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EDITORIAL: NO DOMINGO QUE VEM NÃO ESCAPAREMOS DO PRECIPÍCIO

É forte a imagem, mas o certo é que não temos nesta eleição candidato a presidente da República do Brasil. O que está posto são dois tipos de bombas explosivas. Como não temos guerras civis e militares entre nós, o nosso desafio será o de aprender remontando com os escombros que serão criados. 

A democracia na concepção como a conhecemos está em risco. O futuro que queremos na utopia da esquerda e da direita está comprometido. A dialética foi estraçalhada – estamos rotulando, distanciando-se e marcando como inimigos os que nos eram queridos. A liberdade de expressão foi corrompida atrozmente. A paz ferida. E a fé – como princípio individual – estuprada. Impressionante.

Nem os três poderes, pilares constitucionais, estão intactos: o Executivo virou a casa da mãe joana sob segredos centenários inconfessáveis. O Legislativo um balcão de negócios às escâncaras. E o Judiciário exposto naquilo que vergonhosamente se desnuda há tempos nas altas cortes, mas se conhecia bem nos grotões e estados por décadas, onde sai-se melhor não a Lei, a Jurisprudência e a permitida e necessária hermenêutica, deu lugar descarado a quem possui externamente poder, influência, relacionamento, caros advogados e sede de vingança, tudo lastreado pelo poder econômico e político.

E a imprensa? Perdeu a guerra para o mundo virtual e digital. A imprensa é atingida – e é certo – pelos limites da Lei. Já as redes sociais e aplicativos de mensagens, bombam criminosamente a serviço de interesses de grupos, sem que sejam alcançados pela Justiça, a Lei e a ética até porque é um fenômeno recente e incontrolável. E quando é minimamente enquadrado, é visto como censura. Comoção.

Quem alimenta tudo isso: candidatos, asseclas e laranjas. E por que? Conhecem a Lei e principalmente como funciona a Justiça, a que secularmente possui dois pesos e duas medidas para premiar o mais astuto, o mais poderoso, o queridinho da vez.

Vai passar. Terá que passar. Somos mais do que tudo isso. Prefiro a letra de Bastidores, de Chico Buarque.

Vai passar/Nessa avenida um samba/Popular/Cada paralelepípedo/Da velha cidade/Essa noite vai/Se arrepiar/Ao lembrar/Que aqui passaram/Sambas imortais/Que aqui sangraram pelos/Nossos pés/Que aqui sambaram/Nossos ancestrais

Num tempo/Página infeliz da nossa/História/Passagem desbotada na/Memória/Das nossas novas/Gerações/Dormia/A nossa pátria mãe tão/Distraída/Sem perceber que era/Subtraída/Em tenebrosas/Transações

Seus filhos/Erravam cegos pelo/Continente/Levavam pedras feito/Penitentes/Erguendo estranhas/Catedrais

E um dia, afinal/Tinham direito a uma/Alegria fugaz/Uma ofegante epidemia/Que se chamava carnaval/O carnaval, o carnaval

(Vai passar)

Palmas pra ala dos/Barões famintos/O bloco dos napoleões/Retintos/E os pigmeus do bulevar

Meu Deus, vem olhar/Vem ver de perto uma/Cidade a cantar/A evolução da liberdade/Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê/Ai, que vida boa, olará/O estandarte do sanatório/Geral vai passar/Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará/O estandarte do sanatório/Geral/Vai passar

Uma campanha eleitoral onde só se falou de lama grudada em ambos os candidatos; onde a mentira e as agressões prevaleceram, onde só se falou do passado e nada do futuro foi constituído como esperança, não pode terminar bem. Tanto que agora, ambos lutam para levar gente para votarem naquilo que sabe ser ruim para todos. E que não votem nulos ou em branco. Então sabem, perfeitamente, onde estão errando.

E a culpa é dos candidatos? Não. Ela é exclusivamente nossa, os eleitores e eleitoras. Escolhemos o caminho do nosso próprio precipício. Agora é tarde. Tanto Luiz Inácio Lula da Silva, na esquerda do atraso e o seu PT do sindicato pelego serão ruins pelo Brasil, bem como Jair Messias Bolsonaro e sua direita xucra que se especializou na mentira e nos tiros no próprio pé que se justifica todos os dias. Um bom governo, com a máquina na mão, distribuindo bilhões, criando mecanismos impróprios de última hora para pobres, não poderia estar atrás de um ex-presidiário, corrupto rotulado e num país claramente de maioria conservadora. É a prova mais contundente da resistência a aquilo que está por vir.

Espero que o estandarte do sanatório geral vá passar e que tenhamos a capacidade do aprendizado para escolhas melhores e que não nos levem a um precipício a que estamos obrigados no próximo domingo. Não haverá escolhas. Haverá fanatismo cego de um lado e conformismo de outro. Wake up, Brazil!

TRAPICHE

Quem deve colocar a barba de molho é o virtual governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, PL. A revelação da conversa do empresário brusquense Luciano Hang (HAVAN) com o secretário de Fazenda, um funcionário reconhecidamente competente de carreira daquela pasta, Paulo Eli, é um sinal claro, que mais coisas virão.

Hang, desalmadamente, disse que não queria pagar impostos que supostamente eram devidos pelos seus negócios. E ao ouvir a justificativa de Paulo Eli de que precisava dos impostos para pagar os professores, Luciano sugeriu cortar o número de professores e deixar, por conseguinte, todos analfabetos.

Jorginho – e por orientação do presidente Jair Bolsonaro e sua turma na vingança contra o governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, já foi contra colocar dinheiro dos catarinenses nas obras de melhorias e duplicações das BRs em Santa Catarina, que ficaram a mingua no Orçamento Federal. Impressionante escolha sendo Jorginho o responsável até então pelo Dnit em Santa Catarina.

No debate da NSCTV, Moisés culpou Jorginho por querer impedir a renegociação de um contrato mais favorável ao estado, porque esta negociação supostamente prejudicaria um apadrinhado de Jorginho. O senador Esperidião Amim Helou Filho, PP, foi a Justiça para esclarecer e ver se havia delito no que se denunciou. Jorginho – que nunca foi conservador e bolsonarista raiz – que trate de se proteger na Assembleia, antes que vire refém do seu passado. Habilidade de sobra ele possui. Mas..

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3 comentários em “EDITORIAL: NO DOMINGO QUE VEM NÃO ESCAPAREMOS DO PRECIPÍCIO”

  1. IMPRESSIONANTE

    Fui dormir uma rapidíssima soneca depois do almoço deste domingo e acordei com o Brasil e os brasileiros brigando nas redes sociais e aplicativos de mensagens por causa do bolsonarista de ocasião, o maluco Roberto Jefferson, dono do PTB. Aí eu pergunto: é ou não uma prévia do precipício onde estamos metidos e vamos consagrá-lo nas urnas no domingo que vem?

    Sabia-se que Bolsonaro armou os seus para darem tiros no próprio pé como vem sucessivamente acontecendo nos últimos dias, mas não sabia que também era para atirar nos que por ordem da Justiça possuem a obrigação de intimar ou cumprir mandados judiciais. Meu Deus!

  2. DIVISOR DE ÁGUAS, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    É tenso, cansativo, às vezes irritante e até aterrorizante, mas é também um desafio fascinante acompanhar de perto as eleições de 2022, num grande momento histórico, um verdadeiro divisor de águas. Não se trata só de eleger o futuro presidente, o PT ou o PL, mas de definir o destino do País pelas próximas décadas, num mundo açoitado por ventos, chuvas e trovoadas.

    Vivemos ditadura, Diretas Já, morte de Tancredo, Constituinte, ascensão, queda e retorno de Collor, transição segura de Itamar, estabilidade estruturante de Fernando Henrique, inclusão social e petrolão de Lula, desgoverno Dilma, instabilidade com Temer e concentração de poder e de absurdos de Bolsonaro. Em 2022, é diferente: um confronto de visões de mundo, de civilização.

    Jair Bolsonaro, que descarta índios e divide o País entre pobres e ricos, brancos e pretos, Nordeste e Sul, urbanos e rurais, homens e mulheres, evangélicos e católicos, tem as corporações. Há, sim, corajosas dissidências, mas ele uniu as Forças Armadas, polícias, agronegócio e setor financeiro, além dos evangélicos.

    É com essa base social, o uso escancarado do Estado e dos recursos públicos e uma sólida maioria bolsonarista na Câmara e, agora, também no Senado, que ele quer impor ao País e às novas gerações uma mistura de sua própria visão atabalhoada de mundo e a cartilha da extrema direita internacional.

    Lula acertou muito, errou muito e criou o “nós contra eles” – os “cumpanheiros” contra todo o resto. Mas quem definiu bem a era Bolsonaro foram estudantes de medicina (de medicina?!), ao gritar: “Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy”. Poderia ser “nós somos brancos, vocês são pretos”, ou “nós temos mansões, vocês vão parar na cadeia”. Fim da farra da empregada indo à Disney, do filho de porteiro na universidade, reajuste de salário mínimo e aposentadoria pela inflação…

    Há uma licença para o mal. Roberto Jefferson ataca Carmen Lúcia de forma abjeta, empresários humilham Seu Jorge, um candidato a governador fala em “primeira dama de verdade” contra seu adversário gay, brasileiros comemoram chacinas em comunidades, um sujeito mata o aniversariante numa festa por política, um deputado defende que estudantes sejam queimados na cidade da Boate Kiss.

    Os melhores economistas, ex-presidentes do STF, artistas, jogadores, intelectuais e tantos outros que eram “eles” nos governos do PT podem não ter voto, mas têm um alerta: que país, que futuro e que mundo queremos? Um mundo do “pintou um clima” com meninas de 14 anos?

  3. ORÇAMENTO SECRETO, O “NOVO NORMAL”, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Triunfantes após o resultado do primeiro turno das eleições, os partidos que integram o Centrão têm deixado claro não ter intenção de dar fim ao orçamento secreto. Formado pelo PL, PP, União Brasil e Republicanos, o grupo elegeu 246 deputados federais, quase metade da Câmara Federal, e terá papel fundamental na aprovação de qualquer projeto que vier a ser proposto pelo presidente eleito em 30 de outubro. Antes mesmo dessa definição crucial para o futuro do País, suas lideranças têm sinalizado que não aceitarão a retomada do controle do Orçamento pelo governo federal. É uma tentativa de estabelecer um “novo normal” entre as relações entre Legislativo e Executivo que, por óbvio, não pode ser considerado normal.

    Ao Estadão, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), disse não ver possibilidade de que a nova legislatura aceite mudanças no mecanismo do orçamento secreto, que garantiu sustentação política a Jair Bolsonaro. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), argumentou que as emendas de relator seriam uma maneira de impedir o retorno do mensalão e do “toma lá dá cá” dos governos petistas, como se os esquemas fossem muito diferentes e seu objetivo final não fosse essencialmente o mesmo.

    Símbolo do clientelismo e da falta de transparência, as emendas de relator são uma excrescência na qual imperam o descontrole do gasto, a ausência de critérios técnicos e racionais e a captura de recursos públicos por interesses privados. Recursos bilionários têm sido manejados sem que o destino do dinheiro seja esclarecido e sem que os autores das indicações sejam identificados, impedindo uma avaliação concreta sobre o trabalho do parlamentar e a pertinência da despesa por ele proposta.

    Ainda assim, no debate presidencial da Band, ao serem questionados sobre o que fariam para aprovar reformas sem comprar apoio legislativo, Bolsonaro e Lula deram respostas evasivas sobre o fim do orçamento secreto. Bolsonaro tenta lavar as mãos, dizendo que vetou a prática, mas a verdade é que seu governo encaminhou sua própria proposta sobre o tema e nunca se mobilizou de fato para derrubar essa aberração evidentemente inconstitucional. Lula, por sua vez, disse que tentaria confrontar a prática com a implementação de um “orçamento participativo” – antigo programa petista de “democracia direta” na elaboração orçamentária cuja inviabilidade é atestada pelo fato de que não foi implantado quando o PT governou o País.

    Mesmo que seja derrotado na disputa presidencial, Bolsonaro deixa como legado um Orçamento ainda mais degradado e sobre o qual o Executivo já não tem mais poder. Se já não tinha autoridade para remanejar gastos obrigatórios que consomem 93% da peça orçamentária, o governo perdeu todo o controle sobre a minoritária parcela de gastos discricionários, hoje capturada por emendas paroquiais do Centrão. Para o ano de 2023, foram reservados R$ 19,4 bilhões para esses gastos, uma decisão que não poupou nem mesmo as verbas do Farmácia Popular.

    Ao contrário do que a classe política tem sinalizado, o orçamento secreto não é algo inerente às relações entre os Poderes. Nesse sentido, ganha ainda mais relevância o julgamento das ações que questionam a constitucionalidade das emendas de relator pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sob relatoria da ministra Rosa Weber, os processos devem ser pautados ainda neste ano, após a eleição. O julgamento pode representar um marco no resgate dos princípios da publicidade e da impessoalidade dos atos da administração pública.

    No ambiente político conturbado proporcionado por quatro anos de bolsonarismo, tudo indica que caberá ao Supremo cumprir o papel de restaurar a normalidade e a moralidade das relações entre os Poderes, devolvendo o Orçamento ao Executivo e lembrando ao Legislativo que sua função é fiscalizar o uso desses recursos públicos. O Centrão pode até tentar reagir a esse movimento, mas não há Proposta de Emenda à Constituição capaz de dar caráter formal à transgressão de princípios constitucionais.

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