Texto de Tabata Amaral, deputada Federal PSB-SP, expulsa do PDT, Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito. Foi publicado neste sábado no jornal Folha de S. Paulo
Ele deveria ser lido pelo secretário da Educação de Gaspar, um curioso na área, o jornalista Emerson Antunes, de Blumenau, indicado na boquinha política do deputado evangélico Ismael dos Santos; bem como pela ex-secretária de Educação de Kleber Edson Wan Dall, MDB, que fez o Ideb cair por aqui bem antes da pandemia, mas mesmo assim, conseguiu se eleger vereadora, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, além de educadores e pais conscientes de que seus alunos e filhos merecem futuro e oportunidades melhores as que os gestores público e políticos lhes negam.
Ah, mas se trata de um balanço do governo Bolsonaro. Engano. Trata-se de um retrato da educação dos desgovernos Federal, Estadual e Municipal, principalmente; sendo eles ou não bolsonaristas. É um atentado contra o futuro de vulneráveis, para deixá-los mais reféns da ignorância e longe das oportunidades que nos levam a autonomia e à liberdade. Todos os querem reféns da ignorância e fracos para a manipulação econômica ou ideológica.
Vamos ao artigo de Tabata. Conteste-o, se conseguir:
Mil dias do governo Bolsonaro. “Ministério da Educação não deveria existir”, diz Olavo de Carvalho, quem indicou dois ministros ao MEC. Na lista de prioridades de 2021 enviada pelo governo ao Congresso, só há uma de educação: a educação domiciliar, ou homeschooling, que atinge menos de 0,1% dos alunos.
Mil dias do governo Bolsonaro. Mais da metade dos estudantes que moram em favelas não conseguiu estudar na pandemia, uma parte considerável por falta de conexão, mostra Datafavela. Bolsonaro veta integralmente projeto que assegura internet grátis a milhões de alunos e professores. 30% das escolas públicas não têm nenhuma conexão, segundo Censo Escolar. Orçamento do Programa Escola Conectada sofre redução de 55% em 2020. Ministério das Comunicações diz que é “inoportuno” mudar edital do 5G para obrigar oferta da tecnologia nas escolas. Alunos são obrigados a assistir propaganda governista para acessar internet.
Mil dias do governo Bolsonaro. 4 mil escolas não têm banheiros e 3 mil não têm abastecimento de água. MEC ainda não gastou nada dos R$ 1,22 bi que tem para estruturar escolas para a volta das aulas presenciais. Brasil é o país que manteve as escolas fechadas por mais tempo durante a pandemia. Brasil regride 20 anos em matéria de evasão escolar, aponta Unicef. 4 milhões de alunos abandonaram os estudos na pandemia.
Mil dias do governo Bolsonaro. Até 30 mil candidatos podem ter sido prejudicados por falha na correção do Enem. Com salas cheias, alunos são impedidos de fazer a prova. Mesmo com abstenção recorde, MEC manteve regra que retira isenção do Enem de ausentes. Enem 2021 é o mais branco e elitista em mais de uma década.
Mil dias do governo Bolsonaro. MEC tem o menor orçamento para educação básica da década. Matrículas em escolas de tempo integral caem para o menor número desde 2012. Educação é o ministério que mais teve recursos bloqueados por Bolsonaro no Orçamento de 2021. Cortes no orçamento de universidades federais poderão afetar mais de 70 mil pesquisas.
Mil dias do governo Bolsonaro. Sem provas, Weintraub afirmou que as universidades federais possuem “laboratórios de drogas” e “plantação de maconha”. “Ideia de universidade para todos não existe”, diz Vélez. “Hoje ser um professor é ser quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”, afirma Milton Ribeiro. Alunos com deficiência atrapalham o aprendizado dos outros, diz ministro.
Ainda faltam 455 dias para o fim do governo Bolsonaro, mas certamente levaremos mais do que quatro anos para reverter esse legado de abandono e destruição. E, mais uma vez, nossas crianças pagarão essa conta.