(*) advogado e presidente do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, originalmente publicado na edição de segunda-feira passada do jornal Folha de S. Paulo
Eu já tinha reproduzido este esclarecedor artigo – e de linguagem simples e bem compreensível – na área de comentários do blog na segunda-feira. Mas, diante de tudo o que se passou durante a semana, onde cada vez mais as narrativas ganham força com o rótulo de liberdade de expressão, resolvi, em dia de pouca audiência – assim são os sábados, domingos e feriados por aqui, reproduzi-lo como artigo, para a reflexão e até inflexão dos que me leem. Os negritos, são por minha conta. a charge também. Ela não integra a publicação original do autor, mas diz muito de como nossos cabeças estão – ou sempre foram – fracas, alienadas, fanáticas… E Platão já as tinha descoberto para nós, muitos séculos antes de Cristo, em o Mito da Caverna.
Quer influenciar pessoas? Ou vender ideias e produtos? Então esqueça posts, vídeos, influenciadores e outros conteúdos que aparecem na parte de cima das redes sociais. O que importa cada vez mais é a parte de baixo: os comentários, as reações, as respostas, as repercussões e as interações ao que é postado.
O que domina no mundo de hoje é o aparente caos da parte aberta e livre para interação nas redes sociais. Seria esse o surgimento de uma nova democracia na comunicação? Ou o triunfo do “povo” em sua sabedoria descentralizada?
Nada disso! O que acontece é que grupos econômicos e políticos, que já têm poder, aprenderam técnicas para controlar a parte de baixo das mídias sociais. Essas técnicas envolvem uso de robôs, sockpuppets e times coordenados de forma centralizada para espalhar a “mensagem” ou a “ação” que é do interesse desses grupos.
Tudo com uma diferença importante. Na parte de cima, o conteúdo pelo menos é assinado, dá para saber de onde veio e há um mínimo de responsabilidade editorial envolvida. Na parte de baixo, o conteúdo se disfarça de “voz do povo”, de pessoas aparentemente desinteressadas expressando sua opinião. Mas o que ocorre, na verdade, é o uso de dinheiro, pessoas e o emprego de poder computacional para dominar os espaços interativos das redes sociais.
Os exemplos são muitos. A começar por uma marca de roupas que vem fazendo enorme sucesso justamente por utilizar de forma implacável esse tipo de marketing que atua nas caixas de comentários das redes sociais. A marca usa não só influenciadores para espalhar seus produtos mas também um exército de pessoas e contas controladas que patrulham as redes sociais falando bem dos seus produtos e rebatendo na hora quaisquer críticas à qualidade das roupas ou seu modo de produção.
Ou ainda o caso dos fãs da cantora Anitta que usaram uma estratégia para fazer parecer que a cantora estava sendo ouvida mundialmente no Spotify. Grupos coordenados atuaram na plataforma, dando a impressão de que a nova música da artista era a mais ouvida no mundo todo. Só que a ação partia exclusivamente do Brasil. Quem olhasse só o Spotify pensaria estar diante de um fenômeno “espontâneo”. A realidade era uma ação coordenada e oculta ocorrendo nos bastidores.
O mesmo tipo de questionamento surgiu com relação ao vencedor do Big Brother Brasil. As votações do programa estão cada vez mais coordenadas e articuladas por equipes de marketing ligadas aos participantes. Quem tem mais dinheiro e mais poder computacional controla mais votos.
Esse é exatamente o problema. Não há “voz do povo” aqui, mas sim efetividade de novos métodos ocultos de marketing. Ou ainda, há uma nova lei do mais forte, pela qual quem tem dinheiro e poder computacional domina os espaços abertos da esfera pública digital.
Em suma, daria para dizer para quem ainda não percebeu: a comunicação do presente está nos comentários e reações, estúpido! Só que estúpido, no caso, somos todos nós, arrebatados por um novo tipo de marketing centralizado que se disfarça de multidão anônima.
Reader
Já era
Orkut
Já é
A volta de um novo Orkut
Já vem
O “já era” do novo Orkut