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A ESCOLHA DE SOFIA. SE OS CONSERVADORES E DIREITISTAS QUISEREM RECONSTRUIR OS ESPAÇO QUE PERDERAM, TERÃO QUE LEVAR O BOLSONARISMO PARA O DIVÃ

Não é por falta de assunto na aldeia, onde há político caído do caminhão de mudanças e que ainda não achou o rumo – e não me refiro ao vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, Patriota – depois das vitórias de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, e Jorginho Mello, PL, respectivamente, para governar o Brasil e os catarinenses. Mas, para aqueles que olham aqui em Gaspar o poder como uma oportunidade de seguir enganando à distinta plateia.

Lula ganhou e foi empossado. A resistência que se ensaiou depois da falta de votos, transformou em dupla vergonha: falta de votos e nova derrota. Continuaram no palco, apenas nas suas bolhas de perdedores, as mesmas que contribuíram para o desastre de algo que nascido e comemorado precocemente para derrotar por décadas a esquerda do atraso, PT e o próprio Lula.

Virão tempos difíceis. Até porque, o que venceram usam os pobres e os diferentes para, mais uma vez, encobrirem o atraso em relação à economia e à competitividade, à incompetência, sede pelo poder e aparelhamento do estado inchado, burocrático e corrupto, aliada como à arrogância incomum de quem já foi julgado nos tribunais, num impeachment e até mesmo pelas urnas. Por ai se mede o tamanho da derrota do bolsonarismo e o mal que ele fez à direita, ao conservadorismo e ao liberalismo…

Retomo

Por isso, vou ficar em Santa Catarina. Jorginho foi eleito governador. Alguém em sã consciência acha que ele será capaz de fazer um governo de resultados, ou melhor do que a turma que se aboletou do poder em Brasília, onde há poucos dias atrás ele era senador? Eu exagero? Convido a assistirem as entrevistas do governador Jorginho. Nem se expressar ele é capaz. Enrola. Não olha para seus interlocutores. Nada de fundamento, convencimento, inovação ou ao menos, a sombra de um estadista.

Jorginho sempre foi PL, mas o de Valdemar da Costa Neto, não exatamente o de Jair Messias Bolsonaro de quem se tornou próximo ao defendê-lo na CPI da Covid-19 com aparições nacionais nas reuniões da CPI. Jorginho até foi do PSDB, mas porque isso lhe era conveniente na época, como era “novo” PL, o bolsonarista, para a sua eleição a governador. Jorginho nunca foi um conservador, um direitista e nem liberal. Não inventei nada. Está na biografia dele. Foi sempre um político – e sortudo. E mesmo assim, os bolsonaristas o “adotaram”, no segundo turno, por falta de opção depois de anularem por vingança do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos. Nem mais, nem menos.

O feitiço virou contra o feiticeiro. 

Num estado em que Bolsonaro teve 69,27% dos votos e Jorginho 70,69%, numa campanha que todos escolhiam Décio Neri de Lima, do PT, como adversário preferencial só para se ganhar fácil a corrida, Jorginho governador ainda não conseguiu formar o primeiro escalão. E o que escolheu, está descartando por repercussão de problemas da folha corrida do escolhido. Teve novembro e dezembro para isto, para não dizer até mesmo outubro quando a vitória lhe era certa diante do adversário fraco que se apresentou. Jorginho, o tal político experimentado, está encalacrado. E no ambiente que mais conhece: o Legislativo.

O que Jorginho apresentou até agora para lhe ajudar a governar, é simplesmente desastroso. Uma ou outra exceção, como a secretária da Saúde, a enfermeira e deputada Federal reeleita Carmem Zanoto, do Cidadania federado com o PSDB, fato que permitiu a primeira suplente Giovânia de Sá assumir a Câmara Federal. Há também Valdir Colatto, na Agricultura e Pesca ou Marcelo Fett, na Ciência, Tecnologia e Informação, se tiverem liberdade para trabalhar. E a partir daí, só minguados.

E por que é desastroso? 

Pelo que Jorginho não conseguiu. Rifou os bolsonaristas e lhes disse que precisava do espaço deles para as composições. Jorginho que já foi presidente da Assembleia e de lá, fazia das suas contra o Executivo de plantão Por isso, sabe que está numa encruzilhada perigosa e da qual tenta sair. E não precisa ir longe: é só olhar o inferno que foi o governo de Carlos Moisés até ele compreender – e só depois de vencer dois impeachments e uma CPI mal acabada – que o verdadeiro jogo político está com a Assembleia, com o velho sistema dando as cartas, e muitas delas, escondidas nas mangas dos jogadores.

Jorginho está assim: de um lado os bolsonaristas ruidosos inconformados e pressentindo que foram usados, de outro a necessária sustentabilidade de um governo que, sabidamente, nasceu torto e por culpa dos bolsonaristas que resolveram liquidar a fatura contra Carlos Moisés, na qual colocaram a pecha de traidor. Era uma questão de honra. E foi. Agora será questão de horas para transferir o título a Jorginho.

Contudo, para Jorginho, o que nunca foi de direita, conservador, liberal ou bolsonarista, um fator é crucial: este espaço para montar este xadrez com nomes irrelevantes para o seu governo. Ele está se equilibrando naquilo que nunca foi o seu forte: o de liderar, mas de impor coisas contra os próprios catarinenses. E o tempo joga contra o seu jeito de ser.

Não foi isso, o de impor, que ele tentou a mando de Bolsonaro, no caso dos R$465 milhões dos impostos estaduais para as duplicações e recuperações das principais rodovias federais abandonadas por Bolsonaro de tonar a ideia contra os próprios catarinenses? Jorginho quis por todo jeito boicotar esta operação. Viajou e contatou lideranças políticas e empresariais para este quase crime contra o futuro seu próprio Estado no qual queria e virou governador.

Aliás, estes recursos estaduais se transformaram em crédito das dívidas catarinenses com a União, por obra e graça do senador Esperidião Amim Helou Filho, PP, e vetada pelo próprio Bolsonaro. Ou seja, no frigir dos ovos, e contraditoriamente, esse crédito vai aliviar o caixa do governo de Jorginho.

É tão desastroso a montagem do governo de Jorginho, que a participação do Vale Europeu, um dos maiores polos de referência turística, industrial e de tecnologia do estado, a participação de representantes é praticamente nula. E não é exatamente por falta de líderes, competentes e nem por votos dados a Jorginho. 

Talvez seja esta, a melhor, a premonição de que estando lá alguém competente ou com luz própria daqui, poderá se estar também numa roubada, num governo fraco e sitiado na própria Assembleia, razão pela qual Jorginho ainda não deu o nome de todos os seus secretários aos catarinenses. Tem mais duas semanas, porque na Alesc já se sabe quem será o presidente dela.

E é isso, que os bolsonaristas já perceberam também: a má escolha, a feita com o fígado, com o sabor de vingança. Quando não são derrotados, ganham e não levam. E isso está se desenhando para 2024 aqui em Gaspar.

A direita, os conservadores e os liberais de verdade terão esta segunda chance nas eleições municipais do ano que vem. Antes, porém, terão que levar ao divã o bolsonarismo que lhes contamina como se ele fosse o dono dessa parcela ponderável do eleitorado catarinense e brasileiro. Até porque há uma janela para os conservadores, direitistas e liberais voltarem ao poder se não cometerem erros das eleições do ano passado: é que do jeito que está, anuncia-se precocemente o desastre da administração petista a partir de Brasília, mas que por vias tortas, cheira também se instalar em Florianópolis.

Aí, se isto se der duplamente, restará nos municípios uma campanha focada em nomes, não mais em partidos, alinhamentos governamentais ou ideologia. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Não vou escrever sobre Pelé. Não há o que escrever a não ser que o vi jogar, ao vivo. Mas, é preciso registrar que algo assim na despedida de um brasileiro, só vi tamanha comoção nacional e repercussão internacional, na morte de Ayrton Senna, tanto pelo ídolo, o dirigir audacioso e o obstinado por resultados, como pela fatalidade repentina, ao vivo e em cores em transmissão mundial naquele 1º de maio de 1994, na barreira de concreto de Ímola (Grande Prêmio de San Marino), Itália.

Por isso mesmo, Pelé é muito mais do que isso. Ele era do tempo que não havia imagens, mas testemunhos. Era do imaginário relatados pelos que o assistiam, escreviam e narravam as partidas. E isso se sustentou por décadas em que outros astros apareceram, sob promoção e holofotes midiáticos instantâneos, mas não tiveram o carisma que só Pelé miticamente verdadeiramente carregava consigo. Uma lenda. Um legado. Aquele sorriso, quase permanente, era cativante.

Uma nota aqui na segunda-feira dando conta de que o carro do Conselho Tutelar de Gaspar no final de ano servia para atividade particular de um dos seus, gerou um alvoroço entre os gestores tanto da secretaria de Assistência Social como da prefeitura, todos, devidamente, em férias.

Qual a preocupação? Descobrir quem teria passado a informação e se havia documentação do fato. Todos trabalhando corporativamente para abafar. E sem distinção de cores partidárias. Uai! No supermercado havia testemunhas. Se o motorista do funcionário público não sofrer de “amnésia” para o fato, ainda assim, o GPS do carro pode dizer muito sobre o trajeto daquele dia. A não ser que o sistema de rastreamento estiver tão comprometido como o de Blumenau, como provou certa vez a NSC. Gente sem noção. Para ela, crime está em divulgar, não no delito em si e o autor.

Perguntar não ofende? O que é feito nestes feriados e nestas férias da Câmara de Gaspar, da Procuradoria da Mulher, uma sala do movimento de empoderamento feminino político, criada para ouvir, acolher e encaminhar mulheres em risco? Será que a Procuradoria já pode ser desmontada por ter “cumprido” o seu papel? Ou os crimes de assédio e agressões não acontecem neste período? Marquetagem de oportunidade com algo sério e sensível. Haja estômago!

A suplente de vereadora Rafaele Vancini, MDB, acaba de ser nomeada no município de Gaspar como professora efetiva de Português. O concurso é o 01/2019.

O cachimbo, a boca torta e a comunicação à meia boca. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que agora deu para ficar preocupado com a administração do petista Luiz Inácio Lula da Silva, saiu as redes sociais para dizer que o Posto de Saúde do Centro está aberto das 8h às 20h, com vacinação até as 17h, enquanto os postinhos dos bairros estiverem fechados nas férias da prefeitura.

O que significa isto? Má ou falha comunicação da secretaria de Saúde com a cidade, as cidadãs, os cidadãos e que faz “entupir” o já comprometido Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar, sob marota e sem transparência intervenção municipal. É a tal boca torta pelo cachimbo.

Enquanto isso, sob alertas da meteorologia desde ontem voltaram as pancadas fortes de chuva, a foto abaixo, mostra que a prefeitura nada fez, além de mal sinalizar, a esquina das ruas Barão do Rio Branco e José Rafael Schmitt, para o recorrente, repito, recorrente desbarrancamento em direção ao Ribeirão Gaspar Grande. Há perigo para pedestres e veículos, sem falar no desperdício de material que vira problema para a vazão do ribeirão.

É um desperdício de dinheiro também. Pois o problema é repetitivo. Aceitável uma vez, mas a recorrência dele é um revelador erro de engenharia. Virou normalidade. Será que a prefeitura está esperando grana da Defesa Civil para por lá e com outra chuva mais forte tudo ir ribeirão abaixo? Autorização para pedir recursos ela já ensaiou no decreto 10.788, de 26 de dezembro do ano passado que declarou a cidade em “situação anormal de emergência”. Acorda, Gaspar!

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6 comentários em “A ESCOLHA DE SOFIA. SE OS CONSERVADORES E DIREITISTAS QUISEREM RECONSTRUIR OS ESPAÇO QUE PERDERAM, TERÃO QUE LEVAR O BOLSONARISMO PARA O DIVÔ

  1. Um exemplo de como o novo governo se cercou de pessoas, e principalmente, partidos irresponsáveis e populistas

    LULA PRECISA BARRAR A ANTIRREFOMA DE CARLOS LUPI, editorial do jornal O Globo

    Foi desastroso o discurso de posse de Carlos Lupi, presidente do PDT, como ministro da Previdência em Brasília nesta semana. No auditório do ministério, ele negou o óbvio. Disse que não existe déficit nas contas da Previdência. Embalado pelos aplausos de apoiadores, esbanjou populismo ao declarar que aposentadoria é dívida da União com os trabalhadores, como se estivesse sobrando dinheiro nos cofres do governo federal para outras áreas igualmente importantes.

    Antes de acabar seu discurso, ainda anunciou que criará uma comissão formada pelo governo, por sindicatos patronais, trabalhadores e aposentados para analisar “com profundidade” as mudanças feitas no governo anterior. De profundo, tal iniciativa só deverá gerar atraso e confusão. É desanimador.

    O argumento de Lupi para tentar negar o déficit não para em pé. O novo ministro diz que as receitas previdenciárias devem incluir a arrecadação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e também a do PIS/Cofins, criado originalmente para ajudar a financiar a Previdência. A questão é que esse imposto também banca outros benefícios, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

    Tentar vender a tese de uma solução fácil com base em ficção contábil é tudo o que um ministro não deveria fazer. Segundo dados oficiais, em 2021 a Previdência Social registrou déficit de R$ 247 bilhões. Levando em conta outros gastos, como o pagamento de pensões e de inativos militares, o rombo chegou a R$ 361 bilhões. O Tesouro Nacional, por sua vez, é superavitário. Em 2021, o saldo positivo foi de R$ 212,3 bilhões.

    Parece evidente que a mudança da verba de um lado para o outro, como propõe o ministro, não equacionaria a questão. O Tesouro só ficaria com um superávit menor, e a Previdência com um déficit menos acentuado. “O ministro está sugerindo tirar o dinheiro do bolso esquerdo e colocá-lo no direito” , diz Fabio Giambiagi, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre). Sem resolver o déficit, a proposta de Lupi teria efeitos negativos. Achataria as despesas discricionárias, aquelas que o governo tem liberdade para escolher como direcionar ou investir.

    Os gastos do INSS saíram de 6% do PIB em 2002 para quase 10% em 2021 devido ao envelhecimento da população, tendência que se acentuará. Na tentativa de enfrentar o problema foi feita uma reforma em 2019. Entre outros pontos, houve aumento do período de contribuição e elevação da idade mínima para aposentadoria. A aprovação deverá gerar uma economia de R$ 1 trilhão no período entre 2020 e 2029.

    O governo deveria preparar uma nova reforma para enfrentar o problema, como o PT já fez anteriormente. Baseado em ideais fantasiosas, o ministro parece disposto a desfazer avanços já conquistados.

    Por isso fez bem o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao desautorizar o colega de Esplanada. Em algum momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de trazer o debate sobre a Previdência de volta para o plano racional e buscar soluções realistas para o futuro.

  2. O ESPÍRITO DE ACOMODAÇÃO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    O homem parece um pouco mais cansado, mas o velho espírito de acomodação do presidente Lula continua o mesmo. Apesar de muito mais exigido e já de início do terceiro mandato confrontado com a escassa paciência de imensa parte do público em aguardar resultados.

    “Quando é que eles saem de lá?”, esbravejou Lula em seu novo/velho gabinete no Planalto ao saber que, passadas 48 horas de início de seu governo, acampamentos de bolsonaristas perduravam em áreas militares diante de quartéis do Exército.

    Foi necessário acomodar o “espírito de pacificação” de seu ministro da Defesa, que qualificou os protestos nos quartéis de democráticos (e achou melhor esperar que eles acabem sozinhos), com o espírito de punição do ministro da Justiça.

    Além de influentes vozes da advocacia no entorno do presidente, que já queriam a cabeça do recém-empossado ministro da Defesa. Tido como excessivamente pacificador, tinha conversado com Bolsonaro sobre a nomeação dos comandantes militares do governo Lula.

    Esse é um episódio menor se comparado à dificuldade de acalmar o nervosismo de agentes econômicos diante dos fatos da realidade política. É óbvio ululante que Lula desautorizou seu ministro da Fazenda na questão da desoneração dos combustíveis, embora tivesse tentado uma acomodação: prorroga a desoneração por 60 dias para a gasolina, mantém por um ano para o diesel.

    O critério político que prevaleceu para a tomada desse tipo de decisão é o mesmo desde sempre. Trata-se de fazer o que for preciso para proteger popularidade no curtíssimo prazo, e aguardar o desenrolar dos fatos para ver como se fará para a próxima acomodação. Ocorre que o tempo assim comprado é preocupantemente pequeno, e cada vez maior o desafio de acomodar.

    Na questão da desoneração (temporária?) da gasolina, Lula precisa se acomodar com a ministra do Meio Ambiente, para a qual renúncias fiscais em favor de combustíveis fósseis são contradição insuportável com pautas verdes. Como a guerra da Ucrânia está obrigando também governos europeus a protelar a transição energética, talvez

    Marina Silva aceite sem grandes percalços a acomodação.

    O governo está prometendo para breve como vai acomodar a necessidade de aumentar gastos sociais com a necessidade de controlar gastos públicos. Promete em breve a reforma tributária, até aqui não lograda devido basicamente ao fracasso político de sucessivos governos em conseguir equilibrar a complexidade de interesses antagônicos envolvidos na questão.

    Já que para Lula é disso que se trata, haja capacidade de acomodação.

  3. LEMBRE-SE DO GARÇOM CATALÃO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    A terceira posse de Lula foi pura emoção. A cachorrinha Resistência subiu a rampa, Lula lembrou o golpe do impedimento de Dilma Rousseff e mostrou sua gratidão àqueles que acamparam em Curitiba, debaixo da sala onde esteve preso. Repetiu que governará para todos e, sobretudo, para o andar de baixo. Atento ao andar de cima, nomeou para o Ministério das Cidades o empresário Jader Barbalho Filho, irmão do governador paraense, Helder Barbalho.

    A multidão na Praça dos Três Poderes foi coisa nunca vista, sobretudo pela alegria. Havia algo de épico nas cenas. Nada mais épico que a partida de Vasco da Gama para a Índia, e nada melhor que o poema de Luís de Camões para descrevê-la. Mesmo assim, ele colocou na cena do embarque da frota o Velho do Restelo dizendo:

    Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

    Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

    Na partida das naus de Lula 3.0, o PT deve se lembrar do fim do governo de Dilma 2.0. As multidões também iam às ruas, com o objetivo oposto. Dois anos depois, elas colocaram Jair Bolsonaro no Planalto e por pouco não o reelegeram no ano passado.

    Em maio de 2016, o Senado afastou temporariamente a presidente Dilma Rousseff, e assumiu o vice, Michel Temer. Três meses depois, o afastamento tornou-se definitivo. Prometendo novos tempos, Temer nomeou o jovem Helder Barbalho, de 37 anos, no Ministério da Integração Nacional. Seu pai, Jader, governou o Pará por duas vezes. Foi também ministro da Previdência e do Desenvolvimento Agrário.

    No andar de cima, velho e o novo andam juntos. Às vezes, essa convivência dá um trabalho danado.

    Na queda de Dilma Rousseff, centenas de pessoas perderam seus cargos. O “Bessias” do telefonema interceptado ilegalmente pela turma da Lava-Jato, em 2016, deixou a assessoria de assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência. Jorge Messias, servidor de carreira da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, é o novo advogado-geral da União.

    Dias depois do afastamento de Dilma Rousseff, cometeu-se um ato de mesquinharia explícita contra o andar de baixo. Acusado (falsamente) de ser petista e de xeretar conversas, foi demitido do Palácio do Planalto o garçom José da Silva Catalão. Ele tinha 52 anos e oito no serviço. Era uma figura popular no quarto andar do palácio. Pediu para ser poupado, trocando de copa, mas não foi atendido. Rua. Ao saber da demissão, Lula telefonou para Catalão, confortando-o.

    Na passagem do poder de Dilma Rousseff para Michel Temer, a demissão do garçom foi simbólica, por irreversível. Não custaria que o chamassem de volta, para outra copa. Afinal, boa parte da base de apoio de Dilma estava aninhada no novo governo. Diante da repercussão de seu caso, o garçom recolheu-se.

    Catalão foi salvo da rua da amargura pela senadora Kátia Abreu. Semanas depois, ela levou-o para seu gabinete.

    A festa petista de 2023 está cheia de projetos, e Jair Bolsonaro contribuiu para a alegria, dando-lhe o prazer de sua ausência. Lula repete que governará para todos. Em oito anos de poder, nunca perseguiu adversário. Bolsonaro fez o contrário, mas isso é passado. No exercício do poder, o problema está no guarda da esquina ou no burocrata prestativo. Não foi Michel Temer quem mandou demitir Catalão, mas o caso do garçom marcou o início de seu governo.

  4. HADDAD, O MINISTRO DECORATIVO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, soube já no primeiro dia no cargo que será figura decorativa, espécie de tarefeiro do presidente Lula da Silva. Seria ingenuidade supor que pudesse ser diferente, mas Haddad, aparentemente, acreditou que tinha autonomia para tomar as decisões certas, e não as que fossem convenientes ao populismo lulopetista – e, portanto, erradas.

    Antes da posse de Lula, Haddad, já escolhido para a Fazenda, pediu ao então ministro da Economia Paulo Guedes que se abstivesse de adotar medidas que pudessem afetar as receitas e as despesas do futuro governo. Entre essas medidas estava a prorrogação da desoneração dos combustíveis, que serviu ao governo de Jair Bolsonaro para baixar o preço da gasolina na marra e, assim, tentar melhorar as chances de reeleição do presidente. Como Haddad prometeu reduzir o déficit fiscal projetado para este ano, de R$ 220 bilhões, reonerar os combustíveis era a primeira e mais evidente escolha a ser feita.

    Mas a “ala política” do governo Lula, preocupada com os efeitos de uma súbita alta de preços dos combustíveis na popularidade do presidente recém-empossado, fez prevalecer sua opinião, e Haddad teve que engoli-la. Desprestigiado desde o primeiro dia, Haddad assumiu uma das funções mais relevantes da administração federal com um discurso em que disse aceitar ser o “patinho feio” da Esplanada dos Ministérios, contrapondo-se a colegas e a medidas que possam prejudicar o governo. Se é assim, o ministro terá que ensaiar bem mais para aprender a dizer “não” a Lula, talvez pela primeira vez.

    Ao manter os impostos federais sobre os combustíveis zerados por mais 60 dias, medida que ainda pode ser prorrogada ao fim desse período, o governo Lula sinaliza que as demandas eleitoreiras, sempre que for o caso, vão prevalecer sobre a racionalidade econômica. É péssimo sinal.

    Ademais, é irônico que um governo que se diz tão preocupado com os pobres, pelos quais Lula chorou em seu discurso de posse, desdobre-se para manter artificialmente baixos os preços dos combustíveis, medida que favorece quem tem carro. E a ironia não acaba aí: ao manter a farra da gasolina barata, Lula estimula a queima de combustível fóssil, na contramão de suas promessas de proteção ambiental.

    Na tentativa de explicar o inexplicável, Haddad se complicou ainda mais. Disse, em entrevista ao site Brasil 247, que a reoneração dos combustíveis somente poderia ocorrer após a posse da nova diretoria da Petrobras e a consequente mudança na política de preços da companhia. Não se sabe o que uma coisa tem a ver com a outra, mas o que se sabe muito bem é que os preços dos combustíveis serão “abrasileirados”, como disse Lula ainda durante a campanha. Em outras palavras, serão tratados como questão eleitoral. Já vimos esse filme de terror: o governo tenebroso de Dilma Rousseff fez exatamente isso, para enfrentar sua crescente impopularidade, e quase quebrou a Petrobras, obrigada a subsidiar preços artificiais.

    A mão pesada do lulopetismo nos preços dos combustíveis é apenas uma amostra da anunciada intenção do novo governo de intervir muito mais na economia. Recorde-se que Lula, ao tomar posse, prometeu mexer nas leis trabalhistas, aumentar gastos sem se preocupar com limites fiscais, interromper as privatizações e colocar o Estado como indutor do crescimento, ressuscitando iniciativas fracassadas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a exigência de conteúdo nacional em áreas como exploração de petróleo e indústria naval.

    Não que se esperasse algo muito diferente do terceiro mandato de Lula. Como bem lembrou Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, em entrevista ao Estadão, Lula “nunca mentiu para ninguém” e o que ele disse no dia da posse “é o que ele vem falando há 40 anos e nos últimos meses”. Mas é incontestável que a retomada dessa agenda já testada e reprovada, cujos efeitos deletérios ainda hoje são sentidos, sobretudo pelos mais pobres, dá pouca margem para otimismo num governo que, mal começou, já disse a que veio.

    1. Miguel José Teixeira

      Este último parágrafo é o testamento da gestão do ex presidiário lula 3.0. Mas, 4 anos passam rápido! E quem virá? A traíra do PanTanal já jogou pelo ralo o legado que conquistou no 1º turno. O Edu Leite é vítima de homofobia. Talvez o Tarcísio de Freitas, se acertar a mão no Governo de São Paulo.

      1. Muita coisa vai rolar. A primeira delas é o governo Lula se acertar na teia que construiu para ficar refém de um monte de coisa periféwrica. Se não arrumar a economia e ouvir este tal de mercado, neca de empregos, investimentos, inflação, dólar e juros baixos. O segundo, é a direita ser liderada por alguém moderado e que possa ser confiável pelos radicais que explodiram a candidatura de Bolsonaro.

        Tem o Zema e o Leite disponível. Morro será um erro. Tarcísio precisa trabalhar bem nestes três anos, o que é pouco, e ainda fazer um sucessor por lá. É um milagre.

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