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AS PROPOSTAS DE GOVERNO QUE OS CANDIDATOS A PREFEITO DE GASPAR REGISTRARAM – POR OBRIGAÇÃO – NA JUSTIÇA ELEITORAL, DIZEM MAIS SOBRE ATRASOS DO QUE FUTURO E AVANÇOS V

Recomeçando o artigo original desta quinta-feira termino o ciclo de análise dos Planos Diretores – iniciado no dia 12 de agosto – que todos os candidatos a prefeito e a vice de Gaspar, por obrigação, reforça-se, registraram e estás disponível no site Justiça Eleitoral e que os daqui, vejam só, já praguejaram esta mínima transparência.

Sobrou para o empresário Oberdan Barni, e o contador Aurino Amaral, ambos do Republicanos, fecharem este ciclo de abordagem por aqui. Com o do Novo, de Ednei de Souza, é o mais longo, mais completo e o mais parecido com um “Plano de Governo” de todos que estão registrados na disputa deste ano. Faltou dizer, todavia, como ele se encaixa no Orçamento de 2025 já aprovado pela Câmara. Faltou dizer como vai se gerir – apesar dos núcleos criados para issso o Plano Diretor para os resultados prometidos. Está na cara que vai precisar de uma reforma administrativa, a qual terá que passar pela Câmara.

Apesar de ser, na minha avaliação, o de melhor qualidade na exposição, o documento de Oberdan não fugiu do copia e cola. Ou seja, mesmo sendo este “Plano de Governo” uma réplica de um bom produto comum do partido Republicanos para seus candidatos a prefeito, os partidos coroados e supostamente mais estruturados para apresentar trabalhos de igual ou superior qualidade, como o MDB, PP, PSD, PL, União Brasil e até mesmo o PT, subestimaram esta oportunidade como plataforma de debate com a sociedade gasparense. E estão reclamando das minhas análises e das repercussões. Tolos.

Oberdan se “perdeu” neste copia e cola. Ficou irritado. E por isso, revisou e corrigiu o “Plano de Governo” dele para a realidade gasparense em situações bem embaraçosas. É que apareceu nele, uma menção à fiscalização da Serra do Japi. Não tem nada a ver com Gaspar.  A Serra do Japi está em Jundiaí, em São Paulo, estado que é governado pelo correligionário dele e estrela em ascensão do Republicanos para ser presidente da República, Tarcísio Gomes de Freitas. Ou, então, a afirmação de que iria fortalecer uma tal de “guarda municipal”. A bem da verdade, ela nem existe entre nós. O que há é uma Ditran – Superintendência de Trânsito -, falida e esquecida pelo atual governo por quase oito anos. Aliás, ela já vinha como patinho feio dos oito anos de governo de Pedro Celso Zuchi, PT. Incrível!

A PERGUNTA É: POR QUÊ SÓ OS ENTRANTES SE PREOCUPARAM EM COLOCAR NO PAPEL UM “PLANO DE GOVERNO” MINIMANENTE ATUALIZADO?

Voltando. 

Os títulos deste artigo e do Ednei de Souza, Novo, deveriam ser outros. Preferi a isonomia, pela mesmice e descomprometimento da maioria. O de Oberdan, ao menos no papel, avançou muito. E por isso mesmo, escancarara o atraso onde estamos submetidos pelos que vêm nos governando por décadas, os mesmos que – sem apresentar “Planos de Governo” atualizados à realidade e ao futuro, dizem estarem prontos para continuar levando de barriga algo próprio do século passado. E estamos em meados dos anos 20 do século 21. E essa gente ainda não percebeu a diferença brutal.

Se o “Plano de Governo” de Oberdan vai funcionar, eu não sei. Isso depende de pessoas. São eles com suas habilidades e competências que executam e tirarão do papel e transformarão em resultados para os cidadãos e cidadãs ansiosos por mudanças que lhes coloque no centro das vantagens. Mas, pelo menos este documento tratou de coisas do ramo como PPA – Plano Plurianual e que engessa um Orçamento público municipal por quatro anos nos limites da receita – bem como a LOA – Lei Orçamentária Anual – e que no ano que vem, por exemplo, nem a reposição nas receitas e despesas contempla à inflação passada conforme projeto enviado à Câmara pelo atual prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Ao mesmo tempo, a proposta de Oberdan cria grupos de planejamento, execução de recursos e ações contemplados no “Plano de Governo” dele. Esses grupos ele os chamou de “Gestão de Projetos”, o “Acompanhamento de Metas Físicas e a Unidade Central de Planejamento e Governança”.

Repito, se vai funcionar eu não sei. Entretanto, pelo menos o “Plano de governo”, o que é um bom começo e um sinal de preocupação de gestão, está bem organizado. E por que é um bom começo para controle e cobranças tanto do gestor como da própria sociedade? Os outros – a exceção do Novo -, nem isso. Estão distribuindo as mesmas bananas para todos os eleitores e eleitoras. E na própria campanha. E em documento oficial.

Retomando mais uma vez.

Porque como está exposto com esses núcleos de controle e ação, este “Plano de Governo” do Republicanos do Oberdan e publicado na Justiça Eleitoral, fica mais fácil não apenas se conhecer as prioridades, mas, principalmente, deslocá-las nos seus eixos de resultados por várias necessidades, oportunidades ou crises, incluindo as provocadas pelos adventos severos do clima e muito próprios na nossa região

Espera-se que esta metodologia possa acabar com aquelas intermináveis fingidas reuniões semanais de “planejamento” do prefeito e vice – quando não brigados entre si – com os seus secretários, puxa sacos e outros políticos, que serviam apenas para preencher as redes sociais, e não exatamente para produzir resultados para a cidade, como se prometia nas entrevistas sem perguntas, press releases, discursos e palanques virtuais do atual governo.

UMA ABRANGÊNCIA EXAGERADA. SIMPLIFICAR AINDA É SINÔNIMO DE EFICÁCIA

O pecado deste “Plano de Governo” registrado na Justiça Eleitoral por Oberdan, na minha particular avaliação, num assunto que entendo um pouco e há décadas, é o número de eixos em que ele foi dividido: 15. É muito e se corre um alto risco de se perder nas prioridades e controles, se não houver uma gestão eficiente, ou não se souber lidar com as pressões de um governo que quer e precisa inovar, contudo, naturalmente, vai ficar, se eleito, sob tiroteio dos que sempre governaram desorganizadamente a cidade e na pressão e desorganização sempre levaram vantagens e querem perpetuar este modelo entre nós. Os mesmos que estão metidos em embrulhos que vão aos poucos sendo descobertos – como a operação desta quarta-feira – e mesmo assim, não querem perder o crupiê do cassino cheio de truques.

Os eixos do “Plano de Governo” de Oberdan Barni, Aurino Amaral e Republicanos estão nesta ordem de apresentação: educação, saúde, transporte e mobilidade, segurança, esporte e lazer, cultura, juventude, inclusão, planejamento urbano e meio ambiente, gestão, emprego e renda, habitação, agricultura e abastecimento, defesa do consumidor e finalmente, bem-estar e saúde animal.

Como os anteriores, vou pinçar pontos fora da curva ou os que estão dentro da mesmice, ou incoerentes. Por ser mais longo do que os demais – o do PT possui uma página, praticamente – recomendo a leitura na íntegra deste “Plano de Governo” no site da Justiça Eleitoral para melhor entendê-lo como um todo. Qual a primeira proposta do primeiro eixo, a Educação, de Oberdan, um filho de uma professora dos anos iniciais? “Aumentar o número de escolas em tempo integral, priorizando os bairros mais periféricos”.

A ESCOLA COMO FATOR DE INCLUSÃO, CONHECIMENTO E INOVAÇÃO

Bom. Necessário. Atrasado.  Mas, exagerado. 

Por que? Se eleito Oberdan não vai aumentar o que praticamente não existe entre nós: ensino em período integral – e até contraturno – nas escolas municipais. Devia ser claro e dizer que vai implantá-los. Devia dar números. Devia estabelecer metas para ser cobrado, um erro bem comum do político quando trabalham com generalizações. Entretanto, mesmo assim, não deixa de ser um avanço daquilo que está muito atrasado, a escola em tempo integral entre nós e contra o futuro de crianças e adolescentes. 

A segundo exagero está ligado a outra afirmação que soa demagógica: “priorizando os bairros mais periféricos“. 

Ora, se não há, praticamente, período integral e contraturno entre nós, devia eles começarem exatamente pelos maiores bairros, as melhores ou mais estruturadas escolas que temos, exatamente para atingir mais estudantes, se ter controle da experiência – que está com muitos anos de atraso – e expandi-la de forma madura ou amadurecendo. Simples assim. Isto se chama além do avanço educacional, inclusão. Isto trabalha contra a perigosa ociosidade de crianças, adolescentes e até da desestrutura familiar, muito comum nos nossos dias, ainda mais em município feito de intensa migração, miscigenação de novos hábitos e culturas, numa cidade dormitório – ou de passagem – como é Gaspar.

Sobre a proposta de “aumentar a oferta de vagas em creches na cidade, diretamente (construindo) e por meio de parcerias com a iniciativa privada, para disponibilizar a vaga quando a mãe precisa” nem vou tocar nisso pela obviedade que permeia todos os “Planos de Governo”, inclusive do que quer continuar o que está no poder de plantão, Marcelo de Souza Brick, PP, mas, que, tendo a oportunidade, por quase oito anos de resolver este assunto, a verdadeira marca foi criar falsas vagas, transformando-as de período integral e meio-período logo que Kleber, assumiu em 2017. Outra vez: faltaram números e prazos no “Plano de Governo” de Oberdan.

Há pelo menos dois pontos diferenciais para a Educação neste “Plano de Governo” que Oberdan Barni, Republicanos, registrado na Justiça Eleitoral. Um interessante e exequível: “programa de Residência Pedagógica na rede municipal para estudantes de pedagogia, letras e educação física” e um longe de ser uma prioridade: “implantar Projeto Escola de Pais cujo objetivo é unir o método e a pedagogia escolar à cultura e experiências empíricas familiares”. Antes disso, é preciso, penso, aprimorar, fortalecer em favor da educação, da escola, das carências – as vezes do mínimo e no âmbito pedagógico – e principalmente dos alunos, longe da politização política e de poder, as heroicas – em sua maioria – Associações de Pais e Professores.

A INTEGRAÇÃO REGIONAL DO HOSPITAL DE GASPAR

Como se vê, não saí do primeiro dos 15 eixos do Plano de Governo de Oberdan e já me estabeleci num textão e em polêmicas. Exatamente pelo que o “Plano de Governo” de Oberdan, corajosamente propôs – repito, outro bom “Plano de Governo” é de Ednei de Souza, do Novo -, e não pelo que esconde, disfarça ou omite.

O segundo eixo desse “Plano de Governo” – e não vou passar dele para encerrar este artigo de hoje -, é o da Saúde. Ele vai do ponto nevrálgico ao cosmético – por isso é longo, desnecessário e foge do foco de soluções emergenciais – nesta sensível área que gera tantas reclamações, desconforto, dor e dúvidas entre os gasparenses. Estranhamente, ao mesmo tempo, Oberdan quase esconde uma de suas bandeiras diferenciais: a UPA – Unidade de Pronto Atendimento – 24 horas. Ela está embrulhada lá no meio das suas prioridades. Devia estar destacada. Devia dizer quantas, onde e em quanto tempo quer fazer isso. Pois, elas não nascem magicamente e funcionam da noite para o dia. E ele sabe disso.

No primeiro item deste eixo da Saúde, Oberdan trata do Hospital de Gaspar. Realmente é um problema sério, complexo, prioritário, guardado as sete chaves por pouquíssimos. E neste item, Oberdan tem o seu vice, o contador Aurino Amaral, detentor de conhecimentos e parte dos segredos deste ambiente pouco asseptico. Aurino prestou serviços ao Hospital. Ambos não dizem claramente o que farão com o Hospital de Gaspar, mas dão pistas quando anunciam que vão “promover integração eficiente entre o Hospital Gaspar e os Hospital Regionais, para aumentar o número de leitos disponíveis e valorizar os profissionais que trabalham nesses hospitais”.

Estas pistas vão desde o levantamento que coloca o Hospital de Gaspar em um emaranhado de dúvidas até o seu saneamento, com a gestão de um outro hospital como se chegou a avançar ao tempo do ex-secretário de Saúde, Francisco Hostins Júnior, que estava no MDB e hoje no PL, em relação ao Hospital Santo Antônio, de Blumenau, cuja ideia foi, providencialmente abortada pelo governo de Kleber e Marcelo com a ajuda da Bancada do Amém na Câmara, quando criou uma comissão de ” acompanhamento” exatamente para o entrave do que se procurava como solução e tirava a autonomia dos que afundam o Hospital nos dias de hoje. A UPA pode ser um caminho, mas de ela sozinha nada adiantará se antes os postinhos não estiverem funcionando eficientemente, assim como a Policlínica.

Hoje sem UPA, com postinhos deficientes, horários deles restritos, com a policlínica com exames e consultas médicas de especialistas reprimidos, tudo vai dar no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar. Ele se tornou um mero ambulatório geral da cidade. E devido a isso, perdeu a referência como Hospital. Para complicar nos resultados e imagem, a quantidade quase absurda de dinheiro que se coloca lá, mas drenados sem transparência alguma, ou ao modo do seu gestor político de plantão, torma o Hospital de Gaspar um ente e cada vez mais grave moribundo econômico, inviabilizando-o

Sobre esta anomalia crônica nascida, vejam só, no governo petista de Pedro Celso Zuchi há mais 11 anos, nem uma letra no “Plano de Governo” de Oberdan. Muito menos, de como vai solucionar este câncer, onde a metástase – e seu vice conhece bem isso – só beneficia discursos, embates e políticos com o sofrimento dos doentes pobres, com dores e precisados de esperanças. Uma pena. Aliás, quando se estabeleceu esta intervenção, pactuou-se que não só a sociedade, mas o Ministério Público e a Câmara receberiam todos os meses um balanço da situação do Hospital. Hoje para a Câmara obter alguma informação a respeito desses números, são meses de enrolação.

A tal integração regional do Hospital proposta pelo “Plano de Governo” de Oberdan Barni dá sinais de que alguma coisa mudará, mas faltou assumir compromissos públicos com estas mudanças, a começar pela transparência que consome milhões de reais e a maior fatia do Orçamento Municipal, inviabilizando outras ações prioritárias na Educação, Infraestrutura, Assistência Social, Mobilidade etc. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

A coisa está ficando como o diabo gosta e a sociedade minimamente in dignada com seus políticos. E estranhamente, tudo está acontecendo contra e a favor dos interesses políticos. Depende do ângulo.

E às vésperas das eleições em fatos e atos, aparentemente, represados nos canais de investigações, fiscalização e jurisdição. E a hora do capeta chegou na reta final de campanha eleitoral. Pois nada disso que se apura ou se notícia é nesta semana é de hoje. É de anos represados nos ambientes de investigações.

Desta vez, Gaspar entrou na roda. Foi-se uma parte do corpo fechado de anos. Antes tarde do que nunca, diz o dito popular. Os batizados se tornaram pagãos, como sempre foram. Política não é coisa sagrada: é dos pecadores que usam beatos para ingenuamente consagrá-los. Começou na terça-feira no Sul do estado e Blumenau. Ontem foi aqui e Oeste. Hoje… Vamos por partes, como diria Jack, O Estripador.

O quase eterno prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro(foto ao lado), ex-PSDB e hoje no PSD – o partido que o governador Jorginho Melo, PL, teme para a sua reeleição em 2026 – foi preso. Foi o único peixe grande, por enquanto, nesta rede. E antes da polícia levá-lo, Salvaro gravou um depoimento. Nele, o prefeito apontou para o governador como o responsável pela sua prisão. O governador rebateu imediatamente, mesmo sendo o “dono” da polícia que investiga. Mas, não do Ministério Público que pede prisões e em tese, da Justiça, que autoriza com base nas investigações da polícia e argumentos do MP.

A razão do queixume? Clésio Salvaro, PSD, estaria fazendo o sucessor em Criciúma – como a maioria dos prefeitos que não vão à reeleição, num reconhecimento ao bom desempenho administrativo -, segundo as pesquisas, enquanto o arranjado e apadrinhado candidato do governador estaria patinando, pelos argumentos do mesmo Salvaro olhando para as iguais pesquisas. É jogo de gente grande. Isto mostra como Jorginho Melo, PL, ao invés de focar na administração do estado – que cada vez se estabelece em gargalos que compromete o desenvolvimento -, está fazendo politicagem olhando mais 2026 nas articulações políticas, do que os resultados para a sua gestão.

A acusação de interferência no judiciário por Jorginho Melo, PL, para prisão de Clésio Salvaro, PSD, ambos ex-deputados estaduais juntos e pelo mesmo PSDB em idênticas legislaturas, precisa ser apurada. Por que? Porque pode ser leviana. Porque diz diretamente a respeito da autonomia de um outro poder, o Tribunal de Justiça, que foi acionado pelo Ministério Público devido ao foro privilegiado de Salvaro. Foi o MPSC que pediu a prisão. O judiciário analisou e concedeu.

Qual a acusação contra Clésio Salvaro, PSD? Ele mexeu com os negócios dos carteis das funerárias de Criciúma e teria permitido aos novos poderosos dos negócios de mortos, vantagens competitivas aos que os antigos supostamente não tinham. Há uma suposta crença – e perigosa do ponto de vista da autonomia do Executivo – de que o simples fato do prefeito ter o poder de criar leis, que são apreciadas e aprovadas pela Câmara, são indícios de manipulação desses jogos.

É uma tese que precisa de melhor avaliação. Mas, quem perdeu o quinhão neste mercado milionário e restrito, não deixou por menos. Este assunto, aliás, é bem conhecido por aqui. E não é de hoje.

No ano passado se mudou a legislação em Gaspar e se aumentou absurdamente as taxas dos cemitérios que se esperou para ele lotarem e enfiar soluções caras e irreversíveis goela abaixo dos gasparenses. Tanto Kleber Edson Wan Dall, MDB, como o vice, Marcelo de Souza Brick, PP, apostam no esquecimento da população. No tempo do governo de Pedro Celso Zuchi, PT, o Ministério Público daqui também mandou ele se desfazer de um cartel que era – operado por um com fachada de três empresas.

Voltando. Por que Clésio Salvaro, PSD, já experimentou uma cassação anos atrás por fazer propaganda política fora de época na busca de Criciúma com um ônibus de atendimento popular a moda de uma Kombi com esta finalidade por aqui, acusou Jorginho Melo, PL, pela Operação Caronte? É quem expediu a ordem de prisão dele foi a desembargadora Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer, a mesma que está enfronhada na Operação Mensageiro e que já botou vários prefeitos catarinenses na cadeia. 

Então qual o pecado que o político Clésio Salvaro, PSD, quer colar no governador Jorginho Melo, PL, a desembargadora Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer e judiciário? É que ela foi convidada por Jorginho para assumir a secretaria de Administração Prisional. Na terça-feira ela daria a resposta e que nos bastidores era tida como certa. Clésio embaralhou o convescote. A esta altura, a confusão estava armada e Jorginho no centro dela se explicando. O judiciário também.

Um ainda tucano de bico grande no cenário estadual, mas com a asa cortada para não tentar mais voos solo num ninho cada vez empobrecido, ao saber desta informação lembrou-me de Aristóteles, o discípulo de Platão que viveram mais de 300 antes de Cristo, na Grécia Antiga: “mais cedo ou mais tarde… sentaremos à mesa para um banquete de consequências“. Pois é. É o que está acontecendo em Gaspar.

Antes, porém, uma passadinha na mesma terça-feira em Blumenau. Lá também estourou outro escândalo de malversação do dinheiro público com ajuda de servidores municipais e em algo muito parecido naquilo que se escandalizava em Gaspar no dia seguinte. Belisca no prefeito Mário Hildebrandt, PL, que mudou para ser Jorginho Melo, PL, e apoiar o candidato delegado Egídio Maciel Ferrari, PL, que veio do PTB, já extinto. Mas, Mário, outra vez, só assiste – e é possível que antes de seis de outubro tenha que sair da arquibancada. O PT com Ana Paula Lima e o Novo com o promotor – que já esteve no Gaeco -, Odair Tramontin, torcem para que tudo piore. Mas, Mário ainda está ileso. Posa de vítima mais uma vez: de maus funcionários que não controla

Não é a toa que o PT em Blumenau já está falando que não quer discutir ideologia nesta eleição, mas capacidade de realização. Cuméqueé? Até ontem era o nós contra eles, agora é uma disputa de competência? Nem isso cola. É só olhar para Brasília e ver o buraco que estamos metidos por ideologia, economia do atraso e impostos sobre impostos contra a classe média, a que verdadeiramente sustenta o país, mas que agora é rotulada de rica e está obrigada a ser pobre para virar dependente do estado perdulário e atrasado, na democracia com censura. 

Então restou a candidata petista se associar à duplicação da BR-470. Esta obra só foi para frente quando o ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, contra o próprio atual governador Jorginho Melo, PL, botou dinheiro dos catarinenses em obra Federal ao tempo, sejamos justos, de Jair Messias Bolsonaro, PL, presidente.

Agora, há uma briga para Brasília devolver estes mais de R$400 milhões aos cofres dos catarinenses. No passado, bem lá atrás, um out-door desses mesmos políticos do PT ofereciam, para em poucos dias, a duplicação da BR-470 para o aniversário de Blumenau. Esses dias viraram anos. E a BR 470 ainda está empacada em trechos cruciais em Blumenau, Indaial e Navegantes, ou obras de artes, como o trevo de entrada de Gaspar, pela Hercílio Fides Zimmerman, ou da Segalas, no Distrito do Belchior.

A luta do PT em Blumenau, segundo as pesquisas conhecidas e divulgadas até agora, é para chegar ao menos no segundo turno. Em Gaspar, por outro lado, é para reconhecer um ex-prefeito como se estivesse acima do partido que o leva para baixo, quanto mais barbeiragem se faz em Brasília e Blumenau. Ou alguém acredita que o surpreendente PIB do segundo trimestre divulgado na terça-feira vai ser entendido pelo povão com coisa boa com luz mais cara, alimentos mais caros, inflação por conta da seca, do endividamento, má gestão fiscal e dos impostos que retiram riqueza da economia para saciar um estado glutão, sem falar na insegurança jurídica criada contra investidores nacionais e internacionais, num estado de fraca poupança para ser o indutor do crescimento? 

Voltando para a aldeia. Ontem, Polícia Civil, por meio da 4DECOR – 4ª Delegacia Especializada em Combate à Corrupção – logo cedo deflagrou a “Operação Limpeza Urbana”, para investigar um suposto esquema de superfaturamento no serviço de limpeza urbana, gerenciado pela Secretaria de Obras de Gaspar entre 2017 e 2023. 

“Visitaram” ou recolheram documentos, celulares e até dinheiro nacional e estrangeiro em residências, do ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos 0e hoje presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, PSD, mas até ontem MDB; do chefe de gabinete, ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos, ex-vice-prefeito de e hoje presidente do PP, Luiz Carlos Spengler Filho; do ex-secretário; do ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos; Roni Jean Muller, MDB, candidato a vereador no lugar do atual líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB; do primo de Roni e hoje secretário de Obras e Serviços Urbanos, Douglas Francisco Muller, MDB, e do suplente de vereador, Norberto dos Santos, o Betinho da Lagoa, MDB, também candidato a reeleição, que era o fiscal do serviço de limpeza na secretaria de Obras e Serviços Urbanos. Mais outros dois servidores públicos com igual função a de Norberto.

Qual o babado e já escrevi sobre isto várias vezes? É o contrato de varrição, capinagem e roçação da Ecosystem, de Curitiba, em Gaspar. Ela media e cobrava muito mais do que fazia. E todos na secretaria de Obras e Serviços Urbanos, aceitavam algo flagrantemente impossível. Gente sem o mínimo senso de disfarce. E não só aqui.

E por isso, a casa caiu aqui, como na “Operação Mensageiro, que tratava sobre a recolha e destinação de lixo urbano que prendeu servidores públicos, empresários, prefeitos e vices, a maioria deles, cassados por suas Câmaras.

O ex-servidor público da secretaria de Obras e Serviços Urbanos de Gaspar, Amauri Bornhausen, PDT, mesmo sendo da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) – a que dá incondicional apoio a Kleber Edson Wan Dall, MD|B, e Marcelo de Souza Brick, PP, neste segundo mandato, foi atrás deste assunto. Diabético, sem as duas pernas e cardíaco, morreu no dia 12 de dezembro de 2022. Seu sucessor, Roberto Procópio de Souza, MDB, mas ex-PDT até dias atrás, não se interessou. E Alexsandro Burnier, PL, deu continuidade. Muito por causa da assessora de Amauri que admitiu no seu gabinete, Andreia Avosani, detentora desse histórico.

Como no caso de Jorginho Melo, PL, o pessoal de Kleber Edson Wan Dall, MDB e do candidato dele à sua sucessão, o vice Marcelo de Souza Brick, PP, apontaram o dedo para o adversário o Delegado Paulo Norberto Koerich, PL, que concorre a prefeitura. Quando lhe perguntei sobre estas acusações em massa nas redes e aplicativos de mensagens, o Delegado Paulo me disse três coisas: quando ele era delegado, todas as denúncias que recebeu deu andamento às áreas competentes de apuração (não especificou quais); que desde abril ele está afastado da Polícia e jurou na conversa que tive com ele de que não tem acesso ao andamento das investigações, mesmo já tendo sido o que é hoje secretário de segurança estadual; e que qualquer coisa sobre este assunto de Gaspar no âmbito do inquérito, busca de provas ou indiciamentos, deve ser respondido pelo atual Delegado Geral da Polícia Civil, do governo de Jorginho Melo, PL.

Na verdade, o delegado Paulo Norberto Koerich, PL, acredita que quando levantarem o segredo de Justiça – e está torcendo para isso e aí as coisas podem piorarem ainda mais para os indiciados – tudo ficará bem claro para a sociedade. Eu também torço e não ´pe de hoje. É pela transparência e para lavar a minha alma, sempre acusada de invencionices. Mas, já naquilo que publiquei, e naquilo que acessei os documentos que passaram pela Câmara, estava claro que tinha coisa muito torta e bem as escâncaras de todos. Ou alguém acha que uma cidade fica tomada pelo capim por mais de seis meses, assim de graça, desgastando o prefeito e o vice que quer ser candidato a prefeito para continuar tudo como está?

A desculpa do amarelo é dormir com os pés descobertos. Todos sabiam que estavam com as penas do rabo do peru na mão. Se não tivessem esta consciência, qual a razão para inventar e voltar atrás como um raio naquela barbeiragem tramada no gabinete do prefeito, no núcleo duro da Câmara e que usaram de bode expiatório o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Douglas Francisco Muller?

A trama – uma pratica conhecida e reiterada contra os cidadãos e cidadãs que ousem o questionamento e não apenas só deste governo, mas vem desde o PT de Pedro Celso Zuchi – era para assustar, amedrontar, recuar, calar e até “caçar” o mandato do vereador Alexsandro Burnier, PL, que vinha colocando os dedos nas feridas do governo. Era uma andorinha fazendo verão, como aqui.

Por isso, deu tudo errado mais uma vez para os aprendizes de feiticeiros no trabalho coordenado para manter o corpo fechado dos políticos perante as instituições de fiscalização e inquirição. O inicial silêncio da imprensa foi quebrado aqui e nas redes sociais do vereador. E ele se saiu melhor que a encomenda para o desespero dos feiticeiros do paço municipal? O espírito de vingança dos poderosos e dos políticos no poder de plantão que sempre os permeou – numa herança herdada do PT de Pedro Celso Zuchi a quem coloca o dedo na ferida como eu, foi derrotado pelos fatos consistentes e muitos.

Agora, impressionante mesmo foi a nota oficial da prefeitura de Gaspar diante dos fatos presentes e passados. Tratou todos os gasparenses como tolos.  Escreveu ela que “está contribuindo com as investigações e aguarda mais informações das autoridades. A Administração também determinou a instauração de auditoria administrativa interna sobre os fatos”. Deboche. Só faltou dizer que vai boicotar as investigações. Na noite de ontem, os vereadores fieis ao governo desconstituíam as investigações e a polícia. Acusavam adversários. E teatralmente, sem ter como dizer outra coisa, mostravam e diziam ter as “mãos limpas”. Meu Deus! A corrente de puxa-sacos, puxavam estrondosamente as palmas. Os eleitores e eleitoras, acompanhavam timidamente. Patético.

Se isto fosse verdade, “a instauração de auditoria administrativa interna sobre os fatos”, isto deveria ter acontecido há pelo menos três anos atrás quando este assunto foi ventilado aqui, quando os vereadores pediram as documentações sobre o assunto, quando os vereadores falaram publicamente sobre as dúvidas, quando a Ecosystem se mandou e a cidade ficou tomada pelo mato. E não é auditoria: é um duro e transparente processo administrativo, e se possível, com afastamento imediato dos envolvidos, como por exemplo e se safa, o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, PL

Com tantos sinais assim e o presidente da Federação dos Municípios de Santa Catarina, e prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB (foto acima), não enxergou o que estava sendo enviado e levantado para a Câmara, pois é ele quem assina as respostas aos requerimentos? O seu fiel procurador geral não orientou em nada sobre os possíveis danos consequentes do que já estava na cara dos documentos? Nem o controlador Geral, Ernesto Hostin, seu homem de confiança desde os tempos em que era seu assessor na Câmara? Essa tal presidência da Fecam tem dado azar. É preciso os irmãos de templo se estabelecerem urgentemente num livramento. Porque vem mais coisa. E pior. Kleber está mudo e sumido.

Quero ver quando entrar – ambos na foto abaixo – em cena Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, o irmão de templo, o homem de todas as poderosas coisas, o que teve que bater em retirada, alegando estar sendo ameaçado e apresentou um bilhete fajuta para comprovar isso, aquele que bateu um bolão nos áudios cabulosos com Jean Alexandre dos Santos, alvo da operação de ontem, livre numa CPI quase secreta armada na Câmara pelo presidente dela, José Hilário Melato, PP. Segunda-feira tem mais.

Perguntar não ofende. O governo de Gaspar, a exemplo de Nicolás Maduro, na Venezuela, para distrair todos os eleitores e eleitoras, também vai decretar que o Natal deverá ser por estes dias antes das eleições? Aliás, o melhor vídeo que circulou na praça sobre a operação policial de ontem contra agentes políticos e públicos em Gaspar, foi do veterinário Eduardo Zimmermann. Ele falou de fraldas geriátricas e até se ofereceu para doar Rivotril aos envolvidos no assunto para que pudessem dormir melhor de ontem para hoje e de hoje para amanhã…

Gaspar não vai mudar. Gente do baixo clero que depende da prefeitura e está obrigado a cabale de votos, está sendo instruída a dizer para o povo ignorante de que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, letrado, esperto, experimentado na política como poucos, ex funcionário comissionado empregado pelo ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, ex-vereador, ex-presidente da Câmara, vereador de dois mandatos, ex-presidente da Associação de Municípios do Vale Europeu, e agora presidente da Fecam, superbem assessorado, não sabe ou não lê o que assina. Meu Deus! E tem gente que ainda acredita, piamente, nisso.

Um debate nada fraterno. A maçonaria gasparense disputa espaços para o vice-prefeito e candidato a prefeito Marcelo de Souza Brick, PP, e o delegado Paulo Norberto Koerich, PL. O que sempre foi comedido e cercado de muita discrição, esta semana chegou às redes sociais. A Instituição quer compromissos para a virada na cidade. Não aguenta tantos escândalos. E teme o envolvimento dos seus.

Há uma briga de bastidores nas duas campanhas mais organizadas pela cabala de votos e supostamente mais abastadas financeiramente. Com a estrutura da prefeitura, Marcelo de Souza Brick, PP, estaria levando vantagem. Recentemente, conseguiu a nomeação de um ex-predreiro e ex-chacreiro para diretor administrativo com salários brutos mensais de mais de R$5 mil, bem como um cargo para a mulher de um casal de amigos, este morador em Balneário Camboriú. E assim vai a vida…

Nos aplicativos de mensagens e driblando a Justiça Eleitoral, que obriga a declaração da fonte, os partidos e partidários com ou sem filiação – e esta confusão é proposital – vão esclarecendo os esquecidos, como a filiação de Ivete Mafra Hammes, MDB, candidata a vice-prefeita de Marcelo de Souza Brick, PP, se deu PT. Ela foi uma das fundadoras do partido aqui. E até foi candidata a vereadora pelo PT. Mas, ela é identificada, e todos sabem com uma ala do MDB e de muita longa data. Foi vereadora, secretária de Saúde e candidata a prefeita, derrotada pelo MDB.

Olhando o material dos candidatos a vereadores e vereadoras de Gaspar, fica-se com a nítida impressão de que a maior parte não sabe o que é ser um vereador ou uma vereadora. Se apresentam como marido ou esposa exemplar, pai ou mãe dedicada, e avós de lindos netinhos. E ainda dão os nomes deles. Sério que este vazio passou pelo crivo dos marqueteiros e dos próprios candidatos a prefeito e vice? Falta-lhes o essencial, além do conhecimento e limitações da função: pelo menos mostra a causa que vão defender na Câmara, para a cidade, cidadãos e cidadãs, se eleitos.

Batendo o ponto. Todas as sessões deliberativas da Câmara – que é só uma vez por semana e agora, mal dá uma hora de sessão, o vereador Ciro Quintino, MDB, pede para sair cedo.

Depois do saco amarelo (lixo), chegou a vez da caixa preta que o vereador indicou para o Samae. Calma. É para colocar o registro de água. E o Samae, cujo presidente é Jean Alexandre dos Santos do mesmo PSD de Giovano Borges, nem aí. Esta semana, há um mês das eleições, candidatos comemoraram o descarregamento de duas bombas elétricas para comporta do Bela Vista. Elétricas? Nas enchentes, por prevenção, o que mais falta é energia no bairro. Então…

Num santinho de vereador que tenta a reeleição escreveu para os eleitores e eleitoras que juntou aos que pediram que os ônibus urbanos de Blumenau no bairro Bela Vista. Esqueceu de dizer, que também se juntou aos que tiraram a Verde Vale da linha intermunicipal entre Ilhota e Blumenau, que como consequência, o que parecia resolvido, ficou como antes. 

E com um agravante, não só contra os do Bela Vista, mas de outros pontos do município e que tinham acesso ao sistema da Blumob, como o Distrito do Belchior. Muda, Gaspar!

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12 comentários em “AS PROPOSTAS DE GOVERNO QUE OS CANDIDATOS A PREFEITO DE GASPAR REGISTRARAM – POR OBRIGAÇÃO – NA JUSTIÇA ELEITORAL, DIZEM MAIS SOBRE ATRASOS DO QUE FUTURO E AVANÇOS V”

  1. CRISE AMBIENTAL MUDOU DE PATAMAR, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    A crise climática está aí. O país vive a maior seca em mais de meio século, dois mil municípios estão em condições de risco e cidades são tomadas pela fumaça dos incêndios. No Dia da Amazônia, soube-se que, em agosto, a região teve 38 mil focos de queimadas, um número superior aos anos de Bolsonaro. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse no Senado que o bioma do Pantanal pode desaparecer até o fim deste século.

    Os ambientalistas tinham razão. Vistos como profetas da catástrofe, revelaram-se clarividentes. E agora? O pior cenário seria a continuação do que acontece há décadas. Os defensores do meio ambiente reclamam, nada acontece (ou faz-se uma lei) e as coisas continuam na mesma. A orquestra toca a partitura errada e alguns instrumentos não tocam como deviam.

    Antes da posse de Lula, circulou a proposta de se cuidar do meio ambiente por meio de uma política de transversalidade. Por trás dessa palavra que pode dizer muito, ou nada, o problema ambiental seria enfrentado por uma agência, fosse o que fosse, prevalecendo sobre as burocracias dos ministérios.

    Enquanto o novo governo era uma arca de sonhos, essa proposta inteligente ganhou destaque. Com a posse, veio a vida real. Mobilizaram-se burocratas que não queriam compartilhar o poder de seu quadrado e parlamentares que defendem os interesses dos agrotrogloditas. A ideia da transversalidade foi queimada no escurinho de Brasília.

    Não há receita visível para se resolver o problema, mas está diante de todos a evidência de que as coisas não funcionam mantendo-se a máquina que existe. É como querer que um caminhão voe.

    No seu novo patamar, a crise ambiental pede que se comece a discutir o formato da peça que implementará a transversalidade. Do jeito que estão as coisas, a ministra Marina Silva vai ao Senado e diz o seguinte:

    — Nós estamos vivendo sob um novo normal que vai exigir do poder público capacidade de dar resposta que nem sabemos como vão se desdobrar daqui para a frente. (…) Somos cobrados para que se faça investimentos que são retroalimentadores do fogo.

    Lindas palavras, mas a ministra é parte do que chama de “poder público”. Além disso, se investimentos alimentam o fogo, cabe ao “poder público” expor a questão, até porque investimento não põe fogo em nada. Quem queima são iniciativas e barrá-las, expondo-as, é o que se precisa.

    Em novembro de 2025 instala-se em Belém a 30ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP 30. O governo está tratando do assunto como se ele fosse mais um evento, procurando brechas para lustrar biografias.

    Má ideia, pois o Lula que foi à COP 27 em 2022, no Egito, vestia o manto da proteção ambiental. Em Belém precisará mostrar resultados e ações.

    LITIGÂNCIAS GERAIS

    Vêm aí milhares de litígios, sobretudo nas regiões do Sul afetadas por enchentes. São devedores contra bancos, empresários contra fornecedores, fornecedores contra empresários e, acima de tudo, pessoas ou negócios prejudicados pela má gestão do poder público.

    Algumas já chegaram à Justiça e calcula-se que a enxurrada seja de tal proporção que será necessário criar um protocolo para lidar com ela.

    SERVIÇO BEM FEITOo

    Até agora, Lula conduziu com habilidade o comportamento do governo na disputa pela presidência da Câmara, coisa que acontecerá no início do ano que vem.

    Não repetiu o erro de Dilma Rousseff em 2014. O PT resolveu peitar Eduardo Cunha, perdeu e cavou o seu impedimento da presidente.

    Estimulando o que diz ser um nome de consenso, tirou o PT da vitrine e mandou a bola para o Centrão.

    Manobra banal, a menos que o deputado Hugo Motta fosse há tempo um coringa guardado no banco de reservas. Nesse caso, teria sido coisa de mestre.

    De qualquer maneira, Lula baixou a bola da voracidade petista. No início do mandato, essa voracidade assustava aliados. Agora, são os aliados que se comem.

    OS CRACHÁS DO PT

    Aos 46 anos, o PT tomou gosto pela concessão de condecorações e medalhas. É coisa da idade.

    A caça aos crachás vigorou no Império, caiu em desuso com a República e reviveu nas ditaduras.

    A baixo custo, afaga egos.

    O filósofo francês Raymond Aron (1905-1983) resolveu essa questão, tratando das condecorações: “Jamais as peça, jamais as recuse e jamais as use.”

    Essa frase é atribuída a Winston Churchill, que tinha 32 patacas.

    A PGR TERÁ QUE DECIDIR

    Tendo completado dois mil dias na mesa do ministro Alexandre de Moraes, o inquérito das fake news, está com os dias contados.

    Passando-o à Procuradoria-Geral da República, Moraes livra-se do peso e ele vai para o doutor Paulo Gonet. A PGR deverá decidir o destino dos incriminados.

    KAMALA X TRUMP

    Terça-feira Kamala Harris e Donald Trump terão seu primeiro debate.

    Kamala entrará como favorita, até porque o ex-presidente está zonzo.

    Por mais que se torça pela senhora, não se deve esquecer que ela foi pedestre no discurso diante da convenção dos democratas e na sua primeira entrevista.

    CANTANHÊDE DISSE TUDO

    Eliane Cantanhêde disse tudo há duas semanas:

    “Dois fantasmas da era do PT pairam sobre o 3º mandato: fundos de pensão e agências reguladoras.”

    Em agosto, os fundos queriam mais liberdade para orientar seus investimentos.

    O aviso perdeu-se. Agora os fundos de pensão das estatais querem que o Conselho Monetário Nacional alivie as punições dos gestores que arruinaram os patrimônios que administravam durante o primeiro consulado petista.

    Era o tempo em que o fundo da Caixa Econômica investia num tamborete paulista e seu gestor defendia a operação com a naturalidade de um banqueiro inglês.

    DUAS VAGAS NO STJ

    Está aberta a temporada para a captura de duas vagas no Superior Tribunal de Justiça. Os escolhidos deverão sair de duas listas, cada uma com três nomes.

    Como ocorre há alguns anos, pelo menos quatro ministros do Supremo têm candidatos.

    Voltará à disputa o desembargador Ney Bello, do Maranhão. Durante o governo passado, Jair Bolsonaro chegou a informá-lo de que estava escolhido. O desembargador foi abatido em voo pelo ministro Kassio Nunes Marques, que vetou-o no escurinho do Alvorada.

    A desfeita sofrida por Bello provocou o rompimento de seu padrinho, Gilmar Mendes, com Bolsonaro.

    A conversa dos dois foi dura e, pelo lado do então presidente, constrangedora.

    BATER BOCA É O JOGO DE MILEI

    Bater boca com Javier Milei é fazer o seu jogo. Quando a Argentina precisa, pede ao Brasil que cuide de sua embaixada em Caracas.

    Deixá-lo falar sozinho é o melhor remédio. Avisar que o Itamaraty cancelará reuniões é coisa de pirracento.

    Na diplomacia profissional, pode-se até ir à reunião, desde que os negociadores sejam instruídos a adiar a discussão de todos os assuntos que interessam aos hermanos.

  2. AS VOLTAS QUE O STF DÁ, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    Muito antes de existir Bolsonaro como personagem política relevante, havia o mensalão e o petrolão, depois veio a Operação Lava-Jato, respaldada seguidamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que, durante cerca de cinco anos, recusou sistematicamente os recursos da defesa do ex-presidente Lula, tornando-se alvo dos petistas. Batendo continência para o juiz num aeroporto, Bolsonaro não foi reconhecido pelo magistrado, e houve quem comemorasse o aparente desprezo de Sérgio Moro. O encarceramento de Lula deu-se porque a prisão em segunda instância foi aprovada pelo Supremo, e a esquerda colocava o STF como seu inimigo.

    De repente, não mais que de repente, o Supremo mudou de posição. Acabou com a prisão em segunda instância, e descobriu que a Operação Lava-Jato em Curitiba não tinha jurisdição para julgar os casos. Decidiu também, com base em provas ilegais, que o juiz Sergio Moro era suspeito. Ontem, depois das muitas voltas que o mundo dá, especialmente no Supremo, o ministro Alexandre de Moraes foi o grande homenageado no desfile oficial de 7 se setembro, e o grande vilão da manifestação da Avenida Paulista liderada por Bolsonaro.

    Tornou-se explicitamente o centro da polarização política do país, para a redução dramática do papel do Judiciário, que se tornou um apêndice do Executivo, fortalecendo a impressão de que há uma dobradinha entre os dois Poderes para enfrentar o ex-presidente Bolsonaro. Nada melhor para este, que continua se fazendo de vítima do sistema do qual faz parte há décadas. Dos ministros do STF, apenas Alexandre de Moraes e mais dois – Zanin e Gilmar Mendes – compareceram ao desfile oficial, numa mensagem de que a maioria se negou a assumir esse tipo de solidariedade que coloca em xeque a isenção da mais alta Corte do país. Luis Roberto Barroso estava lá no papel de presidente do STF.

    Não importa, ou importa pouco, que Bolsonaro não tenha conseguido colocar na Avenida Paulista uma multidão semelhante a outras. Colocou gente suficiente para demonstrar sua liderança, e conseguiu fazer do STF um símbolo do que deve ser extirpado numa futura retomada de poder por seu grupo político. A presença do governador Tarcisio de Freitas, que defendeu o indefensável, a anistia dos acusados da tentativa de golpe de 8/1, torna sua candidatura mais ligada a Bolsonaro do que nunca, ainda mais depois que ele tentou, sem sucesso, conversar com Alexandre de Moraes sobre o banimento do aplicativo X de Elon Musk. Moraes teria cortado a conversa drasticamente: “Nem tente!”.

    Temos então o governador do maior estado do país, e provável candidato à presidência da República em 2026, em rota de colisão com o ministro do Supremo mais poderoso do momento. Não é um futuro promissor. Ao que tudo indica, a oposição aumentará sua representação no Senado na próxima eleição, quando serão escolhidos dois novos ocupantes em cada Estado. É nesse cenário que se dará a disputa mais crucial para a política, pois o impeachment de Alexandre de Moraes, pedido na Paulista ontem aos berros, será o objetivo da oposição.

    A moderação do governador Tarcisio de Freitas, uma das qualidades necessárias para levar o país a bom termo em 2026, pode ser envenenada pela ala mais radical do bolsonarismo, o que poderá dar um caráter mais agressivo à campanha eleitoral. A defesa da anistia para os acusados da tentativa de golpe já dá ao governador paulista a bandeira de uma campanha eleitoral que não teria nada de equilibrada. Se lhe dará votos entre os bolsonaristas, tirará entre os conservadores que não se misturam com golpistas.

    Bolsonaro se contém dentro de limites estreitos na esperança de que ainda vingará no Congresso alguma anistia que o beneficie, o que considero improvável antes das eleições presidenciais. Depois, veremos se um eventual vencedor do grupo da direita terá interesse em anistiar Bolsonaro para tê-lo como candidato contra sua própria reeleição. Dilma, cria de Lula, não lhe abriu espaço, não parece provável que Tarcisio ou outro qualquer faça diferente

  3. O PROBLEMA DO STF COM DEMOCRACIA LIBERAL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse numa palestra na Universidade Mackenzie, na semana passada, que as redes sociais são “um instrumento bom”, mas que têm sido usadas “de forma extremamente competente por um novo grupo político, os extremistas populistas”, para solapar a democracia. Para o ministro, o ideal é que as empresas que administram as redes sociais se responsabilizem pelo que publicam. Enquanto isso não acontece, presume-se pelo contexto, restaria ao Judiciário agir para proteger os cidadãos daquilo que o ministro Moraes chamou de “discurso de ódio”.

    Subjaz a essas declarações de Alexandre de Moraes uma preocupante visão segundo a qual estamos numa luta do “bem” contra o “mal”, e o primeiro é representado por aqueles que prezam a democracia – liderados pelo Supremo – e o segundo é encarnado na ganância das chamadas “Big Techs” e na vileza dos extremistas de direita. Fosse o sr. Moraes um anônimo cidadão comum a conversar no bar, sua visão não teria maiores consequências. No entanto, tendo partido não somente de um ministro da Corte mais alta do País, mas também do poderoso relator dos processos sobre “fake news” e “milícias digitais” no Supremo, a opinião do sr. Moraes equivale a um veredicto.

    A expressão “discurso de ódio” não se encontra em nenhum lugar do ordenamento jurídico brasileiro. É apenas o rótulo usado por aqueles que, a pretexto de proteger a sociedade e a democracia, defendem o cerceamento preventivo da manifestação do pensamento. Há alguns anos, o Supremo Tribunal Federal arvorou-se em árbitro do discurso político, sobretudo nas redes sociais, mandando derrubar perfis que, em sua visão, ameaçam a democracia – o que é tratado liminarmente como crime de lesa-pátria.

    A censura judicial, que deveria ser ato excepcionalíssimo em momentos excepcionalíssimos, como é o caso do período eleitoral, tornou-se assustadoramente corriqueira. Não é preciso ser simpatizante dos censurados – e este jornal não é, sobretudo dos extremistas que querem destruir a democracia – para ver aí um padrão preocupante.

    E esse padrão parece responder a uma visão de mundo autoritária, segundo a qual cabe ao Estado expurgar a sociedade de seus vícios, de acordo com um ideal determinado por um grupo de iluminados que se autoatribuiu a missão de salvar os brasileiros de si mesmos. De acordo com esse raciocínio, os brasileiros não podem ter nenhum contato com opiniões tidas como violentas ou ameaçadoras, pois seriam incapazes de discernir o certo e o errado, o bem e o mal, o virtuoso e o viciado – e estariam, portanto, sempre à mercê do extremismo.

    Ora, se os cidadãos brasileiros são capazes de escolher seus governantes, são igualmente capazes de julgar quais informações lhes serão úteis ou podem prejudicá-los Já as eventuais ofensas são tratadas pela lei – e quem for difamado, caluniado ou injuriado deve recorrer à Justiça para obter a devida reparação. Essa é a lógica de um país verdadeiramente livre, em que os direitos básicos são assegurados a todos, independentemente do caráter e do comportamento de cada um. Ninguém pode ter medo de ser punido por expressar sua opinião, mesmo que seja agressiva e eventualmente antidemocrática, pois isso não é digno de uma democracia.

    Mas é justamente isso o que está acontecendo no Brasil, num grau de arbitrariedade característico dos regimes de exceção. Os poderosos juízes do Supremo querem controlar o debate nacional sem ter nenhuma autoridade legal para isso – e todos os que criticam essa truculência são desde logo classificados como “inimigos da democracia”.

    A beleza de uma democracia liberal, como pretende ser a brasileira, está na liberdade como princípio: todo cidadão é livre para fazer e falar o que bem entende, respondendo por seus atos e palavras na forma da lei. Numa sociedade assim, coisas desagradáveis eventualmente são ditas ou feitas. Pode ser que isso fira a sensibilidade de um ou outro ministro do Supremo, mas é o preço de viver numa verdadeira democracia.

  4. O SILÊNCIO DOS CANDIDATOS A PREFEITO E VICE EM GASPAR ME TROUXE AQUI A ESTA REFLEXÃO, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral do município de Gaspar 2005/09

    Municipalizar formalmente um hospital, especialmente em um contexto onde o município já intervém na gestão há uma década, pode trazer maior segurança jurídica, administrativa e operacional para todas as partes envolvidas. A regularização da situação de fato por meio da municipalização oficial oferece as seguintes seguranças:

    SEGURANÇA JURÍDICA: Formalizar a gestão municipal de um hospital, como o Hospital de Gaspar, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, elimina ambiguidades legais sobre quem é responsável pela administração, pelos contratos, pelos funcionários e pelos débitos. Sem essa formalização, há um risco constante de disputas legais, o que pode comprometer a continuidade dos serviços prestados à população. A regularização protege o município contra eventuais contestações jurídicas sobre a legitimidade de sua atuação.

    ESTABILIDADE ADMINISTRATIVA E OPERACIONAL: Com a municipalização oficial, o município passa a ter um controle mais claro e definido sobre todos os aspectos da gestão do hospital. Isso permite a implementação de planejamentos a longo prazo, programas de melhoria contínua e políticas de gestão mais eficazes, sem a insegurança de operar sob um regime de intervenção temporária.

    RESPONSABILIDADE FISCAL E FINANCEIRA CLARIFICADA: A formalização da gestão municipal regulariza a responsabilidade sobre as finanças do hospital. Com a municipalização, o município pode adotar práticas de gestão financeira mais rigorosas, como a realização de auditorias, revisão de contratos e controle de despesas, de forma a evitar práticas como compras diretas desnecessárias que prejudicam a transparência. Isso também possibilita uma renegociação mais organizada de dívidas.

    TRANSPARÊNCIA E CONTROLE SOCIAL: A municipalização pode garantir uma estrutura de governança que envolva conselhos de saúde locais e outras formas de controle social. Isso permite maior transparência na administração dos recursos, promove uma gestão participativa e cria mecanismos de fiscalização que podem impedir práticas de gestão inadequadas ou irregulares.

    ACESSO A FINANCIAMENTOS E INVESTIMENTOS: Com a situação regularizada, o hospital pode ter acesso facilitado a recursos estaduais e federais, assim como a financiamentos para modernização de suas instalações e equipamentos. Investidores e entidades governamentais geralmente têm mais confiança em investir em instituições cuja situação jurídica e administrativa esteja claramente definida.

    GARANTIA DE CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS DE SAÚDE: A municipalização oficializa a responsabilidade do município em fornecer os serviços de saúde e assegura que a população não ficará desassistida por conta de ambiguidades na gestão. Isso cria um compromisso formal de manter e melhorar a qualidade do atendimento.

    REDUÇÃO DE RISCOS DE CONTIGÊNCIAS FISCAIS E ADMINISTRATIVAS: A intervenção informal pode trazer riscos de contingências para o município, como responsabilidades trabalhistas ou contratuais inesperadas. A regularização por meio da municipalização reduz esses riscos, proporcionando mais previsibilidade para o planejamento orçamentário e financeiro.

    Dado que o município já intervém no hospital há 10 anos, a formalização desse controle é, em muitos aspectos, uma formalização de uma realidade existente. Isso pode evitar futuros conflitos e inseguranças, oferecendo uma base mais sólida para a continuidade e melhoria dos serviços de saúde prestados à comunidade.

  5. DANOS COLATERAIS, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    De um colega:

    — E agora, sem Twitter, como a gente vai derrubar o técnico? Como criticar as séries? Como falar mal do trânsito e dos políticos?

    Piada à parte, a suspensão do X deixou 22 milhões de brasileiros sem acesso a uma plataforma em que tinham liberdade para falar o que quisessem. Verdade que se fala muita bobagem, cretinice, coisas de péssimo gosto. Verdade também que há baixaria da pior espécie. Mas também foi no X que tomei conhecimento de bons artigos, belos argumentos, sacadas divertidas, polêmicas inteligentes. Verdade também que o X aceita manifestações antidemocráticas e foi amplamente usado na tentativa do golpe bolsonarista.

    Colocando tudo na balança — pelo menos na minha visão —, tem mais porcaria que coisa boa. Mas e daí? Acontece nas conversas por aí, também em outras plataformas. Dos 22 milhões de usuários do X, quantos seriam criminosos ou “supostos criminosos”? Dito de outra maneira: “quase” 22 milhões de brasileiros inocentes que foram apanhados nessa história. Como chegamos a esse ponto?

    No plano imediato, todos sabem a resposta. Alexandre de Moraes suspendeu o X porque o dono, Elon Musk, se recusa a nomear um representante legal no Brasil. Não pode, ponto. Mas tem muita história antes disso que envolve algo essencial. Tempos atrás, publiquei um livrinho intitulado “Neoliberal, não. Liberal”, pela Editora Globo. São ensaios variados, a partir de colunas no jornal. É como me considero: liberal. E, para um liberal, o valor essencial é a liberdade de expressão.

    Corolário: não pode haver censura prévia.

    Não precisam me dizer que liberdade supõe responsabilidade ao praticá-la. Todo mundo é responsável pelo que diz e pelo que faz. Claro que ninguém pode gritar fogo numa sala de cinema lotada. Mas também não se pode proibir que falem dentro do cinema. Liberdade e democracia supõem riscos, que devem ser controlados.

    Como? Em princípio, é simples, para um liberal, claro. Se o cidadão comete um crime no discurso ou nos atos, tem de ser punido por isso — para isso existe a Justiça independente. Para apurar, investigar, processar e sentenciar. Isto mesmo: primeiro a liberdade, depois a punição, se o crime for devidamente provado. E a Justiça tem de ser pública, transparente e a tempo. O que inibe o criminoso é a certeza de que será apanhado e punido. Os menores índices de criminalidade ocorrem justamente nos países onde a polícia e a Justiça mais resolvem os crimes.

    Portanto o inquérito presidido por Alexandre de Moraes ofende o liberalismo. Não é aceitável que um único juiz investigue e decida, em sigilo, sem dar ciência sequer a seus pares, que certos cidadãos não podem falar nas redes. Sim, ele obteve apoio unânime, na Primeira Turma do STF, à decisão de suspender o X. E foi só. Não colocou na mesa de seus pares outras duas decisões inaceitáveis para um liberal: bloquear as contas da Starlink e ameaçar com multa absurda o brasileiro que tentar acessar o X via VPN.

    O principal acionista da Starlink é o mesmo Musk, mas se trata de empresa diferente, para público brasileiro diferente, com outros acionistas que não têm nada a ver com o X. E ameaçar com multa quem tentar acessar o X é coisa de regime arbitrário. O que vai fazer o STF: criar um sistema para vigiar o acesso de todos os brasileiros às redes sociais? Não, o processo de banimento das redes tem de ser aberto, transparente, dando aos alvos, de qualquer lado, o direito de se defender nos foros apropriados. O que não é possível quando tudo ocorre em sigilo.

    Musk não é liberal, nem democrata. Como diz a revista The Economist, ele “processa judicialmente aqueles com quem não concorda, proíbe palavras de que não gosta em sua plataforma e é cordial com Vladimir Putin, cujo instrumento preferido de moderação de conteúdo é o Novichok”, um veneno fatal. Cabe processo? Que se processe. Mas ninguém é obrigado a abrir conta no X ou em qualquer outra plataforma.

    Sei que há muitas outras questões envolvendo as redes e as big techs. Mas os diversos problemas são usados para justificar a censura prévia, e secreta, daqui a pouco batendo na imprensa.

  6. ATAQUES À IMPRENSA PÕE EM RISCO A DEMOCRACIA, editorial de O Globo

    A liberdade de expressão entrou em foco no debate brasileiro com a suspensão da rede social X. Mas, apesar dos desafios inerentes às plataformas digitais, as ameaças à imprensa profissional mundo afora continuam a representar riscos mais preocupantes para a democracia. As investidas têm vindo de governos populistas cujas inclinações autocráticas se manifestam num roteiro comum a vários países, como Hungria, Índia, Brasil ou mesmo Estados Unidos.

    “As ameaças mais perniciosas à liberdade de imprensa tomam uma forma prosaica: um ambiente de assédio, litigância financeira punitiva, burocracia atuando como arma, aliados montando operações de ataque — tudo com o objetivo de diminuir uma imprensa enfraquecida por anos de luta financeira”, escreveu A.G. Sulzberger, publisher do jornal The New York Times, em artigo publicado pelo principal concorrente, o Washington Post.

    Diante da possibilidade de Donald Trump voltar à Casa Branca — Trump chama jornalistas de “inimigos do povo” e não esconde seu desejo de cerceá-los —, Sulzberger conta que passou meses estudando ataques à liberdade de imprensa em regimes democráticos, como a Hungria de Viktor Orbán, a Índia de Narendra Modi e o Brasil, quando governado por Jair Bolsonaro.

    Com pequenas variações, diz Sulzberger, o modus operandi desses governantes segue um roteiro comum: 1) discurso para desacreditar o jornalismo e assédio corriqueiro, com o objetivo de criar clima favorável à repressão; 2) uso de leis e regras regulatórias para perseguir desafetos; 3) incentivo para apoiadores abrirem processos em diferentes jurisdições, com a intenção de provocar prejuízo; 4) apoio para simpatizantes poderosos adotarem táticas de ataque à imprensa; 5) punição a jornalistas independentes e recompensa a quem é fiel ao governo.

    Na Hungria, Orbán usou leis tributárias, licenciamento do espectro e verbas do governo para asfixiar veículos críticos e favorecer os dóceis. Seus aliados controlam hoje 80% da imprensa húngara. Na Índia, o regime de Modi tem bloqueado reportagens sobre protestos contra sua política econômica e a repressão à minoria muçulmana. No ano passado, a pretexto de realizar uma auditoria tributária, autoridades invadiram redações para capturar computadores e celulares de jornalistas.

    “No Brasil”, escreve Sulzberger, “Bolsonaro foi incapaz de solapar completamente os freios e contrapesos do país e perdeu a eleição. Embora a maior parte do dano tenha sido revertido, normas que cercam as liberdades de imprensa e de expressão continuam enfraquecidas.” Como exemplo de abusos, ele cita casos de assédio judicial promovido por políticos contra jornalistas profissionais.

    É preciso ouvir o alerta de Sulzberger: “O enfraquecimento de uma imprensa livre e independente importa qualquer que seja seu partido ou ideologia. O fluxo de notícias e informações confiáveis é crítico para uma nação próspera, livre e segura”. A imprensa livre, diz ele, “instila a compreensão mútua e o engajamento cívico; desenterra a corrupção e a incompetência para garantir que o bem da nação está acima do interesse de qualquer líder”. Diante das mentiras propagadas pelo populismo autoritário, a missão da imprensa continua a mesma: contar a verdade. Sem ela, não há democracia.

  7. Alô Gaspar, alô hospital de Gaspar… será que agora a polícia vem, também?

    GASTO FEDERAL EM SAÚDE É RECORDE, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    A despesa do governo federal com saúde jamais foi tão alta. Era provável que aumentasse sob Luiz Inácio Lula da Silva, pois, com o novo arcabouço fiscal, voltou a vinculação do gasto com saúde à receita; o governo de resto não diminuiria gastos ditos discricionários. Foi a 1,83% do PIB, nos últimos 12 meses. No início de Lula 3, era de 1,37% do PIB. Na média de 2009 a 2019, de 1,47% do PIB.

    Em dinheiro, foi um aumento de quase R$ 60 bilhões desde o início deste governo, para R$ 209 bilhões, excluídos gastos com salários e aposentadorias de servidores (valores corrigidos pela inflação). É mais do que se destina ao Bolsa Família, que levou R$ 171 bilhões nos últimos 12 meses. Nos grandes agregados da despesa federal, o gasto com saúde fica atrás de Previdência (INSS), que leva 8,35% do PIB, e de Pessoal (salários, benefícios, aposentadorias), com 3,48%. A receita total do governo foi de 18,17% do PIB nos últimos 12 meses. A despesa, de 20,21%.

    O déficit primário, pois, está em torno de 2% do PIB (não inclui o gasto com juros). Mesmo descontando gambiarras, o déficit deste ano será bem menor do que o previsto por “o mercado”. Mas o problema ainda será crônico por anos a fio.

    Aumento tão expressivo de despesa em tão pouco tempo deveria tornar mais incontornável uma análise detalhada de eficiência, o que é ainda mais difícil, neste caso, até por exigir tempo longo de observação. Além do mais, estados e municípios também gastam, resultados dependem de fatores além da intervenção direta na saúde etc. Separar causas e resultados é bem enrolado.

    Enfim, gasto com saúde é na prática um saco sem fundo. Sempre se pode dizer que falta recurso, a depender do padrão de atendimento que se queira oferecer (e o nosso padrão é precário e desigual). Em termos de tecnologia e terapias, o céu é o limite.

    Ainda assim, será interessante saber o que está sendo e será feito do dinheiro, se em atendimento ou prevenção, se em investimento ou não, como a aplicação dos recursos é coordenada com gastos e providências estaduais e municipais.

    O governo, porém, vai dar ter de imaginar logo como lidar com a perspectiva de aumento ainda maior da despesa com saúde. Por determinações constitucionais, vai crescer mais do que o conjunto dos gastos federais. Se há teto para o crescimento do total da despesa e algumas delas crescem mais do que o permitido pelo teto (com Previdência ou saúde), algum outro gasto será achatado, como todo o mundo já deve saber. O achatamento deve ocorrer no investimento em obras, equipamentos, que até cresceu sob Lula 3, mas vai estar sujeito ao arrocho. Além de problema em si, pois a infraestrutura do país é uma desgraça, o arrocho do investimento limita o dinheiro destinado a emendas parlamentares.

    Tudo isso é sabido, mas faz uns meses tem se ignorado o elefante na sala. Fernando Haddad queria lidar com o assunto desde o início de Lula 3. Simone Tebet, ministra do Planejamento, diz que a discussão volta à mesa em 2025. Causa imensa revolta a ideia de limitar o crescimento de despesas federais com saúde, educação e Previdência. Mas apenas aumento contínuo de imposto e “milagre do crescimento” empurrariam o problema para a frente. E, não, pagar menos juros (que são “pagos” com mais dívida) não resolve a questão.

  8. REGULAMENTAÇÃO JÁ, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    A prisão da “influencer” Deolane Bezerra joga luzes sobre as apostas esportivas, ou bets, seus bilhões, aviões, iates e carrões. Quando você puxa o fio, vem um novelo, ficando claro o poder avassalador da internet no mundo, para o bem e para o mal, sob o risco de ficar acima de constituições, leis e instituições, até assumir o controle de estados nacionais e sociedades. Assim como a ministra Marina Silva teme o fim do Pantanal até 2050, pode-se imaginar a destruição do Estado pelo poder paralelo da internet lá adiante?

    Organizações criminosas e pessoas inescrupulosas usam intensamente a internet para atrair pessoas fragilizadas para jogos em que acabam se viciando e jogando fora o que têm e o que não têm. Também usam algorítimos para capturar vítimas potenciais de golpes bancários e financeiros e se embolam com esquemas políticos e organizações ideológicas para transformar “outsiders” em candidatos, manipular o eleitor com Fake News, fraudar eleições e, em última instância, articular atentados à democracia.

    A onda de “influencers” sobre qualquer coisa gera dependentes imbecilizados numa ponta e milionários oportunistas na outra, com uma curiosidade. Vocês já notaram que as moças “influencers”, mesmo que não sejam da área de beleza e maquiagem, têm a mesma cara? Mesmo cabelo, bochecha, nariz, sobrancelha e, principalmente, a mesma boca. Incautos se submetem a substâncias ilegais e aventureiros sem qualificação e acabam morrendo!

    Há, ainda, os “coachs” de internet que “orientam” as pessoas sobre finanças, modos, felicidade, sei lá mais o quê. Tornam-se famosos, com milhares ou milhões de seguidores, e chegam à audácia de disputar até de disputar a Prefeitura da principal capital do País, apesar de condenações na Justiça e graves suspeitas nas costas. O céu é o limite.

    A internet veio para ficar e não apenas compete com a propaganda de TV e rádio, mas já se torna fundamental nas campanhas eleitorais e no debate político, para divulgar biografias, equipes, padrinhos, planos de governo, projetos legislativos, e, também, denúncias confirmadas, reais, contra adversários. É legítimo, do jogo eleitoral… se ficasse nisso. Mas não fica. Na prática, serve para mentir, mistificar, endeusar e demonizar candidatos.

    Avanços científicos e tecnológicos são sempre bem vindos e é fato que a internet mudou para melhor a vida de todo o mundo, literalmente, com informação em tempo real, integração entre regiões, países e pessoas, pesquisa nas diferentes áreas, consultas essenciais para o trabalho, a escola, a rotina da sua própria casa e, inclusive, diversão e brincadeiras. Como há, sim, “influencers” do bem, “coachs” qualificados para o que se pretendem fazer, muita gente ganhando prestígio e dinheiro honesta e legitimamente.

    Dito isso, é preciso separar o joio do trigo, o jogo do roubo, a Fake News da informação, o enganador do candidato legítimo. Como? Com regulamentação. Essa é a palavra-chave, com regras para empresas nacionais e estrangeiras que atuem no Brasil, para cobrança de impostos de quem use a internet para ganhar dinheiro e, óbvio, para que todos respeitem as leis e a soberania do País. Quem não o fizer, deve sofrer multas, suspensão de serviços ou até banimento, em última instância.

    O objetivo maior, ao fim e ao cabo, é prevenir e impedir que a internet engula governos, países, sociedades, assim como prevenir e impedir que a seca, a crise climática e as ações criminosas destruam não só o Pantanal, mas o ambiente e o próprio futuro. Não é possível, depois, remediar o irremediável.

  9. Um retrato da cabeça do judiciário brasileiro que está exposto nacionalmente à mídia e ao crivo político de todos os viéses. Imagina-se o que acontece nos grotões, dominados por coronéis partidários, ou facções e poder paralelo criminosos, e até tribunais de Justiça que estão longe da inpendepência desses olhares?

    O ENQUADRAMENTO POLÍTICO DO SUPREMO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    A ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para suspender o X no Brasil foi percebida pela maioria da população como uma decisão politicamente motivada. De acordo com uma pesquisa realizada pela Atlas entre os dias 3 e 4 deste mês, 56,5% dos brasileiros consideram que Moraes tomou uma decisão política ao retirar a rede social do ar, enquanto 41,7% dos entrevistados avaliam que o ministro agiu de forma correta do ponto de vista técnico-jurídico.

    Sob a perspectiva estritamente legal, o “erro” ou o “acerto” de uma decisão judicial, por óbvio, não pode ser medido por meio de pesquisas de opinião, mas sim por sua coadunação com o ordenamento jurídico e com a jurisprudência dos tribunais – além, é claro, da observância aos imperativos éticos, legais e morais que devem orientar a judicatura.

    Contudo, o levantamento da Atlas tem grande valor analítico por revelar outro dado. O grau de confiança dos cidadãos no STF é enorme entre os que votaram em Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Nada menos que 87,9% dos eleitores do petista disseram confiar no Supremo. Em contrapartida, o porcentual de desconfiança na atuação da Corte entre os eleitores de Jair Bolsonaro naquele mesmo pleito atinge um patamar igualmente avassalador: 92,4% dos bolsonaristas não confiam nas decisões tomadas pela instância máxima do Poder Judiciário.

    Ou seja, os cidadãos têm olhado para o STF de uns anos para cá através das lentes da política – mais especificamente da polarização política. Se a Corte toma uma decisão que atinge em cheio os interesses dos bolsonaristas, é percebida como correta e confiável pelos apoiadores do presidente Lula da Silva. Se a decisão afeta o próprio petista, seus aliados ou políticas do governo federal, é tomada com desconfiança pelo segmento dito progressista da sociedade e aprovada pelos partidários de Bolsonaro. E essas posições, como indicam os números acima, são afirmadas no calor das paixões, sem deixar o mínimo espaço para reavaliações por concessão a argumentos contrários mais sólidos.

    Lula e Bolsonaro fizeram essa leitura acerca do enquadramento político do STF muito antes de quaisquer números virem a público. Não custa lembrar que, quando indicou o ministro Nunes Marques para a Corte, Bolsonaro jactou-se por passar a ter “10% de mim dentro do Supremo”. Lula, por sua vez, deixou bem claro que enxerga o STF como uma arena de disputas políticas ao indicar o ministro Flávio Dino. À época da indicação, o petista chegou a verbalizar que “sonhava com uma cabeça política” na Corte.

    Está dado um quadro terrível para a saúde da democracia no País. Resta claro, a partir desses números trazidos pela Atlas, que as decisões emanadas do STF são percebidas de antemão pelos brasileiros a partir desse enquadramento político-partidário. Enviesadas, portanto. Em um cenário mais avançado de maturidade política da sociedade, em que pese o fato de que sempre haverá quem sobreponha suas afinidades ideológicas e vieses aos fatos, as decisões judiciais, sobretudo as exaradas pelo STF, seriam avaliadas, majoritariamente, por sua acuidade jurídica, vale dizer, se foram tomadas de acordo com o que determinam as leis e a Constituição.

    Mas não é de hoje que o próprio STF tem ampliado o desgaste de sua legitimidade por agir não poucas vezes como uma instância decisória que dá menos valor àqueles critérios do que a interesses pouco transparentes. Isso se manifesta quando a Corte se imiscui em questões que não lhe são afeitas, quando retorce sua própria jurisprudência para acomodá-la aos ventos políticos de ocasião ou quando alimenta conflitos de interesses participando de convescotes custeados por partes interessadas em seus julgamentos. Pululam exemplos desse comportamento daninho para a própria Corte Constitucional.

    Ainda que lento, é fundamental o recobro da vocação do STF de ser a ermida da Constituição. A Corte precisa se afastar, de fato, da política. Só assim não será percebida, ora vejam, como um tribunal político. É tão simples quanto isso. Encerrar os inquéritos longevos, amplos e sigilosos relatados por Moraes, por exemplo, seria um bom começo para esse movimento auspicioso.

  10. MARÇAL E O PIOR DO SISTEMA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    Pablo Marçal bagunçou o cenário da disputa pela Prefeitura de São Paulo ao se apresentar como candidato antissistema. Na definição que ele mesmo deu numa sabatina do UOL: “O sistema não é a lei. O sistema é o modus operandi pelo qual o político toca a política”. Ser antissistema, segundo ele, não é querer “entrar no sistema”, e sim “colocar [no sistema] pessoas que não se curvem” a ele. O escrutínio das últimas semanas mostrou que não é bem assim.

    O ex-coach confessa que se faz de idiota nos debates e entrevistas porque “o público gosta disso”. Finge ser o que não é para enganar o eleitor — típico modus operandi dos políticos tradicionais.

    Seu partido, o PRTB, já abrigou figuras como Fernando Collor de Mello e Hamilton Mourão. O fundador, Levy Fidélix, vivia de ser dono de partido. Disputou várias eleições e perdeu, mas sobreviveu mais de 30 anos na política pendurado no fundo partidário, negociando apoios à esquerda e à direita.

    O novo presidente, Leonardo Avalanche, é acusado pela viúva de Fidélix e por um grupo de ex-aliados de ter tomado a legenda na mão grande, desrespeitando o estatuto e acordos com eles.

    Em áudios incluídos nos processos judiciais em torno do caso, Avalanche aparece falando que obteve a intervenção que lhe permitiu tomar controle do partido, em fevereiro deste ano, depois de negociação envolvendo o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

    Pacheco e Temer negam, Moraes não comenta o assunto. Nada garante que Avalanche tenha falado a verdade, mas, convenhamos, não existe história mais “do sistema” do que essa.

    Em sua defesa, Marçal diz que não gosta de partidos e que, se pudesse, não seria filiado a nenhum. Também aí, nenhuma novidade. Para ficar em apenas um exemplo, Jair Bolsonaro, que já foi antissistema um dia, também trocou de partido inúmeras vezes, mas foi domesticado pelo fundo eleitoral centimilionário do PL e agora vive equilibrando seu discurso com o medo de ser preso por Moraes.

    Para não ter de criticar Moraes, aliás, Marçal chegou a cancelar uma entrevista com um canal de direita. “Não tenho medo de tomar tiro, mas nem por isso vou entrar no meio de um tiroteio”, justificou em privado, ao pular fora do compromisso.

    Os bolsonaristas desconfiam que a atitude tenha relação com o “favor” que Avalanche diz ter ganhado do ministro — que Marçal nega. Mais uma vez, a política como ela sempre foi.

    Ele também se apresenta como gestor eficiente, que transporá sua capacidade empreendedora à Prefeitura. Além de já termos visto esse discurso antes, com João Doria, a própria capacidade de gestão de Marçal parece não ser tudo isso. Ele diz que seu “império” vale R$ 5 bilhões, mas seu patrimônio não passa de R$ 300 milhões, somando o que ele declarou ao TSE ao que deixou de fora, de acordo com a Folha de S.Paulo.

    Desde que Marçal apresentou sua candidatura, a toda hora surge uma revelação que vincula algum personagem de seu entorno ao Primeiro Comando da Capital, o PCC. Do próprio Avalanche, que disse em áudio ter soltado o traficante André do Rap, a seu segurança, investigado por matar uma pessoa jurada de morte pela facção.

    O ex-presidente estadual do PRTB Tarcisio Escobar, indiciado por trocar carros de luxo por cocaína. Um “despachante” que representa sua empresa de aviação e foi preso em 2021 por fornecer aeronaves para trazer 5 toneladas de cocaína da Bolívia ao Brasil.

    Marçal chegou a ser preso e condenado por participar de uma quadrilha que aplicava golpes enviando links falsos para correntistas de bancos. Ele diz que nunca roubou nada de ninguém e que provará que não tem nada a ver com o PCC.

    Até agora, vem convencendo parte do eleitorado. Juntando a linguagem tiktoker burilada no algoritmo ao discurso de coach-pastor, catalisou o sentimento de indignação de quem está nas franjas do espectro social e cultural e não enxerga brecha para subir na vida.

    Os milhões de cortes, as frases abiloladas e a retórica agressiva que agitam a massa amplificaram a narrativa do sujeito de família humilde que chegou ao topo da pirâmide para desafiá-la.

    Aí reside o apelo antissistema de Marçal. Só que, como ele mesmo já confessou, não tem nenhum pudor de fingir ser o que não é para conseguir o que quer. E o que ele é está cada vez mais claro para quem se dispõe a enxergar: um personagem que não só está entranhado no sistema, mas associado ao que há de pior dentro dele.

  11. Estes dois artigos (Willian Waack e o mais abaixo de Vinicius Torres Freire) têm muito a ver com Gaspar, para não sair da aldeia. O poder a qualquer preço, a riqueza com dúvidas a licitude para alcançar, mesmo que Deus seja o centro de tudo para dar verniz ao que é sabidamente pecado e pecador.

    NOVO UNIVERSO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    A prisão da influenciadora Deolane Bezerra e o sucesso eleitoral de Pablo Marçal são dois lados da mesma moeda. Trata-se de decisiva mudança de valores em vastas parcelas da sociedade brasileira – que já transforma a política.

    As relações de cada um com a lei não é o tema aqui. Mas, sim, o tipo de “pregação” da prosperidade que fez deles fenômeno no mundo das redes sociais muito antes de se tornarem fenômenos de noticiário.

    Esse tipo de “pregação” há mais de vinte anos foi consagrada no Get rich or die tryin’ (fique rico ou morra tentando) do rapper americano 50 Cent. Surgiu da pregação da prosperidade de várias denominações pentecostais.

    Também no Brasil essa “pregação da prosperidade” ressalta o mesmo tipo de valores que boa parte do marketing político não reconheceu. É a exaltação do esforço do indivíduo e sua capacidade de superação sem limites, em vez de acreditar na bondade de um Estado ocupado por algum agrupamento político e suas utopias sociais.

    Ocorre que no Brasil o “enriqueça ou morra tentando” tem mais um componente: enriqueça não importa de que maneira. É algo que ainda se constatava, mas com certa timidez, no funk ostentação.

    Há motivos para se acreditar que o “match” entre a pregação da prosperidade e sucesso político de candidatos não seja circunstancial, isto é, não depende das características de apenas um indivíduo. A tal fé irrestrita em si mesmo é acompanhada de um claro apelo anti-sistêmico.

    E de um desapego ao que convencionalmente se qualificaria como aderência a conceitos do tipo “justiça social”, “luta de classes”, “nacionalismo” ou mesmo de grupos de identidade. A minha geração diria que apenas potencializamos na brasileiríssima “Lei de Gerson” (para lembrar aos mais novos, o jogador tricampeão do mundo para quem o essencial era sempre levar vantagem).

    Porém, o que vem acontecendo é bem mais abrangente. A enorme expressão social e política está ligada a uma inversão de valores, se se preferir assim.

    Goste-se disso ou não, esse universo tem crescente relevância na política. É o universo no qual estruturas hierárquicas (como partidos, por exemplo) são ofuscadas pela mobilização em redes sociais. No qual “projetos ou plataformas” foram completamente substituídos pela excitação emocional trazida por alguns frames de imagens.

    Em outras palavras, uma parte importante da política brasileira vai depender de influencers, subcelebridades ou personagens mais ou menos desvinculados de padrões “convencionais” de qualquer tipo (morais, éticos, religiosos). O atual sistema político está absorvendo isso depressa. Já é parte desse universo.

  12. A POLÍTICA NO MUNDO DE DEOLANES E MARÇAIS, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Talvez nunca antes tenhamos tido tanta informação a respeito de interesses e vontades mais gerais, do que se sabe agora por causa da voz do povo nas mídias sociais e dos meios de pesquisa de opinião nas redes. Sobre suas preferências quanto a políticas públicas ou programas socioeconômicos, continuamos a saber pouco. Porém, eventos ou ondas de mudanças sensacionais explodem nas nossas fuças e dizem algo de mudanças comportamentais e culturais.

    Vide a maré de desgraça que vai sendo provocada por “bets”, legais ou com a intenção de legalização: despesa bilionária, expansão do vício, oportunidades para o crime. Nesta quarta-feira (4), foi presa a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra, 36, acusada ainda de modo opaco de associação a uma quadrilha que recorria a “bets” e firmas de publicidade, de câmbio etc. a fim de lavar dinheiro.

    Como se diz por aí, Deolane é “puro suco de Brasil”. Tem 20,7 milhões de seguidores no Instagram. O jovem decano dos influenciadores do Brasil, Felipe Neto, tem 17,3 milhões, embora seu universo fosse mais o X-Twitter —um presidente da República pode se eleger com 60 milhões de votos. A foto da carta manuscrita em que Deolane se diz “vítima de grande injustiça” (sua prisão) teve 1,6 milhão de curtidas até a noite desta quarta.

    Sabe-se de seus amores com “famosos”, participou de um reality show de TV aberta em 2022, foi rainha da bateria de uma grande escola de samba do Rio de Janeiro em 2024. É admirada, recebe elogios e bênçãos na internet por expor sua riqueza, sua vida privada e seu corpo. A fama virtual facilita a criação de empresas no mundo real (muita vez de produtos de beleza, roupas, brinquedos, jogos e até bets). Estatísticas meio imprecisas dizem que haveria centenas de milhares de influencers profissionais no país. O sucesso virtual facilita colonização das mídias tradicionais (no entretenimento em especial).

    A mudança religiosa, o avanço econômico e cultural do agro e do sertanejo, o prestígio de público de policiais e militares e a eficiência da ultradireita nas redes produzem efeitos político-eleitorais palpáveis faz uns 15 anos. Apesar da onda político-digital de 2018, o mundo influencer ainda não tem representação notável na política politiqueira. Por falar nisso, apesar de tantas novidades, o grosso da representação política é composto de homens dispostos a manter tudo como está (ou pior), o establishment mais rastaquera, negocista e fisiológico. Uma névoa de centrão cobre o país como fumaça das queimadas.

    Esse mundo de influenciadores, no caso já com associações criminosas, tem agora ao menos um sério candidato ao poder, à Prefeitura de São Paulo. É, claro, Pablo Marçal, que encanta ultradireitistas, adeptos de seitas de prosperidade, aspirantes ao sucesso ou apenas a uma vida decente negada pela realidade socioeconômica; muitos são desencantados com governos, desesperados e niilistas populares em geral.

    Por ora, a política costumeira fagocita esses (falsos ou não) “outsiders”. Mas quem é capaz de conversa política racional com as pessoas que admiram influenciadores diversos, que vivem no mundo de Deolane e Marçais ou exemplares mais amenos da categoria? Esse mundo, “paralelo” na fantasia oficial e bem pensante, é a realidade brasileira.

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