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A NOSSA INDEFESA CIVIL, O CABIDE DE EMPREGOS A POLÍTICOS E CURIOSOS. SÓ CONFUSÕES E IRRESPONSABILIDADES. NÃO BASTA A FÚRIA DA NATUREZA. É PRECISO PIORÁ-LA COM A INSENSATEZ HUMANA

Alterado às 12h25min deste 11.10.2023. A Defesa Civil de Santa Catarina possui status de secretaria. É conhecida pelo pomposo nome de “Secretaria de Estado da Proteção Defesa Civil”. Quanto ao status dela, não questiono, até porque o estado catarinense tão diversificado – na geografia, clima, produção e origem das pessoas – é, historicamente, também, um dos que estão mais expostos aos que classificamos de eventos naturais climáticos severos como ciclos de chuvas fortes em tempos de “El niño”, enxurradas, enchentes, tornados, ciclones, marés altas e até secas prolongadas, em tempos de “La niña”.

Quem comanda atualmente essa vital área para Santa Catarina? O Coronel Armando [Luiz Armando Schroeder Reis], de Joinville. Qual a condição técnica dele para este posto? Nenhuma! Então qual currículo político dele? Padrinhos e identificação ideológica. O Coronel Armando perdeu a reeleição para deputado Federal pelo PL. E aí o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, foi movimentado para deixá-lo na ativa. E o governador Jorginho Melo, PL, aceitou. 

Então o culpado não é nem Jair, nem o Coronel, mas Jorginho. É impossível que o governador, experimentado neste assunto, parlamentar de décadas, não conhecia à importância técnica tanto deste cargo e da função para o governo dele e para a “proteção” do estado, das pessoas – e dele governador -, como bem diz o nome da secretaria onde está o Coronel Armando?

O governador Jorginho até poderia fazer o agrado político a si próprio, aos radicais do seu partido e ao ex-presidente Bolsonaro com o dinheiro dos nossos pesados impostos, desde que, preservasse todo o ambiente de autoridade técnica que cerca, ou é obrigatório a este tipo de secretaria num estado que, mais que outros, precisa dela, para mitigar o que não se pode controlar: a natureza.

Mas, não! Jorginho preferiu relegar esta parte ao segundo plano. Tudo isto está bem claro diante do que aconteceu e se não corrigir o rumo, vai se repetir – e logo. Mais do que isso: a Defesa Civil na atual configuração abdicou da prevenção (barragem de Ibirama), do conhecimento (operação adequada das barragens de Taio e Ituporanga), bem como da coordenação integrada e com autoridade como se viu no bate-cabeças de civis, lideranças e políticos barragens do Vale do Itajaí, onde o governador, graças a um punhado de gente decidida de Blumenau e Rio do Sul (foto acima), acabou se saindo melhor do que a encomenda em meio ao caos que se instalou. 

Mas, está desdenhando a correção. E não terá a segunda chance. Se a Defesa Civil de Santa Catarina funcionasse de verdade e protegesse os catarinenses, protegeria o governador. Ele não precisaria ir a rede social, como fez hoje, se justificar que ao retornar de Brasília atendeu o pedido do prefeito de Taio. Ou o governador Jorginho fez errado contrariando o que é um protocolo técnico, e é um perigo, ou então fez o certo, e ao mesmo tempo em que disse ser a Defesa Civil catarinense cara, incompetente e decorativa. Esta é a fala do vídeo do governador. Nem mais nem menos

O governador Jorginho, diante da emergência e muita pressão, saiu do estado de erro explícito, passou para o da omissão e só então, entrou no modo como gestor da virada nesta insólita situação que a equipe da Defesa Civil lhe meteu. Antes, porém, teve que assumir publicamente o que a Defesa Civil de Santa Catarina se tornou: a indefesa civil a partir da falta comando técnico do órgão que devia nos amparar, não com cestas básicas por falta de prevenção e assertividade naquilo que é técnico, que exige ações técnicas relevantes para e em favor das comunidades.

É na tempestade que se conhece o comandante, diz o ditado. Pois então.

Blumenau e Gaspar não precisavam ter a enchente que tiveram. Nem Rio do Sul, Taio e outras neste caminho dos rios Itajaí do Oeste, Itajaí do Sul, Hercílio e o Açú. Muito menos estas discussões públicas estéreis e de gente querendo tirar uma lasquinha política para seus currais. Faltou prevenção e gerenciamento naquilo que se conhece há décadas e está nos protocolos técnicos da própria Defesa Civil catarinense e de alguns municípios, como Blumenau e Rio do Sul. Bastava aplicá-los. Simples assim!

Agora, antes que venha uma nova cheia, há uma guerra de desinformação e palco para espertos, ignorantes e aproveitadores. Colocam-se cidades contra cidades. No fundo são correntes ideológicas, interesses políticos e cada um se salvando em seus municípios. Meu Deus! É impressionante as torcidas para cada lado nas redes sociais. A razão, a técnica, fugiu do controle. Veio a pura emoção. Vamos nos afogar e cada um com as suas razões e seus políticos de estimação.

É preciso dar um basta à esta politicagem que nasce no Centro Administrativo na ilha da magia (e do ócio) e nos divide e por isso, deixa-nos vulneráveis aqui no Vale, como um todo, o Vale produtivo, um dos maiores contribuidores de impostos para o estado e socialmente importante com mais de um milhão de pessoas que ficam expostas ou dependentes de ações e omissões de políticos em casos emergenciais, como os que presenciamos na semana passada, nesta e que ainda virão, se não for retomada à normalidade dos protocolos de prevenção e coordenação da Defesa Civil estadual, com as locais. Tudo baseado em conhecimentos que temos, os quais devemos aprimorá-los, mas longe dos olhos e vontades dos políticos.

Para começar, faria bem, descentralizar a Defesa Civil estadual e ela ser unicamente bicho técnico e não de quem tem mais padrinho, que tem mais força, de quem tem mais influência sobre autoridades, de quem melhor usa as redes sociais para ser o prevalente. 

Neste ambiente brutal da natureza e que tende a se agravar com os adventos severos – e é isso que se mostra aqui, ao nosso redor e no mundo -, se não houver uma coordenação de esforços entre o público, o privado e o privado, sob total transparência das tomadas decisões e prioridades, não vamos mais ser os resilientes que sempre fomos reconhecidos na superação dos desafios e das imposições naturais. 

Os políticos estão nos dividindo e nos enfraquecendo como comunidade. Eles são os nossos representantes, mas estamos ficando reféns dessa gente e seus interesses de poder.

Comunidade com liderança e forte na vontade de seus designíos é uma ameaça para os políticos profissionais ou os que precisam de padrinhos, carguinhos e poder para fazer valer as suas incapacidades técnicas. Por isso, eles nos querem divididos e fracos.  Abram olhos e mentes lideranças do Vale do Itajaí.

E sobre Gaspar? Não foge à regra. É bem pior. Voltarei ao tema, mais tarde. Acorda, Gaspar!

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11 comentários em “A NOSSA INDEFESA CIVIL, O CABIDE DE EMPREGOS A POLÍTICOS E CURIOSOS. SÓ CONFUSÕES E IRRESPONSABILIDADES. NÃO BASTA A FÚRIA DA NATUREZA. É PRECISO PIORÁ-LA COM A INSENSATEZ HUMANA”

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  3. LULA NO CAMPO MINADO DE GAZA, por Malu Gaspar, no O Globo

    Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu que pretendia fazer da política externa um ponto alto de seu terceiro mandato, quem sabe até mesmo se qualificando para um Nobel da Paz. Se não conseguir, não terá sido por falta de oportunidade. Desde que Lula tomou posse, começaram duas guerras com potencial real de ameaçar o equilíbrio geopolítico do planeta.

    Mas sua primeira tentativa de fazer diferença, na crise entre a Rússia e a Ucrânia, já foi desperdiçada. Ao mesmo tempo que insistia numa retórica que igualava o país invadido ao invasor, o Brasil tomava atitudes que confrontavam a noção de neutralidade — como receber no Brasil o chanceler de Vladimir Putin ao mesmo tempo que esnobava o convite de Volodymyr Zelensky para uma visita à Ucrânia. Sergei Lavrov ainda saiu da visita dizendo que Brasil e Rússia tinham visões semelhantes sobre o conflito, e não foi desmentido.

    Com o conflito em Israel, Lula tem nova chance, turbinada porque a guerra estourou no mês em que o Brasil ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. Os desafios impostos pela complexidade da crise e pelas mudanças no contexto político, porém, são imensos.

    Para começar, não parece haver mais espaço para uma discussão séria sobre a proposta histórica da diplomacia brasileira de constituição dos dois Estados, o judeu e o palestino. O professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor, um dos nossos maiores especialistas em política externa, explica por quê.

    “A presença de Israel nos territórios ocupados hoje é excessivamente grande, tanto que não seria mais possível criar um Estado palestino em território contínuo. Além disso, extremistas de ambos os lados dizimaram as pontes de interlocução. A desconfiança mútua vive um pico histórico. Os palestinos não têm uma liderança unificada, e não há uma força política em Israel com viabilidade eleitoral que faça da solução dos dois Estados sua principal bandeira. O último grande expoente foi Yitzhak Rabin, assassinado por um extremista da direita israelense em 1995”.

    O cenário interno também dificulta bastante a tarefa de Lula. Hoje, ao contrário do que ocorreu em seus primeiros mandatos, o conflito divide a opinião pública brasileira de forma radical. Prova disso é a guerra de narrativas que tomou conta das redes sociais e do Congresso desde que o Hamas lançou suas bombas.

    A esquerda, que tem laços históricos com a causa palestina, resiste a condenar o terrorismo do Hamas com a mesma veemência com que repudiou os ataques de Israel aos territórios ocupados. Muita gente na base de Lula justifica a ação do Hamas pelos “terrorismo de Estado” de Israel, invertendo as responsabilidades pelo início das hostilidades.

    A direita se apropriou da defesa de Israel, a reboque do bolsonarismo e da “evangelização” da política — e fez isso com tanta eficiência que o conflito no Oriente Médio rivaliza com pautas que estão na ordem do dia, como a descriminalização do aborto ou a proibição do casamento gay.

    A mera disputa sobre o teor das moções de repúdio à guerra paralisou uma sessão da Câmara nesta semana, depois que deputados de direita descobriram que o texto do PT repudiava também “a violência do Estado de Israel” e não apenas o terrorismo do Hamas.

    Lula parece ter aprendido algo com a crise da Ucrânia, ao não embarcar novamente na retórica dos dois culpados pela guerra e declarar-se chocado pelo terrorismo. Ainda assim, não citou o Hamas. Na nota oficial sobre os brasileiros mortos nos ataques, o Itamaraty referiu-se apenas ao “falecimento”, e não ao assassinato deles, sem mencionar os responsáveis.

    No Conselho de Segurança, o Brasil tem se movido com cautela. Por ora, se concentra na defesa de um cessar-fogo para a libertação de reféns, especialmente as crianças na zona de conflito. É uma iniciativa importante, necessária e de execução bastante difícil, que pode render à política externa de Lula seu primeiro gol neste mandato.

    Mesmo dando certo, terá sido apenas o primeiro trajeto de um campo totalmente minado. Uma das armadilhas à frente é o debate sobre se a ONU deve ou não classificar o Hamas como grupo terrorista. Muita gente na esquerda brasileira acha que não. Lula não deu pistas do que faria nessa situação. Será interessante observar. Pode parecer uma filigrana diplomática, mas é a partir desse tipo de decisão que brotam as narrativas políticas e se constroem as imagens dos pacificadores.

  4. AOS POUCOS, LULA AJUSTA RETÓRICA SOBRE A GUERRA NO ORIENTE MÉDIO, por Josias de Souza, no portal Uol

    Lula divulgou nesta quarta-feira novo comunicado sobre o acirramento da guerra entre o Hamas e Israel. No texto, o presidente brasileiro dirige um “apelo” ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e à comunidade internacional. Pediu uma mobilização conjunta contra “a mais grave violação aos direitos humanos no conflito no Oriente Médio”. Citou pela primeira vez o grupo terrorista Hamas.

    “É preciso que o Hamas liberte as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias”, anotou Lula. “É preciso que Israel cesse o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito”, ele acrescentou.

    Lula vinha sendo criticado por omitir o Hamas. No sábado, ele havia criticado o atentado que resultou numa carnificina em território israelense. Repudiou o ataque. Prestou condolências às vítimas. Citou a palavra “terrorismo” duas vezes. Mas se absteve de mencionar o Hamas.

    Ainda não surgiu um comunicado de Lula em que as palavras “terrorismo” e “Hamas” apareçam lado a lado. Mas é nítido o esforço para ajustar o discurso. Já está entendido que Lula evita confundir a causa palestina por um estado autônomo, que sempre defendeu, com a carnificina do Hamas.

    Simultaneamente, Lula como que condiciona o apoio ao direito de defesa de Israel à preservação da vida de civis palestinos. Daí a referência à necessidade de abrir corredores humanitários de fuga em Gaza, para que as bombas israelenses não caiam sobre as cabeças de mães e crianças palestinas.

    No momento, o Itamaraty negocia com o governo egípcio autorização para que três dezenas de brasileiros possam cruzar a fronteira. A ideia é que esses brasileiros abandonem a Faixa de Gaza em dois ônibus alugados, através do posto fronteiriço de Rafah. Mas esse posto foi alvo de bombardeios da Força Aérea de Israel.

    Lula equilibra-se sobre a corda bamba num instante em que o Brasil exerce a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. Representante do governo brasileiro na entidade, o embaixador Sérgio Danese realiza consultas aos países-membros do conselho à procura de um consenso mínimo que permita a emissão de um posicionamento uniforme sobre o conflito e uma eventual classificação explícita do Hamas como grupo terrorista.

    Articula-se para esta sexta-feira uma nova reunião do Conselho de Segurança, para discutir o caos humanitário de Gaza. A realidade conspira contra o compasso de espera, pois o Ministério da Defesa de Israel informou nesta quarta-feira que há brasileiros entre os reféns capturados pelo Hamas. O Itamaraty tenta confirmar a revelação. Se for verdadeira, os horizontes de Lula se encurtam

  5. O MINDO NOVO QUE CHEGOU, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    A selvageria do Hamas é um sinal apropriado para esse mundo novo, mais brutal e imprevisível. Que já chegou: o mundo multipolar no sentido atual da expressão, ou seja, um mundo sem uma potência hegemônica.

    Esse mundo novo encerra 70 anos do que os historiadores já chamam de “longa paz”. Nesse novo período a Rússia iniciou a maior guerra na Europa desde a última conflagração mundial. A China se prepara para abocanhar Taiwan. E na percebida ausência (ou decadência) de uma potência dominante, uma série de líderes e grupos armados regionais considera que o momento favorece ações agressivas, cujos benefícios superariam os riscos.

    É claramente o que fez o Hamas. Esse grupo terrorista integra um “arco de resistência” formado por países e grupos religiosos muitas vezes inimigos entre si, mas dedicados a diminuir ou eliminar a capacidade dos Estados Unidos de projetar poder no Oriente Médio ampliado.

    As imagens do formidável porta-aviões Gerald Ford rumo ao mediterrâneo oriental depois dos ataques do Hamas são significativas. O que consegue uma “strike force” dessa magnitude quando os dilemas estratégicos na superpotência nessa região nunca foram resolvidos?

    Ao contrário, os americanos pagam até hoje o preço da estúpida decisão de 2003 de invadir o Iraque. E de não saber o que fazer durante a larga desintegração do mundo árabe na sequência de eventos de 2011 – a não ser manifestar o cansaço de ser “polícia do mundo”.

    Sucessivas administrações americanas foram a reboque de Israel na marcha de décadas para dentro de um dilema fundamental. Ao abocanhar a totalidade dos territórios árabes e suas populações no lado ocidental do Rio Jordão, como vem fazendo, Israel ou deixa de ser um Estado judeu ou deixa de ser um Estado democrático – alerta que o próprio serviço secreto interno israelense já fazia em 1998.

    Nesse sentido, o que a carnificina injustificável praticada pelo Hamas expõe vai além da complexidade do conflito árabe-israelense. Um dos objetivos dos terroristas é torpedear os acordos de Abraham, a tal “normalização” das relações de Israel com vários países do Oriente Médio ampliado que incluiria até a Arábia Saudita.

    Trata-se, portanto, de quem é capaz de impor qual tipo de “solução” não apenas para o conflito mais antigo da atualidade. Mas, sobretudo, com quais alianças regionais associadas a quais “potências de fora”.

    Nos últimos 20 anos execrou-se o excepcionalismo americano, também pela assessoria internacional do governo brasileiro, a mesma que exalta a “dimensão internacional” da atuação do Hamas. À espera do “mundo multipolar”. Que está aí, para cada um apreciar como quiser.

  6. O PÃO DOS GOVERNADORES NA REFORMA, por Adriana Fernandes, no jornal Folha de S. Paulo

    Chamado de “A Esfinge” por seus pares no Senado, o relator da reforma tributária, Eduardo Braga, passou o recado para o governo: vai aumentar o aporte de recursos da União para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional. Braga não revelou o valor que vai colocar no seu relatório (adiado para o dia 24), mas deixou claro o seu entendimento de que os R$ 40 bilhões previstos no texto aprovado na Câmara não são suficientes para acabar com a briga entre os governadores pela forma de partilha do dinheiro.

    A coluna apurou que uma proposta que está na mesa, e que foi discutida pelo relator e os governadores da região Sul, é elevar o valor do fundo para R$ 80 bilhões por ano.

    A metade desse dinheiro seria distribuída com base no tamanho da população e outra metade, pelo chamado PIB invertido (quem é mais pobre, recebe mais). A primeira solução é a proposta dos Estados mais ricos e populosos, como São Paulo. A segunda é defendida pelos Estados mais pobres do Norte e Nordeste. Esse modelo seria um mix dos dois.

    Braga até citou um ditado popular para justificar a necessidade de o ministro Haddad engordar o tamanho do fundo:

    “Quando falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”.

    O reforço no fundo já está contratado no Senado, onde a força dos Estados é mais forte.

    Tem quem diga que, se o valor ficar em R$ 60 bilhões, Haddad ainda sairia ganhando com o risco de a fatura ficar mais alta. Nas negociações para a votação na Câmara, os Estados entregaram uma carta a Lira pedindo R$ 75 bilhões. Haddad disse não, e Lira bancou.

    É claro que o ministro não quer aumentar esse valor, sob o risco de piora nas contas públicas, mesmo que o fundo só comece em 2029. É risco fiscal que entra na conta agora para os investidores, com impacto nas expectativas.

    O repasse de recursos para o fundo é despesa, ainda que a PEC tenha um artigo (o 15.º) que tem passado despercebido, mas abre a brecha para que os recursos transferidos pelo governo para o fundo fiquem fora do novo teto de despesas do novo arcabouço fiscal. Essa é uma fatura permanente e anual que estará na Constituição. Não há prazo para acabar.

    O texto aprovado na Câmara prevê um aporte começando em R$ 8 bilhões em 2029, com aumento gradual até chegar em 2033, quando ele será de R$ 40 bilhões por ano.

    Nessa disputa, que passa ao largo de outra pressão dos setores para ficarem com alíquota reduzida, não dá para ignorar que o tema já foi o responsável por travar a reforma tributária no Congresso várias vezes no passado.

  7. AVANÇO SEM FREIOS DO ENSINO A DISTÂNCIA EXIGE AÇÃO DO MEC, editorial do jornal O Globo

    A última edição do Censo da Educação Superior, a mais ampla pesquisa sobre universidades e faculdades do Brasil, revela expansão descontrolada dos cursos à distância, situação que exige atenção redobrada do Ministério da Educação (MEC). Não é novidade — e a pandemia deixou claro — que nessa modalidade a qualidade do ensino deixa muito a desejar. O ensino à distância (EAD) vem aumentando desde antes do coronavírus — e continuou a crescer mesmo com o fim do risco. Em 2022, dois em três alunos de faculdades se matricularam nele, ou mais de 3 milhões. Nos cursos privados de licenciatura, 94% dos ingressos e 88% das matrículas são em EAD.

    O crescimento começou há dez anos, mas uma mudança na lei em 2016 fez o ritmo aumentar. As faculdades passaram a não ter mais a obrigação de contar com ao menos um polo presencial. Em uma década, a formação de novos professores à distância mais que dobrou, enquanto as notas da maioria dos cursos caíram, segundo análise da ONG Todos Pela Educação. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou alto índice de desistência no ensino remoto. Entre 2017 e 2021, em torno de 55%. O número chamou a atenção da presidência do TCU e elevou a pressão por maior fiscalização dos cursos à distância.

    O Brasil precisa sem dúvida tornar a educação universitária mais acessível. A fração da população com diploma superior é pequena: 16,5%, de acordo com o Banco Mundial. No México, são 19%. No Chile, 22,5%. Nos Estados Unidos, 48%. Mais gente com diploma significa mão de obra mais preparada e maior produtividade na economia, chave do crescimento sustentado.

    Para quem completa uma faculdade, o diploma representa mais dinheiro no bolso. Um estudo de pesquisadores da USP e da Fundação Getulio Vargas (FGV), ainda inédito, calculou o retorno financeiro para quem entrou nas universidades públicas e privadas em 2013 e chegou ao mercado de trabalho cinco anos depois. Na média, o salário é 17,5% maior para quem tem diploma (29% se for de universidade pública). Não é à toa que o EAD passou a ser visto como atalho para melhorar de vida.

    Mas uma das duras lições da pandemia foi que, mesmo com bons computadores e banda larga, o ensino remoto esbarra em limites intransponíveis. O aproveitamento dos estudantes é maior em aulas presenciais. Evidentemente, trata-se de recurso que não se deve desperdiçar. Se usado com sabedoria e parcimônia, pode ser um instrumento potente de mudança. Num país continental como o Brasil, faz sentido para dar a oportunidade de estudar a quem vive em regiões distantes de centros universitários ou a quem não dispõe de tempo e dinheiro para deslocamentos diários. Tudo isso precisa ser levado em conta. As vantagens não podem, contudo, ser usadas como justificativa para piorar a educação superior.

    Citando os cursos de licenciatura, Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, sugere que “a carga de EAD seja reduzida para no máximo 20%, apenas nas disciplinas mais teóricas e, de preferência, de forma síncrona”, com todos os alunos participando da aula. É uma proposta que faz sentido. Também é necessário corrigir a legislação que permitiu a expansão desenfreada do EAD. Educação sem um mínimo de qualidade é perda de tempo para o país e para os alunos. Sem aprender direito, ninguém ficará mais produtivo nem conseguirá ganhar mais.

  8. Miguel José Teixeira

    Matutando bem. . .
    Resguardada as devidas proporções, o imbróglio Israel/Palestina está para a humanidade, assim como as cheias no Vale do Itajaí estão para sua população!
    Muitos tascam, mas nenhum apresenta solução!

  9. A OFENSIVA DO TET ASSOMBRA BIBI, por Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Diplomatas israelenses compararam o ataque terrorista do Hamas ao 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por militantes suicidas da Al-Qaeda destruíram as Torres Gêmeas de Nova York, matando cerca de 3 mil pessoas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu evitou essa comparação. Fez muito bem, porque, se há uma semelhança original entre os dois episódios, o paralelo mais próximo é outro, com a ofensiva do Vietnã do Norte e do Vietcongue, durante os festejos do Tet em janeiro de 1968.

    A Ofensiva do Tet fracassou militarmente, mas quebrou a espinha dorsal do apoio popular à intervenção americana no Vietnã e custou a ruína política ao presidente Lyndon Johnson. Em março, ele anunciou que não disputaria a reeleição, foi para seu rancho, deixou o cabelo crescer e morreu em 1973. Foram necessários mais de 30 anos para que ele fosse defendido como um grande presidente, noves fora o Vietnã.

    Até a semana passada, os generais israelenses e seu famoso serviço de informações estavam tranquilos. Os egípcios teriam avisado que alguma “coisa grande” estava a caminho. Se esse aviso chegou ao governo israelense, não se sabe, mas a “coisa grande” aconteceu. Em dezembro de 1967, os generais americanos estavam seguros de si.

    No final de janeiro, mais de 50 mil soldados do Vietnã do Norte e cerca de 250 mil vietcongues atacaram bases americanas e dezenas de cidades do Sul. O impensável aconteceu. (Impensável, mas vários avisos foram ignorados.)

    Apesar dessa semelhança militar, o paralelo não deve ir muito longe. Mesmo tendo praticado atrocidades, sobretudo na cidade de Hue, os vietnamitas do norte e os vietcongues não agiam como terroristas, sequestrando inocentes para usá-los como escudos humanos. O Vietcongue atacou a embaixada americana, o Hamas matou 260 pessoas num festival de jovens. (Em 1968, dois generais americanos e um almirante cogitaram usar armas nucleares táticas para defender uma base militar sitiada. Johnson vetou a ideia.)

    Em 2014, quando a tropa israelense entrou na Faixa de Gaza, 1.462 civis morreram. Pelo menos 142 famílias palestinas perderam três ou mais membros, 18 mil casas foram destruídas, e 108 mil pessoas ficaram sem teto. Israel perdeu 67 soldados e seis civis.

    O Hamas fez do assassinato de civis e dos sequestros de cerca de 150 civis, inclusive mulheres e crianças, o coração de sua ofensiva. Um episódio teve características militares, o outro características terroristas.

    O uso de civis como escudos humanos é uma violência velha como as guerras. Na guerra civil da falecida Iugoslávia, ela custou pesadas condenações a chefes militares, saídas do tribunal internacional de Haia. Na batalha pela posse da cidade de Mossul, em 2016, o grupo Estado Islâmico valeu-se de escudos humanos para mover seus combatentes. O primeiro-ministro Bibi Netanyahu comparou os sequestros do Hamas às práticas do Estado Islâmico. De certa maneira, o que o Hamas fez foi mais radical: os escudos humanos de Mossul eram civis que viviam na cidade. As vítimas do Hamas foram sequestradas em território israelense.

    Os pilares da política de Bibi caíram na frigideira que fritou Lyndon Johnson. Ao contrário dos regimes árabes do Oriente Médio, Israel tem um regime democrático e liberdade de imprensa.

  10. CEGUEIRAS POLÍTICAS, por Helio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

    Simpatizantes de Israel entraram em confronto com apoiadores de palestinos em várias cidades ocidentais, como Nova York, Chicago, Londres, Berlim e Sydney. As lealdades são pautadas tanto por pertencimento étnico como por preferências políticas. De um modo geral, a esquerda fecha com os palestinos, enquanto a direita se perfila ao lado de Israel.

    O interessante aqui, e que dá um bom caso para os psicólogos sociais estudarem, é que a situação já foi diametralmente oposta. Israel surgiu como um país socialista. A primeira nação a reconhecer “de jure” o novo Estado, em 1948, foi a União Soviética. As armas que Israel recebeu da Tchecoslováquia, então parte do bloco soviético, foram fundamentais na Guerra de Independência.

    Mais: os 20 primeiros governos de Israel (e cinco premiês) foram socialistas/trabalhistas. Israel também era o país dos “kibbutzim”, combinação de comuna com fazenda e polo industrial, que chegaram a ser descritos como o socialismo que deu certo. Não durou muito, mas por um tempo deu.

    Aos poucos, porém, Israel foi se afastando dos soviéticos, que preferiram apostar no pan-arabismo de Nasser, e se aproximando dos EUA. Foi só no fim dos anos 1970 que israelenses começaram a eleger também governos de direita. A partir dos anos 1990, com o grande afluxo de judeus russos, que já chegavam vacinados contra ideias de esquerda, e a maior participação dos ultrarreligiosos em eleições, a direita foi ganhando mais espaço na política israelense. Até que se chegou ao governo de extrema direita de Netanyahu.

    A tendência ao tribalismo inscrita na natureza humana é o que é. Mas a política jamais deveria impedir ninguém de ver que os palestinos têm direito a viver num Estado soberano, sem ocupação estrangeira, mas que não há nem pode haver justificativa moral para os ataques diretos e crudelíssimos, que incluíram estupros, que o Hamas perpetrou contra civis israelenses.

  11. HAMAS REVELA SEM NUNACE COMO GRUPO TERRORISTA, editorial de O Globo

    Cenas chocantes como as testemunhadas em Israel no fim de semana são capazes de deixar qualquer ser humano sem palavras. Filhos mortos diante dos pais, centenas de jovens fuzilados a esmo numa festa, idosos mantidos sob a mira de metralhadoras ou assassinados, indícios de estupros, tortura psicológica, sequestros de adultos e crianças ainda em curso — uma barbárie sem fim. Uma barbárie que ninguém gosta de descrever.

    Nenhuma causa, por mais nobre, como a soberania palestina, serve de argumento para justificar a agressão bárbara que tenha como alvo inocentes, de qualquer idade, nacionalidade, etnia, religião, orientação sexual ou política. A palavra terrorismo foi cunhada no século XIX para definir um movimento na Rússia czarista que não se furtava a matar inocentes para amedrontar a população. É ela que melhor descreve os atentados cometidos contra civis em nome de pretextos políticos, ideológicos ou religiosos. O terrorismo costuma ser praticado por seitas escatológicas, como o Estado Islâmico, movimentos políticos ou de libertação nacional — caso do Hamas, que deflagrou a barbárie no fim de semana.

    O Hamas é muitas coisas ao mesmo tempo. Acrônimo em árabe de Movimento de Resistência Islâmico, surgiu em 1987 como organização religiosa, filial palestina do grupo fundamentalista egípcio Irmandade Muçulmana. É um partido político, que disputa a liderança palestina com a Fatah (esta controla a Cisjordânia e, por meio da Autoridade Palestina, representa oficialmente os palestinos em fóruns internacionais). Vencedor das eleições na Faixa de Gaza em 2006, o Hamas rompeu com a Fatah em 2007 e, desde então, comanda uma ditadura no território isolado por Israel e Egito, mantendo serviços básicos como educação, saúde ou coleta de lixo, com financiamento dos governos do Irã e do Catar.

    O Hamas é tudo isso — mas duas características o distinguem desde o início. Primeira, a rejeição a qualquer acordo ou reconhecimento de Israel, passo essencial para qualquer iniciativa de paz. Segunda, a ação violenta por meio de seu braço militar, as Brigadas Izz al-Din al-Qassam. Além de promoverem bombardeios frequentes ao sul de Israel nos últimos anos e de receberem treinamento e armamento iraniano, elas foram responsáveis por atentados contra inocentes em locais tão diversos quanto pontos de ônibus, uma pizzaria, um shopping center, um supermercado, um hotel ou cafés.

    O Brasil não mantém lista de organizações terroristas, mas países como Estados Unidos, Reino Unido ou a União Europeia classificam o Hamas como grupo terrorista em razão dos atentados do passado. Os ataques do fim de semana, porém, atingiram um novo patamar. Foram sem dúvida atos terroristas, e assim vêm sendo chamados pelo GLOBO. Aqueles que os cometeram são sem dúvida terroristas. Mas os atentados também deixaram claro, pela complexidade, organização e agressividade, que a principal motivação do Hamas, mesmo de sua ala política, hoje não está no futuro da população palestina ou no governo da Faixa de Gaza. Quanto mais os fatos vêm sendo revelados, mais fica claro seu caráter terrorista. Se ele vinha sendo classificado por veículos de imprensa do mundo todo, entre os quais O GLOBO, como grupo extremista armado, agora não cabe outra definição. O Hamas se revelou, sem nuances, um grupo terrorista. E assim deve ser chamado.

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