Não se trata de desqualificar um título que nasceu entre políticos para a marquetagem deles e que até agora não trouxe nada em troca de verdade para a cidade de Gaspar e os empresários do ramo, a tal Capital Nacional da Moda Infantil. Entre elas, a percepção de um produto de maior valor agregado e recompensa por isso, por exemplo. Estamos em plena Oktoberfest.
Ninguém foi até ela se apresentar como tal aos visitantes de lá, ou se fez um “caminho” para se vir até aqui. Onde, afinal, está à venda e à comparação esta moda infantil entre nós?
Voltando ao tema deste comentário, pois o outro já mastiguei bastante e ninguém consegue responder à cidade. O quarto encontro, vejam bem, o quarto, é um plano para salvar uma atividade regionalmente importante – não só para a cidade de Gaspar, pois Brusque e Blumenau padecem do mesmo, sem, no entanto, serem capital de nada neste assunto. Esta dificuldade que não é de hoje. Eu já a mencionei aqui várias vezes. E pode ter viés de mitigação, porque os nossos vizinhos estão remando no mesmo barco.
Precisamos colocar as cartas na mesa, claramente. É uma equação muito difícil num mundo competitivo e globalizado como o dos manufaturados têxteis.
De um lado é preciso de criação constante, coleções e produtos diferenciados, alto risco dos empreendedores da cadeia – sim porque ela quase sempre é bem horizontalizada por aqui -, pela sazonalidade do setor – moda verão e inverno – somando-se, neste momento, a um mercado contraído diante de crise econômica, e do outro lado, mão-de-obra especializada escassa e quando disponível, possui alta rotatividade.
Esta mão-de-obra quando há não é remunerada na mesma proporção da sua qualificação, fato determinante para a fuga dela, de ser uma passagem ou flutuante para outras atividades e até cidades. E se for remunerada adequadamente como se quer os empreendedores têxteis para a estabilidade dessa mão-de-obra nas suas organizações, consequentemente, a competitividade dos produtos deles – principalmente as de padrões populares – poderá estar comprometida no mercado altamente exigente por determinados segmentos de consumidores, principalmente os de mais baixa renda ou grandes redes de magazines.
Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come.
Mas, agora, ao invés de choramingar e me culpar por apontar as dificuldades da aldeia que sempre teimam esconder e com esta atitude, agravam-na, o que é pior e contra eles próprios e os títulos que arrumam para a propaganda e marquetagem dos políticos, os empresários, entidades representativas deles e as de formação de mão-de-obra se uniram para encontrar soluções. Esta é a boa notícia.
A preocupação veio tardiamente, mas veio. Veio com levantamentos e que não deixam dúvidas. Na imprensa, pouca repercussão – A TV registrou o evento com entrevistas. Uma pena! Quando se leva este assunto ao p´publico, inicia-se o debate. E é dele quem nasce a conscientização e as soluções.
Há duas mil vagas para serem preenchidas no setor. É assustador. Mas, por isso mesmo, desafiante ao mesmo tempo. Tanto, que caracterizado os problemas e as origens deles, os envolvidos estão, desta vez, organizados para buscar soluções.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda de Gaspar, Pablo Ricardo Fachini, que ganhou o cargo por apenas ser suplente de vereador do PP, estava neste encontro. De concreto para o rol de possíveis soluções nada do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Ele “saboreia” à conquista de ser a cidade titulada como a “Capital Nacional da Moda Infantil”. Também, uma pena.
Aliás, o governo de Kleber e Marcelo de Souza Brick, Patriota, e do ex-vice-prefeito, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, é parte do agravamento desta situação contra o setor e os empresários. Quando o Senai estava aqui para suprir parte desta demanda na qualificação de mão-de-obra especializada, teve que ir embora. É que a prefeitura – depois de um período de carência dada pela entidade – negou-se a pagar o aluguel das salas ocupadas pela entidade aqui em Gaspar.
Resumindo: quando a prefeitura e os políticos tentam lavar as mãos neste problema, eles são, na verdade, diretamente os culpados, e pelo pior lado, o da omissão. E os empresários quando os apoiam nesta parceria manca, são também parte dos problemas contra eles próprios.
É claro que os empresários, a maioria micro e pequenos, ou seja, a maior parte e fundamental desta cadeia produtiva entre nós, não podem arcar com os custos de formação de mão-de-obra nas diversas áreas de conhecimentos e exigência do segmento têxtil bem diversificado como é o nosso e assim, precisam do apoio governamental.
Aliás, é função do poder público dar este suporte mínimo, pois é sustentado em parte com o retorno dos impostos via o ISS ou até, no retorno do ICMS. A não ser que esteja dispensado esta receita, o viés social importante desta atividade na vida da cidade. Caolhos.
Quando o governo Kleber e Marcelo não oferece creches em tempo integral, ensino básico integral ou minimamente com reforço escolar para os filhos dos trabalhadores, não é capaz de ter um programa organizado de assistência social – e nem falo da área de habitação – está também contribuindo direta e fatalmente para agravar o problema de atração e retenção de mão-de-obra, com ou sem qualificação, para a tal Capital Nacional da Moda Infantil.
Este debate deveria estar presente nas eleições que se passaram ou ainda estão em curso, por exemplo e pelos mesmos que foram buscar e comemorar o título para Gaspar. Os políticos estão quietos. E os empresários com a batata-quente nas mãos não querem apontar as responsabilidades de seus políticos de estimação. No final, como percebem, é uma equação onde todos têm a mesma culpa, infelizmente. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Eu escrevi que a foto que não publicava da suposta “união de partidos” para votar em Jorginho Mello e Jair Messias Bolsonaro, PL, iria ganhar as manchetes da imprensa local? Bingo! Estranho mesmo foi ver que o presidente do MDB de Gaspar não está na foto, mas continua no cargo e sem falar nada. Ou seja, continua roendo o osso escondido.
Depois da denúncia do mau funcionamento da burocracia da secretaria de Saúde de Gaspar pelo vereador Amauri Bornhausen, PDT, em caso seu, onde pediu para desmarcar o seu exame de alta complexidade que esperou por dois anos e não viu isso feito, os representantes do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, na Câmara correram para dizer duas coisas: que o erro foi da clínica e que a prefeitura não paga por exames não realizados. Amauri ouviu em silêncio. Hum!
A Câmara, a pedido do vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, que está secretário da Saúde em Gaspar, cortou R$900 mil da futura construção da sua sede própria e repassou a prefeitura para pagar exames e procedimentos de média e alta complexidade para com isso, diminuir substancialmente a fila de espera.
Feitas as contas desta iniciativa simples, óbvia, necessária e comemorada pelos políticos da base do governo, chegou-se à conclusão que serão possíveis realizar quase sete, repito, sete mil exames e procedimentos. Uau! E aí vale a observação do vereador Alexsandro Burnier, PL: ” o quanto daria para fazer com os R$14 milhões que a prefeitura está gastando com a compra do terreno da Furb?”.
Outra. Por que tirar dinheiro da Câmara – de uma rubrica fictícia orçamentária, a construção da sua sede – se o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, Patriota, orgulha de ter dinheiro sobrando no seu caixa? Ao menos é isso que diz nas entrevistas sem perguntas que desmascarem esta afirmação e os discursos que faz pelos quatro cantos da cidade.
Como se vê, um governo sem oposição, vive de demagogia e jogadas dos seus. E se enfraquece naturalmente. Só ele não percebe. Acorda, Gaspar!
Um dia o vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, Patriota, derrotado nos votos e planos para ser deputado estadual, anuncia que se reinstalou no seu gabinete na prefeitura e que ninguém dele iria ser mexido, numa desmoralização a quem anunciava isto antes.
No dia seguinte, o político Marcelo já estava em Balneário Camboriú para ser mais um a aplaudir o candidato Jair Messias Bolsonaro, PL, e fazer o que mais sabe fazer: fotos e selfies com políticos e empresários para preencher as suas redes sociais. Está tentando encontrar apoios após a derrota.
1 comentário em “A FICHA CAIU: A “CAPITAL NACIONAL DA MODA INFANTIL” ENFRENTA SÉRIAS DIFICULDADES DE MÃO-DE-OBRA”
MEDO E RANCOR, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
É bastante óbvio que as campanhas de Lula e Bolsonaro tivessem concentrado fogo em destruir a imagem do adversário. Durante bastante tempo a atual campanha foi descrita como um campeonato de rejeições. Venceria a rejeição mais baixa.
A de Lula oscilou um pouco para cima, a de Bolsonaro um pouco para baixo. Mantêm-se razoavelmente próximas, com Bolsonaro mais rejeitado do que Lula. Ambos sofreram e desferiram ataques violentos, muitos abaixo da linha da cintura, mas as duas táticas aparentemente não funcionaram como as campanhas supunham.
A explicação provavelmente se deve a um fenômeno de postura dos eleitores que tem a ver com medo e rancor. É bastante nutrido o contingente dos que dizem não votar em um candidato de jeito nenhum. Nem que isso signifique fazer uma escolha que jamais teria sido considerada.
Não, não se trata de votar no “menos pior” (sob qualquer ponto de vista). Trata-se de fazer qualquer coisa para evitar a vitória de quem se tem mais medo e/ou rancor. Está aí o “perdão” concedido a cada um. Perdoam-se pecados de Lula, pois ele impede uma vitória de Bolsonaro. E vice-versa.
A atual eleição é provavelmente a mais “emocional” de uma já longa série de pleitos presidenciais pós-redemocratização. Há pouco de “racional” na opção por um candidato motivada por medo e rancor do outro.
Talvez seja esse um motivo central para entender qual a razão de xingamentos não “colarem” no oponente. “Ladrão e corrupto” ou “genocida e fascista” já foram levados em conta por quem tem medo e/ou rancor por um ou pelo outro.
Nas categorias convencionais com as quais se pretende explicar formação de opinião e comportamento eleitoral há sempre referência a questões sociais e estruturais mais profundas. Como a insegurança trazida por desemprego, por exemplo, “culpa” deste ou daquele personagem político. Ou uma situação percebida como desvantajosa e atribuída por um grupo social a outro, que leva igualmente ao “rancor” por alguma figura pública (e, por outro lado, à acolhida de promessas populistas).
No ambiente tóxico incentivado por redes sociais, esses fatores “clássicos” perdem um tanto de sua relevância. Estudiosos das redes sociais costumam dizer que um dos principais obstáculos na análise dos dados é identificar claramente grupos socioeconômicos nas várias plataformas, embora algumas delas correspondam a determinados padrões culturais, de idade, de consumo e poder aquisitivo.
O principal problema do medo e rancor como motivação eleitoral não é apenas a óbvia “qualidade” (ou falta de) da escolha. É a relevância para o que vem depois. O Brasil está, infelizmente, se tornando um país de irreconciliáveis.