Gaspar – diante da falta de oposição, da inexistência de uma imprensa plural e pior, que depende financeiramente das verbas públicas, associado ao medo do eleitor ou eleitora em ser prejudicado nas coisas mais simples do seu dia-a-dia que é seu direito, e até, pasmem, de ser intimidado, ou constrangido por processos pelos políticos e querem quer impedir suas simples opiniões, controvérsias e o contraditório – ela é uma terra que se aproxima muito da fictícia Sucupira e seu prefeito (interpretação ímpar de Paulo Gracindo), em o “Bem Amado”, do dramaturgo Dias Gomes.
Qual é a penúltima? O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, acaba de revogar a lei 3.206 de maio de 2009, e que instituiu o “Dia sem Carro” no âmbito do Município de Gaspar.
E quem é o autor desse Projeto de Lei e que virou Lei? O então vereador e depois presidente da Câmara, Kleber Edson Wan Dall, MDB. É isso mesmo. E depois sou eu quem exagero e mereço ser calado!
A revogação está no pacote de uma “comissão de vereadores” que foi criada no ano passado na Câmara de Gaspar para “limpar” a cidade de supostas leis inúteis, inócuas, duplicadas, ou desatualizadas. Tudo isso foi embrulhando na lei 4.203/2022, aprovada e sancionada recentemente.
E a comissão encontrou esta do “Dia sem Carro“.
Não se contesta a comissão e por enquanto, nem o resultado dela nas revogações sugeridas. O que esta “comissão” mostrou de verdade, é como os vereadores perdem tempo em inutilidades, e que mais tarde, eles próprios admitem – e assinam – ser algo inútil. E foi isso que aconteceu.
Quase tudo que se jogou no lixo, é produção dos vereadores em diversas legislaturas. Alguma coisa é fruto de cavalo de batalha. Outras, até de polêmicas bem calculadas. E a maioria, para agradar o eleitorado. Estou de alma lavada mais uma vez. Incrível!
Espantoso, é que o autor do então Projeto de Lei que instituía o Dia sem Carro, agora do outro lado do balcão e como prefeito da hora, tenha sancionado sem dar um só pio para se desfazer da sua própria incoerência em que se meteu com este seu gesto. O que torna tudo ainda mais grave.
E se o prefeito da época, o petista Pedro Celso Zuchi tivesse vetado tal proposta na hora de sancioná-la para virar lei? Kleber, certamente teria montado um barraco; e com razão. Agora, o próprio Kleber chutou o pau da sua própria barraca e não se explicou a razão pela qual fez isso à sociedade, aos eleitores, eleitoras, bem como aos argumentos, discursos e entrevistas da época para promovê-lo como “amigo da despoluição”. Como se vê agora, mais uma proposta de conveniência.
No tempo que a criou, Gaspar tinha uma mobilidade urbana comprometida pela falta de um serviço de transporte coletivo eficaz – até piorou com Kleber, mesmo com o subsídio que dá -, bem como a quase inexistência de uma malha de ciclovias ou ciclofaixas. Na questão das ciclofaixas e ciclovias a situação não mudou muito. Assunto que só aparece no tempo de campanha eleitoral.
Em contrapartida, muito mais que em 2009, hoje há uma consciência coletiva maior por um mundo, digamos, “mais saudável” e menos dependente de automóveis, principalmente no que tange por matriz de energia fóssil, ou que gerem poluentes contribuintes para o aquecimento global.
Na contramão, Kleber – como prefeito de Gaspar – revoga aquilo que já foi sua bandeira para sensibilizar mentes e corações tudo feito para apenas ganhar votos de uma parcela da sociedade que luta pela qualidade de vida no futuro desta sociedade.
Como prefeito, quase não fez nada para justificar o que sonhou para o falto discurso que construiu a época materializado no tal Dia sem Carro e à utopia da sua cidade. É preciso muito mais do que propostas, projetos de lei ou leis. É preciso ação. Kleber não as teve quando prefeito e com o poder para mudar este status de atraso, preferiu revogá-lo.
Foi, silenciosamente para o lixo, o “dia de conscientização sem carro”, o 22 de setembro foi capaz. Nem regulamentar a sua lei, regulamentou. Estava caduca. Inócua. Sabia-se que não haveria a possibilidade do gasparense deixar seus carros em casa até porque com a deficiência de transporte coletivo, isso seria difícil.
Mas, até o suposto amplo debate com a comunidade – principalmente a escolar – neste dia para a conscientização e até se encontrar alternativas, foi também para o lixo com o gesto do prefeito Kleber
Kleber fez pior na mesma assinatura da lei 4.203.
Ampliou a incoerência e a contramão no faz de conta. O prefeito Kleber por aprovação da Câmara, revogou também a Semana Municipal do Ciclismo – que se daria na semana da Emancipação Municipal – e foi sancionada em 2014. No lugar, ficou o “Dia do Ciclista”, no 19 de agosto. Mas alguém viu alguma programação neste dia por aqui em alguma oportunidade? É ou não uma encenação articulada.
Na prática, Kleber viu a sua ideia ser debochada senão por ele próprio. Impressionante. E perderam, na verdade, e mais uma vez, todos. Estes são os nossos políticos. Incoerentes aos extremos, e depois culpam – e até querem punir – quem esclarece a comunidade. Querem reinar sozinhos na mediocridade. Bobinhos. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
A Lei 4.203 revogou muitas leis, a maioria delas que concedia à utilidade pública a clubes, entidades e instituições, que nem mais existem, ou tiveram os seus estatutos modificados e por isso, exige-se nova lei. Entretanto, há muitas preciosidades revogadas.
A que criava em 1964 a assessoria jurídica da Câmara; a de secretário executivo da Câmara em 1967; a campanha de combate permanente as drogas em eventos públicos; a verificação da intensidade do som; o programa nas escolas na prevenção à violência; o que autorizava o Executivo a criar um programa de conscientização contra a violência doméstica…
Revogou-se também a lei que permitia a criação de programas educativos nas escolas para o combate do fumo e álcool; a que estabelecia normas de segurança no município; a que criava a semana de orientação contra a gravidez na adolescência; a que regulamentava o comércio de fogos artifícios e estampidos (?); o que proibia o consumo de bebida em lojas de conveniência de postos de combustíveis em determinados horários…
Como se viu, havia alguns assuntos necessários, mas que até estavam – como se alegou – em duplicidade, ou já faziam parte de programas bem mais amplos, como o que instituiu o Programa de Distribuição de Medicamentos para a População Carente. Ou instituir o Programa Mulher: Direitos e Saúde. Ou a lei que autorizava a criação de uma Central de Empregos para pessoas com deficiências.
Por outro lado, pela mesma Lei 4.203 ficamos sabendo que Gaspar tem 26 DIAS fixos ou móveis comemorativos, que vai aumentar para 27 na polêmica que se abriu para o tal Dia da Vitória, para se comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial.
E a mesma Lei 4.203 extinguiu, vejam só, o Dia da Solidariedade. Sim, somos, tudo, menos solidários. Isto explica muitas coisas…
A mesma Lei preservou ainda 27 SEMANAS comemorativas e SETE MESES com cores comemorativas branco (janeiro), amarelo (maio), laranja (maio), laranja novamente (agosto), lilás (agosto); outra vez amarelo (setembro), verde (dezembro).
E por fim, a Lei 4.203 reafirmou que a ave símbolo de Gaspar é o Gaturamo Verdadeiro. Ufa! Acorda, Gaspar!
Advinha onde está o vereador campeão de diárias na Câmara em Gaspar, Ciro André Quintino, MDB, como mostra a sua rede social. Foi acompanhar amigos ao gabinete do deputado Carlos Chiodini, MDB, de quem é seu cabo eleitoral por aqui, e que mora em Jaraguá do Sul.