O título e o texto didático são de Carlos Alberto Sardenberg e publicado no jornal O Globo. Eles dão à dimensão do pensamento da esquerda do atraso que volta ao poder no Brasil com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, graças à direita xucra e um bolsonarismo de confronto. Eles prometeram desenvolvimento e outra cara ao país, mas não foram competentes para tal. Estão choramingando na frente dos quarteis porque lhes faltou votos, numa rotação de 72 em 72 próximas horas, porque espantaram os não imbecilizados e que deram voto de confiança em 2018 a essa gente.
“A proposta de criação de uma moeda comum para os países da América do Sul — o sur — é derivada de uma tese mais ampla, a diplomacia Sul-Sul, cuja base é a seguinte: o Norte rico e desenvolvido — basicamente Estados Unidos e União Europeia/Inglaterra — exerce dominação econômica e política sobre o Sul emergente e pobre. Logo, controla as finanças e o comércio — via dólar — e as políticas internacionais.
Como escapar disso? Unindo o Sul contra o Norte. Tem aí, claro, o antiamericanismo que molda o pensamento de esquerda, especialmente na América Latina. Unir o Sul significaria, portanto, montar uma área comercial e financeira, de tal modo que os sulistas fariam negócios entre si. E, quando se relacionassem com o Norte, o fariam unidos, na economia e na política.
Ora, nesse quadro, por que não ter uma moeda comum em que basear as relações Sul-Sul? E por que não começar pela América do Sul, já que Lula, um líder internacional, voltou ao poder?
Parece bom, não é mesmo? Mas, me desculpem, a ideia subjacente é de jerico: achar que juntando um pobre, dois pobres, três pobres… dá um rico. Não dá, né, pessoal? Dá um “pobrão”. E bem desestruturado.
Considere a América do Sul. Chile, Colômbia e Brasil são razoavelmente estruturados, pelos padrões locais, claro. A inflação esperada para este ano nesses países varia de 6% (Brasil) até 12% (Chile e Colômbia). Acrescente ao bolo a Venezuela, inflação de 360%, e a Argentina, 100%, duvidosos. Juntando todos eles numa mesma área monetária, o que você acha: a relativa estabilidade monetária de Brasil, Chile e Colômbia se transmitiria para Venezuela e Argentina ou a moeda podre destes últimos contaminaria as outras três? O regime de metas de inflação, com banco central independente, funciona no Brasil e no Chile. Um BC do Sul teria controle sobre o sistema monetário de Maduro e dos peronistas?
Brasil, Chile e Colômbia têm reservas internacionais em dólares suficientes para financiar suas contas externas. Argentina e Venezuela são ultradevedoras e caloteiras no mercado internacional. Você acha razoável que as reservas saudáveis daquele trio tapem os buracos da dupla?
Há pontos em comum entre os sul-americanos: todos são basicamente exportadores de commodities e importadores de produtos industrializados e tecnologia. Vendem para quem, importam de quem? Norte e China. Opa! China! — alguém diria. A China está no Sul geopolítico, confronta os EUA no cenário global, logo, é companheira.
Outra ideia de jerico.
A China, por sua história, sua ação recente e sua vocação, é imperialista. Não pretende se unir ao Sul para confrontar o Norte, almeja ser potência dominante em toda parte, inclusive no espaço sideral.
Além dessas diferenças todas, há vários casos de fracasso em tentativas de união entre países do Sul. Mercosul, por exemplo. Nos documentos oficiais, é uma união aduaneira. Significa que, para uma empresa brasileira vender seus produtos na Argentina, seria a mesma coisa que vender por aqui. Abrir uma loja em São Cristóvão seria como abrir outra em Mar del Plata.
Vai tentar.
Moeda única? Pergunte aos exportadores brasileiros se topam receber em pesos argentinos, bolívares venezuelanos. Não, né? Por que aceitariam o sur (os “suros”, “surs”…)?
O euro resultou de 50 anos de construção econômica e política. Se não é democracia, não entra na União Europeia. Se não tem BC independente, também não. As regras de controle das contas públicas são comuns e obrigatórias. Ainda assim, o euro quase fracassou na crise financeira de 2011. O rigor fiscal de uma Alemanha foi abalado pela bagunça de gastos da Grécia. Embora ferido, o euro escapou, porque havia dinheiro e boas lideranças para resgatar os que haviam caído em desgraça.
Na verdade, o objetivo não confessado do PT ao sugerir o sur é reassumir a liderança na América Latina. Da última vez em que isso aconteceu, houve uma instituição que de fato ultrapassou fronteiras e fincou negócios por toda parte, a Odebrecht.
4 comentários em ““PAÍSES POBRES, UNI-VOS! PARA CONTINUAR NA POBREZA””
Pois é. . .”Uma mão lava a outra” e ambas saqueiam os cofres públicos, abarrotados por nós, burros de cargas/contribuintes. E assim será até que deixemos de ser mansos, curemos nossa amnésia coletiva e. . .acordemos!
Quer mais outra Miguel? Então leia:
CHEQUE DO PRESIDENTE, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo
“Bolsa esmola” –era assim que, 20 anos atrás, Lula qualificava o programa Bolsa Escola de FHC. Depois, no poder, o tal “bolsa esmola” tornou-se o Bolsa Família, até Bolsonaro transformá-lo no Auxílio Brasil, que agora recupera o rótulo de identificação lulista. Sugiro, no lugar disso, um rebranding definitivo: Cheque do Presidente. A operação publicitária justifica-se duplamente: no campo do marketing, estabiliza a imagem de marca; no das políticas públicas, garante transparência de objetivos.
O Lula oposicionista de 2002 não criticava os valores do Bolsa Escola mas o conceito de transferência direta de renda, inspirado nas propostas de combate à pobreza do Banco Mundial. A conversão ideológica do Lula presidente assinalou, ao lado do abandono das ambições petistas de reforma econômica estrutural, a descoberta de uma mina de ouro eleitoral. De larva a borboleta: assinando o cheque, o líder dos trabalhadores metamorfoseava-se em pai dos pobres.
A pobreza extrema declinou sem parar entre 2003 (12,6%, segundo o Banco Mundial) e 2014 (3,3%). No percurso, o Bolsa Família desempenhou papel significativo, mas não determinante. O fenômeno da redução da pobreza verificou-se nos mais diversos países em desenvolvimento, da China à Turquia e do México ao Peru, sem vultosos programas de transferência de renda. O longo ciclo internacional marcado por fluxos abundantes de investimentos e valorização das commodities fazia o serviço.
Mas um cheque é um cheque. Lula nunca incrustou o programa de transferência de renda no rochedo da Constituição, evitando conferir-lhe o estatuto de política de Estado. O cheque do presidente deveria ser uma benesse de governo. “Meu adversário, que odeia os pobres, terminará o Bolsa Família” –a ameaça assombrou as disputas eleitorais de 2006, 2010 e 2014. No ano mais difícil, quando Dilma Rousseff disputava a reeleição, o valor real do cheque atingiu o ápice: R$ 245,10. Sob o lulismo, o Bolsa Família tornou-se sinônimo de política social.
Bolsonaro aprendeu a executar a mágica, mas de modo desajeitado. Na pandemia, criou o auxílio emergencial; no ano eleitoral, o Auxílio Brasil de R$ 600. A ação tardia, interrompida em 2021, obteve efeitos eleitorais limitados. Serviu, porém, para expor as entranhas perversas do mecanismo fabricado pelo lulismo: cada novo governo precisa elevar o valor do cheque que chega a mais de 21 milhões de famílias. Lula escolheu R$ 600 para empatar com Bolsonaro –e o suplemento de R$ 150 por filho pequeno para derrotá-lo. O número escrito no cheque deriva de imperativos de concorrência política, não de um cálculo de eficiência na alocação de recursos públicos.
Programas de transferência de renda aliviam temporariamente a pobreza –e ocultam suas raízes profundas. A depressão econômica gerada pela folia dilmista levou a pobreza extrema a 5,3% em 2018, mas o auxílio emergencial a comprimiu à menor taxa histórica, em 2020, no auge da pandemia (1,9%). Em 2021, sem o auxílio, a taxa saltou a 8,4% –e certamente experimentará forte redução em 2022, assegurada pelos R$ 600. O cheque faz milagres efêmeros.
As raízes da miséria só podem ser erradicadas por políticas econômicas responsáveis e políticas sociais universalistas. As primeiras dinamizam o mercado de trabalho, elevando os salários. As segundas ampliam a oferta de bens públicos de qualidade (educação, saúde, saneamento, transportes) e impulsionam a reforma urbana (moradia em áreas centrais). Nada disso, contudo, tem o poder sedutor de um cheque assinado pelo presidente –ainda mais quando ele contém a senha do cofre do crédito consignado.
A PEC da Transição é o passaporte para Lula alcançar e ultrapassar Bolsonaro. Seu custo é o congelamento da pobreza estrutural, sempre disfarçada pelo Cheque do Presidente. “Uma mão lava a outra”.
E o piNçador Matutildo, piNçou e. . .
“Na verdade, o objetivo não confessado do PT ao sugerir o sur é reassumir a liderança na América Latina. Da última vez em que isso aconteceu,
houve uma instituição que de fato ultrapassou fronteiras e fincou negócios por toda parte, a Odebrecht.”
. . .o resultado foi a lava jato, que ainda está viva na memória dos burros de cargas/contribuintes.
Mas, devidamente enterrada pela Justiça, que é sustentada pelos mesmos burros de cargas/contribuintes e que se empobreceram para que governos de outros países mergulhados na corrupção endêmica como se têm aqui, usufruíssem dos nossos pesados impostos