Quem é leitor e leitora deste blog, sabe desde dezembro que o então manhoso e poderoso MDB do prefeito Kleber Edson Wan Dall, era carta fora do baralho da sucessão deste ano. A não ser que houvesse um rearranjo naquilo que foi combinado há quatro anos. Em política, tudo é possível. E ainda há tempo para reviravoltas. No dia 11 daquele mês do ano passado, por exemplo, fiz esta manchete: A REEDIÇÃO DA “REUNIÃO” DO MDB, PP, PSD, PDT E PSDB PARA CONTINUAR NO PODER EM GASPAR JÁ FEZ A PRIMEIRA VÍTIMA: CIRO QUINTINO
E o vereador Ciro André Quintino, MDB, ex-presidente da Câmara por várias vezes, ludibriado pela própria má marquetagem – também escrevi várias vezes aqui sobre isso – a qual parecia ser para candidato a deputado estadual e assim “sobrar” na corrida à prefeitura, está na praça, com razão parcial, soltando cobras e lagartos. Antes, porém, como mostra a foto abaixo, Ciro estava lá no convescote, aplaudindo e sorrindo. É por isso e outras, que os eleitores e eleitoras, percebem os políticos como iguais.
Retomando.
A irritação de Ciro pode ser mais um jogo de cena. E isso trabalha, reforço, contra ele mesmo. Estaria, neste caso, apenas fazendo espuma só para justificar. Qual a razão disso? “Refundar” o enfraquecido MDB de Gaspar? Talvez! No fundo, com a irritação que a deixou pública, usando o MDB como tábua de salvação para seus lamentos, Ciro está criando uma desculpa para ficar livre. E para que? Trair Marcelo e Kleber, bem como liberar o seu eleitorado de 900 votos (vereador, e como cabo eleitoral de deputados, segundo os dados disponíveis do TRE) para outras escolhas. Simples assim!
Ciro sabia onde estava metido. Era parte essencial deste jogo. Ciro sabe que, no fundo, está se livrando de uma derrota certa. Ciro sabe que foi ele próprio quem não se viabilizou candidato, pelas circunstâncias de uma gestão fraca, à qual defendia mesmo sabendo dos defeitos; Ciro não se viabilizou, principalmente, por seus próprios erros. Um deles, foi como se comportou na Câmara, onde é campeão de diárias.
Ainda vou escrever sobre tudo isto – e mais uma vez -, contudo, mais tarde. E por quê? Porque nada como um dia após o outro. Nada como não ter rabo preso com essa gente e não ter medo das perseguições certas. Kleber, Ciro e o MDB lavaram a minha alma mais uma vez. Quem ganhou novamente? Os meus leitores e leitoras neste mar de oficialidade da imprensa local e regional. Anunciei este momento acontecido na terça-feira à noite, cinco meses antes. Uau!
Retomando pela segunda vez.
Bingo. Agora é oficial. E com press release e tudo. Entretanto, no calendário eleitoral, ainda há prazo para mudanças…
Em um convescote miado, como revela a foto de abertura do artigo, realizado na terça-feira à noite no Clube dos 50, na localidade do Macucos e comunicado por uma nota oficial na quarta-feira, o MDB – que engoliu o PSDB e o PDT -, PP e PSD confirmaram que o atual vice prefeito Marcelo de Souza Brick, ex-PSD, ex-Patriota, e que já teve ficha assinada no PL pelas mãos do deputado estadual Ivan Naatz, PL, concorrerá na cabeça de chapa pelo PP.
Aliás, do PP de Luiz Carlos Spengler Filho, ex vice de Kleber e hoje seu chefe de gabinete, o padrinho de Marcelo no partido, foi de onde vieram as maiores ausências neste convescote. A segunda maior leva de ausências estava no próprio MDB que está sob o comando da vereadora Zilma Mônica Sansão Benevenutti. Já o PSD do vereador Giovano Borges, questionado pela cúpula estadual, quase não mais existe em Gaspar.
A foto do convescote é um “retrato” triste e bem sinalizador do que estar por vir. Se o governo estivesse feito o dever de casa e que se esperava dele, todos – não só os dependentes de cargos e filiados aos três mais tradicionais partidos e ainda com o poder de plantão na mão, mas fornecedores, empreiteiros e oportunistas – estariam em torno dele em um momento como este. Seria um evento de arromba. Mas, não foi. Tudo, aconteceu, praticamente, escondido. Restou se agarrar à bandeira de Gaspar, a mesma que deixaram por meses rasgada no centro da cidade enquanto estavam de férias.
A vaga de vice deverá ficar com o MDB, pois espera-se mais acomodações à revolta criada com esta indicação, repito, armada há quatro anos. E a vaga de vice poderá “sobrar” para a vereadora Franciele Daiane Back, recém chegada ao MDB depois do PSDB dela virar pó pelas mãos do ex-homem forte de Kleber, o ainda presidente do partido fantasma por aqui, Jorge Luiz Prucino Pereira. Um a um, os históricos do MDB e que então cobiçavam esta cabeça de chapa, estão declinando à vaga de vice. Sabem onde estão metidos. Marcelo e Franciele são do Distrito do Belchior.
JOGO DAS CARTAS MARCADAS
No dia 12 de dezembro do ano passado escrevi um artigo com este título: COÇAR E TRAIR, É SÓ COMEÇAR. APÓS JURAR A CONTINUIDADE DA UNIÃO COM PP, PSD, PDT E PSDB, DEPOIS DO PP FILIAR E LANÇAR MARCELO PRÉ-CANDIDATO, O PREFEITO KLEBER EM EVENTO PARTICULAR DO VEREADOR, LANÇA CIRO COMO PRÉ-CANDIDATO DO MDB
Estava na cara que uma coisa era conflitante com a outra. Só Ciro é que não entendeu. Ou fingiu, ou ainda tinha esperanças que ele se tornasse um candidato viável e imbatível no projeto de poder em Gaspar.
Ingênuo. Era só olhar como o governo de Kleber estava mal na foto; como o governo de Gaspar está nas mãos do novo prefeito de fato, o deputado Federal Ismael dos Santos, PSD. Era só ir a 2020 e ver como o MDB atraiu Marcelo para a chapa à reeleição e ir para 2022 e ver como MDB traiu Marcelo. Era só olhar o que está na cara de todos, de como Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, irmão de templo de Kleber e Ismael, tornou-se o articulador de todos os negócios de Kleber e seu núcleo duro na prefeitura de Gaspar, depois da defenestração do então poderoso presidente do MDB, de Gaspar, e ex-prefeito de fato, Carlos Roberto Pereira, o que levou Kleber ao poder desde a campanha de 2012, quando o vice era o Rodrigo Boeing Althoff, naquele tempo no PV. Hoje está no PL. É história. Não há narrativa. É passado. É presente.
Bastava Ciro olhar para outro lado, o que faz as coisas acontecerem em Gaspar há pelo menos três décadas e também já escrevi sobre isto. Esse grupo de pessoas e empresários, depois de traído e não atendido naquilo que Kleber, Luiz Carlos e Marcelo prometeram, também sentiu o fedor de carne podre no ar. Estão se salvando e não se vingando.
Dessa fora e por isso, o mesmo grupo de pessoas e empresários que criou a candidatura do delegado Paulo Norberto Koerich no PL, é o mesmo que inventou, e sustentou por oito anos e até dias atrás Kleber, no qual até parte expressiva dele já esteve até com o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT. E este grupo mudou o seu preferido da vez. Nem mais. Nem menos.
É o mesmo grupo que há três anos, fez Marcelo desistir de ser rival de Kleber. Este grupo os uniu para não perder o poder, com a promessa de ele assumir a prefeitura e tentar à reeleição. Marcelo não assumiu a prefeitura como o combinado, por isso, nem vai a reeleição. Marcelo vai para o sacrifício numa eleição extremamente difícil, patrocinado por um governo desgastado que o próprio Ciro ajudou a ser assim. Se Kleber tivesse palavra, que Ciro reclama agora, este grupo estaria com Marcelo, ou talvez, com Ciro. Mas, para isso, Ciro precisaria ganhar a confiança do grupo. Nem isso, conseguiu. E, talvez, nunca conseguirá.
E foi Marcelo quem, mais uma vez deu a senha de que não era confiável para o grupo.
Se ele tivesse há dois anos tomado um rumo diferente e contra Kleber, devido à falta do cumprimento do acordo político e pela administração de resultados precários para a cidade, cidadãos e cidadãs, quem sabe, Marcelo estaria hoje com a faca e o queijo na mão. Ele vítima de Kleber e dos poderosos que sempre manipulam os bastidores políticos da cidade ao seu gosto, sem se preocupar com o resultado comum. Faltou-lhe, então, coragem, discernimento e autonomia próprios dos estadistas.
Agora, com tudo quase sem conserto, o prefeito Kleber finge cumprir o fio do bigode de outros que o colocaram lá e já não estão mais com ele. Mas, só faz isso, quando não há mais alternativas e o governo está no buraco. Hoje, tudo o que se relaciona a Kleber é tóxico no ambiente político e administrativo. E o MDB sabendo da derrota quase certa por tudo o que relatei até aqui, nem que expor as joias do partido que sobraram nele. Vai botar uma vive sem relação histórica com o partido para cumprir um papel decorativo.
Alguma dúvida? No dia oito de dezembro escrevi QUANDO O PRINCIPAL DISCURSO NA FILIAÇÃO DE MARCELO AO PP É A CONVOCAÇÃO PARA BATER O PT, ELE, KLEBER E A COLIGAÇÃO ASSINAM RECIBOS DE QUE FORAM INCOMPETENTES E CONTRA A CIDADE POR SETE ANOS. QUEREM MAIS TEMPO
Onde estão Kleber e Marcelo?
Na quarta-feira de manhã, Kleber cancelou a entrevista para explicar esta lambança e rumou para ir na frente da grande comitiva oficial que só partiu na quinta-feira para “ajudar” três municípios do Rio Grande do Sul. Marcelo também foi atrás. O que se explicaria numa entrevista coletiva se nelas não há perguntas e se a manchete já estava previamente na rua no veículo oficial? “Governo Kleber escolhe Brick como pré-candidato“. O que restou a Kleber? Ser passageiro da agonia. Provavelmente depois das eleições estará fora do seu histórico MDB a quem fez juras eternas e estará no PSD para criá-lo como nova força do eleitorado evangélico daqui e na dobradinha com o deputado Ismael dos Santos. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Quem pensa que a escolha de Marcelo de Souza Brick, PP, para ser o candidato oficial dos que estão no governo há mais de sete anos, pelo prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, para sucedê-lo, foi algo consensual, está muito enganado. A reunião que decidiu isso – e se comunicou – entre poucos, teve berros, acusações, vexame e a promessa de alguns, para o próprio Kleber, de que no Marcelo não votam e nem vão trabalhar. A conferir.
O MDB de Gaspar perdeu a coroa e não foi de hoje. Minhas colunas no jornal Cruzeiro do Vale e aqui no blog mostram isso com muita clareza. Começou lá em 2011 quando inventaram o vereador Kleber Edson Wan Dall, MDB, candidato e por falta de votos e convencimentos partidários, miraram na capacidade de Kleber de aglutinar e formar um rebanho de cabos eleitorais para o voto dos evangélicos neopentecostais. Confundiram renovação política com mocidade e inexperiência. Trataram no mesmo saco gestão com balcão de negociações. Mais uma da esperteza que comeu o dono.
E o enterro do MDB de Gaspar se deu com o ex-presidente do partido, Carlos Roberto Pereira, na mesma leva de jovens que não mesclou, adequadamente, com a experiência dos mais antigos com a renovação de lideranças. De cara, o ex-presidente quis diminuir a influência do ex-prefeito Osvaldo Schneider nas decisões do partido por aqui. Isto o próprio ex-prefeito falou para mim. Paca morreu. Com ele, foi-se o ponto mínimo de equilíbrio da sigla.
E Carlos Roberto Pereira? Foi engolido pela própria máquina que ele criou para dominar a cidade por décadas, fechar o corpo da administração perante as instituições, bem como calar os seus críticos – como eu – e dissidentes políticos. Pereira, tirado pelo próprio Kleber Edson Wan Dall, MDB, da governança de fato do município, foi embora cuidar dos seus negócios privados.
E o MDB de Gaspar, malhado e enfraquecido? Imitou o de Blumenau, aquele que foi outrora uma referência nacional e está desaparecido – lá nem vereador sequer tem mais. E o vereador Ciro André Quintino, MDB, não é a primeira vítima dos ardis de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e os “çábios” que os alimenta na matança que faz no partido aqui. Ou alguém já esqueceu o que Kleber fez muito recentemente com o vereador Francisco Hostins Júnior, que também ensaiava ser pré-candidato a prefeito pelo MDB? Ou seja, há método.
E para encerrar este papo por hoje, porque na segunda-feira tem mais. É muito triste o fim desta busca a qualquer preço, sem transparência e desastrosa de poder do atual bloco de governo. Ao final dele, MDB de Gaspar “renovado” ou “remoçado” foi parar nas mãos da vereadora Zilma Mônica Sansão Benevenutti. E todos sabem, ela não é mais nenhuma mocinha.
Sempre escrevi aqui: o ex-prefeito por três mandatos dos quatro disputados, o petista Pedro Celso Zuchi e que se ensaia pela quinta vez, tem no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próprio PT nacional, estadual e regional, bem como na esquerda do atraso, seu maior adversário para lhe sacrificar na fama de vencedor. E esse tal de “papai Lula” sempre dito de boca cheia pelo vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, é a senha da arrogância que vai contra os interesses eleitorais petistas por aqui.
Quebra Brasil foi o lema que mais se viu nos erros e ações goela abaixo nesta semana orquestrados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu núcleo duro de governo, incluindo o ministro da Propaganda e da Verdade, o gaúcho Paulo Pimenta, escolhido para ser a “autoridade federal” no Rio Grande do Sul sob catástrofe e fazer dela, um palanque político para 2026. Na mesma sanha desalmada, deu início a quebradeira da Petrobrás como nos bons tempos da impichada Dilma Vana Rousseff, o poste que Lula elegeu por duas vezes. Desculpem-me: os votos foram dos brasileiros.
Sinceramente. Quando você lê estas duas notas acima, você consegue enxergar alguma diferença nos métodos e teimosia entre o Kleber Edson Wan Dall, MDB, o jovem, o conservador, o religioso e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, o socialista, o sindicalista, o que não respeita as decisões do Congresso e quer tudo a sua maneira, com décadas de atraso do século 20?
Para a reflexão. Por que isto acontece? Por nossas escolhas emocionais polarizadas. Ou somos azuis ou vermelhos e dificilmente enxergamos os outros tons entre ambos. Isto está acontecendo novamente entre nós e de forma proposital. Se o MDB não serve, o PP é melhor. Se ambos nos deixam na mão, o PT é a solução. E se o PT é um perigo, os do MDB, PP e PSD camuflados no PL são melhores. E assim tudo continua num mesmo polo. Ninguém tem proposta a nos apresentar nestes dois campos, pois instigam a embates simples do nós contra eles. A cidade que se lasque.
Nenhum desses campos pode ou quer se comprometer com mudanças. Ou algum leitor ou leitora viu isso dos candidatos que estão se apresentando pelo PT, PL, PP, MDB e PSD? Estão arrumando uma briga fictícia para que nada saia da polarização entre o azul e o vermelho. Muda, Gaspar!
É de se perguntar onde entra nesta história de poder e sucessão a esposa do prefeito, Leila Wan Dall. E por falar em mulheres, a de Ciro André Quintino, MDB, Joelma, já colocou a cabeça de fora e não foi para agradar aos que cercavam o marido. A de Francisco Hostins Júnior, PL, Rúbia vai mais longe. Está frenética nas redes sociais. E o presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, PSD, patrocinador da candidatura de Marcelo de Souza Brick, PP, por enquanto, calado.
Sobre a ida da comitiva de 40 pessoas e o comboio de farto maquinário próprio da prefeitura de Gaspar e de terceiros contratados por ela para socorrer três municípios gaúchos (Igrejinha, Três Coroas e Taquara), por cinco dias, ao invés de um município como seria racional, em uma ação que, aparentemente, é bem maior do que Blumenau (com dois municípios adotados), já me expressei no Trapiche do artigo de quarta-feira. Pareceu-me um espetáculo e com finalidades eleitorais.
Na verdade, é uma cortina de fumaça, com algum atraso, feito exatamente para esconder os fatos da briga política que se dá nos bastidores de Gaspar e que parte dessa briga relatei hoje, outra vez, diante de novos desdobramentos e confirmações daquilo que já escrevi há meses.
Quando os políticos se metem nesse tipo de “salvação”, sobram dúvidas. E por que? Estão mais preocupados com a distração proporcionada pelo circo para aliviar as suas culpas. Entendo e aceito que é preciso dar divulgação, como no senso de transparência e prestação de contas à sociedade, a pagadora disso tudo. Mas, este senso de transparência, por enquanto, nestes sete anos, não foi prevalente na administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB.
Houve até político em campanha de reeleição que usou as redes sociais para se promover na despedida da comitiva em Gaspar. Ainda bem que em Gaspar ficou quem, verdadeiramente, mais entende de Defesa Civil, Luiz Mário da Silva. Muda, Gaspar!
Registro I. Ronaldo Coutinho, que não pode ser chamado de meteorologista porque a classe não permite devido ele não ter formação específica, mais uma vez, antecipou e acertou em cheio sobre a gravidade do que aconteceria no Rio Grande do Sul, por boletins na sua Climaterra e de lá de São Joaquim, onde foi para ficar.
Registro II. Ronaldo Coutinho, e já escrevi sobre isto aqui, várias vezes, é daqueles profissionais que se sobressaem naquilo que faz diante da mesma informação e tecnologia disponíveis para outros com formação e conhecimento, até superior. Durante anos lidei com pessoas assim. Elas batiam os acadêmicos e as pessoas esforçadas. Elas, enxergam ou enxergavam além daquilo que estava na cara de todos, mas a maioria não conseguia ver o discernir. E venciam individualmente e no time. Ainda bem.
13 comentários em “EM MEIO A BOATOS DE DESISTÊNCIA, KLEBER LANÇA O VICE, PELA SEGUNDA-VEZ, COMO SEU PRÉ-CANDIDATO À SUA SUCESSÃO; CANCELA O “SEU MDB” E A ENTREVISTA COLETIVA PARA “EXPLICAR” UM FATO POLÍTICO FUNDAMENTAL DAS ELEIÇÕES DE OUTUBRO; E SAI DE GASPAR”
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O PAÍS DA SOJA SE TORNA O PAÍS DO PETRÓLEO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Que a Petrobras tenha estado no centro do noticiário e das controvérsias políticas sociais é um sintoma de que o Brasil se tornou um país petroleiro. Mas talvez não tenhamos percebido o quanto o ouro preto é central na economia brasileira.
No entanto, já está na pauta do debate se devemos dar fim à exploração do petróleo e começar uma transição energética, para a qual também ainda não há rumo. Enquanto isso, torramos as receitas petrolíferas públicas, “do governo”, no dia a dia, sem que o país invista em capacidade produtiva e em transição verde ou melhore a situação das contas públicas.
Nos anos do governo das trevas (2019-2022) e no início de Lula 3, a Petrobras era notícia por causa do preço dos combustíveis. No momento, discute-se outra vez se a petroleira deve bancar investimentos e subsídios de acordo com os planos do presidente da República. Não é por menos, pois a estatal prevê investir cerca de R$ 100 bilhões anuais de 2023 a 2028, quase o dobro dos recursos que o governo dispõe para investimentos.
Em 2023, 7,6% da arrecadação do governo federal veio da Petrobras: de impostos, royalties, participações e dividendos. A receita total do petróleo foi um pouco maior. A depender de preços internacionais e domésticos, da distribuição de dividendos e da decisão de quanto mais petróleo explorar, a receita petrolífera do governo pode variar.
Nos últimos 12 meses, o valor das vendas de bens para o exterior, as exportações, foi de US$ 345,6 bilhões. De petróleo e óleos combustíveis foram US$ 58,4 bilhões, 16,9% do total. De soja e farelos de soja, foram US$ 63,2 bilhões (18,2% do total).
É possível que as exportações de petróleo e combustível ultrapassem as de soja neste ano. Já aconteceu antes, em anos ruins para os grãos e de extravagância do preço do barril. Porém, nunca antes se produziu tanto ouro preto; nunca antes seu peso foi tão grande no comércio exterior ou teve tanta importância sistemática nas contas públicas.
De 2011 a 2023, a produção de barris aumentou mais de 61%; no mesmo período, a parcela do petróleo exportado passou de quase 29% para quase 47% da produção nacional.
As exportações em geral têm crescido muito. A fim de dar perspectiva mais comprida: passaram de US$ 221 bilhões por ano no final de 2019, o ano anterior à pandemia, para US$ 345 bilhões, atualmente. Desse aumento, quase 23% veio de petróleo e óleo combustível; quase 25% de soja e farelo.
De um ano para cá, as vendas de petróleo continuaram a crescer, quase ao passo de soja e minério de ferro, embora o grande destaque do período tenham sido os açúcares. Nos últimos 12 meses, o país vendeu US$ 18,8 bilhões em açúcar.
Em 2024 e 2025, o grosso do aumento da oferta de petróleo no mundo deve vir de EUA, Guiana, Canadá e Brasil, segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos. Pelas estimativas da Empresa de Pesquisa Energética, a produção brasileira de petróleo vai crescer cerca de 42% até por volta de 2030. Daí em diante, cairia, sem novas reservas e explorações.
Dado o mau estado das contas públicas, talvez seja possível aproveitar a bonança petroleira apenas a partir de 2027, sendo otimista, a fim de aumentar o investimento público em geral ou subsidiar a transição energética.
Um plano de substituição do petróleo depende de um planejamento de longo prazo de como arrumar mais energia limpa, O QUE NÃO TEMOS. Depende também de quanto mais ainda se pretende explorar, do que se vai fazer do gás e da capacidade da Petrobras de manter a produção e também de render receita para o governo.
Uma empresa com as finanças estropiadas por investimentos ruins e tabelamento de preços vai ser um problema para as contas públicas e para a transição.
AJUSTE FISCAL É IMPERATIVO PARA O BRASIL, editorial do jornal O Globo
Não foi surpresa que o governo tenha enviado ao Congresso uma proposta orçamentária relaxando as metas fiscais que ele próprio propusera um ano antes. Desde o início havia dúvidas sobre a viabilidade das regras que substituíram o antigo teto de gastos. Além de afrouxar as metas, o Planalto se esforçou por mexer no novo arcabouço fiscal nem bem ele entrara em vigor, para antecipar despesas extraordinárias de R$ 15,7 bilhões, inserindo um jabuti numa lei sobre seguro obrigatório de veículos. Diante do recado que transmite a mudança de regras com o jogo em andamento, quem acreditará que o governo leva a sério o ajuste fiscal? Ao protelar qualquer perspectiva de equilíbrio para 2027, Executivo e Legislativo revelam não ter noção da dimensão dos riscos que criam para o país.
A incompatibilidade de gastos com receitas é crônica no Brasil, e todos os sinais vindos de Brasília mostram que o assunto não é prioridade da classe política. Como avisou o Fundo Monetário Internacional (FMI) recentemente, a estabilidade financeira será testada em países como o Brasil. O descontrole da dívida pode torná-los vulneráveis a saída de capital, depreciação cambial ou aumento de inflação futura. Em certa medida, o valor do real, 20% abaixo do esperado dadas as circunstâncias internacionais, já reflete isso. Mas ninguém em Brasília parece muito preocupado com as consequências da dívida crescente: perda de confiança no governo, desvalorização do real, mais inflação, menos investimento e empobrecimento da população.
Nos últimos anos, o endividamento público ganhou proporções gigantescas. A dívida bruta, que há dez anos não chegava a 60% do PIB, fechará este ano em 74,4%, pelas projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI). No ritmo atual de crescimento, ainda demorará anos a baixar. “Não estamos conseguindo ter uma trajetória sustentável para as contas públicas, com impacto no dia a dia”, disse ao GLOBO o economista Marcos Lisboa. Os números revelam um quadro preocupante.
O indicador que melhor traduz a situação fiscal é chamado de “resultado estrutural”. Calculado pela IFI, ele desconsidera gastos extraordinários — caso de despesas resultantes da pandemia ou catástrofes climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul — e os altos e baixos do ciclo econômico — aumentos ou quedas de arrecadação devidos ao aquecimento ou resfriamento da economia. Representa com precisão o comportamento da máquina pública, refletindo se o que o governo arrecada é suficiente para arcar com o que gasta numa situação neutra.
Por essa medida, de acordo com o economista Samuel Pessôa, o Brasil melhorou seu desempenho fiscal entre 1997 e 2003, como demonstra o gráfico abaixo. De 2006 a 2014, houve piora. O superávit estrutural de 2,7% do PIB se tornou um déficit de 1,8% nos governos anteriores do PT. A partir de 2018, os números melhoram novamente. Nos dois últimos anos do governo Jair Bolsonaro, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, segurou as despesas e entregou ao sucessor um superávit estrutural de 0,2% do PIB. Foi a PEC da Transição, aprovada antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva com o apoio do PT, que criou gastos adicionais de R$ 145 bilhões e levou o déficit estrutural de volta ao patamar de 1,65% do PIB, registrado em 2023.
Para evitar a explosão da dívida, é imperativo promover um ajuste fiscal. Isso significa, consideradas as restrições da legislação brasileira, ao menos impedir que os gastos cresçam de modo descontrolado — cenário infelizmente plausível diante no novo arcabouço fiscal. Ao mesmo tempo que ele criou uma trava de crescimento para os gastos de 2,5% além da inflação, restaurou o vínculo das despesas com saúde e educação ao crescimento da receita. Além disso, as despesas da Previdência continuam indexadas ao salário mínimo, que passou a obter ganhos acima da inflação. Tudo isso significa que, com o passar do tempo, caso a arrecadação cresça, haverá pressão dessas despesas fixas sobre as demais, que deverão ser reduzidas. Estão aí investimentos, segurança, verbas para prevenção de enchentes e outros gastos sociais necessários.
“Os pisos previdenciários e de benefícios assistenciais deveriam ser corrigidos apenas pela inflação e não pelo salário mínimo”, diz o economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre). O regime previdenciário dos trabalhadores de empresas privadas apresenta um déficit da ordem de quase 3% do PIB. Sem olhar para esse desajuste, não se vai a lugar algum.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstra estar atento aos riscos. Foi o responsável pelo novo arcabouço fiscal e não perde a oportunidade de ressaltar como é essencial colocar as contas públicas em ordem. Mas Haddad priorizou apenas a agenda de aumentar receitas. A estratégia conquistou apoio no Congresso, corrigiu algumas injustiças, porém tem limite. Por ora, infelizmente, expoentes da Esplanada dos Ministérios e do Congresso fingem não enxergar a necessidade de um plano consistente para ajuste dos gastos. Minam a credibilidade do arcabouço fiscal com mudanças de regras e “pautas-bombas”, como se não houvesse restrição às despesas e a deterioração do cenário externo fosse impossível. Passou da hora de o país enfrentar a tarefa de escolher prioridades. Em algum momento, Executivo e Legislativo terão de encarar a realidade. Quanto antes isso acontecer, maior a chance de o ajuste ser mais ameno e menos traumático.
O GOVERNO GASTARÁ, SÓ FALTA DINHEIRO, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Diante do colapso do Rio Grande do Sul, muita gente aproveitou para defender a política de gastos públicos. Disseram: “Estão vendo? O governo precisa gastar. Se não fizer isso, quem atenderá a população?”.
Fraco argumento.
Óbvio que o governo precisa gastar. Ou terá passado pela cabeça de alguém lançar uma megaprivatização de atendimento a tragédias ambientais? Também não, claro. Isso mostra que o tema é bem mais complexo.
Comecemos, então, por outro lado. Imaginemos que o governo federal estivesse com suas contas equilibradas, até gastando menos do que arrecada. Teria, portanto, caixa forrado e espaço para tomar empréstimo — e gastar uma grana pesada na reconstrução do Rio Grande e no socorro às famílias.
Não é essa a realidade. O governo já vinha aumentando suas despesas, em nível muito acima da arrecadação. Tem déficits acumulados, dívida em alta. Pior ainda: o governo gasta 90% de seu orçamento com despesas obrigatórias: pensões e aposentadorias, salários do pessoal, programas como seguro-desemprego, benefício a idosos, Bolsa Família, educação e saúde. Sobram míseros 10% para todo o resto: investimentos, subsídios e créditos favorecidos a determinados setores, os diversos PACs.
O dinheiro já é insuficiente para isso, e a situação tende a piorar, pois os gastos obrigatórios crescem mais rápido que o PIB e a arrecadação. Falando francamente: não tem dinheiro disponível para gastar com o atendimento à tragédia no Sul. E, entretanto, tem de gastar.
Como? Desistindo de todos os demais investimentos e programas, o que o governo Lula não pretende fazer, ou tomando mais dinheiro emprestado. Endividar-se significa gastar mais com juros e pressionar, para cima, a taxa de juros de mercado.
Pior ainda: o governo estadual e as prefeituras também terão de gastar mais. Podem? Antes da tragédia, o governo gaúcho já estava em recuperação fiscal. Traduzindo: não pagou suas dívidas, a União assumiu, e o estado passou a pagar prestações mensais mais camaradas. O governo federal já suspendeu o pagamento dessas parcelas, pelos próximos três anos. Isso deixa R$ 28 bilhões nos cofres do estado e tira esses mesmos recursos da receita da União. Mais déficit federal. E estadual, mais à frente.
Logo, assim como Brasília, também o Rio Grande entra nessa história já sem dinheiro em caixa e endividado. O mesmo vale para a maior parte das prefeituras, que só têm uma saída: arrancar dinheiro de Brasília e pegar umas sobras do que vai para o estado.
Em muitos programas de assistência, o governo federal oferece crédito a cidadãos e empresas, em vez de simplesmente dar dinheiro. Os juros são subsidiados, mas quem recebe os empréstimos terá de devolver em algum momento. Logo, o setor privado tem de se virar. Acionistas precisarão alocar capital e fazer ajustes. O PIB gaúcho fatalmente encolherá.
Eis por que é uma grande bobagem dizer que o governo tem de gastar. A questão é: que dinheiro, onde e como gastar?
Dizemos isso, embora óbvio, porque já se vê por aí um pessoal sugerindo que as contas públicas estourarão por causa das despesas com a recuperação do Sul. Não. Já estavam arrombadas. Pretendem tirar da contabilidade o gasto com a recuperação, de modo que, legalmente, o Orçamento estará dentro das metas. Mas, dentro ou fora dos livros contábeis, o gasto feito gera déficit e dívida reais. E juros.
Eis por que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, teve a ousadia de pensar em ajuste fiscal. Só pensar, estudar como equilibrar as contas nos próximos anos. Já sofre ataques só por isso. Ataques ideológicos — falar de ajuste numa hora desta? — porque os números da ministra dizem o seguinte: nessa toada, em 2028, todo o Orçamento do governo será destinado às despesas obrigatórias. Não sobrará nada para investimentos. Muito menos para a prevenção e cuidados com as tragédias ambientais.
Esses são os números. O resto é palavrório e uma feia tentativa de assumir protagonismo político em meio à tragédia.
ODE AO CORPO MOLE, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo
Jean Paul Prates caiu. Caiu o caído. A morte e a morte de. História que lembra a do arcabouço fiscal: o natimorto que vai morrendo até morrer. Só ele terá sido pego de surpresa. Insuficientemente petista, aquém do índice Gabrielli de pasadenismos. Haviam lhe dado o veredicto: corpo mole.
Talvez seja o elogio possível à sua gestão. Ode ao corpo mole! O que – quantos ímpetos “reindustrializantes” – a moleza terá atrasado? Homem “do mercado”, assim como Haddad é “fiscalista”. Classificações que só fazem sentido na métrica do ecossistema petista, por oposição a Gleisi Hoffmann.
Lula ouviu Dilma Rousseff antes de formalizar a demissão. E lá vamos nós. De novo. De navio novo. Quem sabe a Oito Brasil? A Petrobras como indutora para voo de galinha reendividante.
Vitória dos nacionalistas Rui Costa e Alexandre Silveira. Não terá bastado o abrasileiramento da política de preços. Nacionalismo, na Petrobras, significa repetir investimentos antieconômicos. Em fertilizantes, por exemplo. Há também o lobby dos gasodutos. Uma petroleira onipresente pode atender a todos.
Não me refiro a todos os brasileiros. Antes ao espírito “trem da alegria” da liminar de Lewandowski, que afinal garantiria janela inconstitucional em lei declarada constitucional, autorizados catorze meses de infiltração companheira. Uma Petrobras onipresente amplia superfícies “estruturantes” para incompetências e corrupções.
O sangue da Lei das Estatais está na água. Os nacionalistas querem controlar as indicações à cúpula da empresa de acordo com o interesse de suas pátrias. Terão a concorrência do Lirão.
A história sendo reescrita. Voltam Abreu e Lima e Comperj. Não há problema de comunicação aqui. Lula comunica: o ritmo de aplicação dos equívocos estava lento. Acelere-se.
Fernando Haddad comunica. Pelo silêncio. Não está podendo se meter em Petrobras. Os muitos problemas próprios o obrigam ao desaparecimento. Não tem mais a PEC da Transição para sustentar o ministro da Fazenda responsável fiscalmente, e a saturação dos mecanismos de arrecadação está posta, avançada a fase da fabricação de dinheiros, conforme a manipulação do presunto do arcabouço fiscal. A conta nunca fechou. E os nacionalistas querem grana. A meta é investir. Gasto é vida. PAC.
Haddad deveria se ver em Prates. A engenharia da queda de um é a mesma da carga sobre o outro. “Teu trabalho tem de produzir crescimento imediato.” Deveria também refletir sobre se o ex-CEO da Petrobras não lhe seria espécie de anteparo. Uma certeza: Rui Costa só obedece.
CARTUCHO QUEIMADO, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo
A realidade afirma, o bom senso reafirma e as pesquisas confirmam: Lula queimou o cartucho da frente ampla e em 2026 não contará com esse recurso para tentar a reeleição, caso seja mesmo o seu plano.
Ao contrário do que dizem, o presidente entende sim que ganhou a eleição por um triz e que deve isso ao pavor provocado pela perspectiva de mais quatro anos do horroroso governo do antecessor. Tanto que está constantemente a relembrar aos brasileiros o que foi aquilo.
Só parece não compreender que a comparação não basta. Não dá mostra de perceber que o eleitorado fiel da balança em 2022 é volátil e precisa ser fidelizado.
O contingente nada desprezível de votantes antipetistas escolheu evitar o mal maior na expectativa do cumprimento da aquietação de ânimos prometida. No aguardo de um governo que corrigisse os erros do passado e correspondesse ao crédito de confiança dado pelos tradicionais oponentes.
Eles estão aí. E como não são adoradores, mas simpatizantes de ocasião, olham o panorama com senso crítico aguçado. Têm demonstrado desgosto nas pesquisas. Não gostam do que veem e certamente não gostaram nada de ver o sinal da volta do manejo da Petrobras como agência governamental e do uso político da tragédia do Rio Grande do Sul.
Lula tem dedicado atenção e recursos ao socorro do estado. Faz visitas constantes e tem sempre dois ou três ministros despachando por lá. Descontados os de má-fé, os demais reconhecem o empenho.
Por isso, não precisava ter nomeado um ministro extraordinário para dar expediente na cena da tragédia e muito menos escolhido alguém do perfil de Paulo Pimenta: sem expertise em infraestrutura, pouquíssimo afeito à diplomacia no trato e um petista postulante ao governo do Rio Grande do Sul.
Dizer que a intenção não foi projetá-lo nem rivalizar com a figura do governador Eduardo Leite (PSDB) equivale a nos chamar a todos de tolos.
MOLECAGEM, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi uma das vozes mais estridentes do País a denunciar o clã Bolsonaro, não sem razão, pela prática da famigerada “rachadinha”. O problema é que, para o sr. Boulos, parece haver “rachadinhas” e “rachadinhas”. Quando a prática criminosa – tecnicamente, uma modalidade de peculato – é cometida por seus adversários políticos, sobre eles recai toda a fúria vestal do notório líder do MTST. Já quando o suspeito é um aliado, então prevalecem a hipocrisia, a condescendência e até a molecagem.
Pois foi molecagem, não há outra forma de dizer, o que o sr. Boulos fez, na condição de relator do processo de cassação do mandato do colega André Janones (Avante-MG), para livrar a barra do parceiro do dito “campo progressista” no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, no dia 15 passado. Mais do que ignorar, o psolista distorceu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) desfavorável a Janones e ignorou olimpicamente os fortes indícios de prática de “rachadinha” que pesam contra o colega.
Esse papelão a que se prestou o deputado paulista tinha o objetivo de matar na origem o processo político contra aquele que é tido como “herói” pela esquerda por supostamente ter “salvado” a campanha de Lula da Silva nas redes sociais na eleição passada. Ademais, para sustentar sua tibieza, Guilherme Boulos tomou como verdadeira em seu relatório uma autodeclaração de inocência, ora vejam, do próprio André Janones.
À guisa de lustrar com um verniz de tecnicalidade o que não passa de reles acobertamento, pura e simplesmente, o relator do processo de cassação, ao votar para que o caso fosse arquivado, justificou que uma gravação na qual Janones pede a seus assessores que devolvam parte dos salários a ele teria ocorrido antes da assunção do mandato federal. “Antes de tudo, é preciso trazer à baila que a representação do PL (contra André Janones) traz fatos ocorridos antes do início do mandato de deputado federal do representado (em fevereiro de 2019). O próprio representado afirma isso”, disse Boulos ao votar pelo arquivamento do processo. Eis a molecagem.
A referida gravação – que revela explicitamente que Janones, de fato, pediu que seus assessores de gabinete o ajudassem a “recompor o patrimônio”, que teria sido dilapidado em função dos gastos de uma fracassada campanha nas eleições de 2016 – ocorreu quando o mineiro já era deputado federal. No áudio, como deixou claro o ministro do STF Luiz Fux ao autorizar a abertura de inquérito pedida pela Procuradoria-Geral da República, Janones apenas fazia menção aos gastos de 2016 que teriam de ser cobertos. Não se trata, portanto, do marco temporal da possível prática de “rachadinha”, como o sr. Boulos, ardilosamente, deu a entender.
Guilherme Boulos é caso perdido e só mostrou que para livrar um aliado político da cassação vale tudo, até ofender a inteligência alheia. Espera-se que seus pares no Conselho de Ética sejam mais respeitosos com os fatos e com a sociedade.
NÃO HÁ PROTAGONISMO SOBRE ESCOMBROS, por Vera Magalhães , no jornal O Globo
A tragédia do Rio Grande do Sul é um epílogo de décadas de descaso com prevenção a desastres, com medidas recentes que retiraram recursos para dotar o estado de mais resiliência a intempéries, a despeito de o histórico e a situação geográfica sugerirem a tendência de que sejam recorrentes e severas, e com o afrouxamento do arcabouço ambiental que poderia reforçar a proteção a esses eventos.
O resultado é um estado destruído e submerso. Pensar que governantes possam cometer, além de todo esse histórico de erros, a bobagem de buscar protagonismo no manejo do caos é imaginar que sejam suicidas. Não costuma ser uma característica dos políticos. A cautela é necessária num momento em que não se tem a mais vaga ideia da quantidade de recursos e do tipo de ação que serão necessários para tirar o Rio Grande do Sul dos escombros.
A pasta extraordinária criada por Lula para centralizar os esforços federais, cobrar as demais pastas, tentar combater a burocracia para facilitar a chegada dos recursos e fazer a ponte com o governo do estado e as prefeituras é uma ideia que, se bem implementada, pode representar ganho em termos de agilidade e presença efetiva do governo central na unidade da Federação engolfada pelas cheias.
A desconfiança com que foi recebida a escolha de Paulo Pimenta para a missão decorre do temor de que a disputa política se sobreponha a esses objetivos concretos. Era previsível que um político com ligação com o estado fosse levantar a mão quando a ideia de criar o posto surgiu. Justamente por isso teria sido mais prudente da parte do presidente descartar essa possibilidade, destacando para a missão alguém com menos envolvimento político e emocional com o solo gaúcho.
Uma vez nomeado, cabe a Pimenta entender quão delicado é o momento. Como escrevi neste espaço na quarta-feira, a tragédia no Rio Grande do Sul pode representar para Lula uma avaliação definitiva de seu terceiro mandato, como a pandemia foi para Jair Bolsonaro —no caso do ex-presidente, foi um fator a definir sua derrota.
Caso se lance numa disputa política com o governador Eduardo Leite, Pimenta exporá Lula num estado que, a despeito do passado petista, hoje tem perfil eleitoral mais à direita, refratário ao partido. Seria insanidade imaginar que o posto avançado possa de alguma maneira “rivalizar” com o governo local na definição das prioridades e das políticas públicas para reconstruir o estado.
A ala mais moderada do PT acredita que, ao prontamente se colocar em campo com toda a equipe ministerial, em ação articulada com os demais Poderes, Lula percebeu a gravidade da tragédia gaúcha e entendeu que é preciso ter uma resposta local rápida e reposicionar seu governo no enfrentamento da emergência climática. A maneira como isso dialogará com outras prioridades da administração e com a velha, mas ainda hegemônica, visão de um Estado forte, indutor de pesados investimentos em infraestrutura, ainda é uma incógnita.
A tempestuosa troca de comando na Petrobras em meio ao caos é um desses momentos em que o discurso de reconhecimento da gravidade da crise ambiental será testado na prática: afinal, o que o governo decidirá sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, com todo o impacto ambiental que trará e a oposição clara de Marina Silva e seu time à abertura de uma nova fronteira de extração de combustível fóssil vizinha à Amazônia? Como isso condiz com a necessidade de avançar de forma mais firme e rápida na transição energética, prioridade muito falada, inclusive na campanha, mas pouco executada?
São esses os desafios reais do governo diante do colapso gaúcho. Num cenário tão adverso e imprevisível, a última coisa a pensar é em protagonismo. Até porque a chance de o protagonista neste filme ser o vilão, se não agir com sabedoria, é gigantesca.
Bom dia.
Ontem assisti na ND TV uma entrevista com o sensacional prefeito de Gaspar, hoje vice-presidente da Fecam (acho que é esse o nome).
No DISCURSO krebis foi o krebis de sempre, com muitas promessas e frases de efeito.
Quem já foi ou é refém da sua PREPOTÊNCIA, ARROGÂNCIA e OMISSÃO que o diga…
E ele diz não saber a razão pela qual está sem crédito na praça daqui e dos políticos
Este texto trata de como o PT, Lula, Janja, Pimenta e PT são oportunistas. Substituem eles por alguns prefeitos e pré-candidatos a prefeitos de outros estados que rumaram para lá, e de lá, por oportunidade oferecida pela desgraça, produzirem espetáculos para seus eleitores e eleitoras
A INDICENTE EXPLORAÇÃO DA TRAGÉDIA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
É obscura a função do tal Ministério Extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, recém-anunciado pelo presidente Lula da Silva, mas sua motivação é claríssima: ao escolher como titular da pasta o agora ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência Paulo Pimenta, Lula não escondeu que pretende explorar politicamente a tragédia daquele Estado. Para que não restassem dúvidas, o demiurgo petista transformou o anúncio das medidas num comício obsceno, em que anunciou até que vai disputar “mais dez eleições”.
A única parte do currículo do sr. Pimenta que o liga à catástrofe do Rio Grande do Sul é sua origem gaúcha, de resto uma qualidade de milhões de outras pessoas, algumas das quais certamente bem mais familiarizadas do que ele com os enormes desafios que ali se apresentam. Mas ele não foi escolhido, é evidente, por seu talento executivo.
Há outros aspectos do currículo do novo ministro extraordinário que explicam melhor seu novo papel de “autoridade federal” no Estado. Primeiro, o sr. Pimenta é cotado para ser o candidato petista ao governo do Rio Grande do Sul em 2026, e nada melhor para uma campanha eleitoral antecipada do que ganhar a atenção dos aflitos eleitores gaúchos nos próximos meses.
Em segundo lugar, mas não menos importante, o sr. Pimenta era o responsável pela comunicação do governo, e presume-se que, com esse espírito, o tal ministério extraordinário possa servir para promover a imagem do governo federal. Consta que Lula anda muito contrariado com o fato de que, na sua visão, as ações do governo federal no Rio Grande do Sul não estão sendo devidamente reconhecidas. Logo, nada mais compreensível do que atribuir ao seu notório ministro da propaganda a tarefa de alardear os supostos feitos do Palácio do Planalto neste momento de grande comoção nacional.
O sinal mais evidente de que o espírito da coisa não é bom é o fato de que a criação da tal secretaria extraordinária pegou de surpresa o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB). O tucano disse ter tomado conhecimento da medida por meio da imprensa. Não é desse tipo de picuinha política que os gaúchos precisam neste momento.
Não há dúvida de que reconstruir o Rio Grande do Sul não só demandará sacrifícios ainda desconhecidos, como dependerá fundamentalmente da presença da União. O governo federal, portanto, não só pode, como deve vir em socorro do Estado. Mas, primeiro, da forma constitucionalmente adequada, vale dizer, respeitando a Federação; e, segundo, utilizando os meios corretos.
Um exemplo dessa ajuda federal na medida certa foi a suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União pelo prazo de três anos. Trata-se de um alívio fundamental para um Estado que ainda nem sequer tem condições de dimensionar todos os prejuízos causados pelas chuvas. É nesse tipo de ação que Lula deve se concentrar, e não em instilar cizânia política num momento dramático em que os cidadãos clamam pela união de seus governantes.
Há um governador eleito pelos gaúchos no cargo, vale lembrar. Em que pesem as críticas que possam ser feitas ao seu desempenho, é a Eduardo Leite – e ao prefeitos – que cabe liderar as ações de reconstrução do Estado, lidando com o ônus político de governar. Ao governo federal cabe somente apoiar os líderes locais, facilitando a transferência de dinheiro e a mobilização de recursos humanos para o Rio Grande do Sul.
Ajudar não é se intrometer. A criação desse ministério extraordinário – na exata medida dos interesses políticos tanto do presidente como do sr. Pimenta – não pode se travestir de intervenção federal no Estado, menos ainda como intervenção mal disfarçada. Enquanto papéis e responsabilidades não estiverem muito bem definidos, é lícita a inferência de que essa nova pasta não se prestará a outra coisa senão à politicagem em meio à tragédia climática e humanitária.
E aí, guri!
Que tal Ministério Extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul?
Mas, bah tchê! O PimenTa que “se-aPrecaTe-se”!
O tiro poderá sair pela culatra!
TODOS ESTÃO SURDOS, por Paulo Celso Pereira, em O Globo
São exatos dois minutos de não diálogo que sintetizam nossa era. Em meio a uma tragédia de proporções bíblicas, um ministro entra em contato com o prefeito de uma cidade atingida e faz questão de filmar a ligação, colocada em viva-voz. Só que o gesto não é unilateral. Do outro lado da linha, o prefeito repete a mesma cena: ao receber a ligação de um ministro de Estado que poderia auxiliá-lo, coloca no viva-voz e filma toda a conversa.
Os dois não se escutam, e a solução da crise humanitária na cidade é apenas o pretexto para a ligação. O papel de ambos naquele teatro é proferir frases e reações lacradoras, gerando conteúdo para animar sua turba de apoiadores — e detratores — nas redes sociais.
O prefeito de Farroupilha é Fabiano Feltrin, empresário e cover de Elvis Presley que se filiou em março ao PL, num evento que contou com a presença de Jair Bolsonaro. O ministro, claro, é Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação do governo. Ontem Lula o escolheu para assumir o Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Enquanto publicamente o presidente e o governador Eduardo Leite exibem relação republicana nas ações para superar a tragédia, a máquina de destruição de reputações segue a todo vapor logo abaixo da linha d’água. Ela não encontra barreiras ideológicas nem geográficas, mira políticos, jornalistas, servidores públicos civis e militares, até voluntários que auxiliam quem perdeu tudo.
Pesquisa Quaest divulgada nesta semana retrata outra face desse mesmo fosso em que nos metemos. Nela, 55% dizem que Lula não merece mais uma chance como presidente, mas 47% estão dispostos a votar nele em 2026 — ao menos 2% acham que ele não merece um novo mandato, mas podem votar nele caso a alternativa seja pior. Todos os quatro nomes com apoio de mais de 30% dos eleitores — Lula, Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle e o ministro Fernando Haddad — são rejeitados por metade da população.
A polarização da sociedade brasileira se refletiu na tragédia do Rio Grande do Sul desde a busca por responsáveis pelos alagamentos — provocados, antes de mais nada, porque choveu em 17 dias 40% do esperado para todo o ano — até a patrulha sobre os motivos que levavam apoiadores do campo político oposto a estar mobilizados ajudando as vítimas.
O papel de coordenador da ajuda federal na tragédia obrigará Pimenta a despir-se da farda de general da propaganda para assumir as vestes de diplomata que deverá intermediar interesses do estado e dos muitos municípios — boa parte deles governados por prefeitos de oposição — que participarão da reconstrução. Em vez de atacar quem questiona o governo, o ministro, que durante a gestão Bolsonaro chegou a chamar o atentado sofrido pelo ex-presidente de “fakeada”, terá de baixar as armas.
A guerra por protagonismo ficou evidente na semana passada no drama vivido por Caramelo, o cavalo que se equilibrava sobre um telhado em Canoas. As primeiras imagens do animal surgiram na quarta-feira à tarde. A primeira-dama Janja Lula da Silva amanheceu no dia seguinte alardeando nas redes sociais a mobilização do Exército para o salvamento.
Nas horas que seguiram, as Forças Armadas exibiram ao vivo a mobilização de militares, caminhões e helicópteros para a operação. No entanto, minutos após partirem para a missão, a TV passou a exibir um pequeno grupo de bombeiros se aproximando do cavalo. Eles o colocaram num dos botes e navegaram até terra firme. Na corrida por Caramelo, o Corpo de Bombeiros de São Paulo chegou na frente. Coube ao secretário de Segurança Guilherme Derrite, bolsonarista da Rota que se orgulhava de “tirar vagabundo de circulação”, levantar o troféu nas redes.
Não muito longe de onde o cavalo foi salvo, dois outros cavalos, que ainda não haviam sido batizados por influencers, também tentavam sobreviver, com água até o pescoço, dentro de uma casa inundada. Quando a equipe de resgate chegou ao local, horas depois de Caramelo ser salvo, os dois estavam mortos. Nas redes sociais de Janja e Derrite, nem um story.