Segunda versão modificada do artigo original.
Artigo ampliado às 5h54min deste 28.02.2025, para aclara um fato mencionado no bloco do artigo que acrescentou um tópico às 17h31min, neste 27.02.2025, ao final, após o contato feito pelo pelo delegado prefeito de Gaspar Paulo Norberto Koerich, PL, com o blog esclarecendo parte deste artigo, mediante uma demanda que ele não tinha respondido. O artigo original não foi mudado, apenas acrescentado.
Já escrevi e vou repetir: o “delegado prefeito” de Gaspar, Paulo Norberto Koerich, PL, está cercado, ou se cercou, de gente que, ao final da sua carreira – ele ainda não se aposentou e conta tempo para isso – vai comprometê-lo na boa fama e lambuzar o seu belo currículo de investigador competente, atrás de bandidos e falcatruas no ambiente público, que o levou a ser delegado, integrante do Gaeco, chefe de gabinete do secretário de Justiça, delegado regional por várias vezes, delegado geral e até secretário de Segurança de Santa Catarina.
Antes de prosseguir, porém, um parêntesis.
Hoje não vou escrever – como muitos me estimularam, dando dicas sobre a dança dos tolos e espertos no espetáculo da perda de uma simples narrativa ontem a noite na Câmara de Vereadores. O prefeito, um vice se divertindo com o fogo no circo, os “çábios” do gabinete, à falta de líderes dos partidos base, tiveram, incrivelmente, três semanas para desarmar a encenação e o palanque. Então não foi entrar nesta pilha acesa.
Neste caso, mais uma vez, vou dar passagem para a imprensa daqui – se ela conseguir tratar o assunto como ele se deu de verdade -, bem como os que o cercam o atual poder de plantão, além dos mesmos de sempre, os quais colocaram Gaspar no buraco e neste caso de ontem e de outros fatos recentes que já mostrei aqui como aviso, chamaram o “delegado prefeito” para dançar à música deles. E ele está topando, ao que parece. Todos os envolvidos ontem, estão dando explicações e versões nas redes sociais. Um show de horrores.
Neste assunto de ontem, especificamente, volto outro dia com a poeira mais baixa para desnudar os falsos heróis e os verdadeiros lobos. Já escrevi aqui que a líder do governo na Câmara, Alyne Karla Serafim Nicoletti, PL, enfim entendeu a função dela e como está fragilizada. Já expliquei isso anteriormente, também.
Hoje vou a outro ponto.
É o que mostra que “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, como gestor e como político recém iniciado nas tramas fora do domínio preferencial dele, a delegacia, mais que depressa, precisa dar um cavalo de pau, trocar de companhias e dizer à cidade, seus eleitores e eleitoras que votaram nele pela mudança, mostrar, realmente, a que veio. Ou ele está só, ou está mal acompanhado, ou mal orientado. O “delegado prefeito”, de verdade, está vulnerável politicamente e na imagem nesta nova empreitada.
Ele está sendo traído pelos que lhe apoiam, mas olharam em primeiro lugar as vaidades. Relegaram as promessas de mudanças com resultados pelas mesmices. O velho tomou conta mais cedo do que se esperava o lugar do pragmático, do novo e da mudança. E como no caso de ontem, há precificação e sinais claros de traições nas alianças informais que ingenuamente fez, porque a oposição que se disfarça de amiga, de verdade está olhando cargos e vantagens aos seus. Ela, sabe, perfeitamente e onde está o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, que a bancada governamental se enfraqueceu quando escolheu o campeão de votos, Alexsandro Burnier, PL, para presidente da Casa. Um voto que fez falta ontem. E fará sempre neste ano crucial que deveria ser de mudanças.
Isto sem falar que a situação ainda não entendeu direito o que ser governo e que está no governo de Paulo Norberto Koerich, PL. Dessa forma, é responsável por soluções de curto, médio e longo prazo. E está incrivelmente tudo misturado. E mutirões estão com prazos e alcances precificados para se tornar improvisação de quem não possui soluções, planejamento, prioridades e capacidade de execução.
UM APOSENTADO POR INVALIDEZ DANDO AS CARTAS NA PREFEITURA
No dia oito de janeiro, Augustinho Soares (na foto acima com o prefeito em uma inspeção na nova função), que está prestes a completar 65 anos, foi nomeado pelo “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, como Assessor Administrativo na secretaria de Fazenda e Gestão Administrativa, de Ana Karina Schramm Matuchaki Cunha, que já foi na mesma pasta, de confiança do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Mas, lá não é o seu local de serviço.
Augustinho está na secretaria de Agricultura e Aquicultura, tocada por Karine Aline Mateus, uma jovem que veio do litoral para cá. Augustinho é o coordenador da Patrulha Mecanizada, cuja função é, no vencimento, quase a metade daquela para a qual originalmente foi nomeado. Aí está o primeiro erro, ou a repetição do passado. E isto já escrevi aqui. E passou batido no governo que diz que quer colocar tudo nos seus devidos lugares, principalmente, os legais e éticos.
Mas, o que se descobre agora? Desde o 26 de agosto 2011, Augustinho Soares, é aposentado pelo INSS por invalidez, na época calculada no valor de R$2.426,71 por mês, conforme uma carta que recebeu no dia primeiro de setembro daquele ano do INSS. Depois, inclusive, Augustinho foi à Justiça pedir a revisão desse valor.
Ora se é aposentado por invalidez, depois de tanto tempo e 14 anos mais idoso, Augustinho não poderia, em tese, estar trabalhando formalmente. Principalmente, no serviço público.
Em Gaspar, todo o funcionário, de qualquer tipo, precisa apresentar na área de Recursos Humanos uma certidão negativa da sua situação na Previdência Social. Isto não foi feito no caso de Augustinho? Ou foi feito e resolveram bancar a aposta, principalmente Augustinho que sabia dos riscos que estaria correndo se reempregando formalmente. Ou há outra combinação na lei, que consultando especialistas, não me vislumbraram. Porque do meu ponto de vista não pode haver tanta ingenuidade por quem nomeou e foi nomeado. Ambos, sem esta bala de prata, estariam mal na foto.
A Lei de Benefícios da Previdência Social (8.213/91) no artigo 46 diz que “o aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá a sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno“. Penso, que deveria ser isso o que aconteceu. O INSS não informa esta situação por proteção da lei de dados. Mas, se não aconteceu, acontecerá quando os cadastros se cruzarem, ou uma denúncia prosperar no INSS. Um intrincado processo para recálculo por aposentadoria por tempo e idade se iniciará, isto se Augustinho não correr o sério risco de ver o argumento da invalidez que o beneficiou desde 2011, como direito adquirido, cair por terra.
Perguntei hoje cedo ao “delegado prefeito” no aplicativo de mensagem pessoal dele sobre quem indicou Augustinho Soares para o seu governo. Augustinho Soares, foi vereador pelo MDB 1997 a 2000 em Gaspar, durante o governo de Bernardo Leonardo Spengler, MDB – seu filho é o presidente do PL de Paulo – e Andreone Cordeiro dos Santos, no antigo PTB, que terminou o mandato, no impedimento de Bernardo.
O contato com o “delegado prefeito” foi esclarecer este assunto. Até a publicação deste artigo, ele não havia retornado o meu contato. Muda, Gaspar!
TROCOU A APOSENTADORIA DE INVALIDEZ POR TEMPO DE SERVIÇO.
PELA TRANSPARÊNCIA, UM ESCLARECIMENTO URGENTE E NECESSÁRIO AOS LEITORES E LEITORAS

Ontem, terça-feira, só às 21h50min, o “delegado prefeito” de Gaspar, Paulo Norberto Koerich, PL, retornou o contato que eu fiz às 6h32min com ele sobre quem teria indicado Augustinho Soares (ao lado, à esquerda na foto) para ser comissionado do seu governo.
Segundo Paulo, demonstrando inconformismo, as minhas fontes, mais uma vez, estavam me levando ao erro. E concordo plenamente ele. E neste caso, Paulo era uma das minhas fontes consultadas e ficou muda. Tendo o “delegado prefeito”, um exímio investigador a oportunidade de esclarecer tudo antes do artigo ser publicado ontem, contribuiu, repito, contribuiu como fonte omissa, no erro parcial e pasmem, contra ele próprio. Há responsabilidades compartilhadas e eu deu oportunidade dele cortar o meu barato.
E imaginar, que no discurso, a transparência foi um dos seus pilares de campanha de Paulo, Rodrigo e dos vencedores. Ela, todavia, continua tão ou mais capenga neste governo como foi no governo anterior. Se tivesse entrado no circuito – e ele e a sua equipe -, não só teria me demovido da unilateralidade das fontes como apregoou, como até, talvez, demovido do artigo.
Para mostrar que eu não trabalhava sobre o nada, ou com especulações, como insinuou – e provavelmente orientado depois de tanto tempo da publicação e ganhando a cidade onde ninguém me lê segundo eles próprios -, mandei para o “delegado prefeito” Paulo cópias de dois documentos: um onde o INSS confirmava em 2011 – já mencionado neste artigo – a aposentadoria por Invalidez, de Augustinho Soares, bem como uma petição, onde ele pedia revisão do valor da aposentadoria concedido.
Paulo, em seguida, enviou-me outro documento, o que converteu esta “aposentadoria por invalidez”, em por “tempo de contribuição” em oito de abril de 2020, que segundo os advogados e contadores especialistas que consultei após ter acesso a este documento, foi permitida a partir da nova legislação editada em 2019.
O delegado apagou da comunicação que teve comigo o documento que me ofereceu. Está salvo. Eu não fiz este ato aos que ofereci a ele. Não faço isto. Nunca fiz. Nota do blog. Só quinta-feira, às 18h17min, o “delegado prefeito” voltou a fazer contado com o blog, ou seja, 21 horas depois da informação de que não tinha apagado nenhum documento da nossa troca de mensagens. Atribuiu isto a um suposto vírus no seu aparelho. E ato contínuo, restabeleceu para mim, o documento apagado.
Sobre quem levou Augustinho para o governo dele, Paulo não nada falou o escreveu. Igualmente, nenhuma palavra sobre o desvio de função na contratação de Augustinho. Eu aguardo. Também entenderei se não vier. Muda, Gaspar!
Veja, abaixo do TRAPICHE, a reativa NOTA OFICIAL feita 30 horas depois desta postagem no blog e assinada pelo Superintendente de Comunicação da prefeitura de Gaspar, Felipe Gabriel Rodrigues e com as minhas observações.
TRAPICHE

O presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia, PSD, já está em campanha, apesar da ressalva que fez na entrevista ao “Bom Dia San Catarina”, da NSC TV. “A minha prioridade é presidir a Assembleia“, mas só disse isso, depois de alfinetar o governo sem marca de Jorginho Melo, PL, “Santa Catarina tem pressa” e muita dessa pressa são soluções que envolvem o governo Federal, onde Jorginho está sem conexão institucional. Para Júlio Garcia, se a eleição não for colocada na rua já, perdem Santa Catarina e os catarinenses. Ou seja, não vai tirar Jorginho do marasmo e da enrolação em que está.
Isto, por outro lado, a fala de Júlio Garcia, PSD, mostra como a candidatura do prefeito de Chapecó, João Rodrigues, PSD, vai tomando corpo e pior [para Jorginho Melo, PL], de forma natural. Não exatamente pelo jeitão João Rodrigues, mas pela falta de jeito de Jorginho. Sempre escrevi que Jorginho, experientíssimo político, seria conhecido como o pior governador de Santa Catarina. E o pressentimento, infelizmente, vai se materializando. Basta ver que ninguém quer se associar com ele. E para ter o volúvel e perdedor MDB de várias corridas eleitorais solo ou associado ao governo do estado, a última vencedora foi na multi-aliança orquestrada pelo finado Luiz Henrique da Silveira, ao seu lado, Jorginho está pagando um preço alto.
Júlio Garcia, PSD, foi no alvo e no calo. Um é a tal balneabilidade, fonte atual e futura de renda e atração diferencial turística de Santa Catarina, comprometidíssima pela falta de saneamento (coleta e tratamento de esgoto) da orla. Piorada, com a decisão de Jorginho Melo, PL, de tornar a incapaz técnica e financeira Casan, cabide de emprego, a gestora desse processo em Santa Catarina. Como se vai sair desse esgoto se a Casan é a expressão do atraso como empresa pública?
O segundo ponto foi a mobilidade. Ela compromete não só o desenvolvimento empresarial e a competitividade atual de Santa Catarina, mas no futuro. além disso, compromete também a circulação de turistas e de catarinenses. Está na cara de todo mundo. Mas, Jorginho Melo, PL, parece estar num mundo paralelo do atraso, aquele mesmo que levaram os políticos e empresários de Gaspar a descartar a duplicação do caminho da roça na ligação entre Gaspar e Brusque, para salvar quintais de quem invadiu a faixa de domínio da rodovia para ser estacionamento de pátio de manobras de seus negócios. Não tiveram visão.
Para não fugir de Chapecó, onde João Rodrigues, PSD, é bem identificado com a direita, mas a realizadora, a que fez Santa Catarina se diferenciar desde os tempos de Celso Ramos, outro caso. Gaspar, há dez anos está sem Plano Diretor atualizado. Era para Pedro Celso Zuchi, PT fazê-lo. Gastou uma dinherama como a Iguatemi, de Florianópolis, e tudo ficou engavetado por ser mais teórico do que identificado com os problemas da cidade.
Os oito anos de governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, foram desastrosos. Puxadinhos para todos os lados e muitas dúvidas. Uma vergonha. O atual governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, que sabe aonde tudo isso está dando, recolheu-se naquilo que prometeu dar soluções. Sabe que vai mexer em marimbondos de fogo. E não quer enfrentá-los. A ver pelo que aconteceu ontem a noite na Câmara, terá pouca chance de mexer neste mundo poderoso de interesses paralelos.
Voltando e comparando. Em Chapecó, além do Plano Diretor atualizado – para que todos saibam o que a cidade permite e nega, bem como se saiba no setor público, o que planejar e executar para a infraestrutura da expansão ordenada habitacional, comercial, serviços, turismo e industrial, há também, vejam só, Plano Diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação, feito pela gerência de Projetos Estruturantes e Sistemas da prefeitura.
Em Chapecó, a de João Rodrigues, PSD, há mais do que isso: há na estrutura da prefeitura de lá, uma Diretoria de Modernização da Administração. Em Gaspar, estamos no modelo defasado criado pelo ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, que se fez para a cara do seu ex-prefeito de fato, Carlos Roberto Pereira e então presidente do hoje esfacelado MDB local. Em Blumenau, que era o benchmarking do daqui, nem elege vereadores há várias eleições. É mais fácil contratar hacker do que técnicos que modernizem a máquina em favor do gestor, dos munícipes e do desenvolvimento sustentável com regras claras.
Ora, se não há nada pensado e voltado para o futuro e naquilo que Gaspar será no natural absorvedor devido à saturação de Blumenau, nota-se, bem claramente, que até para ocupar a velha estrutura organizacional, velhos nomes de uma administração que levou uma surra de votos nas urnas em seis de outubro do ano passado, são chamados e reinvestidos de autoridade outra vez. Se não se renova, como inovar e criar? Impressionante flerte com um passado, o ultrapassado. E por isso, gente como João Rodrigues, PSD, vai abrindo caminhos naturalmente.
Pronto. Os governantes de Gaspar, na falta de descobertas melhores e inovação na área de Agricultura, onde mantém uma secretaria, descobriram que o município rural que diminui cada vez mais e mais, é um grande produtor de pitaia, ou fruta do dragão, originária da América Central. O Sul de Santa Catarina onde está a maior parte da produção (6,5 mil toneladas) que se cuide. Para se situar: a produção de Gaspar é estimada em no máximo três toneladas.
Uma comunicação torta. O “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e o vice, engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, foram esta semana visitar a escola Vereador Laurentino Schmitt, no Distrito do Belchior. Qual a legenda da foto deles nas redes sociais sobre esta visita? “Fomos muito bem recebidos…“. Credo. Por quê, seria diferente? Não há nada de especial para relatar e substituir o nada ou a afirmação de duplo sentido?
Perguntar não ofende: o que mesmo foi feito das geladeiras dos postinhos de saúde que guardavam, essencialmente as vacinas? Elas agora, são guardadas em conservadores criados para esta finalidade e exigidos pela Vigilância Sanitária.

O Conselho Tutelar de Gaspar voltou a ter cinco conselheiros. Estava, irregularmente, com quatro. Eu informei isso aqui numa pequena nota. Um alvoroço na secretaria de Assistência Social, cuja titular, vinda de Blumenau, Neuza Pasta Felizetti, PL, não gostou muito ter este assunto sido levado a público e andou atrás de quem, supostamente, estaria vazando esse tipo de informação. Neuza é tarimbada. Não devia ficar incomodada com isso e, especialmente, em algo que é público, que faz parte da transparência dela com a cidade. Neuza é paga exatamente para dar soluções e as mais difíceis. Depois da nota aqui, se obrigou à solução. Este é o verdadeiro incômodo.
O outro que terá pela frente é a de desenrolar uma bucha deixada pelo ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB: a tal Fábrica – Centro de Ensino e Aprendizagem de Novas Tecnologias, na foto ao lado – onde foram gastos mais de R$2,2 milhões do Fundo da Infância e Adolescência, fundo que vive de doações de renúncias fiscais e que está sob a responsabilidade da sua pasta. Esta foi mais uma criativa jogada que o ex-prefeito, e o ex-secretário de Educação, um curioso na área e vindo de Blumenau por apadrinhamento do deputado Ismael dos Santos, PSD, o jornalista Emerson Antunes. Inventaram-na para a propaganda, no ginásio vereador Gilberto Sabel, ali no início do Poço Grande. O Ministério Público está também de olho.
Quando “inaugurou-se” a “Fábrica”, o então governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Marcelo de Souza Brick, PP e Emerson Antunes, PSD, publicaram isto: “A Fábrica oferece uma experiência imersiva em tecnologia e inovação para os alunos, com cursos em Inteligência Artificial, Comunicação Digital, Ambientes Inteligentes, Oficinas de Games e Metaverso. As inscrições para os cursos já estão abertas, Serão atendidos estudantes do 5º ano até 18 anos de idade, de todas as redes de ensino de Gaspar. As aulas ocorrerão no contraturno escolar, e os alunos poderão se inscrever em múltiplos cursos“. A secretaria de Assistência Social, tocada na época pelo suplente de vereador, Salésio Antônio da Conceição, PP, e que se tornou candidato a vereador e não foi eleito, foi passageira de tudo isso.
Agora, descobre-se que nem a secretaria de Assistência Social, nem a secretaria de Educação, nem ninguém, possui recursos rubricados no Orçamento para suportar a fantasiosa – no modelo de gestão e sobrevivência financeira – mas, necessária do ponto de vista pedagógico e inserção digital de crianças, adolescentes e jovens pela “Fabrica”. Esses recursos precisam existir no Orçamento para que a “Fabrica” funcione este e outro anos para a finalidade em que foi concebida e montada, bem como produza resultados, atualize-se tecnologicamente e atenda a clientela de alunos da rede municipal de Gaspar. Mas, se tornou um grande problema.
O atual governo abafando tudo. O derrotado governo, alimentando à discórdia. E a secretária Neuza, experiente, atrás de quem está vazando as informações da sua pasta, como não houvesse outro mundo de interesses além do governo onde ela está, e com ações limitadas, incluindo a de colocar à exposição pública as feridas que recebeu? O melhor sinal disso tudo foi ontem à noite na Câmara. Quem precisa urgentemente de concertação – é com “c” no sentido de harmonização – é o governo onde secretária está. Credo!
Quer mais uma prova de que o PL está dividido e fragilizado por culpa do próprio governo do delegado prefeito Paulo Norberto Koerich, do vice Rodrigo Boeing Althoff e da falta de liderança do presidente local, Bernardo Leonardo Spengler Filho? A vereadora, Elisete Amorim Antunes, PL, foi buscar informações no Samae de Gaspar, para não errar, como foi acusada no caso da comporta. Foi atendida por um funcionário. O vereador Carlos Eduardo Schmidt, PL, fez a mesma peregrinação. Foi atendido pelo presidente da autarquia, Cícero Giovani Amaro, PL.
Leitora deste espaço, servidora municipal efetiva de longa data, ao ler que, mais uma vez, de que um vereador estava propondo a entrega de medicamentos gratuitos a idosos e os com problemas de mobilidade em Gaspar, sugeriu começar por algo mais simples, necessário e mais barato: implantar uma farmácia do sistema municipal no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar.
Esta farmácia de dispensa de remédios gratuitos atenderia os pacientes que recebem receitas lá à noite e finais de semanas no Pronto Atendimento. E pode ser também um ponto referência de dispensa de medicamentos gratuitos 24 horas para a cidade, inclusive aos que dão assistência a doente, idosos e os que possuem dificuldades de mobilidade, mas durante o dia ou na semana são obrigados a trabalharem ou estudarem nos mais diferentes horários. Muda, Gaspar!
Nota Oficial da prefeitura de Gaspar, assinada pelo superintendente de comunicação, Felipe Gabriel Rodrigues, em relação ao artigo “NOVO GOVERNO DE GASPAR CONTRATA COMISSIONADO QUE ESTÁ APOSENTADO POR INVALIDEZ DESDE 2011. NOMEADO DA FAZENDA, ELE ESTÁ NÚMERO DOIS EM OUTRA: A DA AGRICULTURA”
“Com relação ao post publicado na última quarta-feira, dia 26, a Prefeitura de Gaspar esclarece que a informação é inverídica. O servidor Augustinho Soares foi nomeado cumprindo todos pré-requisitos exigidos pelo Departamento Pessoal. Caso houvesse qualquer incongruência, tanto o sistema interno da Administração Municipal quanto o do INSS alertariam para uma possível pendência. O que não ocorreu.“
“De fato, Augustinho foi aposentado por invalidez em 2011, porém voltou à rotina normal e trabalhou até 2020, quando se aposentou por tempo de contribuição, recebendo toda a documentação atualizada por parte do INSS”.
Sobre a nota oficial, escrevo. A reação oficial vem mais de 30 horas depois da publicação da nota publicada aqui. É lenta, reativa, após de se ensaiar internamente a desqualificação frontal – daí tanto tempo para esclarecer algo tão simples, além do mais, não responde, novamente, ao menos duas questões. A transparência, como se vê, está na velocidade de tartaruga num mundo completamente digital. A burocracia ainda a domina. Muitos “çábios” dando palpites em algo que não tem autonomia na prefeitura de Gaspar: a comunicação.
A nota da prefeitura de Gaspar, com tanto atraso, confirma que Augustinho Soares foi aposentado por invalidez e só depois de muitos anos, esta invalidez desapareceu, e ele pode converte a aposentadoria por tempo de contribuição. É preciso saber como se deu isso.
Se o Departamento de Pessoal, ou RH, da prefeitura de Gaspar fosse tão eficaz e não houvesse outras intenções por detrás disso dos poderosos de plantão, em minutos, teria se esclarecido este assunto. Mais e principalmente. Se o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, quando consultado tivesse interagido ou delegado esta solução – não no tempo da burocracia, é claro -, nada disso teria ido à frente da forma que foi.
Finalmente, não está respondido quem indicou o comissionado e qual a razão do desvio de função, a mesma argumentação usada para fazer outros retornarem, de forma adequado as funções originais para a qual foi contratado. Muda, Gaspar!
12 comentários em “NOVO GOVERNO DE GASPAR CONTRATA COMISSIONADO QUE ESTÁ APOSENTADO POR INVALIDEZ DESDE 2011. NOMEADO DA FAZENDA, ELE ESTÁ NÚMERO DOIS EM OUTRA: A DA AGRICULTURA”
UMA GIRAFA NO SUPREMO, por Elio Gaspari, no jornal Folha de S. Paulo e O Globo
Boa parte deste ano será consumida pelo julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do plano de golpe de 2022/2023. O inquérito está na mesa do ministro Alexandre de Moraes a partir de um critério que colocou o golpe no mesmo processo do 8 de Janeiro.
Entende-se que as invasões do Planalto, do STF e do Congresso foram parte de um plano golpista gestado meses antes. Os delinquentes de janeiro queriam a mesma coisa que os planejadores de um golpe logo depois da eleição de Lula, em novembro. É a velha questão: quem vem antes, o ovo ou a galinha? O planejamento do golpe seria a nascente e o 8 de Janeiro, a foz.
Apesar disso, no dia 8 de Janeiro Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos, e o grosso da documentação que instrui a denúncia dos golpistas refere-se a fatos ocorridos entre novembro e dezembro de 2022.
O 8 de Janeiro, chamado de Festa da Selma, previa as invasões e um caos. Assim, estaria feita a omelete que levaria à decretação de medidas excepcionais como o Estado de Defesa ou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, dando poder a militares.
Quem deveria assinar a GLO? Lula, que não quis fazê-lo.
Mais: de acordo com o relatório da Polícia Federal e a denúncia do Procurador-Geral, até mesmo o golpe de 2022 dependia de um ato formal de Bolsonaro, decretando o Estado de Sítio ou de Defesa. O general Estevam Theophilo, por exemplo, está denunciado por ter dito a Bolsonaro que moveria sua tropa se ele assinasse o decreto. Assinou? Não.
O inquérito do 8 de Janeiro documenta fatos que aconteceram. Os documentos da trama golpista revelam que os planos existiram e não foram adiante. As duas coisas podiam ter o mesmo objetivo, ainda assim, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
O procurador-geral, Paulo Gonet, afirmou que Bolsonaro recebeu o projeto do Punhal Verde-Amarelo e com ele “anuiu”. Só com a oitiva de testemunhas será possível avaliar o peso desse “anuiu”.
A defesa de Bolsonaro entrou em campo com a firmeza dos suicidas, pedindo o impedimento dos juízes Flávio Dino (ministro da Justiça de Lula) e Cristiano Zanin (advogado de Lula nos processos de Curitiba). Pura cenografia.
Colocando-se a trama golpista de 2022 no mesmo processo do 8 de Janeiro de 2023, esticaram-se as pernas e o pescoço do bicho, encolhendo-lhe a cabeça. Ficou bonito, até elegante, mas é uma girafa.
A CONTA FOI LULA
Lula está com a popularidade erodida enquanto oito governadores vão bem. Um deles, Ronaldo Caiado, de Goiás, tem 86% de aprovação em seu estado e é candidato à Presidência. Desde que o jacaré abriu a boca, surgiram inúmeras explicações, todas baseadas na realidade. Há mais uma: foi para Lula a conta de um governo travado, no qual ele ungiu dois superministros: Rui Costa, da Casa Civil, e Fernando Haddad, da Fazenda.
Deixando-se de lado o fato de que os dois não se bicam, Haddad ficou com as boas notícias da economia, passando adiante o espinho da carestia. Foi hábil, mas ela iria para outro colo, e está no de Lula.
Com Rui Costa aconteceu o contrário. Ele aceitou a função de bedel do ministério, que lhe foi dada por Lula logo no início do governo. Ambos sonharam que a Casa Civil afunilaria o estudo das “ideias geniais” dos ministros. Isso só deu certo no governo do general Emílio Médici (1969-1974). A partir de 2024, resultou na transformação de Rui Costa em gerente da trava. A PEC da Segurança Pública travou? A criação da Autoridade Climática atolou? Tudo culpa do gaveteiro da Casa Civil.
Quase todos os ministros garantem que têm ideias paradas na Casa Civil. Em alguns casos, Rui Costa teve ou tem pouco a ver com a trava. A PEC da Segurança não andou porque o ministro Ricardo Lewandowski acreditou em sonhos petistas. A Autoridade Climática está atolada porque Lula não quer encrenca com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.
Lula não é Médici, Haddad não é Delfim Netto e Rui Costa não é Leitão de Abreu, chefe da Casa Civil do general. E mesmo se fossem, o Brasil de 2025 não é a ditadura dos anos 1970.
A conta foi para o colo de Lula porque não tinha para onde ir.
ADVOGADOS E ENGENHEIROS
O Censo de 2022 revelou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados e 518 mil engenheiros. Somando-se os 553,5 mil médicos aos engenheiros, vê-se que existem dois advogados para cada um desses profissionais. Poucas estatísticas retratam tão bem um país que anda para trás.
A China tem 6,7 milhões de jovens em cursos de engenharia. Esse número supera os 4 milhões de brasileiros que têm diploma de curso superior. A China tem 1,4 bilhão de habitantes contra 211 milhões de brasileiros, mesmo assim, o sinal permanece, com os chineses andando para a frente.
Para piorar, o Censo mostrou que o Brasil tem 4 milhões de formados em gestão e administração. Isso se explica por diversos fatores, desde o custo das faculdades até os salários para quem sai da faculdade. Esses gestores e administradores cuidam de empresas numa economia que anda de lado.
VALE A PENA OLHAR PARA TRÁS
Em 1886, na Alemanha, Carl Benz patenteou um veículo movido a gasolina. Nos Estados Unidos, o engenheiro Nikola Tesla obteve sua primeira patente e dois anos depois registrou seu motor de corrente elétrica alternada.
Em Pindorama, esse mesmo ano seria conhecido pelo vigor dos debates pela abolição.
Nele, o advogado Inácio Martins apresentou um projeto que proibia o açoitamento de negros escravizados. Na sua discussão, apareceu o telegrama de um juiz do Vale do Paraíba que informava:
“A cada um dos escravos condenados a 300 açoites, foram aplicados 50 de cada vez, nos dias em que se achavam em condições de sofrê-los sem perigo. Segundo a opinião de dois médicos, estes açoites não concorreram absolutamente para a morte dos dois escravos. Tal é também o juízo das pessoas que viram o bom estado deles antes e por ocasião de serem entregues aos enviados de Valle. (Valle era um fazendeiro, dono dos negros.)”
Grandes abolicionistas como Joaquim Nabuco e Luís Gama eram advogados. O Brasil andava para trás porque os projetos e as ideias de engenheiros como André Rebouças ficavam no papel.
ALMA DO RIO
Por mais que as maltratem, as escolas de samba carregam um pedaço da alma do Rio.
Na noite de hoje a Mangueira desfilará para o mundo com seu samba-enredo “À Flor da Terra — No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”.
Convidado na quinta-feira, no meio dos passistas estará o jovem mototaxista Thiago Marques. Ele transportava o passageiro Igor Melo de Carvalho, quando um PM da reserva achou que a dupla havia roubado o celular de sua mulher. Atirou duas vezes e acertou Igor. Outros policiais chegaram ao local e prenderam Thiago, que ficou um dia na cadeia. Só foi solto depois da audiência de custódia.
A Mangueira cantará:
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente.
BANZÉ NO SALÃO OVAL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O encontro infame entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, mostrou por que negociações diplomáticas não deveriam ser televisionadas aos olhos do mundo. Mostrou também que Trump não queria conduzir negociações diplomáticas, mas avançar rumo a três objetivos: quer extorquir o máximo de recursos da Ucrânia, e Zelenski é um empecilho; quer normalizar as relações com a Rússia, e a guerra é um empecilho; e quer empregar o poderio militar e econômico dos EUA para negociar acordos vantajosos ao redor do mundo, e a ordem multilateral é um empecilho. O bate-boca armado pelo ex-apresentador de reality show foi calculado para abalar esses três obstáculos numa só tacada.
Em sua visão, o sistema pós-Segunda Guerra liderado por Washington só beneficiou parasitas e caroneiros que se aproveitaram dos EUA. Seu objetivo é restabelecer uma era de negociações entre grandes potências, um jogo em que o poderio militar e econômico dos EUA lhe dá, a seu ver, mão forte, e aproveitar a vulnerabilidade de países menores e as condições de dependência de seus aliados para extrair compensações. Ele vê esse arranjo como mais eficiente para manter a paz e fazer bons negócios. Mas o mundo está vendo em tempo real como essa estratégia está o tornando mais perigoso, e também tornando os EUA mais fracos em favor de autocracias antiocidentais.
Zelenski foi a Washington para salvar os destroços de suas relações com Trump e negociar um acordo concedendo a exploração das riquezas minerais ucranianas, em troca de mais armas e garantias de segurança num cessar-fogo com a Rússia. Saiu desmoralizado após um ritual de humilhação, sem acordo, nem garantias, sob o risco de ver o envio de armas dos EUA totalmente bloqueado, e com seu cargo ameaçado.
Trump já havia adiantado concessões à Rússia, negando a entrada da Ucrânia na Otan e admitindo a anexação dos territórios ocupados pela Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, quer ainda a desmilitarização da Ucrânia e um regime fantoche em Kiev. Em uma posição de vantagem no campo de batalha, ele tem agora ainda menos incentivos para fazer concessões, e está mais próximo do que nunca desses objetivos.
Trump não dá a mínima para a soberania da Ucrânia – ela pode um dia “vir a ser russa”, disse recentemente – e entende que a defesa da Europa é um problema da Europa. Quanto à Rússia, até onde é possível visualizar uma estratégia, ele quer uma aproximação para enfraquecer os laços entre Moscou e Pequim. Mas Putin tem poucos incentivos para isso – e depois do entrevero no Salão Oval, ainda menos. A Rússia é profundamente dependente da China, e vantagens que os EUA possam oferecer farão pouco para mudar isso.
Recompensar a maior agressão territorial na Europa desde o fim da Segunda Guerra será um golpe duro na ordem internacional baseada em regras que assegurou uma paz frágil nas últimas oito décadas, e abrirá um precedente para Teerã ou Pequim avançarem em suas ambições sobre vizinhos mais fracos.
Os antecessores de Trump não promoveram a ordem internacional baseada em regras por mero idealismo ou altruísmo. Protegê-la impôs custos aos EUA e o livre comércio prejudicou algumas de suas indústrias. Mas esses ônus foram amplamente compensados por benefícios aos consumidores americanos e à indústria em geral, que pôde importar produtos mais baratos e exportar com segurança. Um mundo sem regras é muito mais favorável ao capitalismo de Estado chinês ou a oligarcas russos.
Zelenski estava certo ao questionar o vice-presidente J. D. Vance: sem garantias militares, não há por que esperar que a Rússia cumpra seus compromissos, como nunca cumpriu antes. Mas pior do que perder uma discussão com seu benfeitor é ganhar uma discussão com seu benfeitor – tanto pior se ele for um narcisista como Trump. O presidente americano estava certo também: o que aconteceu foi profundamente desrespeitoso à memória do Salão Oval e está em curso um jogo que põe o mundo em risco de uma terceira guerra. Só que o maior responsável por isso tudo é o próprio Trump.
GOVERNO X BC: QUEM LEVA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Há uma contradição entre a política econômica do governo Lula e a política monetária do Banco Central. Pode parecer estranho para muita gente. Afinal, o BC não faz parte do governo? Para complicar ainda mais, a resposta a essa pergunta é mista: sim e não. Sim, porque os diretores do BC são nomeados pelo presidente da República. Não, porque os diretores do BC têm mandatos de quatro anos, isso desde 2021, quando se aprovou a lei que garantiu autonomia à instituição financeira.
A lei fixa também os objetivos do BC, basicamente controlar a inflação e colocá-la na meta. O BC é independente para aplicar a política monetária, seguindo o regime de metas de inflação. Bem resumido, funciona assim: quando a inflação está em alta, a instituição financeira sobe os juros; e inversamente. Aqui aparece a contradição.
Lula ficou animado com o crescimento da economia nos últimos dois anos. E diz que seu objetivo é manter esse ritmo. Nos documentos do BC, está dito com todas as letras que esse crescimento vai além da capacidade do Brasil. A demanda é maior que a capacidade do país de produzir os bens e serviços demandados. Resultado, sobem os preços e crescem as importações.
O aquecimento da economia é a principal causa da inflação. Logo, por óbvio, é preciso esfriar a economia para conter os preços. O BC faz isso elevando a taxa básica de juros, que encarece o crédito para consumidores e investidores. O objetivo é justamente fazer com que as pessoas consumam menos e os empresários invistam menos, para colher a queda da inflação mais à frente. Esse é um entendimento universal. Todos os países relevantes, desenvolvidos ou emergentes, aplicam esse regime de metas.
Mas, para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, subir juros para conter a inflação é uma “imbecilidade”. Lula não disse isso, mas chegou perto. Quando o presidente do BC era Roberto Campos Neto, cujo mandato foi de 2021 a 2024, Lula o considerava um inimigo da nação. Dizia que a única coisa errada na economia brasileira era justamente a taxa de juros.
Quando Gabriel Galípolo assumiu a presidência do BC, em janeiro último, Lula, que o indicara, garantiu que os juros cairiam com a nova gestão. Só precisava um pouco de tempo para não dar um “cavalo de pau”. Mas Galípolo votou a favor do aumento de juros desde quando era diretor de Política Monetária, em 2024. A taxa básica, a Selic, que estava em 10,50% ainda em setembro passado, já alcançou 13,25%. E os documentos do BC sustentam que haverá pelo menos mais uma alta, para 14,25%.
Enquanto o BC eleva juros para conter a demanda (e a inflação), Lula só pensa em distribuir mais dinheiro, aumentar o gasto público e facilitar o crédito. Tudo para que o país continue a crescer no mesmo ritmo que o BC considera excessivo. O BC também acha que a inflação também tem entre suas causas a expansão fiscal — o excesso de gasto público. Diz isso em linguagem de banco central, mas está lá.
Para usar uma metáfora conhecida, enquanto o governo Lula pisa no acelerador, o BC pisa no breque. A consequência: durante este momento, temos juros altos com inflação ainda subindo. O pior dos mundos. Mais ainda: quanto mais estímulos Lula aplicar à economia, mais altos deverão ser os juros do BC, se o objetivo for mesmo derrubar a inflação em direção à meta, de 3% ao ano.
A contradição ganhou força ontem, quando Lula escolheu a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, para a importante Secretaria de Relações Institucionais, na cozinha do Palácio do Planalto. A deputada é contra o ajuste fiscal e contra a alta dos juros. Já teve embates com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando ele tentava passar algum corte de despesas. A escolha de Gleisi mostra que isso de ajuste fiscal já era.
E Galípolo? O que dirá para Lula e Gleisi quando precisar aumentar mais um tanto a taxa de juros? Ou vai preferir segurar os juros e deixando a inflação rolar? Eis o risco: um ambiente de mais expansão do gasto, com menos crescimento, juros altos e inflação subindo. Como na Era Dilma.
O DIA EM QUE A OTAN ACABOU, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo
O reality show da humilhação de Zelenski promovido por Trump, no Salão Oval, concluiu a ruptura entre EUA e Ucrânia e o alinhamento da Casa Branca à Rússia de Putin. O evento, salpicado por ameaças, insultos e acusações, segue-se às negociações bilaterais EUA/Rússia sobre o futuro da Ucrânia, às declarações de Trump atribuindo aos europeus a responsabilidade por garantias de segurança ao país invadido e ao voto pró-russo dos EUA na ONU. O conjunto da obra assinala o virtual desmoronamento da Otan.
A Aliança Atlântica ainda existe no papel, mas perdeu sua alma, expressa no artigo 5 do tratado fundador que classifica um ataque militar contra qualquer de seus integrantes como agressão a todos. O artigo anulou, no plano geopolítico, a separação geográfica entre EUA e Europa pela vastidão do Atlântico. De agora em diante, volta a existir, nas palavras de Trump, “um maravilhoso oceano” dissociando a superpotência norte-americana das nações europeias.
Trump realiza um antigo sonho da esquerda “anti-imperialista” que descreve a Otan como ferramenta da hegemonia dos EUA. A história, contudo, ensina que a Otan foi responsável pela estabilização geopolítica da Europa Ocidental no pós-guerra –ou seja, pelo renascimento democrático das nações que escaparam à esfera de influência soviética.
Naqueles países, floresceram a pluralidade política, os sindicatos, as liberdades civis, os direitos individuais. Neles, a esquerda social-democrata teve a oportunidade de governar e expandir as redes de proteção social. Sob o manto da segurança garantida pela Otan, nasceu a União Europeia.
Mais tarde, paradoxalmente, a Aliança Atlântica tornou-se a única moldura viável para o exercício da soberania nacional no leste europeu, A prova positiva disso encontra-se na insistência das nações libertadas do jugo soviético em 1989 em ingressar na Otan. A prova negativa encontra-se nas duas invasões imperiais russas da Ucrânia, violando o Memorando de Budapeste (1994) pelo qual os ucranianos cederam seu arsenal nuclear à Rússia em troca do reconhecimento de suas fronteiras.
Putin (e Lula também, por sinal) acusa a Otan de ser a causa de sua guerra –ainda que, em textos e discursos, clame pela incorporação do vizinho à “Grande Rússia”. De fato, a Aliança Atlântica funcionou, desde a implosão da URSS, como garantia da paz no arco que se estende da Estônia à Romênia.
Depois de 1990, os europeus deixaram-se embalar pelo idílio de uma paz eterna assegurada pelo artigo 5 e reduziram drasticamente seus investimentos em defesa. Hoje, sob o impacto da abjuração de Trump, a Europa navega em águas desconhecidas –e precisa erguer um edifício de segurança independente.
Jean Monnet, o “pai fundador” da União Europeia, desenhou o esboço de uma Comunidade Europeia de Defesa (EDC), que seria um pilar autônomo no interior da OTAN. A EDC ganhou forma no Tratado de Paris (1952), assinado pela França, RFA (Alemanha Ocidental), Itália e Benelux mas rechaçado pela Assembleia Nacional francesa. Nesses dias de fúria, os líderes europeus correm a Washington em busca de um aceno benevolente de Trump. Quanto demorarão para correr aos arquivos de Bruxelas em busca de inspiração no tratado rejeitado sete décadas atrás?
VEM AÍ A MINISTRA DA DISCÓRDIA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O presidente Lula da Silva confirmou na tarde de ontem que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, será a substituta do ministro Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). A deputada paranaense, portanto, ficará incumbida da articulação política do governo com o Congresso a partir do próximo dia 10 de março, quando está prevista sua posse.
São incertos os resultados da ida de Gleisi para a SRI no que concerne aos interesses político-eleitorais do presidente da República, mas as agruras do PT e de Lula nesse particular são irrelevantes. Para o País, contudo, não poderia ter havido escolha pior para uma área tão sensível do governo – e uma das mais carentes de competência e espírito público.
Gleisi Hoffmann é a antítese do esforço de concertação política de que o Brasil precisa para avançar em uma agenda virtuosa comum, que seja capaz de exprimir o melhor interesse público em meio às rusgas ideológicas que não raras vezes têm travado o bom debate político no Brasil. Como presidente do PT, Gleisi pode até ter contribuído, como Lula argumenta, para a formação de palanques durante a campanha vitoriosa do petista em 2022, articulando sua candidatura com uma variada gama de partidos. Mas, àquela época, tratava-se exatamente disto, de uma campanha eleitoral – e contra um incumbente amplamente rejeitado.
Com Lula eleito e empossado, a sra. Gleisi Hoffmann não contribuiu com uma palavra sequer para a pacificação do País nem tampouco para a construção daquela agenda virtuosa, que haveria de derivar de um governo que refletisse, de fato, a frente ampla que o elegeu. Muitíssimo ao contrário. Passada a eleição, a presidente do PT se esmerou no papel de agente da discórdia, não raro sabotando políticas do próprio governo petista, em particular as formuladas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Portanto, a decisão do presidente de nomear Gleisi Hoffmann para o cargo de ministra das Relações Institucionais, longe de trazer alívio, liga um incandescente sinal de alerta para a estabilidade política do País. Tida e havida como uma das figuras mais polarizadoras da política brasileira, Gleisi Hoffmann, uma vez encarregada da articulação política com o Congresso – e, por extensão, com o conjunto da sociedade –, pode representar um passo decisivo em direção à ingovernabilidade.
Ao contrário do que seriam os atributos ideais de alguém à frente da SRI, Gleisi sempre se comportou como um obstáculo à pacificação do País – não raro manifestando certo orgulho por isso. Ao invés de promover o diálogo, ela tem sido mais uma advogada incansável de posições radicalmente opostas àquelas defendidas por uma parcela significativa da população brasileira e às vezes até pelo próprio governo, como evidenciam as suas diatribes contra o mercado financeiro, o Banco Central, o Congresso, a direita em geral e países alinhados com os valores liberais democráticos, cerrando fileiras na defesa de autocracias repulsivas por alinhamento ideológico, pura e simplesmente.
Esse perfil de enfrentamento incessante – decerto admirado por um presidente que se ressente da falta de “agressividade” de alguns de seus ministros – faz com que a escolha de Gleisi para a articulação política se torne mais preocupante do que normalmente já seria. Trata-se de uma função que exige, por óbvio, habilidade política, tato e capacidade de transitar entre diferentes espectros ideológicos – atributos que Gleisi não tem. A bem da verdade, nem precisaria ter, pois sempre que instado a decidir entre a competência e a fidelidade canina de seus correligionários, Lula nunca titubeou ao fazer sua escolha.
Por tudo isso, ao invés de ajudar a construir pontes e restabelecer os laços comuns entre os brasileiros, malgrado suas eventuais dissensões ideológicas, Gleisi tem se destacado por seu especial denodo em erigir muros. Isso reforça que, premido pela queda recorde de sua aprovação, Lula parece disposto a ir para o tudo ou nada pela reeleição, ainda que isso prejudique a governabilidade e implique consequências imprevisíveis para a estabilidade política e econômica do País.
TRUMP ESTARRECE O MUNDO AO HUMILHAR ZELENSKY, editorial do jornal O Globo
O mundo jamais viu cenas como a que opôs, em pleno Salão Oval da Casa Branca, o presidente americano, Donald Trump, e seu vice, J.D. Vance, ao ucraniano Volodymyr Zelensky, convidado a assinar um acordo de cooperação que permitisse aos americanos explorar minério ucraniano, em troca, desejavelmente, de apoio militar e de negociações capazes de encerrar a guerra contra a Rússia. Em vez disso, Trump e Vance humilharam Zelensky com truculência inédita diante das câmaras. As imagens já têm lugar na História como evidência da guinada que o governo americano imprime à política internacional.
Zelensky compareceu à reunião na Casa Branca ainda que tivesse sido forçado a concordar com termos menos vantajosos no documento que assinaria — não havia garantia de segurança dos Estados Unidos à Ucrânia. Mesmo tendo cedido, o clima foi tenso. Trump criticou Zelensky por odiar o russo Vladimir Putin, responsável pela invasão da Ucrânia. Quando o ucraniano argumentou que não se deve confiar em Putin, porque ele já quebrou várias promessas, Vance respondeu dizendo que aquilo era um desrespeito a Trump. Daí em diante, Zelensky foi atacado até o fim. No final, humilhado pelos anfitriões, não assinou nada. Numa rede social, agradeceu a Trump e escreveu: “A Ucrânia precisa de paz justa e duradoura, e estamos trabalhando exatamente para isso”. Lideranças europeias reagiram em uníssono em apoio a ele.
Zelensky está repleto de razão ao desconfiar das intenções de Putin, tratado com deferência pelo governo americano desde a posse de Trump. Em 1994, no Memorando de Budapeste, os ucranianos abriram mão de seu arsenal atômico em troca do respeito à soberania do país e da proteção política e diplomática de Estados Unidos, Reino Unido e Rússia em caso de agressão. Vinte anos depois, Putin tornou o documento letra morta com a invasão da Crimeia. Em 2022, voltou a invadir território da Ucrânia, imaginando que voltaria a tomar conta do país como nos tempos da União Soviética. Graças às armas do Ocidente e aos soldados ucranianos, a aposta deu errado. Mas desde então a guerra tem provocado dezenas de milhares de mortes, perturbado a geopolítica e a economia global e deixado o mundo perplexo.
Parece evidente que Putin continuará sua expansão territorial se tratado com benevolência em qualquer acordo. É nisso que acreditam os europeus e era nisso que acreditava o governo americano. Mas Trump está convencido do contrário. Entre as diatribes que disparou no Salão Oval, afirmou que Zelensky arrisca provocar uma Terceira Guerra Mundial se não se render a termos favoráveis aos russos. Para ele, a negociação de paz é como um jogo de cartas em que vence quem tem a melhor mão. “Você não tem as cartas agora”, disse a Zelensky. “Não estamos jogando cartas”, respondeu o ucraniano.
Constatar o óbvio — a geopolítica não é um jogo de cartas — infelizmente não persuadirá um governo comandado por alguém como Trump. O mundo entrou numa fase mais perigosa. Ninguém confiará mais num país que trata aliados históricos como aproveitadores. Por isso a Europa desenha seu futuro para alcançar independência militar dos Estados Unidos, assim como o Canadá e outras democracias. A busca por rearmamento e novas alianças traz incertezas, mas é preciso conter as ambições imperiais de Putin. É delas que vem o risco de uma Terceira Guerra.
O PT e o seu senso de estado paquidérmico, aparelhado, caro para os contribuintes e atrasado na tecnologia
A MARRA DE LULA NA PETROBRÁS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Em assembleia-geral extraordinária, os acionistas da Eletrobras aprovaram o aumento de nove para dez no número de assentos no Conselho de Administração da companhia. Foi a saída encontrada para acomodar os interesses do governo Lula da Silva, que não se conformava com a redução de sua participação no colegiado desde a privatização da empresa.
A assembleia toda durou apenas 15 minutos, mas foi fruto de uma longa discussão, iniciada há quase dois anos. Em maio de 2023, a Advocacia-Geral da União ajuizou ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o reconhecimento da inconstitucionalidade “parcial” da lei que permitiu a desestatização da Eletrobras, aprovada em 2021.
Para não afrontar o Legislativo, que deu amplo apoio à proposta, o governo não questionou a privatização da empresa, por meio da qual sua participação foi diluída num processo de capitalização, mas investiu contra um dos pilares do modelo escolhido para viabilizar a desestatização, conhecido como corporation, consagrado no exterior.
Nele, cada acionista tem o poder de voto limitado a 10%, independentemente do número de papéis detidos. Com pouco mais de 40% do capital social da empresa, a União tinha uma vaga e reivindicava mais duas no Conselho de Administração da companhia, alegando que sua participação havia sido reduzida de maneira desproporcional.
A Eletrobras inicialmente resistiu ao pedido e argumentou que o negócio havia sido conduzido em conformidade com a lei e a Constituição. Mas o ministro Kassio Nunes Marques, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF, em vez de rejeitar o pedido, decidiu abrir um processo de conciliação entre as partes, cujo prazo foi prorrogado diversas vezes.
Nesse ínterim, a companhia deve ter ponderado o quanto o governo poderia prejudicá-la caso colocasse seu arsenal contra ela. Assim, capitulou e tentou negociar a oferta de assentos para se livrar de problemas bilionários, como a conclusão da usina nuclear de Angra 3. O Ministério da Fazenda era contra, o de Minas e Energia era a favor, e foi por pouco que o governo não fechou um negócio tão arriscado quanto a compra de um carro usado.
A Eletrobras, no entanto, não saiu de mãos abanando e conseguiu vender termoelétricas que tomavam calote da Amazonas Energia para os irmãos Batista – uma operação que ninguém conseguiu entender até que, menos de uma semana depois, o governo federal os recompensou, repassou débitos bilionários da distribuidora para as contas de luz e facilitou a compra de uma empresa agora saneada pela dupla de sorte.
Há coisas que não precisam ser ditas para serem compreendidas. A ata da assembleia-geral extraordinária, por exemplo, não afirma explicitamente que o assento adicional será reservado à União. O documento tampouco explica por que apenas seis dos dez membros do Conselho de Administração devem ser independentes, o que sugere que as negociações por assentos entre as partes não necessariamente acabam por aqui.
O governo Lula conseguiu o que queria e, de quebra, ofereceu um exemplo de que a lei está a serviço dos interesses do governo de plantão. Não poderá reclamar quando ouvir de investidores estrangeiros que o Brasil não oferece a segurança jurídica necessária para trazer seu capital ao País nem a certeza de que contratos serão respeitados.
Lula, que chamou o processo de crime de lesa-pátria, convenientemente esqueceu que a companhia se comprometeu a pagar R$ 25,3 bilhões ao Tesouro Nacional em outorga no processo, cerca de R$ 32 bilhões aos consumidores para abater as tarifas de energia e que assumiu a realização de investimentos de mais de R$ 9 bilhões para recuperar bacias no Norte, Nordeste e Sudeste.
A privatização da Eletrobras, em junho de 2022, movimentou R$ 33,7 bilhões no mercado, com o preço da ação a R$ 42. Se hoje as ações valem menos do que isso, é sobretudo pela pressão desabrida do governo para retomar sua fatia na empresa na marra e sem ter de despender um centavo. Para Lula, espernear tanto valeu a pena, e os acionistas minoritários que lidem com isso a partir de agora.
Marketing para que, se não há produto desejável? Comunicação para que, se tudo o que se divulga é ultrapassado e não é que a público, inclusive do PT e da esquerda do atraso e de Lula querem?
A MARCA DO GOVERNO É LULA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Os últimos resultados de pesquisas reiteram que o problema do governo não é de comunicação, mas de quem o chefia. Lula cobra de seus ministros e especialmente de seu marqueteiro uma marca ignorando que ela já existe: é ele mesmo.
A marca enfrenta uma tempestade perfeita. O presidente é maior que seu partido e o conjunto de forças de esquerda. Ocorre que, nesse lado do espectro político, conforme bem demonstrado nas eleições municipais, tudo encolheu, enquanto as forças adversárias sociais e políticas se expandiram.
Há, porém, elementos indicando que é substancial o fenômeno de fadiga de material. Nas broncas que Lula distribui a ministros, ele mesmo admite que seu governo não é original (não tem “marca”), não é eficiente (“não está entregando”) e não desfruta de confiança (“não comunica bem”).
Lula 3 insistiu de saída em decisões políticas que criaram a armadilha fiscal na qual se encontra, e que está na raiz das pressões inflacionárias – o ácido corrosivo de popularidade. Essas decisões vieram do apego do presidente a ideias erradas, especialmente a de que basta injetar dinheiro para fazer a economia crescer.
Crenças desse tipo explicam, em boa parte, a insistência de Lula em caminhos que não trouxeram benefícios político-eleitorais. A ausência de um Estado-Maior digno do nome e a teimosia de um ancião embevecido de si mesmo produziram a tal “desconexão com a realidade” – para Lula e seus auxiliares, é impossível sequer aceitar a hipótese de que uma parcela enorme e crescente do público o rejeita como figura política.
Políticas assistencialistas que antes impulsionavam a “marca” Lula hoje são vistas como política de Estado. O Brasil registra uma importante mudança social, que está fora dos cálculos políticos do presidente e de seus especialistas em comunicação. É um mix complicado de valores que ressaltam a centralidade de escolhas por parte do indivíduo e não as benesses providas pelo Estado.
Para enfrentar esse conjunto adverso Lula comparece quase que diariamente a palcos montados com público organizado. Algumas performances foram contraproducentes, ou até patéticas, se comparado o Lula cansado e repetitivo de hoje ao encantador de multidões de 20 anos atrás.
Sim, inflação é ruim para qualquer governante. Pior ainda quando ele não é mais capaz de vender um “sonho”, um futuro. Desse ponto é muito rápido para ser visto como pesadelo.
Como em Gaspar, mal assessorados, teimosos, vaidades pessoais superiores ao todo, mas especificamente, erros conceituais que remetem ao passado e não criam esperanças diferenciais ou inovativas para o futuro, bem como à falta de base parlamentar confiável de sustentação, levou PT, Lula e a esquerda do atraso para num fosso eleitoral e perigosamente, muito perto de 2026. Qualquer semelhança, apesar do espectro político oposto na comparação entre ambos, não é mera coincidência. É um resultado de quem assume o poder, se acha poderoso e é protegido por perigosas e falsas bolhas
ERROS EM SÉRIE DESGASTAM A IMAGEM DO GOVERNO LULA, editorial do jornal Valor Econômico
No terceiro mandato de Lula, crises que poderiam ser evitadas prosperam sem parar. A experiência acumulada parece ter sido esquecida e substituída por amadorismo para enfrentar com rapidez problemas contornáveis. Eles agora formaram uma sequência destrutiva que está arruinando a imagem do governo Lula. Há uma política econômica equivocada na raiz de boa parte dos desatinos, mas dela não decorre necessariamente a série de erros cometidos pelos burocratas escolhidos pelo presidente. A inflação dos alimentos e a suspensão das taxas de equalização do Plano Safra 24/25 são o pandemônio do momento. As filas de pedidos de aposentadoria no INSS, que se aproximam de 2 milhões e do recorde da gestão de Jair Bolsonaro, podem ser o próximo.
O caso do Pix foi um marco nas desventuras em série que afligem o governo. A iniciativa correta da Receita, de estender a vigilância já exercida nas transações junto a instituições financeiras às do Pix, muito mais ágeis, foi anunciada em setembro, para vigorar em 1º de janeiro. Pela instrução normativa 2.219, movimentações acima de R$ 5 mil por mês nas operações com Pix deveriam ser notificadas à Receita, no caso de pessoas físicas, e de R$ 15 mil, no de pessoas jurídicas.
Não houve grandes explicações sobre a instrução, mas deveria haver. O Pix se tornou a principal forma de movimentação de dinheiro do cotidiano dos consumidores e a principal porta de bancarização da imensa maioria sem conta corrente. Em 2024, as transações com Pix movimentaram R$ 26,4 trilhões, segundo o Banco Central.
No vácuo da falta de esclarecimentos oficiais, prosperaram os interesses da oposição em desgastar o governo com fake news de que as novas regras nada mais eram que o preâmbulo para uma taxação em grande estilo do Pix, a ser acompanhado de minuciosa bisbilhotagem da Receita sobre a renda de todos que o utilizavam.
O governo acordou tarde diante de um turbilhão e o presidente Lula consertou o estrago com outro: revogou a instrução, defendida pelo ministro da Fazenda. O novo regime fiscal, no qual o aumento das despesas depende do avanço da arrecadação, e várias medidas fiscais já tomadas compuseram um ambiente que tornou plausível atribuir ao Planalto uma intenção inexistente. Mas a vigilância fazia sentido e fará falta.
Em seguida vieram as pesquisas constatando derrocada expressiva da popularidade de Lula e seu governo, principalmente entre seu eleitorado mais fiel: o do Nordeste e o de baixa renda. O governo descobriu então que a inflação dos alimentos, que correu à frente dos salários, havia feito um grande rombo em seu prestígio.
Lula contratou um marqueteiro, mas a situação exigia decisões e ações políticas sensatas. A alta dos preços dos alimentos foi maior no governo Bolsonaro. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, que deveria organizar a reação política a uma questão real, improvisou resposta estapafúrdia, que trouxe mais preocupações. Falou que o governo faria “intervenções” no mercado, lembrando os piores momentos da hiperinflação no Brasil. Lula convocou reuniões interministeriais que consumiram horas e nada decidiram.
No curto prazo, há pouca coisa a fazer para consertar os efeitos nocivos já manifestos de um clima hostil na safra passada, com redução de oferta de alimentos e elevação dos preços das commodities que, dolarizadas, causaram ainda mais inflação após a disparada da moeda americana – alimentada pela desconfiança sobre a fragilidade da situação fiscal e pela política de crescimento a qualquer custo de Lula. Mas, na falta de explicação para a alta dos preços, a oposição explorou o contraste entre as bravatas do presidente no passado e realidade presente dos preços altos da carne.
Em meio ao desgaste com a inflação dos alimentos, o Tesouro enviou ofício aos bancos suspendendo novos contratos com crédito subsidiado no Plano Safra 24-25 – a equalização dos juros, pela qual o produtor paga taxa menor que a de mercado e a União entra com a diferença. De novo, estupefação na burocracia federal, pega de surpresa, e reação imediata do agronegócio, cuja simpatia pelo governo Lula é nula.
O Tesouro foi obrigado a fazer o que fez porque o Congresso não votou o projeto de lei orçamentária de 2025 no ano passado, como deveria. A reação do governo deveria ser a de comunicar aos líderes do Congresso e à bancada ruralista que a omissão dos parlamentares está prejudicando a agricultura e que a lei exigia que se interrompessem os créditos. Mas a responsabilidade recaiu sobre o governo, quando era claramente do Congresso. O orçamento só será votado na metade de março.
O papel de desarmar crises compete antes à Casa Civil, que parece menos interessada nisso do que em procurar impedir que a equipe econômica coloque em ordem as contas públicas. Amadorismo e desorganização, tanto quanto a parolagem de Lula – que desdenha ajustes fiscais, ajudando a elevar a inflação, dólar e juros -, mostraram um governo desorientado e desconexo. Criaram uma armadilha insólita: mesmo quando acerta, o governo erra.
MUDAR MINISTRO REQUER ETIQUETA, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
Lula troca alguns de seus ministros numa humilhante fritura pública que desqualifica o próprio governo. Em setembro de 2023, sem uma só palavra de agradecimento, ele demitiu a atleta Ana Moser do Ministério dos Esportes, colocando em seu lugar o deputado André Fufuca (PP-MA). Tratava-se de trocar competência na equipe por votos do Centrão na Câmara.
Numa operação semelhante, em 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso viu-se obrigado a dispensar a ministra Dorothea Werneck, da Indústria e Comércio. Visitou-a, comoveu-se e registrou em seu Diário:
— Fui ficando com raiva de mim mesmo.
O cavalheirismo foi uma das marcas da presidência de FH.
Depois da dispensa de Ana Moser, a descortesia mudou de patamar. Em janeiro passado, Lula trocou o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, submetendo-o a fritura pública, desqualificando seu trabalho. Como Pimenta é um velho companheiro do PT, seria um tipo especial de jogo jogado.
Num novo lance, fritou a ministra Nísia Trindade. Há mais de uma semana ela dava expediente enquanto circulavam rumores de que seria substituída pelo colega Alexandre Padilha. Há dias, em Itaguaí, Lula disse que “de vez em quando a gente erra, mas na maioria das vezes a gente acerta e escolhe um ministro de qualidade”. A gente quem, cara-pálida? Quem escolhe os ministros é o presidente da República.
Esse tipo de tratamento para os ministros que serão dispensados ofende também os que permanecem e inibe eventuais postulantes. Chegar ao ministério pode ser uma ambição de pessoas qualificadas, mas o risco de uma dispensa humilhante não vale a pena correr. Para um candidato desqualificado, tanto faz, pois seus interesses são outros.
Há algo imperial nos maus modos de Lula. Na segunda-feira, ele revelou que, numa conversa com um presidente da Petrobras, soube que a empresa pretendia comprar uma sonda coreana e disse-lhe:
— Não vai comprar. Se você comprar, a mesma caneta que te colocou na presidência vai te tirar da presidência. Nós vamos fazer aqui.
Lula não revelou quando ocorreu esse diálogo, mas falava de corda em palácio de enforcado. A construção de sondas para explorar petróleo gerou a Sete Brasil, empresa que faliu em dezembro passado, deixando um espeto de R$ 36 bilhões e recordações de uma tenebrosa caixinha, revelada na colaboração do ex-ministro Antonio Palocci, designado para administrá-la.
A postura imperial de Lula espelha a conduta de dois presidentes excêntricos: João Figueiredo (1979-1985) e Jair Bolsonaro (2019-2022).
Dispensar ministro é coisa que exige alguma etiqueta dos presidentes e de suas vítimas. Lula tem sido brindado com a elegância dos colaboradores que demitiu. Nenhum deles saiu atirando.
Em 1953, Getúlio Vargas demitiu por telegrama o ministro da Educação, Ernesto Simões Filho, que estava na Europa. O governo começava a ir mal das pernas, e Simões recusou-se a reclamar, com uma frase que vale tanto para quem sai, como para quem tira:
— Perdi a pasta, mas não perdi a educação.
Este título cairia como uma luva para o governo de Paulo Norberto Koerich, em Gaspar
LULA PRECISA DO SEU PRÓPRIO “DESENROLA”, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Num momento em que atira para vários lados em busca de uma bala de prata que lhe devolva a popularidade ainda em queda, o presidente Lula carece, neste terceiro mandato, de seu próprio Desenrola, pois vem se esmerando em dificultar ainda mais as coisas para si.
A demissão de Nísia Trindade da Saúde, que cravei no site do GLOBO ainda no início da tarde de sábado, só foi confirmada nesta terça-feira, mesmo assim de forma oblíqua, que expôs uma cientista respeitada no meio acadêmico a um desgaste desnecessário e imerecido. Sim, porque uma coisa é reconhecer que Nísia padecia de problemas de gestão, que venho apontando nesta coluna há pelo menos um ano e que nada tinham a ver com a cobiça do Centrão por sua cadeira, aqui repudiada. Outra, completamente diferente, é submeter uma auxiliar a humilhação pública.
De nada adianta culpar a imprensa por cumprir sua obrigação de informar conversas, movimentos e decisões do presidente da República e de seus auxiliares mais próximos. Buscar bodes expiatórios para a forma atabalhoada como Lula vem conduzindo os processos nessa sua volta ao Planalto só dificultará que ele encontre a saída do labirinto de popularidade em que está metido.
Se a reforma ministerial está anunciada pelo menos desde o segundo turno, e se já começou torta com a demissão, também em capítulos, do responsável pela comunicação do governo, Paulo Pimenta, era de esperar que ela fosse feita de forma racional e ordenada, com diagnóstico mais claro do que se quer — e que a mudança na maneira de comunicar as coisas (para fora e para dentro) já começasse a surtir efeito.
É inútil investir em vídeos simpáticos de Lula e Janja nas redes sociais para tentar aumentar a aprovação do petista quando os problemas de fundo seguem tratados na base da tentativa e erro, e mesmo a configuração do primeiro escalão atende a critérios tão pouco claros e a um cronograma tão atabalhoado.
Lula quer baixar a inflação com um estalar de dedos e, se não for possível, quer dar um jeito de anestesiar a população insatisfeita com a alta dos preços baixando medidas no varejo, como a ainda não detalhada liberação do saldo congelado do FGTS daqueles que optaram pelo saque-aniversário, mas foram demitidos depois e não puderam acessar o valor remanescente.
O casuísmo da medida fica evidente por um contexto óbvio: ainda em janeiro, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse na reunião ministerial que “sonhava” em acabar com essa modalidade de saque-aniversário, uma criação do governo de Jair Bolsonaro.
Não só não acabará, como o saque-aniversário parece ter passado a ser visto como uma forma de injetar dinheiro nas contas de quem compra menos com o salário. Qual a duração da medida? E, mais que isso, qual a chance de algo tão pontual levar quem acha o governo ruim a mudar de ideia?
Ainda no afã de melhorar sua avaliação, Lula parece aflito por marcas de gestão. Como o próprio Desenrola, aqui citado, não decolou, e o Pé-de-Meia, apontam ministros e especialistas em educação, tem alcance tão restrito que também não consegue emplacar, voltou suas baterias para o programa Mais Acesso a Especialistas.
Mas, de novo, quem é da área da Saúde diz que não será essa a salvação da lavoura e que os velhos mutirões conseguem resultados mais rápidos e mais facilmente associáveis ao governo federal por parte da população.
Se o presidente desenrolar seus processos decisórios, de preferência sem queimar aliados na fogueira da desorganização, passar a ouvir mais, retomar a ideia de frente ampla que o elegeu e deixar seu time saber o projeto para estes dois anos de mandato — não um slogan, mas um propósito —, deixará de criar mais dificuldades para a própria recuperação.
Mais de pesquisa hoje mostra que propaganda será pouco. Um governo que só cria imposto e despesas. Não trata o futuro de oportunidades.
PRONUNCIAMENTO NA TV NÃO PODE SER PROPAGANDA, editorial do jornal O Globo
O pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de segunda-feira — o primeiro do ano — não trouxe nenhuma novidade, a não ser o tom informal adotado sob a orientação do marqueteiro Sidônio Palmeira, secretário de Comunicação que assumiu em janeiro. Em pouco mais de dois minutos, Lula anunciou, em meio a expressões coloquiais e metáforas, dois programas que já haviam sido anunciados: o Pé-de-Meia, que cria uma poupança para incentivar a permanência de jovens na escola, e o Farmácia Popular, que fornece medicamentos gratuitamente.
“Venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes. Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: O Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”, disse Lula. “É para os jovens brasileiros que trago a primeira boa notícia. O pagamento da poupança de R$ 1 mil do programa Pé-de-Meia entra amanhã na conta e rendendo.” A iniciativa já havia sido anunciada, até porque o programa está em evidência desde que foi questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por não ter sido incluído no Orçamento (valores chegaram a ser bloqueados). Sobre o Farmácia Popular, Lula afirmou que os beneficiários poderão ter acesso gratuito a todos os 41 itens (antes eram 39), que agora incluem fraldas geriátricas. A “novidade” também já havia sido anunciada.
Sem disfarce, Lula usou o pronunciamento para exaltar programas de áreas sensíveis, como educação e saúde, e a própria administração. “Depois de dois anos de reconstrução de um país que estava destruído, estamos trabalhando muito para trazer prosperidade para todo o Brasil”, afirmou. De acordo com reportagem do GLOBO, seus pronunciamentos se tornarão mais frequentes, com o intuito de conter a acentuada queda de popularidade. Pelo último Datafolha, a avaliação positiva do governo caiu 11 pontos em apenas dois meses, de 35% para 24%. A negativa subiu de 34% para 41% — pior desempenho de Lula em seus três mandatos.
A economia, em especial a alta de preços, tem sido apontada como o principal fator para a queda. O governo erra ao pensar que tudo se resume a falha de comunicação e que basta Lula falar mais no rádio e na TV. Por mais que haja problemas na comunicação do Planalto, é difícil divulgar um governo que não tem muito o que mostrar. Ao chegar à metade do mandato, o governo Lula ainda busca uma marca. Até agora, o que tem a apresentar são programas reciclados de administrações anteriores, quase sempre defasados para os tempos atuais. Os erros do governo têm sido percebidos claramente pela população. A popularidade de Lula caiu até entre seus eleitores mais fiéis.
Embora o pronunciamento em cadeia nacional não viole as leis eleitorais neste momento do mandato, está errado Lula reivindicar tempo de TV para reprisar seus programas e exaltar sua administração. Essa modalidade de comunicação não existe para veicular peças de propaganda de olho na reeleição, mas para o chefe de Estado transmitir mensagens de relevo para a nação (até agora, seus pronunciamentos se davam em datas comemorativas). Lula deveria ir à TV quando realmente tivesse algo a falar. A julgar pelas pesquisas, os brasileiros não estão interessados em anúncios de fundo eleitoreiro, mas em resultados concretos. Dois anos e dois meses já são tempo suficiente para ter algo a mostrar.