Enquanto as cidades ao redor de Gaspar – mesmo com mudança de governo pelo voto – vão tocando a sua vida administrativa com alguma normalidade institucional e prometendo ser mais do que são, aqui os vencedores vão, incrivelmente, criando um clima de velório entre eles próprios. Não conseguiram ainda criar uma atmosfera, bem como atos, os quais possam sugerir que estão ou que vão se desvencilhar daquilo que foi amplamente rejeitado nas urnas de seis de outubro.
A primeira indicação desse futuro desastre é uma comunicação bem atrapalhada até aqui. Ela não ocupou o espaço que é dado aos vencedores. Pior. Ela cheira ao ranço, à falta de transparência e até combinadas com a vingança – e ao modo antigo e conhecido. Vão repetir – e parece que não aprenderam neste aspecto como ponto de fragilidade – os mesmos erros de Bernardo Leonardo Spengler, MDB, Adilson Luiz Schmitt, MDB, Pedro Celso Zuchi, PT e Kleber Edson Wan Dall, MDB?
A segunda indicação é que – por incapacidade ou então, por cumplicidade – os vencedores não estão contestando o “ensacamento” que o governo humilhantemente derrotado de Kleber e Marcelo de Souza Brick, PP, está – com amarras orçamentárias e políticas – lhes impondo como pesada conta a ser paga, sob desgastes, no primeiro ano de governo de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeig Althoff, ambos do PL. Os eleitos, incrivelmente, estão sendo pautados pelos perdedores. E a cobrança desse erro tático virá nos palanques de 2026.
Ninguém dos vencedores se arriscou a dar um cavalo de pau e se tornar o centro das atenções e mostrar a que veio. Um tímido ensaio aconteceu na campanha, mas todos os do ensaio recolheram os cacos das próprias pedras que atitaram em telhado de vidro do ainda poder de plantão e que tentava por todos os meio uma sobrevida nas urnas com o seu preposto arranjado na última hora.
Estou malhando em ferro frio, o que n~çao me faz nenhuma diferença. E faz tempo. Os vencedores, arrogantemente e com os mesmos que permearam os outros governos – e registre-se, com o mesmo destino -, por outro lado, não estão medindo a temperatura do ambiente onde estão inseridos. Há generalizada decepção antecipada e injusta pois não se foi dado o tempo da mudança. Pena que as pesquisas sumiram. Já temos até um novo prefeito de fato e que não faz mais segredo disso naquilo que está centralizando e decidindo. Então, o que mudou nos métodos reprovados?
Se 2024 é um ano perdido pelo desastre e atraso promovido pelo governo da esquerda do século XX, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, PT; se a “grande direita catarinense” liderada por quem nunca foi de direita, Jorginho Melo, PL, está se dando por satisfeito de que não está sendo indiciado em maracutaias que ganharam as páginas nacionais na mídia, porque as maracutaias estavam apenas ensaiadas – e tentadas – não efetivamente concretizadas como vem se provando até agora, por outro lado, Jorginho não conseguiu fazer uma marca que lhe mostre a razão para reelegê-lo, apesar da aproximação que faz por meio do seu PL do B, o Republicanos, o que pode ser a salvação indireta da sua lavoura em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas.
De verdade? As estrelas e cartas de 2025 dos governantes, estados e aldeias conspiram não só em Gaspar – e parece que Blumenau vai entrar nesta roda também -, ou em Santa Catarina, ou Brasília que nos mete em um buraco negro – também via o Congresso Nacional -, mas com alguma coisa chamada Donald Trump. O Republicano, provavelmente, mais uma vez, não será bom só para os Estados Unidos, mas o Brasil e outras paragens, igualmente. Governará sob o signo de se causar insegurança e temor global.
Ora, se no cenário macro há fortes sinalizações de instabilidade, no cenário micro, se não corrigida e tomadas contas delas, elas serão muito piores. E Gaspar parece que não vai ser a exceção. E o que se faz para mudar – como há sinais antecipados evidentes -, vai alegar mais tarde, como vítima, que é parte de um contexto maior de desastre. Outros provarão que poderão escapar desta provável hecatombe mundial. E ganharão espaços, reputação e recompensas. Já aqui… Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Sob o silêncio governamental e da mídia neste assunto, tivemos mais uma morte por Covid-19. Agora são 227 ao total. Ela aconteceu no dia 29 de novembro. O que chama a atenção? A idade do morto: um homem de apenas 63 anos. Desde a internação e o óbito foram apenas nove dias. Tinha, segundo, o boletim da secretaria Estadual de Saúde, comorbidades.
Esta é a quinta morte este ano. Antes quatro mulheres (nove de maio, 18 de junho, 23 de agosto e 24 de setembro). No dia 28 de novembro de 2022 eram 219 residentes em Gaspar mortos por Covid-19.
Pipocam casos de gente que perdeu nas urnas, mas está esperneando e tentando provar que foi derrotado pelo poder, ou abuso econômico adversário. É dessa forma que Selmir Bodanese, MDB, que concorreu a prefeito em Rio das Antes, no Vale do Rio do Peixe, Meio Oeste Catarinense, quer tirar a vencedora do pelito de seis de outubro, Gilvane – conhecida como Gil – de Moraes (PL), além do vice e um vereador.
Na banca de advogados de Selmir Bodanese, MDB, está o advogado gasparense, João Pedro Sansão e que se especializou nesta área eleitoral. O caso corre na Comarca de Caçador.
O buraco da saúde de Gaspar I – O Fundo Muncipal de Saúde nasceu no Orçamento de R$508 milhões deste ano com uma rubrica R$95,8 milhões. Já era um exagero. Hoje ele está em R$122,4 milhões. Outro exagero para atender aquilo que não estava previsto, o buraco do Hospital de Gaspar e que mesmo assim, é algo das queixas constantes dos gasparenses.
O burado da saúde em Gaspar II – Desses R$122,4 milhões, R$104,2 milhões já estavam empenhados até o dia 29 de novembro. Ou seja, a conta vai engordar ainda mais e muita dívida irá para o próximo governo. Muda, Gaspar!
Em Gaspar, faltam indicar ainda os titulares da secretaria de Planejamento Territorial, da secretaria de Obras e Serviços Urbanos e o Samae. A bolsa de apostas murchou.
A secretaria da Educação de Gaspar está com dificuldades para fechar o Orçamento mínimo obrigatório constitucional de 25% anual neste 2024.
8 comentários em “UM 2024 PERDIDO. UM 2025 COM CARA DE MUITA INCERTEZA E EXATAMENTE POR QUEM PROMETEU QUE SERIA DIFERENTE”
O PACOTE FISCAL E O MEDO DO PORVIR, por Zeina Latif, no jornal O Globo
A má recepção dos investidores ao pacote do governo sugere que houve uma piora adicional do risco fiscal. Será isso mesmo?
O objetivo do pacote não é estabilizar a dívida pública, que deverá chegar a 84% do PIB em 2026, mas sim atender os limites para aumento de gastos previstos no arcabouço fiscal e entregar as metas orçamentárias (déficit primário zero em 2025 e superávit de 0,25% do PIB em 2026).
Isso não é pouca coisa à luz da deterioração fiscal. Afinal, as projeções do mercado para o déficit primário estão em 0,7% do PIB em 2025 e 0,5% do PIB em 2026 (descontado o pagamento dos precatórios de R$ 40 bilhões em 2025 e R$ 47,5 bilhões em 2026).
E a Instituição Fiscal Independente (IFI) tem projeções ainda piores, de déficit de 0,8% do PIB em ambos os anos, o que equivale a R$ 102,9 bilhões em 2025 e R$ 107,8 bilhões em 2026.
Essas projeções resultam de decisões do próprio governo de acelerar os gastos (PEC da transição) e de adotar regras que aumentam a rigidez orçamentária (hoje mais de 90% das despesas são obrigatórias), sendo a principal delas a correção do salário-mínimo real pela variação do PIB, impactando mais de 50% das despesas da União. Assim, seriam necessárias medidas para compensar, ainda que parcialmente, essas decisões.
Não foi o que se viu. Além de o impacto fiscal esperado do pacote (R$30,6 bilhões em 2025 e R$41,3 bilhões) ser insuficiente, as cifras não parecem críveis, por exemplo, ao incluir itens que refletem a mera realocação de recursos, e não um esforço fiscal.
Apesar disso, nota-se uma “curva de aprendizado” do governo, em que pese a falta de senso de urgência. Mesmo que tardiamente, o ministro Haddad reconheceu que o arcabouço fiscal não funciona sem a contenção de despesas.
Além disso, passou a defender medidas estruturantes para conter o aumento dos gastos obrigatórios, cujo crescimento ultrapassa o teto do arcabouço fiscal.
Outro ponto positivo foi o reconhecimento de que eliminar políticas públicas é algo improvável no Brasil, pois grupos organizados reagem, sendo mais recomendável avançar com ajustes graduais.
Há grande mérito em tocar em temas polêmicos, como ajustar o abono salarial, o BPC, a aposentadoria dos militares e a correção do salário-mínimo, reconhecendo o equívoco da regra atual. É um bom sinal para agendas futuras, neste governo e nos próximos.
Faltou, porém, o governo apresentar um conjunto mais amplo de medidas, incluindo itens como auxílio-desemprego, gastos com Saúde e reforma administrativa. Gradualismo em várias frentes.
Outros fatores, que compõem os freios e contrapesos da democracia, merecem reconhecimento. Refiro-me às falas dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, de que o avanço das medidas relativas ao Imposto de Renda dependerá de “condições fiscais”.
Além disso, afastaram o temor de aprovar apenas a isenção de quem ganha até R$ 5 mil, e não as medidas compensatórias. Também vale citar os esforços para aprovar o pacote ainda este ano.
É um quadro muito diferente daquele de 2015. No governo Dilma, onde apostas eram dobradas, muitos no Congresso defendiam o “quanto pior melhor”.
A própria reação do mercado, exagerada ou não, tem valor. Em 2013, a sociedade percebeu que tinha algo errado na política econômica de Dilma muito antes dos mercados.
Boa parte do pacote já havia sido antecipada na imprensa. Assim, parece claro que o mau humor dos investidores refletiu em alguma medida o receio das medidas do IR. Ainda que haja neutralidade no efeito arrecadatório, há impacto nos preços de ativos que poderão ser afetados pela taxação dos mais ricos.
Mesmo que adiada, sua implementação se manterá no radar, o que dificulta a superação do mau momento nos mercados.
Além disso, a ênfase da política na divulgação do pacote, em detrimento da boa técnica, enfraqueceu a credibilidade do ministro e pode ter alimentado temores de reeleição do PT.
Enfim, não se trata apenas de decepção com o pacote fiscal. Há um receio do porvir, com baixo compromisso com a contenção de despesas e a insistência na estratégia de elevar a carga tributária.
A crise de desconfiança está instalada, como refletida na volatilidade e, mais do que isso, na mudança de patamar do câmbio e dos juros de mercado. O compromisso de Haddad de propor novas medidas, caso necessário, já está sendo testado.
JOE BIDEN, A RUÍNA DOS DEMOCRATAS, por Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
O sujeito não gostava de Donald Trump e em 2020 torceu pela eleição de Joseph Biden. Passou quatro anos fingindo não ter percebido que ele estava senil e torcia para que não disputasse a reeleição. Enganou-se. Depois do desastroso desempenho no debate com Trump, a caciquia do Partido Democrata forçou Biden a sair da disputa, e o sujeito passou a torcer por Kamala Harris. Deu no que deu: os republicanos fizeram cabelo, barba e bigode na última eleição.
Aproveitando o ocaso de seu mandato, Joe Biden valeu-se de uma prerrogativa dos presidentes americanos e perdoou seu filho Hunter, que se reconheceu culpado por vários crimes, inclusive evasão fiscal. Era um caso de cadeia na certa.
A política americana está com parafusos soltos. Enquanto Biden perdoava o filho e atacava a Justiça, Trump anunciava que o empresário Charles Kushner, pai de seu genro, será embaixador em Paris. Seria apenas um caso de nepotismo, mas Papi Kushner passou dois anos na cadeia, por sonegação e crimes muito maiores que os de Hunter.
Presidentes americanos perdoando delinquentes é coisa frequente, mas nunca houve caso de perdão familiar com ataques ao Judiciário. Com essa medida, Biden passa a disputar com Trump o título de segundo pior presidente no quesito comportamento pessoal. O primeiro lugar ninguém tira de Richard Nixon. Pelo conjunto da obra, a taça continua com George Bush II (2001-2009).
Presidente incapaz, os Estados Unidos já tiveram. Woodrow Wilson governou de 1919 a 1921 depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral que lhe tolheu os movimentos e parte da visão.
Joe Biden aliviou o filho sabendo que, com isso, abre a porta para uma política de perdões amplos, gerais e irrestritos com Trump.
Está entendido que o Partido Republicano expôs seus problemas ao se deixar capturar por Trump. Resta agora a necessidade de olhar para a crise do Partido Democrata. Ela vem de longe, desde 1993, quando o casal Bill e Hillary Clinton entrou na Casa Branca. Jogaram bruto e enriqueceram. Ele tem a maior marca na indústria dos perdões. Aliviou 450 condenados, inclusive o próprio irmão. O casal acumulou tamanho poder que conseguiu neutralizar a influência de Barack Obama no partido.
Biden colocou no próprio colo um perdão escandaloso e fez isso contrariando suas promessas públicas. Nada a ver com outro perdão, o de Gerald Ford a Richard Nixon, em 1974.
O republicano Ford era um político decente. Perdoou seu antecessor, obrigado a renunciar no rastro do escândalo dos grampos do caso Watergate. Fez isso para cicatrizar feridas que jogariam os Estados Unidos numa crise política duradoura. Trapaça da História: com Trump na Casa Branca, o modo crise passa a ser rotina em Washington.
A política americana sempre teve uma sólida capacidade de regeneração. Quando parecia corrompida, depois do desastre dos democratas no Vietnã e da falência da Presidência do republicano Nixon, apareceu Jimmy Carter, um governador da Georgia, pouco conhecido. Saído do nada, elegeu-se em 1976.
Para o sujeito que torceu por Biden, resta torcer para que o barão de Itararé estivesse errado quando disse que, de onde menos se espera, é que não sai nada.
ESPERTEZA DEMAIS COME O DONO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Em meados de agosto deste ano, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), provocou uma hecatombe em Brasília ao suspender o pagamento das emendas parlamentares até que o Congresso e o governo do presidente Lula da Silva dessem transparência aos critérios de distribuição dos bilhões de reais sob essa rubrica orçamentária. Desde então, o Legislativo, o Executivo e, em boa medida, o próprio STF se lançaram em uma desabalada corrida para encontrar meios de fazer a dinheirama voltar a circular pelos gabinetes de deputados e senadores.
O resultado desse tour de force, como se sabe, foi a Lei Complementar (LC) 210, aprovada pelo Congresso e sancionada sem vetos pelo presidente da República no dia 26 de novembro. Supostamente, a LC 210 deveria prover os mecanismos de transparência exigidos por Dino em sua decisão liminar, que nada mais eram do que os requisitos já fixados pela própria Constituição. Até certo ponto, houve avanços, até porque seria impossível algo ser pior do que o breu absoluto que prevalecia na distribuição das emendas até então. Mas, malandramente, os gestores do “orçamento secreto” no Congresso deram um jeito de mudar as coisas na superfície para, no fundo, manter o controle sobre bilhões de reais em emendas ao abrigo do escrutínio público, mesmo com o advento do novo diploma legal.
Na terça-feira passada, Dino restabeleceu o pagamento das emendas, o que era esperado pelo Congresso e pelo governo federal desde a sanção da referida lei complementar. Porém, a decisão de Dino, referendada por sete de seus pares no STF em votação pelo plenário virtual no mesmo dia, decerto decepcionou os que pensaram ter feito o País e o STF de tolos, como ficou claro pela miríade de ressalvas feitas pelo ministro para que os recursos destinados às emendas, enfim, voltem a ser liberados. Como dizia Tancredo Neves, “a esperteza, quando é muita, come o dono”.
Sem verbalizar essa conclusão, Dino, na prática, disse ao Congresso e ao Palácio do Planalto que a LC 210 se revelou uma lei ruim, que não presta para dar à sociedade o devido conhecimento sobre o que seus representantes eleitos fazem com bilhões de reais em recursos públicos. Mais especificamente, R$ 186,3 bilhões apenas no período entre 2019 e 2024, além de inacreditáveis R$ 50,5 bilhões previstos no Orçamento da União de 2025 à disposição dos senhores parlamentares.
Está-se diante de uma obscena distorção institucional brasileira, que a LC 210 nem remotamente resolveu, muito ao contrário. Como bem enfatizou Dino, existem países presidencialistas, parlamentaristas, semipresidencialistas “e o Brasil, com um sistema de governo absolutamente singular no concerto das nações”. É como se o “orçamento secreto” tivesse criado um poder paralelo no País – à margem de quaisquer escrutínios republicanos –, exercido pela cúpula do Congresso, em concurso com os caciques partidários, para se assenhorear de um quinhão do Orçamento da União que só faz crescer, anomalia sem paralelo no mundo democrático.
Seria ingênuo esperar que da concertação de interesses entre o Congresso e o governo federal em torno da liberação das emendas adviesse uma lei capaz de moralizar essa orgia orçamentária que tomou conta do País. Mas o que se viu na aprovação da LC 210 foi além, uma tentativa canhestra de fingir que tudo mudaria na gestão das emendas parlamentares para, no fundo, manter tudo rigorosamente como sempre foi desde que o Congresso passou a se sentir soberano na disposição desses recursos bilionários.
Dino e seus pares no STF julgaram que a opacidade na gestão das emendas viola a Constituição, no que estão certos. Pode-se questionar, contudo, se é papel do STF “melhorar” uma lei que seguiu o trâmite legislativo regular, fixando critérios de transparência para a liberação de recursos que, por mais justos que sejam, não foram deliberados pelos congressistas. O fato é que o próprio Congresso fez letra morta da Constituição ao usar e abusar do direito de apresentar emendas ao Orçamento da União como se não devesse satisfação a ninguém.
A BUSCA DO EQUILÍBRIO, por Merval Pereira, no jornal O Globo
A reação dos parlamentares às exigências do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino para o pagamento das emendas a que têm direito mostra que o interesse deles é particular, e não coletivo, como deveriam ser seus projetos. O ministro nada mais fez do que detalhar o que já era exigido quando mandou parar de pagar as emendas: a transparência do envio dos recursos do Tesouro Nacional a que cada parlamentar tem direito.
Incomodaram-se os senhores deputados e senadores com critérios técnicos exigidos pelo ministro do Supremo, como identificação do deputado que endereçou a emenda e de quem a recebeu, prefeitura ou organização não governamental. Também uma boa inovação foi exigir que as emendas para Saúde sejam aprovadas pelo ministério seguindo “orientações e critérios técnicos” estabelecidos por ele e por comissões de gestores estaduais e municipais.
Outros ministérios deveriam ter entrado nessa exigência, para que as verbas federais fossem investidas em programas coerentes com as linhas de ação do governo eleito. A partir do momento em que Executivo e Legislativo chegaram a um acordo a respeito das emendas parlamentares, não restava outra saída a Dino senão as liberar. Ele havia suspendido o pagamento e esperava uma definição dos dois outros Poderes. Depois que o governo aceitou as verbas imensas — são R$ 50 bilhões — e fechou acordo com o Congresso, ele criaria uma crise enorme caso não aceitasse.
A exigência de transparência, ponto central da decisão de Flávio Dino quando suspendeu as emendas, precisa ser acompanhada para ver como será cumprida. Tenho a impressão de que, em vários casos, poderá haver impugnação, e o STF terá de intervir. Mas, de qualquer maneira, já é uma vitória o Congresso assumir a obrigação de ser transparente e de explicar a origem e a destinação das verbas liberadas. Depois desse susto, creio, haverá contenção dos parlamentares. Será preciso acompanhar a execução; certamente será mais fiscalizada, e haverá muitas denúncias. Não é o ideal, mas é o possível.
Pela decisão, as verbas das emendas de comissão e dos restos a pagar do orçamento secreto só poderão ser executadas caso o parlamentar solicitante seja identificado nominalmente no Portal da Transparência. As “emendas Pix”, liberadas sem que se soubesse quem mandou e onde foram gastas as verbas, terão de obedecer a um plano de trabalho, estabelecidos objeto e prazos para a obra, que terá de ser aprovada pelo governo.
Dino tenta, assim, organizar a distribuição de verbas públicas para que não sejam pulverizadas em projetos que não combinam com o plano nacional que o governo eleito tenha escolhido. Com essas medidas, o equilíbrio entre Executivo e Legislativo será alcançado, e o parlamentarismo à brasileira imposto pelas circunstâncias políticas será minimizado.
Não adianta nada ao país, num momento em que é preciso equilibrar as contas públicas, distribuir uma verba gigantesca para que os parlamentares gastem à vontade, sem que tenham de prestar contas em muitas ocasiões. Os parlamentares enxergam nessas exigências de Dino uma combinação com o Palácio do Planalto para equilibrar o jogo político, que, desde que Bolsonaro decidiu abrir mão de governar para tramar seu golpe de Estado, pendia para o Legislativo. As circunstâncias políticas neste momento beneficiam o governo. O plenário virtual já formou maioria para a aprovação das exigências de Flávio Dino.
Os parlamentares terão de partir para a chantagem explícita se quiserem resistir. O pouco tempo para aprovação do pacote do governo neste ano pode jogar a favor dos políticos, mas contra o país. Também a falta de convicção do governo Lula em relação ao corte de gastos ajuda a complicar a situação.
O perfil cada vez mais questionável do herói da direita brasileira, o maior cabo eleitoral da volta de Lula ao poder. Só gente ingênua -e na maioria idosos – que acreditava nele está pagando com anos de cadeia. Impressionante. E o jornal O Estado de S. Paulo é reconhecida centenariamente como conservador. Então… ler e se convencer…
A PUSILANIMIDADE DE BOLSONARO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O autoproclamado “imbrochável”, “incomível” e “imorrível”, ora vejam, dá inúmeros sinais de que está morrendo de medo de seu futuro acerto de contas com a Justiça. Para alguém que se jactou mais de uma vez de estar disposto a “dar a própria vida em nome da nossa liberdade”, Jair Bolsonaro sucumbiu rápido ao desespero após ter sido indiciado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de ter praticado tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Se antes negava até mesmo a existência de um complô para dar um golpe de Estado e impedir a posse de Lula da Silva na Presidência, embora haja carradas de evidências de que houve um, Bolsonaro agora admite que até pode ter havido uma conspirata, mas mandou seu advogado dizer que ele mesmo seria vítima da trama, supostamente arquitetada, segundo essa delirante tese, por militares que queriam tomar o poder.
“Quem seria o grande beneficiado (pelo golpe)?”, questionou o tal causídico, Paulo Cunha Bueno, em entrevista recente à GloboNews. “Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta a ser criada após a ação do plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o nome de Bolsonaro.”
Mais uma vez, como faz desde seus tempos de mau militar, Bolsonaro pretende fazer todos de idiotas. No relatório da PF, está claro que a tal “junta” seria na verdade um “gabinete de gestão de crise”, coalhado de militares golpistas, que existiria para “assessorar o então presidente da República, Jair Bolsonaro, na administração dos fatos decorrentes da ruptura institucional”.
Ou seja, ao perceber que a cadeia é uma perspectiva cada vez mais real, o valentão que infelizmente um dia ocupou a Presidência da República mostrou toda a sua pusilanimidade ao jogar a responsabilidade pela urdidura do golpe de Estado aos militares que lhe devotavam religiosa lealdade – e, pior, ao se dizer vítima deles.
Na hora do aperto, Bolsonaro não hesita em lançar companheiros ao mar. Isso nunca foi novidade para ninguém, mas os militares golpistas, por razões insondáveis, acharam que o espírito de corpo militar falaria mais alto. Estavam, obviamente, enganados e agora pagarão o preço não só por terem tramado um golpe, mas por acreditarem que Bolsonaro, malgrado seu histórico, teria coragem de liderá-los até o fim, mesmo ao custo da liberdade pessoal.
Bolsonaro tem trabalhado freneticamente para salvar a própria pele. Há poucos dias, em entrevista à Revista Oeste, apelou ao presidente Lula da Silva e ao STF pela concessão de uma descabida anistia, malgrado ainda nem sequer ser réu. Segundo ele, a tal anistia serviria para “zerar o jogo daqui para frente”, para “pacificarmos o Brasil”. Ora, o Brasil não está conflagrado, pelo menos não a ponto de constranger o Congresso e o Judiciário a deixar livres os envolvidos na conspiração para acabar com a democracia no País. Ao contrário, o jogo só será “zerado” de vez quando os liberticidas pagarem por seus crimes.
No front externo, Bolsonaro alimenta a ilusão delirante de que o futuro presidente dos EUA, Donald Trump, virá em seu socorro. Em declaração ao The Wall Street Journal, Bolsonaro disse esperar que Trump imponha sanções ao Brasil até que seus direitos políticos sejam restabelecidos. Eis aí o “patriota” que brada “Brasil acima de tudo” ao mesmo tempo que defende uma intervenção norte-americana no País e não esconde sua sabujice em relação a um presidente estrangeiro.
Se a situação já é constrangedora em si mesma, fica ainda pior quando se compara o comportamento de Bolsonaro com o de sua nêmesis, Lula da Silva. Recorde-se que Lula, quando foi condenado à prisão, embora jurasse inocência tal como Bolsonaro, não jogou a responsabilidade nos companheiros, não tentou fugir nem se refugiar numa embaixada, e tampouco apelou a algum líder estrangeiro para prejudicar o Brasil a fim de ajudá-lo a se livrar da cadeia. Apenas se entregou.
Huuum. . .
“imbrochável, incomível, imorrível e. . . impertinente & inelegível!
Este editorial reflete um pouco do comentário postado ontem. Ao fim de cada eleição, é uma impressão geral dos cansados pagadores de pesados impostos, eleitores e eleitoras contumazes nas esperanças de mudanças, mas que os eleitos traem quando no poder de plantão essas esperanças. Milei avisou que iria mudar. E radicalmente. É ainda um alto risco. Está mudando, lutando contra os descrentes, à falta de uma base parlamentar que sustente algumas coisas que podem até ser consideradas loucuras, à falta de milagres e principalmente, contra os mesmos de sempre da elite política e econômica que vivem pendurados no governo que sempre promete resolver os problemas dos fracos. Não se trata de ser de esquerda ou direita, uma do atraso e outra xucra. Trata-se de estar num mundo real e que mudou, inclusive nas exigências populares. Segurança para se viver, segurança econômica, segurança jurídica e qualidade de vida mínima para todos sem assistencialismo exagerado e continuado. E nossos políticos sequer conseguem ler o passado, cheio de lições, quando mais se estabelecere no presente. Já o futuro…
MILEI DÁ LIÇÃO DE DISCIPLINA FISCAL PARA O CONTINENTE, editorial do jornal O Globo
Quando completar o primeiro ano na Presidência da Argentina na semana que vem, Javier Milei terá muito o que comemorar. Apesar do perfil provocador, seu governo tem sido até o momento uma força de estabilização. Ao assumir, a economia flertava com a hiperinflação. De 25% em dezembro de 2023, o índice mensal caiu a 2,7% em outubro. O ano de 2024 fechará em recessão, mas o PIB tem se recuperado e deverá voltar a crescer em 2025. Apesar de o choque ter levado a pobreza ao pior nível em 20 anos, Milei conta com a paciência dos argentinos. Tem aprovação de 49% dos eleitores— acima dos dois antecessores a esta altura do mandato.
Maldita talvez seja uma palavra branda demais para descrever a herança com que ele teve de lidar. Sempre em nome da alardeada “preocupação social”, governos anteriores — a maioria peronistas, mas não apenas — mantiveram intacto um sistema insustentável de gastos públicos. Incapazes de promover ajuste fiscal, enfrentavam dificuldades para acessar fontes externas de financiamento depois de sucessivos calotes. Repetindo os mesmos erros, dedicaram-se a imprimir dinheiro. Com uma mão, quem estava no poder mantinha subsídios, concedia ajustes a aposentadorias e financiava programas sociais. Com a outra, tirava o dinheiro do bolso de todos na forma da inflação galopante e do caos econômico que afugentava investimentos.
Foi a exaustão dos eleitores com essa farsa que levou à derrota dos peronistas. Em 12 meses, Milei não cansou de repetir o refrão: “no hay plata” (não tem dinheiro). Promoveu contração real do gasto público de 28%. Reduziu subsídios, investimentos e benefícios previdenciários. Até os mais otimistas ficaram apreensivos. Mas a previsão é encerrar 2024 com superávit fiscal pela primeira vez em 16 anos.
É verdade que os avanços não são garantia de sucesso futuro. Como sentiram os torcedores de Botafogo e Atlético Mineiro em Buenos Aires, os preços na Argentina estão altos. O câmbio está valorizado. Mas o governo tem medo dos efeitos da transição para um sistema de flutuação livre. Um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a volta de Donald Trump à Casa Branca, poderia ajudar.
O peso artificialmente forte gera apreensão. Está fresco na memória o custo do colapso da convertibilidade da Era Menem. Entre 1999 e 2002, o índice de Gini, que mede a desigualdade, aumentou 4 pontos. Pelo indicador oficial, os pobres chegaram a 65,5% (hoje são 52,9%). Mas pobreza é sempre algo difícil de medir. Pelos números do economista Marcelo Neri, da FGV Social, a Argentina tinha 9,1% de pobres em 2011, ante 31,6% no Brasil, usando a linha da pobreza equivalente à renda mensal de R$ 666 por pessoa (adotada no Brasil). Em 2022, os números eram respectivamente 10,9% e 23,5%. A realidade decerto piorou sob Milei, mas não ao extremo do passado.
Para ter a chance de acabar o mandato em alta, ele precisa que a economia volte a crescer a taxas robustas, com criação de emprego e renda. No front político, tem mostrado capacidade de diálogo inimaginável para quem tratava oponentes como inimigos na campanha. Se vencer as eleições legislativas no ano que vem, seu poder de barganha aumentará. Milei ainda continua a falar como “o louco” da campanha eleitoral, mas pelo menos no aspecto fiscal tem mantido um nível de sanidade que faz falta no Brasil.
Boa noite.
Quando políticos que aplicam o golpe do 171 nos seus REPRESENTADOS acabarem atrás das grades, o DEBOCHE, o ESCÁRNIO e a OMISSÃO serão causos do passado.