Atualizado: 2 de nov. de 2021
Da esquerda para a direita, a trinca bem afinada: Melato, Ciro e Anhaia
Atualizado e acrescentado um parágrafo ao original em 02.11.21 às 11h40. O líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PSD, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, perdeu a paciência. Ele deu, mais uma vez, a cara ao tapa e ao risco para ser crucificado em nome da velha política que avança sobre os pesados impostos pagos pelos contribuintes.
Com plateia na arquibancada – o Lions foi por justiça homenageado na sessão de terça-feira passada – Melato assumiu também à liderança na defesa contrária, vejam bem, daquilo que os eleitores e eleitoras dos vereadores cobram nas redes sociais ultimamente, ou seja, menos mordomias, mais presença e mais transparência dos vereadores gasparenses.
Alegando que não foi eleito à toa pela população por sete vezes, e que só por isso, estaria supostamente certo e respaldado para fazer o que faz, Melato, saiu em defesa das reiteradas viagens, diárias, faltas e saídas antecipadas dos vereadores à única sessão ordinária semanal, a qual dura em média, pouco mais de uma hora.
Por isso, Melato repudiou veemente essas cobranças populares.
Elas, aliás, surgiram mais fortemente quando, do dia para a noite, os vereadores tentaram criar há poucos dias, para eles próprios, e em dinheiro e que não é permitido para os servidores municipais por ser inconstitucional segundo o Tribunal de Contas do Estado, por exemplo, o tal “Vale Marmita“.
De verdade? Melato está uma “arara” com o recuo da Mesa Diretora, do presidente Francisco Solano Anhaia, MDB, e do posicionamento não corporativo do vereador Dionísio Bertoldi, PT, sobre o assunto e que não deu aval ao tal “Vale Marmita”.
Tanto, que alegando indisposição em função dessa desistência, Melato não veio à sessão há duas semanas. “Foi esfriar a cabeça”. Todavia, na sessão de terça-feira passada ele mostrou que ainda não deglutiu muito bem esta “recuada” momentânea da Mesa Diretora.
E por quê?
Diante da forte e espontânea reação popular, os vereadores tiveram enfiar a viola no saco antes mesmo da matéria tramitar nas comissões. Melato era a favor do enfrentamento e nos bastidores mostrava como isso era “fichinha” ao que ele já comandou no Legislativo como aumentar de onze para 13 vereadores, criar as assessorias e tantas outras matérias polêmicas a favor, da Casa e até do governo do PT, ao qual esteve sempre alinhado.
Melato, atribuiu este clima de cobranças na cidade, não ao exercício de cidadania dos eleitores e eleitoras em tempos de forte crise econômica, social e política, sobre seus representantes, mas à uma tal de meia dúzia de “bocas alugadas” que está nas redes sociais e na imprensa de Gaspar.
Como é que é?
Melato e o campeão em diárias, Ciro André Quintino, MDB,- e é só conferir no Portal Transparência da Câmara -, vice líder de Kleber e que respaldou a integralmente à fala de Melato, realmente acreditam nisso e que tudo não passa de inveja de gente que na verdade gostaria de estar no lugar deles?
Primeiro, eles devem entender de “bocas alugadas”.
Segundo, também devem entender de inveja. Porque os que cobram são seus eleitores e eleitoras, os quais poderiam estar no lugar deles, sim, mas preferiram no voto, delegar esta representação. Então os representados não possuem esse direito derivativo de cobrança sobre os seus representantes? Meu Deus! Inversão de papéis.
Terceiro, deviam os vereadores apontar quem são e quem aluga essas bocas, bem como a razão que move esse aluguel além dessa marota inveja. Isto daria legitimidade ao discurso. Mataria desde logo a cobra e se mostraria o pau à sociedade. Não fizeram! Perderam à primeira chance!
Quarto, os poderosos políticos populistas de Gaspar agora estão perdendo até para meia-dúzia de bocas alugadas e invejosos sem votos? É ruim, heim!
Como já escrevi, esses vereadores e o governo Kleber onde essa gente está toda aninhada, vão provar daqui à pouco que uma andorinha faz verão. O PT não acreditava nisso e perdeu o reinado em Gaspar, ajudado, é claro, pelo climão nacional do petrolão. Aprendizado, com a história, até para os mais experientes como Melato, zero.
Adiante.
Não vou repetir nem o discurso de Melato, de Ciro, outros que se ensaiaram timidamente no mesmo tema por obrigação corporativa – pois não possuem mesma a cara de pau, argumentação fajuta e o poder de enfrentamento de Melato, Ciro e de Anhaia. Também não vou repetir o que meus leitores e leitoras já leram aqui reiteradamente sobre este assunto.
Vou centrar o arremate deste artigo num único ponto: à frágil argumentação de Melato e seus pares, ou seja, a de que ESTÃO TRAZENDO DINHEIRO PARA A CIDADE. “Eu não preciso de R$ 150 de diária”, lembrou, Melato. Se não precisa, por quê toma? Se não precisa, por quê está enfurecido com o engavetamento do “Vale Marmita” de R$ 450 por mês?
Não é verdade que estão trazendo dinheiro para a cidade.
Primeiro: não é a função do vereador trazer dinheiro para a cidade, mas sim do Executivo, a quem o Legislativo fiscaliza.
Parecem que estavam ausentes, ou surdos, quando a vereadora Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, leu o seu discurso sobre o que o ex-deputado por três mandatos e vereador em Blumenau, Álvaro Correia, MDB, 88 anos, escreveu para o jornal Cruzeiro do Vale sobre a função do vereador.
Segundo: esse dinheiro são de emendas parlamentares – impostos de todos nós – que transformaram os vereadores em meros cabos eleitorais de deputados estaduais, federais e senadores.
É uma disfunção do jogo político dos que estão no poder de plantão e dificulta muito à renovação das bancadas; então é legítimo participar dele neste jogo desigual. Mas, quem precisa do vereador é o deputado para continuar em Florianópolis, ou em Brasília. Ele na amarra que faz com o vereador que mora aqui e jura que “vai dar atenção” por aqui em troca de votos. Simples assim.
E ser cabo eleitoral é um negócio de mão dupla para ambos.
No ano que vem, os vereadores como cabos e percorrendo seus redutos eleitorais em Gaspar vão ajudar a eleger deputados, senadores, governador e presidente.
Em 2024 o esquema vai se inverter, na proporção de votos que os vereadores responderem ao deputado no ano que vem será ajudado pelo deputado para buscar votos para eles, vereadores, e com novas emendas. É assim, sem tirar e nem por. É uma roleta viciada criada nas amarras corporativas políticas.
Tudo envolvido nisso é dinheiro público: as emendas, as diárias, os custos dos veículos, o fundo eleitoral… É dinheiro do contribuinte, em bilhões, de verdade, os nossos pesados impostos mesmo em tempos de desemprego, falências e economia combalida.
Tanto que, mesma sessão de terça-feira, o que mais se falou foi nome de deputado estadual para os quais todos os vereadores estão atrelados como cabos eleitorais deles. Se houver alguma dúvida, é só assistir a sessão gravada e disponível.
Então? O eleitor e a eleitora agora não podem mais cobrar, palpitar e até mesmo repudiar atitudes que não concordam de seus representantes? Resta apenas pagar os pesados impostos, votar e quietos na vontade do vereador vestido cabo eleitoral de deputado e senador? É isso?
Pior. Começou a briga entre eles próprios pela paternidade das verbas, das realizações, das promessas.
Além das conhecidas “passadas de pernas” que já relatei e foram até manchetes só aqui, o vereador Francisco Hostins Júnior, líder do MDB, contou na sessão, que foi a Florianópolis com o presidente da ACIG, Edemar Ênio Wieser, e outros, falar mais uma vez com o DNIT sobre a marginal da BR-470 e no Deinfra, sobre o recapeamento da Francisco Mastella.
Prá quê!
Ao anunciar que o secretário estadual de Infraestrutura e Mobilidade, Thiago Vieira, anunciou o asfaltamento da avenida, Melato pulou no pescoço. Disse e mostrou um papelinho do secretário datado de 29 de junho em que Thiago confirmava para o vereador – via o seu deputado e que é do Sul – esta obra.
Na mesma toada, Ciro, mostrou que quem fez o pedido foi ele, via o seu deputado, que é de Ibirama, num encontro, na prefeitura de Ilhota onde estava o governador Carlos Moisés da Silva, sem partido, que nem por aqui apareceu.
É de se perguntar: onde está mesmo nesta história o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que quer ser candidato a qualquer coisa no ano que vem? Não influi em nada no recapeamento da Francisco Mastella? É isso? Com tantos deputados dando dinheiro para o governo dele via os vereadores, Kleber ainda assim vai ser candidato? Gente estranha.
Resumindo: o que era para ser uma boa notícia para Gaspar, os gasparenses e até mesmo para o governo de Kleber e Marcelo, quase se transforma em lavação de roupa suja, ou da inveja. Ainda bem que Hostins não entrou na pilha.
Até porque a notícia teria que ser a seguinte: governo do estado vai duplicar a Avenida Francisco Mastella, o único deputado que Gaspar já teve na Assembleia.
Encerrando.
Melato, Ciro, Anhaia e outros são cabos eleitorais e como tal estão usando sim, as diárias. É permitido? É! Mas, tem eleitor e eleitora questionando tudo isso. Agora, constrangê-los porque cobram, ou só porque possuem opinião diferente dos políticos com representação popular, é no mínimo, um abuso que precisa ser respondido nas urnas, inclusive e no ano que vem.
Aliás, esse é o verdadeiro temor desses vereadores e vereadoras transformados em meros cabos eleitorais.
E o Brasil está mudando, mais uma vez. E os políticos que se dizem representantes do povo, precisam em Gaspar, no mínimo, fingir que estão ouvindo seus representados, os que lhes verdadeiramente deram essa representação pelo voto e pagam-lhes, mas, em contrapartida, querem mais transparência e coerência em tudo isso.
Melato, todavia, – e outros a que ele defende -, como acentuou nas entrelinhas do discurso corporativo, quer o voto, a diária, o obsequioso silêncio do eleitor e eleitora, senão, parte para o enfrentamento. Mas, isso não contraria o espírito democrático que o elegeu? Acorda, Gaspar!