Um assunto que, mais uma vez, passou batido na imprensa local e regional, foi a exposição do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, na sessão de terça-feira passada, exatamente porque o governo e a bancada do Amém desviavam à atenção e “plantavam” a sua própria CPI num deboche processual para “investigá-lo”; tudo arquitetado para dar em pizza e salvar a pele do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e dos seus.
Na sessão, Dionísio tratou, trouxe novos dados da doença crônica em que está metido o Hospital de Gaspar. Se por um lado – o da prefeitura – entra uma montanha de dinheiro, no outro, a contrapartida de serviços é pífia para a sociedade, quando esta montanha e retorno são comparados com outros hospitais de mesmo porte e potencialidade em cidades de igual peso e com gestão municipalizada como é o caso de Indaial.
Na mesma sessão, onde o “novo” velho líder do governo de Kleber Edson, o ex-petista e hoje vereador, Francisco Solano Anhaia, MDB, se esforçava para desqualificar quem pedia transparência para os atos do governo e para isso tentava articular e montar uma CPI marota para o governo Kleber abafar e se safar das denúncias dos três vídeo-áudios sobre supostas propinas de empreiteiros e fornecedores de serviços aos do entorno da prefeitura de Gaspar, como políticos e gestores no poder de plantão, Dionísio continuava a sua série para desnudar com números, as incoerências e fragilidades o Hospital vendido como exemplar. Este papel na busca de respostas e melhorias era feito no ano passado pelo vereador Amauri Bornhausen, PDT, já falecido.
Outra vez, a Bancada do Amém – MDB, PP, PSD, PDT e PSDB – fingiu que não era com ela aquilo que se desenhava para melhor compreensão e se estampava na tela da Câmara. Um dos slides abre este artigo. Os dados de má gestão ou uso dos recursos são espantosos.
No primeiro semestre de 2021, o último dado disponível (estamos no primeiro semestre de 2023) no portal transparência do Hospital, sob intervenção municipal e de lá para cá, a coisa só piorou e ficou mais escondida da comunidade, o Hospital possuía autorização no Orçamento para gastar R$597.315,00 de recursos vindos da prefeitura. Sabe quanto ele levou? R$1.475.621,00. Ou seja, um rombo, em seis meses, de R$878.306,00 contra as contas municipais, numa única rubrica, sem contar os repasses estaduais, federais, doações de particulares, serviços que são cobrados de planos de saúde e doentes privados, bem como das tais emendas parlamentares alavancadoras de politicagem barata.
Além da falta de transparência, de verdade, não se apontou nenhum acréscimo no atendimento à população diante da quase triplicação de recursos. Ao contrário, o Hospital, no seu Pronto Atendimento, devido à falha da política pública de saúde, gestão e atendimento nos postinhos de Saúde espalhados pelo Centro e bairros, tornou-se o grande e único ambulatório médico da cidade e centro de reclamações. Impressionante!
E tudo isso ainda é piorado, quando se esconde, ou se mascara, à dívida quase impagável do Hospital. Ela foi criada e aumentada substancialmente exatamente no período de intervenção municipal pelos políticos no poder de plantão. É isto, aliás, que uma certidão positiva de débito emitida no dia 29 de setembro de 2021 pela própria prefeitura – a interventora. Ela dava conta que o Hospital era devedor para a própria prefeitura, que o alimenta com recursos públicos sem fim, de R$3.203.461,36 de impostos municipais. E isso vem desde 2014. Meu Deus! Hoje a conta é bem maior.
Quem em Gaspar deve tanto imposto para a prefeitura? O que se deixa de fazer a favor da cidade e dos cidadãos, cidadãs com a falta deles?
Estão usando a saúde pública para fazer política, errar e atender os seus. Há muito apostam que quanto pior melhor. E neste labirinto de atrocidades estão às trocas sucessivas de secretários da Saúde, quase todos sem identificação com a área, e igualmente, de diretores do Hospital, isto sem falar na errática gestão técnica dele e que leva a sua condição de falência econômica se não fosse o aporte contínuo e descontrolados de recursos municipais. Incompreensível se não for intencional.
Por enquanto, a Iesa e a Prime administradoras do Hospital e pouco cobradas em público, têm passado ilesas neste pente findo de problemas, bem como de Josué Sommer. Quando olharem os relacionamentos dessa gente com o ex-secretário que correu e se escondeu, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, e o novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD, talvez achem fios desencapados dessas gambiarras capazes de darem choques quase mortais nos desavisados.
Os próprios políticos que se dizem de oposição estão entre os culpados e que pela omissão ajudam a piorar este cenário aflitivo contra a cidade e principalmente os mais vulneráveis. Eles fingem, para estarem bem na fita e com isso, tornam tudo, muito mais ruim para a cidade, cidadãos, cidadãs e os necessitados de atendimento e cura. Essa gente pobre e com dor não possui alternativas e a quem se socorrer nas urgências, emergências e tratamentos prolongados de alguma doença que lhe acomete.
Na semana passada, o ex-candidato a prefeito e ex-presidente do PL, Rodrigo Boeing Althoff, esteve com o deputado Sargento Lima, PL, no Hospital “para ver o destino da emenda parlamentar de R$300 mil” enviada pelo deputado para lá. Recebeu um papelinho do secretário de Saúde, o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, um advogado. Rodrigo, segundo postou na sua rede para se promover e lavar a alma do governo de Kleber, percebeu que nem tudo liberado pelo gabinete do deputado foi aplicado no Hospital, apesar dele, Hospital, estar precisado, na penúria e gulosamente pedindo mais.
Só isto seria um mau sinal, para um gestor e um engenheiro familiarizado com números e planilhas, como diz ser Rodrigo.
Mas, para se dar bem, ou seja do tipo, “a minha parte eu fiz” e fez pela metade, Rodrigo validou o todo. Considerou não só satisfatórios os números do papelinho que não os investigou, como sendo a situação geral que, no ufanismo dele, passa bem longe dos críticos, os quais, com muitas dificuldades impostas pelos governantes, estão apurando os buracos da Saúde e principalmente do Hospital de Gaspar, como era feito com o ex-vereador Amauri e agora, com Dionísio. Rodrigo não conseguiu enxergar o Hospital em agonia e usado pelos políticos.
Ou seja, Rodrigo, carimbou como bom o que a cidade inteira quer que seja melhor, muito melhor, transparente e pede para mudar. Rodrigo disse com todas as letras no seu gesto avalista de que nada mudará, se por acaso se candidatar e for eleito prefeito de Gaspar. Do papel de fiscalizador, ele já abdicou. Não quer se incomodar. Vai deixar para outros se desgastarem
E por quê a Saúde de Gaspar é um poço sem fundo e sem controle?
Por gestos políticos, por falta de controles e por vícios contra os quais não se quer tomar decisões, com medo de perder votos, ou cortar privilégios que se criaram com o tempo por aproximação ou afinidade pessoal ou política partidária conveniente do passado, ou do momento presente na atual gestão. É o tal boca torta pelo uso do cachimbo. Então, o governante de plantão faz uma troca insana. Ele prefere o sofrimento do pobre e do vulnerável do que colocar ordem na casa. Enquanto quase todos dão duro e são exemplos de dedicação, neste caso, um motorista de ambulância, tem um salário normal de R$1.528,75 bruto. No mês de março ele conseguiu R$9.381,99. Está no Portal da Transparência. É só garimpar!
Como se deu esta mágica? Horas extras e trabalhando quase 24 horas por dia, impossível pela legislação trabalhista. E aí, incha-se o banco de horas naquilo que não pode ser pago na folha e por consequência, causar problemas de ordem trabalhista. O motorista é plantonista noturno no regime de 12horas de trabalho por 36h de folga. Quase não trabalha devido à baixa demanda quando está no plantão. E se não trabalha, dorme.
Então de dia e naqulas 36 horas que deveriam ser de folga, bem-disposto, apresenta-se e fica à disposição para as horas extras – com ou sem serviço – e atendimento de seus chefes. Normalizado. E multiplica-se os ganhos que pode chegar a 60 horas extras por semana e outras 100 para o banco de horas. Os demais servidores sem a mesma chance, chupam os dedos.
A comunidade e os chefes não enxergam, mas os demais motoristas e servidores da área, sim. E ai, se abrirem o bico. Serão punidos, perseguidos. E assim o ralo continua na área…E não é só este. Uma simples auditoria resolveria isto tudo, mas é contraproducente do ponto de vista político na tradução de votos e no jogo de poder. Os políticos, parecem que preferem a ira do povo doente. Ela é mais fraca e inaudível. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Outro espetáculo tosco e que mostra muito bem o grau de alienação da realidade do governo gasparense. Trata-se do que foi extraordinária e excepcionalmente feito fora do horário de trabalho. No entardecer do sábado de Aleluia, o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o vice Marcelo de Souza Brick, talvez no PL, orquestraram uma reunião híbrida – presencial e on-line. Tudo para ser manchete e salvadores da pátria diante da tragédia provocada pelo monstro da machadinha numa creche em Blumenau na semana passada, a qual abalou meio mundo de lá, aqui e alhures.
Era preciso reagir – já que agir antecipadamente é proibido nos dias de hoje diante de tanta gente amadora juntas num só governo? Era preciso fazer alguma coisa? Era! Então a ordem pareceu exagerar na mediocridade, mesmice, incompreensão das realidades e se estabelecer no atraso, inclusive o marqueteiro atrás de recuperação de imagem envolvida em dúvidas que vão se acumulando em vídeo-áudios contra os mandatários e suas relações pouco claras como empreiteiros e fornecedores de serviços.
E dessa forma, Gaspar entrou na mesma onda. Tudo com cheiro de naftalina, ou seja, de políticos jovens descompensados da atualidade, aplaudidos por uma trupe fiel nos erros com o mesmo viés daquilo que não se percebe e não funciona mais. Tendo a oportunidade de sair do poço, negaram-se, mais uma vez, a serem atores transformadores da nova realidade que de alguma forma viesse a nos surpreender. Validaram o que nos engole e até nos mata, não exatamente fisicamente, mas principalmente nos sonhos e esperanças. Gente sem noção e qualificação.
Os políticos liderados por Kleber e Marcelo, com alguns técnicos e representantes de setores da comunidade, principalmente os das áreas de segurança – e outra reunião foi feita para com os vereadores para dar conta do que se resolveu na de sábado -, resolveram fazer o primário que já se mostrou ineficaz há décadas. E por quê? Ele esconde problemas novos e complexos, repito complexos do ponto de vista social, emocional e de relacionamentos. Pior: a proposta tirada da reunião não os enfrenta com técnica e ciência. Incorpora o negacionismo que virou moda como se estivéssemos de volta a Idade Média e ao mesmo tempo, vejam só, fortaleceu uma máquina de ganhar muito dinheiro público – e privado – gestada na violência: a segurança armada ou não, quando disfarçada de patrimonial. Ela usa gente que está lá por não ter outro emprego ou para ampliar a renda de aposentado em qualquer setor, inclusive o policial. Piada mesmo foi sugerir a ajuda de “monitoramento” do 23º BI, de Blumenau nas escolas daqui. E por tudo isso, estas minhas observações poderiam parar por aqui diante de tanto desperdício.
Os “çábios” gasparenses no poder de plantão resolveram, então, entre os principais pontos emergenciais, indicar à contratação de seguranças armados, reforçar muros, certas alturas deles, colocar trancas e cadeados mais sofisticados, ou resumindo: aumentar o pânico psicológico nos ambientes escolares, aos invés de atacar e investir pesada e profissionalmente naquilo que gera esta violência: lares destruídos, falta de orientação, aconselhamento, acompanhamento especializado, vigilância e educação dos pais – ou responsáveis -, bem criar meios mais eficazes para aproximar a escola da sua comunidade – pais, tutores, responsáveis, vizinhos, discentes e corpo docente – e entender os verdadeiros e novos problemas dela e que a enfraquece como referência das nossas vidas. Negaram-se a tratar, reavaliar ou aperfeiçoar a escola como um local de pertencimento.
Tudo errado. E num ambiente, em que Gaspar ainda, repito, ainda está correndo desesperadamente atrás de professores e não mais importando com a qualificação deles – já fez duas chamadas públicas e nada de completar o quadro mínimo, repito, o mínimo e com qualificações comprometidas, e passados dois meses do início das aulas – para preencher as vagas, estes mesmos “çábios” reunidos, contribuem à insegurança de alunos e professores quando deixam as crianças ociosas, ansiosas e até deprimidas no próprio ambiente escolar por falta de atividades e até perspectivas. Vergonhoso. Sobre isso, nem um pio!
Um município que falha no turno mínimo obrigatório de aulas, que não possui contraturno, nem período integral, que falha doloridamente nos programas sociais e de inclusão via os esportes e atividades culturais, acaba de fazer a opção por colocar segurança – se possível armada e criar com isso, uma clara disfunção cognitiva nos alunos e egressos no ambiente físico onde estudam – no lugar de professores titulares, professores substitutos, professores auxiliares, coordenadores, psicólogos e até psiquiatras? Entenderam o tamanho do nosso atraso patrocinado por políticos jovens e que vivem nas redes sociais atrás de cliques e em exibição pessoal a todo momento para esconder incapacidade de gestão e as dúvidas que geram na prestação de contas?
Tudo errado. E só podia dar no que deu. Usou-se um episódio trágico e isolado ocorrido em Blumenau – como se fosse uma rotina – e ao invés de rediscutir o seu modelo de educação que ainda está no século 20. Pior: resolveu aproximá-lo de uma prisão, da polícia, do enfrentamento com seguranças privadas do tipo bandido e mocinho isolando todos do verdadeiro mundo que devem conhecer e ajudar a melhorar. E por que patacoada? Porque não temos uma sociedade organizada independente. Ela vive presa à perseguição de seus políticos. Piora ainda mais diante da falta de uma imprensa livre, propositiva e capaz de desnudar seus políticos espertos e fracos.
Por isso mesmo, os nossos jovens políticos, incrivelmente, estão dominando à cena do atraso, tentando se perpetuar nela nos distraindo com pirotecnias – como a reunião de sábado – e não são capazes de sair do círculo vicioso criado aqui desde quando nos livramos de Blumenau há quase 90 anos. Ah, Herculano, mas estamos apenas replicando o modelo que outros também anunciaram! Não discuto isso. Apenas lhes digo que este “apenas” da repetição do pior é a prova que não somos capazes de inovar e liderar processos que nos atualizem sequer com os conteúdos que as máquinas já reproduzem e estão ao alcance de qualquer um, inclusive das crianças na internet e que naturalmente, percebem o quanto se está atrasado.
Uma cidade que aparelha a secretaria de Educação com um titular curioso vindo de Blumenau para preencher a vaga do partido do novo prefeito de fato, o deputado Ismael dos Santos, PSD, com o jornalista Emerson Antunes, PSD, não pode evoluir neste ambiente e debate. E nem vou falar que ele chegou aqui causando e teve que pedir desculpas para continuar no papel de preenchedor de um cargo político em algo técnico e que exige uma dinâmica de atualização e sensibilidade da evolução permanente como poucos.
Uma cidade que coloca na titularidade da secretaria da (des)Assistência Social, Salésio Antônio da Conceição, outro vários zeros à esquerda neste ambiente técnico sensível ainda mais numa cidade como a nossa feita de migração, necessário ao extremo, com um orçamento que mal dá para cobrir a pesada estrutura política na qual está montada a inoperante secretaria, tudo só porque ele é um suplente de vereador, no acerto político imposto o PP de José Hilário Melato, o qual domina o cenário de co-poder de apoio de Kleber e Marcelo na Câmara, na tal Bancada do Amém, não poderia produzir nada fora da caixinha de antiguidades. É na secretaria de Assistência Social onde está o primeiro diagnóstico de que a sociedade emocionalmente precisa de ajuda, muita ajuda.
Uma cidade que faz do seu Conselho Tutelar um braço político disputado no voto, como se fosse de vereador, do governo de Kleber e Marcelo, ou seja, retira-lhe à autonomia de auscultar e intervir na chaga social dos nossos tempos e ligadas a relacionamentos familiares destruídos, rompidos ou comprometidos, em que as crianças são as mais expostas e vulneráveis deste processo de degradação pela pobreza, drogas e desavenças, só pode dar no que deu na reunião de sábado passado. Tudo serviu para criar cortinas de fumaças, entre poucos, mais uma vez, sem a participação de especialistas – os quais estão em falta por aqui -, discussão ampla com sociedade e com a comunidade escolar no sentido mais amplo possível na busca de soluções que não seja a contratação de guardas armados para proteger escolas e as vidas. Daqui a pouco, com esta visão tacanha, teremos mais guardas do que educadores nas escolas. Impressionante.
Resumindo este quadro dantesco: tudo para tapar o sol com a peneira, para criar factoides, para dizer que estão se preocupando sem de fato estar fazer algo efetivo, que mude o cenário. Tudo para se ter manchetes a favor dos políticos ocasionais e alimentar a analfabetos, ignorantes, desinformados e seus amestrados e com isso sustentar muitas postagens heroicas atrás de likes dos servidores e apoiadores obrigados a isso pelas circunstâncias, os quais não podem ser, minimamente, vozes discordantes, se até mesmo contribuidores de verdadeiras, óbvias ou inovadoras para novas soluções. Inacreditável.
Segurança patrimonial e armada nas escolas? Estão batendo palmas os donos dessas empresas, milícias ou gente que quer usufruir de um suposto caos. Aposto que nem haverá licitação. Afinal, é uma emergência. Falsa, mas é. E quem discutir contra isso, corre o sério risco de virar o judas para ser malhado. Vai-se, de verdade, engordar, e não se sabe ainda bem como, os contratos emergenciais, sem discussão e comparações de preços.
Saem professores, educadores, psicólogos, assistentes sociais, especialistas na área de sociologia e psiquiatria, entram mais vigilantes, quase sempre sem qualificação para casos finos como estes, mais armas, mas cadeados, mais câmeras, mais grades, mais cercas, mais muros altos. E isso vai resolver o que ainda é uma incógnita? Não há nenhuma inteligência por detrás desta decisão e se há, está faltando transparência para que possamos avaliar ou nos prevenir.
Se a cara (preço) empresa de vigilância atendesse naquilo que ela já é contratada, não haveria tanta depredação nas escolas municipais de Gaspar. Depredações, vejam só, segundo os relatos, a quais já começam antes das obras de restaurações estarem prontas e entregues para a comunidade escolar usufrui-las.
Alguma empresa de vigilância já foi responsabilizada e cobrada por aquilo que permitiu que se vandalizasse onde é de sua responsabilidade vigiar, impedir e relatar? Nada! Só mandou a fatura para que os pesados impostos de todos nós quitar religiosa e pontualmente a nota, inclusive daquilo que falhou. E por outro lado se ela apontar um responsável? Corre um sério risco de sofrer um processo por suposto constrangimento contra alunos, por parte pais, entidades defensoras de não sei o que e até, do Ministério Público. E mesmo que nada disso acontecesse, a pena para o delito é de dar pena de tão ridícula que é, e tudo no limite do Estatuto da Criança e do Adolescentes, que não é capaz de enxergar um desvio a ser tratado a favor do futuro da sociedade.
Pior. Este vandalismo de alunos e vizinhos, ou seja, da própria comunidade da escola, são sinais desta doença, que agora os “çábios” querem inibir e combater com homens e mulheres bem armados – mais caros que os desarmados -, e sabe lá como eles serão treinados para suportar uma eventual real situação de emergência. São sinais claros da falta de pertencimento da escola aos alunos e à comunidade. O que foi e está sendo feito para mapeá-los, mitigá-los, e à prevenção antes que se chegue a uma tragédia que apareceu recentemente numa escola de São Paulo? Lá o monstro veio do interior da própria escola e não de um um desconhecido externo como o de Blumenau. E como reagirão estes guardas quando tiverem que usar as armas letais com gente correndo em pânico nas escolas? Triste. Faltam respostas.
Vamos então a dois exemplos: a creche de Blumenau tinha muros e cadeados. O monstro da machadinha – que por enquanto não tinha nenhuma relação direta ou indireta conhecida com a escola e teria escolhido um alvo aleatório – não teve dúvidas: pulou e foi lá, barbarizou, e mesmo não tendo portões abertos para a fuga, pulou-os de volta para sair de lá. E quanto a machadinha? Vão proibir à fabricação e à venda delas ou da faca que ele também portava? Gente maluca. Então, se faz espetáculo. É mais fácil.
O problema, no fundo, é o monstro. Não cuidamos dele quando deu sinais. Deixamos ele solto e se for olhar bem, ele é fruto do desleixo dentro da família, dentro da escola, dentro do ambiente onde ele está socialmente inserido, e não se percebeu ou pior, se ignorou uma mente toda comprometida nos padrões da sociedade. Sinais ele deu. E por isso mesmo, ele deveria há muito estar sob cuidados especializados. Consequentemente, ele não fosse hoje, um caso de polícia e nem teria perpetrado à monstruosidade para constar no seu currículo. O mundo mudou, as pessoas mudaram, a estrutura de equilíbrio psicossocial dos humanos mudou; é outra e está abalada e mutando. Os conteúdos e jogos da internet ajudam. Ela – esta mente em desequilíbrio – é que precisa ser melhor percebida, conhecida, tratada e vigiada. Não pode ser um conto de ficção e que se lê sem qualquer consequência, restrita as imaginações instigadas pelo autor do conto.
Precisamos de policiais e seguranças? Precisamos! E em área degradadas. E a escola não é este lugar. Se a escola está degradada, não é escola. Policiais, seguranças armados e aparato bélico de proteção não substituem a família bem estruturada, sinais de desiquilíbrio psico emocial não corretamente diagnosticados e tratados, educação de qualidade, ambientes seguros não exatamente pelos guardas – armados ou não -, mas pela satisfação pessoal de quem os frequenta dedicados à educação, conhecimento, relacionamento, pertencimento e acolhimento, como é o caso primário das creches
Precisamos mais de psicólogos, assistentes sociais, abordadores, diagnósticos e cientistas sociais somado aos educadores do que policiais e seguranças armados. Não se trata de um mundo ideal, mas normal. Psicopatas sempre houve ou haverá -e é da natureza do desvio da mente humana doente ou daquela que percebe que há falta de limites morais e legais que as freiam nos seus instintos bestiais. Por outro lado, não podemos deixar que os políticos oportunistas, leigos e criadores de factoides, para se manterem no poder a qualquer custo, nos tornem uma sociedade de psicopatas, de condenados e presidiários dentro de nós mesmos limitando à nossa liberdade e autodeterminação.
O que significa tudo isso? De que estamos debatendo mal o nosso futuro e escolhendo pior ainda as nossas lideranças que se acham dos nossos destinos e eles salvadores do mundo. Estamos terceirizando as soluções para curiosos, espertos e gananciosos disfarçados de entendidos. Vamos ficar reféns deles, na vida e na morte. Esses nossos políticos são perigosos, incompetentes, ardilosos e imorais. Até mesmo quando invocam e dizem falar em nome de Deus
Falta o Ministério Público também fazer a parte dele e à Justiça desapaixonar em relação a casos críticos, quando se trata de alocação temporárias para lares substitutos e até adoções onde inclui um ingrediente explosivo: a ideologia. Veja o recente caso das adoções de Blumenau e que já deu o que falar décadas atrás aqui mesmo em Gaspar quando se tinha um programa exemplo no país. Como se vê, nada é fácil. É desafiador. Mas, os políticos preferem o espetáculo e alimentam um circo de horrores. E o circo existe porque damos audiência. E os monstros sociais, psicopatas e os que vendem a cura pela segurança particular ostensiva e de duvidoso preparado e resultado, agradecem. Acorda, Gaspar!
6 comentários em “ENQUANTO A PREFEITURA DE GASPAR ARMA NA CÂMARA A CPI DO NADA, ELA CONTINUA PRODUZINDO CORTINAS DE FUMAÇAS PARA ESCONDER A INÉRCIA E A “CURA” DA DOENÇA CRÔNICA DO HOSPITAL”
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100 DIAS SEM FOCO, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo
Nada contra o “roadshow” internacional do presidente Luiz Inácio da Silva nem aos conselhos que dá ao mundo sobre como solucionar a guerra no Leste Europeu e nos palpites a respeito das relações entre países, notadamente ditaduras. Benfazejo o empenho em tirar o Brasil da condição de pária em que nos colocou o antecessor.
Bem-vinda também a revisão de atos nefastos, de decisões retrógradas, de comportamentos inaceitáveis e socialmente insensíveis. Fala-se em alívio civilizatório; de fato, uma vantagem. O desafogo, porém, traz o risco do repouso. E, pelo que temos visto nestes três meses e pouco, a trégua não se dá no conforto de um berço esplêndido.
Longe disso estamos. Falta foco nos problemas a serem enfrentados com urgência, sobram confusões, desacertos e retrocessos. Minorias são importantes, mas não menos o é a maioria. O presidente fala em olhar para frente, pede paciência. Mas o tempo de estio seria normal se ele fosse aprendiz no ofício. Em matéria de chegança, Luiz Inácio é catedrático. Comandou duas vezes os fatídicos 100 dias e outras duas foi espectador engajado de seu partido.
Tanto que fez campanha referido nas experiências anteriores. Daí a cobrança mais intensa e frágil à justificativa de que está “só no começo”. Desmontar algo era preciso, mas destruir tudo em áreas essenciais ao bem-estar da população beira a irresponsabilidade.
Demolição do marco do saneamento, anulação da Lei das Estatais, volta das invasões de terras produtivas, gambiarra no orçamento secreto, sinal de repetição de velhos erros na política de preços dos combustíveis, contestação da ação autônoma do Banco Central e, pior, cancelamento de privatizações por apetite de poder e controle.
Tivéssemos ido por esse caminho, o Brasil ainda estaria nas garras da telefonia estatal, para citar só o caso mais emblemático, com farta distribuição de cargos nas teles para a infelicidade geral da nação.
SERÁ QUE CONCORDO COM LIRA?, por Carlos Andreazza, no jornal O Globo
Nunca imaginei que concordaria com Arthur Lira. Espero não me arrepender. A matéria da concordância é a proteção ao Marco Legal do Saneamento, aprovado pelo Congresso e sancionado em 2020; cujo objetivo tem décadas de atraso: universalizar a oferta de água e o esgotamento sanitário em dez anos.
A meta é ambiciosa. Não poderia ser diferente. Cem milhões de pessoas não têm rede de esgoto. São 35 milhões os sem água potável. Quase tudo vai por fazer. O Brasil precisa de intentos ousados para curto prazo. Em termos de saneamento, estamos — mesmo em algumas áreas de centros urbanos modernos — nalgum buraco entre 1930 e 1940.
Quem dera nossa vala fosse a língua de fezes que escorre pelas areias das praias — e que incorporamos como dado da paisagem. Nosso buraco é tão fundo que essa ferida em Copacabana se torna perfumaria. A nossa fossa é a que deriva de tirar a cabeça da bolha para exercício de imaginação simples: se é assim em Búzios, como será onde não se monta cartão-postal?
Falharam historicamente as empresas estaduais encarregadas de retirar cocô da frente da porta pela qual as crianças saem de casa para ir à escola. A explicação mais frequente em defesa dessas companhias — de que foram sucateadas pelo aparelhamento político-partidário — consiste na própria corroboração-constatação de inviabilidade do sistema. (Sendo os aparelhadores e seus apaniguados os que militam pela sustentação do esquema viciado gerador de doenças.)
As companhias estatais tiveram muitas chances, não menos bilhões de dinheiros, para aterrar uma das fundações, decerto entre as mais aberrantes, da desigualdade — a combinação entre água tratada inacessível e esgoto a céu aberto — e não conseguiram.
Não conseguiram. Ponto final.
O Marco do Saneamento, ao dar vez ao setor privado, cria as condições competitivas capazes de oferecer uma alternativa crível — e longe de ser solução garantida, como demonstra a operação dos trens urbanos no Rio de Janeiro. Gestão pela iniciativa privada da coisa pública — a SuperVia ensina — não é a panaceia do mundo. As iniciativas ordenadas pela Lei do Saneamento, no entanto, são saneadoras. Botam a bola no chão. A legislação é boa. Não estabelece o fim das estatais. Exige que se estruturem para concorrer. Não é excludente. É estruturante.
É o caminho; a exigência — por investimentos em infraestrutura com o condão de sanear vidas — mobilizando reações em socorro de superfícies cujas existências ora têm por fim a manutenção de milhares de boquinhas.
O novo conjunto legal expôs a incompetência mais básica das empresas estaduais de água e esgoto. Não há outra qualificação para isto: mais de 1.100 municípios, com população de cerca de 30 milhões, cujos contratos para serviços de água e esgoto são considerados irregulares porque as companhias não conseguiram comprovar meios de promover os investimentos exigidos. Algumas estatais exercitaram o desaforo de nem sequer mandar a documentação à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.
A isso, à exibição da impossibilidade de (do desdém em) enfrentar o problema dramático do saneamento no país, o governo Lula reagiu com os decretos — ilegais, por avançarem sobre prerrogativas do Parlamento — fiadores de sobrevida às empresas estaduais deficitárias. Canetadas que prorrogaram — atropelando determinação que só o Congresso poderia rever — os prazos para a comprovação da capacidade de investimento por companhias que jamais conseguiram ofertar minimamente o que lhes cabia.
O governo Lula não tem pressa em matéria de saneamento básico, uma urgência. É o que informa. Apressou-se, porém, em decretar pela permanência — na banguela — de empresas impróprias para prestar os serviços que lhes dão finalidade. O puxadinho segundo o qual companhias estaduais poderiam atender diretamente — sem licitações municipais — agrupamentos de cidades é autoevidente. A justificativa para a gambiarra obriga ou decreto legislativo ou ação ao Supremo: por meio desses ajuntamentos, descaracterizadas as unidades municipais, o estado seria considerado o titular do serviço — e cairia a necessidade de licitação.
Que tal?
O presidente da Câmara, generoso, chamou a manobra de “um absurdo”. Disse que os dois decretos impõem retrocessos. E foi explícito ao afirmar que não aceitará retrocessos.
Lira é a favor de aprimorar a legislação — mas não explicou em que consistiria esse aprimoramento. (Seria o caso de explicar também o que compreende por retrocesso; e retrocesso para quem.) É onde temo me arrepender ao lhe elogiar a disposição. Porque, se não resta dúvida de que qualquer mudança no Marco do Saneamento deve ser feita via Congresso, dúvida tampouco há de que se possa usar essa prerrogativa republicana para vender mais caro o assalto à lei.
O ABISMO HUMANO EM BLUMENAU, por Fernando Gabeira, no jornal O Globo
Este artigo foi sacudido pelos acontecimentos de Blumenau: um homem de 25 anos matando quatro crianças a machadadas.
No entanto ele começava suave, com lembranças de Dona Vanna, da Livraria Leonardo da Vinci, no Rio. Ela viajava sempre e trazia novos livros. Numa das últimas viagens, trouxe, entre outros, um que me interessou pelo título e pela capa: “Android Epistemology”. É uma reflexão teórica sobre as máquinas pensantes, e a capa colorida mostrava alguns recortes da figura humana, entrelaçados por fios coloridos. Nem todos os artigos são acessíveis a um leigo como eu. Destaquei algumas frases de um deles e pensava em trabalhar com ela:
— A oposição à teoria dos androides é uma das últimas resistências à demolição científica da ideia da condição única e especial dos humanos e de sua posição no Universo.
Coincidência, pensei. A ecologia que estudo há alguns anos também coloca em xeque o antropocentrismo, a suposição da superioridade humana sobre outras espécies. Os seres humanos não são os únicos para quem o mundo existe. No passado, essa ideia era tão forte que, segundo ela, o cocô de cavalo não tem cheiro desagradável porque o animal foi desenhado por Deus para acompanhar os humanos.
O livro trazido por Dona Vanna tinha uma sátira aos humanos, produzida por uma civilização de máquinas que visitava a Terra. Elas se perguntavam por que somos tão violentos. E a resposta era porque toda a nossa evolução foi feita a ferro e fogo, com garras e dentes. E por que éramos tão perigosos? Somos mortais e, por causa disso, temos pouco a perder.
Estava juntando algumas ideias para tentar responder a um amigo que me disse que o mundo estava virado. E está sim. Um sociólogo que morreu em 2015, Ulrich Beck, dizia que o mundo vivia uma metamorfose, algo diferente de uma revolução, que é intencional. Vivemos consequências descontroladas da modernização. O país não é mais referência, porque o mundo está interligado, classes sociais não nos explicam mais, mas classes de risco diante das ameaças das mudanças climáticas.
Neste mundo de pernas pro ar, creio que o meio ambiente e o avanço do meio digital de uma certa maneira acabarão por nos dar uma outra e mais modesta dimensão do humano.
Nada neste artigo poderia explicar o fato de que um homem matou crianças a machadadas em Blumenau. A globalização, diferente do colonialismo, que se justifica pela suposta inferioridade do colonizado, tem pelo menos um horizonte normativo: os direitos humanos.
Mas um crime dessa natureza também nos obriga a reexaminar o que é o humano. Sou plenamente favorável às restrições que a imprensa adotou na cobertura de casos como esse. No entanto sou favorável à discreta busca do conhecimento. Na década de 1970, creio, o FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos) criou um grupo especial para fazer longas entrevistas com criminosos em série. Como funcionavam essas mentes, que gatilhos acionam sua violência extrema? Foi por meio das pesquisas atuais sobre a influência de contágio de crimes espetaculares que a imprensa se inspirou para mudar seu comportamento diante deles.
Não sei precisamente a que levaria um esforço redobrado de conhecimento do tipo de mente criminosa que ataca crianças em escolas. Já tivemos um caso em Minas; outro em Saudades, Santa Catarina; e este em Blumenau. Minha esperança é que saiam algumas indicações para uma política preventiva.
Teremos 50 policiais vigiando redes sociais, mas precisam ser alimentados por informação adequada. Nem sempre poderão contar com bons indícios.
Terminei a semana mais convencido de que não somos superiores às outras formas de vida e, agora, com o livro que Dona Vanna trouxe, nem de que somos também os mais inteligentes.
GOVERNO ENVELHECIDO AOS 100 DIAS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O governo de Lula da Silva chega hoje ao seu centésimo dia como se estivesse em sua reta final. Os sinais de decrepitude precoce estão em toda parte, mas sobretudo na aparente incapacidade do presidente de dar um rumo – imprimir uma marca, como dizem os marqueteiros – à sua incipiente administração.
O governo dá ares de envelhecimento acelerado quando parece mais preocupado em criar fatos que lhe garantam vantagens eleitorais, como se estivéssemos às portas da eleição presidencial de 2026, e não em tomar as decisões duras e impopulares que qualquer governo responsável toma quando ainda está embalado pela legitimidade das urnas – ainda mais diante da perspectiva de enfrentar um Congresso crescentemente hostil, em que a base governista aparenta ser frágil e pouco confiável.
Alguns otimistas dirão que Lula da Silva, por mais perdido que esteja, ainda faz um governo melhor do que o de Jair Bolsonaro. Mas aí não há vantagem nenhuma: é virtualmente impossível ser pior do que Bolsonaro, responsável pela putrefação moral da política, pela desmoralização da República e pela ruína de áreas cruciais para o País, como saúde e educação.
Mas era possível ser efetivamente melhor, se a disposição de construir fosse tão grande quanto a de desmontar o que foi feito no passado recente. Os petistas, a começar por Lula da Silva, parecem convictos de que tudo o que foi realizado depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff deve ser desfeito por ser fruto de um tal “golpe”.
Nem se discute que era necessário, por exemplo, reverter as medidas bolsonaristas que levaram ao armamento desenfreado da população. Tampouco pode ser ignorado o esforço de resgatar os povos indígenas da Amazônia, em especial o povo Yanomami, submetidos ao abandono, à fome e à morte pela leniência do governo anterior no combate aos crimes na região. Ademais, o novo governo melhorou a imagem do País no exterior, resgatando o Brasil da condição de pária em que Bolsonaro o colocou e recobrando seu tradicional papel de interlocutor relevante em uma miríade de questões globais, em especial na seara ambiental e no comércio internacional.
Mas os retrocessos são igualmente notáveis, frutos sobretudo do empenho dos petistas de fazer terra arrasada dos avanços obtidos na gestão de Michel Temer, chamado de “golpista” por Lula. Movido por esse espírito de vingança, Lula avalizou o desmonte do Marco do Saneamento, para favorecer estatais falidas e incompetentes em detrimento do bem-estar dos pobres; avançou sobre a Lei das Estatais, criada justamente para estancar a corrupção das estatais, grande marca dos governos petistas; mandou parar a reforma do ensino médio, para satisfazer sindicatos em prejuízo dos estudantes, aflitos com um futuro incerto; ameaçou rever a reforma trabalhista, um formidável avanço em relação à legislação caduca da era varguista; fustigou a Petrobras a abandonar as políticas e práticas administrativas adotadas justamente para salvar a companhia depois da destruição promovida pelos petistas; e detonou o teto de gastos, criado no governo Temer para conter a sangria das contas públicas após a passagem irresponsável de Dilma pelo poder.
Menos mal que, entre uma pirraça e outra, o governo Lula foi capaz de elaborar uma proposta de regime fiscal que, malgrado seus problemas, ao menos sinaliza alguma intenção de manter a solvência das contas públicas. Mas, bem ao estilo petista, a maior oposição ao projeto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não parte da oposição, e sim do próprio PT, incapaz de aceitar que dinheiro público não brota da terra nem dá em árvore. Quando um Lindbergh Faria (PT-RJ) diz que o novo regime fiscal é nada menos que um “pacto com o diabo”, algo que nem o mais empedernido dos bolsonaristas ousou fazer, este jornal tem razões de sobra para suspeitar que o ministro da Fazenda talvez não tenha forças para lutar contra “opositores” cujo grande poder decorre justamente da pequena distância que os separa dos ouvidos de Lula.