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ESTÁ DIFÍCIL. OS POLÍTICOS DE GASPAR BUSCAM PREENCHER VÁCUOS DE LIDERANÇA E CARISMA PERDIDOS

A pergunta certa é: quem é o líder político no campo conservador para o atual ou o futuro cenário político-administrativo que se tenta construir em Gaspar? Quem é o interlocutor confiável entre eles e com parte ponderável do eleitorado, o qual se vem mostrando mais mais amplo, e até radical do que o habitual, nestes dias de angústias e que antecedem a posse neste primeiro de janeiro dos eleitos de dois e 30 de outubro, respectivamente?

Apesar de restrições impostas pelos próprios supostos novos, ou jovens, políticos que disputam espaços da vaidade e não exatamente da credibilidade e voto, as mortes do ex-prefeito, empresário e filantropo, Osvaldo Schneider, o Paca, MDB, bem como do médico João Leopoldino Spengler, PP, trouxeram insegurança e vácuos neste aspecto. Os novos cenários – ainda em construção, repito – tendem a ser preenchidos por oportunistas – ou ocasional sorte de última hora – na política local. Falta´, de verdade, a real liderança para moderar, aglutinar e contrapor e se estabelecer para as eleições de 2026. Aliás, ela já começou. E seus movimentos são preocupantes.

De verdade? Faltam causas e capazes para torná-las viáveis minimamente na mente e corações dos eleitores e eleitoras

Restou, o ex-prefeito de três mandatos pelo PT, Pedro Celso Zuchi. Entretanto, este é um caso à parte para este ponto de vista que exploro. Zuchi está no campinho dele. Vai esperar pelo “tamanho do vácuo” do campo conservador, da “novidade”, mas principalmente pelo que produzirá o Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva e sua deputada, Ana Paula Lima, ambos do PT, para decidir à sua vida futura na política. Não será surpresa se ele resolver de “sacrificar” pela quinta vez na busca da prefeitura de Gaspar, até porque Zuchi, a deputada e o marido dela, o ex-prefeito de Blumenau e presidente do partido no estado, Décio Neri de Lima, sufocaram qualquer renovação nos seus quadros partidários por aqui.

Retomo

No outro lado, por outro lado, está tudo muito confuso, exatamente por falta de liderança, visão, propostas e objetivos compartilhados. A começar pelo atual vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick. Ele num ambiente normal, seria o sucessor natural desta fatia que está no poder. A ambiguidade e o oportunismo dele, jogou quase tudo na lata do lixo. Está longe dos holofotes. O que já é uma vantagem. Convenientemente e numa jogada de pouca transparência saiu do PSD, Marcelo e foi parar o Patriota, inexistente por aqui e nanico em qualquer lugar. Na verdade, o MDB e PP anularam Marcelo quando o trouxeram para a chapa de reeleição de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e com prome3ssas que não cumpriram e que Marcelo não as amarrou. O milagre prometido era demais. Só ele não enxergou isso. De suposta promessa local, regional e estadual, Marcelo está num poço do ostracismo.

E Kleber? Perdeu também o passo quando teve que reconhecer que não tinha votos e nem espaço no seu MDB e por isso, teve que correr da suposta candidatura a deputado estadual do ano passado. Ele foi lançado por um grupo de riquinhos num tal conselho fake da cidade e cheio de interesses próprios. De verdade, e já escrevi sobre isto, Kleber nunca foi MDB. O MDB é quem olhava para a Igreja dele e a máquina de votos movida por ela. Só isso. Kleber será o que seu tutor e novo prefeito de fato de Gaspar, o eleito deputado Federal por Blumenau, Ismael dos Santos, PSD, quiser. Por enquanto, Kleber está protegendo-se para um emprego público em 2025 e deixar os negócios da família bem encaminhados.

A corrida eleitoral de 2024 em Gaspar ficará entre pessoas, e as mesmas de sempre, se até lá não houver nenhum escândalo. Os partidos, seja qual forem e onde estiverem filiados, virão na rabeira. As oportunidades virão devidos os acertos, erros e imagem que possam ser coladas ou combatidas em 2024 dos governos de Jorginho Mello, PL, Lula, PT, direita xucra e esquerda do atraso, bem como o que terá restado de Jair Messias Bolsonaro. Não se deve desprezar o que inspira e fanatiza hoje parte do eleitorado, mesmo com todos os seus vacilos ou defeitos. 

Os possíveis candidatos a prefeito de Gaspar, todos manjados, estão atrás de padrinhos financeiros que os políticos – os quais depois serão traídos -, partidos e alianças, mais fáceis de serem rompidas convenientemente. Não há numa causa, nenhuma ideia, nada que possa unir candidato e eleitor, ou emociona-los. Uma parte deste jogo de forças e não de ideias ou causas, já pode ser visto na eleição da mesa diretora Câmara neste mês. Nela ficou claro que Kleber não conseguiu mais influenciar como queria e com isso, cumprir as promessas que fez a queridinhos da sua base, mas concordar com o que se colocou na composição só entre os vereadores. Kleber – que já foi presidente da Casa – preferiu e ele próprio testemunhou passivamente o menor dano político a si próprio, diante do desgaste que vem tendo desde que deixou de concorrer a deputado estadual.

E o MDB, como anunciou o seu próprio presidente daqui, Carlos Roberto Pereira, espelha-se do de Blumenau. Lá o MDB nem existe mais competitivamente. O mesmo não se pode dizer do PP daqui e rival do MDB. O dr. João fará falta, mas a velha guarda está razoavelmente unida. O único que destoa do controle dela, é Cleverson Ferreira dos Santos, Kleber. Pela igreja e irmandade, Kleber já o tirou da Câmara e o colocou na secretaria de Agricultura e Aquicultura, e o circo já começou, para ver se lá se há plantio, colheita e controle. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Jorginho Mello, PL, admite no seu círculo mais íntimo que está num inferno astral e bem antes de assumir o governo. E não pode se queixar. Ele provocou tudo isso. Se não se cuidar, além da vice que se assanha em ser um problema, vai ter uma Assembleia Legislativa hostil e Jorginho sabe o que é isso. Jorginho já foi presidente dela, e da presidência sabia como fazer o governo do estado de plantão se curvar aos seus caprichos. Jorginho tem tudo para ser um dos piores governadores que Santa Catarina já teve.

Uma parte das hostilidades contra Jorginho está na seu próprio PL, feito de radicais. Tanto que o reeleito deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau, o que não é bolsonarista raiz, iniciou-se como interlocutor e articulador político do novo governo na Assembleia para a formação de uma base de sustentação. Aos poucos, entretanto, foi sendo engolido naquilo que notoriamente não sabe fazer: conciliar e articular. Naatz sempre foi um atirador de pedras. Jorginho, mais experimentado no ambiente político, também padece do mesmo mal. Foi assim que ele apareceu nacionalmente na CPI da Covid no Congresso: atirando.

O senador Esperidião Amim Helou Filho, PP, salvou o futuro governador Jorginho Mello, PL, o tesouro e os catarinenses. Por sua iniciativa, os R$465 milhões que a Assembleia e o governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, destinaram às obras para recuperação, melhorias ou duplicações de rodovias federais em Santa Catarina, serão abatidos das dívidas do Estado para com a União.

O presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, o amigão dos catarinenses, de Esperidião e até de Jorginho, vetou esta possibilidade. O Congresso derrubou o veto de Bolsonaro. Jorginho aliás, para se eleger governador, e por orientação de Bolsonaro, inacreditavelmente, era contra esta iniciativa de Carlos Moisés. Se não fosse isto estaríamos num apagão logístico sem tamanho comprometendo produção, produtividade e competitividade. Aliás, no Orçamento do ano que vem, Bolsonaro deixou R$6 milhões para a BR-470. Isto dá para três quilômetros de duplicação. Impressionante!

Outra do senador Jorginho eleito governador. No Senado, e para fazer demagogia para a errática política econômica de Jair Messias Bolsonaro, PL, ajudou a aprovar a redução de tributos federais – e com isso aumentar o rombo fiscal – e principalmente, interferir na autonomia da política estadual do ICMS sobre combustíveis, energia e comunicações. Mexeu-se, no valor máximo da alíquota e na base de cálculo.

Eleito como governador, e em busca de receitas, Jorginho Mello, PL, mandou as favas o que aprovou como senador contra a própria saúde financeira do estado de Santa Catarina. Ele vai permitir de imediato a volta da velha base de cálculo. Ela tomar os últimos 15 dias ao invés do valor médio praticado nos últimos cinco anos. Ou seja, vem aumento real aí.

E na outra ponta, o secretário de Fazenda, Cleverson Sievert, já mandou avisar que em algum momento as alíquotas vão retornar aos patamares anteriores. Ou seja, o combustível vai voltar aos patamares de R$7. Ou seja, os políticos se comportam de uma forma na campanha eleitoral enganando eleitores e eleitoras, e de verdade fazem outra coisa quando eleitos. Diminuir a máquina e a gastança, nada. Então, mais impostos para deixá-la gorda aos seus.

No mesmo tema mais impostos sobre combustíveis, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, PT, nomeado para ser um poste de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, disse ontem que termina neste dia 31 de dezembro, o zeramento do PIS e Confins sobre combustíveis, outra bondade de campanha de Jair Messias Bolsonaro, PL, e que não lhe favoreceu. Ou seja, o velho Brasil volta aos trilhos tortos. Uma nova e simplificada legislação tributária, nada. Fazer uma reforma administrativa para enxugar a máquina do estado, também não. Afinal, nela precisa caber os desocupados, ou os do aparelho partidário de sustentação do governo de plantão. E todos os brasileiros os sustentarem

A Covid mata em Gaspar. Na segunda-feira, eu mostrei aqui, em números e fontes oficiais, como a secretaria de Saúde de Gaspar, governada por interesses políticos eleitorais e não exatamente por objetivos técnicos, de que há tratamentos diferentes de transparência para questões de saúde pública. Estardalhaço – o que reputei como certo – com a dengue que não matou ninguém entre nós até agora -, e “sumiço” dos dados de Covid, que já faz 220 vítimas fatais, duas delas, bem recentemente em Gaspar.

Duas horas depois do artigo estar na praça, o Hospital de Gaspar, sob marota intervenção municipal, informou que o seu ambulatório estava aberto para testes de aos sintomáticos de Covid-19. É que os postinhos da prefeitura, onde isto deveria ser feito, estão fechados. Ah, bom!

Começou a enganação. Abriu-se à temporada de “enquetes” em Gaspar por redes sociais. Casualmente, elas vivem de boquinhas dos políticos. Alguma delas, os nomes apresentados, somados, totalizavam 200% nas escolhas. Vergonha. Nem disfarçar essa gente consegue mais. Pior mesmo, é ver gente enganada dar crédito e espalhar tamanha indecência.

Só no Brasil é que um bordão Deus, Pátria e Família pode ser tão desmoralizado por quem se apropriou destas bandeiras conservadoras. Só no Brasil, eleitores e eleitoras podem dar crédito a políticos que representam de forma descaradamente falsa esses lemas. E não passam vergonha. Sentem-se representados. Meu Deus!

A prefeita de Itapema, Nilza Simas, PSD, foi ao whatsapp e esculachou os seus comissionados. Com 235 deles empregados na prefeitura, no final desta semana ela não conseguiu 50 deles para ajudá-la a distribuir mantimentos e prover outras ajudas aos moradores de lá na situação emergencial criada pelas chuvas a cântaro no município. “Estamos sem dormir por três dias e tem gente que não deu as caras ainda”, reclamou. Deu prazo e ameaçou de demissão. Uma correria. Parece com algo que já se viu por aqui e não deu muito certo.

Essa gente comissionada, majoritariamente, não está empregada no ambiente público porque é vital, técnica e produtiva. A maioria é indicada por padrinhos políticos ou poderosos com interesses no poder de plantão. E são esses apadrinhamentos que fazem a máquina funcionar contra ou a favor do eleito (neste caso, a prefeita). Então, valeu pelo show, mas na prática, isso quase sempre desemboca em consequências para o administrador público consciente e indignado. Nem mais, nem menos.

Finalmente, há 72 horas, pelo novo ciclo de translação da terraplana para que algo de derradeiro e prometido aconteça. Houve várias 72 horas de tic tac de esperanças prometidas aos patriotas, todos de prontidão em todos os lugares, ou nas portas dos quarteis, recebendo notícias de informantes “infiltrados” na máquina pública de inteligência, ou pregações de convencimento de pastores de araque. E até agora, nada!

Uma coisa é certa. O presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, despede-se hoje numa reunião governamental. Ele está de malas prontas para ir aos Estados Unidos, segundo anunciaram ontem seus interlocutores. E sem a mulher Michelle. O pilar familiar… tic toc

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6 comentários em “ESTÁ DIFÍCIL. OS POLÍTICOS DE GASPAR BUSCAM PREENCHER VÁCUOS DE LIDERANÇA E CARISMA PERDIDOS”

  1. Bom dia.
    Se possível faça um artigo descrevendo sobre os nomes dos nossos próximos candidatos a prefeito e alguns para vereador. Sei que está cedo mas temos que começar a pensar.

  2. POR QUE O GOVERNO ELEITO ADIOU A ESCALAÇÃO DO GOVERNO, por Thiago Bronzatto, no jornal O Globo

    Ao montar a sua primeira equipe ministerial em dezembro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que descobriu “o que sofre um técnico da seleção”. Naquela época, o então presidente eleito encarou durante a transição chiadeiras públicas de aliados logo após fazer as primeiras indicações e tentou, sem sucesso, atrair o MDB. Duas décadas depois e a quatro dias da posse, o futuro mandatário revive o dilema de escalar o seu time do terceiro mandato. Mas por que, afinal, o petista demora tanto para mostrar a cara do seu governo?

    Tancredo Neves, que também deixou para a véspera da posse o anúncio do seu time, dizia que durante a composição da Esplanada dos ministérios é preciso “deixar as ondas baterem umas nas outras para estudar a espuma”. Sabendo disso, Lula observou os movimentos – e as colisões – dos seus aliados cotados para integrar o novo governo. O petista sabe que, desta vez, está em jogo não só o sucesso biográfico da sua terceira passagem pelo poder, que depende de uma composição política, como também a sucessão presidencial em 2026.

    Para chegar ao fim do mandato sem solavancos, Lula precisa sedimentar uma base de apoio e contar votos no Congresso. Em seu primeiro teste no poder, o então presidente manteve em sua órbita legendas minoritárias, concentrou a maior parte da máquina pública nas mãos do comissariado petista, destinou um ministério para cada aliado e ofereceu um naco de poder a ministros não partidários. Após a reeleição, Lula entregou metade da Esplanada aos seus correligionários, embora a sua bancada representasse um quarto da coalizão, e contemplou o MDB com cinco lotes do primeiro escalão do governo, enquanto os demais coligados ficaram com um gabinete cada. Desta vez, o futuro titular do Palácio do Planalto também manterá aglutinado sob a influência do PT postos-chave da administração e barganhou o apoio do MDB, União Brasil e PSD, que representam 28% das cadeiras da Câmara e 38% do Senado, em troca de duas pastas para cada sigla.

    Lula entende que a divisão de ministérios terá reflexo no centro do tablado eleitoral de 2026. Não à toa, decidiu ceder aos apelos de correligionários para não entregar de mão beijada à senadora Simone Tebet (MDB-MS) o Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família. A pasta, considerada uma vitrine política, ficou sob o domínio do ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT). Essa manobra frustrou a expectativa da parlamentar de ser recompensada pelo apoio a Lula no segundo turno. À congressista foram oferecidas outras opções, mas ela acabou topando ficar com o Planejamento.

    Na nova função, Tebet terá de aprender a bater carimbos da máquina pública e contornar divergências com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, por sua vez, preferia fazer uma dobradinha com um ex-governador como Renan Filho (Alagoas) e Jorge Viana (Acre). A parlamentar, mais inclinada ao liberalismo econômico, poderá ter os seus primeiros conflitos na Esplanada com o ex-prefeito de São Paulo, afeito ao desenvolvimentismo. Eventuais desavenças, porém, serão arbitradas por Lula, que dará as cartas na Economia e tem uma predileção clara por Haddad como o seu sucessor natural.

    Colocado à prova em um discurso para banqueiros, Haddad seguiu à risca o discurso ensaiado com o presidente eleito e, aos poucos, tem buscado dobrar as resistências do mercado. O maior desafio do futuro ministro da Fazenda será, a um só tempo, resistir à pressão do Congresso por mais gastança pública e alavancar a economia em meio à desaceleração da economia mundial. Se tiver sucesso, poderá trilhar um caminho semelhante ao de Fernando Henrique Cardoso – que subiu a rampa do Palácio do Planalto após ganhar projeção com o Plano Real.

    Trafegando em outra via, Geraldo Alckmin (PSB) e Rui Costa (PT) foram escolhidos por Lula para comandar postos-chave na Esplanada. O vice-presidente eleito foi escalado para estar à frente do ministério da Indústria e Comércio, enquanto o governador da Bahia irá chefiar a Casa Civil, cadeira ocupada por candidatos a vestir a faixa presidencial. Com perfis semelhantes, os dois gestores públicos podem se tornar nomes fortes para a disputa eleitoral de 2026 – que deverá contar com um especialista em canteiro de obras, o futuro governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, ex-ministro da Infraestrutura. Até lá, Lula continuará estudando as espumas em torno dos seus aliados.

  3. HADDAD COM A BATUTA DE MAESTRO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    À medida que o ministério de Lula vai ganhando sua conformação final, fica cada vez mais claro que o futuro presidente conferiu a Fernando Haddad a batuta de maestro de uma orquestra grande, na qual os componentes têm influências e estilos distintos, mas que tem de soar coesa e harmnônica, inclusive para conquistar uma parcela bastante hostil da audiência.

    Esse papel tem um peso maior na condução da política econômica, mas não só. Não serão poucas as vezes em que caberá ao ministro da Fazenda a missão de apagar incêndios com o Congresso e de coordenar ações também com a cozinha do Palácio do Planalto.

    Sua nova posição, no coração do governo, difere muito daquela na qual ele permaneceu mais tempo nos governos Lula e Dilma, o Ministério da Educação. Vai exigir mais dos aprendizados duros da Prefeitura de São Paulo, pela complexidade das tarefas e a necessidade de composição, que a relativa tranquilidade de lidar com um tema que, embora de central relevância, ele dominava e para o qual tinha um desenho claro do que pretendia alcançar, como o MEC.

    A chegada de Simone Tebet à equipe econômica se inscreve nesse desafio novo. Dos nomes que vão integrar seu time e os ministérios contíguos, é ela aquela com quem o titular da Fazenda tem menos afinidade — nenhuma, na verdade. Vêm de partidos e trajetórias políticas diferentes e sempre professaram ideias bastante díspares a respeito de temas como Previdência, privatizações, gasto público e papel do Estado, para ficar só em alguns dos grandes assuntos que vão pautar o dia a dia das relações entre suas pastas.

  4. DE DR. VASCO PARA MAURO VIEIRA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Estimado colega,

    Daqui a quatro dias Vosmicê vai para a cadeira que eu ocupei, como ministro das Relações Exteriores, nos borrascosos anos de 1964 a 1966. Daqui onde estou, sei que estão armando uma caça às bruxas no Itamaraty. Remover servidores é prerrogativa dos ministros e dos presidentes. Satanizá-los antes da remoção é coisa de bruxos. Removê-los depois de terem sido satanizados é tibieza. Conhecemos nossa Casa e sabemos que seu terreno é fértil para ervas venenosas.

    Para ser preciso, relembrarei um caso ocorrido em fevereiro de 1974, pouco antes da posse do general Ernesto Geisel. Outro dia ele riu muito quando mencionei o episódio.

    Um diplomata fez chegar ao gabinete do presidente eleito uma folha de papel sem assinatura, devastando a vida de seis possíveis chanceleres de seu governo.

    A respeito do embaixador Azeredo da Silveira, o Silveirinha, dizia o seguinte:

    – Não encontrou, até hoje, quem lhe dissesse que ‘de modo que’ e ‘de maneira que’ são locuções invariáveis. Insiste, para suplício dos interlocutores, enunciar que ‘de modos que’, ‘de maneiras que’. [Um de seus colaboradores] pede, no particular, para ser acareado com o embaixador Silveira e afirma que pode fazer revelações estarrecedoras a respeito da cooperação que, no cargo [cônsul-geral em Paris], o embaixador Silveira prestou aos assuntos particulares do presidente Goulart.

    A sorte faltou ao diplomata e alguém identificou-o no verso do papelucho.

    Uma semana depois, o mesmo servidor fez chegar ao gabinete de Geisel outro papel, desta vez assinado. Nele, qualificava Silveira:

    – Grande inteligência, perspicácia, capacidade de trabalho e experiência na política multilateral e bilateral.

    Silveira foi o chanceler de Geisel e fez um memorável trabalho.

    Eu impedi que as bruxas entrassem no Itamaraty. Numa época em que se cassavam servidores aos lotes, limitei o expurgo a meia dúzia. Isso num regime de exceção.

    Mas não estou aqui para falar bem de mim. Em 1968, o embaixador Araújo Castro, último chanceler de João Goulart, foi nomeado embaixador do Brasil nas Nações Unidas e, logo depois, em Washington.

    Quando a prática de torturas de presos eram denunciadas pelo mundo afora, alguns de nossos mais ilustres embaixadores escreviam cartas a jornais negando que elas ocorressem. Um deles classificou a acusação de “caluniosa”. Era a instrução que tinham. Pio Corrêa cumpria essa ordem. Como cavalheiro que era, em 1971 escreveu ao chefe do Estado-Maior do Exército, general Alfredo Malan, denunciando a tortura e lastimando ter sido levado a mentir.

    A satanização de servidores é geralmente produto de malquerenças ou cobiças explicáveis pelas diferenças de caráter que acompanham o gênero humano. Nada podemos fazer para extingui-las, mas, sentados naquela cadeira, devemos contê-las. Um de seus antecessores prenunciou o desastre que seria a gestão dele ao remover Vosmicê do cargo de ex-chanceler para a embaixada na Croácia.

    O Brasil de hoje não é o das ditaduras. A conduta dos servidores deve ser avaliada pela métrica do serviço público, e só. O marechal Castello Branco mandou para Paris um diplomata da sua estima. Quando ele ofendeu essa métrica, transferimo-lo para Jacarta.

    Saudações fraternais

    Vasco Leitão da Cunha

  5. TEBET PRECISA INVENTAR UM MINISTÉRIO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Simone Tebet vai para o Planejamento. É um arranjo de última hora para que Luiz Inácio Lula da Silva possa salvar a face da ideia de “frente ampla”, ao menos no que diz respeito à composição do ministério.

    O ministério do Planejamento quase inexiste. Nos últimos 30 anos, foi esquartejado, desidratado, fatiado, anexado, e extinto, a última vez por Jair Bolsonaro. Ressuscita, vez e outra, como uma pasta que faz o Orçamento, cuida da administração pública, de estatais (sobre as quais pouco apita), e patrimônio, com Ipea e IBGE, autônomos, sob suas asas.

    Administração pública e patrimônio, sob Lula 3, vão para o ministério da Gestão. Tebet fica com Orçamento e estatais. Como diz o clichê, o Planejamento é um personagem à procura de um autor.

    A ministra vai precisar inventar uma pasta para chamar de sua. Talvez possa ter influência no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), mas está difícil de ver como. Além de ser quase certo que fique na Casa Civil, sob Rui Costa (PT), o PPI tem um Conselho Diretor autônomo, composto e direcionado por outros ministros; suas ações são executadas por qualquer ministério.

    É irônico que o PPI fique sob o comando de um ministério do PT, embora faça sentido, em parte, pois a Casa Civil tem papel de coordenação.

    O programa foi criado por Michel Temer, em 2016, e serve para ampliar a “interação entre o Estado e a iniciativa privada… para a execução de empreendimentos públicos de infraestrutura e de outras medidas de desestatização”.

    Mas é por aí que pode haver algum “planejamento estratégico” e orientação de investimento, por meio de impulsos e garantias para o setor privado.

    No mais, Tebet e assessores podem ter papel importante na discussão da nova regra fiscal —o que pode também dar problema. Quem será sua equipe? Seu grupo é o que se apelida de “liberal” ou “ortodoxo”.

    Segundo o zunzum, Tebet pode ainda inventar um sistema de avaliação de programas orçamentários (são criados e vivem, por inércia e por interesses menores, sem avaliação de eficácia).

    O ministério do Planejamento, no pós-morte do “planejamento estratégico”, se tornou apenas gerente de poucas funções de governo. Faz quase 30 anos, é um anacronismo prático e ideológico. O auge da ideia de planos estratégicos no Brasil foi nos anos 1950. A pasta foi criada em 1962, para abrigar o grande Celso Furtado, seu Plano Trienal e o Conselho de Desenvolvimento. Deu em quase nada.

    Na ditadura, foi o responsável pelos grandes planos de desenvolvimento, mistura de política macroeconômica intervencionista, programas colossais de investimento e de reformas. Tudo isso acabou mal, com a ditadura militar, com a hiperinflação e década e meia de desastre econômico; com o declínio do desenvolvimentismo e a contraofensiva liberal.

    Além do mais, outras instituições foram criadas para “planejar”, com “p” maiúsculo ou, mais comum, minúsculo. O ministério da Fazenda se tornou preponderante, tanto pela necessidade de estabilizar a economia de um país inflacionário (prioridade para o curto prazo) como pela mudança do pensamento econômico mais geralmente aceito, para o qual o velho planejamento é uma aberração.

    Nos anos finais da ditadura, a existência de Planejamento e Fazenda provocava disputas pelo controle da política econômica. Mais por tradição do que por igualdade de forças entre as pastas, essa disputa durou até meados do governo FHC, então algo caricata e irrelevante. O Planejamento não tinha músculo para ser protagonista de nada.

    Para crescer e aparecer, Simone Tebet vai ter de inventar seu ministério.

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