Fechadas as urnas no domingo, a contagem dos votos para se descobrir quem seria o prefeito vencedor era tão importante quanto a de saber como se dará a governabilidade do novo prefeito via a Câmara municipal. E o primeiro retrato, que se teve é de que se não conseguiu a maioria na Câmara. Todavia, uma boa conversa e composições que não firam a proposta do novo governo estabilizaria esta maioria na Câmara a favor de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL.
O melhor exemplo recente desse tipo de articulação, com resultado e despreendimento, a qual ainda pode estar na memória dos de hoje – quase sempre desmemoriados, apesar de jovens -, deu o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, (derrotado desta vez). Quando ganhou o seu terceiro mandato em 2012, todos exercidos integralmente, escaldado, escolado, viu que os quatro votos caixão entre nove que tinha naquela eleição na Câmara, eram pó e qualquer vento o deixaria isolado. Ainda mais, com os perdedores mostrando os dentes que não se sabia se mordiam como comprometiam.
Zuchi não teve vergonha – e para isso, deixou as rusgas ideológicas ou partidárias de lado, foi pragmático – nenhuma em nome do projeto dele. Zuchi não estava olhando para o mandato onde concluiria obras imnportantes.
Chamou a dita oposição, magoada e fingidamente armada, e disse que ela poderia lotear a Câmara do jeito que ela quisesse na insaciável e aparente busca de poder, desde que ela não o atrapalhasse no essencial: a governabilidade e os projetos que armava via a ligação mínima que tinha com Brasília, onde o troféu acabou sendo a Ponte do Vale.
E quem comandou o processo de apaziguamento e comando da Câmara pela então oposição? José Hilário Melato, PP. E ele está de volta, para o oitavo mandato (só ficou de fora em 2004, no governo de Adilson Luiz Schmitt, então MDB, hoje está no PL). Melato saiu das urnas este ano com mais votos depois da barbeiragem de 2020, onde vereador. E veio com mais votos. (927, em 2016, 774 em 2020 e quase fica fora e 1004 agora).
Quem são os seis da bancada do novo governo eleito: Alexsandro Burnier, Elisete Amorim Antunes, Carlos Eduardo Schmitt, Sandra Mara Hostins e Alyne Karla Serafim Nicoletti, todos do PL, além de Thimoti Deschamps, do União Brasil. É claro que nenhum deles pode pensar em ser presidente da Câmara neste momento. Seria um voto a menos. O presidente só vota, nos projetos que requerem votos de maioria simples, em caso de empate.
E quem poderia ser um opositor ferrenho entre os 13 eleitos? Dionísio Luiz Bertoldi, PT, mas a sua trajetória é feita de coerência pela cidade. Restam dois: Giovano Borges, PSD, o último por quociente proporcional a entrar. Ele é a “outra face da moeda” do quase sempre derrotado Marcelo de Souza Brick, PP. Resta o novato Roni Jean Muller, MDB, que também entrou por média. Giovano já compôs com até com o PT para ter a presidência da Câmara. Roni, ainda é uma icógnita, mas está atrapalhado na operação da roçada. Então…
Paulo Norberto Koerich, PL, não precisa de uma Bancada do Amém, pois é só olhar o que ela foi capaz de esconder, abafar e atrapalhar um governo que poderia ter tido continuidade nestas eleições de domingo, se tivesse feito o mínimo para se sustentar coerentemente. Mas, por outro lado, Paulo precisa entender, que governabilidade, é essencial, ainda mais no primeiro ano de governo quando vai ter que arrumar a casa toda estropiada e dizer a que veio, inclusive para os amigos que se agarraram como tábua de salvação e aos que, muda governo, mudam a partitura para agradar ao novo maestro. E isto é um perigo. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
O quociente eleitoral para colocar um entre os 13 vereadores em Gaspar nesta eleição foi de 1.145 votos. O Republicanos fez apenas 731 votos válidos, dos quais apenas 703 em vereadores. O próprio candidato, Oberdan Barni, por outros partidos, nem teria entrado como vereador.
O Novo, outro da rabeira, fez 1.697 votos válidos na legenda, sendo 1.643 em candidatos. Entretanto, a média dos concorrentes foi maior e comeram a vaga dele.
Entraram por média na complexa conta da Justiça Eleitoral Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, Sandra Mara Hostins e Aline Karla Serafim Nicoleti, ambas do PL, favorecida pela expressiva votação de Alexsandro Burnier. E por Quociente Partidário, Giovano Borges, PSD
Não chamem para um cafezinho na mesma mesa Tereza da Trindade, PL e o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL. Tereza – que foi a secretária de saúde e pau para toda a obra na Câmara no tempo de Adilson, acusao de incentivá-la ao pleito e de ter abandoando-a por Elisete Amorim Antunes, PL. A mesma queixa tem o lanterna Oberdan Barni, Republicanos. Adilson o teria lançado, abandonado e mais do que isso, desabonando-o.
Uma prova inequívoca de um ineficiente para a sociedade e seus políticos, pois se traduz em números nas eleições. Os suplentes de vereadores do PP e MDB que viraram secretários permanentes ou por algum instante, tiveram um desempenho pífio nas urnas. Até o arrogante, irmão de sermões e as vezes, misto de humoristas nas redes sociais, Cleverson Ferreira dos Santos, PP, conheceu dias de amargura.
Houve várias tretas durante a campanha. Uma delas envolveu o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato e o novato Cleverson Ferreira dos Santos, ambos do PP. Melato estava inconformado com o uso de carros da secretaria de Agricultura e Aquicultura sem identificação. Queixou-se ao prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Kleber ao invés de por ordem na casa, avisou o irmão de templo, Cleverson. O castigo veio nas urnas.
Os votos do suplente Norberto dos Santos, MDB, o Betinho da Lagoa, derreteram (376), depois da batida da Força Tarefa da Polícia na casa dele à procura de provas para instruir o processo na limpeza urbana. Antes, os mapas do partido davam ele, como um dos que poderiam ter chances no partido, mesmo tento naquela área, a Margem Esquerda, nove candidatos, entre eles, o eleito Roni Jean Muller, MDB, que foi secretário de Obras e Serviços Urbanos, por onde transitou contrato da Ecosystem.
Para encerrar esta terça-feira quando esperamos muita chuva a partir desta noite. É a primeira vez que a Câmara de Gaspar elege quatro mulheres. Chama a miséria de votos da ex-secretária de Educação e presidente do MDB de Gaspar, a vereadora Zilma Mônica Sansão Benevenutti (260) e como o tido eleito, rei das curtidas das redes sociais, Paulo Ricardo de Souza Filippus, PL, que já foi presidente do DEM de Gaspar e deletava que lhe dava na telha, obteve apenas 261 votos, ou seja, bem atrás da maioria analógica.
Ah, Hoje é dia de sessão ordinária e deliberativa. Nas últimas semanas ela se resumia a meia hora e mesmo assim, a saída antecipada de muito deles, principalmente, de Ciro André Quintino, MDB, o campeão de diárias. Talvez, tenhamos o lançamento da campanha de deputado estadual de Alexsandro Burnier, PL, que parece estar vestindo o terno antes na hora e ainda não lhe falaram de outros exemplos semelhantes e de uma tal fila. Muda, Gaspar!
Fez bem. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB já comunicou ao prefeito eleito, Paulo Norberto Koerich, PL, que já abriu as portas para a transição. Espera-se que Paulo constitua uma equipe técnica e não amontoado de amigos para esta tarefa delicada e com prioridades bem claras. Dela depende começar governando já em janeiro ou patinando tentando descobrir onde se meteu. Muda, Gaspar!
10 comentários em “EM TESE, O NOVO PREFEITO DE GASPAR NÃO POSSUI MAIORIA NA CÂMARA. E ISTO SÓ FOI PROBLEMA AOS TEIMOSOS, ENTRE ELES, O ATUAL PREFEITO NO PRIMEIRO MANDATO. BASTA AO ELEITO – SE DOMINAR O PROCESSO E NÃO TERCEIRIZAR AOS LUAS PRETAS – ACERTAR-SE COM O DONO ETERNO DO PEDAÇO E QUE CONTINUOU LÁ”
BOULOS TEM UMA TAREFA DE HÉRCULES, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Com cinco capitais e cerca de 15 milhões de eleitores pendurados no segundo turno, é arriscado dizer quem prevaleceu na eleição municipal. Os números não favorecem o PT. Ele está fora da disputa em Belo Horizonte e Goiânia. Suas batalhas serão três: São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre. Se levar as três, poderá cantar vitória, mas São Paulo, a joia da coroa, prenuncia um trabalho de Hércules para Guilherme Boulos.
Numa conta de padaria, admitindo que Ricardo Nunes fique com a mesma votação e Boulos carreie todos os votos de Tabata Amaral e de outros seis deixados de fora, partirá de 42%. Para chegar aos 50%, terá de buscar mais de 600 mil votos no estoque de Pablo Marçal. (Como 2,5 milhões não foram votar no domingo, essa conta só fechará na noite da eleição.)
As eleições municipais não antecipam prognósticos para as gerais, mas as duas rimam. A de 2020 mostrou que o trator de 2018 — que elegeu Bolsonaro, Wilson Witzel no Rio e João Doria em São Paulo — havia perdido tração. Dois anos depois, Lula venceu na capital paulista.
O centro da política brasileira moveu-se para o conservadorismo. Só isso explica que Ricardo Nunes, um jovem militante do MDB de Ulysses Guimarães, eleito vice-prefeito na chapa de Bruno Covas, acuse seu adversário de ser, hoje, um extremista de esquerda.
Não se pode saber até onde essa migração tem a ver com a transformação do PSDB paulista de Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas numa irrelevância eleitoral. Nascido em 1988 de uma costela do MDB, ao romper com as malfeitorias de Orestes Quércia, uma parte das sobras do tucanato patrocinou José Luiz Datena e outra aninhou-se na campanha de Nunes.
O PSDB era um algodão entre cristais. O PT deu-lhe guerra sem quartel. Inebriados por anos de poder e de sucesso, os tucanos claudicaram, e o conservadorismo foi capturado por fanáticos sem causa. Ganha um fim de semana em Caracas quem souber que causa Pablo Marçal perseguia.
Lula, que já se definiu como “metamorfose ambulante”, cabe no molde dos sociais-democratas. A militância petista, não.
Prevalecendo no Rio de Janeiro, o presidente aliou-se ao prefeito Eduardo Paes, e ele se reelegeu, derrotando o candidato do clã dos Bolsonaros.
Por algum motivo, Lula quis manter distância das disputas municipais. Pode ter sido uma má ideia, até porque a batata da eleição de São Paulo cairá no seu colo. Nas próximas semanas, vai-se saber o tamanho do empenho de Lula por Boulos.
Gilberto Kassab e Tarcísio de Freitas, que entraram de cabeça na campanha, saíram vencedores do primeiro turno. O PSD de Kassab já elegeu 878 prefeitos em todo o país, superando os 847 do MDB. Em São Paulo, Tarcísio ajudou a conter Pablo Marçal, e sua base já elegeu 354 dos 645 prefeitos paulistas.
Todos os trogloditas apresentam-se como conservadores, mas nem todos os conservadores são trogloditas. Outro dia, Lula discorreu sobre o que seria um declínio mundial da esquerda e deu como exemplo o cavalo de pau do presidente francês, Emmanuel Macron, que convidou para seu primeiro-ministro um quadro conservador. Terá sido parte de um declínio? O poder de Macron é ameaçado por uma direita xenófoba e radical. (Pouco a ver com os trogloditas de Pindorama.)
LULA DE OUVIDOS FECHADOS PARA AS URNAS, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Lula, até aqui, parece ter passado os últimos dias de olhos e ouvidos fechados para os recados que emergiram das urnas no último domingo. Passadas 48 horas, com vencedores colhendo os louros e vencidos lambendo as feridas, o presidente segue entoando o samba de uma nota só que tem marcado seu segundo e encruado ano do terceiro mandato.
Voltou a falar que os juros estão altos e a dizer esperar que baixem em breve, mesmo sabendo que isso não está no radar, justamente no dia da sabatina no Senado de Gabriel Galípolo, seu escolhido para presidir o Banco Central. Não causou nenhum ruído, a aprovação se deu com o pé nas costas — mas para quê? Deixa no ar a ideia de que a próxima gestão terá sobre si a sombra da pressão palaciana, o que não ajuda em nada a transição na autoridade monetária.
Na mesma fala, o presidente repetiu que ideias novas estão proibidas entre os ministros e que a hora é de colher sabe-se lá que frutos, uma vez que o que mais se vê por aí são pepinos, de queimadas a vício em bets. O governo ainda não chegou à metade. Condenar ideias novas tão prematuramente, ainda mais depois de os eleitores voltarem às seções de votação e chancelarem tão fortemente, de Sul a Norte, incluindo o emblemático Nordeste, políticos com ideário oposto ao de Lula, é desperdiçar a chance de perceber o que está errado e corrigir a rota. Para, aí quem sabe, colher frutos.
Se no primeiro ano houve com o que encher a cesta, do arcabouço fiscal à reforma tributária, passando pelos dissabores em série de Jair Bolsonaro et caterva, neste ano nem o bom desempenho da economia parece ser capitalizado pelo Executivo.
Para completar um cenário bem adverso, o ex-presidente tirou a cabeça da água e ajudou o PL a obter uma performance inédita em pleitos municipais, com dois eleitos e nove disputando segundo turno em capitais. O desempenho supera de longe o do PT, que não conseguiu nenhuma vitória em capitais e disputa a segunda fase em quatro delas em situação de tiro, porrada e bomba.
Ignorar a realidade política nunca foi boa medida para governos, e Lula, conhecido pelo pragmatismo com que construiu sua carreira única, sempre foi bom em dar a volta por cima de adversidades que pareciam definitivas, como sua prisão pela Lava-Jato. O fato de estar cercado de um time bem mais fraco e menos autônomo que em seus mandatos anteriores talvez tenha empenado um pouco essa sua propalada capacidade.
Temas que se impuseram no debate nas principais cidades do Brasil deveriam motivar o governo a espanar o velho e a buscar desesperadamente por ideias novas, que o fizessem se reconectar com uma parcela imensa do eleitorado, sob pena de ser derrotado daqui a dois anos.
O fenômeno Pablo Marçal, que por um triz não foi ao segundo turno em São Paulo, à parte toda a delinquência, evidenciou que existe uma classe empreendedora que não vê no PT, nem na confusa novela para regulamentar atividades como a dos entregadores e dos motoristas de aplicativo, qualquer relação com aquilo que almejam para suas vidas.
O partido que nasceu e chegou ao poder vocalizando anseios dos trabalhadores desistirá de falar com a nova classe trabalhadora só porque não consegue lhe enfiar goela abaixo uma CLT e uma sindicalização que ela despreza? Não seria menos arrogante e mais inteligente entender o que eles dizem em vez de considerá-los alienados e idiotizados?
O mesmo erro vem sendo cometido na última década com o cada vez maior e mais multifacetado eleitorado evangélico, que, de novo no pleito municipal, foi determinante para a eleição de candidatos bem distantes de Lula. Fechar os olhos e os ouvidos a recados que brilham em neon e rugem é sinal de perda de tirocínio político que pode ser fatal.
REFLEXÃO PÓS-ELEIÇÕES: QUANDO O ARREPENDIMENTO CHEGA TARDE DEMAIS, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, graduado em Gestão Pública, pela Udesc, ex-procurador Geral do Municipio de Gaspar (2005/08)
As urnas não perdoam aqueles que se distanciam do povo durante seus mandatos. Leia e reflita sobre a importância de estar presente, não só em época de eleição, mas em todo o tempo.
Hoje, conversando com políticos que até poucos dias atrás ainda nutriam esperança de reeleição, me deparei com uma narrativa comum: o arrependimento tardio. Alguns, que antes se declaravam amigos, durante seus mandatos sequer se davam ao trabalho de cumprimentar aqueles que, agora, buscam. As urnas, no entanto, não perdoaram.
É curioso observar como o distanciamento entre os eleitos e a população se amplia ao longo dos mandatos, em muitos casos. Em vez de ouvir e estar presente, muitos se fecham em um círculo de poder, esquecendo que a verdadeira força está em quem os elegeu. Quando o mandato chega ao fim, o arrependimento aparece, e com ele, a vontade de “fazer diferente”. Mas é tarde.
As urnas são o reflexo da memória do povo. E esse povo, que sofreu com promessas não cumpridas, com o descaso e a ausência de diálogo, não é mais facilmente enganado. A cada mandato, as expectativas são depositadas, e cada erro é registrado na consciência coletiva. Quando chega o momento de votar, o povo, silencioso, faz sua escolha: rejeita aqueles que falharam.
O tempo de aprendizado de muitos políticos parece sempre se estender além do que deveriam. Eles se esquecem de que o poder que lhes foi confiado é temporário, e que sua manutenção depende de um compromisso genuíno com aqueles que servem. Agora, tentam justificar-se, mas o arrependimento em época de eleição soa vazio. O momento de agir diferente já passou, e as urnas não esquecem.
UMA LEI PARA SALVAR LADRÕES, por Marcelo Godoy, no jornal O Estado de S. Paulo
Menos de 24 horas depois de as urnas terem sido fechadas, o Senado pautou para ser votado hoje o projeto que modifica a Lei da Ficha Limpa, com o objetivo de abreviar e dificultar condenações e salvar ladrões do erário, abusadores do poder econômico e político, bem como os que dolosamente cometeram toda sorte de improbidade na administração pública. Brasília é assim. Depois que os eleitores não podem mais se manifestar, os senadores assumem o risco de parecer dispostos a cuidar apenas de seus próprios interesses.
O procurador Roberto Livianu, do Instituto Não Aceito Corrupção, lembra que a Lei da Ficha Limpa foi uma iniciativa popular. “As assinaturas foram recolhidas durante 14 anos, o que confere à lei uma legitimidade ímpar.” Livianu é uma voz no deserto. À direita e à esquerda, sob a desculpa de se afastar entendimentos draconianos das Cortes a respeito das condenações, procura-se salvar os seus.
“Querem favorecer Eduardo Cunha, querem favorecer Jair Bolsonaro”, afirmou. A longa lista pode contar ainda com José Dirceu. O procurador aponta a modificação da letra d do artigo 1.º da lei como um das novidades do projeto já aprovado pela Câmara dos Deputados. Ali se restringe somente “aos comportamentos graves aptos a implicar a cassação de registros, de diplomas ou de mandatos” os casos em que uma condenação na Justiça Eleitoral pode gerar a inelegibilidade por oito anos do réu. Além dessa mudança, outra foi apontada pelo procurador como fundamental: a que altera o prazo a partir do qual passa a contar a inelegibilidade do acusado. Atualmente, quem sofre uma condenação criminal ou quem dolosamente comete um ato de improbidade administrativa se torna inelegível a partir da condenação por órgão colegiado e os efeitos da inelegibilidade se estendem até oito anos depois do cumprimento da pena. Ou seja, alguém condenado por lavagem de dinheiro e corrupção ficaria inelegível a partir da condenação em 2.ª instância até o término do cumprimento da pena. Se ela for de dez anos, a inelegibilidade poderia se estender por até 18 anos. Agora, o prazo fica restrito a oito anos, contados a partir da condenação “por órgão colegiado”. E o tempo máximo de inelegibilidade passa a ser de 12 anos seguidos, ainda que o acusado tenha sido condenado em casos posteriores.
“É uma lei salva ladrão”, afirmou o procurador, lembrando o Decreto Biondi, conhecido na Itália como lei Salva Ladri, proposto pelo governo de Silvio Berlusconi, que abolia a prisão preventiva para casos de corrupção. O decreto acabou rejeitado pelo Parlamento após a reação popular e a ameaça de demissão feita pelos procuradores da Operação Mão Limpas.
Quando digo que Fernandinho Beira Mar só está PRESO pq não entrou pra política, dizem que eu EXAGERO 👀
Parece que ele já entendeu o recado e descobriu o caminho das pedras: sua filha acabou de se eleger Vereadora no RJ .
LULA CADA VEZ MAIS PARECIDO COM DILMA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
A Moody’s deu um upgrade na nota de classificação de risco do Brasil, deixando o País a um passo do grau de investimento, mas já há quem vaticine que haverá novo rebaixamento em dois ou três anos, em razão da constatação óbvia de que o crescimento brasileiro, que respaldou a avaliação da agência classificadora, está sendo puxado pelo aumento dos gastos públicos e, por isso mesmo, é insustentável.
“É um crescimento de uma economia a pleno-emprego, turbinado pelos gastos públicos, com salários correndo além da produtividade do trabalho, exportações líquidas como proporção do PIB em queda e rentabilidade das empresas em queda. Tudo isso aponta para uma trajetória de crescimento insustentável”, disse ao Estadão o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
“O Brasil está correndo severo risco fiscal”, alertou Márcio Holland, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante todo o primeiro mandato de Dilma, de 2011 a 2014. Em entrevista ao jornal Valor, Holland lembrou que em 2012 os problemas fiscais que levariam à recessão já eram “identificáveis”. Mas naquela época, disse o economista, o governo foi adiando medidas dolorosas de ajuste para não comprometer a popularidade de Dilma. O mesmo está acontecendo agora: “Nós estamos adiando um ajuste fiscal. E eu estou antecipando, com riscos de análise, que, como há eleições em 2026, (…) existe uma chance de a gente adiar esse ajuste de novo”.
Para Holland, “a gente vai ter um Lula 3 muito parecido com Dilma 1, que foi um período em que, em certo momento, já havia a necessidade de ajuste fiscal”. Samuel Pessoa é ainda mais pessimista: “É um cenário muito parecido com o governo Dilma 2″ – aquele em que o Brasil mergulhou na recessão. Mas Pessoa considera que a desorganização da economia não começou com Dilma, e sim com o próprio Lula em seu segundo mandato. Ou seja, o descuido com o equilíbrio fiscal é uma espécie de marca registrada do lulopetismo, que Dilma apenas acentuou em razão de suas teimosias ideológicas.
A negligência com a política fiscal se traduz na escalada do endividamento público a um ritmo que impressiona, devendo chegar a até 82% do PIB em 2026, um nível de comprometimento muito superior ao dos países emergentes. Tudo isso num cenário de juros altos e sem uma arrecadação que garanta solvência. Caso a projeção se confirme, o governo Lula da Silva deixará como saldo um aumento de 14 pontos porcentuais do PIB para a dívida. “E não conseguimos enxergar nenhum processo de estabilização, de reversão dessa tendência”, afirma Pessoa.
Não foi à toa, portanto, que a avaliação otimista da Moody’s surpreendeu todo o mercado. “A Moody’s deu um voto de confiança muito grande ao governo”, disse ao Valor Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG-Pactual e que de 2016 a 2020 ocupou as secretarias de Acompanhamento Econômico e do Tesouro Nacional. Mansueto pôs em dúvida a capacidade do governo de tomar medidas para fortalecer o arcabouço fiscal, de modo a conquistar o desejado grau de investimento, como recomendou a Moody’s. “É uma incerteza. Já há acordo político? Qual a concordância, na base do governo, com essas medidas, e quais são elas? A gente escuta da área econômica que há, sim, um esforço e que, possivelmente, serão apresentadas medidas para mudar a dinâmica do gasto obrigatório, mas ninguém sabe quais são essas medidas.”
Assim, é compreensível o comedimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, em vez de comemorações efusivas, preferiu aproveitar a deixa para pedir ao “governo como um todo” – Lula inclusive – que leve a sério a necessidade de equilíbrio fiscal. O que se tem visto até aqui, no entanto, é uma batalha quase solitária de Haddad e sua equipe para fechar as contas. O problema é que, num governo notoriamente gastador, sobrou para o ministro basear seu esforço na arrecadação – mas esse espaço, politicamente, já acabou.
OUTRA VEZ POR UM TRIZ, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo
Se o embate de 2022 entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não se repetiu no primeiro turno da eleição paulistana, ao menos uma simetria ocorreu: a ínfima quantidade de votos que impediram a reeleição do então presidente (menos de 2%) e o triz de pouco menos de 1% que colocou Guilherme Boulos (PSOL) e não Pablo Marçal (PRTB) no segundo turno.
São apontadas razões semelhantes. Há dois anos, os tiros de Roberto Jefferson (PTB) em policiais e a corrida de Carla Zambelli (PL) armada atrás de um desafeto. Agora, o falso atestado de alegada internação de Boulos por consumo de cocaína.
Pode ser que os motivos tenham sido mesmo esses, mas pode ser também que tenham feito apenas o papel da gota d’água que faltava para fazer transbordar o manancial de exageros do conjunto das obras dos pretendidos candidatos antissistema.
Jefferson e Zambelli imaginaram-se inimputáveis, protegidos pela força de um presidente impulsionador da onda de loucura coletiva, cujo ápice se deu no 8 de janeiro. Marçal acreditou no abrigo da lacração na internet onde grassa a mitificação e a manipulação não tem respostas nem consequências à altura.
Enganaram-se. Em ambos os casos, a aludida rebelião não deu certo, embora quase tenha dado. Portanto, temos aí uma boa notícia, outra má e uma terceira em forma de alerta tanto aos arautos da arruaça quanto aos que seguem a cartilha das regras da civilidade.
Estes e aqueles que fiquem atentos ao fato de que a institucionalidade vence porque tem a maioria; e é importante que isso seja mantido. Não necessariamente para deixar as coisas como estão, mas para compreender que é possível fazer valer as demandas por mudanças na política sem pretender destruí-la.
Bolsonaro está inelegível. Marçal obteve projeção, mas não ganhou consistência. Seu partido não conseguiu eleger nenhum vereador e ele amealhou boa quantidade de processos que o obrigarão a responder à polícia e à Justiça. Quis causar e causou. Mas se complicou, podendo ter o mesmo destino de sua fonte de inspiração numa evidência de que a transgressão tem preço e, no Estado de Direito, não é a alma do negócio.
DÁ PARA REENCARNAR O PSDB? por Eliane Cantanhêde no jornal O Estado de S. Paulo
Gilberto Kassab foi decisivo para levar o PSD ao primeiro lugar do pódio das eleições municipais até aqui, vencendo em 888 cidades no País, 201 delas só no Estado de São Paulo, órfão do PSDB. E o governador Tarcísio de Freitas jogou um bolão na capital, burilando sua imagem como político, e um político leal.
A estratégia de Kassab vai de vento em popa: ocupar o vácuo do centro, fazer o PSD encarnar o falecido PSDB e reconstruir a persona política de Tarcísio como tucano, pronto para a, ou uma, eleição presidencial. O timing depende da inelegibilidade de Bolsonaro e de como, e com que força, o presidente Lula chegará a 2026.
Com Lula bem avaliado e Bolsonaro podendo concorrer, Tarcísio não entrará em campo. Não vai competir com um presidente bem avaliado, com experiência e máquina na mão, muito menos confrontar quem deslanchou sua carreira política e a quem deve o governo do principal Estado.
Duas dúvidas. Uma é até quando Kassab vai conseguir se equilibrar com um pé na canoa de Tarcísio em São Paulo e outro na de Lula em Brasília, com três ministérios??? A outra é até quando Tarcísio vai poder compatibilizar a origem bolsonarista e a lealdade a Bolsonaro com sua transição para tucano.
Enquanto isso, tocam o projeto. Eleição municipal não define a presidencial, tanto que o PT e o PL não venceram em nenhuma capital em 2020 e, dois anos depois, Lula e Bolsonaro disputavam o segundo turno. Mas é a eleição para todas as 5.569 cidades, especialmente as 103 maiores e as 26 capitais, que traça os cenários para as campanhas aos governos e Legislativos estaduais, a Câmara e o Senado.
Aliás, o desempenho do PSD em 2024 deve ter um primeiro efeito já na votação para as presidências das duas Casas do Congresso, em fevereiro, com Kassab no centro das discussões, para o bem, porque força política atrai aliados e votos, e para o mal, porque também gera inveja e competição.
O fato é que o primeiro turno mexeu no tabuleiro político, enfraqueceu a polarização entre lulismo e bolsonarismo e fortaleceu a centro-direita e a direita parlamentar – o “centrão”–, além de introduzir outros partidos à esquerda e novos atores em diferentes campos. Os partidos que venceram em mais prefeituras até aqui, pela ordem: PSD, MDB, PP, União Brasil, PL (quinto) e Republicanos. O primeiro da esquerda, em sétimo lugar, foi o PSB, não o PT.
Ainda falta o segundo turno, inclusive em 15 capitais, mas o PT perde força e encanto e o bolsonarismo não corre mais sozinho na direita, rachada entre extremismo e pragmatismo. Ambiente ideal para Kassab, PSD e Tarcísio.
Para Kleber Edson Wan Dall, MDB, e seus “çábios” lerem e entenderem (definitivamente), se conseguirem. E para Paulo Norberto Koerich, PL, também. Um prefeito é antes de tudo um síndico, e nada mais. Não importa se ele é de direita, centro ou esquerda. O importante que ele faça aq lição de casa para a cidade, cidadãos e cidadãos. É o mínimo. Mas, em Gaspar, nem este mínimo se fez. Então mudou-se. E mudará se a mudança não vier.
ELEITOR CONSAGROU GESTORES EFICIENTES NAS PREFEITURAS, editorial de O Globo
O quadro final das eleições municipais será definido apenas daqui a três semanas. Das dez cidades mais populosas, seis só conhecerão o nome do próximo prefeito no fim do mês. Mas, encerrado o primeiro turno, já é possível tirar algumas conclusões sobre o resultado.
Partidos de direita e centro-direita saíram fortalecidos. Os que mais elegeram prefeitos foram PSD (878), MDB (847), PP (743) e União Brasil (578). O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, vem em seguida, com 510. Elegeu dois prefeitos de capitais (Maceió e Rio Branco), continua no páreo em nove, entre elas Fortaleza, Belo Horizonte e Goiânia, e venceu em mais oito dos 50 maiores municípios que definiram resultado no domingo. Mas ficou muito aquém dos planos anunciados de conquistar mais de mil prefeituras.
Ao todo, o arco que vai da direita ao centro — incluindo PL, Republicanos, MDB, PSD, União Brasil, PP, Podemos e Novo — elegeu 43 desses 50 prefeitos. A esquerda — PT e PSB —, apenas quatro. Juntos, os quatro principais partidos de esquerda — PT, PSB, PDT e PSOL — somaram 18,9% dos votos válidos no primeiro turno, ante 19,3% quatro anos atrás. O PT recuperou prefeituras — em 2020, elegeu 182 prefeitos; desta vez conquistou 248 e ainda disputa 13 municípios. Mas também ficou aquém do desejado: não elegeu prefeito em nenhuma capital, apenas em duas das 103 maiores cidades. Nas quatro capitais em que foi para o segundo turno, as chances não são promissoras.
A predominância de forças políticas conservadoras nas prefeituras e câmaras de vereadores não é novidade. Partidos de direita têm vencido, eleição após eleição, a maior fatia dos cargos em disputa. Mesmo em 2012, quando o PT, embalado pelo crescimento econômico, conquistou 637 prefeituras, ficou longe do primeiro colocado, o MDB (na época PMDB), e não muito à frente de PSD e PP. Em 2016, dois anos antes da vitória de Bolsonaro, 77% dos prefeitos e vereadores eleitos eram de partidos da centro-direita à extrema direita, de acordo com análise de Fábio Vasconcellos, pesquisador da Uerj e da UFPR. Quatro anos mais tarde, essa fatia subiu para 81%. “A dúvida neste ciclo eleitoral é se a proporção sobe um pouco ou desce um pouco, não que deixe de ser majoritária com larga folga”, diz Vasconcellos.
A principal lição das urnas, na verdade, tem pouca relação com inclinação ideológica. Por serem pulverizadas, as disputas locais têm lógica própria. Candidatos a prefeito ou vereador tendem a se distanciar de compromissos com esta ou aquela linha política. Nas cidades maiores, o que vale é o tamanho das filas nos centros de saúde e hospitais ou a qualidade do serviço público, em especial o transporte. Longe da polarização que movimenta as redes sociais, os eleitores tendem a escolher quem entrega mais melhorias.
É isso que explica a consagração de prefeitos bem avaliados. Das 103 maiores cidades, 50 elegeram prefeitos no primeiro turno. Dez dos 11 prefeitos de capitais eleitos no domingo foram reeleitos, entre eles Eduardo Paes (PSD), no Rio, João Campos (PSB), no Recife, ou Bruno Reis (União), em Salvador. Campos ganhou com 78% dos votos válidos. Reis, do campo político oposto, obteve a mesma fatia consagradora de apoio. Paes obteve mais de 60%. O recado do eleitor nas eleições municipais é nítido: a busca por eficiência na gestão.
É a receita do bolo da Vovó!
“Espera-se que Paulo constitua uma equipe técnica e não amontoado de amigos para esta tarefa delicada e com prioridades bem claras.”