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A COMUNICAÇÃO DO NOVO GOVERNO DE GASPAR É UMA BIRUTA AO SABOR DOS VELHOS E NOVOS “ÇÁBIOS”. CENTRALIZADA, ELA TRABALHA CONTRA A PROMETIDA TRANSPARÊNCIA À CIDADE PARA ESCONDER O BATE-CABEÇAS DOS QUE TOMARAM O PODER DE PLANTÃO. PARECE TUDO VELHO, POR ENQUANTO

Meu comentário de hoje já estava pronto e foi substituído. Já começou ao fato do momento. Antes, porém, um registro: a foto acima, mostra a visita formal do prefeito de Gaspar, Paulo Norberto Koerich ( ao centro), do vice Rodrigo Boeing Althoff (à direita) à Câmara, representado por seu presidente, Alexsandro Burnier (à esquerda), todos do PL.

A comunicação do “novo” governo gasparense de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, se tornou um problema para os que estão obrigados a serem percebidos como agentes de mudanças, origem dos votos vencedores em outubro do ano passado. Era para ser a redenção. Virou exatamente a antítese, da sempre lembrada e prometida nos discursos, entrevistas e declarações por Paulo, de que, o governo dele se pautaria pela transparência e comunicação. Nem uma, nem outra, por enquanto.

A comunicação está centralizada e censurada. Vou repetir o que já escrevi esta semana: a prefeitura (bicho político) não é delegacia de polícia (bicho matreiro). Voltando. Há recomendações de que os secretários – e outros – não se comuniquem com a cidade, cidadãos e cidadãs por suas redes sociais em coisas relativas as suas funções. Aceitável. E não polemizo. 

Mas, por outro lado, no site da prefeitura, só bobagens e coisas bem miúdas. Nesta quinta-feira um pequeno e muito cuidadoso ensaio. Trato no TRAPICHE. Não há pautas sobre para ao menos, aplacar minimamente, as expectativas criadas. Só frustações. E quem está na prefeitura sabe que a cobra fumando, mas sem cheiro e fumaça, por enquanto.

Como eu sei disso? Por antigas fontes – algumas de décadas – dos que ficaram lá e pertenceram a vários governos. O que eu não sei, até agora, de onde o prefeito Paulo e os seus “çábios”, chegaram à conclusão, em pelo ano 2025 da era cristã do século 21, com a Inteligência Artificial já dominando as nossas vidas, de que vão calar a boca de todos, ao jeito deles e ao Mito da Caverna, de Platão, num ambiente onde os aplicativos de mensagens são instantâneos, tanto para o bem e o mal. Acabou-se o tempo de ser amigo do dono da rádio, tevê ou jornal. Hoje, quase todos os munícipes tem uma ponta desse monopólio. E a maioria que ver isso circulando. E dependendo da confiança mútua, eu me torno também um canal crível.

OPORTUNIDADES PELO RALO

Estão jogado fora o crédito que ganharam nas urnas. E não foi pouco. O ouro logo, mas muito logo, desse jeito, vai virar pó. Quem mesmo orienta, na estratégia e na tática, esta comunicação manca do prefeito Paulo?

Reuniões – e perda de tempo neste caso – são feitas para adiar a divulgação e esconder o que vai se descobrindo. E não é pouca coisa. No meio desse desastre, vi apenas a vereadora Alyne Karla Serafim Nicoletti, PL, furar o bloqueio, mostrando que a incompetência do comunicador e marqueteiro de si próprio, que está percorrendo o estado vendendo lições de administrador vencedor a outros prefeitos, Kleber Edson Wan Dall, MDB, fez Gaspar e os gasparenses, por consequência, perderem quase R$600 mil em verbas federais vindas de emenda parlamentar de Júlia Zanatta, PL.

Alyne repetiu o que escrevi na quarta-feira. Alyne apenas laou a minha alma mais uma vez. Alyne mostrou que não cuidaram da simples papelada do Hospital. E apesar da montanha de dinheiro que se colocou lá, o Hospital está cada vez mais doente. Mas, quase todos que levaram a este quadro de desastre estão mantido pelo atual governo, o de Alyne. E depois eu sou o bocudo.

E o que ainda, e coloco ainda, na esperança de que o quadro mude, se esconde é um arsenal. Entretanto, por enquanto está vencendo gente que está palpitando sugerindo que deverá vir reações terríveis. Credo. Não me digam que querem ou estão todos na mesma balaia, apesar de muitas vezes se ver no atual governo a continuidade do antigo. Para não ir longe nesta divagação, quando perceberem que o silêncio é a aceitação do caótico, não terão mais chances e créditos para indignar a cidade com os erros, neste momente, que não são do atual governo. Contudo, se continuarem nesta batida, serão coniventes e parceiros. Nem mais, nem menos.

Como escrevi, a lista de descoberta é enorme. Tudo abafado, até aqui. Até textos, anunciando essas “descobertas” chegaram a ser feitos. Mas, repousam na burocracia e nos bombeiros do antigo governo que estão entranhados no novo. E fingem mexer em vírgulas prá cá e prá lá para não melindrar quem deveria estar exposto e dando explicações. Kleber, diante disso, está saboreando a bateção de cabeça no governo de Paulo para por tudo às claras. 

OS PREFEITOS DE FATO E SEM VOTOS

Temos dois prefeitos de fato. E sem votos, naturalmente. Por isso, não possuem a titularidade do cargo e da função.

Numa ponta está o chefe de gabinete, Pedro Inácio Bornhausen, PP, – que já foi o chefe de gabinete de Kleber e o chefe de campanha de Paulo. Ele vive colocando panos quentes em tudo e possui à firme convicção de que não se deve expor o ex-governo de Kleber, Luiz Calos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, PP, para não entrar numa guerra de versões. Então, sobra para Paulo – que ele não tinha até então – a fama de que vai botar tudo para debaixo do tapete, e exatamente naquilo que como policial, dizia que não competência fazer por estar fora da sua alçada jurisdicional. Agora, ele possui. E orientado, reluta.

Na outra ponta está a situação mais delicada, mas que precisa ser enfrentada: o vice Rodrigo. Ele arma um governo paralelo e faz disso, uma campanha para ser o secretário de Planejamento Territorial – cargo ainda não nomeado mesmo passando-se dez dias de novo governo. Ou, ao menos, na contenção de danos, ter um dos seus de confiança indicado numa área onde esteve por duas vezes nos governos de Adilson Luiz Schmitt, quando era MDB e hoje está filiado no PL, bem como no PT de Pedro Celso Zuchi. Aliás, na “bolsa de apostas” diária, ontem se especulava o nome Roberto Marcolino Graciano, diretor-geral de Planejamento e Desenvolvimento ao tempo do segundo mandato de Zuchi.

Vamos adiante.

E para complicar, ou mostrar de que tudo é feito para complicar e não para mudar, como sugeriu a maioria esmagadora dos votos de outubro para Paulo, na quarta-feira, à tarde, o vice Rodrigo – que está mapeado para ser o presidente do Republicanos em Gaspar, o apêndice do PL – espalhou o número do seu “whatsapp” especial com a seguinte chamada “O meu whatsapp à sua disposição“. Imediatamente um rebu na própria equipe e no partido, revelando, sem meias palavras o que se passa no seio do governo.

Perguntei ao prefeito Paulo qual teria sido a decisão estratégica que motivou o governo ao lançamento deste canal institucional de comunicação com a sociedade e se a Ouvidoria estaria sendo abolida. Paulo foi seco: “trata-se de um número de uso pessoal, que não tem vinculação coma comunicação da Prefeitura, servido como meio de aproximação do vice-prefeito com a população. O Município segue tendo a Ouvidoria e demais canais oficiais de comunicação“.

Excelente. Das duas uma: ou Rodrigo está em campanha a deputado estadual em 2026 e aí já entrou em conflito com o campeão de votos Alexsandro Burnier, PL, que se sente dono desta vaga, ou está num governo paralelo.

Querem me dizer que sem função Executiva, o vice-prefeito de Gaspar resolveu criar um canal paralelo ao governo que mal consegue se comunicar com a cidade e por isso está se desgastando? Incrível. O que mostra isso, também? Que a comunicação está refém de quem não entende do riscado, ou se entende, está permitindo que o novo governo fique exposto e vulnerável, as inúmeras interpretações do seu entorno. Muitos dos que votaram, estão enxergando a continuidade do pior do que já era ruim. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

A secretária de Educação, a educadora Andreia Simone Zimmermann Nagel, PL, emplacou o primeiro press release do governo de Paulo Norberto Koerich, PL, mostrando o descaso como os caros materiais da secretaria. Eles estavam mal armazenados num depósito no bairro Coloninha, isto sem falar, por exemplo, em produtos de limpeza e higiene com datas vencidas ou prestes a vencer.

O prefeito compareceu burocraticamente naquilo que foi dar na imprensa. Todo esse cuidado deveria ser traduzido com a  seguinte exclamação e afirmação: “vergonha! No meu governo esse tipo de descaso com o dinheiro dos gasparenses não irá acontecer. E vou atrás dos responsáveis de ontem e os que tentarem isso, mesmo por descuido, hoje“. Seria entendido bem melhor interna e externamente, do que aquelas palavras bem postas e cuidadas, apenas para passar a mão na cabeça de gente que brincou de governar com o dinheiro dos outros. Comunicação boa é aquela que não precisa de interprete. Todos entendem.

Entra ano, sai ano; entra governo, sai governo e a pinguela maltratada aqui do Centro se torna manchete de vereadores e da própria prefeitura. A simples reparação dela – por falta de responsável manutenção de gestores públicos e por anos – vai  ser capaz, pasmem, mais uma vez, de se tornar uma grande obra e com muitos pais e padrinhos, Não me digam que este é o sinal de grandes mudanças que se quer passar à cidade, cidadãos e cidadãs. Credo!

A primeira obra registrada pelo prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, no marketing de realizações nas suas redes sociais: a manutenção da placa indicativa da rotatória nas ruas Fernando Krauss e Frei Solano. Hum!

Uma reclamação que percorreu a cidade nos últimos dias foi a falta de recolha do lixo pela Saays Ambiental. Mas, este não é o problema real, prometido para se resolvido. Esta foto (ao lado) é aqui Centro da Capital Nacional da Moda Infantil – e no nos bairros, a situação está pior. Constata-se, por ela, como esses containers estão estropiados. E faz tempo. Além da regularização da coleta, é preciso que a nova administração exija a troca deles. 

Alô Samae. Alô Cícero Giovani Amaro, PL, atual diretor-presidente da autarquia, ex-vereador e tão cioso nestas questões. Containers abertos aceleram a deterioração do lixo orgânico, aumenta-se o fedor, bem como a proliferação de insetos, inclusive os da dengue. Além disso, estão quase todos sem rodados, o que dificulta a manobra do coletor e provoca-se a sobra de lixo nos locais de armazenamento.

Vereador mostrando serviço, quer, demagogicamente, à volta das flores [plásticas] nos cemitérios de Gaspar. Sobre a alta taxa cobrada dos vivos para manterem seus mortos lá, que tanto combateu ao tempo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, nada. O vereador devia pedir apenas à aplicação da nota técnica da Dive – Vigilância Sanitária – de Santa Catarina 013/201/DIVE/SES e o Decreto 18.024 de 26 de outubro de 2020. Está tudo lá. Não precisa inventar moda. Bota os assessores do gabinete e da Câmara, bem pagos, trabalharem.

Incrível. Vereadores reeleitos da base do ex-governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, fingem que nem de longe um era a calça (prefeito) e o outro (vereador) a cueca. Estão espalhando vídeos por aí mostrando as mazelas do passado, como se eles não fossem parte delas. E mais, dizem que pularam de lado e por isso, o novo governo já lhes deu carta branca nas soluções. Cruzes!

O governo de Gaspar está sem dinheiro no minguado Orçamento de R$510 milhões que nem se corrigiu pela inflação para este ano de 2025. Então esperem o que aguarda para ele quando a Câmara voltar a trabalhar em fevereiro.

A Agapa – Associação Gasparense de Amparo e Proteção ao Animais – anunciou que deixou a parceria de sete anos na campanha que fazia com o Rotary no projeto “Mãos para o futuro”. Consistia no recolhimento de tampinhas de garrafas PET. Ela alega que eram seus voluntários que arrecadavam a maior parte do material e na divisão dos lucros, ficava apenas com 30%. O Rotary, por sua vez, diz que o projeto vai continuar, mas com foco em causas humanitárias.

A revolução. Mas, não em Gaspar. Menos, Paulo Flores. O comunicador da rádio 90 FM, repercutiu o fim da Área Azul para estacionamento público em Gaspar ainda na base do papelinho, apontador (mão-de-obra cara e escassa) e caneta. No vídeo que fez, Paulo sugeriu uma revolução neste assunto por aqui. Revolução? O estacionamento por aplicativo? Afinal estamos no mundo digital.

Este modo papelinho e jeitinho de Gaspar só mostra o atraso em que a administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, nos meteu. Não precisamos de revolução, apenas de atualização. Lá em 2006 o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, já queria o parquímitro. Foi vencido primeiro pela burocracia, segundo porque estava em defesa do seu mandato que a oposição lhe queria e finalmente, porque quando passou o governo para Pedro Celso Zuchi, ao atraso peculiar do PT, voltou o papelinho. E 20 anos depois estamos falando de “revolução” para derrubar o papelinho na volta, e quando voltar, a Área Azul. Muda, Gaspar!

O governador Jorginho Melo, PL, vira e mexe está sendo vaiado em público. E se virar moda… Sempre escrevi: vai ser o pior governador de Santa Catarina. Se não for, dois anos já se foram. Então, Perguntar não ofende: qual é mesmo o legado que ele já construiu ou está prestes a ser conhecido e reconhecido para enfrentar as eleições de 2026? As vaias dizem muito sobre isso. Seus filhos, os que vivem na sombra, estão desmentindo que o pai está sendo vaiado como governador e político que é. Terão trabalho.

Santa Catarina ganhou quatro UBS – Unidade Básica de Saúde. Duas para o Vale do Itajaí: Blumenau e Indaial. É claro que isso não nasce do dia poara a noite. Antes é preciso projetos. O que faltou a Gaspar tão carente nesta área? Projeto. E quem devia ter lutado por isso? Os oito anos de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, mabos do PP. Muda, Gaspar!

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11 comentários em “A COMUNICAÇÃO DO NOVO GOVERNO DE GASPAR É UMA BIRUTA AO SABOR DOS VELHOS E NOVOS “ÇÁBIOS”. CENTRALIZADA, ELA TRABALHA CONTRA A PROMETIDA TRANSPARÊNCIA À CIDADE PARA ESCONDER O BATE-CABEÇAS DOS QUE TOMARAM O PODER DE PLANTÃO. PARECE TUDO VELHO, POR ENQUANTO”

  1. Uma aula para entender esse setor de transporte público na mobilidade urbana das cidades – grandes e pequenas.

    EDUARDO PAES CONTRA A MÁFIA, por Elio Gaspari nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    O ano começou com uma grande notícia. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, atacou o cartel dos transportes públicos da cidade:

    — Estamos enfrentando uma turma que é uma máfia. (…) Mafiosos que fazem essa caixa-preta há muito tempo no Rio. Eles não vão nos deter. Vamos dar transparência a esse sistema e pagar um preço justo.

    Na raiz da zanga do prefeito está sua tentativa de integração dos transportes com um novo sistema de bilhetagem. No quarto mandato, Paes conhece de cor e salteado as operações do que agora, felizmente, chama de máfia.

    Revisitar as proezas desse cartel é um passeio pela ruína da política e dos serviços públicos da cidade.

    Em 2004, a prefeita Marta Suplicy instituiu o Bilhete Único em São Paulo. Incomodou as empresas e os transportes que defendiam seus interesses. No Rio, fez-se de conta que a inovação era coisa de outra galáxia. Só em 2007 a Fetranspor, alma do cartel, criou um pastel de vento chamado RioCard Expresso, sem desconto.

    O Rio só instituiu o Bilhete Único em 2010. Custava mais caro que o de São Paulo e tinha serventia menor. A Assembleia Legislativa criou uma CPI para abrir a caixa-preta da Fetranspor. Acabou em CPIzza.

    Governadores, prefeitos e transportecas empulhavam a população com BRTs e promessas, enquanto tudo continuava na mesma nos domínios do cartel.

    Em 2017, a Polícia Federal entrou no circuito e prendeu um pedaço daquilo que Eduardo Paes agora chama de máfia. Foram presos o empresário Jacob Barata Filho, o Rei dos Ônibus, e seu grão-vizir, Lélis Marcos Teixeira, presidente da Fetranspor. Disso resultou a exposição de uma rede de propinas que ia dos gabinetes dos governadores Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral à Assembleia, passando pela Secretaria do Transportes e pelo Tribunal de Contas. O Magnífico Cabral teria recebido R$ 144,7 milhões da Fetranspor entre 2010 e 2016. A investigação alcançou Rodrigo Bethlem, ex-secretário Especial da Ordem Pública do prefeito Eduardo Paes.

    Vale lembrar um trecho do relatório do Ministério Público, de novembro de 2017, referindo-se a Jorge Picciani e Paulo Melo, ex-presidentes da Assembleia:

    “Essas planilhas dizem para nós que, no período de 15 de julho de 2010 a 14 de julho de 2015, foram pagos da conta da Fetranspor para Picciani R$ 58,6 milhões, e para Paulo Melo R$ 54,3 milhões. Desse dinheiro, parte foi paga a mando de Sérgio Cabral.”

    O dinheiro das empresas de ônibus tem uma virtude rara, pois não deixa rastro. O cidadão paga sua passagem, a empresa recolhe, ensaca as notas e as remete ao amigo. Tudo longe do faro do Coaf ou do Banco Central.

    Todas essas acusações poderiam ser coisa de jornalistas irresponsáveis, procuradores vingativos ou políticos malvados, até que em 2019, o doutor Lélis Teixeira resolveu falar.

    Os repórteres Aguirre Talento e Luiz Ernesto Magalhães revelaram que, com a autoridade de ex-presidente da Fetranspor, Lélis prestou uma colaboração que rendeu 25 anexos. Detonou empresários, políticos, servidores e magistrados. Pela sua conta, em dez anos o cartel aspergiu R$ 120 milhões para pelo menos 30 afortunadas autoridades. Secretários recebiam mesadas de até R$ 200 mil.

    Segundo Lélis, a Fetranspor investiu R$ 40 milhões na campanha de 2012 de Eduardo Paes. Ele respondeu afirmando que todas as suas contas de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e lamentava ter que responder a acusações sem conhecer seu teor.

    UMA SUPERAUDITORIA PARA OS TRANSPORTES

    Um novo sistema de bilhetagem para os transportes do Rio pode encerrar décadas de domínio daquilo que o prefeito Eduardo Paes chamou de máfia. Pelo sistema atual, as empresas de ônibus recebem subsídios públicos a partir de vagos relatórios de transporte de passageiros. Há décadas esse sistema é conhecido como “caixa-preta”.

    Comprovadamente, a Fetranspor foi uma usina de jababaculês. A leitura do que se sabe desanima.

    O jornalista Franklin Martins pôs na rede o lundu “Estamos no século das luzes”, de 1857, quando se cantava no Rio:

    “Os transportes são imensos / Quer por terra, quer por mar / (…) Hoje tudo são progressos / Da famosa padroeira”.

    Nascida em 1955, a Fetranspor resistiu a governadores, prefeitos (inclusive três mandatos de Eduardo Paes), CPIzzas, decisões judiciais e inúmeras operações policiais. O resultado desse domínio pode ser avaliado todos os dias nas ruas do Rio.

    A Fetranspor é um dos cumes de um sistema corrupto, mas não é sua base. A adoção de um novo sistema de bilhetagem depende de muitos fatores, inclusive uma articulação com o governo do Estado, onde está o doutor Cláudio Castro.

    O Rio de Janeiro vive uma situação semelhante à de Nova York no final do século XIX. Lá, empresários e juízes se articularam contra a famosa ladroeira e conseguiram alguns resultados.

    Conhecido o passado, o prefeito Eduardo Paes poderia nomear uma comissão composta por empresários e engenheiros sem vínculo com o governo, para avaliar os contratos de transportes públicos do Rio. Ela examinaria os acertos vigentes e os já assinados, bem como as planilhas do Riocard, voraz filhote da Fetranspor. A comissão poderia ser presidida por um ex-ministro (ou ministra) do Supremo Tribunal.

    Em poucas semanas essa comissão fecharia os buracos por onde a máfia se enfiou e também aqueles por onde poderá voltar a se enfiar.

    GALEÃO

    Houve dias em que os passageiros de voos internacionais do aeroporto do Galeão ralaram mais de uma hora nas filas do check-in e da verificação de passaportes.

    São muitos os aeroportos onde rala-se no desembarque. Ralar para embarcar é jabuticaba.

    OS ADVOGADOS DO BOLSONARISMO

    Jair Bolsonaro resolveu passar a coordenação de sua defesa para o criminalista Celso Vilardi. Para quem já teve como advogado o expansivo Frederick Wassef, foi um grande passo.

    Bolsonaro seguiu o exemplo do general da reserva Walter Braga Netto, que contratou o advogado José Luis de Oliveira Lima, defensor do ex-ministro José Dirceu.

    Bolsonaro e Braga Netto perceberam a gravidade de suas situações e foram atrás de profissionais.

    Braga Netto é uma pessoa contida. Bolsonaro é explosivo e mandão.

    Para ele, ouvir Vilardi será um exercício inédito de disciplina.

    COP 30 SEM CALADO

    O governo federal e o do Pará desistiram do projeto de dragagem do porto de Belém. Se a obra fosse adiante, grandes navios poderiam atracar nele, hospedando parte das 40 mil pessoas esperadas para a COP 30. Belém não tem rede hoteleira para tamanha demanda.

    Sem a dragagem do porto, transatlânticos poderão atracar no terminal hidroviário de Outeiro, a 35 quilômetros da cidade. Ele está em obras.

    Para as pessoas que irão a Belém, faltam 11 meses para a abertura da COP 30.

  2. OS DONOS DA VERDADE, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    “No Brasil, até o passado é incerto”, definiu o economista Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do Plano Real e um pensador do país dos mais consistentes. Mais incerto ainda porque, como já disse o grande escritor George Orwell, “a história é escrita pelos vencedores”. Com o advento da internet, as fake news substituíram com vigor insuperável os boatos, que já tiveram seu papel na nossa história, como a acusação de que o brigadeiro Eduardo Gomes teria desprezado os votos dos “marmiteiros” na eleição presidencial de 1945 contra Eurico Gaspar Dutra, que acabou vencendo por larga margem.

    O uso das redes sociais nas campanhas políticas, agravado agora pela Inteligência Artificial (IA) está em discussão há algum tempo no mundo, e agora mais do que nunca com a decisão de Mark Zuckberg de retirar de suas plataformas digitais (Facebook, Instagram, WhatsApp) as checagens sobre a veracidade do que é publicado. A vontade de distorcer os fatos dos vencedores do momento em benefício próprio não é novidade. Em 1924, após a morte de Lênin, principal líder da Revolução Bolchevique de 1917, Leon Trotsky e Josef Stalin passaram a dividir a influência sobre o partido comunista que, na prática, governava a União Soviética.

    Depois de intensa disputa interna, em 1925 Stalin assumiu o poder e tratou de eliminar a memória do rival. Fotos em que Trotsky aparecia foram simplesmente destruídas, ou sua imagem foi apagada pelos parcos recursos da época. Hoje, na era da pós verdade iniciada por Trump, as versões oficiais não passam de narrativas, isto é, criações de marqueteiros que levam a História para o lado que lhes convém. No Brasil, a situação é mais grave, pois os vencedores de hoje são os perdedores de amanhã numa velocidade alarmante.

    Lula, por exemplo, foi julgado e condenado por corrupção, no processo conhecido como do “petrolão”, sobre o esquema de corrupção da Petrobras classificado pelo ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes de “cleptocracia”. O juiz Sérgio Moro, hoje senador, foi por anos a fio um herói nacional, e teve a respalda-lo as decisões do TRF da região e o próprio STF. O mesmo tribunal que, a partir 2019, mudou seu entendimento depois que foram reveladas conversas entre Moro e os procuradores de Curitiba que desvendaram um indevido conluio entre as partes.

    Nesse intervalo, Bolsonaro venceu uma eleição presidencial e governou desastrosamente o país por quatro longos anos, culminados na descoberta de uma tentativa de golpe de estado para impedir, justamente, a volta ao poder de Lula, em 2022. Nesse período, a história brasileira passou por revisões próprias “dos vencedores”. Bolsonaro governou afirmando que nunca houve golpe militar no Brasil, elogiou os torturadores como patriotas, tentou mudar, através de legislações ou de decisões pessoais os avanços sociais que o Brasil conquistara, como casamento homoafetivos, direito a aborto legal, liberdade de expressão.

    Os petistas, por sua vez, tentam até hoje passar à História a balela de que Lula foi absolvido pela Justiça, quando seus processos foram simplesmente arquivados ou prescreveram. Semana passada, o hoje presidente assumiu o controle da historia nos seus domínios provisórios, no Palácio do Planalto, querendo reescrevê-la do seu ponto de vista. Na galeria de fotos dos presidentes, orientou para que as legendas “contassem a historia”. E o que Lula pensa que é verdade? “A Dilma [Rousseff] foi eleita, foi reeleita e depois sofreu um impeachment por um golpe. Depois esse aqui [Michel Temer] não foi eleito, tomou posse em função do impeachment da Dilma, e depois esse aqui [Jair Bolsonaro] foi eleito em função das mentiras. É isso que tem que colocar”. Quanto a Getúlio Vargas, nunca foi ditador, na visão histórica de Lula.

  3. ESTOURO DA META DE INFLAÇÃO TEM DIGITAIS DE LULA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Com alta de 0,52% em dezembro, o IPCA, índice de preços ao consumidor usado como referência para a política de juros do Banco Central, encerrou o ano passado em 4,83%, acima do topo do intervalo de 1,5 ponto percentual ao redor da meta de inflação de 3%.

    Desde o advento do regime de metas, em 1999, é a oitava vez que a variação dos preços supera os limites definidos para a política monetária —o que deveria desmentir as teses conspiratórias de que o BC impõe juros desnecessariamente altos ao país.

    Embora a inflação de 2024 tenha sido apenas um pouco maior que a do ano anterior (4,62%), a dinâmica recente é mais preocupante —com pressões generalizadas, notadamente no segmento de serviços, que tem característica mais estrutural e de difícil combate, normalmente exigindo aperto para conter a demanda e desaquecer a economia.

    Em carta aberta ao ministro da Fazenda divulgada na sexta (10), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, explicou os motivos do estouro e as medidas para trazer o IPCA de volta à meta.

    As razões principais são a inflação importada (o que inclui a desvalorização do real), o aumento das expectativas para os preços, a inércia carregada para o ano advinda das pressões que remanesceram de 2023 e a força da atividade econômica além da capacidade produtiva.

    Fica claro, pela análise, o peso da alta da cotação do dólar, de 24,5% na comparação entre as médias de dezembro de 2024 e de 2023, que contribuiu com 1,21 ponto percentual do desvio da inflação, mas atenuado pela queda do petróleo no exterior.

    A carta aponta que há fatores domésticos para a desvalorização da moeda nacional, notadamente a piora da percepção do risco fiscal —advinda da irresponsabilidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que insiste na expansão contínua e insustentável de gastos públicos.

    O impacto para a população em seu dia a dia é evidente, quando se considera que alimentos no domicílio ficaram 8,22% mais caros no ano passado, em parte por causa do aumento de 13,5% nos preços das commodities agrícolas e de 9,7% no da gasolina.

    Por certo há efeitos externos que levam à valorização do dólar, mas não foi por acaso que o real foi a moeda que mais se desvalorizou entre os principais países no ano passado, como destacado sem meias palavras pelo BC. Fica desmontada a tese do Planalto de que tudo não teria passado de um ataque especulativo contra o real em dezembro.

    Infelizmente, a esta altura não é fácil retomar as rédeas da normalidade monetária. A taxa Selic, do BC, já está em 12,25% anuais e deve subir no mínimo mais 2 pontos percentuais até março, segundo o Comitê de Política Monetária (Copom).

    Parece inevitável um impacto danoso na atividade e no emprego, o que seria desnecessário se houvesse maior prudência por parte da administração petista.

  4. O PÊNDULO DE BAUMAN, por Fernando Schüler, na revista Veja

    O prefeito Sebastião Melo, de Porto Alegre, resolveu tocar na ferida da nossa época e defender a liberdade de expressão em seu discurso de posse. Se alguém quiser defender uma ditadura, de que lado for, deveria ter seu direito garantido. Não defendeu nenhuma ditadura. Sugeriu apenas que isso deveria ser um direito. Monarquistas poderiam defender o império; petistas, o chavismo ou o castrismo; trabalhistas, o regime Vargas; direitistas, o regime dos generais. Tudo como sempre aconteceu no Brasil, país onde, como um dia me comentou uma professora americana, “cada lado tem sua ditadura favorita”. Pois bem: o prefeito foi denunciado ao Ministério Público. Na visão dessas pessoas, seria um crime não apenas defender uma ditadura, mas simplesmente defender o direito mais amplo à liberdade de expressão. A coisa toda é bizarra, mas revela um traço cultural incrivelmente autoritário que se espalhou em nossa sociedade. O fenômeno não é restrito à política. Na Bahia, a cantora Claudia Leitte também será investigada por ter trocado o nome de uma divindade em uma música. “Voltamos ao século XVII”, me comentou um conhecido, quando viu aquilo. “Não”, retruquei, “voltamos a 1986, quando o Estado censurou Je Vous Salue, Marie, de Godard, por ofender valores da fé cristã”. Se a moda pegar, logo teremos o Estado revisando músicas, filmes e tirinhas de humor, e quem sabe até conversas de Whats­App para ver se algum artigo de fé está sendo ofendido. Completo nonsense. Mas está aí. Para um tipo como eu, que acha que o mundo anda para a frente, não deixa de ser uma decepção.

    Os exemplos são bizarros, mas servem para mostrar a maluquice autoritária que foi tomando conta do país. Boa parte da obsessão pela censura vem da esquerda, que está no poder e tem amplo controle dos meios de opinião. Mas também de uma parte não desprezível da “direita”, que ainda há pouco esteve à frente dos quartéis, pedindo intervenção militar. Como disse uma vez o mestre Sérgio Buarque, a democracia, no Brasil, sempre foi “um lamentável mal-entendido”. O contexto da frase era outro, mas a ideia se aplica à perfeição no Brasil atual. Fizemos uma boa transição para a democracia, nos anos 1980, mas nem de longe fixamos uma cultura liberal, fundada em direitos, na base da sociedade. Vem daí nosso drama com a liberdade de expressão. Ainda não aprendemos a diferença entre “defender uma ditadura e defender o direito a defender uma ditadura”. Isso e coisas bem mais complicadas, como apoiar o fim da imunidade parlamentar ou a onda de censura prévia que corre solta.

    O Brasil pode estar se transformando em parque temático de velhas ideias. Na expressão de Niall Ferguson, assistimos, nos últimos tempos, a uma “mudança da vibe global”. Na geopolítica, surge um mundo sob a batuta de Trump, onde Justin Trudeau sai de cena e os conservadores estão prestes a voltar ao poder na Alemanha. No plano cultural, as pesquisas indicam o recuo da onda woke e a volta ao “modo dos fundadores” nas empresas, e não mais do mandonismo dos “comitês de diversidade”. Na última semana, tivemos mais um fato marcante da virada global: a fala de Mark Zuckerberg dizendo que é preciso “retornar às raízes da liberdade de expressão”. Musk vinha liderando essa posição no mundo das big techs, Jeff Bezos já havia enfrentado a tropa militante, vetando o apoio do Washington Post a Kamala Harris e fazendo uma dura defesa do jornalismo imparcial. E agora temos Zuckerberg. Seu ponto: a onda censória foi longe demais. Inclusive na América Latina, com tribunais secretos que podem “ordenar, de forma silenciosa, a remoção de conteúdos por empresas”. Alguém desconfia sobre o que ele está falando?

    Zuckerberg diz que os checadores de fatos são tendenciosos e que sistemas complexos de controle cometem erros. Algo do tipo: em outubro de 2020, um ativista progressista na Califórnia, encastelado na área de moderação do Facebook, achou que estava protegendo a verdade e a democracia ao esconder as revelações comprometedoras do laptop de Hunter Biden, filho do presidente eleito. Só que não estava. Ele apenas protegia a mentira em nome de sua predileção ideológica. Precisamente o que Zuckerberg, gentil, chama de “erro”. Em nome das boas razões, terminamos na sarjeta de sempre: a censura, em regra, política. Isso cala fundo na tradição moderna. Foi o que o poeta John Milton escreveu ao Parlamento inglês, há 380 anos, em sua Areopagítica, pedindo o fim da censura a livros. Se todo sistema de controle de informação é falho, o segredo é escolher o menos imperfeito: um sistema descentralizado, sujeito a muitas vozes, que incorpore a visão plural da sociedade, como são as “notas da comunidade”. Isso, em vez da lógica centralizada das agências e departamentos.

    Zuckerberg disse algo simples: a regulação digital deve focar temas como a proteção de crianças, o combate às drogas e ao terrorismo. E não a censura política ou cultural. Na “proteção” desta ou daquela posição ideológica, divindade ou visão sobre comportamento, sexualidade e valores. Isso pelo simples fato de que o mundo é diverso, ainda que incomode muita gente. O comunicado provocou uma espécie de surto na militância. Uma das pérolas que li dizia que Zuckerberg havia declarado “guerra contra o mundo”. Bingo. É perfeito ato falho psicanalítico. Por muito tempo, parece que essas pessoas realmente imaginaram que eram (ou representavam) “o mundo”. Agora descobrem o óbvio: elas não são. São pessoas de índole autoritária que se acostumaram a ocupar o centro do picadeiro. Se acostumaram com os jornais apoiando seus candidatos; com as redes censurando os adversários, com sua versão de mundo ensinada nos livros didáticos. Agora precisam dividir os brinquedos.

    Muita gente debitou a fala de Zuckerberg à eleição de Trump. Faz sentido. Desconfio apenas que ele está menos de olho em Trump do que nas razões que o levaram ao poder. Razões que andam na cabeça das pessoas. Do cansaço dos governos que custam muito, funcionam mal e querem regular o modo de pensar das pessoas. Tudo me faz lembrar da visita que fiz a Zygmunt Bauman, coisa de uma década e tanto atrás, em sua casa de Leeds, na Inglaterra. Em algum momento, ele nos lembrou da dicotomia posta por Freud, em O Mal-Estar na Civilização, entre liberdade e segurança. Não havia equilíbrio perfeito entre os dois valores, disse ele, mas desconfiava que o pêndulo havia corrido demais na direção da liberdade. E que logo as pessoas clamariam pelo controle. Foi o que se viu na década seguinte. O apogeu da onda woke, a histeria em torno da regulação das redes e tudo o que sabemos. Muita gente sugere que esse tempo se esgotou. O pêndulo do velho professor Bauman estaria de novo se movendo. Desta feita, voltando à liberdade.

  5. A cara de um governo que conseguiu reanimar a indústria do chapéu Panamá, ou seja, dos senhores donos de mão de obra barata, ignorando o mundo reagindo e evoluindo

    INCERTEZAS REAIS, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Eis um assunto diário: as incertezas em relação a juros altos, dólar caro e inflação subindo. Pode parecer que se trata de um problema restrito ao mercado financeiro. Mas como isso se manifesta na vida das empresas e das pessoas?

    Eis alguns casos.

    Imaginem uma empresa que vende produtos importados — carros, eletrônicos etc. — e precisa repor os estoques. Essa empresa tem de fechar os contratos de importação, em dólares. É melhor fechar o câmbio agora, temendo alta maior da moeda americana? Ou esperar um pouco, na expectativa de que a cotação se acomode num nível mais baixo?

    Tem também a situação das empresas que produzem para o mercado local, mas dependem de insumos e máquinas importadas. Mesmo problema: fechar o câmbio em qual cotação? E outro: como repassar o aumento do dólar para as mercadorias produzidas e vendidas aqui?

    Se repassar todo o custo do dólar, pode ficar com seus produtos a preços não competitivos. Se não repassar, reduz suas margens de lucro.

    Eis por que essa empresa, por corte de custos, pode optar por uma redução na sua produção, entendendo ainda que haverá mesmo uma queda do consumo e da atividade econômica. Isso aponta para uma recessão.

    Por outro lado, muitas empresas, como a Petrobras, têm dívidas em dólar, que se tornam mais caras em reais. Logo, em algum momento, precisam elevar seus preços locais, e assim juntar os reais necessários à compra de dólares para pagar aos credores.

    Aliás, com esse dólar, em algum momento terão de subir os preços de gasolina e diesel — a menos que a Petrobras seja levada a assumir prejuízos, como já aconteceu no passado. E isso elevará a dívida da companhia — uma péssima escolha.

    Fica evidente que o dólar caro eleva a inflação por diversos caminhos. O Brasil importa muito, e as importações cresceram no ano passado, com a economia aquecida.

    Na sequência da inflação em alta, aparece de novo o problema do repasse de preços. A empresa produtora paga mais caro pelos seus insumos e precisa calcular quanto pode repassar para seus preços sem perder competitividade.

    Além disso, a formação de preço depende da expectativa de inflação. O produto que começa a ser fabricado hoje chegará ao mercado dentro de algum tempo. Qual será a inflação?

    Por isso mesmo as expectativas são importantes. Se é esperada uma inflação maior, marca-se preço maior.

    Finalmente, os juros e o custo da dívida.

    Números do Valor Data, publicados pelo jornal Valor Econômico no último dia 6, mostram que, das cem maiores empresas em receita, nada menos que 23 estão com indicadores de dívida elevados, além dos limites prudenciais.

    Analistas observam que empresas muito endividadas podem ter de reestruturar suas dívidas quando a taxa Selic passa dos 12% — e isso acaba de acontecer. Já está anunciado que a taxa vai a 14,25% em março, podendo alcançar 15% ao longo do ano.

    O peso do endividamento aparece também nas médias e pequenas empresas. Todas sofrerão os impactos da alta de juros — já em curso —, o que necessariamente leva à redução do nível de atividade.

    Quando as empresas gastam mais dinheiro com os juros, sobra menos para novos negócios, novos empregos e mesmo para a manutenção do atual quadro de pessoal.

    Juros elevados também trazem incertezas para investimentos de longo prazo. Considerem uma empresa que disputará a concessão de uma rodovia — há muitos leilões previstos para este ano. São investimentos pesados, que exigem modelos complexos de financiamento, negócios de 20, 30 anos.

    Nesses cálculos entram todos os fatores atuais de incerteza. Qual a taxa de juros? E o dólar, considerando que haverá importações de insumos e equipamentos para as obras? E, finalmente, como calcular o valor dos pedágios e sua correção ao longo do contrato? A inflação vai para a meta de 3% ao ano, objetivo do BC, ou a autoridade monetária tolerará taxas maiores por um certo tempo?

    Tudo isso vale para qualquer investimento, de obras de infraestrutura a uma fábrica de chocolates, por exemplo.

    Qual a mãe de todas as incertezas? O crescimento da dívida do governo. Logo, não há outra saída sem um novo corte de gastos maior e mais crível.

  6. Um artigo, simples e belo ao mesmo tempo. A democracia inabalável é uma farsa apropriada indevidamente pela esquerda do atraso como propaganda, quando ela própria não a pratica e mais do que isso, é avalista de ditaduras no mesmo dia da marquetagem de araque. Ainda bem que ficou esvaziada de tão falsa que era.

    DE QUE DEMOCRACIA FALAMOS? por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo

    É difícil compreender o que quis dizer o presidente da República em sua nova estratégia de comunicação ao patrocinar um ato estreito na praça dos Três Poderes para marcar a passagem dos idos de 8 de janeiro de 2023.

    Bandeiras vermelhas, convocação dos movimentos da base social do governo, um abraço na democracia escrita em flores, com as ausências significativas dos que não foram à cerimônia de pouco antes no palácio e outros que lá estavam, mas não desceram a rampa porque o ritual tinha um lado marcado.

    Era uma festa da esquerda, assim foi dito e assim foi feito numa apropriação indevida do que ali deveria se assinalar: a celebração da resistência democrático/institucional, valor pertencente a todos os brasileiros.

    Quase a totalidade (86%) havia acabado de registrar em pesquisa do instituto Quaest seu repúdio ao motim, guiados não por preferências ideológicas e/ou eleitorais, mas pela consciência de ser esse o regime garantidor da legalidade. Dos eleitores de Jair Bolsonaro em 2022, 85% condenaram, o que já os inclui entre os que não querem ver repetidos episódios de sedição.

    Essas pessoas se identificam como de direita. Residentes, portanto, dentro do campo ideológico compartilhado com gente de centro, de esquerda e demais matizes existentes na seara das liberdades políticas.

    Quando são excluídas, jogadas na vala do fascismo sem que lhes seja permitida a nuance de opinião a separá-las dos selvagens instrumentalizados por um déspota pouco esclarecido, é de se perguntar do que falamos quando nos postamos na defesa inamovível do Estado de Direito.

    A que democracia se refere o PT, partido no poder, que regeu o ato desta terça-feira e três dias depois se fez representar por quatro correligionários na fraudulenta posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro? Acata um conceito absoluto ou se rende a uma noção relativista adaptada ao sabor das simpatias?

    A questão é um dos itens que requer resposta em nome da saúde da pretendida melhoria do diálogo do governo com a sociedade. Sejam seus cidadãos de que partido forem.

  7. A NECESSIDADE DE UM ALMOXARIFADO E UM SISTEMA DE GESTÃO EFICAZ: O CASO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE GASPAR, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral do município de Gaspar (2005/08) e graduado em Gestão Pública, pela Udesc

    INTRODUÇÃO
    A gestão eficiente de materiais é um componente essencial para garantir o funcionamento pleno das instituições públicas. No caso da Secretaria de Educação de Gaspar, a recente vistoria no depósito evidenciou problemas como armazenamento inadequado e desperdício de materiais. Esses desafios não apenas comprometem os recursos financeiros, mas também dificultam a transparência e a eficiência operacional, destacando a urgência de estabelecer um almoxarifado estruturado e um sistema de gestão eficaz.

    POR QUE UM ALMOXARIFADO É ESSENCIAL?
    Um almoxarifado é mais do que um local para armazenar materiais; ele é o centro logístico que conecta os processos de aquisição às necessidades das unidades administrativas. Conforme se depreende do setor privado o almoxarifado não é apenas um depósito, mas um componente estratégico da cadeia de suprimentos, cuja eficiência impacta diretamente na qualidade dos produtos e serviços oferecidos.

    BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM ALMOXARIFADO ESTRUTURADO:
    1. Organização Física:
    Separação adequada dos materiais por categorias, como químicos, escolares e produtos de limpeza, reduz danos e facilita o acesso.
    Utilização de prateleiras e etiquetas para otimizar o espaço e garantir a identificação imediata dos itens.

    2. Preservação de Recursos:
    Armazenagem correta protege os materiais contra perdas causadas por condições inadequadas, como umidade ou contaminação.

    3. Rapidez no Atendimento:
    A organização permite que as solicitações sejam atendidas de forma ágil, reduzindo o tempo gasto para localizar e distribuir materiais.

    A IMPORTÂNCIA DE UM SISTEMA DE GESTÃO EFICAZ
    Apenas a estruturação física não é suficiente; é necessário um sistema informatizado que centralize as informações sobre os estoques, posto que um sistema de gestão é o núcleo da eficiência em almoxarifado, permitindo o controle em tempo real e o planejamento baseado em dados.

    MELHORIAS E GANHOS COM A IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO
    1. Controle de Estoques:
    Registro automático de entradas, saídas e prazos de validade evita desperdícios e compras duplicadas.
    Notificações sobre materiais próximos ao vencimento garantem o uso prioritário e a redistribuição eficiente.

    2. Planejamento de Compras:
    Com base em históricos de consumo, o sistema permite aquisições planejadas, reduzindo custos e otimizando recursos financeiros.

    3. Transparência:
    Relatórios detalhados, gerados automaticamente, facilitam auditorias e reforçam a confiança da população na gestão pública.

    4. Integração com Outras Áreas:
    Um sistema informatizado pode ser integrado com setores de compras e finanças, promovendo uma gestão integrada e eficiente.

    VANTAGENS DE UM ALMOXARIFADO E SISTEMA DE GESTÃO EFICAZ
    1. Redução de Desperdícios:

    A implantação de inventários regulares e sistemas de controle informatizados pode reduzir em até 90% as perdas por vencimento ou danos de materiais conforme aponta a literatura especializada.
    2. Economia Financeira:
    Um sistema de gestão permite o planejamento de compras, evitando aquisições emergenciais e possibilitando negociações mais vantajosas. Doutrinadores apontam que o planejamento centralizado gera economias de até 15% nos custos de aquisição.

    3. Eficiência Operacional:
    A organização física e o controle informatizado reduzem o tempo de atendimento às requisições, liberando os servidores para atividades mais estratégicas.

    4. Transparência e Prestação de Contas:

    Relatórios claros e acessíveis reforçam a credibilidade da gestão pública, promovendo maior confiança da população.

    DESVANTAGENS DA AUSÊNCIA DE ALMOXARIFADO E SISTEMA DE GESTÃO
    1. Desperdício de Recursos:
    Depósitos desorganizados levam a perdas frequentes de materiais por vencimento ou danos, comprometendo o orçamento público.

    2. Atrasos no Atendimento:
    A falta de organização e controle causa demoras significativas na localização de materiais, impactando negativamente o planejamento escolar.

    3. Falta de Transparência:
    Sem relatórios detalhados, a gestão fica vulnerável a questionamentos e desconfiança da população e dos órgãos de controle.

    4. Impacto na Confiança Pública:
    A ausência de estrutura e controle sistemático reforça a percepção de má administração, especialmente em contextos onde a transparência era negligenciada em gestões anteriores.

    CONCLUSÃO: A Necessidade de Transformação
    A experiência recente na Secretaria de Educação de Gaspar demonstra que depósitos desorganizados e sem controle não atendem às demandas de uma administração pública moderna. A criação de um almoxarifado estruturado, aliado a um sistema de gestão eficaz, não é apenas uma solução técnica, mas uma transformação cultural e administrativa.

    Conforme aponta o TCE/SC “a gestão de materiais no setor público é um reflexo direto da responsabilidade e do compromisso com o uso eficiente dos recursos”. A implementação dessas mudanças não apenas resolverá os problemas atuais, mas também posicionará Gaspar como referência em gestão pública, inspirando melhorias em outras áreas do governo municipal.

  8. Ao comentários de Aurélio Marcos de Souza. Fiz e fui submetido a múltiplos inventários (desde os 16 anos) de almoxarifado na minha vida. É impressionante, como isso, em tempos digitais, leitores de QRCode, chip, códigos de barra etc e tal, na gestão pública é matéria morta. E contra os cofres e o cidadão burro de carga que os enche de pesados e cada vez mais altos impostos

  9. Alô Paulo Norberto Koerich e seus novos “çábios” importados de um velho tempo ultrapassado na comunicação e imagem de administrador público

    SIDÔNIO JÁ SABE QUE O POVO “NÃO COME PIB”, por Andrea Jubé, no jornal Valor Econômico

    O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, admitiu a interlocutores que, para além de sua área, o governo tem mais e maiores problemas a serem enfrentados na longa jornada até as urnas em 2026. Ele sabe, por exemplo, que um dos principais entraves para turbinar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a alta dos preços dos alimentos.

    Nos últimos dias, o publicitário observou, em conversas com interlocutores, que a população “quer menos índices, e mais de carrinho de supermercado”. O próprio Lula e vários ministros têm reiterado declarações comemorando dados positivos da economia, como a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que deve alcançar 3,5% em relação a 2024, ou o índice recorde de desemprego, que atingiu 6,1% no ano passado.

    No mundo real, entretanto, tem prevalecido a máxima preconizada pela economista Maria da Conceição Tavares, um dos ícones do PT, que faleceu no ano passado. A ex-professora da Unicamp e uma das principais referências de Lula já ensinou no passado que “o povo não come PIB, come alimentos”.

    Tratando-se de Maria da Conceição Tavares, nem Lula nem o titular da Fazenda, Fernando Haddad, podem alegar que faltaram a essa aula. Na prática, de nada adianta o otimismo dos números se eles não traduzem a realidade. O crescimento do PIB não tem ajudado a encher o carrinho de supermercado dos brasileiros porque a escalada dos preços dos alimentos extrapolou o índice geral da inflação.

    De acordo com o IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até novembro, foi de 4,87%. Contudo, segundo o mesmo instituto, somente a inflação da carne, no mesmo período, atingiu 15,43% – quase quatro vezes a mais. Uma explicação para isso seria o maior volume de exportações, que reduziu a oferta do produto no mercado doméstico.

    Um agravante é que o preço salgado da carne, além de deixar o gosto amargo para o consumidor, oferece artilharia pesada para a oposição. Na campanha de 2022 – coordenada pelo próprio Sidônio – Lula prometeu que o povo teria novamente churrasco, com “picanha e cerveja”, nos fins de semana. De fato, o preço da carne caiu entre 2023 e meados de 2024, mas a alegria do pobre durou pouco.

    Outra agrura da gestão Lula 3, na visão de lideranças do PT, a ser enfrentada pelo publicitário é a falta de um “projeto de país”. Nos bastidores, o próprio Sidônio observou a interlocutores que o governo não tem uma marca, enquanto os mandatos anteriores do petista acumulam símbolos, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

    “Nossas marcas até agora são um arcabouço fiscal e o Pé de Meia”, queixou-se um petista influente em conversa com a coluna. Uma reclamação corrente entre vários petistas recai sobre Fernando Haddad, que na visão desses críticos só vai a público defender ajuste fiscal e corte de gastos. “Ele raramente fala em desenvolvimento econômico”, acrescentou a fonte. Para complicar o cenário, num momento em que um dos principais desafios é lidar com a alta dos preços dos alimentos, o governo anuncia um reajuste menor do salário mínimo.

    Nesse contexto, Sidônio tem sido um dos mais entusiasmados defensores da aprovação, o quanto antes, do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil. A avaliação é que o gesto pode se consolidar como uma das marcas da gestão Lula 3, ao mesmo tempo em que alcançaria uma fatia da população com maiores índices de desaprovação do governo.

    Nos bastidores, o publicitário tem cobrado agilidade no envio do projeto ao Legislativo, a fim de dar largada, paralelamente, nas peças de propaganda sobre a proposta. Lideranças do Congresso já declararam que o projeto enfrentará obstáculos se o governo não comprovar a “neutralidade fiscal” da expansão da faixa de isenção.

    Ainda assim, a ala política do governo acredita que a pressão da opinião pública a favor da matéria constrangerá os parlamentares que se arriscarem a fazer oposição à proposta, que pode beneficiar, pelo menos, 28 milhões de brasileiros.

    Simultaneamente, caberá ao novo titular da Secom tourear a onda crescente de “fake news” tendo como alvo principal a economia. As mais recentes, disseminadas nas redes sociais, diziam que Haddad iria taxar os Pix acima de R$ 5 mil e limitar os saques a R$ 1,5 mil.

    O desafio mais sensível de Sidônio, contudo, talvez seja o próprio Lula, que tem se revelado incapaz de conter os improvisos, que na maioria das vezes, transformam-se em gafes. Por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro já provocou, em seus perfis, que um presidente que defende as amantes não pode se investir no papel de chefe da família brasileira. Na cerimônia de 8 de janeiro, Lula afirmou que, em geral, “os maridos são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.

    Lula tem acumulado gafes em relação às mulheres. Em julho do ano passado, citou uma pesquisa segundo a qual, após os jogos de futebol, aumentava a violência contra mulheres. Na sequência, afirmou: “Se o cara é corintiano, tudo bem, mas eu não fico nervoso quando perco”. Para falar em pescaria, hobby de Lula, Sidônio terá de cuidar para o peixe não morrer pela boca.

  10. LULA QUER SE APROPRIAR DO 8 DE JANEIRO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Aconteceu exatamente como todos esperavam: o presidente Lula da Silva politizou de vez o 8 de Janeiro. A exemplo do que fez seu antecessor e antípoda, Jair Bolsonaro, que tentou transformar o 7 de Setembro em feriado comemorativo do bolsonarismo, o petista quer fazer da data de lembrança do ataque à sede dos Três Poderes um dia de louvação a si mesmo e ao PT, como esteios da democracia.

    O constrangedor ato de anteontem no Palácio do Planalto em memória daquela data fatídica, seguido de um encontro com meia dúzia de gatos-pingados reunidos na Praça dos Três Poderes pelo PT e centrais sindicais ligadas ao partido, esteve muito mais próximo de um evento de campanha do que de uma solenidade institucional, impessoal e republicana conduzida pelo chefe de Estado e de governo para lembrar do mais sórdido ataque à ordem constitucional vigente no País há quase 40 anos.

    A patacoada já tem lugar na história não pela cerimônia em si, mas por mais uma gafe de Lula – que, ao se declarar “amante da democracia”, enfatizou que “os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.

    A ninguém é dado o direito de se surpreender, em se tratando de Lula, que transforma qualquer ocasião de Estado em palanque eleitoral. Afinal, para o chefe de um governo sem cara, vale dizer, sem um projeto de país coerente, responsável e exequível para apresentar ao País, malgrado já ter iniciado a metade final de seu mandato, parece não restar alternativa a não ser posar como o único líder político capaz de “salvar a democracia” de seus inimigos, notadamente os bolsonaristas, o que é uma rematada falácia.

    Lula sabe muito bem que politizar o 8 de Janeiro significa manter viva a chama golpista que anima Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Os bolsonaristas, que também dependem desse antagonismo, não perderam a oportunidade de usar a efeméride para, mais uma vez, pugnar pela anistia aos golpistas. Trata-se, portanto, de um jogo eleitoral do qual os únicos beneficiários são Lula e Bolsonaro, malgrado este estar inelegível até 2030.

    A memória do 8 de Janeiro, é sempre bom lembrar, não pertence a Lula nem muito menos ao PT ou a qualquer outro partido. A insurgência de bolsonaristas contra o resultado da eleição presidencial de 2022 pertence à história do Brasil. E assim, de forma institucional e republicana, haverá de ser lembrada no futuro, insubmissa aos desígnios políticos dos mandatários de turno.

    É inegável que Lula teria sido uma das principais vítimas caso a tentativa de golpe prosperasse. Segundo a Polícia Federal, alguns militares da ativa e da reserva são suspeitos até de preparar um plano para assassiná-lo a fim de impedir sua posse. Mas não se pode esquecer que, ao longo de toda a sua vida pública, Bolsonaro sempre esteve imbuído de um espírito golpista, o que significa dizer que, ainda que fosse outro o candidato oposicionista a lhe impor a derrota naquele pleito, o desfecho da irresignação violenta, muito provavelmente, teria sido o mesmo. Por maior que seja, o ódio de Bolsonaro a Lula é menor do que seu desprezo pela Constituição de 1988, o marco jurídico que tirou o País dos grilhões da ditadura militar que ele tanto louva.

    A ausência dos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário, além de outras altas autoridades da República, é eloquente por si só a respeito da politização do ato convocado por Lula. Em contraste, recorde-se do evento que marcou o primeiro aniversário do 8 de Janeiro, realizado no Congresso, símbolo maior de nossa democracia representativa, que há um ano dera o tom correto à condenação daquele ataque desabrido e, principalmente, à defesa da democracia.

    Mas Lula é irremediável. Nunca esteve em seu horizonte separar os assuntos de Estado e de governo, que dirá o melhor interesse público, de seus interesses particulares ou os de seu partido. Pode-se dar como favas contadas uma nova pajelança em torno do petista em 8 de janeiro de 2026, ano em que, ao que tudo indica, Lula disputará a reeleição, atraindo para si as atenções que deveriam estar voltadas a algo mais nobre do que seu futuro político: a reafirmação do compromisso institucional com a preservação do Estado Democrático de Direito no Brasil.

  11. NEPOTISMO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: UM DESAFIO ÉTICO E DE GESTÃO, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral de Gaspar (2005/08), graduado em Gestão Pública pela Udesc. Publicado nas redes sociais do autor

    Nesta quinta-feira, 9 de janeiro de 2025, o portal UOL Notícias destacou um caso que merece nossa reflexão. O prefeito de Moraújo (CE), Ruan Lima (PSD), nomeou sua noiva, Letícia Luna Osterno Dionízio, uma estudante de medicina, como secretária de Saúde do município. Além disso, colocou seu pai em um cargo estratégico no primeiro escalão da prefeitura. Esses fatos ocorreram logo após a posse de muitos gestores eleitos em 2024 e reacendem uma antiga discussão: até que ponto práticas como o nepotismo comprometem a ética e a eficiência na gestão pública?

    QUANDO AS ESCOLHAS LEVANTAM DÚVIDAS
    Como cidadão e estudioso da gestão pública, não posso deixar de questionar: será que esses familiares eram, de fato, as únicas opções disponíveis para ocupar tais posições? Caso sejam tão qualificados, por que não estavam anteriormente atuando em funções de destaque em outras áreas ou mesmo no setor privado?

    A administração pública exige critérios técnicos e impessoais para garantir que as escolhas sejam feitas em prol do coletivo, não de interesses pessoais. Quando um gestor opta por parentes, mesmo que sejam capacitados, ele lança dúvidas sobre suas intenções. Como bem aponta Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2020), “a administração pública deve ser pautada pela moralidade, impessoalidade e eficiência”. Nomear familiares, sem abrir espaço para uma seleção mais ampla, compromete esses princípios e afeta a percepção da sociedade sobre a legitimidade da gestão.

    POR QUE NÃO O SETOR PRIVADO?
    Se os familiares nomeados são tão competentes, o setor privado oferece inúmeras oportunidades para que desenvolvam suas carreiras de forma independente e meritocrática. Lá, o sucesso é determinado por resultados, e não por vínculos de parentesco. No entanto, até mesmo no ambiente privado, trabalhar com parentes requer cautela. Segundo Davis e Tagiuri (1989), empresas familiares enfrentam desafios específicos, como o risco de confundir laços emocionais com interesses profissionais.
    No setor público, a questão é ainda mais sensível. A administração pública lida com recursos e interesses coletivos, o que exige uma transparência absoluta nas decisões. Escolher familiares para cargos estratégicos pode transmitir à população uma mensagem de favoritismo e falta de compromisso com o bem comum.

    O IMPACTO PARA A SOCIEDADE
    Casos como o de Moraújo não são isolados e ocorrem em muitos municípios pelo Brasil. Bobbio (2000) ressalta que a democracia depende da confiança nas instituições, que deve ser construída sobre bases sólidas de justiça e igualdade. Quando gestores escolhem parentes para cargos importantes, deixam de valorizar a pluralidade de ideias e a inovação, prejudicando a eficiência das políticas públicas.
    Além disso, essa prática limita as oportunidades para profissionais externos, que poderiam trazer perspectivas diversificadas e soluções mais criativas para os desafios da gestão. O Brasil é um país rico em talentos, e a administração pública precisa ser uma vitrine de excelência, não um espaço de favorecimento.

    UM CHAMADO À REFLEXÃO
    Não se trata de um ataque pessoal, mas de um chamado à responsabilidade. Gestores públicos devem lembrar que estão à frente de uma missão que exige escolhas técnicas e comprometidas com o bem-estar coletivo. Nomear parentes pode até parecer uma solução fácil, mas enfraquece os pilares da democracia e da gestão eficiente.

    Se os nomeados são realmente competentes, nada os impede de construir suas carreiras no setor privado, onde suas habilidades serão testadas de forma independente, longe das sombras do favoritismo. No setor público, as escolhas devem sempre priorizar o interesse público, garantindo que cada decisão seja um reflexo de transparência e compromisso com o coletivo.

    CONCLUSÃO
    A administração pública não é um espaço para privilégios, mas para servir ao povo. É preciso valorizar o mérito, a pluralidade e a imparcialidade em todas as decisões. Que casos como o de Moraújo sirvam como um alerta para que repensemos nossas práticas e exijamos uma gestão pública mais ética, justa e eficiente.

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    REFERÊNCIAS
    DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 34ª ed. São Paulo: Atlas, 2020.
    BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
    DAVIS, John A.; TAGIURI, Renato. Family Business Review, 1989.
    UOL Notícias. “Prefeito nomeia noiva estudante de medicina e pai como secretários no Ceará.” Publicado em 9 de janeiro de 2025. Disponível em https://noticias.uol.com.br.

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