Câmara pelo ex-líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, o mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP.
O discurso, às vezes meio desconectado entre os assuntos abordados, é recheado de recados. Melato, encontrou os culpados pelas águas das enxurradas nas casas, comércio e indústria dos gasparenses nos últimos meses, semanas e dias: os loteadores, as empresas de terraplanagens, empreendedores e à falta de um Plano Diretor atualizado.
O discurso não foi para o povo, o amargurado, o que está sofrendo, inclusive com fezes dentro de casa pois os projetos dos técnicos se permitiu misturar nas novas drenagens, os esgotos com água das chuvas.
O discurso, claramente, tinha direção e propósito, pois o vereador não é nenhum ingênuo. Agora, só resta saber se isto é uma manobra isolada de Melato, ou é parte do conjunto da obra dos políticos que estão no poder de plantão, pois a Bancada do Amém na Câmara, ficou caladinha.
“Eu não tenho rabo preso com essa gente“, disse Melado se referindo aos loteadores, empreendedores, empresários da terraplanagem, para, supostamente, dar valor ao que dizia e sublinhando que por não ter “compromisso” com os investidores, foi eleito sete vezes vereadores. Será? E os que têm compromisso, por que não os apontou? Onde eles estão? Só na prefeitura?
Melato, por acaso não olhou para dentro da própria Câmara, a qual é parte da sustentabilidade desse mesmo governo no qual ele está inserido? E se olhou, está de olho nos nacos que o PP, ou quer mais, dentro da prefeitura para continuar governo? Ou é só um ensaio de desculpas aos incautos eleitores e eleitoras para uma nova rodada de cata votos nas eleições deste outubro?
E por que fica a dúvida da descoberta tardia de Melato e do governo que ele representa?
Porque este assunto já foi tratado aqui exaustivamente, e estranhamente, com exclusividade aqui. Nas redes sociais e na imprensa, nada. E por essa “intromissão”, até aqui, eu era o abelhudo, o que precisava ser contido, o grande problema, o que não “entendia” da realidade do município.
Porque este assunto vem justamente quando a própria Câmara acabou de enterrar naquela sessão de terça-feira, a do discurso de Melato, em segunda votação, uma lei inconstitucional, repito, inconstitucional, que favorecia os loteadores e investidores na parceria para a execução do Anel de Contorno exatamente naquilo que o governo Kleber não foi ele próprio capaz de executar. O que os empresários fizeram, foi de primeira. O que Kleber apoiado por Melato fez, além de muito caro, está sendo refeito seis meses depois de entregue
Aliás, a lei inconstitucional só foi revogada depois que todos – políticos e particulares – aproveitaram o benefício irregular, segundo o próprio Ministério Público.
Porque este assunto só apareceu depois que área de licenciamento ambiental da secretaria de Planejamento foi desmontada por igualmente não cumprir a Legislação Federal, nem o prazo que teve para se regularizar com regras e estrutura próprias. A porteira ficou aberta esse tempo todo e até há um mês atrás para as ações do jeitinho.
Porque essa da falta de atualização do Plano Diretor, criado pelos técnicos da Furb no longínquo governo de Adilson Luiz Schmitt (2005/2008, eleito pelo MDB, e hoje sem partido), já deveria ter sido atualizado, segundo o Estatuto das Cidades, lá em 2016. Ou seja, estamos atrasados há seis anos pelo menos. E quase tudo no governo de Kleber.
Porque coincidentemente este assunto de encontrar culpados e exatamente por quem suposta até então era parceiro de tudo que estava errado, só apareceu depois que a candidatura de Kleber a deputado estadual naufragou.
Olhando bem, neste momento, o prefeito Kleber não está mais precisando dos apoiadores que o fizeram duas vezes prefeito e alimentavam o sonho dele, da família, de um grupo de “çábios” e de louvadores do seu templo neopetencostal, dele ir para o Palácio Barriga-Verde. Sintomático, não?
Essa obrigatória, repito, obrigatória, revisão Plano Diretor fez água e não é de hoje. E na cidade se sabe a história disso tudo. E a contei aqui várias vezes.
O governo de Pedro Celso Zuchi, PT, até contratou uma empresa para atualizá-lo, a Iguatemi, mesmo diante da necessidade e da importância para a cidade, o assunto foi parar na gaveta. Até porque a Iguatemi fez um copia e cola acadêmico de uma utopia, e não de uma realidade, como fizeram os técnicos da Furb quando conceberam o primeiro e único Plano Diretor
Kleber teve a chance de tirar da gaveta o que a Iguatemi – de forma cara – sonhou, ou iniciar um processo novo, com a sua cara, com ampla discussão da sociedade e mesclando a nossa realidade do presente e contendo os danos do futuro. Não fez nem uma e nem outra coisa.
E por quê não fez?
Exatamente para não criar conflitos e atender interesses pontuais desse grupo e que agora atacado por Melato. E para isso, usou-se de artimanhas e a Câmara de Melato, mesmo licenciado mas sob sua interferência enquanto presidente do Samae, foi parte essencial de validação delas.
Foram modificações bem expressas pontualmente que o governo Kleber fez – as vezes teimando em contrariar a lei – no Plano Diretor, tudo com ajuda da Câmara, incluindo a lei inconstitucional revogada na semana passada. Ou seja, foi um jogo jogado e agora está se trocando as cartas desse baralho? É isso?
Quando Melato afirma a todo pulmão que a Câmara é culpada por toda esta situação de cobrança dos afetados, ele está certíssimo. Mas, só agora ele descobriu isso? Ou está colocando um preço político para alguém pagar a conta mais uma vez? Ou está salvando a pele do seu PP, dos espaços que o partido tem no atual governo com quatro secretarias e criando chantagem para se perpetuar nos nacos de poder?
Melato acha que a cidade está esburacada e suja por conta dos empreiteiros da terraplanagem, exatamente eles, que a todo momento, socorrem a prefeitura e a secretaria de Obras e Serviços Urbanos nas urgências, emergências e erros de outros empreiteiros.
Uma secretaria, que no loteamento de Kleber e exigência do PP de Melato, foi dada ao ex-vereador, ex-vice prefeito de Kleber, o servidor público municipal – é agente de trânsito licenciado – Luiz Carlos Spengler Filho. Hum!
Melato acha, porque não é um técnico, que as águas que não escoam nas enxurradas é decorrência dos aterros que para ele são tragédias anunciadas em várias partes da cidade, como o caso do bairro Sete de Setembro e a localidade da Vila Nova naquele bairro. Ele tem razão. Os mais antigos da cidade sabem disso. Nunca foram engenheiros, mas sabiam e advertiam os mais jovens, os letrados, os entendidos, os diplomados neste assunto ligados a engenharia, os políticos…
Mas, perguntar não ofende: quem aprovou esses aterros e loteamentos? Não foi a própria prefeitura por meio da secretaria de Planejamento Territorial usando o retaliado, confuso e impróprio Plano Diretor desatualizado? E mesmo que não tivesse a aprovação governamental, não seria o caso então de embargar? Por que o governo de Kleber assim não procedeu?
Lamento informar que Melato está certo e lava a minha alma, mais uma vez. É uma atrás da outra.
Logo ele, que como presidente do Samae, e quando deixou a função de vereador para assim conduzir a autarquia, provocou o maior escândalo de obras de drenagem, a da Rua Frei Solano, no Gasparinho e provou que não entende do assunto.
Aliás, ela deu numa CPI, enterrada na Câmara, com prejuízos políticos para o governo Kleber. Na Frei Solano, a drenagem – que nem projeto tinha e foi iniciada pela própria prefeitura – que Melato fez, já dá sinais de problemas. E não é o aterro que contém o fluxo de águas pluviais, mas de falta caimento para o escoamento da água. Falha de projeto e execução. Simples assim.
Resumindo.
Essa gente é capaz de dar nó em pingo de água. Então, apesar de estar certo naquilo que fala, reclama, acusa e adverte, é preciso entender o que exatamente está, mais uma vez, por detrás do discurso do vereador Melato.
Com a experiência política, ele não embarcaria numa canoa furada dando recados a poderosos da cidade gratuitamente, muito menos expondo as fraquezas já por demais conhecidas do governo de Kleber e Marcelo e que inviabilizaram seus planos políticos futuro. Aí tem! Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Talvez o vereador José Hilário Melato, PP, tenha razão. Depois de faltar a reunião da comunidade Vila Nova que quer uma solução para as águas que tornam a região uma lagoa, com fezes, a prefeitura disse que vai lá dar explicações.
E vai dizer que o assunto é complexo, que não basta um canal extravasor para romper a barreira de aterros de particulares que está sendo feito naquela região com licenciamento e aprovação da própria prefeitura. Vai dizer que precisa da contratação de um estudo para uma ação de macrodrenagem naquela região e outras partes da cidade.
Autorizaram particulares ocuparem a área, não pediram contrapartida e soluções ao tempo que isso era necessário, o problema se agravou contra parte da cidade e agora, mais uma vez, vai se “cirar solução técnica” com os pesados impostos de todos e empréstimos?
Outra. É preciso colocar prazo nisso tudo. Estudo não é solução. Estudo precisa sair do papel e se tornar realidade dos que estão perdendo as suas coisas e parte emocional das suas vidas nas enxurradas. E para isso, é preciso verbas. Quanto e onde elas estão?
O líder governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, na Câmara, sumiu na última sessão. Giovano Borges, PSD, guindado a esta posição para defender o futuro prefeito e parceiro político de longa data, Marcelo de Souza Brick, PSD. Como deu água a jogada, Giovano já está se ensaboando.
Sobrou para o vice-líder, Francisco Hostins Júnior, MDB. Ele nesta função já foi penalizado politicamente no passado. Ou seja, avisado pelas urnas já foi mais de uma vez.
Um governo que não consegue responder aos questionamentos básicos dos raros vereadores que se atrevem a isso, pode dizer que é transparente?
Kleber Edson Wan Dall, MDB, vê mais uma vez o judiciário da Comarca lidar com três mandados de segurança obrigando-o ao esclarecimento não só à vereador, mas à cidade, ao cidadão e cidadã. Impressionante.
Até que enfim. Uma comissão de vereadores, assessorada pelo corpo técnico da Câmara de Gaspar, “revogaram” quase 170 leis em desuso por aqui. Lição de casa e que poucos se dão ao trabalho de fazer.
Agora na propaganda oficial dos políticos, faltou dizer que a quase totalidade desse revogaço são de leis criadas pelos próprios vereadores. Acorda, Gaspar!