mulher, comecei a beber, não tinha onde cair morto, acabei dormindo debaixo da ponte, mas caí em mim, orei para o Senhor, recomecei e dei a volta por cima. Hoje tenho uma empresa com vários empregados, dois carros, estou ficando rico e vou ficar ainda mais…”.
Não é coisa de meia dúzia de casos. São milhares e milhares. As igrejas evangélicas vêm cultivando a versão brasileira para o que, em 1904, o sociólogo alemão Max Weber chamou a atenção em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
É a ideia de que pobreza é atraso de vida, que tem de ser erradicado das pessoas e das famílias. O enriquecimento pessoal e o empreendedorismo são sinais da graça de Deus, concedidos a quem se esforça, cultiva os bens materiais e se torna patrão de si mesmo. Se vier uma ajuda do Estado e do político da hora, vá lá, não é para desprezar, mas não se pode contar com isso. O importante é trabalho, é suor e subir na vida.
A digitalização do cotidiano, por meio dos aplicativos, vem ajudando a espraiar a nova mentalidade que valoriza as qualidades individuais, a prestação de serviços, de preferência a vários clientes, e a criação da jornada independente de trabalho. Para esse novo estrato social, a ação sindical só atrapalha.
O PT tenta dialogar com essa clientela ligada aos evangélicos que escapa de sua área de influência. Mas insiste em explicações e na visão antiga de mundo que não os atingem, como a teoria da luta de classes e a da organização do proletariado contra a dominação da burguesia, para a construção da sociedade socialista.
As implicações políticas e econômicas dessa busca da prosperidade começam a ficar claras. As pequenas e médias empresas e o trabalho autônomo se multiplicam. Os sindicatos, que já vinham se esvaziando por outras razões, tendem a se enfraquecer ainda mais. Aumentam os apelos ao avanço social, em alguns casos sem olhar para que meios, como se vê pela ascensão do candidato Pablo Marçal, em São Paulo. Como a contribuição ao INSS é muitas vezes ignorada, as finanças da Previdência vazam sem controle, o que concorre para o aumento do rombo fiscal.
A Teologia da Prosperidade e esse novo empreendedorismo são coisas relativamente novas neste Brasil colonizado pelos jesuítas que pregavam o desprendimento dos bens materiais. Tudo isso é um vasto assunto à procura de mais estudos para avaliação de seu impacto sobre a economia e a política
NOVA ONDA ANTISSISTÊMICA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.
Em São Paulo o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um, esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.
As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado sobretudo de empreendedores.
“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas” como as de Bolsonaro antes e Marçal agora é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos – além da óbvia conquista do poder. Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.
Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do STF.
O que se possa chamar de “voto de direita” – e não só o voto “antissistema” – padece em primeiro lugar da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”. Portanto, de agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.
O momento político da onda antissistêmica e que engloba “a direita” vai dependendo de várias agremiações ou representações setoriais que não são unidas. Sem capacidade até aqui de conduzir alianças – e consensos – especialmente num ambiente de alto fracionamento, como é o do Legislativo, e de enorme bagunça institucional.
Num universo eleitoral tão amplo cabem várias figuras de ponta, o que já se antevê para 2026. O problema é quando só uma delas acha que é dona da agenda.
Não bastavam os cada vez mais alto e novos impostos. A riqueza da produção indo pelo ralo de forma direta e digital dos nossos bolsos. Estamos deixando de comprar produtos, serviços e servido a poucos, a maioria bandidos, num vício permitido pelo governo e principalmente pelos que se dizem nossos representantes.
TRABALHAR É PARA OTÁRIOS, por Ruy Castro, no jornal Folha de S. Paulo
“A riqueza, para o brasileiro, não é o acúmulo penoso de dinheiro poupado graças a muitas horas de trabalho”, disse Stefan Zweig. “É algo com que se sonha; tem que vir do céu e no Brasil, a loteria é esse céu. É a esperança quotidiana de milhões. A roda da fortuna gira todos os dias. Nos bares, nas ruas, a bordo e nos trens oferecem-se bilhetes de loteria. Todos os brasileiros os compram com o que sobra do seu salário. A determinada hora vê-se grande multidão diante do local da extração; em todas as residências e casas comerciais estão ligados os rádios; a expectativa do país inteiro se volta para um número. O que lhe falta de cobiça, o brasileiro compensa com esse sonhar cotidiano de um enriquecimento repentino.”
Assim escreveu o vienense Zweig em “Brasil, País do Futuro”, livro que publicou em 1941 e foi destroçado pela nossa imprensa. Zweig, judeu refugiado no país, foi acusado de tê-lo escrito por um visto de permanência. Era mentira, mas, como não podiam desafiar a censura e atacar a ditadura de Getulio, os críticos foram a ele. Um dos argumentos era sua descrição da mania brasileira pelos jogos de azar, incluindo os cassinos e o jogo do bicho. Disseram que não era verdade. Mas todos sabiam que era —e, como a história provou, sempre seria.
Nos anos 1970, tivemos o boom da Bolsa. Depois, a inacreditável obsessão pela loteria esportiva. Mais alguns anos, a febre dos bingos. E, há pouco, a da mega-sena. Mas esta tem agora um concorrente: as bets, em que se pode jogar pelo online e se tornaram o esporte nacional. Estão ao alcance até das crianças, inclusive como banqueiras —no Instagram, há influencers de 8 anos agitando notas de R$ 100 e prometendo dinheiro à vista no Jogo do Tigrinho. A palavra “bet” se incorporou à língua.
Nunca se jogou tanto no Brasil. As apostas parecem tomar 100% da publicidade em todas as mídias. É uma indústria que já movimenta R$ 100 bilhões no país, em ganhos para poucos e quebradeira para muitos. O governo tem outras preocupações. Firma-se a ideia de que é fácil ficar milionário e que trabalhar é para otários.
Zweig tinha razão.