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BRIGAS, DISFARCES, JOGOS E ESCARAMUÇAS FAZEM KLEBER TROCAR A TITULARIDADE DO MEIO AMBIENTE EM GASPAR

Este tema é espinhoso e antigo. Só poderosos envolvidos. Gente que influencia na vida da cidade e dos políticos, antigos e agora, os novos. Já escrevi sobre este assunto aqui várias vezes. E cada vez que me meto nesta área, trama-se maldições contra a minha liberdade de escrever daquilo que é real, que quase todos na cidade sabem, mas ninguém ousa expor a público como eu tenho feito. E sou punido.

No centro das atenções está um embate político do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, movido à esperteza, a que não deu certo ainda, mas que se tenta mitigar sem chamar muito a atenção da cidade e das autoridades, as quais podem conter estas movimentações cirúrgicas de bastidores, de poder empresarial do ramo imobiliário e de serviços de terraplanagens, do Ministério Público e de um fiscal concursado da Superintendência do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ligada à secretaria de Planejamento Territorial. 

E por conta disso, o atual superintendente Robson Tomasoni, que está na função desde 23 de junho de 2021, pediu as contas. Sexta-feira foi o último dia. Com ele foi a comissionada Luana Lisenberg.

E por quê? Robson deixou de ser de confiança. Desconfiado se negou a fazer TACs – Termo de Ajuste de Conduta – uma prática premeditada usada nesta área, ou seja, primeiro faz errado, e depois se “concerta” com TAC, ou seja, com compensações, pequenas multas ou punições e com aval do Ministério Público. Robson, vendo encrencas pela frente e contra si próprio, queria se blindar minimamente perante o MP, nas responsabilidades como agente público e na Justiça com contrapartidas para o TAC. E isso não foi aceito pelo grupo político e empresarial que pressiona para se livrar das interdições em seus negócios. 

O substituto é Leonardo David Lourenço. A publicação ainda não saiu, mas já está no Portal da Transparência. Advogado, sem qualquer experiência na área e setor público, deverá mais maleável aos interesses dos supostamente prejudicados, dos interesses políticos – incluindo as eleições de 2024 – e do poder de plantão. E com esta indicação poderá estar nascendo aí, mais outro problema: a ligação dele com a defesa constituída dos implicados.

Só para lembrar pela primeira vez. Robson substituiu Raphael Gaspari Xavier da Silva, que era então diretor do Departamento de Meio Ambiente da secretaria de Planejamento Territorial, com as mesmas pressões e “medos”. 

Só para lembrar outra vez: a substituição acontece exatamente pouco tempo depois do prefeito Kleber expurgar o secretário Jean Alexandre dos Santos, MDB, que coordenou a campanha frustrada a deputado estadual do atual vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, Patriota. O vice está em conflito com Kleber. E o grupo de Jean Alexandre no MDB também.

Só para lembrar derradeiramente, a secretaria de Planejamento Territorial, desde a saída de Jean Alexandre, está interinamente, com o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB (na foto, acima) um faz tudo, próximo de Kleber, identificado na seita religiosa de ambos, afinados com o novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Ismael dos Santos, PSD.

Retomando. 

Este problema contra supostas irregularidades na área do meio ambiente em Gaspar que já foi dar na polícia, em inquéritos, processos e multas – uma delas envolvendo o próprio atual prefeito -, é muito antigo e não é exclusivo do governo Kleber, diga-se em sua defesa. Sempre foi moeda de troca, de exercício de poder ou de displicência mesmo, como algo, digamos, cultural da cidade e dos que trabalham neste ambiente. Era assim, por exemplo, no Registro de Imóveis. Até todos entenderem que o novo registrador entendia muito do assunto e era legalista.

Retomando pela segunda vez.

Entretanto, tudo ficou pior na área ambiental com a chegada do fiscal Pablo Adriano Ribeiro Costa da Silva. Ele é um técnico. Um casca grossa. Sem envolvimento emocional com a cidade e as pessoas do poder que vivem constrangendo, armando ou fungando no cangote contra quem não lhes serve, ou lhes contraria seguindo o que manda a lei, Adriano resolveu encasquetar e de há muito, com a lei debaixo do sovaco, o dedo nestas feridas que nunca se cura ou nos jeitinhos culturais de Gaspar. Aí ele virou o diabo a ser banido pelos profetas dos milagres.

E olha que estas feridas só existem porque, na esperteza combinada entre o público e o privado, o município deixou de fazer a sua parte: uma estrutura autônoma de meio ambiente, com concursados para esta finalidade e com isso, dar legalidade as licenças e processos da área. O Adriano não é culpado disso. Nunca dependeu dele esta iniciativa.

Kleber, que pegou a coisa viciada do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, levou-a de barriga. Esticou a corda. E agora, toda esta esperteza foi tragada pela realidade e pela legislação. 

E olha que Adriano nem é tão culpado assim como querem alguns envolvidos nesta trama. Veio que meio por acaso. O escritório do IMA – Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina – olhando as fotos de satélite, resolveu pedir explicações a prefeitura sobre um ribeirão que fora tubulado na rua Fernando Krauss e que deu origem ao Loteamento da Avenida das Torres, no bairro Santa Teresinha. Chegava na prefeitura de Gaspar e ia para a gaveta. Até que chegou, casualmente, as mãos de Adriano. 

Bingo. O fiscal não mentiu. Informou. E aí, como caranguejo no cesto, descobriu-se que em Gaspar, dezenas de outros empreendimentos estavam em situação semelhante. De quem é a culpa? Do fiscal – contratado exatamente para dar informações e comparar o real com a lei – ou de quem deu licenciamento torto, e pior, sem autoridade para dar? Até uma comissionada, ou seja, sem isenção funcional, fazia o que não lhe competia. Um show de horrores. E é contra isso, que o pessoal do ramo está “revoltado” e o poder público mudando pessoas “para dar soluções”. Se não se cuidar, corre sério risco de se complicar.

Os políticos e empreendedores não aprenderam nada até agora. Estão incorrendo no mesmo erro e tentando “limpar” o que já foi configurado como errado ou até crime. Vão mudar o superintendente e estão buscando pelos em ovo para afastar o fiscal. Em Gaspar, já tem loteamento – residencial, misto e até industrial – com infraestrutura pronta, mas no papel não consta nada na prefeitura. Impressionante. Tudo está mapeado. E pelo IMA, de Blumenau. Tudo visualizado. Documentado.

Quem está acoitado, são os que passaram no concurso público para a nova estrutura da Superintendência do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Gaspar. Eles estão em estágio probatório. Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come. Os políticos e poderosos estão de olho neles para a suposta isenção e o uso da lei.

E na visão de especialistas que consultei, as novas pessoas – se esta troca de titularidade da superintendência não for intencional e pré-combinada com os interessados – é quem ficarão com o prejuízo. Serão elas que vão responder na Justiça por seus atos. O prefeito vai dizer que estava de boa fé e fez o que sua equipe “especializada” recomendou e avalizou. Os empresários, também alegarão a boa-fé deles, pois só “fizeram”, ou “refizeram”, ou “cumpriram”, aquilo que o novo TAC lhes pediu, acordaram ou acordaram.

Enquanto isso, o fiscal, o intruso só porque fez – e ainda faz, mesmo sob pressão – o que lhe competia e estava no escopo funcional e naquilo que a lei lhe permite, leva processos administrativos pelas costas na tentativa de freá-lo, desqualificá-lo, intimidá-lo e até tentar deslocá-lo das funções da área em que prestou concurso. É um conjunto de forças dos prejudicados, espólios, empresários e o poder político de plantão.

De verdade? A prefeitura de Gaspar é que não tem feito a sua parte nesta área como manda a legislação, não exatamente contra, mas na proteção dos empreendedores. Ao contrário, mistura-se ao erro e isso pode dificultar ainda mais uma solução negociada, diante de tantas provas que estão acumuladas e não vieram ainda à tona. Acorda, Gaspar!

Atualizado as 7h30min deste 05.12.22. Ontem domingo, uma correria pelo Whatsapp. O gabinete do prefeito contatava os funcionários da secretaria de Planejamento Territorial e especialmente da Superintendência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, para a “posse” do novo titular, num evento que se dará nesta manhã pelo próprio prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, no seu gabinete. Isto nunca aconteceu antes. A aposta é alta. O risco, também!

TRAPICHE

A incapacidade da Ditran – Diretoria de Trânsito – de Gaspar pode-se ver todos os dias, há anos no início da Rua Prefeito Leopoldo Schramm, que recebe o fluxo do Gaspar Grande, da Coloninha e do binário criado nas ruas José Honorato Muller e Frei Antonino para quem vem de Blumenau, Bela Vista e Figueira, para alcançar novamente a Rua Nereu Ramos.

Formam-se filas, porque os espertos de sempre, e inclui-se carros oficiais – ao invés de continuar à direita para quem vai ao Centro, Ilhota, BR-470 via Margem Esquerda, Brusque, ou Itajaí, apressam-se e “cortam” caminho pela esquerda. E na Leopoldo Schramm forçam a entrada a direita, provocando retenção, criando assim, filas que prejudicam os que estavam no lugar certo. Impressionante. “Simples gelos baianos” resolveriam à má educação, à falta de fiscalização e o desrespeito à sinalização horizontal e vertical.

Pois é. O tempo é o senhor da razão. Estou de alma lavada mais uma vez. Não é que na sessão de terça-feira passada, mais uma vez foi votado e aprovado outro projeto do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que anula e suplementa o Orçamento, o qual chamo de ficção contábil. O relator, era o irmão de templo de Kleber, o vereador Cleverson Ferreira dos Santos, PP.

Sabe o que ele disse em defesa do Projeto de Lei? Que quase um terço dos projetos que passaram neste ano pela Câmara foram deste tipo, ou seja, de emenda ao Orçamento. E sempre feito às pressas. O votado terça-feira, por exemplo, levou 19 dias corridos, quando se carimbado de urgência, como era aquele, tem-se 45 dias. E todos os vereadores o aprovaram. Sem qualquer pio.

Agora, em Gaspar, temos o vereador camaleão. Para cada discurso uma vestimenta, numa mesma sessão. Num momento está vestido de “patriota” e enrolado na bandeira do Brasil. Minutos depois, de vermelho para homenagear o Papai Noel. E tem gente grande, que ainda acredita que Papai Noel existe. E quando ele é político…

A sessão de terça-feira passada na Câmara durou apenas 50 minutos. Esta sessão deliberativa acontece uma vez por semana. De discussão e votação foram apenas 15 minutos. Aos 30 minutos, e em meio as homenagens, a suplente Rafaele Vancini, MDB, pediu para sair. Alegou que havia uma agenda externa. Ou seja, essa gente quer ser vereador, representante do povo, mas tem horror a reuniões formais onde se debate a cidade e supostamente se defende o cidadão e a cidadã.

A pulga e o cachorro magro. A Câmara de vereadores de Gaspar “descobriu” – e só agora – que o Senado está de joelhos para o Supremo Tribunal Federal, que é em última instância, a casa revisora e que pode impichar ministros daquela corte. Falam mal de satanás na casa do diabo. Afinal, o que faz a Bancada do Amém para Kleber Edson Wan Dall, MDB, se não se ajoelhar da mesma forma?

E tem gente na Câmara que cita o ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln (1809 e assassinado em 1865) para se justificar naquilo que pede: “aqueles que negam a liberdade aos outros não a merecem para si mesmo“.  Ufa! Obrigado! Mas, não é isso que ouço, quando desnudo as tramas dos políticos, poderosos e feitos entre poucos ou na calada da noite. E por esses mesmos que emprestam frases de reconhecidos famosos e que mudaram a vida política dos seus tempos.

Então eu, por exemplo, e neste caso, prefiro uma outra frase pinçada no escopo de liberdade norte-americana, como a de um dos pais da independência de lá, Benjamim Franklin (1706/90), “viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como você o encara é o que faz a diferença.

Perguntar não ofende: já descobriram quem carregava pés de alfaces nos carros da Câmara de Gaspar?

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6 comentários em “BRIGAS, DISFARCES, JOGOS E ESCARAMUÇAS FAZEM KLEBER TROCAR A TITULARIDADE DO MEIO AMBIENTE EM GASPAR”

  1. Pingback: JUSTIÇA AO MANDAR O FISCAL DO MEIO AMBIENTE DE GASPAR SER FISCAL, MAIS UMA VEZ, DEU CLARO RECADO AO GOVERNO E EMPREENDEDORES - Olhando a Maré

  2. Bom dia na Coloninha, mais especificamente na Rua Nereu Ramos a solução chama-se Passarela de Pedestres. Este binário trocou a fila de lugar, ofereceu a Círculo um ótimo estacionamento para caminhões que aguardam para ir a balança e jogou um dos pontos de ônibus mais movimentados da cidade para a frente da casa de senhoras idosas. Se aquele puxadinho pode-se chamar de ponto de ônibus. Colocar gelo baiano é complicado pois em alguns pontos é necessário a troca de pista: exemplo mão inglesa da rua Frei Antonio para ir ao Tupi. A pessoa é obrigada a trocar de pista, ou quem vem da esquerda e precisa ir ao Gaspar Grande. Antes do binário era complicado, a PMG e seus çabios conseguiu piorar o que já era ruim.

  3. CONGRESSO DO ABSURDO, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo

    Leis sem sentido já viraram uma tradição nacional. Algumas são até cômicas. O problema é quando o aspecto nonsense leva ao autoritarismo, como o projeto de lei 2.864, do senador Randolfe Rodrigues (Rede), que inventa o crime de “assédio ideológico”.

    Para o autor da proposta, “assediar alguém publicamente, de forma violenta ou humilhante, premido por inconformismo político, partidário ou ideológico” deve ser punido com prisão de um a quatro anos mais multa.

    Além disso, a pena aumenta em até dois terços se o crime for cometido contra “agente público em razão do exercício de suas funções”.

    Ou seja, pode vir a ser crime criticar diretamente um político. Afinal, uma crítica pode ser violenta e humilhante, como diz o texto. Qual o critério? A linguagem é subjetiva e generalista e, aí, mora o perigo. O termo “publicamente” também é vago: redes sociais são espaços públicos?

    O senador fez a proposta logo após ataques sofridos por Gilberto Gil no Qatar. O músico foi abordado por bolsonaristas que o xingaram enquanto filmavam com o celular. O ato gerou indignação, com razão, mas a legislação já conta com leis sobre assédio e injúria.

    O curioso é que ninguém ficou indignado quando Regina Duarte foi hostilizada por uma turba na entrada de um espetáculo teatral. A atriz não conseguiu assistir à peça, teve de deixar o recinto. Logo, para a militância, funciona assim: “Quando não gosto da pessoa, pode assediar”.

    Fica claro, portanto, o oportunismo do senador e dos apoiadores. Não se trata de combater uma injustiça, mas de sinalizar virtude. Mesmo que, para isso, se coloque em risco a liberdade de expressão num de seus aspectos mais caros à democracia: a crítica, mesmo que agressiva, aos detentores do poder.

    Trata-se de políticos criando leis — o senador Renan Calheiros (MDB) é autor de outra com o mesmo teor— para se blindarem contra críticas, e ainda são aplaudidos. Poderia ser uma peça de Alfred Jarry, o pioneiro do Teatro do Absurdo, mas é o Brasil.

  4. A GRANDE DÚVIDA SOBRE A NOVADIREITA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Com as eleições deste ano, consolidou-se uma nova configuração políticoideológica no País. Os partidos de esquerda perderam espaço no Congresso e surgiu uma nova direita, que não tem receio de falar de temas e propostas que, até pouco tempo atrás, eram tabu no cenário nacional. São grupos e pessoas que defendem uma política informada por valores tradicionais, postulam políticas públicas com foco nas famílias, têm profundas reservas quanto à ingerência do Estado na vida econômica e social, manifestam especial preocupação com a segurança pública e o combate à corrupção e pleiteiam a manutenção da criminalização do aborto e das drogas.

    Mais do que uma estrita coerência de seu pensamento político – por exemplo, algumas bandeiras ligadas a costumes chocam-se com a ideia de interferência mínima do Estado na sociedade –, a nova direita articula-se como resistência às causas consideradas progressistas. Trata-se, em boa medida, de uma rebeldia contra o chamado “politicamente correto”. Por isso, uma das grandes bandeiras da nova direita é a liberdade de expressão. São pessoas profundamente indignadas com restrições que foram se consolidando, em alguns ambientes sociais, a respeito do que seria adequado dizer. Todo esse fenômeno ganhou força com a consolidação da internet e das redes sociais.

    O bolsonarismo soube tirar grande proveito eleitoral da virada da população à direita. Após incorporar ao seu discurso político a chamada pauta de costumes e aproximar-se dos evangélicos, Jair Bolsonaro mudou seu patamar eleitoral. Nas diversas eleições para deputado federal até 2010, foi eleito com cerca de 100 mil votos. Em 2014, já com o novo discurso, obteve 460 mil votos. Nas eleições seguintes, em 2018, fundiu essas bandeiras conservadoras com o antipetismo e foi eleito presidente da República.

    Se Jair Bolsonaro foi oportunista ao explorar esse novo posicionamento político-ideológico da população, é inequívoco também que o bolsonarismo contribuiu para o sucesso eleitoral dessa nova direita. Mesmo não tendo sido reeleito presidente da República, Jair Bolsonaro foi neste ano importante cabo eleitoral para muitos senadores e deputados federais. E é nessa relação com Jair Bolsonaro que está uma das grandes dúvidas em relação a essa nova direita eleita para o Congresso. Ela pretende ser extensão do bolsonarismo, replicando seus métodos, ou almeja fazer, a partir de agora, uma nova política?

    Essa questão pode também ser expressa da seguinte forma: a nova direita está disposta a cumprir a Constituição de 1988? A rigor, trata-se de ponto inegociável. Para participar do jogo democrático, é preciso respeitar as normas constitucionais, em especial, a separação dos Poderes, as garantias fundamentais e o específico papel das Forças Armadas no Estado Democrático de Direito. Sabe-se bem o lado que Jair Bolsonaro escolheu. Toda sua trajetória política está marcada pelo revanchismo contra a Constituição de 1988. Não é à toa sua constante apologia da ditadura militar.

    Falar em respeito à Constituição não é remeter a questões teóricas. São pontos muito concretos que estão em jogo. A nova direita vai respeitar incondicionalmente o resultado das eleições? Ou somará vozes na confusão de chamar de “liberdade de expressão” o que é puro golpismo? A nova direita vai respeitar o funcionamento livre e independente do Judiciário? Ou pretende fazer pressão política para achacar o Supremo Tribunal Federal? A nova direita vai permitir que os órgãos de controle investiguem os indícios de crime envolvendo a família Bolsonaro? Ou vai defender a impunidade sob pretexto de paz social?

    As eleições legislativas de 2022 mostraram a significativa ressonância que o discurso político mais à direita tem sobre grande parcela da população. Agora, é preciso saber se essa turma é de fato democrática: se é realmente uma nova direita, comprometida com a democracia e as liberdades, ou se é mero disfarce da velha direita, retrógrada e autoritária, incapaz de lidar com quem pensa de forma diferente.

  5. O NÓ DA DISCIPLINA MILITAR, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    É velha como a Sé de Braga a afirmação de que quando a política entra num quartel por uma porta, a disciplina sai pela outra.

    No princípio, um general pensa de uma maneira, e outro, de outra. Depois, a divergência passa aos coronéis, e assim sucessivamente.

    Em algum momento, os comandantes militares devem parar essa roda, pois já há gente chamando generais de “melancias” (verdes por fora, vermelhos por dentro). Chegou-se ao ponto de um sargento lotado no Gabinete de Segurança Institucional postar uma mensagem dizendo que Lula não subirá a rampa do Planalto no dia 1º de janeiro.

    A turma da transição quebrou a cabeça para escolher um ministro da Defesa. Pode ser importante, mas não é tudo.

    Os três novos comandantes das Forças assumirão seus postos com a tarefa de colocar ordem nas casas.

    Há chefes militares que empurram a disciplina com a barriga (Lyra Tavares, desastrosamente, em 1969) e chefes que a defendem com o pulso (Leônidas Pires Gonçalves de 1985 e 1990, e Orlando Geisel de 1969 a 1974).

    Estão aí, calados, dois comandantes que chefiaram o Exército sem tumultos: Enzo Peri (2007-2015) e Gleuber Vieira (1999-2003).

    Os dois sabem das coisas e afastaram-se da vida pública. Ouvi-los pode ser boa ideia. Ambos estão esquecidos, graças a duas regras de ouro do profissionalismo militar: se você é paisano e não sabe quem é um general, ele é um grande oficial, e se ele passou por um grande comando e você se esqueceu dele, foi um grande comandante.

    QUEM MATOU JANE STANFORD?

    Saiu um excelente livro nos Estados Unidos, é “Quem matou Jane Stanford?” (“Who killed Jane Stanford”). Seu subtítulo diz tudo: “Uma história de assassinato, enganos, espíritos e o nascimento de uma universidade”. Todo baseado em fatos reais e documentados. O autor, Richard White, é professor de Stanford e já escreveu outro livro, sobre o surgimento das ferrovias americanas.

    Leland Stanford e sua mulher, Jane, seriam um casal a mais na história americana se o filho, Stanford Jr., não tivesse morrido aos 19 anos na Itália. Eles quiseram lembrá-lo e criaram na Califórnia uma universidade com seu nome.

    O filantropo Leland foi um dos Barões Ladrões do seu tempo e cravou o prego de ouro na estrada de ferro que uniu as duas costas dos Estados Unidos. Jane, sua mulher, foi uma senhora esquisita, que recebia mensagens do marido e do filho mortos. Nesses tempos, o presidente dos Estados Unidos e a rainha da Inglaterra também se comunicavam com o outro mundo. Jane Stanford foi envenenada em 1905, aos 76 anos.

    Viúva, ela se metia com os currículos da Universidade Stanford e pedia a demissão de professores. Encantou-se com um jovem que se parecia com o filho morto. Desconfiava dos parentes, um dos quais dizia ter fotografado o espírito de Stanford Jr.

    Sem dúvida, alguém tentou envenená-la com estricnina ainda em 1904, e ela sabia disso.

    O professor White narra a vida de milionários e futricas acadêmicas, e na sua lista de suspeitos estão o mordomo, assistentes, criados, mestres e herdeiros. White conta sua história conhecendo a vida dos milionários e as intrigas universitárias.

    Jane Stanford embarcou para o Havaí em fevereiro de 1905. Levava muitas malas, uma caixa de remédios, joias que valiam US$ 2 milhões em dinheiro de hoje, e uma caixa de remédios.

    No dia seguinte ao desembarque passeou, jantou, tomou os remédios, passou mal e morreu. O médico, ao provar o que seria o bicarbonato da senhora, percebeu que nela havia estricnina. A autópsia achou vestígios do veneno.

    Nunca se soube quem matou Jane Stanford. O professor White ocupa metade do livro lidando com a pergunta. A investigação deslizou para o submundo do crime de Chinatown e da polícia da Califórnia. White prova que todos os suspeitos mentiram — das assistentes de Jane ao criado chinês. Grandes interesses precisavam que não houvesse estricnina nem envenenamento. Se Jane Stanford tivesse morrido de causas naturais, a universidade ficaria com uma boa parte da herança.

    No dia 24 de março, quando Jane Stanford foi sepultada em San Francisco, deu-se o cenário inverso do “Assassinato no Expresso Oriente”, de Agatha Christie: naquele, foram todos; neste, não foi ninguém. Jane teria morrido por causa de uma miocardite crônica.

    Diante desse desfecho White escreveu:

    “A história não termina aqui. Alguém matou Jane Stanford.”

    O professor White tem um irmão que escreve romances policiais. Conversando e lendo documentos e memórias, acreditam que desvendaram o crime.

    TRANSPARÊNCIA

    Perguntado se aceitaria um lugar no Ministério de Lula, o empresário Josué Gomes da Silva respondeu: “Sim.”

    Se toda a equipe de Lula assumir com esse grau de sinceridade, as coisas vão melhorar.

    José de Alencar, pai de Josué, foi o vice de Lula nos seus dois mandatos. Manteve suas opiniões e a fidelidade ao presidente.

    FIESP

    Passadas algumas demandas do naufrágio da tentativa de golpe contra Josué Gomes da Silva na presidência da Federação das Indústrias de São Paulo, fortaleceu-se a impressão de que a trama nasceu no Conselho Superior do Agronegócio da instituição.

    DE OLHO NO SISTEMA U

    Lula está de olho em alguns ministérios (não todos) e no comando da Controladoria-Geral da União, bem como na Advocacia-Geral da União.

    LULA E A ALEMANHA

    Lula ganhou um argumento para negar cargos a figuras que são favoritas nas bolsas de apostas:

    Isso acontece. A Alemanha foi eliminada na Copa do Catar.

    IMPOSTO SINDICAL

    Cozinha-se no comissariado dos sindicatos a ressurreição do imposto sindical.

    Extinto no governo de Michel Temer, ele mordia compulsoriamente um dia de serviço anual dos trabalhadores. Com a mesma cara, ele não voltará.

    Poderá vir, disfarçado de contribuição destinada a remunerar o trabalho do sindicato em serviços de assistência e na negociação de dissídios.

    O coração do problema está na contribuição compulsória, inclusive para trabalhadores que não se sindicalizaram.

    Há sindicatos que não prestam quaisquer serviços e, nos dissídios, consultam primeiro os empregadores.

    ESTATÍSTICA

    O ministro Alexandre de Moraes, que cuida dos inquéritos das manifestações golpistas, está diante de duas estatísticas. Uma é horrível, a outra é didática.

    A horrível é de Pindorama: ninguém foi preso pela baderna dos caminhoneiros de 2018. Ela quebrou uma perna do governo de Michel Temer, foram abertos dezenas de inquéritos, e ninguém foi para a cadeia.

    A outra vem dos Estados Unidos. No dia 6 de janeiro de 2021, uma multidão golpista invadiu o Capitólio. Pelo menos 955 cidadãos estão espetados na Justiça, cerca de 800 passaram pela cadeia e perto de 200 já foram condenados.

    FARO

    De duas pessoas que conhecem a política americana:

    A primeira garante que Donald Trump acabou.

    A segunda acha que seu lugar será ocupado por Ron De Santis, atual governador da Flórida, muito mais perigoso que Trump, por ser mais inteligente.

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